- Joel S. Goldsmith -
O ENSINAMENTO DE JESUS
O Caminho Infinito fundamenta-se no ensinamento de Jesus, que é minha autoridade e, mesmo sendo verdade que grande parte desse ensinamento possa ser encontrada em algumas da Escrituras orientais que remontam a três ou quatro mil anos da era cristã, em nenhum momento ele foi tão claramente afirmado ou tão claramente demonstrado como o foi por Jesus. Portanto, embora eu goste de ler as antigas Escrituras, não há outra abordagem senão a de Jesus, que é tão definitiva, completa ou fácil para a aceitação dos discípulos do mundo ocidental, porque o ensinamento de Jesus é realmente parte de nossa consciência ocidental. A autoridade para praticamente tudo que O Caminho Infinito ensina é encontrada no novo testamento, particularmente no Evangelho de João e nos escritos de Paulo.
Os três ensinamentos absolutos mais conhecidos no mundo são os de Buda, os de Shankara e os de Jesus. O ensinamento real de Buda quase se perdeu completamente na religião que agora se chama Budismo. Na verdade, seria tão difícil encontrar o ensinamento original de Buda na maior parte do Budismo de hoje como o seria encontrar o ensinamento de Jesus em algumas igrejas cristãs. Em muitas igrejas há uma negação real e aberta do ensinamento do Cristo. Pense por um momento em quantas igrejas é encontrada a prática de orar pelo inimigo? Em que igreja, durante a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial, houve orações pelo inimigo? Que igreja ensinou os soldados a rezarem diariamente pelos que os perseguiam? Quem ensinou os membros das congregações que os que vivem pela espada devem morrer pela espada? Quem revelou o significado espiritual da recusa de Jesus em permitir que Pedro o vingasse cortando a orelha? Quem ensinou o mandamento: "não matarás"?
Lembre-se, portanto, que, ao discutir o ensinamento de Jesus, não é o ensinamento de Jesus como é apresentado por meio de qualquer igreja que está sendo discutido, mas o ensinamento com base no Novo Testamento, sem a opinião ou interpretação de pessoa alguma, apenas o ensinamento de Jesus conforme se acha literalmente estabelecido por seus seguidores. Somente através do desenvolvimento da consciência espiritual, exemplificada por Jesus, é que todas as nações serão finalmente capacitadas a pôr de lado suas espadas e a transformá-las em relhas de arado.
Você talvez questione se alguém pode ou não cumprir um ensinamento tão exigente quanto este, mas isso é possível -- individual e coletivamente. Você pode começar agora a seguir o ensinamento do Mestre perdoando seu inimigo e orando pelos que o perseguem; e se você, como indivíduo, pode fazer isso, o mundo também pode fazê-lo.
Uma das maiores leis da Bíblia é a lei do perdão, de orar pelos seus inimigos. Mas o perdão não significa olhar um ser humano, lembrar a terrível ofensa que ele cometeu contra você e perdoá-lo por isso. Não há virtude nisso. O verdadeiro perdão é a capacidade de ver, através de sua aparência humana, a Divindade de seu ser, e compreender que na Divindade do seu ser nunca houve, como agora não há, erro de qualquer natureza. É como se essa pessoa lhe pedisse ajuda e, ajudando-a, você a visse como ela realmente é, como um ser espiritual puro. Isso é perdoar.
A cada dia somos chamados a olhar todos aqueles contra os quais temos qualquer sentimento negativo como seres espirituais e praticar esse ato de perdão. Isso significa voltarmo-nos para o Cristo de nosso próprio ser e saber que lá não existe outra coisa além do amor. Nunca houve um ser mortal, e tudo o que se parece com um mortal não é senão o próprio Cristo visto erroneamente.
Assim como perdoar, orar por nossos inimigos é uma das grandes leis da vida e da Bíblia. Isto não quer dizer que estamos desamparados perante o inimigo: isso realmente significa que somos capazes de compreender Deus como a vida e a mente do homem individual e saber que não existe outra mente além dela. As aparências nada têm a ver com isso. Não estamos lidando com as aparências. Estamos lidando com a realidade do ser.
