"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, novembro 30, 2009

Ego, o falso centro

OSHO
Osho


O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.

Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso.

Nascimento significa vir a este mundo, o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce neste mundo. Ela abre seus olhos, vê aos outros. O "outro" significa o tu. Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Este também é o outro, também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo.

É desta maneira que a criança cresce.

Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, tu, ela se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que esta pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se ela aprecia a criança, se diz: "Você é bonita", se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Agora um ego está nascendo. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ela não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito.

E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida; sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é o ego. Isso também é um reflexo.

Primeiro a mãe - e mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas. O ego é um fenômeno acumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não. O verdadeiro pode ser conhecido somente através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ela é uma disciplina. O verdadeiro pode ser conhecido somente através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.

O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá para a escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estão adicionando algo ao seu ego, e todos estão tentando modificá-lo, de tal forma que você não se torne um problema para a sociedade.

Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade.

A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Ela não está interessada no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhe que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim, estão tentando dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajustará à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro.

É por isso que colocamos os criminosos nas prisões - não que eles tenham feito alguma coisa errada, não que ao colocá-los nas prisões iremos melhorá-los, não. Eles simplesmente não se ajustam. Eles criam problemas. Eles têm certos tipos de egos que a sociedade não aprova. Se a sociedade aprova, tudo está bem.

Um homem mata alguém - ele é um assassino. E o mesmo homem, durante a guerra, mata milhares - e torna-se um grande herói. A sociedade não está preocupada com o homicídio, mas o homicídio deveria ser praticado para a sociedade - então tudo está bem. A sociedade não se preocupa com moralidade.

Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade.

Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao autoconhecimento. A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível. E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que este é o seu centro, o ego dado pela sociedade.

Uma criança volta para casa - se ela foi o primeiro aluno de sua classe, a família inteira fica feliz. Você a abraça e a beija, e você coloca a criança no colo e começa a dançar e diz: "Que linda criança! Você é um motivo de orgulho para nós." Você está dando um ego a ela. Um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, um fiasco - ela não pode passar, ou ela tirou o último lugar - então ninguém a aprecia e a criança sente-se rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado. O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. É por isso que você está continuamente pedindo atenção.

Ouvi contar: Mulla Nasrudin e sua esposa estavam saindo de uma festa, e Mulla disse: "Querida, alguma vez alguém já lhe disse que você é fascinante, linda, maravilhosa?"

Sua esposa sentiu-se muito, muito bem, ficou muito feliz. Ela disse: "Eu me pergunto por que ninguém jamais me disse isso." Nasrudin disse: "Mas então de onde você tirou essa idéia?"

Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro.

Esse centro é falso, porque você contém o seu centro verdadeiro. Este não é da conta de ninguém. Ninguém o modela, você vem com ele. Você nasce com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Este é o eu. E o outro centro, que lhe é dado pela sociedade - o ego. Ele é algo falso - e é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente então a sociedade o aprecia. Você tem que caminhar de uma certa maneira: você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente então a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, quem você é. Os outros lhe deram a idéia.

Essa idéia é o ego.

Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a menos que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se, vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará despedaçado, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo, quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos.

Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas.

Ouvi dizer: Uma criancinha estava visitando seus avós. Ela tinha apenas quatro anos de idade. De noite, quando a avó a estava fazendo dormir, ela de repente começou a chorar e a gritar: "Eu quero ir para casa. Estou com medo do escuro." Mas a avó disse: "Eu sei muito bem que em sua casa você também dorme no escuro; eu nunca vi a luz acesa: Então por que você está com medo aqui?" O menino disse: "Sim, é verdade - mas aquela é a minha escuridão. Esta escuridão é completamente desconhecida."

Até mesmo com a escuridão você sente: "Esta é minha."

Do lado de fora - uma escuridão desconhecida. Com o ego você sente: "Esta é a minha escuridão." Pode ser problemática, pode criar muitos tormentos, mas ainda assim, é minha. Alguma coisa em que se segurar, alguma coisa em que se agarrar, alguma coisa sob os pés; você não está em um vácuo, não está em um vazio. Você pode ser infeliz, mas pelo menos você é.

Até mesmo o ser infeliz lhe dá uma sensação de "eu sou". Afastando-se disso, o medo toma conta; você começa a sentir medo da escuridão desconhecida e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte do seu ser... É o mesmo que penetrar em uma floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Aqui tudo está bem; você planejou tudo. Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que você possa se sentir em casa ali.

E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo. Além da cerca você é, tal como dentro da cerca você é - e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.

Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido. Por um certo tempo, todos os limites ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai sentir-se atordoado. Por um certo tempo, você vai sentir-se muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.

Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esta é a sua alma, o eu.

Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos; nasce uma nova ordem. Mas esta não é a ordem da sociedade - é a própria ordem da existência. É o que Buda chama de Dharma, Lao Tsé chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência.

Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas. A diferença é a mesma que existe entre uma flor verdadeira e uma flor de plástico ou de papel. O ego é uma flor de plástico, morta. Não é uma flor, apenas parece com uma flor. Até mesmo lingüisticamente, chamá-la de flor está errado, porque uma flor é algo que floresce. E essa coisa de plástico é apenas uma coisa e não um florescer. Ela está morta. Não há vida nela. Você tem um centro que floresce dentro de você. Por isso os hindus o chamam de lótus - é um florescer. Chamam-no de o lótus das mil pétalas. Mil significa infinitas pétalas. O centro floresce continuamente, nunca para, nunca morre. Mas você está satisfeito com um ego de plástico. Existem algumas razões para que você esteja satisfeito. Com uma coisa morta, existem muitas vantagens. Uma é que a coisa morta nunca morre. Não pode - nunca esteve viva. Assim você pode ter flores de plástico, e de certa forma elas são boas. Elas são permanentes; não são eternas, mas são permanentes. A flor verdadeira, a flor que está lá fora no jardim, é eterna, mas não é permanente. E o eterno tem uma maneira própria de ser eterno. A maneira do eterno é nascer muitas e muitas vezes... e morrer. Através da morte, o eterno se renova, rejuvenesce.

Para nós, parece que a flor morreu - ela nunca morre. Ela simplesmente troca de corpo, assim está sempre fresca. Ela deixa o velho corpo e entra em um novo corpo. Ela floresce em algum outro lugar, nunca deixa de estar florescendo.

Mas não podemos ver a continuidade porque a continuidade é invisível. Vemos somente uma flor, outra flor; nunca vemos a continuidade. Trata-se da mesma flor que floresceu ontem. Trata-se do mesmo sol, mas em um traje diferente.

O ego tem uma certa qualidade - ele está morto. É de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não o precisa procurar; a busca não é necessária para ele. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente uma parte da multidão. Você é apenas uma turba. Quando você não tem um centro autêntico, como você pode ser um indivíduo? O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz.

Com uma vida de plástico, como você pode ser feliz? Com uma vida falsa, como você pode ser extático e bem-aventurado? E esse ego cria muitos tormentos, milhões deles. Você não pode ver, porque se trata da sua escuridão. Você está em harmonia com ela. Você nunca reparou que todos os tipos de tormentos acontecem através do ego? Ele não o pode tornar abençoado; ele pode somente torná-lo infeliz. O ego é o inferno.

Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego continua encontrando motivos para sofrer.

Uma vez eu estava hospedado na casa de Mulla Nasrudin. A esposa estava dizendo coisas muito desagradáveis a respeito de Mulla Nasrudin, com muita raiva, aspereza, agressividade, muito violenta, a ponto de explodir. E Mulla Nasrudin estava apenas sentado em silêncio, ouvindo. Então, de repente, ela se voltou para ele e disse: "Então, mais uma vez você está discutindo comigo!" Mulla disse: "Mas eu não disse uma única palavra!"

A esposa replicou: "Sei disso - mas você está ouvindo muito agressivamente." Você é um egoísta, como todos são. Alguns são muito grosseiros, evidentes, e estes não são tão difíceis. Outros são muito sutis, profundos, e estes são os verdadeiros problemas.

O ego entra em conflito com outros continuamente porque cada ego está extremamente inseguro de si mesmo. Tem que estar - ele é uma coisa falsa. Quando você nada tem nas mãos, mas acredita ter algo, então haverá um problema. Se alguém disser: "Não há nada", imediatamente começa a briga porque você também sente que não há nada. O outro o torna consciente desse fato. O ego é falso, ele não é nada.

E você também sabe isso.

Como você pode deixar de saber isso? É impossível! Um ser consciente - como pode ele deixar de saber que o ego é simplesmente falso? E então os outros dizem que não existe nada - e sempre que os outros dizem que não existe nada, eles batem numa ferida, eles dizem uma verdade - e nada fere tanto quanto a verdade. Você tem que se defender, porque se você não se defende, se não se torna defensivo, onde estará você?

Você estará perdido. A identidade estará rompida.

Assim, você tem que se defender e lutar - este é o conflito. Um homem que alcança o eu nunca se encontra em conflito algum. Outros podem vir e entrar em choque com ele, mas ele nunca está em conflito com ninguém.

Aconteceu de um mestre Zen estar passando por uma rua. Um homem veio correndo e o golpeou duramente. O mestre caiu. Logo se levantou e voltou a caminhar na mesma direção na qual estava indo antes, sem nem ao menos olhar para trás. Um discípulo estava com o mestre. Ele ficou simplesmente chocado. Ele disse: "Quem é esse homem? O que significa isso? Se a gente vive desta maneira, qualquer um pode vir e nos matar. E você nem ao menos olhou para aquela pessoa, quem é ela, e por que ela fez isso?"

O mestre disse: "Isso é problema dela, não meu."

Você pode entrar em choque com um iluminado, mas esse é seu problema, não dele. E se você fica ferido nesse choque, isso também é problema seu. Ele não o pode ferir. É como bater contra uma parede - você ficará machucado, mas a parede não o machucou.

O ego sempre está procurando por algum problema. Por quê? Porque se ninguém lhe dá atenção o ego sente fome. Ele vive de atenção.

Assim, mesmo se alguém estiver brigando e com raiva de você, mesmo isso é bom, pois pelo menos você está recebendo atenção. Se alguém o ama, isso está bem. Se alguém não o está amando, então até mesmo a raiva servirá. Pelo menos a atenção chega até você. Mas se ninguém estiver lhe dando qualquer atenção, se ninguém pensa que você é alguém importante, digno de nota, então como você vai alimentar o seu ego?

A atenção dos outros é necessária.

Você atrai a atenção dos outros de milhões de maneiras; veste-se de um certo jeito, tenta parecer bonito, comporta-se bem, torna-se muito educado, transforma-se. Quando você sente o tipo de situação que está ocorrendo, você imediatamente se transforma para que as pessoas lhe dêem atenção. Esta é uma forma profunda de mendicância. Um verdadeiro mendigo é aquele que pede e exige atenção. Um verdadeiro imperador é aquele que vive em sua interioridade; ele tem um centro próprio, não depende de mais ninguém.

Buda sentado sob sua árvore Bodhi... Se o mundo inteiro de repente vier a desaparecer, isso fará alguma diferença para Buda? - nenhuma. Não fará diferença alguma, absolutamente. Se o mundo inteiro desaparecer, não fará diferença alguma porque ele atingiu o centro.

Mas você, se sua esposa foge, se ela pede divórcio, se ela o deixa por outro, você fica totalmente em pedaços - porque ela lhe dava atenção, carinho, amor, estava sempre à sua volta, ajudando-o a sentir-se alguém. Todo o seu império está perdido, você está simplesmente despedaçado. Você começa a pensar em suicídio. Por quê? Por que, se a esposa o deixa, você deveria cometer suicídio? Por que, se o marido a deixa, você deveria cometer suicídio? Porque você não tem um centro próprio. A esposa estava lhe dando o centro; o marido estava lhe dando o centro.

