- Joel S. Goldsmith -
O sofrimento deste mundo deve-se à nossa procurada bagagem material – mesmo esperando que esteja no lugar certo.
Este é o erro: procurar, esperar, desejar que algo apareça. O erro é a crença de que algo esteja desaparecido ou ausente.
Não há um lugar para você, para mim ou para qualquer “ele”, “ela” ou “aquilo”, a não ser no exato local onde se encontra, que é na Onipresença, onde mesmo aquilo que os humanos sentidos julgam estar ausente quando, de fato, está apenas escondido de nossa vista.
Do mesmo modo, as nuvens das crenças humanas podem temporariamente esconder de nós aquilo que é onipresente, que está presente onde “Eu sou”. E o que é aquilo que está presente onde “Eu sou”?
Tudo o que é do Pai é AGORA onipresente – integridade, lealdade, fidelidade, eternidade, imortalidade, justiça, liberdade, contentamento, harmonia de todos os nomes e naturezas – a menos que nós os tornemos finitos e os vejamos como peças de bagagem, algo que ocupa tempo e espaço.
Nada ocupa TEMPO E ESPAÇO a não ser nossas imagens mentais, e a razão disso é que nós aceitamos o ontem, o hoje e o amanhã.
No momento em que nos elevamos acima do reino mental da vida, percebemos que não há tal coisa como o tempo.
Qualquer pessoa que tenha feito contato com Deus terá descoberto que não havia consciência temporal durante tal experiência e, embora o contato possa ter demorado apenas meio minuto, nesse curto lapso de tempo ocorreu o bastante para convencê-lo de que se haviam passado algumas horas.
Outras vezes, feito o contato, parece ter demorado só um minuto, mas, ao olharmos o relógio, percebemos que se passaram duas ou três horas.
Em outras palavras, não há percepção de tempo e de espaço na consciência da Onipresença.
Estaremos na mente humana – que julga pelas aparências – toda vez que pensamos e raciocinamos, ou quando observamos coisas e pessoas. Só no reino espiritual é que transcendemos a mente.
Algumas pessoas acham um modo de transcender a mente por um processo que tem sido descrito como “o silenciar da mente”; acharam que tais esforços têm dado, frequentemente, resultados, se não em perceber a consciência espiritual, ao menos em deixar o pensamento humano mais sereno.
Há um modo, contudo, de subirmos além do nível mental da vida, embora não sejamos capazes de ficar permanentemente nesse estado, que requer anos e anos de dedicação exclusiva; podemos porém nos elevar acima da mente a tal ponto que, mesmo se estivermos no mundo, ela não nos perturbará por muito tempo.
Podemos começar por não tentar parar o nosso processo de pensamento. Se a mente quer pensar, nós a deixamos ir; e, se for o caso, sentamos e a observamos em seu processo de pensar. Embora os pensamentos venham, eles não podem nos fazer dano.
Pensamentos não têm poder, e nada há neles que devamos temer, se os temermos ou os odiarmos, tentaremos fazer com que parem e, se por outro lado os amarmos, tentaremos segurá-los.
Não nos deixemos pois odiar ou temer qualquer pensamento que se apresente à nossa mente, mas não nos permitamos também amá-los ou segurá-los, por mais que nos pareçam bons.
Deixemos os pensamentos vir e ir embora, enquanto sentamos e observamos como espectadores.
Tudo o que estamos olhando são sombras que deslizam rapidamente sobre a tela: não há nelas poder nem qualquer substância – não há nelas nenhuma lei ou causa-; são apenas sombras.
Algumas podem ser muito agradáveis, e nós poderemos querer agarrá-las. Outras poderão nos perturbar ou constranger, mas são apenas pensamentos, pensamentos e nada mais.
Estes pensamentos podem testificar a doença, podem testificar o pecado ou o acidente. Mas, por mais constrangedores que sejam, nós nos quedamos imóveis e os observamos vir e ir embora. “Não há bem nem mal naquilo que estou observando: essas coisas são só figuras, sem poder. Não podem fazer nada, não podem testificar coisa alguma; e, mesmo que pareçam ser boas, não são boas porque são apenas figuras.”