UNIDADE: O TOM FUNDAMENTAL
O ensinamento mostra que você precisa contatar Deus individualmente. Deus precisa tornar-se real e vivo para você em sua vivência, e o propósito desse trabalho é elevar a consciência a esse ponto. "E eu, quando for levantado da Terra, atrairei todos até mim"(João 12:32). No momento em que entro em contato e sinto a presença de Deus, nesse momento, todos os que estão na faixa de minha consciência precisam sentir isso e ser elevados. Por fim, eles serão elevados para aquela altura onde eles próprios farão o contato e terão a compreensão de si próprios. Se houver qualquer mistério neste ensinamento, este é o grau em que você pode abrir sua consciência para o influxo da presença de Deus, para a percepção de Deus ou do Cristo; nesse nível você pratica e finalmente demonstra isso.
O Caminho Infinito não é mais uma abordagem metafísica destinada a eliminar a moléstia, a demonstrar um automóvel ou a saúde, ou adquirir qualquer coisa material. Seguir essa trilha envolve uma disposição de não se preocupar por sua vida, pelas coisas que você come ou bebe, ou com o que estará vestido. É uma tentativa de procurar a consciência do Infinito e a ausência de alguma coisa. Assim, na consecução da consciência da presença de Deus, do mesmo modo você consegue todas as coisas juntas – todas as coisas que estão em Deus e são de Deus.
A mais alta demonstração foi expressada por Jesus quando ele disse: "Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma... O Pai que está em mim é quem faz as obras". Estou certo de que Jesus não queria dizer que havia duas pessoas, Jesus e o Pai. Quando usou o termo "Pai", quis dizer a essência divina, a presença ou lei do Infinito. Isso foi o que ele quis significar pelo uso da palavra Pai, e esse é também o nosso significado.
Ao reconhecermos Deus, ou um Pai divino, não estamos reconhecendo alguma Pessoa nem mesmo algum Ser ou Poder fora de nós. Isso seria dualidade e seria fatal. Nós reconhecemos: "Eu sou o único. 'Eu e meu Pai somos Um' e eu sou esse Um. Isto que eu sinto correndo através de mim é o Pai, e Ele é maior do que eu, maior do que minha condição humana".
"E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim". Quando Paulo fez essa declaração, ele não estava pensando em um homem chamado Jesus, nem em alguma espécie de ser separado dentro dele. Ele compreendia e sabia o que significava o Cristo, o Messias, o Salvador, a Essência, o Poder, a Lei, a Presença.
Em verdade, Ele tem o vigor, o poder e o domínio de um pai, o amor e o carinho de uma mãe e a compreensão de um amigo. Porém, mais do que isso, Ele é a Presença que não pode ser definida. Eis onde reside a dificuldade -- tentar expressar em palavras o indefinível. Lao-Tsé disse: "Se você pode definir, não se trata de Deus". Se você pudesse alguma vez descrever essa Coisa, você não estaria descrevendo Deus, porque Deus é infinito, eternidade, imortalidade, e ninguém pode descrever isso. Você pode senti-Lo, tornar-se consciente d'Ele, percebê-Lo – mas não pode descrevê-Lo.
PODER ÚNICO: UM PRINCÍPIO BÁSICO
Um outro ponto fundamental neste ensinamento, que pode ser difícil de ser apreendido em sua plenitude, mas que é muito simples, uma vez que seu significado seja absorvido, é o ensinamento do poder único. O Primeiro Mandamento é a base sobre a qual estamos: Não terás outros poderes (deuses) senão a Mim; não existe outro poder senão Deus – não há pecado a vencer, nem morte, nem falta, nem limitação, nem tentação. O Poder único, a Presença única é Deus. A verdade não é usada para vencer o erro; o poder de Deus não é usado para vencer o mal, e quando a crença universal, sob a forma de pecado, doença, morte, carência e limitação, grita para nós "Eu tenho poder para crucificar-te", respondemos como o fez Jesus: "Nenhum poder terias contra mim, senão te houvesse sido dado do alto".