É assim que as pessoas existem. É assim que as pessoas se tornam dependentes umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ela deixa de ser uma escrava. Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que é o falso centro que entrou em choque com alguém.

Você esperava algo e isso não aconteceu. Você esperava algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão.

As causas não estão fora de você.

A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta:

Quem está me tornando infeliz?
Quem está causando minha raiva?
Quem está causando minha angústia?

E se olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, a raiva, a angústia, está oculta dentro de você; é o seu ego.

E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido.

E lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego.

Você não o pode abandonar.

Se você o tentar abandonar, estará apenas conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: "Tornei-me humilde". Não tente ser humilde. Isso é o ego novamente; às escondidas, mas não morto.

Não tente ser humilde.

Ninguém pode tentar ser humilde e ninguém pode criar a humildade através do próprio esforço - não. Quando o ego já não existe, uma humildade vem até você. Ela não é uma criação. É uma sombra do seu verdadeiro centro.

E um homem realmente humilde não é nem humilde nem egoísta. Ele é simplesmente simples. Ele nem ao menos se dá conta de que é humilde.

Se você se dá conta de que é humilde, o ego continua existindo. Olhe para as pessoas humildes... Existem milhões que acreditam ser muito humildes. Eles se curvam com facilidade, mas observe-as - elas são os egoístas mais sutis. Agora a humildade é a sua fonte de alimento. Elas dizem: "Eu sou humilde", e olham para você esperando que você as valorize. Gostariam que você dissesse: "Você é realmente humilde, na verdade, você é o homem mais humilde do mundo; ninguém é tão humilde quanto você." E então observe o sorriso que surge em seus rostos.

O que é o ego? O ego é uma hierarquia que diz: "Ninguém se compara a mim." Ele pode se alimentar da humildade - "Ninguém se compara a mim, sou o homem mais humilde.

Aconteceu certa vez: Um faquir - um mendigo - estava orando em uma mesquita, de madrugada, enquanto ainda estava escuro. Era um dia religioso qualquer para os muçulmanos, e ele estava orando e dizendo: "Eu não sou ninguém, eu sou o mais pobre dos pobres, o maior pecador entre os pecadores."

De repente havia mais uma pessoa orando. Era o imperador daquele país, e ele não havia percebido que havia mais alguém ali orando - estava escuro e o imperador também estava dizendo: "Eu não sou ninguém. Eu não sou nada. Eu sou apenas um vazio, um mendigo à sua porta." Quando ouviu que mais alguém estava dizendo a mesma coisa, o imperador disse: "Pare! Quem está tentando me superar? Quem é você? Como ousa dizer, diante do imperador, que você não é ninguém, quando ele está dizendo que não é ninguém?"

É assim que o ego funciona. Ele é tão sutil! Suas maneiras são tão sutis e astutas; você deve estar muito, muito alerta, somente então você o perceberá. Não tente ser humilde. Apenas tente ver que todo o tormento, toda a angústia vem através dele.

Apenas observe! Não há necessidade de o abandonar. Você não o pode abandonar. Quem o abandonará? Então o abandonador se tornará o ego. Ele sempre volta. Faça o que fizer, fique de fora, olhe, e observe. Qualquer coisa que você faça - modéstia, humildade, simplicidade - nada vai ajudar. Somente uma coisa é possível, e esta é simplesmente observar e ver que o ego é a origem de toda a infelicidade. Não diga isso. Não repita isso. Observe.

Porque se eu disser que ele é a origem de toda a infelicidade e você repetir isso, então será inútil. Você tem que chegar a esse entendimento. Sempre que você estiver infeliz, apenas feche os olhos e não tente encontrar alguma causa externa. Tente perceber de onde está vindo essa miséria. Ela está vindo do seu próprio ego.

Se você continuamente percebe e compreende, e a compreensão de que o ego é a causa chega a se tornar profundamente enraizada, um dia você repentinamente verá que ele desapareceu. Ninguém o abandona - ninguém o pode abandonar. Você simplesmente vê; ele simplesmente desapareceu, porque a própria compreensão de que o ego é a causa de toda a infelicidade, se torna o abandonar. A própria compreensão significa o desaparecimento do ego. E você é tão brilhante em perceber o ego nos outros. Qualquer um pode ver o ego do outro. Mas quando se trata do seu, surge o problema - porque você não conhece o território, você nunca viajou por ele. Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece.

Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece.
Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece.
Quando você sabe que este é o inferno, ele desaparece.

E então você nunca diz: "Eu abandonei o ego." Então você simplesmente ri de toda esta história, dessa piada, pois você era o criador de toda a infelicidade.

Eu estava olhando alguns desenhos de Charlie Brown. Em uma cena ele está brincando com blocos, construindo uma casa com blocos de brinquedo. Ele está sentado no meio dos blocos, levantando as paredes. Chega um momento em que ele está cercado: ele levantou paredes em toda a volta. E ele começa a gritar: "Socorro, socorro!"

Ela fez a coisa toda! Agora ele está cercado, preso. Isso é infantil, mas é justamente o que você fez. Você fez uma casa em toda a sua volta, e agora você está gritando: "Socorro, socorro!" E o tormento se torna um milhão de vezes maior - porque há os que socorrem, estando eles próprios no mesmo barco.

Aconteceu de uma mulher muito atraente ir ao psiquiatra pela primeira vez. O psiquiatra disse: "Aproxime-se, por favor." Quando ela chegou mais perto, ele simplesmente deu um salto, abraçou e beijou a mulher. Ela ficou chocada. Então ele disse: "Agora sente-se. Isso resolve o meu problema, agora, qual é o seu?"

O problema se multiplica, porque há pessoas que querem ajudar, estando no mesmo barco. E elas gostariam de ajudar, porque quando você ajuda alguém, o ego se sente muito bem, porque você é um grande salvador, um grande guru, um mestre; você está ajudando tantas pessoas! Quanto maior a multidão de seus seguidores, melhor você se sente.

Mas você está no mesmo barco - você não pode ajudar. Pelo contrário, você prejudicará.

Pessoas que ainda têm os seus próprios problemas não podem ser de muita ajuda. Somente alguém que não tenha problemas próprios o pode ajudar. Somente então existe a clareza para ver, para ver através de você. Uma mente que não tem problemas próprios pode vê-lo, você se torna transparente. Uma mente que não tem problemas próprios pode ver através de si mesma; por isso ela torna-se capaz de ver através dos outros.

No ocidente existem muitas escolas de psicanálise, muitas escolas, e nenhuma ajuda está chegando às pessoas, mas em vez disso, causam danos. Porque as pessoas que estão ajudando as outras, ou tentando ajudar, ou pretendendo ser de ajuda, encontram-se no mesmo barco.

É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego dos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar. Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente observe.

Não tenha pressa de o abandonar, simplesmente observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Não existe outra maneira. Você não o pode abandonar prematuramente. Ele cai exatamente como uma folha seca.

A árvore não está fazendo nada - apenas uma brisa, uma situação, e a folha seca simplesmente cai. A árvore nem mesmo percebe que a folha seca caiu. Ela não faz qualquer barulho, ela não faz qualquer anúncio - nada. A folha seca simplesmente cai e se despedaça no chão, apenas isso. Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo. Ela pousa no chão e morre por si mesma. Você não fez nada, portanto você não pode afirmar que você a deixou cair. Você vê que ela simplesmente desapareceu, e então o verdadeiro centro surge.

E este centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como o quiser chamar. Ele é inominável, assim todos os nomes são bons. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir.

Osho - "Além das Fronteiras da Mente"


domingo, novembro 29, 2009

Acenda a luz da conscientização na sua vida

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Masaharu Taniguchi


Se você compreender que é filho de Deus, aonde quer que vá, encontrará o Reino de Deus, o Paraíso.
Se você estiver no centro do pólo sul, todos os lados para onde se voltar será o norte.
Do mesmo modo, quando você atingir o mais alto grau da conscientização de que é filho de Deus, seja para que lado você se voltar, estará junto de Deus.
Não haverá necessidade de se preocupar nem com direções, nem com compatibilidade de gênios, nem com numerologia.
Não existirão fases negativas ou desfavoráveis, nem locais ou dias de azar.
Quando a luz da Verdade da Vida se acender na sua vida, não existirão trevas em lugar algum.

sexta-feira, novembro 27, 2009

Cobre de você mesmo!


Dárcio Dezolt


Se você investir tempo e capital para que alguém lhe faça algo, o conserto de um carro, de uma casa, ou outra coisa qualquer, você irá cobrar a execução desses serviços daquele que recebeu a função de executá-lo! Neste estudo da Verdade, você investiu em você mesmo! Cobre-se! Não adianta ficar investindo tempo e capital em diversos livros e autores, se a execução não estiver sendo feita!

Há pessoas que adquirem vários livros de Joel S. Goldsmith. O que está em todos eles? Que o erro é impessoal, que o erro é nada, e que você é Deus aparecendo como ser individual. São dezenas de livros de O Caminho Infinito repetindo estes mesmos pontos! Cobre de VOCÊ a prática deles! Algo do mundo da aparência o incomoda? Então é o momento de você adotar medidas radicais, cobrando de VOCÊ MESMO a prática do que já aprendeu! Impersonalize a ilusão! Nadifique a ilusão! Contemple Deus sendo a totalidade do seu ser individual!

Há outros que adquirem vários livros da Seicho-no-ie. O que está em todos eles? Que Deus é tudo, que o homem é um filho de Deus perfeito, que o mal não existe, que o mundo fenomênico não existe, e que existe unicamente a perfeição da Imagem Verdadeira! “Por mais que o mundo fenomênico pareça existir, não existe”, repete a Seicho-no-ie à exaustão! Cobre de VOCÊ a prática destes princípios! Desafie as aparências à sua frente com a convicção absoluta de que são todas miragens, que não têm realidade alguma, e como diz a Seicho-no-ie, que VOCÊ é a suprema Automanifestação de Deus, uma vez que Deus é Tudo! Cobre-se! Não fique apenas somando leituras com mais leituras! Some o que já aprendeu e aplique tudo já agora em sua vida! A Verdade é verdadeira AGORA! É agora que Deus é TUDO e que matéria é NADA! É agora que unicamente o que Deus é, VOCÊ É! É agora que você deve se cobrar e aceitar que existe unicamente o agora! É agora que a ilusão é nada, que as imagens fenomênicas não existem, e que unicamente a Realidade perfeita, mantida por Deus, é realidade! Cobre-se! Não adie o reconhecimento da Verdade! Isto seria manter-se no reconhecimento da ilusão! Ilusão é nada! Deus é TUDO! Aplique aqui e agora o que VOCÊ JÁ SABE!

Já dizia Tiago: “Sede praticantes da palavra, e não ouvintes apenas, enganando-vos a vós mesmos!”.


quarta-feira, novembro 25, 2009

Meditação no Ser


Ramana Maharshi


"Quem sou eu, que não sou este corpo?
Sou o ser (que é imaterial, imutável e imperecível).
Quem sou eu, que não sou esta mente que pensa?
Sou o ser (que é serenidade e paz).

Quem sou eu, que não sou os cinco sentidos?
Sou o ser (que é silêncio e comunhão).
Quem sou eu, que não sou as emoções?
Sou o ser (que é ponderação e equilíbrio).

