"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, dezembro 29, 2006

A verdadeira busca pela verdade: O cessar da busca.


A verdade está sempre aqui. Ela está diante de seus olhos, mas você não é capaz de vê-la porque você a procura. E ela está onde quer que seja. Quando você procura vê-la, o seu próprio ato de olhar está dentro dela; quando você come, você o faz nela; a verdade está presente no seu ato de comer, respirar, olhar, sentir, escutar... você não pode escapar dela. Quando você está procurando pela verdade, a verdade se faz presente em você e também na sua busca. Assim, acontece um fenômeno no mínimo muito interessante: é a verdade que faz da busca uma procura pela própria verdade. A verdade está procurando por ela mesma e, aonde for que ela vá, ela se leva consigo.

Aquele que busca é a o objeto tão desejado de ser encontrado. Mas... como a busca pode existir, quando o sujeito e o objeto da busca são um só? Eis aí um paradoxo. E paradoxos não são passíveis de serem resolvidos. Quando você entra na dimensão de um paradoxo, você não consegue resolvê-lo do lado de dentro, ele é um absurdo! Ele é contraditório, um fenômeno maluco, aos olhos da mente humana. Então é necessário você transcendê-lo; somente quando você passa do lado de dentro para o lado de fora é que você passa a ter condições de olhar claramente para um paradoxo e ver sua resposta. A busca, portanto, é um paradoxo. E, enquanto você estiver nela, você não conseguirá encontrar suas respostas. Enquanto você seguir buscando a verdade, o objeto e o sujeito estão separados, quando na realidade eles são a mesma e única coisa. Assim, a busca tem sentido enquanto você assumir que a verdade é algo que está em algum outro lugar, diferente de onde você está, e que você tem de encontrá-la. Essa é uma falsa busca.

No entanto, quando sua atenção se volta para o fato de que o sujeito e o objeto da busca são um só, quando você assume que você é a verdade que você tanto quer achar, e quando você segue sua busca mantendo isso em sua consciência, então você começa a adentrar a verdadeira busca. Você começa a sair de dentro do paradoxo que é a falsa busca, e passa para o lado de fora dela... onde você poderá começar a buscar verdadeiramente.
Tendo esta nova visão em mente, você não encontrará sentido em continuar buscando como antes. Agora a sua ansiedade começa a diminuir gradualmente, a sua angústia irá, aos poucos deixando de existir. E, em contra-partida, um relaxamento começa a surgir; você deixa de levar a sua busca tão a sério; você conseguirá penetrar em um estado de maior calma, paciência; toda a tensão começa a ir embora.
E quanto menos preocupado você se permitir ser, melhor será seu desempenho. A preocupação e a pressa são barreiras que lhe afastam de encontrar-se consigo mesmo. Cabe, aqui, um ditado oriental que diz “se você quer para agora, então espere!” – e esse ditado é cheio de sabedoria.
Enquanto você procurar, não lhe será permitido encontrar. Enquanto você esperar a chegada da auto-realização, ela não virá. E todas as vezes que você começa a atuar em termos de futuro, você se manterá afastado de seu objetivo. Você diz: “estou esperando acontecer o meu encontro comigo mesmo, espero pela hora em que eu conhecerei o meu eu interior, o meu eu mais profundo”, e sempre que você estiver mantendo tal esperança, seu eu interior se mantém longe de você. A esperança pode existir e ser algo positivo para várias coisas na vida. Mas em se tratando da busca espiritual, ela é um empecilho. Mais do que isso, ela é uma doença, ela é um vírus. E enquanto o vírus se fizer presente, a saúde não pode ser restabelecida. Vírus e doença são formas de vida afins. Se você quiser ter saúde, elimine o vírus. Se você quiser encontrar sua iluminação, elimine suas esperanças. Elas não combinam; elas não tem nada a ver uma com a outra. E, da mesma forma que o futuro, o passado também é um vírus. E o momento presente é a panacéia, a cura de todos os males.