Esse tratamento que Jesus deu a Pilatos foi uma declaração de verdade absoluta, e ele a demonstrou. Todo o poder de Pilatos de pregá-lo à cruz provou ser nada porque ele não podia tocar a vida de Jesus. E assim é conosco. Nós permanecemos no Primeiro Mandamento.
Abandone a ideia de que a verdade dissipa o erro. O erro não é uma realidade e não tem de ser destruído. Meramente tem de ser reconhecido pelo que é: nada. Deus, Verdade, é o poder único. Nós não O usamos: nós somos ele. Aquilo que eu estou procurando, Eu sou.
Há muitos anos, no início de minha prática, recebi um chamado para ajudar uma mulher artrítica, cujo mestre, bem como muitos práticos tinham sido incapazes de fazer alguma coisa por ela. Em três semanas eu não havia feito mais progresso com o caso do que todos os demais – não havia melhora de espécie alguma. Seus práticos estavam convencidos de que o caso não podia ser resolvido porque a mulher tinha uma personalidade dominadora e acreditavam que ela não podia ser curada, a não ser que mudasse seu modo de pensar, ou pelo menos mudasse certas qualidades de seu pensamento. Assim fiquei sabendo que o caso teria de ser resolvido de outra maneira.
Um dia recebi dela um chamado telefônico dizendo-me que a dor era terrível e que alguma coisa precisava ser feita imediatamente. Entusiasmado, eu disse a mim mesmo: "Farei vigília a noite inteira e acabarei com isto!". Meu hábito, então, era ler um pouco, a fim de encontrar alguma coisa para dar impulso ao pensamento, meditar, dormir um pouco e depois levantar-me e tentar novamente.
Às duas horas da manhã, o pensamento veio a mim: "Existe uma verdade, e se eu pudesse apenas apanhar essa verdade, ela solucionaria este problema. Tudo o que preciso é apenas uma verdade única, e ela está em algum lugar por aqui! Se eu puder ao menos alcançá-la!".
Depois, voltei a dormir e quinze minutos depois despertei ouvindo uma Voz: "Aquilo que estou procurando, eu sou!".
"Mas como pode ser isso? Eu não sou a Verdade...", perguntei. Então lembrei que Jesus havia dito: "Eu sou o caminho e a verdade e a vida". E compreendi: "Esta verdade que estou procurando, eu sou. Isso torna a coisa muito simples, porque a verdade é universal, e se eu sou a verdade, esta paciente também é a verdade. Não adianta fazer vigília por mais tempo".
Pela manhã, chegou um aviso de que o caso havia sido resolvido e até hoje não houve sinal de qualquer recaída. Não há recaída quando conhecemos a verdade, quando não usamos a verdade para vencer o erro. Quando tentamos sobrepujar o erro com a verdade, estamos reconhecendo o poder do erro e ele pode voltar com força redobrada e nos surpreender. A partir daquele dia até hoje, jamais procurei tentar curar qualquer pessoa aqui ou sobrepujar algum erro, porque Deus é o poder único, Deus é a substância e a lei de toda a forma.
Lembre-se: a verdade em si nada faz por você! É a sua consciência da verdade que a faz funcionar. A verdade é sempre verdade, que você o saiba ou não, mas ela se manifesta a você somente em proporção à sua percepção consciente dela. É como a conta do banco a cujo respeito você nada sabe. Somente a conta do banco que você conhece é que pode lhe servir. Eu mesmo passei por um período quando até mesmo uma pequena quantia teria sido muito bem-vinda. Nessa ocasião particular, eu não sabia que tinha qualquer dinheiro e então, mais tarde, descobri duas contas em um banco da Cidade de Nova York que estava lá há vinte anos, mas que eu tinha esquecido completamente. Houve muitas ocasiões em que eu teria sido muito grato por aquele dinheiro. Assim como a conta bancária que você não sabe que possui não tem valor para você, do mesmo modo esta verdade da totalidade de Deus de nada lhe adianta, exceto na medida em que você a conhece e a percebe conscientemente.