Quem sou eu, que não sou sensações?
Sou o ser (que é satisfação).
Quem sou eu, que não sou desejo, necessidade, vontade?
Sou o ser (que é plenitude).

Quem sou eu, que não sou passado, presente e nem futuro?
Sou o ser (que é atemporal, eterno).
Quem sou eu, que não sou ego, personalidade?
Sou o ser (que é tudo).

Quem sou eu, que não sou os papéis que represento?
Sou o ser (que é a verdadeira natureza, a verdadeira identidade).
Quem sou eu, que não sou individualidade?
Sou o ser (que é uno).

Quem sou eu, que não sou orgulho e vaidade?
Sou o ser (que é simplicidade).
Quem sou eu, que não sou insegurança e medo?
Sou o ser (que é luz)."



*Esta técnica tem como objetivo eliminar as falsas idéias sobre o Eu e o ego, e nos ensinar a separar o Espectador do espetáculo, a Consciência que vê e o que está sendo visto.

domingo, novembro 22, 2009

Consciência em contemplação é Substância em ação!


Dárcio Dezolt


Quando Jesus disse: “Aquele que permanecer em mim dará frutos”, estava revelando que toda Verdade que nos passava já era verdadeira para todos nós desde sempre. Os condicionamentos da ilusória mente humana não são poder! Não existe nenhuma Verdade que se tornará verdadeira para alguém em algum tempo futuro! O tempo não existe! A mente dividida, ilusoriamente, em passado, presente e futuro é a mente que não recebemos de Deus. “Temos a mente de Cristo”. Reconheça esta Mente como sendo a sua, e a única em atividade como o seu ser individual. Contemple em VOCÊ MESMO a veracidade de todas as falas de Jesus! Ele não falava como Jesus pessoal! Falava como o Cristo em unidade com o Pai! O Cristo em VOCÊ está em mesmíssima condição! “Eu e o Pai somos um” – eis a Verdade eterna! Aceite-a, e contemple-a!

Marie S. Watts disse o seguinte:

“A Consciência que você é, é a própria Essência e Atividade de toda e qualquer Verdade que você contempla. Consciência realmente é Substância. A Consciência em contemplação é Substância em ação. E a Substância em ação é a própria Evidência da Verdade que você percebe.”

Contemple a frase “Eu e o Pai somos um” dessa maneira, discernindo que a SUA Consciência, contemplando esta UNIDADE, é a própria Substância ATIVA dessa UNIDADE, A EVIDÊNCIA EM SI DESSA VERDADE ABSOLUTA.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Ensinos do Caminho Infinito (fim)

Joel S. Goldsmith



A NATUREZA DA INDIVIDUALIDADE ESPIRITUAL

Ninguém duvida por um instante de que alguma parte de nós foi feita à imagem e semelhança de Deus. Alguma parte de nós deve ser divina; alguma parte de nós deve ser a filha espiritual de Deus que recebe as coisas d'Ele e conhece o Pai face a face. Há alguma parte de nós que pode dizer: "E vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim", "eu tenho presença e força espirituais".

A tarefa de cada um de nós é voltar-se para dentro da questão: Qual é a natureza da minha individualidade espiritual? Qual é a natureza da minha filiação, minha filiação espiritual, minha filiação divina? Qual é a natureza do "mim" que Deus criou à Sua própria imagem e semelhança? Qual é a natureza do filho de Deus, a quem o Pai diz: "Filho, tu estás sempre comigo, e todas as coisas minhas são tuas"? (Lucas 15:31). Deus não o diz isso a mim como ser humano, porque na condição de homem eu não tenho todas as graças, oferendas, saúde e harmonia de Deus.

Mas há uma parte de mim que recebe as graças divinas de eternidade a eternidade. O amor de Deus não muda; as dádivas de Deus são eternas. Assim, sondamos profundamente nosso interior para o mistério da vida, e cada um de nós deveria mergulhar dentro de si e perguntar: "Quem sou? O que sou? Quem sou à imagem e semelhança de Deus? O que sou à imagem e semelhança de Deus? O que sou como filho de Deus? No que me concerne o que está recebendo a graça de Deus de eternidade a eternidade, e que nunca esteve e nunca estará sem ela? Que parte de mim é a individualidade espiritual, que é herdeira de Deus, que vive "não por força nem por violência", mas pelo Espírito de Deus que está em mim? Essa é a natureza de nossa busca e o que ela deve ser.

Na presença da soberania com que Deus nos dotou, não há problemas, pecados, necessidade ou doença a superar. "Nem a morte, nem a vida... poderá nos separar do amor de Deus"(Romanos 8: 38-39). Do ponto de vista de nossa condição humana, estamos todos separados do amor de Deus. Então, o que é esta pessoalidade de Cristo em nós que nunca pode ser separada do amor de Deus, do ser infinito de Deus? Vamos começar a descobrir a natureza da pessoalidade de Cristo e da soberania que Deus nos deu no princípio, que nunca foi tirada de nós e que ainda temos em nossa identidade espiritual.

Qualquer que seja a medida da qualidade messiânica que trazemos à luz, torna-se uma lei de restabelecimento para as pessoas que se voltam para nós. Qualquer que seja a medida de autonomia espiritual que podemos alcançar, resolve e dissolve os problemas dessas pessoas. Qualquer que seja a medida da sabedoria ou graça divina que pode ser revelada em nós, torna-se uma lei de harmonia e paz para elas. Na medida da realização da sua qualidade messiânica, elas, por sua vez, se tornam uma lei de harmonia na família e na comunidade. Finalmente, sua influência propaga-se mais longe no mundo na razão da medida de realização da natureza de sua individualidade espiritual, da natureza de sua autonomia espiritual e da natureza da Luz espiritual que são.

Se pudermos trazer à luz alguma medida de realização de nossa natureza cristã, de nossa individualidade cristã, e alguma medida de realização espiritual com a qual fomos dotados no princípio, teremos uma enorme influência em nossa comunidade e no mundo inteiro.

Somos pioneiros na tarefa de levar a natureza do poder espiritual a incidir sobre os eventos humanos. Como alunos do Caminho Infinito, nossa função principal é apreender a natureza do poder espiritual e então levá-lo para efetiva experiência na terra. Quando inicialmente chegamos a um meio de vida espiritual ou metafísico, nosso principal objetivo foi encontrar soluções para nossos próprios problemas. Não há nada de erado nisso. Era assim que tinha de ser, porque ao encontrar um meio de resolver nossos próprios problemas, aprendemos que recebemos suficiente força espiritual para auxiliar os outros a resolver os seus.


A EVIDÊNCIA DO PODER ESPIRITUAL

Ocorre um fato estranho neste estágio de nosso desenvolvimento. Começamos a ver que já não é necessário estar trabalhando em nossos próprios problemas porque, primeiro, temos tão pouco deles e, segundo, nossos problemas têm um modo de desaparecer sem qualquer reflexão pessoal sobre eles; assim, nossa vida finalmente é gasta em função dos outros. Abandonando nossos próprios problemas e devotando-nos aos outros, já não temos problemas e os poucos que aparecem são rapidamente solucionados. Este é um princípio de vida.

Podemos dar um passo além e descobrir que atrás desse princípio há um ainda maior: nossas necessidades são encontradas na proporção de nossas dádivas. Nossas dádivas espirituais constituem a verdadeira substância e atividade de nossas provisões. Quanto mais damos, mais temos; quanto mais exercemos nossa autonomia, mais autonomia temos. Este princípio espiritual age em cada nível de nossa existência.

Entra nisso um princípio ainda maior: quanto mais consciência da dádiva tivermos, menos evidência há do eu. Logo aprendemos também que a eliminação total de nossos problemas vem com a eliminação de nosso pequeno eu, essa individualidade pessoal. Abandonando isso, alcançamos o estado de consciência de nosso verdadeiro Eu.

Se você me pedisse ajuda, eu estaria pensando em termos de presença espiritual, força espiritual, sabedoria divina e vida divina. À minha consciência, chegaria a verdade de que Deus constitui ser individual: Deus constitui seu espírito, sua vida, sua alma; Deus é a lei para o seu ser. Deus é o legislador. Deus é a atividade para sua experiência. E, porque Deus é infinito, nenhuma outra força pode permanecer como "força". Todas as outras forças se dissolvem na luz da Luz.

Pela verdadeira natureza do filho de Deus, deve haver uma ausência de pecado, morte, necessidade e limitação. O filho de Deus ressucitado é a Luz do mundo. Portanto, se o filho de Deus é concebido aqui e agora, a Luz do mundo é reconhecida aqui e agora. E neste reconhecimento da Luz, os gritos de socorro seriam ouvidos e a liberdade se manifestaria. Mesmo que não tivéssemos dado atenção a nós mesmos em qualquer parte desta oração, meditação ou tratamento, seo Cristo é compreendido, nossos próprios problemas teriam que desaparecer no mesmo instante que os deles, porque incluiríamos ambos naquela Luz. Não poderíamos manifestar a Luz e estarmos nós mesmos separados dela.


A COMPREENSÃO DA PRESENÇA DE DEUS COMO ONIPRESENÇA

Assim como nós reconhecemos a Onipresença, isto é, a presença de toda a sabedoria e conhecimento espiritual, reconhecemos que ela não pode ser confinada em uma sala ou lugar. Nosso Cristo concebido tem um modo de penetrar pelas fendas, entrando pela parede assim como o Mestre. Quando anunciamos a Onipresença, isto é, a sabedoria espiritual infinita, não estamos falando simplesmente sobre a sua ou a minha sabedoria. Estamos falando sobre a Onisciência, toda a Sabedoria, e que teria que ser a sabedoria de todas as pessoas em toda parte de nossa cidade, comunidade, nação e mesmo do mundo.

Quando estamos em oração ou meditação, não estamos sentindo a presença de Deus em nós, mas a Onipresença, toda a Presença, em toda parte igualmente. Desse modo, não podemos perder de vista nossa individualidade pessoal no reconhecimento de nossa Individualidade divina, que é a Individualidade de cada indivíduo. E, assim, podemos trazer a Individualidade divina para perto de nós. Então, em toda parte, há maior evidência de uma Sabedoria divina, um Poder divino, uma Presença divina, mesmo que a maioria das pessoas não saiba por que, como ou para quê.

Há uma razão espiritual para isso, que é importante compreender. Todo mundo na face da terra, sem exceção, está buscando a Deus ou um conhecimento de Deus. Não faz diferença como a pessoa falaria dessa busca, mesmo que ela fosse negativa por afirmar que não existe Deus. Mas isso seria como algumas pessoas que assobiam, quando andam pelo cemitério. Elas assobiam porque estão tentando se convencer de que não há fantasmas. Entretanto, com o assobio, elas estão evidenciando o seu medo ou sua crença neles. Uma razão pela qual os ateístas negam a existência de Deus é que eles acreditam que há um Deus que não querem encarar; sem levar em conta nossos os amigos ateístas por enquanto, se uma pessoa é católica, protestante, judaica, vedantista ou um seguidor de qualquer outra religião, há uma busca, uma ânsia, um impulso interior para conhecer e encontrar Deus. Se não houver nada mais, há a esperança de que Deus possa revelar-Se ou fazer-Se evidente. É esse desejo secreto do coração que torna todo indivíduo receptivo à oração e meditação, onde quer que vá. No íntimo, ele está desejando alguma orientação divina no sentido de saber o que é direito, o que é necessário ou o que há no futuro. Todo mundo deseja ardentemente conhecimento maior do que o seu próprio, sabedoria maior do que sua educação ou experiência têm dado. Enquanto este impulso estiver dentro do indivíduo, ele está orando e, enquanto ele estiver orando, haverá uma resposta à sua súplica.

