"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 9/11

Masaharu Taniguchi



O bodisatva Avalokitésvara, ao praticar o profundo Prajnā Paramitā (sabedoria), viu claramente que os cinco agregados (*Nota: cinco agregados são a forma/matéria, a sensibilidade, o pensamento, a ação e a consciência) são vazios e, assim, eliminou todos os sofrimentos.

Ó Shariputra, a forma não é diferente do vazio, e o vazio não é diferente da forma. A forma é exatamente o vazio, e o vazio é exatamente a forma. Assim, são também a sensibilidade, o pensamento, a ação e a cognição.

Ó Shariputra, todos os fenômenos são vazios; não aparecem, nem desaparecem; não são impuros, nem puros; não aumentam nem diminuem. Por isso, no vazio não há nem forma, nem sensibilidade, nem pensamento, nem ação, nem cognição; não há olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente; não há cor, som, odor, sabor, tato, fenômeno; não há mundo visível (objetivo) nem mundo da cognição; não há ignorância nem o fim da ignorância; não há velhice-e-morte, nem o fim da velhice-e-morte; não há sofrimento, nem origem, nem fim, nem caminho; não há inteligência, nem há ganho, pois não há posse. Devido à prática do Prajnā Paramitā (sabedoria perfeita), o bodisatva não tem obstáculo na mente; não tendo obstáculo, não tem temor, afasta o pensamento invertido (ilusão) e atinge o supremo estado de despertar. Os budas do três mundos (*nota: mundos do passado, do presente e do futuro) também alcançam o supremo despertar devido à prática do Prajnā Paramitā. Portanto, saiba que o Prajnā Paramitā é o grande mantra divino, o grande mantra de luz, o mantra supremo, o mantra incomparável. Ele afasta todos os sofrimentos e desgraças; isso é verdade, não é mentira. Então, recite o mantra da sabedoria suprema. Recite como segue (...) (Sutra Prajnā Paramitā)

Este é um trecho da Sutra da Sabedoria traduzida por Genjô Sanzô, da China. Conforme diz essa sutra, não havendo ignorância, não há também o fim da ignorância. Não havendo velhice-e-morte, não há também o fim da velhice e morte. "A forma é exatamente o vazio", isto é, a matéria (a forma), assim mesmo como ela é, constitui o vazio. É vazia assim mesmo como ela é. Não é depois de ser negada que a matéria vai ser vazia. Ela é vazia assim mesmo como é, independentemente de ser negada ou não. O vazio está aparentando ser matéria. O vazio não é simples "inexistência", mas a substância indestrutível que não aumenta nem diminui. Para conscientizar essa substância (essência) indestrutível que não aumenta nem diminui, é necessário negar os cinco órgãos do sentido e o sexto sentido. Por isso, a referida sutra nega-os, dizendo que a visão, a audição, o olfato, a gustação, o tato e a mente não existem. Desse modo, o bodisatva, por conscientizar que este corpo, assim mesmo como é, constitui o corpo espiritual eterno e indestrutível, eliminou o obstáculo da mente, alcançou a plena liberdade e ficou livre do temor. Todos os budas dos três mundos alcançaram o despertar pela prática da sabedoria suprema.

Quando compreendemos que este corpo, assim mesmo como é em seu estado original, é o corpo búdico (espiritual) indestrutível, já estamos realizados como Buda; este corpo, assim mesmo como é, já é o corpo espiritual de Mahāvairocana (Buda Grande Sol). Seja qual for a imagem que se apresenta materialmente como corpo carnal, nós a transcendemos e compreendemos que, com este corpo tal qual ele é, somos corpo búdico, corpo espiritual, corpo indestrutível, homem eterno. É a conversão do corpo carnal para o corpo búdico, infinito, universal. Compreendemos que nós próprios somos o "filho de Deus" que desceu do céu, ao qual Cristo se referiu quando disse: "ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu, a saber, o filho do homem". Não se deve pensar que "filho de Deus" seja somente uma pessoa determinada. Todo homem já é filho de Deus, assim mesmo como é. Visto pela inteligência da serpente (inteligência do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal – dos cinco sentidos), o homem é corpo material ("és pó, e ao pó tornarás"); porém, visto pela sabedoria do Prajnā (sabedoria segundo a qual "os cinco agregados são vazios" e "olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente não existem"), o homem, em seu estado atual e natural, já é ser espiritual indestrutível, já é buda, já é filho de Deus. Assim, transcendemos o mundo sujeito a doenças, velhice, morte, tristezas e sofrimentos, e reconquistamos o jardim do Éden.

O homem que, visto pelos olhos dos cinco sentidos, não passa de um "fungo que nasceu na face da Terra", é, na verdade, o próprio corpo espiritual de Deus ou de Buda, se visto pelos olhos da sabedoria do Prajnā (a sabedoria do Prajnā é a sabedoria que vê a Imagem Verdadeira). A isso Cristo se referiu com as palavras "nascer de novo". Corpo espiritual, aqui, significa corpo da Verdade, à qual Cristo se referiu quando disse "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida".

O homem fenomênico é um ser enigmático que perambula entre duas convicções: de um lado, a ilusória convicção de que o homem é carne, que deverá morrer; e, de outro lado, a convicção interior de que o homem é um ser espiritual, eterno e indestrutível. Enquanto não for destruída a falsa convicção de que o homem nasceu da carne, a inevitável exigência interna da Vida não será satisfeita. O que satisfaz essa inevitável exigência interna é, no budismo, a mitologia segundo a qual Sakyamuni foi concebido na axila direita da sra. Maya; e, no cristianismo, a mitologia da concepção imaculada de Jesus. Isso constitui a conversão para a convicção de que o homem não é carne que nasceu da carne. Cristo disse: "O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito". Quando renascemos para esta convicção, desaparecem todos os sofrimentos pertinentes ao corpo carnal.

Sakyamuni pregou que Avalokitésvara (Kazeon Bosatsu), para salvar a humanidade de todos os sofrimentos e desgraças, esclareceu que todos os cinco agregados são vazios. Essa pregação constitui a Prajnā Paramitā Sutra (Sutra da sabedoria suprema).

Desde os tempos idos, é dito que doenças são curadas e males espirituais são eliminados até pela leitura rápida da Prajnā Paramitā Sutra. Isso porque, pela negação da matéria, do corpo carnal, dos cinco sentidos, dos seis sentidos e de todos os obstáculos que tolhem a liberdade da Vida, recupera-se, como consequência, a plena liberdade da Vida, e então se torna possível afirmar o mundo do vazio absoluto, verdadeiro e sumamente maravilhoso.

Caros leitores, para afirmar a Imagem Verdadeira (Jisso) na qual o homem é filho de Deus e conscientizá-la, precisam uma vez passar por essa filosofia da negação e, dando mais um passo, conscientizar o corpo verdadeiro, sumamente maravilhoso, que é "vazio" e livre, tendo ao mesmo tempo o corpo carnal, material. Para isso, não basta entender apenas com a cabeça, lendo um livro a respeito. É preciso compreensão absoluta da realidade absoluta, praticando o Prajnā Paramitā de Kanzeon Bosatsu. É preciso apreender a Vida diretamente com a Vida. O Prajnā Paramitā que Avalokistésvara praticou corresponde à Meditação Shinsokan que a Seicho-No-Ie orienta e recomenda praticar.

Cont...

Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 144-149

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 8/11

Masaharu Taniguchi


Então esbocei o seguinte pensamento: "A velhice e a morte não existem devido à inexistência de quê? A velhice e a morte se extinguem devido à extinção de quê?" (...) "A velhice e a morte não existem, porque não existe o nascer. A velhice e a morte se extinguem, porque se extingue o nascer". Da mesma forma, prego amplamente sobre o nascer, o existir, o segurar, o amor, a percepção, o contato, as seis entradas, o nome-e-forma, a faculdade cognitiva, a ação. (Sutra Agama)

Como já foi dito, os sofrimentos relativos à velhice, à doença, e à morte não existiriam se o homem não tivesse nascido. Nós precisamos nos libertar da ideia de que o homem carnal "nasceu e está aqui". Parece que ele nasceu, mas isso é ilusão dos cinco sentidos, assim como o Sol parece despontar do leste e se pôr no oeste, quando na verdade é a terra que está girando em sentido oposto. Quando negarmos os órgãos sensoriais e as funções sensoriais e chegarmos até à negação da "faculdade cognitiva", que é a origem das funções sensoriais, somente então compreenderemos que o corpo carnal não existe verdadeiramente.