Esta é uma das coisas mais importantes que você será chamado algumas vezes a compreender. Somente na medida em que você vir que a doença não é um poder sobre o qual pode fazer alguma coisa é que você pode atender à aparência chamada doença. Este é o ponto que quero frisar: há somente um único Poder, uma única Presença. Nosso bem deve vir através Disso, a partir do interior, não através de qualquer tentativa humana de arrancá-lo do mundo exterior.
O TRATAMENTO É SEMPRE NO PLANO DE DEUS
Nesse ensinamento permanecemos no princípio da Vida única, do Espírito único, permeando tudo. A aparência chamada "morte" não é morte, e a aparência chamada "nascimento" jamais poderia ser o começo da Vida. A vida não tem começo nem fim. Esta Vida, que é Deus, é Autogerada e Auto-sustentada e não tem antagonismo nem oposição. Não há poder à parte da Vida única, que é a sua vida e a minha vida, e essa Vida é eterna.
No momento em que tocamos o Centro, a essência divina do Ser dentro do nosso próprio ser, constatamos não só Deus, mas a vida do homem individual, a vida daquele que se chama, no momento, um paciente. O tratamento, então, está na capacidade de contatar essa Vida única, a nossa própria Alma -- essa Essência única, esse Ser único que está dentro do nosso ser – e, por isso, em nossa forma de tratamento não é necessário enviar qualquer pensamento a uma pessoa. Pelo contrário, isso só serve para impedir ou atrasar a cura e, em alguns casos, torná-la impossível.
O tratamento correto a partir do ponto de vista do Espírito, ou Alma, é penetrar o interior, tocar o Centro do próprio ser de uma pessoa. Jamais leve lá o nome do paciente; jamais faça qualquer alegação, seja esta desemprego, insanidade ou doença: não diga nada que não seja Deus, e Deus já se encontra lá. Encontre Deus! E quando esse sentimento de liberação chega, você em breve obtém do próprio paciente a palavra de que ele está curado.
Esta é a minha palavra para você, após anos e anos e prática: não leve o nome, ou a identidade, ou o quadro, ou o pensamento do seu paciente para o seu tratamento. Deixe-os completamente de fora. Você nada tem a ver com eles. Para começar, eles são ilusórios, e se você os levar em consideração, obviamente não estará acreditando que são ilusões, mas pensando que são alguma coisa e que você tem de fazer algo a seu respeito. Às vezes, talvez possa ser verdade que, porque você tem um paciente, acredite por um momento que há uma presença e um poder à parte de Deus. Por isso, você penetra no interior para a iluminação, para a luz que dissipará a ilusão.
Quando você se voltar para o interior, deixe o problema de fora! O problema não deve preocupá-lo, seja ele mental, físico, moral ou financeiro. Ele nada tem a ver com você porque você não atende a um problema no nível do problema. O problema aparece como carência, limitação, desemprego, desamparo, pecado, doença ou morte, mas no momento em que você começa a fazer alguma coisa nesse nível, você é incapaz de atendê-lo. Onde quer que o problema esteja, está a resposta; e se o problema está em seu pensamento, a resposta também está lá. Eles nunca estão separados um do outro. Eles sempre são uma só coisa. Não há problema aqui e uma resposta em algum outro lugar.
Por isso, quando lhe é apresentado um problema, deixe-o e volte-se para dentro de si até conseguir aquele centro de consciência em que você sente o alívio e, então, o problema todo desaparece. Se você trabalha no problema, se você trabalha para realizar alguma coisa, nesse momento você derrotou o seu propósito.