A busca deve ser destituída de esperanças. E todas as coisas que você faz, todos os esforços que você empreende, são em prol de um objetivo a ser alcançado. Ter esperanças e objetivos ocorrem conjuntamente, um segue ao outro como uma sombra. E a esperança não pode ser separada de seu objetivo. Quando você se envolve com um, você também relaciona com o outro. Você não deve ter metas. A meta mostra que você ainda está esperando pelo futuro.
Há tantas formas de se ter uma meta, que todas elas podem passar por você sem serem notadas. Você olha para o que está escrito em alguma escritura e se enche de esperança, porque você começa a desejar todas as coisas bonitas e promissoras que estão reveladas nela. Você descobriu que encontrar Deus é possível, e agora você passa a desejar a encontrar Deus... e você começa a buscá-lo. E o mesmo vale para pensamentos, filosofias, crenças, religiões... Essas esperanças lhe dão algo a que se agarrar. E deixá-las de lado é algo muito árduo de ser feito. Uma pessoa pode ficar muito zangada se alguém conseguir retirar todas as metas dela. As pessoas são tão viciadas em suas esperanças, que quando elas conhecem alguém em especial, como um mestre ou um guru, elas começam a ter esperanças através dele. Elas começam a dizer: “Este homem fará algo por mim. E agora que eu já encontrei alguém iluminado, não há mais necessidade de ter medo, porque mais cedo ou mais tarde eu vou me tornar iluminado.”. Esqueça! Ninguém pode fazer nada por você. Um mestre ou um guru iluminado podem fazer tanto por você, quanto uma pessoa que ainda não se tornou iluminada. A questão toda depende de você. Você é a sua resposta; a chave é você. VOCÊ é a única coisa que jamais se perdeu. E tudo o mais, além de você, teve de vir e ir... mas você permaneceu.

E a iluminação não é uma esperança. Ela não é um desejo e não está no futuro. Se você começa a viver este exato momento, você estará iluminado. Mas enquanto você estiver alimentando suas esperanças, você estará dizendo: “Amanhã!”. Então como queira... mas esse amanhã nunca irá acontecer. É agora ou nunca!
Então, ilumine-se agora! E você pode se iluminar porque você está... simplesmente iludido: simplesmente pensando que não é. O tempo não pode ser perdido. Isso pode ser feito imediatamente, porque não há necessidade de nenhuma preparação. Se houver preparação, então haverá uma meta a ser atingida.

E não pergunte como. No momento em que você pergunta como, você começa a ter esperanças. Não pergunte como e não diga: “sim, eu me tornarei”. Não é isso o que os ensinamentos dizem. O que eles dizem é que você já é iluminado. Eis tudo. Você aceita que você já é iluminado, nesse exato momento? Se você aceita, então toda sua busca cessa automaticamente; e você passa a estar satisfeito consigo mesmo da maneira como você se encontra... da maneira como você é. Então, tudo o que lhe acontece, você sente como se estivesse sendo dado de graça a você; você nunca pediu por nada, você nunca esperava nada, e é exatamente por isso que o que quer que lhe aconteça é algo belo e precioso. E a vida passa a ter uma qualidade muito mais profunda, e muito mais bonita. Você olha para ela com outros olhos... e você estará satisfeito com tudo.(...)


Quando você está em busca da verdade, você não deve preocupar-se com ela. A verdade é descompromissada com tudo. Seu único interesse é servir a tudo e a todos. Mas ela não espera nada em troca. Ela não pede para você se preocupar com ela. Ela estará sempre lá, não há nenhuma necessidade da sua parte. Ela pode vir até você, desde que você não esteja intencionado. Se você criar pretensões, a verdade foge de você, pois ela é muito frágil, pura... ela também é tímida.