Então, como poderemos negar a "faculdade cognitiva"? Para negá-la, precisamos esclarecer a causa pela qual ela surge. O que existe verdadeiramente não pode ser eliminado, mas o que foi gerado por uma causa pode ser eliminado quando desfazemos a causa. Então, a questão é sabermos se a "faculdade cognitiva" é algo que existe originariamente ou algo que foi gerado por uma causa. Segundo observou Sakyamuni, a "faculdade cognitiva", que é a causa que nos faz ver o corpo carnal como existente, surge devido à "ação". Essa "ação" é o "carma", termo que usamos quando dizemos "fulano tem carma". Trata-se de obra, atuação, ondas. É a inércia de movimento que se propaga ininterruptamente. Esta é a causa que gera a "faculdade cognitiva". Se eliminarmos essa "ação", será eliminada a "faculdade cognitiva".

"Pregar amplamente" significa pregar aplicando amplamente as sucessivas indagações sobre as doze causas intermediárias, por exemplo, concluindo que, eliminando-se a "ação", desaparece a "faculdade cognitiva"; eliminando-se a "ignorância", desaparece a "ação". Em seguida, Sakyamuni indagou: "A ação se extingue devido à extinção de quê?". E, finalmente, chegou à seguinte conclusão: "A ação não existe, porque a ignorância não existe; a ação se extingue, porque se extingue a ignorância".

"Ignorância" é a ilusão básica. Há vários graus de ilusão, e a básica é a "ignorância". Trata-se de um pensamento invertido que consiste em ver como existente aquilo que não existe. É ver como existente o carma (ação), que não existe verdadeiramente. Devido a isso, o carma não desaparece. Tendo o carma como causa, surge a segunda ilusão (faculdade cognitiva). Constituem terceira e quarta ilusões os erros dos sentidos: a ideia de que o corpo carnal existe, a ideia de que existem a velhice, a doença e a morte. Estas não existem. Para começar, o nascimento inexiste. Não existindo o nascimento, não existem nem a velhice, nem a doença, nem a morte. Na verdade, o próprio corpo carnal inexiste. As imagens captadas pelos sentidos são simples ondas vibratórias solidificadas pelas posição e ideias própria de cada indivíduo. Havendo diferença na posição da mente receptora e no conteúdo de sua ideia, as mesmas ondas vibratórias serão traduzidas (captadas) de formas diferentes. Um determinado som que um ser humano sente como um tênue vibração, uma certa espécie de peixe ouve-o como um som alto. Um estrondo que parece estourar o tímpano de um ser humano pode ser quase imperceptível para uma determinada espécie de ser vivo. A nuvem que para uma pessoa é uma enorme nimbo, parece uma neblina que embaça a vista de quem está dentro dela. Um vaso de cerâmica, que para o homem é um objeto compacto e duro, para os micro-organismos tais como vírus, parece uma montanha cheia de túneis livremente atravessáveis. Em suma, as coisas não são vistas exatamente tal como elas existem (tal como são na Imagem Verdadeira); simplesmente elas são reconhecidas relativamente como se fossem existentes. O que é relativo indica relação, e não constitui Realidade (existência verdadeira). A mente relativa (mente que resulta de uma relação) é chamada de "ignorância"; logo, ela não existe originariamente, e se extingue com a extinção da relação. E, já que os sofrimentos relacionados ao nascimento, à velhice, à doença e à morte são produtos da "ignorância", que não existe originariamente, esses sofrimentos já não existem quando se compreende que a "ignorância" não existe. Por mais que pareça existir, o que não existe é absolutamente inexistente. (*Nota: Normalmente os livros especializados em budismo explicam que a "ação" e a "ignorância" são duas causas pertencentes a encarnações passadas, mas eu penso que não é preciso, necessariamente, leva-las a encarnações passadas. Como expus acima, expliquei a "ignorância" como ilusão básica, e a "faculdade cognitiva" como segunda ilusão.)

Prosseguindo, Sakyamuni compreendeu o seguinte:

Por não existir ignorância, não existe ação; por se extinguir a ignorância, extingue-se a ação. Devido à extinção da ação, extingue-se a faculdade cognitiva; devido à extinção da faculdade cognitiva, extingue-se o nome-e-forma; devido à extinção do nome-e-forma, extinguem-se as seis entradas; devido à extinção das seis entradas, extingue-se o contato; devido à extinção do contato, extingue-se o captar; devido à extinção do captar, extingue-se o amor; devido à extinção do amor, extingue-se o segurar; devido à extinção do segurar, extingue-se o existir; devido à extinção do existir, extingue-se o nascer; devido à extinção do nascer, extinguem-se a velhice, a doença, a morte, a tristeza, a aflição, o remorso, o sofrimento; assim se extingue o grande conjunto de sofrimentos. (Sutra Agama)

Quando desaparecem todos os sofrimentos, que eram manifestações da ignorância (ilusão básica), o que existe é unicamente o mundo búdico, é unicamente o mundo de Deus; e quem aí vive são unicamente budas, unicamente filhos de Deus. Esse é o mundo em que "seres animados e inanimados estão, ao mesmo tempo, realizados como Buda e iluminados". O homem que parece um ser carnal nascido como produto da "ignorância" (ilusão) não é existência verdadeira, pois, se a "ignorância" é originariamente nada, o homem carnal, que constitui a terceira e quarta ilusões originadas do nada, também é nada.

A propósito, a Sutra da Sabedoria (Prajnā Paramitā Sutra) prega que o corpo carnal é nada, que a matéria é nada (que os cinco agregados são vazios), repetindo negação após negação, e afirma o homem da Imagem Verdadeira, plenamente livre, que existe por trás das aparências. Neste ponto, ela se identifica com a Seicho-No-Ie.

Cont...

Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 140-144

segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 7/11

Masaharu Taniguchi


Sem desfazer minha postura, cheguei a eliminar o vazamento. Busquei o nirvana de suprema tranquilidade e sem doença, e o obtive. Busquei o nirvana de suprema tranquilidade sem velhice, sem morte, sem tristezas, sem aflições e sem preocupações, e o obtive; obtive o saber, obtive a visão, e encontrei o caminho e a dignidade. O viver já está extinto, a prática de Brahma já está efetivada, o comportamento já está correto, e conheci a Verdade sem me prender ao viver. (Sutra Rama)

Estas foram as palavras de Sakyamuni quando despertou para (compreendeu) o mundo da Imagem Verdadeira, onde não há velhice, nem morte, nem sofrimento.

Sakyamuni, vendo os quatro sofrimentos do mundo fenomênico – que são o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte –, quis saber como transcende-los ou dominá-los. Ele fez voto para consegui-lo e, para isso, praticou ascese durante seis anos, e acabou compreendendo que as práticas ascéticas (de mortificação do corpo) não levam ao despertar espiritual. Deixou o bosque dos ascetas Uruvela, chegou às margens do rio Nairanjana, lavou o seu corpo emagrecido, purificou-se das ilusões acumuladas durante anos, tomou a papa de arroz cozido com leite oferecido por uma jovem brâmane e recuperou a força física. Com o ânimo renovado, assentou-se sob uma árvore de figueira-dos-pagodes para meditar (árvore bodhi) e, fechando os olhos para a falsa imagem das mortificações fenomênicas, visualizou claramente a Imagem Verdadeira da Realidade do Universo, e, finalmente, despertou para o mundo da Imagem Verdadeira, onde não há velhice nem morte nem tristezas, compreendendo que estas não passavam de projeções de ideias, pensamentos e sentimentos.

"Sem desfazer minha postura" significa permanecer em postura e estado de meditação. É fazer o que em inglês é dito contemplation. É meditar sobre a Verdade. "Vazamento" significa ilusão ou desejos mundanais. Portanto, "eliminar o vazamento" significa eliminar a ilusão de que "existe o corpo carnal", "existe o fenomênico", ilusão esta originada do conhecimento baseado nos cinco sentidos. Eliminada a ilusão, Sakyamuni se conscientizou da Imagem Verdadeira do homem, isenta de velhice, morte e tristeza; isto é, alcançou o nirvana tranquilo, sem velhice, sem morte, sem tristeza...

Aos olhos carnais, Sakyamuni não passava de um homem carnal de aspecto deselegante, magérrimo, com as costelas salientes, representado na estátua conhecida como "Imagem de Sakyamuni pós-ascese". Mas tal fenômeno não existe, o corpo carnal também não existe, existindo unicamente o homem eterno perfeito, isento de doença, velhice, morte, tristeza, aflição e preocupação. Nirvana não significa morte. Ele consiste na morte da consciência do homem carnal e no renascimento da consciência espiritual do homem eterno, que resulta no desaparecimento de todos os tormentos e na obtenção do estado espiritual de total tranquilidade. Referindo-se a esse estado espiritual, Sakyamuni diz no Dammapada (uma coleção de máximas de Sakyamuni, de 758 versos, obra de iniciação ao budismo, explicando o caminho para se viver corretamente): "A minha vida já é tranquila, sem padecer de doença, Eu pratico a inexistência da doença. A minha vida já é tranquila sem me entristecer, e pratico a inexistência da tristeza. A minha vida já é tranquila, naturalmente pura; alimento-me da felicidade. Sou como os anjos de som luminoso".