Nossa oração pela paz é uma súplica de orientação espiritual. Enquanto estivermos conseguindo algo maior do que nós mesmos, receberemos orientação. Mas enquanto estamos recebendo orientação, nossos próprios problemas terão desaparecido porque a natureza deles foi, antes de tudo, uma ilusão. E nossa habilidade para ignorá-los e voltar para a realidade espiritual deu a essa inexistência uma oportunidade para dissolver-se no nada que é. É só enquanto estamos tratando de problemas que os perpetuamos. É este o motivo pelo qual em nosso trabalho nos desviamos do problema, para a realização do estado de consciência espiritual, isto é, a realização interior da identidade, da lei e da vida espirituais. Então, quando abrimos os olhos, o problema foi embora ou está de saída.

Neste estágio de nosso desenvolvimento espiritual, enquanto ainda queremos ver nossos pecados individuais, doenças e necessidades desaparecerem, sabemos, pelo menos, que eles desapareceção apenas na proporção em que pudermos afastar nossa atenção dles e começarmos a compreender a Onipresença da Graça infinita. Não há uma Graça divina que trabalha para você e para mim. A Graça divina é infinita em sua natureza e age em favor dos filhos de Deus, universalmente. Quando uma pessoa pergunta por que esta Graça sonega alguma coisa dela, é porque não está afinada com ela e não compreende a natureza universal da Graça.



quarta-feira, novembro 18, 2009

Ensinos do Caminho Infinito - 04


Joel S. Goldsmith



A LIBERTAÇÃO DO PODER ESPIRITUAL

No caminho Infinito, deixamos para trás a crença teológica em um Poder divino que faz as coisas por engano ou por mal, um Poder divino que combate o mal, o pecado ou a enfermidade, e aceitamos como verdade o princípio místico de que o Espírito é onisciente, onipotente e onipresente, além do qual não há mais nada. O que temos que demonstrar, portanto, é que na presença da força espiritual não há os poderes do pecado, enfermidade, necessidade, acidente, infelicidade ou qualquer outro tipo de miséria humana. Estas coisas negativas podem existir apenas na ausência da força espiritual.

As trevas só podem existir na ausência da luz. A força espiritual é frequentemente descrita como Luz: a Luz do mundo, a Luz que ilumina o caminho, a Luz que ilumina nossos passos. Em toda literatura mística de qualquer parte, a Luz tem sido o símbolo da presença e da força espiritual. Esta força nunca combate as trevas. A Luz, que é o Cristo, nunca luta contra qualquer forma de discórdia.

Jesus nunca lutou contra o pecado , perdoou-o. Ele nunca combateu a doença, debateu com ela ou contra ela. Disse: "Levanta-te, e toma teu leito, e anda". Só há um registro, na Bíblia, de sua resistência ao mal e que é quando ele expulsou os "cambistas" do templo. Minha crença pessoal é que foi essa a sua maneira de dizer a seus discípulos que nós temos que expulsar de nossa consciência todas as qualidades negativas e destrutivas. A consciência é o templo. As crenças negativas, superticiosas, más, sensuais ou luxuriosas são os cambistas. Elas representam o sentido materialista que devemos banir de nossa consciência.

Afora o encontro de Jesus com os cambistas, o Mestre ensinou: "Não resistais ao mal". "Mete no seu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão". A Luz do mundo não debate com as trevas, não luta ou tenta de qualquer modo afastar as trevas.

A Luz, sendo a Luz, não pode ser extinta por qualquer tipo de trevas.

"Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade". Não diz: onde há o Espírito do Senhor, "há uma batalha", ou onde o Espírito do Senhor está, "há uma luta contra o pecado". Pelo contrário, onde o Espírito do Senhor está, há paz, há liberdade. "Na tua presença há abundância de alegrias"(Salmos 16:11). Certamente, isso não indica batalhar ou lutar ou qualquer sentido de conquista. Antes, indica que onde Deus é compreendido há paz, porque nada há a combater. A Luz não combate as trevas e na presença dela não há trevas, pecado, enfermidade, morte, necessidade, limitação, relacionamentos humanos infelizes. Se nós aceitamos isso como um princípio, demonstraremos força espiritual, a presença de Deus, e isso é tudo. Mas a elaboração deste princípio, em nossa experiência diária, é um assunto individual. Não há fórmulas, não há possibilidade de formular um meio específico de demonstrar isso.

O Mestre deu-nos o princípio da não-resistência, mas não nos mostrou como é feito. Depois que tivermos o princípio, cabe-nos ver como criá-lo na experiência diária e provar que na presença dessa força espiritual concebida, o poder temporal, quer de natureza material, mental, moral ou financeira, não é uma força. De fato, nem mesmo existe na presença dessa Luz espiritual que somos.


A DESCOBERTA DA NATUREZA DO PODER ESPIRITUAL

Quando nos lembramos de que o princípio do poder espiritual foi dado ao mundo há quase vinte séculos, não podemos ser tão orgulhosos daquilo que foi realizado espiritualmente neste século. Na verdade, muito mais foi demonstrado durante os últimos setenta e cinco anos, do que nos mil e novecentos anos anteriores, e nos dá esperança e coragem de prosseguir e compreender que, mesmo não tendo alcançado plenamente, pelo menos estamos no caminho que leva à realização da natureza do poder espiritual.

Quando individualmente chegarmos a compreender isso, cada um de nós estará fazendo uma avaliação do trabalho de cura de nós mesmos e dos outros. Estaremos levando uma norma de paz, saúde e felicidade para a vida de outros, mas somente na medida que individualmente resolvermos o mistério do poder espiritual. Se um indivíduo compreende a natureza do poder espiritual, pode levar um pouco de harmonia a milhares de outros, mas será apenas um pouco de harmonia. Ninguém pode levar harmonia completa a outro. Isso é algo que cada um de nós deve fazer ao expulsar os cambistas de nossa própria consciência.

Todos nós temos cambistas em nossa consciência, no sentido em que todos nós temos alguma crença arraigada em duas forças: na enfermidade física e na saúde física, na enfermidade moral e na saúde moral, ou na enfermidade financeira e saúde financeira. Esses são os cambistas que expulsamos, não combatendo, "não por força nem por violência", mas pela compreensão. Essa compreensão vem ao nos perguntarmos como podemos levar poder espiritual à nossa experiência, à experiência do mundo, à nossa família, à nossa comunidade, aos nossos negócios ou atividade profissional e ao nosso governo.

A verdadeira pergunta que temos de fazer a nós mesmos é qual a intensidade de nosso desejo de conhecer Deus, de conhecer a força e a presença espirituais. Qual a medida de nossa fome e sede de realização espiritual? Poderíamos formulá-la deste modo: "Que importância tem nosso problema?". Para aqueles que ainda têm um bom comportamento físico e financeiro, a questão de conhecer a Deus pode provavelmente esperar até o próximo ano, o ano seguinte, daqui a cinco anos ou até que comecem a envelhecer. Mas, para aqueles que têm problemas de natureza suficientemente profunda ou séria, agora é a vez de buscar uma compreensão da natureza da força e da presença espiritual.

Quando compreendemos a natureza do Espírito, nós não temos que saber o que fazer com Ele. Não temos, absolutamente nada a fazer com Ele. Ele realiza Seu próprio trabalho. Uma vez que alcançamos a presença de Deus, essa Presença estabelece harmonia. Uma vez que atingimos a compreensão da natureza da força espiritual, somos a Luz e não há trevas a dissipar.

Mas como manifestamos ou expressamos a Luz espiritual e compreendemos a força espiritual? Qual a natureza da Luz espiritual? Qual é a natureza da sabedoria espiritual? Alcançando essa sabedoria, nada mais temos a fazer. Não temos que empregar a sabedoria espiritual quando a possuímos. "Na tua presença, há abundância de alegrias", abundância de Luz e, nessa Luz, não há trevas. Nunca precisamos nos preocupar com a cura das doenças ou como vencer o pecado ou a necessidade. Temos apenas uma preocupação: conhecer a Deus, conhecer a natureza da presença e da força espirituais, transformar esta Luz do mundo em manifestação. Além disso, nada temos a fazer a respeito do pecado, enfermidade, necessidade ou limitação, porque na consciência da força espiritual esses problemas não existem.


ELEVANDO-SE ACIMA NO NÍVEL DO PROBLEMA

Recentemente recebi uma carta contando-me sobre uma parte dos bens imóveis que o proprietário queria vender, explicando-me como esta venda faria feliz e beneficiaria alguém. Imediatamente ocorreu-me que no reino de Deus não há bens imóveis. Não podemos levar um problema de bens imóveis a Deus, porque não há bens imóveis ou problemas de bens imóveis em Deus. Um bem imóvel não pode ser vendido pensando-se nele. Não podemos encontrar o problema no nível do problema. Devemos reconhecer que, se Deus não sabe nada sobre bem imóvel, isso não é da nossa conta. Tudo o que somos obrigados a fazer é conhecer a Deus, trazer à luz a força espiritual em nossa consciência.

Quando as pessoas me escrevem sobre emprego, conscientizo-me de que no reino de Deus não há emprego; não há patrão e não há empregado. Às vezes, de um ponto de vista metafísico, diz-se que Deus é tanto patrão como empregado; mas, em Deus, só há Espírito. O que estão fazendo é tentar remendar nosso conceito de paraíso, e no paraíso não há patrão nem empregados.

"O Meu reino não é deste mundo"(João 18:36). "Meu reino" não inclui bens imóveis ou emprego. "Meu reino" contém a graça de Deus. Então, o que é "Meu reino" que não é deste mundo? Eis uma pergunta a ser respondida no âmago da consciência. Tudo o que sabemos sobre o reino de Deus é que o Novo Testamento diz que ele não é deste mundo. Tudo o que sabemos sobre a paz espiritual é que este mundo não pode oferecê-la. Se pensamos que vamos resolver nosso problema e encontrar paz vendendo os bens imóveis ou conseguindo emprego, tudo o que estamos fazendo é nos perpetuar no sentido humano da vida, ao passo que, se pudermos descobrir dentro de nós mesmos a natureza do poder espiritual, descobriremos o grande segredo da vida.

Sempre houve diferentes formas e diferentes graus de força material no mundo, desde o arco e flecha até a bomba atômica. No século passado, também se levantou a questão da força mental e de como fazer uso dela: como praticá-la para ganhar amigos, influenciar e controlar outras pessoas. Mas em relação à força espiritual, estamos lidando com uma força desconhecida do espírito humano, porque este último não pode compreender ou receber a sabedoria espiritual. O sujeito do poder espiritual é uma quantidade desconhecida para a mente humana. É importante compreender que, em tratando-se da presença espiritual, devemos relaxar na experiência de que "não sou eu quem percebe a Verdade". "O homem natural, o espírito carnal, não está sujeito à lei de Deus, nem, em verdade, pode estar"(I Coríntios, 2:14).