Um dos maiores segredos da vida, é que a vida é uma dádiva. Ela lhe foi dada, você não a mereceu. A vida não é um direito seu. Você não pode merecê-la de maneira alguma, e não pode forçar a existência a torná-lo feliz e satisfeito. Esse esforço é do ego. Esse esforço cria infelicidade. Na própria busca por felicidade, você cria infelicidade para si. Mas quando você não busca, a felicidade vem atrás de você. Quando você esquece a felicidade, de repente se torna feliz. Quando você esquece o contentamento, de repente lá está ele. Sempre esteve perto de você, mas você não estava lá. Você estava pensando: “Em algum lugar no futuro tenho que alcançar um alvo, conquistar a felicidade, praticar o contentamento.”. Você estava no futuro, e a felicidade estava bem aqui ao seu redor.

Sim, a verdade é ociosa. Ela está sempre passando o tempo por aqui. E você foi buscar tão longe... volte para casa. E apenas seja! Não se incomode com a felicidade. A vida está aqui como uma dádiva; e a felicidade também vai estar aqui como uma dádiva.

Quando você procura demais, acaba se fechando; a própria tensão da procura e da busca o fecha. Quando você deseja demais, o próprio desejo se torna um estado tão tenso, que a felicidade não consegue penetrar você. A felicidade penetra você do mesmo modo que o sono: quando você desliga, quando você se entrega, quando você simplesmente espera sem expectativas, eles vêm.
Na verdade, dizer que eles vêm não é certo: eles já estão lá! Num ato de entrega, você os vê e sente, porque está relaxado. No relaxamento você se torna muito sensível. Quando você está relaxado, numa entrega total, não fazendo nada, não indo a lugar algum, não pensando em meta alguma, em alvo algum, então a felicidade aparece. E assim também o é com a verdade.

Você não deve fazer coisa alguma para ser feliz. Na verdade, você já fez coisa demais para se tornar infeliz. Se quiser ser infeliz, faça muito. Se quiser ser feliz, deixe que as coisas aconteçam. Tudo sem tensão, não ir a lugar algum, nem ao menos a idéia de ir a algum lugar... Estar somente aqui e agora – de repente tudo começa a acontecer. Descanse, relaxe e desligue-se.

Assim, se você criar expectativas, se você tiver pretensões, se você manifestar qualquer intenção que seja com relação a verdade, ela não vem até você. Qualquer coisa que você faça, é como atirar uma pedra num lago tranqüilo, calmo e silencioso: enquanto você nada fazia, havia uma bela imagem da lua refletida na superfície do lago. E no momento em que você começou a atirar pedras no lago, a imagem ficou distorcida, ficou destroçada e o lago começou a refletir uma imagem feia.

E você é um lago. E a verdade e a felicidade estão refletindo em você a todo instante. Basta você ficar sereno e silencioso... e uma linda imagem da felicidade e da verdade estarão refletindo no seu ser. Agite-se, e a felicidade torna-se infelicidade... e a verdade é distorcida. A verdade sempre está lá.

Assim, você não precisa buscar pela verdade; você não tem de tentar se tornar verdadeiro. Se você tenta se tornar, é porque você admite que ainda não é. Sempre que você busca a verdade, é porque você gostaria de se tornar verdadeiro. Então você pode ler avidamente um livro, praticar com empenho um ensinamento, ou você pode ir a algum mestre espiritual... mas intrinsecamente você terá admitido para si mesmo que você não é verdadeiro e, em qualquer tentativa que você faça, a expressão que você exterioriza é: “Eu gostaria de me tornar verdadeiro.”

E você não pode gostar ou não gostar. Não é uma questão de escolha sua. A verdade é! Se você gosta disso ou não é irrelevante. Você pode escolher mentiras, mas você não pode escolher uma verdade: a verdade está aí! Alguns mestres espirituais como Krishnamurti, Osho e outros, insistem na consciência sem escolha. Você não pode escolher a verdade. Ela já está aí, e não tem nada a ver com a sua escolha, goste você ou não.