"Anjos de som luminoso" são, segundo a lenda, os anjos que vivem no mundo da felicidade perene, sempre repleto de luz. Um ser como esses anjos espirituais é o homem verdadeiro. Ao fato de Sakyamuni ter visto e conhecido esse homem da Imagem Verdadeira, ele diz na Sutra Rama: "obtive o saber, obtive a visão". E ao fato de ter encontrado o caminho e as regras de boa conduta que decorrem naturalmente dessa conscientização, ele diz: "encontrei o caminho e a dignidade". Referindo-se à extinção da ilusão de estar vivendo como corpo carnal, ele diz: "o viver já foi extinto". Consequentemente, as práticas de brahma, isto é, as práticas de purificação, passaram a ser realizadas naturalmente, e seu comportamento não infringiu mais as regras, mesmo agindo conforme a sua vontade. Atingindo esse estado espiritual, não se tornou mais prisioneiro do "existir", isto é, da ilusão de que "o corpo carnal existe", e apreendeu a Verdade, isto é, a Imagem Verdadeira da Realidade tal qual ela é.

É importante alcançarmos, em vida, o estado de "o viver já foi extinto". Para isso, precisamos, por meio negação do fenômeno, isto é, por meio da compreensão da inexistência da matéria, da inexistência do fenômeno, da inexistência do corpo carnal e da inexistência da doença-velhice-morte, compreender a existência do mundo ideal, eterno e indestrutível, e a existência do homem eterno, indestrutível, perfeito, isento de doença, velhice, morte e sofrimento. Quem possui inteligência poderá compreender isso por meio da inteligência. Porém, o caminho mais fácil consiste em compreendê-lo com o coração de criança, tal como o filhinho da senhora Michiko Yokoyama. Sakyamuni, como foi o maior filósofo de toda a história da humanidade, alcançou o despertar por meio da meditação sobre a Verdade e da reflexão filosófica. A meditação sobre a Verdade consiste na meditação zen, e a reflexão filosófica consiste em refletir sobre as 12 causas diretas e indiretas do sofrimento, isto é, questionar por que existem os quatro sofrimentos relacionados a vida-velhice-doença-morte, e, se eles não existem, por que parecem existir.

Por que existem velhice e morte? É devido ao nascer. Por que existe o nascer? É devido ao existir. Por que existe o existir? É devido ao segurar. Por que existe o segurar? É devido ao amor. Por que existe o amor? É devido ao receber. Por que existe o receber? É devido ao contato. Por que existe o contato? É devido às seis entradas. Por que existem as seis entradas? É devido ao nome-e-forma. Por que existe nome-e-forma? É devido à faculdade cognitiva. (Sutra Zo-agon 12.5)

"Por que existem velhice e morte?" – a solução desta questão era o primeiro e maior objetivo de Sakyamuni quando abandonou o lar em busca do despertar. Aqui estão mencionada apenas "velhice e morte", mas essas duas palavras representam a velhice, a doença, a morte e todos os demais sofrimentos, tristezas, aflições, preocupações, etc. Por que o homem envelhece, por que adoece, por que morre, porque precisa passar por tristezas, aflições e preocupações? Quando meditamos detidamente sobre essas questões, concluímos que isso é devido ao fato de termos nascido fisicamente. É devido ao "nascer". Para nos libertarmos dos sofrimentos causados por velhice, doença e morte, precisamos transcender o "nascer". Devemos sair para o mundo onde não existe o "nascer". E, para isso, precisamos indagar por que ocorre o "nascer", qual é a causa do "nascer", investigar a origem do "nascer", descobri-la e rompê-la. Por isso, Sakyamuni foi perseguindo e observando causas após causas (ou causas das causas), e esse processo se chama "observação das causas". E, como resultado de suas meditações e observações, concluiu que o homem carnal surgiu pela sucessão de 12 causas intermediárias, as quais vou enumerar a seguir:

1 – Velhice e morte (incluindo doenças e todos os tipos de sofrimentos)
2 – Nascer
3 – Existir
4 – Segurar
5 – Amor
6 – Captar
7 – Contato
8 – Seis entradas
9 – Nome-e-forma
10 – Faculdade cognitiva
11 – Ação
12 – Ignorância

Os sofrimentos relacionados à doença, à velhice e à morte ocorrem pelo fato de termos nascido neste mundo. Se não tivéssemos nascido, não existiriam os sofrimentos relacionados à velhice, à doença e à morte, nem dores causadas pela separação das pessoas amadas, nem o desconforto de encontrar pessoas odiosas. Por isso, precisamos superar o nascer. Então, o suicídio bastaria para superar o nascer? Não, porque o suicídio provoca carma, que deverá ser resgatado futuramente. Assim como uma energia não se extingue por si só devido à lei da inércia, a inércia dos carmas físicos, verbais e mentais irá manifestar-se nas próximas encarnações, num círculo vicioso, tal como uma roda que continua girando. O fato de a alma reencarnar várias vezes se diz Rinne-tenshô em japonês e significa metempsicose rotativa, pois esse processo cíclico se sucede indefinidamente como uma roda que gira sem parar. Assim sendo, de nada adianta alguém se suicidar para superar sofrimento e dor. Precisamos negar o "nascer" sem praticarmos o suicídio. Precisamos transcender o "nascer", vivendo. Tendo nascido como corpo carnal, precisamos afirmar que não somos corpo carnalManifestando o corpo carnal, precisamos compreender que o corpo carnal não existe, que o nascer não existe. Em outras palavras, precisamos alcançar um despertar igual ao de Sakyamuni, que, sob a estrela-d'alva do dia 8 de dezembro, aos 35 anos de idade, vivendo com o corpo carnal, afirmou: "o viver já se extinguiu".

Então, como poderemos adquirir a consciência da inexistência do corpo, da inexistência do "nascer", quando estamos manifestando o corpo carnal?

Sakyamuni, questionando dentro de sua mente sobre a causa e a origem do "nascer", indagou: "Por que existe o nascer?". E a resposta foi: "É devido ao existir". Esse "existir" não significava a existência verdadeira ou realidade. Ele é o pensamento, a ideia, a visão de que a matéria existe. Na sutra Agon-Kyô está escrito: "O pensamento significa existência. O pensamento significa existência de todas as coisas". Portanto, esse "existir" consiste em pensar que são "existentes" todos os fenômenos materiais, inclusive o homem carnal, em vez de considerá-los meras formas manifestadas. Se não considerarmos o homem carnal como "existente", não surgirá a questão "por que nasceu" o corpo carnal, que não existe. E no corpo carnal, que não existe, também não podem existir nem velhice, nem doença, nem morte, nem tristeza, nem aflição, nem sofrimento, e todos os problemas estão resolvidos. Portanto, o único meio para transcender e dominar o corpo carnal consiste em não considerar os fenômenos materiais e corporais como "existentes", mas vê-los como "inexistentes". Os que se deixam enganar pelos cinco sentidos (tal como Adão, que comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal) pensam que o corpo carnal e a matéria existem e se apegam ao corpo carnal, confundindo-o com o seu Eu verdadeiro, e é por isso que sofrem temendo a velhice, a doença e a morte.

Se o corpo carnal não é existência verdadeira, o "nascer" também não existe verdadeiramente. Eles são como uma visão ou uma imagem projetada na tela de cinema. Compreendendo que eles não são existências verdadeiras, atingimos o nirvana tranquilo, "sem nascimento, sem velhice, sem doença e sem morte" mesmo vivendo a vida em que se nasce, envelhece, adoece e morre. Não é após a morte do corpo carnal que se alcança tal estado de nirvana; este se alcança quando desaparece o apego ao corpo carnal e a pessoa se liberta das amarras desse apego, pela compreensão de que o corpo carnal não existe, mesmo existindo. Portanto, alcançar o nirvana não consiste em abandonar este mundo; pelo contrário, consiste em concretizar neste mundo o estado de felicidade perene do mundo da Imagem Verdadeira. Isto é, realizar no mundo atual o estado paradisíaco, o jardim do Éden, o estado do palácio Ryugu (reino do mar). Sakyamuni, que atingiu esse estado, expressa-o na Sutra Rama com as seguintes palavras:

Sou um ser excelente,
não me apego a nada,
libertei-me de todos os apegos.
Assim é um vitorioso.
Todas as ilusões se extinguiram.
Aniquilei todos os males.