A mente humana não pode conhecer a lei de Deus. Como, então, eu e você havemos de conhecê-la? Primeiro temos que parar de pensar em termos de bens imóveis, empregos, febres ou germes, necessidade ou abundância, enfermidade ou saúde, pureza ou pecado e todas as coisas que dizem respeito a "este mundo" e ao ser humano. Temos que nos voltar para o nosso interior: Qual é a natureza da minha identidade com Cristo? Qual é a natureza do meu Eu criado à imagem e à semelhança do Deus?
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domingo, novembro 15, 2009

Ensinos do Caminho Infinito - 03

Joel S. Goldsmith


VIVER DENTRO DO PRINCÍPIO DO EU ÚNICO

Na Primeira Guerra Mundial, servi como voluntário na marinha dos Estados Unidos e, embora, naquele tempo eu fosse um jovem estudante de Metafísica, aprendi que é possível me proteger dos poderes deste mundo refugiando-me em/no Cristo, onde nenhum poder do mal pode se aproximar. Orei desse modo durante semanas, até que um dia fiquei impressionado; fui tomado com a idéia de que Deus devia ser horrível se, ao dizer "abracadabra", eu pudesse ser protegido, ao passo que todas as pessoas que não conhecessem a palavra mágica seriam mortas ao saírem. Lá estaria eu com a minha arma, matando a torto e a direito sem ser tocado. Mas, os pobres companheiros que não conhecessem essa fórmula mágica, poderiam morrer. Eu não podia acreditar que existisse tal Deus e percebi que havia algo errado com essa forma de oração. Por não conhecer outra, decidi não orar novamente até que tivesse aprendido a fazê-lo corretamente.

Os dias passaram, e recusei me ocupar com qualquer oração protetora desse tipo, até que um dia, aparentemente por acaso, derrubei minha Bíblia no chão. Ela caiu aberta nesta passagem: "Eu não rogo somente por estes" (João 17:20). Senti o coração e os ombros aliviados de um peso que os oprimia, e disse: "Obrigado, Pai. Nunca rezarei novamente para mim ou para os meus somente. Agora, porém, minha prece é que a graça de Deus envolva a humanidade, que a graça de Deus toque toda alma viva para a vida espiritual".

Quanto a mim, aconteceu um milagre. Fui transferido de um local para outro, de uma obrigação para outra, mas nunca mais, durante a guerra, fui sequer mandado para perto de qualquer sítio, de onde pudesse atingir alguém ou mesmo ser atingido. Vi então que não só havia proteção para mim, como também havia proteção a partir de mim. Desde então, aprendi uma grande lição que narrei no capítulo "Ame teu Próximo", no livro Exercitando a Presença. O princípio é que há somente um Eu, e que é o Próprio-Deus.

A vida de Deus é a minha e a sua vida; a alma de Deus é a minha e a sua alma. o Espírito de Deus é o meu e o seu espírito; a verdadeira individualidade de Deus é a minha e a sua individualidade; e isso significa que nós somos unos em filiação espiritual. Qualquer coisa que me beneficie deve beneficiar você; qualquer coisa que me prejudique, deve prejudicar você, pois nós somos um só. Tudo o que for uma bênção para mim, deve ser para você; e tudo o que é graça divina para você, deve ser também para mim, pois nós somos um só.

Se eu fizer algo danoso para você, estarei fazendo a mim mesmo, pois só existe um. Se eu fizer algo de natureza oculta, não estou ocultando de você; estou ocultando de mim. Se eu fizer algo destrutivo, não estou prejudicando você; estou prejudicando a mim mesmo, pois nós somos um só. Frequentemente queremos saber porque estamos pagando as penas da enfermidade, do pecado ou da pobreza, sem compreender o que fizemos à humanidade.

Para o mundo, há um, apenas um único meio de ação: é através de obras. O mundo realiza seu bem e seu mal pelas obras, mas essa não é a sua ou a minha verdade. Mesmo se nos abstivéssemos das más ações, ainda assim não seria suficiente. Paulo disse que: "ainda que distribuiísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria" (I Coríntios 13:3). E o Mestre disse-nos que, se não cometêssemos nenhum desses pecados, mas permitíssemos que eles ocupassem o nosso pensamento, ainda assim, seríamos pecadores: "Eu, porém, vos digo que qualquer um que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela" (Mateus 5:28).

Assim é que as boas obras não são suficientes para nós. Abster-se das más obras não é o bastante. Devemos avançar um passo além e não prestar falso testemunho contra o próximo. Silenciosa e secretamente, devemos compreender que Deus é a vida de todo o indivíduo, quer o saiba disto ou não, quer viva ou não para Ele.

No exato momento em que começarmos a conhecer a verdade de que Deus é a vida de todo mundo, que a graça divina é suficiente para todas as pessoas em todo lugar, quando começarmos a orar por aqueles que estão arruinando este mundo -- oremos para que a graça de Deus abra a alma e a consciência deles para a verdade do ser, oremos para que o mundo seja um instrumento pelo qual Deus possa agir livremente, oremos para que a luz de Deus toque a consciência obscurecida deles -- então e somente então começaremos a "morrer a cada dia" para os meios humanos de vida e renasceremos como filhos de Deus que já não têm de dirigir o pensamento para a vida, mas que agora vivem pela Graça.


ABANDONANDO A ORAÇÃO QUE PEDE A UM DEUS ESPIRITUAL PARA QUE TRANSFORME UM UNIVERSO MATERIAL

Deus é Espírito. E se Deus é o princípio criativo do universo, então este universo é uma criação espiritual e não física ou corpórea. Se isso é verdade, é tolice orar ao espírito de Deus para que faça algo por um universo físico que não tem qualquer existência real.

Estamos sonhando quando oramos a um Deus espíritual para que mude alguma espécie de matéria ou estrutura física. Deus não estará naquele cenário. A oração correta seria: "Desperta tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te aluminará" (Efésios 5:14). Então, tudo o que é necessário para nos despertar do sonho de um universo físico ou mecânico nos despertará, e começaremos a tomar consciência da herança a nós legada como filhos de Deus, fruto do Espírito eterno e imortal.

Necessitamos de mais pessoas a quem possamos recorrer, as quais não tentarão diminuir uma febre, remover um tumor, sanar a paralisia ou deter a insanidade. Pelo contrário, elas compreenderam que Deus é Espírito, que o fruto de Deus é espiritual e que naquilo que foi criado "nada que o contamine, abomine ou seja mentira penetrará" (Apocalipse 21:27).

Os alunos de O Caminho Infinito, não tratam o corpo do ponto de vista orgânico. Este é um universo espiritual, e somente Deus é poder. Seria ateísmo temer qualque forma de matéria. É aceito que nem tudo é espiritual. Tentar mudar o universo material ou tentar interferir humanamente naquilo que vem ao mundo não nos levará a parte alguma. Não haverá paz permanente ao combater os males do mundo com as armas do mundo. O meio não é "nem por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito"(Zacarias 4:6), "neste encontro não tereis de pelejar; tomai posição, ficai parado e vede o salvamento que o Senhor vos dará" (II Crônicas 20:17). Nem as armas mentais nem as armas físicas deste mundo constituem poderes. Se fossem ou se não houvesse ninguém para provar que elas não são, o mundo estaria perdido.

Mas de quem é a responsabilidade? Ela não é daqueles que conhecem a verdade e estão despertos para mostrar que os males do mundo não constituem poder? Mas estes males não podem ser detidos, exceto pela compreensão de que aquilo que se declara como grande poder é puro nada e sem poder algum. Nós não podemos esperar para fazer isso, a não ser que estejamos dispostos a nos anularmos no tempo e ficarmos sentados a observar os nossos pecados e as enfermidades -- olhar bem e reconhecer que:

"Você não é força: você é o espírito carnal ou o nada; você é o "braço de carne" ou o nada. Você não poderia ter força a menos que ela viesse de Deus, pois não há força, mas Deus. Deus é a vida de todo ser, a imortalidade e a eternidade. Deus é a única lei, o único legislador. Não há lei da matéria; não há lei da enfermidade. Força material não é força: é uma declaração de força. Deus, Espírito, é força; e o Espírito é infinito, toda a força."

A menos que sejamos específicos em nosso conhecimento da verdade, específicos em nossa compreensão de que somos seres em confronto com as sugestões de forças mentais e físicas, que não são forças, elas continuarão a ser forças até que tenhamos a compreensão de suas impôtências.

Na maior parte de nosso trabalho, as curas vêm rápidas e alegremente. O princípio envolvido é a compreensão de que 'acreditar que a força material é força, nada é senão ateísmo'. Deus é Espírito e força espiritual é a única força verdadeira. Qualquer outra declaração de força pode ser invertida ou anulada. Testemunhamos isso na cura de cada tipo de problema. As formas de matéria, as formas de corpo físico se transformam onde é necessário e, onde é necessário, novas partes do corpo crescem porque o Espírito é a substância fundamental e a realidade de todo efeito.

Na presença da realização espiritual, a materialidade não é força. Se ela aparece como infecção ou contágio, se aparece como hipnotismo ou o produto do hipnotismo, é o espírito carnal ou o "braço de carne". Portanto, não é nada, pois o Espírito é tudo e o real e o eterno. O Espírito é a lei.

Por causa da ação do Caminho Infinito pelo mundo todo e sobretudo por causa do próprio mundo em seu estado presente, é importante que todo aluno do Caminho Infinito sente-se e comece a fazer alguma ação saudável para provar que o pecado, a enfermidade e a morte não são realidades da vida. Provar que as leis mentais e físicas não são força, tornará possível um trabalho maior de anulação de todas as formas de hipnotismo, que parecem emanar dos indivíduos em altas posições e manter as pessoas na servidão. Devemos anular toda declaração de força mental ou física onde quer que a encontremos. Devemos aceitá-la como um compromisso de que, aonde quer que nossa atenção for atraída, por força física ou mental, nos sentaremos calma e pacificamente e compreenderemos que "nem por força, nem por violência, mas pelo Espírito de Deus", tudo isso se tornará nulo e vazio.

Em qualquer lugar que possamos estar, esse será solo sagrado, o lugar que Deus nos concede para nosso culto. Nosso culto consiste na concepção do Espírito invisível como a lei e a causa de tudo o que existe. Através dessa concepção, sem usarmos de poder mental ou de força física, toda declaração de natureza ateística pode ser descoberta e destruída. Ela é destruída, não pela luta, não pelo conflito, não por pedir a Deus para fazer alguma coisa, mas pela concepção calma, pacífica, suave: "Obrigado, Pai, este é o Seu universo espiritual, completo e total".

Algo mais que possa ser necessário conhecermos será dado de dentro de nós mesmos. Uma vez que alcancemos ou consigamos estar calmos e quietos, teremos apenas que começar o fluxo com alguma dessas verdades que conhecemos. Mas a força real e o tratamento verdadeiro virão de dentro de nós para nós mesmos. O que nos é comunicado de dentro é o Verbo vivo, nítido e poderoso.

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quinta-feira, novembro 12, 2009

Ensinos do Caminho Infinito - 02

Joel S. Goldsmith


O TRATAMENTO É SEMPRE NO PLANO DE DEUS

Nesse ensinamento permanecemos no princípio da Vida única, do Espírito único, permeando tudo. A aparência chamada "morte" não é morte, e a aparência chamada "nascimento" jamais poderia ser o começo da Vida. A vida não tem começo nem fim. Esta Vida, que é Deus, é Autogerada e Auto-sustentada e não tem antagonismo nem oposição. Não há poder à parte da Vida única, que é a sua vida e a minha vida, e essa Vida é eterna.

No momento em que tocamos o Centro, a essência divina do Ser dentro do nosso próprio ser, constatamos não só Deus, mas a vida do homem individual, a vida daquele que se chama, no momento, um paciente. O tratamento, então, está na capacidade de contatar essa Vida única, a nossa própria Alma -- essa Essência única, esse Ser único que está dentro do nosso ser -- e, por isso, em nossa forma de tratamento não é necessário enviar qualquer pensamento a uma pessoa. Pelo contrário, isso só serve para impedir ou atrasar a cura e, em alguns casos, torná-la impossível.