E no momento em que você abandona a sua escolha, a verdade está lá. É devido às suas escolhas que você não pode ver a verdade. As suas escolhas funcionam como uma tela, como um filtro, diante de teus olhos, impedindo-os de ter uma visão clara da verdade. A sua atitude de gostar ou não gostar não é o problema. Pelo gostar ou não de algo, você não pode enxergar aquilo que existe.

Você diz: “Eu gostaria de me tornar verdadeiro”...
É dessa forma que você permanece não-verdadeiro. Você é verdadeiro! Abandone o gostar e o não gostar! Existir é verdadeiro, é ser real. Você está aqui, vivo, respirando... como pode você ser irreal? Escolha, goste, desgoste e você se perde. Aí você diz: “Eu gostaria de me tornar verdadeiro...” – então, em nome da verdade você também irá se tornar não-verdadeiro. Desejar se tornar verdadeiro é o caminho para se tornar não-verdadeiro... eis o paradoxo. Abandone esse desejo; não tente tornar-se algo. “Tornar-se” é tornar-se não-verdadeiro; e ser é ser a verdade. Eis tudo.

E veja a diferença: tornar-se está no futuro, existe uma meta. E ser é aqui e agora, já é o fato. Então, quem quer que você seja, seja apenas isso, não tente tornar-se algo a mais. O que quer, quem quer que você seja é belo. É mais do que suficiente; seja apenas isso. Pare de tornar-se e seja. Pare de tornar-se... pare com a sua busca.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Perceber e Aceitar a Sua Natureza


A natureza do homem é a essência. É isso o que o homem tem de real em si: a sua natureza, sua essência. E a verdade já está inserida, está implícita na palavra "natureza". A verdade jamais pode advir de algo que não seja natural. Tudo o que é verdadeiro é natural.

Você não pode conhecer sua natureza. Ela é o desconhecido, é o misterioso. Nenhum esforço que você faça, por maior que seja, poderá revelar sua natureza interior. Você pode ser o homem mais notável da face da Terra, pode ser o homem capaz de realizar os maiores feitos do mundo, e mesmo assim você não será capaz de conhecer sua essência.

O conhecimento de sua natureza só pode se dar de forma direta e imediata. Então a mente não participa desse processo; ela fica de fora; a mente tem de ser posta de lado. E quando a mente entra em cena, ela começa a filtrar as coisas; tudo o que você vê é filtrado, todas as palavras que você escuta são filtradas pela sua mente, a mente filtra tudo. A mente é um filtro; você não consegue utilizar sua mente sem fazer interpretações, rotulações, julgamentos... Então, você não consegue ver as coisas acontecendo, pois o que quer que venha a surgir para você, estará maculado com conteúdos e valores assimilados pela sua mente.

Neste exato momento, muitas coisas estão acontecendo para você. Elas estão despidas, estão nascendo pela primeira vez. O que quer que esteja acontecendo agora é algo novo, é algo inédito. Isto nunca nasceu antes, em toda a história deste mundo. Tudo o que nasce agora, nasce como quando você nasceu pela primeira vez: nu, despido, puro. E olhar para estes acontecimentos com a mente, é tirar toda a pureza dos acontecimentos; a mente torna velho para você tudo o que está acontecendo no momento presente; você segue interpretando o presente em termos de passado. É por isto que tantos mestres espirituais insistem: “ponha sua mente de lado”; é impossível olhar para os fatos com a mente sem interpretá-los. Você deve, portanto, tornar-se senhor da sua mente e usá-la apenas nos momentos necessários. E quando você consegue olhar para os fatos da vida sem deixar a mente interferir, tudo é belo, tudo é extraordinário, tudo é valioso e único. Até mesmo os fatos que você julgava serem triviais tornam-se importantes; você pode reconhecer o valor de tudo. O que, antes, eram grandes coisas e pequenas coisas pra você, passam a ter a mesma importância, porque você descobre/percebe que elas não podem ser comparadas. Você vê que fazer comparações não tem o menor sentido. Pequeno e grande eram interpretações que sua mente fazia. Tudo é novo, tudo é único... e tudo possui sua respectiva importância. Cada coisa na existência ocupa o seu devido lugar e nada é em vão.