"Aniquilei todos os males" – esta declaração expressa o seu despertar para a Verdade de que "o mal não existe". Esse despertar tem como base a absoluta convicção de que a matéria não existe, o corpo carnal não existe. É desse modo que o homem alcança o seu estado mental de total liberdade também neste mundo fenomênico e se torna vitorioso. Na Sutra Agama (Agon-kyô, em japonês), consta a seguinte passagem:

Foi quando Sakyamuni permanecia na aldeia Sekishu-Shakushi. Inúmeros discípulos seus, reunidos no templo, estavam consertando suas vestes. Nesse momento, o demônio Papias, metamorfoseado em um monge brâmane, vestindo pele de animal e com uma bengala na mão, veio aonde estavam reunidos os discípulos de Sakyamuni e lhes perguntou: "Vocês, que abandonaram seus lares na juventude, tendo pele alva e cabelos pretos, e que estão na flor da idade e são robustos, não deveriam satisfazer os prazeres dos cinco sentidos (desejo de posse, desejos carnais, a gula, a fome e o sono)levar uma vida luxuosa e se divertir? No entanto, abandonaram os prazeres deste mundo e buscam a felicidade póstuma. Por que fazem isso?"

Buscar a felicidade póstuma significa abrir mão da felicidade presente e real para alcançar a felicidade no mundo pós-morte, após terminar a vida no mundo presente. Continuando a passagem:

Os discípulos responderam: "Nós não buscamos a felicidade póstuma, abandonando a felicidade presente. Nesta própria vida presente, já abandonamos a felicidade póstuma e já estamos desfrutando da felicidade presente". Então o falso brâmane indagou: "Como desfrutar da felicidade presente, abandonando a felicidade póstuma?". Os discípulos de Sakyamuni responderam: "O nosso mestre prega que a busca da felicidade do outro mundo é sem graça, acarreta muito sofrimento, traz pouca vantagem e muita preocupação. A felicidade do mundo presente de que fala o venerável Sakyamuni é aquela que vem naturalmente, sem esperarmos a hora, quando afastamos as diversas queimações, e que atingimos aqui mesmo. Caro brâmane, isso se chama felicidade do mundo atual".

"Queimação" significa o fogo das paixões mundanais que arde; são as amarras do apego. Se afastarmos os apegos e as paixões mundanais que ardem, compreendendo que o corpo carnal não existe verdadeiramente, que a matéria não existe verdadeiramente, atingiremos o estado de plena liberdade e teremos felicidade no mundo atual, "sem esperarmos a hora", isto é, sem esperarmos a hora da morte carnal, realizando-se assim o paraíso sereno neste mundo profano. Esta foi a resposta. Assim era o budismo, não o budismo filosófico da posteridade, mas da fase inicial em que vivia Sakyamuni.

Em todo caso, para alcançarmos o estado de plena liberdade neste mundo presente, precisamos aniquilar a ideia do "existir". E a que se deve o aparecimento desse "existir"? "É devido ao segurar" – concluiu Sakyamuni. "Segurar" consiste no fato de a pessoa se apegar a algo e segurá-lo. Pensando "eu desejo, eu quero", segura-o com apego. Podemos apreender a Vida em seu estado de fluidez, sem imobilizá-la, sem segurá-la. Quando apreendemos a Vida tal qual ela é, desaparece a sensação de estarmos vivendo como corpo carnal e alcançamos o estado em que a Vida em si está vivendo, em que a Vida está fluindo naturalmente como ela é. Algo não vai bem devido ao "segurar", isto é, quando nos apegamos a ele e o prendemos. Então, de onde vem esse apego? A resposta é: Por que existe o segurar? É devido ao amor. Quando nos apegamos a algo devido ao amor-apego e o seguramos, esse "segurar" imobiliza a Vida, e não podemos apreendê-la em seu estado de fluidez. O termo "amor", no cristianismo, significa amor puro, desinteressado e divino; mas no budismo, esse termo é sinônimo de ilusão, de apego pegajoso. Mas isso não significa desacordo entre budismo e cristianismo. É apenas que a mesma palavra está sendo empregada em sentido diferente.

Bem, agora vamos ver por que surge esse amor-apego, pegajoso. Sakyamuni compreendeu o seguinte: Por que existe o amor? É devido ao captar. Aqui, "captar" significa sensibilidade. Se não existisse a sensibilidade, não surgiria o "amor" de apego pegajoso. Então, como surge a sensibilidade? Por que existe o captar? É devido ao contato. Somente é possível sentir algo porque há contato com ele. E se contata porque existem órgãos sensoriais, que são as "seis entradas". São seis meios para receber as vibrações vindas de fora, ou seja: visão, audição, olfato, gustação, tato e mente. Então, como se desenvolveram esses seis órgãos sensoriais: Sakyamuni disse: Por que existem as seis entradas? É devido ao nome-e-forma.

"Nome" é palavra, são ondas; e "forma" é matéria. A matéria também são ondas solidificadas. Logo o "nome" e a "forma", afinal, são da mesma natureza. Os órgãos sensoriais não se desenvolveram por si sós; eles se desenvolvem de acordo com a mudança das ondas do ambiente. Entre os peixes que vivem nas profundezas do mar, existem alguns que não têm olhos. Em Akiyoshi, província de Yamaguchi, há uma caverna com estalactite onde corre um rio subterrâneo, e lá vivem enguias sem olhos, porque lá não chegam os raios solares. Quando se fala em ambiente, temos a impressão de que ele é um elemento puramente externo a nós, mas o ambiente também é constituído de ondas vibratórias (verbo). Assim sendo, o interior e o exterior são uma coisa só: o ambiente constitui a nossa mente, e a mente constitui o ambiente. Sobre esse assunto irei discorrer posteriormente com maiores detalhes. As "seis entradas" (órgãos sensoriais) se desenvolveram graças a nome-e-forma (ondas vibratórias). É como acontece com a evolução do radar, graças ao desenvolvimento da tecnologia eletromagnética. Acompanhando as mudanças do meio ambiente, muda também o sistema de adaptação a ele. Vamos agora ver por que surge o nome-e-forma.

"Por que existe nome-e-forma? É devido à faculdade cognitiva" – esta foi a conclusão de Sakyamuni. As ondas vibratórias da matéria são consideradas diferentes das ondas mentais, mas, em síntese, são as mesmas ondas da "faculdade cognitiva". Se a faculdade cognitiva não atuasse no Universo, não existiria nem mundo objetivo (nome-e-forma), nem o mundo subjetivo (faculdade cognitiva). Em suma, podemos dizer que o Universo é manifestação da faculdade cognitiva. E, sobre a causa do surgimento dessa "faculdade cognitiva", não é mais possível conjecturar. A Sutra Agama (Agon-kyô) diz:

Certa vez, Sakyamuni permaneceu no Guion-shôja, erigido no bosque Seitarin. Lá, ele disse aos monges: "Eu pensei no destino quando ainda não havia alcançado o verdadeiro despertar e, a sós, num local silencioso, meditei seriamente com a mente concentrada e formulei a seguinte questão: 'Por que razão existem velhice e morte? Por qual causa intermediária da razão existem velhice e morte?'. Concentrei-me corretamente e cheguei à seguinte conclusão: 'Velhice e morte existem porque existe o nascimento; velhice e morte existem devido à causa intermediária do nascimento'. Assim, fui indagando sucessivamente sobre existir, segurar, amor, contato, seis entradas e nome-e-forma. Depois indaguei: 'Por que razão existe nome-e-forma?'. Concentrei-me corretamente e cheguei à conclusão: 'Nome-e-forma existe porque existe a faculdade cognitiva, é devido à causa intermediária da faculdade cognitiva'. Nessa sucessão de indagações, cheguei até a faculdade cognitiva e retrocedi, sem conseguir ir mais além".

Desse modo, existe primeiramente a "faculdade cognitiva", que é a base, cujas ondas vibratórias se manifestam como "nome-e-forma", isto é, manifestam-se como ondas invisíveis (nome) e ondas visíveis (forma), e, tendo estas como causa intermediária, surgem as "seis entradas", que são órgãos para captar as ondas acima referidas. Por intermédio desses órgãos sensoriais se produz o contato, e este produz o "captar". Este gera o "amor", este gera o apego (segurar), este gera o "existir", que consiste em pensar que as coisas existem materialmente, o que, por sua vez, gera o "nascer", isto é, a ideia de que o corpo carnal nasce e existe aqui. E, como as pessoas pensam que o corpo carnal é o seu eu, veem como existentes a velhice, a doença e a morte (resumindo, "velhice e morte"), que aparecem no corpo carnal, e consequentemente surgem diversos tipos de sofrimento. Assim concluiu Sakyamuni. Então, como eliminar esses sofrimentos? Para isso, basta fazer o percurso inverso com o pensamento.