Então, como é que você encontra o centro do seu ser? Antes de mais nada, afaste-se do problema. Esqueça-o. Feche os olhos e leve alguma citação para o seu pensamento, preferivelmente uma bem curta como "Eu e o Pai somos um" – ou "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus". Enquanto você se apóia nessa citação e os seus pensamentos começam a vagar, ponderando sobre o que tem para o almoço ou o que fazer amanhã, não lhes dê atenção; deixe-os vir e deixe-os ir.
Mantenha a sua atenção em: "Eu e o Pai somos um" – ou em qualquer outra citação curta apropriada da Escritura ou da sabedoria espiritual. Quando você perder o fio, suavemente volte a ele e reconheça que, ainda que sua mente tenha vagado, "Eu e o Pai somos um". Traga sua atenção de volta outra e outra vez e, tantas vezes quantas você perder esse fio, traga-o suavemente de volta. Não há por que ter pressa. Apenas volte-se suavemente para "Eu e o Pai somos um".
Depois que você tiver isso por alguns minutos, se sentirá mais apaziguado. Então, se for possível, nesse momento de quietude, lembre-se de que está escutando "aquela pequena voz silenciosa". Mantenha seus ouvidos abertos como se lá fora houvesse uma mensagem esperando para entrar. E há!
Você agora está desenvolvendo um estado de receptividade para "aquela pequena voz silenciosa". Assim, enquanto você mantém a sua mente em "Eu e o Pai somos um..., Eu e o Pai somos um", o tempo todo o ouvido está ouvindo e um sentimento de paz está se estabelecendo em você.
O tratamento do Caminho Infinito diz respeito somente ao seu relacionamento com Deus, e quando você se torna um com Deus, você sente o alívio. Quando esse alívio e essa sensação de paz chegam, o problema foi resolvido, seja o seu, seja o de outra pessoa. O seu paciente sentirá o alívio, porque foi levado para a sua consciência e, desde que Deus é a consciência do praticista, Deus também é a consciência do paciente. Não há transferência de pensamento do praticista para o paciente -- não há necessidade disso.
Jamais seja culpado de uma tentativa de dar um tratamento a um paciente. Não cometa o engano de pensar que um paciente vai a um prático que vai a Deus, e que Deus, então, por sua vez, vai ao paciente a fim de produzir o alívio; ou o que o paciente vai ao prático e que este envia alguma coisa ao paciente. Nada disso acontece.
Deus e o praticista e o paciente são realmente uma coisa só. Não há três e não há dois: há somente um. Quanto mais claramente você reconhece que EU SOU é Deus, e que EU SOU é a vida, a Alma e o Espírito de cada indivíduo, logo compreenderá que não está lidando com pessoas, mas com Deus, infinita e individualmente expresso como pessoas -- mas ainda Deus, somente Deus.
DEUS COMO PRINCÍPIO CAUSATIVO
Deus é tudo. Deus constitui o ser e o corpo individuais. Mas surge a questão: "O que é Deus?". Um dos nossos maiores problemas é encontrar uma resposta satisfatória para essa pergunta. Existem, talvez, diversas centenas de sinônimos para a palavra Deus, e se pudéssemos citar todas elas ainda não teríamos encontrado a resposta para a pergunta. Mesmo assim continuamos a levantar a questão de tempo imemoriais: "O que é Deus?" -- Talvez isso aconteça porque há um reconhecimento íntimo, do qual talvez nem estejamos conscientes, de que, quando encontramos Deus, encontramos a nós mesmos, e de que, quando encontramos a nós mesmos, encontramos Deus.
Com certeza, todos podemos concordar que Deus é o princípio causativo do Universo. Não podemos dizer, no entanto, que Deus criou o Universo porque isso significaria que, em um dado momento, havia Deus e não havia um universo e que então, subitamente, havia Deus e um universo. Deus não é um criador mais do que o é o princípio da matemática. O princípio da matemática não criou duas vezes dois, quatro; não criou o quatro e o ligou a duas vezes dois. Duas vezes dois inclui quatro, e logo que duas vezes dois passou a existir o quatro já estava lá. O princípio da matemática não o colocou lá; Deus não o colocou lá – Ele não podia. O quatro estava lá. Nunca tinha sido separado de duas vezes dois.