E lembre-se: A verdade nunca se torna uma memória. Mesmo quando você a conhece, ela nunca se torna uma memória. A verdade é tão vasta, que ela não pode ser contida na memória. Quando você atua pela memória, então você não vê o que é real naquele momento; você segue interpretando aquilo que você já havia visto antes. Você segue interpretando o presente em termos de passado; você segue impondo algo que não existe... e você segue não vendo as coisas que existem naquele momento. A memória tem de ser colocada de lado. A memória é algo bom, use-a, mas a verdade jamais foi conhecida através da memória.
Assim, a verdade será sempre desconhecida. Mesmo que neste momento você a veja, você não será capaz de reconhecê-la quando você a vir no próximo instante. Quando você a conhece, ela é nova. E sempre que ela voltar a acontecer, você a conhecerá novamente, e ela será outra vez nova. Ela nunca é velha; ela é sempre nova, ela é sempre fresca. E esta é uma de suas qualidades: a de que ela nunca tornar-se-á velha. Você nunca poderá saber dela de ante-mão; só é possível percebê-la no momento presente. Para você a verdade sempre é conhecida no momento presente; e para sua mente ela é sempre desconhecida.

Esse deve ser o olhar do iluminado: saber olhar para tudo, como se estivessem acontecendo pela primeira vez. Tudo é sempre uma novidade; você se surpreende com a vida a cada segundo que passa, pois nada do que acabou de lhe acontecer havia acontecido antes para você. Você poderia assistir o mesmo filme duas vezes, e ao assisti-lo pela segunda você desfrutaria dele como se o estivesse vendo pela primeira vez. Você poderá rir das mesmas piadas, se surpreender com as mesmas cenas. O olhar do iluminado é saber ver, por vários ângulos, a mesma e única coisa. Você olha para uma flor hoje, a aprecia e desfruta de sua beleza. Amanhã você olha para a mesma flor, mas você percebe que está olhando para algo inteiramente novo. Você não tem a obrigação de enxergar as mesmas coisas na flor, sempre e sempre.

E para isto, você deve viver mergulhado no desconhecido. Você tem de saber estar familiarizado com o misterioso, com a única coisa que você jamais conseguirá desvendar. E já que é impossível decifrar sua natureza interior, a solução do problema está em aceitá-la como sendo incognoscível. Essa é a única solução. É quase como um problema matemático que não apresenta nenhuma solução possível; então você o resolve colocando aquele símbolo do “E” ao contrário. Ora, quando um problema não tem solução, então solucionado ele está! Mas você precisa aprender a chegar na conclusão de que não há nenhuma solução possível para o problema. Somente então ele pode ser resolvido.

Assim, mesmo depois de ter atingido a iluminação, você não será capaz de saber, nem de dizer, se chegou completamente ou se chegou em parte. Você nunca irá saber. Um sentimento acompanhará você sempre, um sentimento de que você nunca sabe de nada. É como se você estivesse nascendo para a vida -- e você estará! --, a cada instante: tudo é sempre novo, tudo brota diretamente do desconhecido. Sócrates proferiu esta frase: “Só sei que nada sei”. Eis aí o significado dela. A verdade não pode ser conhecida. A natureza do homem não pode ser conhecida.