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Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 125-140

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 6/11

Masaharu Taniguchi


E qualquer que receber em meu nome um menino, tal como este, a mim recebe. Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. E, se o teu olhos te escandalizar, arranca-o, e atira-o longe de ti; (Mateus 18: 5-9)

Jesus disse "em meu nome". Esse "nome" é o Verbo, é a Imagem Verdadeira, é a Verdade (Jesus disse: "Sou a Verdade, a Vida"). Para receber a Verdade, é necessário o coração de criança. Receber docilmente a imagem perfeita do homem eterno é o significado das seguintes palavras de Jesus: "E qualquer que receber em meu nome um menino, a mim recebe". O obstáculo para se entrar no reino do céu são os cinco sentidos do corpo carnal; por isso, se os olhos carnais encobrem a perfeição da Imagem Verdadeira, Jesus diz, com veemência, para arrancá-los e atirá-los longe. Isso constitui total negação do corpo carnal e dos seis sentidos – visão, audição, olfato, gustação, tato e mente – mencionada na Sutra da Sabedoria (Prajnā Paramitā Sutra). Dessa forma, "prosseguindo, prosseguindo, chega-se ao paraíso" (gate-gate-paragate); o paraíso se realiza aqui; o perdido jardim do Éden é reconquistado; o homem eterno, isento de nascer-envelhecer-adoecer-morrer, é ressuscitado; e desaparece o mundo real onde pareciam existir doenças e calamidades.

Quando se aceita docilmente, com o coração de criança, a Verdade homem-filho-de-Deus, desaparecem subitamente até as doenças consideradas incuráveis pela Medicina. No livro Vida de Vitória Infalível, é citado um caso verídico de desaparecimento súbito de uma doença chamada tuberculose miliar. Vou transcrever resumidamente esse caso, pois o referido livro está atualmente esgotado.

Residia em Kobe uma senhora chamada Michiko Yokoyama. Ela é uma testemunha viva da Verdade, pois continua viva. Seu filho de seis anos de idade contraiu tuberculose miliar. É uma doença caracterizada pelo surgimento de grânulos que cobrem todo o corpo, acompanhada de febre alta e prolongada. É uma tuberculose que afeta o corpo todo e é mais grave do que a tuberculose pulmonar. E os médicos não falam na possibilidade de cura. No estado avançado, a duração de vida terrena desse tipo de paciente é questão de dias ou horas. Porém, certa pessoa emprestou à sra. Michiko um volume de A Verdade da Vida, da Seicho-No-Ie, e lhe disse: "Se você ler este livro à cabeceira de seu filho, ele será curado". A sra. Michiko leu fervorosamente A Verdade da Vida para seu filho, com a intenção de fazê-lo compreender o conteúdo. E que está escrito nessa obra? Está escrito que o corpo carnal é imagem falsa do homem, mas, na Imagem Verdadeira, a Vida do homem é de filho de Deus; que Deus é perfeito, e, por conseguinte, na Imagem Verdadeira do homem, que é filho de Deus perfeito, não existe nem doença nem infelicidade. E o menino ouviu isso. Um intelectual talvez não aceitasse tal colocação, mas, como ele é uma criança, ouviu ingenuamente essa Verdade, acreditou nela docilmente, e disse à sua mãe: "Então eu sou filho de Deus!".

– Sim, meu filho, você é filho de Deus – respondeu a mãe.
– Já que sou filho de Deus, a doença não existe, não é mesmo?
– Sim, a doença não existe porque você é filho de Deus.
– Então vou-me levantar, porque não estou doente – dizendo assim, o menino se levantou como se nada tivesse acontecido, pois estava completamente curado.

Os leitores talvez fiquem um pouco admirados pelo fato de essa criança – aceitando simples e incondicionalmente a Verdade de que a Vida vem de Deus e que  Deus é a saúde absoluta – manifestar a saúde absoluta própria de um filho de Deus. Mas "coração de criança" não é questão de idade. Os idosos também, tornando-se dóceis como o coração de criança e recebendo dentro do seu coração a Verdade de que o homem é filho de Deus, verão concretizados em seu organismo um poder de cura admirável.

Na cidade de Okayama, residia uma anciã chamada Kyu Baba. Ela era adepta da seita Konkô e pensava que seria punida pela divindade dessa religião, se acreditasse em qualquer outra religião. Porém, ouvindo a palestra do sr. Yasusuke Kurihara, que é divulgador da Seicho-No-Ie, compreendeu que no Universo só existe um único Deus, que não existem outros deuses; e que, se a denominação de Deus difere conforme a religião, isso é como se um mesmo ator representasse diferentes personagens e palcos de teatro. Ouvindo essa Verdade, ela passou a ler tranquilamente as revistas da Seicho-No-Ie. Certa noite, após o jantar, quando estava lendo a revista Seicho-No-Ie, sentiu penetrar profundamente em sua alma a verdade de que o homem é filho de Deus, perfeito e isento de doença, por natureza. Ela tinha, havia dezenas de anos, uma verruga bem saliente na parte lateral na nuca. E tinha a mania de beliscar essa verruga com a ponta de seus dedos sempre, mesmo quando lia um livro ou conversava com amigas. Entretanto, naquela noite, lendo a revista Seicho-No-Ie, tentou beliscar a verruga mas não a encontrou. Ela ficou sem saber o que fazer com a mão que sempre beliscava a verruga. "Que será que aconteceu?" – assim pensando, ela foi-se olhar no espelho e não viu nem sinal de verruga.

Na página da revista Seicho-No-Ie que ela lia naquele momento, estava escrito: "O homem é filho de Deus, e o corpo carnal não existe verdadeiramente. Se está manifestado em forma algo que não existe, isso é projeção da mente. Se a mente mudar, mudará o estado do corpo carnal".

Pensando bem, não deveria haver, por natureza, algo deselegante como verruga no homem, que é perfeito e harmônico. Se uma parte do corpo estava saliente, isso era prova de que havia saliência (insatisfação) na mente. Mas, quando ela compreendeu que o ser humano é, por natureza, filho de Deus, que mora no reino de Deus e que não existe neste mundo motivo algum para ficar com a mente insatisfeita, desapareceu a sua "mente saliente" (sentimento de insatisfação). E, quando desapareceu a "mente saliente", desapareceu também a verruga do corpo carnal.

A sra. Baba, naquele momento, lembrou-se de que tinha um lombinho (protuberância) do tamanho de uma xícara na axila. Pensando "Se desapareceu a verruga, talvez tenha desaparecido também o lombinho", ela enfiou a mão pela manga para apalpá-lo e notou que ele havia desaparecido. Desde então, a sra. Baba ficou famosa pelo apelido de "vovó que perdeu o lombinho". Espalhou-se na redondeza a fama de que, ouvindo as palavras da sra. Baba sobre a Verdade, as doenças se curam. Inúmeras pessoas passaram a frequentar a casa dela para ouvir suas palavras sobre a Verdade, e muitas delas foram curadas.

Quando houve um Grande seminário no Centro Empresarial de osaka, a sra. Baba relatou uma experiência. Segundo disse ela, uma senhora a procurou, acompanhada de sua filha de aproximadamente 20 anos de idade. Essa moça tinha pequena impigem na coxa. Ela tentou a cura, passando pomada para doença de pele, mas a impigem se alastrou, cobrindo-a da cintura para baixo, chegando até a extremidade dos dedos de ambos os pés. Tornou-se necessária grande quantidade de pomada, o que causou problema financeiro. Ela estava na idade casadoira, mas não poderia casar-se enquanto não se curasse da doença na pele. Justamente nessa época, a mão ouviu a fama da sra. Baba e procurou-a para curar a filha.