O tratamento correto a partir do ponto de vista do Espírito, ou Alma, é penetrar o interior, tocar o Centro do próprio ser de uma pessoa. Jamais leve lá o nome do paciente; jamais faça qualquer alegação, seja esta desemprego, insanidade ou doença: não diga nada que não seja Deus, e Deus já se encontra lá. Encontre Deus! E quando esse sentimento de liberação chega, você em breve obtém do próprio paciente a palavra de que ele está curado.

Esta é a minha palavra para você, após anos e anos e prática: não leve o nome, ou a identidade, ou o quadro, ou o pensamento do seu paciente para o seu tratamento. Deixe-os completamente de fora. Você nada tem a ver com eles. Para começar, eles são ilusórios, e se você os levar em consideração, obviamente não estará acreditando que são ilusões, mas pensando que são alguma coisa e que você tem de fazer algo a seu respeito. Às vezes, talvez possa ser verdade que, porque você tem um paciente, acredite por um momento que há uma presença e um poder à parte de Deus. Por isso, você penetra no interior para a iluminação, para a luz que dissipará a ilusão.

Quando você se voltar para o interior, deixe o problema de fora! O problema não deve preocupá-lo, seja ele mental, físico, moral ou financeiro. Ele nada tem a ver com você porque você não atende a um problema no nível do problema. O problema aparece como carência, limitação, desemprego, desamparo, pecado, doença ou morte, mas no momento em que você começa a fazer alguma coisa nesse nível, você é incapaz de atendê-lo. Onde quer que o problema esteja, está a resposta; e se o problema está em seu pensamento, a resposta também está lá. Eles nunca estão separados um do outro. Eles sempre são uma só coisa. Não há problema aqui e uma resposta em algum outro lugar.

Por isso, quando lhe é apresentado um problema, deixe-o e volte-se para dentro de si até conseguir aquele centro de consciência em que você sente o alívio e, então, o problema todo desaparece. Se você trabalha no problema, se você trabalha para realizar alguma coisa, nesse momento você derrotou o seu propósito.

Então, como é que você encontra o centro do seu ser? Antes de mais nada, afaste-se do problema. Esqueça-o. Feche os olhos e leve alguma citação para o seu pensamento, preferivelmente uma bem curta como "Eu e o Pai somos um" -- ou "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus". Enquanto você se apóia nessa citação e os seus pensamentos começam a vagar, poderando sobre o que tem para o almoço ou o que fazer amanhã, não lhes dê atenção; deixe-os vir e deixe-os ir.

Mantenha a sua atenção em: "Eu e o Pai somos um" -- ou em qualquer outra citação curta apropriada da Escritura ou da sabedoria espiritual. Quando você perder o fio, suavemente volte a ele e reconheça que, ainda que sua mente tenha vagado, "Eu e o Pai somos um". Traga sua atenção de volta outra e outra vez e, tantas vezes quantas você perder esse fio, traga-o suavemente de volta. Não há por que ter pressa. Apenas volte-se suavemente para "Eu e o Pai somos um".

Depois que você tiver isso por alguns minutos, se sentirá mais apaziguado. Então, se for possível, nesse momento de quietude, lembre-se de que está escutando "aquela pequena voz silenciosa". Mantenha seus ouvidos abertos como se lá fora houvesse uma mensagem esperando para entrar. E há!

Você agora está desenvolvendo um estado de receptividade para "aquela pequena voz silenciosa". Assim, enquanto você mantém a sua mente em "Eu e o Pai somos um..., Eu e o Pai somos um", o tempo todo o ouvido está ouvindo e um sentimento de paz está se estabelecendo em você.

O tratamento do Caminho Infinito diz respeito somente ao seu relacionamento com Deus, e quando você se torna um com Deus, você sente o alívio. Quando esse alívio e essa sensação de paz chegam, o problema foi resolvido, seja o seu, seja o de outra pessoa. O seu paciente sentirá o alívio, porque foi levado para a sua consciência e, desde que Deus é a consciência do praticista, Deus também é a consciência do paciente. Não há transferência de pensamento do praticista para o paciente -- não há necessidade disso.

Jamais seja culpado de uma tentativa de dar um tratamento a um paciente. Não cometa o engano de pensar que um paciente vai a um prático que vai a Deus, e que Deus, então, por sua vez, vai ao paciente a fim de produzir o alívio; ou o que o paciente vai ao prático e que este envia alguma coisa ao paciente. Nada disso acontece.

Deus e o praticista e o paciente são realmente uma coisa só. Não há três e não há dois: há somente um. Quanto mais claramente você recohece que EU SOU é Deus, e que EU SOU é a vida, a Alma e o Espírito de cada indivíduo, logo compreenderá que não está lidando com pessoas, mas com Deus, infinita e individualmente expresso como pessoas -- mas ainda Deus, somente Deus.


DEUS COMO PRINCÍPIO CAUSATIVO

Deus é tudo. Deus constitui o ser e o corpo individuais. Mas surge a questão: "O que é Deus?". Um dos nossos maiores problemas é encontrar uma resposta satisfatória para essa pergunta. Existem, talvez, diversas centenas de sinônimos para a palavra Deus, e se pudéssemos citar todas elas ainda não teríamos encontrado a resposta para a pergunta. Mesmo assim continuamos a levantar a questão de tempo imemoriais: "O que é Deus?" -- Talvez isso aconteça porque há um reconhecimento íntimo, do qual talvez nem estejamos conscientes, de que, quando encontramos Deus, encontramos a nós mesmos, e de que, quando encontramos a nós mesmos, encontramos Deus.

Com certeza, todos podemos concordar que Deus é o princípio causativo do Universo. Não podemos dizer, no entanto, que Deus criou o Universo porque isso significaria que, em um dado momento, havia Deus e não havia um universo e que então, subitamente, havia Deus e um universo. Deus não é um criador mais do que o é o princípio da matemática. O princípio da matemática não criou duas vezes dois, quatro; não criou o quatro e o ligou a duas vezes dois. Duas vezes dois inclui quatro, e logo que duas vezes dois passou a existir o quatro já estava lá. O princípio da matemática não o colocou lá; Deus não o colocou lá -- Ele não podia. O quatro estava lá. Nunca tinha sido separado de duas vezes dois.

Mas quando pensamos em Deus como um Princípio criativo -- infinito, eterno, onipresente, sem começo e sem fim -- então podemos ver que uma causa tem de ser uma causa de alguma coisa e que a esta 'alguma coisa' chamamos de efeito. Causa e efeito são um, co-existentes, co-eternos e da mesma substância. Então chegamos à verdade de que Deus, como Princípio criativo, é a causa de Seu ser manifesto que aparece como efeito, causa e efeito vinculados, como duas vezes dois é quatro, inseparáveis um do outro, mas sempre num mesmo lugar.

Pense sobre a questão: O que é Deus? Somente na compreensão do que é Deus é que podemos saber aquilo para o que Deus é Deus. Tudo o que sabemos, sabemo-lo porque somos um estado de consciência. Anule-se a atividade da consciência e não teríamos percepção nem conhecimento. Não saberíamos que existimos.

Foi Descartes que disse: "Penso, logo existo". Do mesmo modo, apenas porque sou consciente, porque sou a consciência em si, é que sei que existo e que há um universo existente. Se pudermos de algum modo nos entender e entender Deus como Consciência, poderemos entender este universo, incluindo o nosso corpo, como uma formação da Consciência -- incorpórea, espiritual, eterna, co-existente, Autogerida e Auto-sustentada; de fato, Autogerida e Auto-sustentada da mesma maneira pela qual duas vezes dois é quatro se mantém pela eternidade.

Quando podemos ver que a Consciência é realidade de nosso ser, que Ela é o princípio causativo, então podemos ver formas dessa Consciência, ou Ela se torna evidente para nós como uma variedade infinita de formas e, portanto, tão eterna como nós. À medida que compreendemos que nossa consciência é o princípio causativo de nosso universo, então saberemos que, não importa o que façamos, a Consciência universal está sempre produzindo e reproduzindo.

Não importa o que façamos com o mundo dos efeitos, a Consciência, que é o seu princípio causativo, substância e lei, está sempre produdindo e reproduzindo. Ela não está criando. Está apenas se desenrolando, como um rolo de filme cinematográfico, desenrolando todo o quadro. O quadro já está lá no rolo todo e está apenas se desenrolando diante de nossa vista.

A Consciência está sempre Se desenrolando e Se revelando para nós sob forma infinita, de maneira infinita e em variedade infinita. Nunca deveria haver lamentos sobre nossas vidas passadas, sobre o que perdemos no passado. O passado nada tem a ver com o presente. Não dependemos do maná de ontem; não dependemos de coisa alguma ou de alguém. Não faz diferença o que aconteceu ou o que acontece com a nossa sorte ou com os nosso bens. É hoje que a nossa consciência está nos revelando sua nova criação, revelando a cada dia suas novas formações. Hoje a nossa consciência está se desenrolando e se revelando de novas maneiras, de novas formas -- sempre crescendo abundantemente.

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terça-feira, novembro 10, 2009

Ensinos do Caminho Infinito - 01


Joel S. Goldsmith



O ENSINAMENTO DE JESUS

O Caminho Infinito fundamenta-se no ensinamento de Jesus, que é minha autoridade e, mesmo sendo verdade que grande parte desse ensinamento possa ser encontrada em algumas da Escrituras orientais que remontam a três ou quatro mil anos da era cristã, em nenhum momento ele foi tão claramente afirmado ou tão claramente demonstrado como o foi por Jesus. Portanto, embora eu goste de ler as antigas Escrituras, não há outra abordagem senão a de Jesus, que é tão definitiva, completa ou fácil para a aceitação dos discípulos do mundo ocidental, porque o ensinamento de Jesus é realmente parte de nossa consciência ocidental. A autoridade para praticamente tudo que O Caminho Infinito ensina é encontrada no novo testamento, particularmente no Evangelho de João e nos escritos de Paulo.

Os três ensinamentos absolutos mais conhecidos no mundo são os de Buda, os de Shankara e os de Jesus. O ensinamento real de Buda quase se perdeu completamente na religião que agora se chama Budismo. Na verdade, seria tão difícil encontrar o ensinamento original de Buda na maior parte do Budismo de hoje como o seria encontrar o ensinamento de Jesus em algumas igrejas cristãs. Em muitas igrejas há uma negação real e aberta do ensinamento do Cristo. Pense por um momento em quantas igrejas é encontrada a prática de orar pelo inimigo? Em que igreja, durante a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial, houve orações pelo inimigo? Que igreja ensinou os soldados a rezarem diariamente pelos que os perseguiam? Quem ensinou os membros das congregações que os que vivem pela espada devem morrer pela espada? Quem revelou o significado espiritual da recusa de Jesus em permitir que Pedro o vingasse cortando a orelha? Quem ensinou o mandamento: "não matarás"?

Lembre-se, portanto, que, ao discutir o ensinamento de Jesus, não é o ensinamento de Jesus como é apresentado por meio de qualquer igreja que está sendo discutido, mas o ensinamento com base no Novo Testamento, sem a opinião ou interpretação de pessoa alguma, apenas o ensinamento de Jesus conforme se acha literalmente estabelecido por seus seguidores. Somente através do desenvolvimento da consicência espiritual, exemplificada por Jesus, é que todas as nações serão finalmente capacitadas a pôr de lado suas espadas e a transformá-las em relhas de arado.