Se tentarmos esse pequeno experimento em nossos momentos de meditação, logo perceberemos que estivemos a sofrer por causa dessas imagens e pensamentos que nos submergiram, e ficamos tão aflitos que tentamos fugir deles ou apagá-los; todavia, quando somos capazes de vê-los em sua perspectiva correta, eles são inofensivas nulidades, apenas sombras.
Na verdade, por vezes representam teorias ou regras feitas pelo homem, com relativas punições associadas, também produto humano. Quem porém lhes outorgou a autoridade?
Senão vejamos este aqui testifica a infecção e o contágio e este outro os falsos apetites. O próximo é uma profecia de desastre, o outro é o medo da carência, e este outro é o medo do medo.
Mas a verdade é que aí só há nomes – terríveis nomes, é verdade, pela sua conotação trágica, mas só nomes. Nomes que Adão deu para algo que não compreendia – apenas imagens no pensamento.
Deixemos de nos amedrontar com nomes. Mesmo que seja uma imagem na maquina de raios X, por que deveríamos temê-la?
Continua sendo só uma imagem, uma representação de imagem mental. Quando não mais a temos na mente, não é mais possível sua representação.
Nós só podemos fazer figuras daquilo que temos na mente. Se podemos vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, saboreá-lo ou cheirá-lo, será uma atividade da mente, uma imagem mental, o “braço da carne”, uma nulidade. É uma falsa criação que Deus nunca fez.
Sempre que estivermos a pensar nisso, estaremos ainda no reino mental, o reino do conhecimento da verdade; contudo, se continuarmos o nosso exercício, observando honestamente a imagem, começaremos a perceber que se trata de algo sem substância ou causa.
Indiferentemente de quão material pareça ser uma condição, não é nada mais material do que o fora minha bagagem perdida, que não era material: ela era uma imagem mental, cuja descoberta revelou a onipresença.
As pessoas, às vezes, seguindo tais práticas parecem vislumbrar imagens bonitas, ou visões, e cometem então o primeiro engano, tentar segurá-las.
O segundo engano é querer trazê-las de volta em algum momento futuro. Isso é uma verdadeira insensatez. Nunca devemos fazer isso e nem mesmo segurar uma imagem bonita, pois é só uma imagem.
Se é de Deus, o próprio Deus pode nos dar muito mais do que precisamos, e, se for uma imagem desagradável, devemos aprender a não temê-la, uma vez que não tem existência como realidade eternizada, mas é apenas uma imagem mental.
Chegaremos talvez ao ponto em que não haja mais o que dizer ou pensar. E assim teremos uma última palavra sobre isso: “Independentemente do que pareça ou afirme ser, não há em você propriedades intrínsecas de bem e de mal. Todas as propriedades estão na consciência que fez este universo à sua imagem e semelhança, e nem o bem nem o mal existem como forma ou efeito. Qualquer que seja seu nome ou natureza, se você existe no tempo e no espaço, você é uma imagem mental, uma nulidade. Eu não tenho de temer você, pois não tem existência no meu ser e nem do de ninguém. Só tem existência na mente, e como existência mental não tem forma e é vazio. Não há em você mais bem ou mal do que numa sombra que se move na dela da lanterna mágica – você é só uma sombra sem substância”.
Quando atingimos a completa quietude e a paz, a mente já não funciona, nós a transcendemos ao subirmos à atmosfera do Espírito, dentro da qual estamos receptivos e sintonizados com qualquer coisa que Deus conceda.
Tão logo nos tornemos desapegados, isto é, desprendidos do pensamento da fome, do medo, do amor por pessoas ou objetos, de modo que podem flutuar diante de nossos olhos nos deixando completamente indiferentes, não mais estaremos no reino da mente.
Somos atingidos, tocados, e tocamos a nossa própria alma, que é Deus – estamos na atmosfera na qual, quando Deus fala, nós podemos ouvi-lo.
Quando Deus faz soar sua voz, o coração derrete e todos os problemas se dissolvem.
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