– A doença não existe, pois o ser humano é filho de Deus – disse a sra. Baba.
– Mas minha filha está doente desse jeito, e justamente por isso viemos para ser curada pela senhora – disse a mãe.
– O que eu faço não é curar doenças. Eu simplesmente faço as pessoas compreenderem que a doença não existe.
– Como a doença não existe, se minha filha está tão gravemente enferma?
– O que não existe, não existe.
– Mas viemos buscar a cura por que a doença existe.
– Se eu disse que não existe, é porque não existe. A doença não existe, porque Deus não a criou.
– Como pode saber que a doença não existe?
– Mas o que não existe, simplesmente não existe. Não há outra alternativa senão acreditar. Se existisse, poderia argumentar o porquê, mas não há como argumentar sobre o que não existe.
– Mas da cintura para baixo, está coberta de erupções.
– Isso não existe, porque Deus não o criou!
– Mas está cheia de erupções da cintura para baixo!
– Assim parece porque a sua mente está em erupção. Elimine as erupções da sua mente, que elas vão desaparecer do corpo. Deus criou o homem à Sua própria imagem, e por isso é perfeito e não tem doença.
– Então, por que eu vejo o que não existe?
– Isso é projeção da sua mente. Acreditem na perfeição da Criação de Deus! Eliminem da vida de vocês os descontentamentos e as erupções mentais.
– Mas, por favor, gostaria que a senhora curasse a impigem da minha filha.
– Quando desaparecerem as erupções da mente, não haverá mais erupções no corpo. Deixe-me ver se as erupções mentais já desapareceram – assim dizendo, a sra. Baba levantou a borda do vestido da moça e mostrou à mãe a metade inferior do corpo.

Para a sra. Baba, ver as partes afetadas não era ver o corpo carnal, mas o estado mental.

Por incrível que pareça, as infecções que cobriam a parte inferior do corpo da moça haviam desaparecido.

Para quem pensa que a impigem é uma infecção causada por uma espécie de parasitas patogênicos, tal cura deve parecer um milagre espantoso. Não estou negando que a impigem seja um dermatose causada por parasitas patogênicos. O que quero dizer é que ela é consequência da concretização do estado mental, e que a causa está no estado mental. A filosofia segundo a qual o mundo visto é manifestação do estado mental da mente de quem o vê, não é mera filosofia especulativa, mas uma filosofia praticável.

Caro leitor, vendo o seu estado mental refletido no "espelho", não pense que seja real o estado físico, que não passa de projeção da mente. Essa Verdade se aplica não apenas a doenças dermatológicas, mas também à tuberculose pulmonar, ao câncer, às protuberâncias etc. Não se decepcione por não encontrar neste livro o nome da doença que você tenha contraído. O princípio é um só, e a Verdade é válida para todos os casos. Por pior que pareça a imagem que esteja vendo, não duvide da perfeição do mundo e do homem criado por Deus. Somente isso é Realidade. A Realidade é sempre perfeita. Realidade não significa "aquilo que é visível". Realidade significa "o que existe verdadeiramente". Realidade é o conteúdo da Criação de Deus. E ela é sempre perfeita.

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Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 117-125

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 5/11

Masaharu Taniguchi


Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. (Mateus 5:3)

Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos Judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: "Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele". A isto respondeu Jesus: "Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." Perguntou-lhe Nicodemos: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, por ventura, voltar ao ventre materno e renascer?" Respondeu Jesus: "Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem pra onde vai; assim é todo aquele nascido do Espírito." Então perguntou-lhe Nicodemos: "Como pode suceder isto?" Disse Jesus: "Tu és mestre em Israel, e não compreende estas cousas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitais o nosso testemunho. Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu, a saber, o filho do homem." (João 3: 1-13)

Jesus disse que "o que é nascido da carne é carne". Se alguém pensa que este corpo carnal é o próprio homem, não adianta querer nascer de novo, pois o que nasceu da carne continuará sendo carne, da mesma forma. Para entrarmos no reino de Deus (no reino de Deus não existem doentes), precisamos retornar à consciência de que nós próprios não somos carne. Precisamos nos despir do homem do pecado original que, enganado pelo fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, isto é, enganado pela inteligência dos cinco sentidos, e sentenciado "tu és pó e ao pó tornarás", e retomar a consciência de que somos "aquele que desceu do céu" (a saber, o homem de concepção imaculada). Precisamos nos livrar da consciência do homem carnal (o que é nascido da carne é carne). E, para isso, é necessário proceder, de alguma forma, à negação do corpo carnal. Uma das formas para conseguirmos isso consiste em acreditar na redenção pela crucificação de Jesus e, tomando consciência de comunhão com a aniquilação carnal de Jesus, acreditar que foram eliminados todos os pecados referentes ao corpo carnal, renascendo destarte para o eu espiritual. Outra forma consiste em, retornando ao coração de criança, acreditar docilmente na Verdade de que o homem é filho de Deus por experiência própria. Um outro meio consiste em compreender, por meio da filosofia moderna, a inexistência do corpo carnal com base na teoria física moderna segundo a qual a matéria não existe.

Jesus disse "nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto" porque os seus sermões consistiam na pregação direta de experiências próprias. Que o homem é filho de Deus e ser espiritual é a Verdade compreendida internamente. Existe o meio de inquirir essa Verdade teórica e filosoficamente (como faz a filosofia Taniguchiana ou a filosofia de Hegel), mas isso é como observar o monte Fuji, dando voltas em torno dele: isso não nos permite atingir o "pico" da Vida e apreendê-la, como se chegássemos ao pico do monte Fuji e contemplássemos nitidamente o límpido céu azul. Torna-se, então, necessária a apreensão direta e religiosa para a compreensão absoluta da essência da Vida. As seguintes palavras do apóstolo João constituem apreensão direta da Vida:

O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida – e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada (...). ora, a mensagem que da parte dele temos ouvido e vos anunciamos, é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. (Primeira epístola de João, capítulo 1)

Quem estiver enfermo, recite, com os olhos cerrados, dez, cem, mil vezes estas palavras: "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma". Assim procedendo, sentirá a luz preenchendo toda a sua volta, e certamente nascerá a convicção: "O paraíso está aqui". Também os saudáveis, os que sofrem e os que não sofrem recitem essas palavras, de olhos cerrados. Deus não é amigo só dos enfermos. Recitando repetidas vezes essas palavras da Verdade, será paulatina e claramente conscientizado o fato de que a Imagem Verdadeira das existências é a "própria luz, e não há nela treva nenhuma."

O que eu denominei "pensamento iluminador" baseia-se na minha experiência própria relacionada à Verdade religiosa de que "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma" e, por conseguinte, não há nem pecado, nem doença, nem infelicidade, nem tragédia. Deus quer transmitir essa Verdade ao homem, que é filho de Deus, mas este, enganado pela inteligência da serpente (cinco sentidos), perdeu o sentido da Imagem Verdadeira (foi expulso do jardim do Éden) e, julgando-se um mero corpo carnal, não consegue compreender que ele é um ser espiritual de luz, isento de pecado e de doença, por natureza.

Lamentando esse fato, Jesus disse:

Vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem entendem. (...) Ouvireis com os ouvidos, mas não entendereis; vereis com os olhos, mas não vereis. Porque o coração deste povo tornou-se insensível, e seus ouvidos tornaram-se duros, e fecharam-se os seus olhos. (Mateus 13:13-15)

Precisamos primeiramente negar os cinco sentidos, que "vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem entendem". Do contrário, não podemos ver e conhecer verdadeiramente a Imagem Verdadeira (Jissô) da existência. Por mais que o corpo, os órgãos internos, a pele e os ossos pareçam deteriorados, não devemos acreditar nessa evidência dos cinco sentidos. Os fenômenos são imagens aparentes, e não a Imagem Verdadeira da existência. A Verdade é uma só, seja no budismo, seja no cristianismo. Como diz a Sutra do Lótus: "mesmo quando este mundo parece consumido pelo fogo no fim do ciclo da humanidade, a minha terra pura continua tranquila". Mesmo quando este mundo parece destruído diante de nossos olhos e devastado pelo fogo até onde nossa vista alcança, isso é fenômeno, e não a Imagem Verdadeira da existência. Devemos acreditar em Deus e conhecer a perfeita, bela e sublime Imagem Verdadeira do Mundo Real criado por Deus e a Imagem Verdadeira perfeita, saudável e próspera de seus habitantes. Porém, os cinco sentidos e a inteligência humana dificultam essa compreensão. Por isso, para renascermos do "homem carnal" para o "homem espiritual", do "homem sujeito à doença e à morte" para o "homem inadoecível e imortal", precisamos refutar o "atestado" dos cinco sentidos, considerando-o mentiroso, ilusório e falso, e acreditar que o mundo tal qual Deus criou é repleto de luz, e que o homem tal qual Deus o criou é o homem eterno e espiritual, que é perfeito e inadoecível.

As pessoas costumam pensar que o "atestado" dos cinco sentidos seja verdadeiro, mas ele é totalmente falso.