Você talvez questione se alguém pode ou não cumprir um ensinamento tão exigente quanto este, mas isso é possível -- individual e coletivamente. Você pode começar agora a seguir o ensinamento do Mestre perdoando seu inimigo e orando pelos que o perseguem; e se você, como indivíduo, pode fazer isso, o mundo também pode fazê-lo.

Uma das maiores leis da Bíblia é a lei do perdão, de orar pelos seus inimigos. Mas o perdão não significa olhar um ser humano, lembrar a terrível ofensa que ele cometeu contra você e perdoá-lo por isso. Não há virtude nisso. O verdadeiro perdão é a capacidade de ver, através de sua aparência humana, a Divindade de seu ser, e compreender que na Divindade do seu ser nunca houve, como agora não há, erro de qualquer natureza. É como se essa pessoa lhe pedisse ajuda e, ajudando-a, você a visse como ela realmente é, como um ser espiritual puro. Isso é perdoar.

A cada dia somos chamados a olhar todos aqueles contra os quais temos qualquer sentimento negativo como seres espirituais e praticar esse ato de perdão. Isso significa voltarmo-nos para o Cristo de nosso próprio ser e saber que lá não existe outra coisa além do amor. Nunca houve um ser mortal, e tudo o que se parece com um mortal não é senão o próprio Cristo visto erroneamente.

Assim como perdoar, orar por nossos inimigos é uma das grandes leis da vida e da Bíblia. Isto não quer dizer que estamos desamparados perante o inimigo: isso realmente significa que somos capazes de compreender Deus como a vida e a mente do homem individual e saber que não existe outra mente além dela. As aparências nada têm a ver com isso. Não estamos lidando com as aparências. Estamos lidando com a realidade do ser.


UNIDADE: O TOM FUNDAMENTAL

O ensinamento mostra que você precisa contatar Deus individualmente. Deus precisa tornar-se real e vivo para você em sua vivência, e o propósito desse trabalho é elevar a consciência a esse ponto. "E eu, quando for levantado da Terra, atrairei todos até mim"(João 12:32). No momento em que entro em contato e sinto a presença de Deus, nesse momento, todos os que estão na faixa de minha consciência precisam sentir isso e ser elevados. Por fim, eles serão elevados para aquela altura onde eles próprios farão o contato e terão a compreensão de si próprios. Se houver qualquer mistério neste ensinamento, este é o grau em que você pode abrir sua consciência para o influxo da presença de Deus, para a percepção de Deus ou do Cristo; nesse nível você pratica e finalmente demonstra isso.

O Caminho Infinito não é mais uma abordagem metafísica destinada a eliminar a moléstia, a demonstrar um automóvel ou a saúde, ou adquirir qualquer coisa material. Seguir essa trilha envolve uma disposição de não se preocupar por sua vida, pelas coisas que você come ou bebe, ou com o que estará vestido. É uma tentativa de procurar a consciência do Infinito e a ausência de alguma coisa. Assim, na consecução da consciência da presença de Deus, do mesmo modo você consegue todas as coisas juntas -- todas as coisas que estão em Deus e são de Deus.

A mais alta demonstração foi expressada por Jesus quando ele disse: "Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma... O Pai que está em mim é quem faz as obras". Estou certo de que Jesus não queria dizer que havia duas pessoas, Jesus e o Pai. Quando usou o termo "Pai", quis dizer a essência divina, a presença ou lei do Infinito. Isso foi o que ele quis significar pelo uso da palavra Pai, e esse é também o nosso significado.

Ao reconhecermos Deus, ou um Pai divino, não estamos reconhecedo alguma Pessoa nem mesmo algum Ser ou Poder fora de nós. Isso seria dualidade e seria fatal. Nós reconhecemos: "Eu sou o único. 'Eu e meu Pai somos Um' e eu sou esse Um. Isto que eu sinto correndo através de mim é o Pai, e Ele é maior do que eu, maior do que minha condição humana".

"E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim". Quando Paulo fez essa declaração, ele não estava pensando em um homem chamado Jesus, nem em alguma espécie de ser separado dentro dele. Ele compreendia e sabia o que significava o Cristo, o Messias, o Salvador, a Essência, o Poder, a Lei, a Presença.

Em verdade, Ele tem o vigor, o poder e o domínio de um pai, o amor e o carinho de uma mãe e a compreensão de um amigo. Porém, mais do que isso, Ele é a Presença que não pode ser definida. Eis onde reside a dificuldade -- tentar expressar em palavras o indefinível. Lao-Tsé disse: "Se você pode definir, não se trata de Deus". Se você pudesse alguma vez descrever essa Coisa, você não estaria descrevendo Deus, porque Deus é infinito, eternidade, imortalidade, e ninguém pode descrever isso. Você pode sentí-Lo, tornar-se consciente d'Ele, percebê-Lo -- mas não pode descrevê-Lo.


PODER ÚNICO: UM PRINCÍPIO BÁSICO

Um outro ponto fundamental neste ensinamento, que pode ser difícil de ser apreendido em sua plenitude, mas que é muito simples, uma vez que seu significado seja absorvido, é o ensinamento do poder único. O Primeiro Mandamento é a base sobre a qual estamos: Não terás outros poderes (deuses) senão a Mim; não existe outro poder senão Deus -- não há pecado a vencer, nem morte, nem falta, nem limitação, nem tentação. O Poder único, a Presença única é Deus. A verdade não é usada para vencer o erro; o poder de Deus não é usado para vencer o mal, e quando a crença universal, sob a forma de pecado, doença, morte, carência e limitação, grita para nós "Eu tenho poder para crucificar-te", respondemos como o fez Jesus: "Nenhum poder terias contra mim, senão te houvesse sido dado do alto".

Esse tratamento que Jesus deu a Pilatos foi uma declaração de verdade absoluta, e ele a demonstrou. Todo o poder de Pilatos de pregá-lo à cruz provou ser nada porque ele não podia tocar a vida de Jesus. E assim é conosco. Nós permanecemos no Primeiro Mandamento.

Abandone a idéia de que a verdade dissipa o erro. O erro não é uma realidade e não tem de ser destruído. Meramente tem de ser reconhecido pelo que é: nada. Deus, Verdade, é o poder único. Nós não O usamos: nós somos ele. Aquilo que eu estou procurando, Eu sou.

Há muitos anos, no início de minha prática, recebi um chamado para ajudar uma mulher artrítica, cujo mestre, bem como muitos práticos tinham sido incapazes de fazer alguma coisa por ela. Em três semanas eu não havia feito mais progresso com o caso do que todos os demais -- não havia melhora de espécie alguma. Seus práticos estavam convencidos de que o caso não podia ser resolvido porque a mulher tinha uma personalidade dominadora e acreditavam que ela não podia ser curada, a não ser que mudasse seu modo de pensar, ou pelo menos mudasse certas qualidades de seu pensamento. Assim fiquei sabendo que o caso teria de ser resolvido de outra maneira.

Um dia recebi dela um chamado telefônico dizendo-me que a dor era terrível e que alguma coisa precisava ser feita imediatamente. Entusiasmado, eu disse a mim mesmo: "Farei vigília a noite inteira e acabarei com isto!". Meu hábito, então, era ler um pouco, a fim de encontrar alguma coisa para dar impulso ao pensamento, meditar, dormir um pouco e depois levatar-me e tentar novamente.

Às duas horas da manhã, o pensamento veio a mim: "Existe uma verdade , e se eu pudesse apenas apanhar essa verdade, ela solucionaria este problema. Tudo o que preciso é apenas uma verdade única, e ela está em algum lugar por aqui! Se eu puder ao menos alcançá-la!".

Depois, voltei a dormir e quinze minutos depois despertei ouvindo uma Voz: "Aquilo que estou procurando, eu sou!".

"Mas como pode ser isso? Eu não sou a Verdade...", perguntei. Então lembrei que Jesus havia dito: "Eu sou o caminho e a verdade e a vida". E compreendi: "Esta verdade que estou procurando, eu sou. Isso torna a coisa muito simples, porque a verdade é universal, e se eu sou a verdade, esta paciente também é a verdade. Não adianta fazer vigília por mais tempo".

Pela manhã, chegou um aviso de que o caso havia sido resolvido e até hoje não houve sinal de qualquer recaída. Não há recaída quando conhecemos a verdade, quando não usamos a verdade para vencer o erro. Quando tentamos sobrepujar o erro com a verdade, estamos reconhecendo o poder do erro e ele pode voltar com força redobrada e nos supreender. A partir daquele dia até hoje, jamais procurei tentar curar qualquer pessoa aqui ou sobrepujar algum erro, porque Deus é o poder único, Deus é a substância e a lei de toda a forma.

Lembre-se: a verdade em si nada faz por você! É a sua consciência da verdade que a faz funcionar. A verdade é sempre verdade, que você o saiba ou não, mas ela se manifesta a você somente em proporção à sua percepção consciente dela. É como a conta do banco a cujo respeito você nada sabe. Somente a conta do banco que você conhece é que pode lhe servir. Eu mesmo passei por um período quando até mesmo uma pequena quantia teria sido muito bem-vinda. Nessa ocasião particular, eu não sabia que tinha qualquer dinheiro e então, mais tarde, descobri duas contas em um banco da Cidade de Nova York que estava lá há vinte anos, mas que eu tinha esquecido completamente. Houve muitas ocasiões em que eu teria sido muito grato por aquele dinheiro. Assim como a conta bancária que você não sabe que possui não tem valor para você, do mesmo modo esta verdade da totalidade de Deus de nada lhe adianta, exceto na medida em que você a conhece e a percebe concientemente.

Esta é uma das coisas mais importantes que você será chamado algumas vezes a compreender. Somente na medida em que você vir que a doença não é um poder sobre o qual pode fazer alguma coisa é que você pode atender à aparência chamada doença. Este é o ponto que quero frisar: há somente um único Poder, uma única Presença. Nosso bem deve vir através Disso, a partir do interior, não através de qualquer tentativa humana de arrancá-lo do mundo exterior.
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sábado, novembro 07, 2009

O homem não é corpo carnal - Fim

Masaharu Taniguchi


QUANDO SE RECONHECE A CULPA, O PECADO DESAPARECE

Embora seja necessário arrepender-se dos pecados, não é preciso divulgá-lo levianamente aos outros. Basta que o doente, refletindo sobre o seu passado, reconheça que aqueles atos errados não foram praticados pelo seu Eu verdadeiro e tome a grande decisão de, caso for curado da doença, trabalhar para o bem da humanidade como homem verdadeiro dotado de natureza divina. Se essa decisão for sincera, nesse instante a doença já está curada no mundo mental. Como a mente já está mudada e curada, o corpo carnal, que é projeção e materialização dessa mente, também vai começar a melhorar rapidamente a partir desse instante. Uma vez que a pessoa reconheceu o seu passado ignóbil, arrependeu-se e tomou grande decisão de se corrigir, nesse instante todos os pecados do passado desapareceram. Portanto, não é preciso mais afligir-se por causa da gravidade dos pecados ou duvidar do perdão, pensando “Será que fui perdoado só com isso?”, pois assim estaria duvidando do poder de absolvição de Deus. A treva, por mais densa que seja, desaparece infalivelmente ao se acender a luz; da mesma forma, também os pecados, por mais graves que sejam, desaparecem no momento em que a pessoa percebe, com arrependimento, que estava errada. Por isso, não é necessário mais continuar pensando nos pecados. Além de explicar esta Verdade ao doente para que ele se arrependa dos pecados e prometa renascer para a Vida de Deus, é necessário, em seguida, conduzi-lo ao estado de tranqüilidade absoluta em que se sinta completamente perdoado.