Mas quando pensamos em Deus como um Princípio criativo – infinito, eterno, onipresente, sem começo e sem fim -- então podemos ver que uma causa tem de ser uma causa de alguma coisa e que a esta 'alguma coisa' chamamos de efeito. Causa e efeito são um, co-existentes, co-eternos e da mesma substância. Então chegamos à verdade de que Deus, como Princípio criativo, é a causa de Seu ser manifesto que aparece como efeito, causa e efeito vinculados, como duas vezes dois é quatro, inseparáveis um do outro, mas sempre num mesmo lugar.
Pense sobre a questão: O que é Deus? Somente na compreensão do que é Deus é que podemos saber aquilo para o que Deus é Deus. Tudo o que sabemos, sabemo-lo porque somos um estado de consciência. Anule-se a atividade da consciência e não teríamos percepção nem conhecimento. Não saberíamos que existimos.
Foi Descartes que disse: "Penso, logo existo". Do mesmo modo, apenas porque sou consciente, porque sou a consciência em si, é que sei que existo e que há um universo existente. Se pudermos de algum modo nos entender e entender Deus como Consciência, poderemos entender este universo, incluindo o nosso corpo, como uma formação da Consciência – incorpórea, espiritual, eterna, co-existente, Autogerida e Auto-sustentada; de fato, Autogerida e Auto-sustentada da mesma maneira pela qual duas vezes dois é quatro se mantém pela eternidade.
Quando podemos ver que a Consciência é realidade de nosso ser, que Ela é o princípio causativo, então podemos ver formas dessa Consciência, ou Ela se torna evidente para nós como uma variedade infinita de formas e, portanto, tão eterna como nós. À medida que compreendemos que nossa consciência é o princípio causativo de nosso universo, então saberemos que, não importa o que façamos, a Consciência universal está sempre produzindo e reproduzindo.
Não importa o que façamos com o mundo dos efeitos, a Consciência, que é o seu princípio causativo, substância e lei, está sempre produzindo e reproduzindo. Ela não está criando. Está apenas se desenrolando, como um rolo de filme cinematográfico, desenrolando todo o quadro. O quadro já está lá no rolo todo e está apenas se desenrolando diante de nossa vista.
A Consciência está sempre Se desenrolando e Se revelando para nós sob forma infinita, de maneira infinita e em variedade infinita. Nunca deveria haver lamentos sobre nossas vidas passadas, sobre o que perdemos no passado. O passado nada tem a ver com o presente. Não dependemos do maná de ontem; não dependemos de coisa alguma ou de alguém. Não faz diferença o que aconteceu ou o que acontece com a nossa sorte ou com os nosso bens. É hoje que a nossa consciência está nos revelando sua nova criação, revelando a cada dia suas novas formações. Hoje a nossa consciência está se desenrolando e se revelando de novas maneiras, de novas formas – sempre crescendo abundantemente.
VIVER DENTRO DO PRINCÍPIO DO EU ÚNICO
Na Primeira Guerra Mundial, servi como voluntário na marinha dos Estados Unidos e, embora, naquele tempo eu fosse um jovem estudante de Metafísica, aprendi que é possível me proteger dos poderes deste mundo refugiando-me em/no Cristo, onde nenhum poder do mal pode se aproximar. Orei desse modo durante semanas, até que um dia fiquei impressionado; fui tomado com a ideia de que Deus devia ser horrível se, ao dizer "abracadabra", eu pudesse ser protegido, ao passo que todas as pessoas que não conhecessem a palavra mágica seriam mortas ao saírem. Lá estaria eu com a minha arma, matando a torto e a direito sem ser tocado. Mas, os pobres companheiros que não conhecessem essa fórmula mágica, poderiam morrer. Eu não podia acreditar que existisse tal Deus e percebi que havia algo errado com essa forma de oração. Por não conhecer outra, decidi não orar novamente até que tivesse aprendido a fazê-lo corretamente.