Caros leitores, observem que, para os cinco sentidos, parece que o Sol desponta do leste todas as manhãs e se põe no oeste, mas, na verdade, não é o Sol que desponta; é a Terra que gira em sentido oposto. Da mesma forma, parece que o corpo carnal adoece ou que há infelicidade na vida de vocês; mas, na verdade, essa aparência é mero reflexo das ondas mentais. Mudando-se as ondas mentais, desaparece a infelicidade, desaparece a doença; não há outra alternativa senão desaparecer. Entretanto, como o nosso pensamento tende a ser estruturado com base nas impressões fornecidas pelos cinco sentidos, precisamos negar as imagens imperfeitas, visíveis aos olhos carnais, considerando-as inexistentes, e, ao mesmo tempo, acreditar docilmente, com o coração de criança, na Verdade de que o homem é Filho de Deus, fielmente como ela nos é ensinada.

Jesus chegou ao extremos de dizer que devemos arrancar os olhos, casos eles nos dificultem apreender com coração de criança a Imagem Verdadeira do homem eterno e perfeito. A anulação do corpo carnal e a negação da inteligência dos cinco sentidos constituem a chave para retornarmos à sabedoria da Imagem Verdadeira. Segundo Jesus, arrancar e jogar fora os olhos carnais, que parecem ver, é a única condição para obter a sabedoria de criança (sabedoria da Imagem Verdadeira).

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Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 111-117

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 4/11

Masaharu Taniguchi


Em Verdade vos digo que, se não vos converteres e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus. E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe. (Mateus 18: 3-5)

Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus. (Mateus 19:14)

A fundadora da religião Tenri, famosa por cura de doenças, disse: "Este é o ensinamento em que as pessoas sobem, dizendo sim, sim". Quando um pai chama o seu filhinho, estendendo-lhe os braços abertos, essa criança sobe no colo do pai docilmente, dizendo "Sim, papai". Da mesma forma, quem sobe no colo de Deus com mente dócil e humilde é que entra no reino de Deus.

No Evangelho de Lucas está escrito: "aquele que se humilhar como esta criança". "Aquele que se humilha" é aquele que não sustenta arrogantemente o seu eu, aquele que tem a mente humilde, dócil e natural; em termos do Velho Testamento, é como o homem anterior à expulsão do jardim do Éden, que ainda não comeu do fruto da árvore do conhecimento. Pessoas assim, com o seu eu limpo, que aceitam docilmente as boas novas – somente estas é que serão salvas.

Boa nova é a feliz mensagem da Imagem Verdadeira (Jissô) segundo a qual o homem é Filho de Deus, e quem nela acredita docilmente tem o coração de criança. Se ensinarem que "o homem não tem doença porque é filho de Deus", é preciso acreditar nisso docilmente. Na religião Tenri diz: "os intelectuais e os ricos, deixe-os para depois".

Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos. (Mateus 11:25)

Como vemos, também no cristianismo os intelectuais e fariseus foram rejeitados por Jesus. Isso não quer dizer que a erudição seja má ou que os cientistas não possam conhecer a Deus. A ciência tem seus objetivos, mas ela não pode apreender a Vida em sua totalidade.

Apreender a Vida em sua totalidade significa apreender a Vida em si como totalidade unificada de todas suas funções. A Ciência apreende as coisas, analisando as partes pelo lado fenomênico, isto é, cada um apreende apenas os aspectos pertinentes à respectiva especialidade. É como se fotografassem uma pessoa de diferentes ângulos. Isso não é errado; porém, mesmo que unam as diversas fotos de forma a montar uma "foto panorâmica", não poderão apreender o homem em si, vivo, com sangue circulando. Nós próprios, como Vida em si, precisamos apreender a Vida em sua totalidade, intensamente. Esta é a apreensão filosófica. Apreender a Vida em sua totalidade em comunhão com Deus – nisto consiste a religião. Mesmo que a pessoa domine e saiba de cor um milhão de sermões, isso não constitui o despertar em sentido religioso. Mesmo Ananda, que sabia de cor todos os sermões que ouvira e os ditou (os quais foram escritos e se tornaram sutras), não foi aprovado por Sakyamuni como pessoa que alcançou o despertar.

A transmissão legítima da essência do budismo, de Sakyamuni para Kashô, foi realizada por telepatia quando, em público, o primeiro agitou as sobrancelhas e girou uma flor de lótus (Sakyamuni fez esse gesto como se dissesse: "Vocês entenderam a essência do ensinamento?"), e o segundo sorriu calado (significando que ele entendeu a mensagem de Sakyamuni).

A religião não é feita pela inteligência humana. Mas isso não quer dizer que a inteligência seja má. A apreensão pura da Vida ocorre quando a pessoa, sendo inteligente, transcende a inteligência. Para isso, precisamos tornar a ter o coração de criança. Mas isso não significa que devemos voltar ao útero materno e nascer de novo; nos tornamos crianças sem deixar de ser adulto. Para isso, precisamos abandonar tudo o que temos e ser "pobres". Mas ser "pobre" não significa ser carente. Adão e Eva, que eram pobres, viviam no jardim do Éden de provisão infinita. Porém, quando comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e se tornaram ricos em sagacidade, foram expulsos da paraíso de provisão infinita.

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Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 108-111

sábado, fevereiro 15, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 3/11

Masaharu Taniguchi


Se tiverdes fé e não duvidardes, não somente fareis o que foi feito à figueira, mas até mesmo se a este monte disserdes: "Ergue-te e lança-te ao mar", tal sucederá; e tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis. (Mateus 21:21-22)

Por causa de vossa pouca fé, pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: "Passa daqui para acolá", e ele passará; e nada vos será impossível. (Mateus 17:20)

Certa feita, um homem trouxe seu filho lunático aos discípulos de Jesus e lhes pediu que o curassem, mas a cura não ocorreu. Então, o próprio Jesus repreendeu o demônio (espírito errante) que estava incorporado no menino, e o demônio saiu imediatamente, ficando o menino curado desde então.

Os discípulos perguntaram a Jesus por que eles não conseguiram curar o menino, ao que seu mestre respondeu que, tendo-se fé, até um monte se desloca para dentro do mar, e que inclusive uma figueira pode viver ou secar pelo poder da palavra dita com fé. Com muito mais razão se pode curar doença ou ser curado sem dificuldades. O ser humano precisa confiar na sua natureza divina. A finalidade com que veio Jesus foi para mostrar que o homem é filho de Deus e perfeito por natureza. Mas essa perfeição está encoberta pela ideia de que "o pecado existe", "a doença existe", "o envelhecimento existe" e "a morte existe". Para eliminar essa ideia, era necessário aniquilar o corpo carnal, que é a origem do pecado, da doença, do envelhecimento e da morte. Somente por meio desse aniquilamento é que o homem pode extinguir os quatro sofrimentos – que são o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte – e entrar na Vida eterna. Por isso, Jesus crucificou o seu corpo carnal e depois ressuscitou. Nós também ressuscitamos no reino de Deus quando crucificamos o corpo carnal. Quando comemos o pão que representa a carne de Jesus e tomamos o vinho que representa o sangue de Jesus, o nosso corpo se identifica com o corpo e o sangue de Jesus.  E dessa forma nos vinculamos à crucificação (anulação do corpo carnal) de Jesus, ficamos sem o corpo carnal, mesmo tendo-o, e podemos ressuscitar como Vida-Espírito absolutamente livre, que não adoece nem morre.

Assim é a religião. Mesmo tendo-se o corpo carnal, o corpo não existe. Seja fortuna ou qualquer outra coisa, elas não existem, mesmo que as possuamos. Se não atingirmos esse estado espiritual, não poderemos administrá-las livremente. Isso porque, quando pensamos que algo existe, nossa mente se prende a ele. Um corpo verdadeiramente saudável funciona (trabalha) bem, sem que haja o pensamento de que ele existe. O que existe conscientemente á apenas a função (trabalho), e não se tem consciência de algo fixo chamado corpo carnal. Isso porque a Vida é o próprio "trabalho". Quando se tem a consciência de uma existência fixa chamada corpo carnal, a Vida já está estagnada, não está trabalhando de modo natural; a Vida se autodividiu, e está havendo confronto entre o subjetivo (o eu que vê) e o objetivo (o eu visto). Quando a pessoa se conscientiza da existência do estômago, já piorou o funcionamento deste: não está trabalhando de modo natural, está estagnado ou congestionado; está havendo confronto entre o eu que observa o mau funcionamento e o eu que está sendo observado. Quando desaparece esse confronto, estamos em estado natural. O estado natural da Vida, o estado natural do fluxo das coisas, o trabalho natural, o mushin (A mente em estado natural, em estado nulo, isenta, despreocupada, tranquila, entregue nas mãos de Deus) – esse natural é o estado em que há saúde.