E o homem está constantemente lutando contra a sua natureza; ele não a aceita. Ela não é algo contra o qual se deva lutar. Fazer isso é tolice; é inútil porque ela não pode ser conhecida. Tentar conhecer sua natureza é lutar contra ela. E é isso o que o homem vem fazendo. Ele está tentando compreender sua natureza com sua mente; ele está tentando saber dela. Ele quer tornar a verdade um objeto de seu conhecimento. E isso não é possível; você não pode desdobrar a única verdade existente em duas verdades, do contrário ela perde seu sentido. Depois de desdobrada em duas, apenas uma delas é que será a verdade e a outra não será. A verdade só pode ser uma. Não é possível que haja duas. Depois que sua mente divide a Realidade em duas partes, então qual delas será a verdadeira? Será o sujeito que analisa o objeto, ou o objeto analisado pelo sujeito? Se isto acontecer, você cai dentro de um dilema: "Onde está a verdade? Ela está aqui comigo, ou está lá com o objeto que eu estou observando?". É por isso que você não pode observar, não pode conhecer, não pode saber o que a verdade é. Porque, se você pudesse observar a verdade, então ela estaria lá e você estaria aqui. E o homem, como um sujeito observador, jamais poderia admitir-se como sendo algo não-verdadeiro. Se aquilo que está lá é a verdade, o que é você então? Você consegue conceber para si mesmo que você é uma mentira? A resposta é que não; ninguém o faz. Assim, dividir a Verdade em duas e querer que o sujeito e o objeto sejam ambos verdades, é querer demais. Isso vai contra a natureza da Verdade, pois ela só pode ser uma.

O processo de "conhecer algo" significa que o conhecimento não existia anteriormente e que, de repente, passou a existir. Quando você conhece algo, o objeto que se tornou conhecido por você não é eterno. Isso também indica que nem mesmo o seu conhecimento é eterno: eles surgiram, ambos, ao mesmo tempo. E é por isso que a verdade não pode ser conhecida, ela é eterna; você nunca deixou de sabê-la; você sempre soube dela. Como você pode, então, vir a conhecê-la? Não, você não pode.

É como quando você já conhece o que é o céu, e de repente você começa a dizer "eu quero conhecer o que é o céu". É uma grande idiotice. Você não pode conhecer o céu duas vezes; apenas uma única vez já basta. Depois de conhecido uma vez, você pode empreender todos os esforços no sentido de conhecê-lo novamente, mas eles serão em vão. O céu só pode ser conhecido uma vez, e isto já foi feito. Aquilo que já está consumado, está consumado... e não há mais nada que você possa fazer.

O mesmo se aplica quanto a você conhecer a sua Natureza, mas aqui há uma pequena peculiaridade: você sempre soube dela. A diferença da sua natureza para o céu, é que o céu pode ser conhecido uma única vez. Mas, sua natureza não pode ser conhecida sequer, pela primeira vez. E veja: tentar conhecer sua natureza pela primeira vez é como tentar conhecer o céu pela segunda. Você não poderá conhecê-la de novo, por mais que tente. Você já conhece o que é a Verdade.

Assim, todo esforço é inútil. Isto é muito importante e tem de ser compreendido: a Verdade não pode ser conhecida, ela tem de ser aceita. Isso precisa ficar muito bem claro na sua mente; essa compreensão precisa entrar e ficar impressa em você, de tal forma, que você desista de tentar conhecê-la... de forma que você aceite que a verdade é incompreensível. Somente depois disso é que você tornar-se-á apto para aceitar e perceber que você já a conhece.

Sim, você já conhece essa verdade. Mas você a conhece pelo seu não-conhecer. A sua aceitação de que a verdade não pode ser conhecida de forma alguma traz consigo uma compreensão muito sutil. A sua aceitação de que esse problema não tem solução traz a solução do problema. É esta aceitação que te mostra que você sempre soube de sua natureza – apenas não estava consciente dela --, mas agora você se lembrou. O segredo é você se familiarizar, estar imerso, mergulhado, e aprender a se manter consciente desse seu não-saber, que você sempre soube.
E, mais uma vez, aceitar é a solução... Namastê!