Os dias passaram, e recusei me ocupar com qualquer oração protetora desse tipo, até que um dia, aparentemente por acaso, derrubei minha Bíblia no chão. Ela caiu aberta nesta passagem: "Eu não rogo somente por estes" (João 17:20). Senti o coração e os ombros aliviados de um peso que os oprimia, e disse: "Obrigado, Pai. Nunca rezarei novamente para mim ou para os meus somente. Agora, porém, minha prece é que a graça de Deus envolva a humanidade, que a graça de Deus toque toda alma viva para a vida espiritual".
Quanto a mim, aconteceu um milagre. Fui transferido de um local para outro, de uma obrigação para outra, mas nunca mais, durante a guerra, fui sequer mandado para perto de qualquer sítio, de onde pudesse atingir alguém ou mesmo ser atingido. Vi então que não só havia proteção para mim, como também havia proteção a partir de mim. Desde então, aprendi uma grande lição que narrei no capítulo "Ame teu Próximo", no livro Exercitando a Presença. O princípio é que há somente um Eu, e que é o Próprio-Deus.
A vida de Deus é a minha e a sua vida; a alma de Deus é a minha e a sua alma. o Espírito de Deus é o meu e o seu espírito; a verdadeira individualidade de Deus é a minha e a sua individualidade; e isso significa que nós somos unos em filiação espiritual. Qualquer coisa que me beneficie deve beneficiar você; qualquer coisa que me prejudique, deve prejudicar você, pois nós somos um só. Tudo o que for uma bênção para mim, deve ser para você; e tudo o que é graça divina para você, deve ser também para mim, pois nós somos um só.
Se eu fizer algo danoso para você, estarei fazendo a mim mesmo, pois só existe um. Se eu fizer algo de natureza oculta, não estou ocultando de você; estou ocultando de mim. Se eu fizer algo destrutivo, não estou prejudicando você; estou prejudicando a mim mesmo, pois nós somos um só. Frequentemente queremos saber porque estamos pagando as penas da enfermidade, do pecado ou da pobreza, sem compreender o que fizemos à humanidade.
Para o mundo, há um, apenas um único meio de ação: é através de obras. O mundo realiza seu bem e seu mal pelas obras, mas essa não é a sua ou a minha verdade. Mesmo se nos abstivéssemos das más ações, ainda assim não seria suficiente. Paulo disse que: "ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria" (I Coríntios 13:3). E o Mestre disse-nos que, se não cometêssemos nenhum desses pecados, mas permitíssemos que eles ocupassem o nosso pensamento, ainda assim, seríamos pecadores: "Eu, porém, vos digo que qualquer um que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela" (Mateus 5:28).
Assim é que as boas obras não são suficientes para nós. Abster-se das más obras não é o bastante. Devemos avançar um passo além e não prestar falso testemunho contra o próximo. Silenciosa e secretamente, devemos compreender que Deus é a vida de todo o indivíduo, quer o saiba disto ou não, quer viva ou não para Ele.
No exato momento em que começarmos a conhecer a verdade de que Deus é a vida de todo mundo, que a graça divina é suficiente para todas as pessoas em todo lugar, quando começarmos a orar por aqueles que estão arruinando este mundo – oremos para que a graça de Deus abra a alma e a consciência deles para a verdade do ser, oremos para que o mundo seja um instrumento pelo qual Deus possa agir livremente, oremos para que a luz de Deus toque a consciência obscurecida deles -- então e somente então começaremos a "morrer a cada dia" para os meios humanos de vida e renasceremos como filhos de Deus que já não têm de dirigir o pensamento para a vida, mas que agora vivem pela Graça.
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