MÉTODO DE DESPERTAR O “PODER DA CURA ESPONTÂNEA”

Em seguida, é necessário destruir a “prisão mental” (de ilusão) em que o doente está encarcerado, prisão essa que ele mesmo criou com a idéia de que sua doença é grave ou incurável. Para tanto, é bom citar-lhe os exemplos de cura ocorrida pelo poder da Verdade, relatados na revista Seicho-No-Ie. Nada melhor que um caso concreto para comover o doente e suscitar-lhe a idéia: “Minha doença também não é incurável. Vou sarar”. Ao saber da existência da força infinita e maravilhosa que o faz viver (Força da Vida), começa a agir nele essa força vital (força curativa natural), que até então estava adormecida no seu interior. Quando isso ocorre, pode-se dizer que o doente já está semicurado. O método de fazer com que o paciente desperte para o poder de curar a si próprio é mais benéfico que invocar a cura por meio de rituais solenes ou orações, os quais suscitam a idéia de que a cura ocorreu graças a uma força externa. Uma vez despertado no doente o poder de curar a si próprio, ele se restabelece naturalmente, razão pela qual não há necessidade de fazer-lhe constantemente orações e mentalizações de palavras da Verdade. Consequentemente, o orientador terá seu trabalho bastante reduzido. Porém, como o doente é curado apenas conversando com o orientador, sem receber “trabalho”, “passe” ou remédio algum, ele fica sem compreender a causa dessa cura. Alguns comentam, perplexos: “Que estranho! Que misterioso!... só de entrar nesta casa, curei-me da doença crônica de que sofria há muito tempo”. Justamente pelo fato de o paciente não perceber com clareza por quais meios e processos foi curado, torna-se difícil cobrar-lhe pela consulta nesses casos. Entretanto, este é o verdadeiro modo de salvar o paciente, visto que não se trata de um ato com fins lucrativos, mas com o propósito de fazer manifestar a natureza divina dele e proporcionar-lhe a cura verdadeira. Certas pessoas dizem: “Quero que cure o meu filho, mas não quero ouvir nada sobre a Verdade, nem quero ler livros sobre a Verdade; por isso, vou mandar só o meu filho para receber sua orientação”. Tais pessoas não se coadunam com o nosso método de cura. Visto que a doença da criança é reflexo da desarmonia mental dos pais, é praticamente impossível curar a criança sem antes harmonizar a mente dos pais. Na verdade, nem precisam trazer a criança. Se os pais vierem, ouvirem as palavras da Verdade e alcançarem o estado de tranqüilidade mental absoluta, a doença do filho acabará curando-se por si mesma.

O método de cura da Seicho-No-Ie baseia-se na busca da Verdade ou, em outras palavras, é um método que consiste em manifestar o Eu verdadeiro que está oculto, isto é, a Vida imortal, eterna, que transcende o corpo carnal. Cuidar de cada um dos sintomas surgidos no corpo é uma questão de importância secundária.

Por que, na Seicho-No-Ie, a doença é curada através de simples leitura de determinados livros ou de simples diálogo com um orientador, sem se ministrar ao paciente nenhum tipo de terapia? É porque a doença não é algo criado por Deus. E o que não foi criado por Deus, embora pareça existir, não existe realmente, não é existência verdadeira. A doença é algo ilusório criado com base nos cinco sentidos; é como príncipes e princesas dos contos de fadas, criados pela imaginação humana – somente crianças ingênuas acreditam que tais personagens existam realmente. Por conseguinte, quando o paciente expõe a doença à luz da Verdade por meio de leitura de livros sagrados ou de diálogo com um orientador, ela desaparece rapidamente tal como a geada que se derrete quando nela incidem os raios solares.


O HOMEM CARNAL É UM “ROBÔ” CRIADO PELA VIDA

Por confiar demais nos cinco sentidos, a humanidade vinha, até agora, recusando-se a ver a Imagem Verdadeira da Vida. Vendo a matéria, não víamos o Espírito; vendo a sombra, não víamos a Vida; vendo o corpo, não víamos o verdadeiro homem. Pensávamos que a nossa Vida fosse produto da reação química ocorrida no nosso corpo físico, e que a nossa mente fosse produto da reação química desencadeada no cérebro. Entretanto, longe disso, a Vida já existia antes de surgir o corpo carnal, e a mente já existia antes de se formar o cérebro. Mesmo as células cerebrais, que os biólogos consideram como origem da mente, não são formadas pela combinação casual de moléculas da matéria. Ainda que os biólogos, médicos, físicos e químicos tentem milhões de vezes criar uma célula cerebral, combinando e misturando todos os tipos de substâncias materiais, de todas as maneiras possíveis, jamais poderão criá-la. Por mais que agreguemos substâncias materiais a partir do exterior, não é possível formar um célula cerebral. Contudo, quando uma força imaterial e milagrosa atua a partir do interior, ela cria quaisquer tipos de células, quer do cérebro, quer do coração, quer dos pulmões, etc. Essa força imaterial que atua a partir do interior sabe como combinar e dispor as diferentes moléculas para criar células cerebrais, e realmente as criou e formou o “órgão material pensante” (o cérebro). Essa força imaterial que age a partir do interior é justamente a nossa VIDA, isto é, nossa Mente verdadeira. As faculdades mentais produzidas pelo cérebro não passam de milionésima parte do reflexo dessa mente verdadeira. Por mais que a mente fenomênica emanada do cérebro de um grande cientista da área médica estude e trabalhe com todo o empenho, não será capaz de criar um única célula cerebral, ao passo que, mesmo o cérebro de um iletrado é capaz de criar fantásticas célula cerebrais quando entra em ação a força imaterial que atua a partir do interior. Se compreendermos que a mente fenomênica de um cientista (médico), por mais que pense e se esforce, não se compara à força imaterial que age a partir do interior, presente no âmago de um analfabeto, compreenderemos que é mais sensato recorrermos ao poder curativo dessa força imaterial. Essa força imaterial que age no nosso interior é justamente o nosso Eu verdadeiro (Vida). A Vida, que transcende o corpo carnal, já existia mesmo antes que o nosso corpo surgisse neste mundo, e é a força sumamente maravilhosa que planejou e criou o nosso corpo físico. Essa força vital sumamente maravilhosa é o nosso Eu verdadeiro. Portanto, temos de reconhecer que o nosso corpo carnal, que até agora acreditávamos ser “nós mesmos”, é apenas um “robô” projetado por esse maravilhoso Eu verdadeiro. Em outras palavras, primeiramente o Eu verdadeiro concebeu uma idéia, e o nosso corpo carnal é projeção dessa idéia.

Dizem que as diferentes partes do cérebro estão designadas para exercer funções específicas segundo a posição que cada uma ocupa: uma parte do cérebro distingue o tamanho das coisas, uma outra distingue a cor, e assim por diante. Cada parte tem a sua função específica segundo a posição que ocupa no córtex cerebral. Durante a Primeira Guerra Mundial, certa pessoa foi atingida por um estilhaço de projétil na cabeça e perdeu a parte do cérebro responsável por uma função específica. Por algum tempo, essa pessoa esteve privada dessa função, mas logo uma outra parte do cérebro começou a adquirir a característica da parte danificada, devolvendo-lhe assim a função perdida. Pensava-se que a mente estivesse no cérebro, mas o fato mencionado indica que à retaguarda da inteligência cerebral existe uma mente mais extraordinária, capaz de restaurar eventuais danos do cérebro. E isto nos leva a compreender que essa mente já existia antes que o nosso cérebro fosse criado, continua existindo após a criação do cérebro e está sempre conosco, reparando o “robô”, ou seja, o nosso “eu carnal” que ela criou. Portanto, não há razão para atribular o cérebro do nosso “eu carnal”, preocupando-nos em como curar as disfunções do corpo, da mesma forma que a cabeça de um robô não precisa se preocupar em consertar o próprio robô. Se surgir algum defeito no robô, é aconselhável deixar o seu conserto a cargo do engenheiro que criou esse robô, pois ele sabe consertá-lo melhor que ninguém. Em se tratando do ser humano, o engenheiro é a nossa própria Vida, o nosso Eu verdadeiro. A inteligência humana é uma faculdade produzida pelo mecanismo do robô (homem carnal) e, apesar de refletir parcialmente a sabedoria do Eu verdadeiro, na realidade é imperfeita. Os conhecimentos da medicina, afinal, não são conhecimentos divinos que vêm do Eu verdadeiro, isto é, da nossa Vida verdadeira que criou o nosso cérebro. Eles são conhecimentos imperfeitos originados do cérebro do “robô”, e por isso estão longe de se igualar à sabedoria misteriosa da Vida, que tem o poder de cura natural e que atua de dentro.

O robô denominado “homem carnal” tem a forma de homem, mas não é o homem verdadeiro. Devemos concentrar a nossa visão mental no homem verdadeiro. Quando descobrimos o homem verdadeiro e visualizamos o seu aspecto verdadeiro, podemos compreender que ele é filho de Deus, ou melhor, é Vida que flui do próprio Deus, e que ele traz dentro de si a provisão ilimitada – provisão de Vida infinita, provisão de sabedoria infinita, provisão de amor infinito, enfim, provisão de tudo quanto é necessário. Esclarecer isso ao paciente é a função do metafísico (realizador da cura divina). Portanto, o metafísico é uma pessoa que exerce a sagrada função de elevar o homem, da condição de “robô” à condição de homem verdadeiro, e não a simples tarefa de reparar pelo lado de fora as partes danificadas do “homem-robô”. O trabalho de reparar materialmente as partes afetadas do “homem-robô”, ou seja, do “homem carnal”, cabe aos médicos comuns. A função do metafísico e a do médico são totalmente diferentes. Assim sendo, o metafísico não invade a área dos médicos, e por isso não será hostilizado por eles. Os médicos comuns praticam sobretudo o método de restauração elaborado pelo cérebro humano, mas o método terapêutico da Seicho-No-Ie consistem em elevar o homem, da condição de “robô” à condição de homem verdadeiro e confiá-lo à Força Vital, que cria o cérebro. Por este método, as pessoas têm-se curado sem tomar remédio algum. Bastou-lhes despertarem para a própria natureza divina ouvindo os ensinamentos, lendo livros que transmitem a Verdade e praticando a Meditação Shinsokan. A cura de doença é um efeito secundário da conscientização da natureza divina. Como o nosso objetivo principal é salvar o homem, elevando-o da condição de “homem carnal” para a condição de homem, filho de Deus, desejo que os leitores, ao lidar com um doente, falem sobre a Verdade, objetivando a salvação do homem.

Assim como o robô é incapaz de consertar perfeitamente a si próprio, o homem carnal é incapaz de consertar perfeitamente a si próprio. Somente quem o criou é capaz de consertá-lo com perfeição. Esse Criador está no interior de cada ser humano. Se vocês se compadecem realmente de um doente, devem convencê-lo a deixar de olhar o seu corpo carnal (o “robô”) e passar a contemplar com os olhos da mente o homem verdadeiro – o homem indestrutível, que jamais será ferido ou prejudicado e que está dotado de tudo. Quando, dessa forma, a pessoa doente muda a sua visão e conscientiza que o seu Eu verdadeiro não é o homem carnal perceptível aos cinco sentidos e sim um ser perfeito e indestrutível, o seu estado de saúde começa a melhorar. Se, todavia, mesmo ouvindo os ensinamentos o doente não melhora, é porque ele não entendeu bem, ou porque resta ainda um grande temor no fundo do seu subconsciente ou então porque existe escondido em seu íntimo alguma razão pela qual ficaria numa situação difícil se ocorresse a cura.


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 04", pg. 27-36)