Se a pessoa não ficar em estado de mushin, não haverá o verdadeiro trabalho (funcionamento) da Vida. O contrário de mushin é ushin (Mente intencional, ocupada, preocupada, interessada), que é enganosa. A preocupação em ficar saudável é ushin. O desejo de ser curado da doença também é ushin. Esse ushin é mente em ilusão. A saúde consiste em simplesmente viver, em simplesmente trabalhar, em viver naturalmente, conforme o fluir da Vida.

Certa vez, uma pessoa sofredora perguntou a um sábio hindu: "Por que aquela vaca vive tão feliz?". A resposta foi: "É porque ela vive comendo capim simplesmente". A Vaca é feliz,não porque come capim. Aqui, o importante são as palavras "vive" "simplesmente", grafadas em negrito. Mesmo não comendo o capim ou seja o que for que a pessoa esteja fazendo, se viver simplesmente, aí onde ela está já é o paraíso, é jardim do Éden. O que não é feito simplesmente é suspeito, e isso corresponde a comer do fruto da árvore do conhecimento. Cristo disse: "Não vos preocupeis". Preocupar-se não é o simplesmente. O que vive simplesmente é o coração de criança. O coração de criança está sintonizado com a mente universal, com a mente de Deus, porque não tem um pingo sequer de mácula. Quando a nossa mente se reconcilia com Deus, com o céu e a terra e com todas as pessoas e coisas, tudo no Universo se torna nosso amigo, e nada pode nos ferir. Então, aí se realiza o paraíso, o céu; a Vida pulsa simples e naturalmente, a saúde se efetiva e a família prospera.

Cont...

Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 104-108

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 2/11

Masaharu Taniguchi


E quando chegou à casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus disse-lhes: Credes vós que eu possa fazer isto? Disseram-lhe: Sim, Senhor. Tocou, então, os olhos deles, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé. E os olhos se lhes abriram. (Mateus 9:28-30)

É lamentável que as pessoas busquem longe, sem saber que está bem perto o que buscam. É como se reclamassem de sede estando dentro da água. Não diferem de um filho de milionário na ilusão de pobreza. (Hakuin, mestre zen-budista)

O caso citado não se trata da cura de um só cego, mas de dois. Pelo poder da palavra e por meio do toque nos olhos, a fé das pessoas foi despertada profundamente, e consequentemente ambos os cegos ficaram curados e passaram a ver. Por que ocorreu a cura? Foi porque o ser humano é originariamente filho de Deus e saudável.

O mestre Hakuin também disse: "A humanidade é originariamente Buda". A Sutra do Nirvana diz: "A libertação constitui Buda". A Imagem Verdadeira da Vida, que é plenamente livre por natureza, está encoberta de "gelo" de ilusão e não está podendo manifestar a sua original liberdade. Desfazendo essa cobertura, a Vida se liberta, e a esse estado de liberdade diz-se Buda. A budificação, isto é, "tornar-se Buda", consiste na eliminação da ilusão e consequente restauração do estado de plena liberdade inerente ao homem-filho-de-Deus. Neste ponto, o budismo e o cristianismo se identificam.

O ser humano é filho de Deus, mas, se ele não se conscientizar disso, as suas qualidades inerentes não irão se manifestar. Foi visando a essa conscientização que Sakyamuni praticou ascese durante seis anos, e Jesus Cristo jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Esse tipo de ascetismo tem sentido como negação do corpo carnal. A Vida chamada "filho de Deus" se manifesta por meio do corpo carnal; este, por si só, não é a Vida que se chama Filho de Deus. Por isso, para manifestar a Vida que é o filho de Deus, é preciso, primeiramente, negar o corpo carnal. A crucificação de Jesus constitui o último degrau de negação do corpo carnal. Na Sutra do Lótus também consta que Issaishujô-kiken-bosatsu, negando o corpo carnal, queimou-o e depois manifestou o corpo de ouro indestrutível. Trata-se de um conto mitológico que expressa a Verdade de que o ser humano obtém a Vida eterna por meio do último degrau de negação do corpo carnal. Esta passagem é descrita na Sutra do Lótus como segue:

Nesse momento, o Buda Nichigatsu-jômyô-toku prega a Sutra do Lótus ao bodisatva Issaishujô-kiken e a vários ouvintes. O referido bodisatva desejou e aprendeu técnicas ascéticas. Seguindo os ensinamentos de Buda Nichigatsu-jômyô-toku, ele buscou a Buda com ardor, dedicando-se ao aprimoramento espiritual por doze mil anos, alcançou o sublime estado de concentração mental e sua mente se encheu de júbilo. (...) Fez chover no firmamento flores de mandala e perfume de candana (...), dedicando-os a Buda como oferenda. Terminada a oferenda, saiu da concentração mental, levantou-se e disse mentalmente a si mesmo: "Fiz essa oferenda a Buda com o meu poder sobrenatural, mas isso é insignificante com o fato de oferendar o meu próprio corpo". (...) Assim, untou o seu corpo com óleo aromético e, diante de Buda Nichigatsu-jômyô-toku, cobriu-se com veste celestial, embebeu-a de diversos óleos aromáticos, ateou fogo em seu corpo com seu poder sobrenatural, e a sua luz iluminou oitocentos milhões de mundos (...). O seu corpo se extinguiu após arder durante mil e duzentos anos. (...) Após terminar essa oferenda e morrer, ele renasceu no mundo de Buda Nichigatsu-jômyô-toku: nasceu (surgiu) subitamente, sentado em posição zen, na casa do rei Jotoku como seu filho, e imediatamente pregou ao pai os ensinamentos de Buda em forma de poesia (...). O Buda Nichigatsu-jômyô-toku dirigiu palavras ao bodisatva e entrou no nirvana tarde da noite (...). Naquele momento, o bodisatva disse a toda a multidão: "Vós todos, orai compenetradamente. Neste momento vou celebrar um ofício pela alma do falecido, dedicando-lhe uma oferenda" (...). Então, diante de oitenta e quatro mil túmulos, queimou seus cotovelos durante setenta e dois mil anos. (...) Nesse momento, inúmeros bodisatvas, seres celestiais, humanos e não-humanos, vendo-o sem cotovelos, ficaram inquietos, aflitos e tristes e disseram: "Esse bodisatva é o nosso mestre que nos doutrina. Mas ele, queimando seus cotovelos, fica com o corpo incompleto!". O bodisatva jura à multidão: "Eu, perdendo dois cotovelos, obterei infalivelmente o corpo dourado de Buda. Se for verdade o que estou dizendo, recuperarei meus dois cotovelos". Assim que acabou de jurar, os cotovelos foram restaurados. (Capítulo "Yakuo-bosatsu-honji)

E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido a vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós. (Lucas 22:19-20)

A crucificação de Jesus significa "x" (xis - anulação) e ao mesmo tempo "+" (positivo, afirmativo), isto é, ressurreição. Caro leitor, enquanto você considerar como seu Eu verdadeiro o seu corpo carnal que está vendo com os olhos carnais, não poderá descobrir a Vida eterna do homem. A vida eterna poderá ser conscientizada unicamente pela negação do corpo carnal e pela afirmação de uma dimensão mais elevada. A inteligência que faz ver o corpo carnal como sendo o homem em si, não passa de "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente. Por terem comido desse fruto, adão e Eva (representantes da humanidade) foram expulsos do jardim do Éden (mundo da Vida eterna). O "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente é o conhecimento baseado nos cinco sentidos, pois a serpente é um animal que rasteja na terra, isto é, na superfície da matéria. Vendo o homem com o conhecimento baseado nos cinco sentidos, ele não passa de aglomerado de "pó da terra" e não é Vida eterna. O homem enganado pela serpente foi declarado por Deus como vida limitada (sujeita à morte) com as seguintes palavras: "Porque tu és pó e ao pó voltarás".

O pecado original de Adão consistiu em ver o ser humano apenas com a inteligência dos cinco sentidos, considerando-o equivocadamente como existência carnal. Como tal, o homem é eterno pecador. Ele terá de se alimentar matando seres vivos, viver envolvido em conflitos e matanças. Enfim, será possível apenas uma vida de pecados. Mas o ser humano não consegue suportar tanto sentimento de culpa. Ele precisa absolutamente se livrar do homem carnal, que é um acúmulo de pecados, transcendê-lo, lançar-se no mundo sem pecado e conscientizar-se de que ele próprio é homem sem pecado. Do contrário, terá de sofrer de eterna autocontradição, a incoerência entre o desejo de ser puro e a vida maculada de lama. Para o homem se libertar dessa autocontradição e conscientizar-se de sua natureza perfeita e sem contradição como santo Filho de Deus, precisa, a todo custo, negar o corpo carnal. Somente por meio dessa negação, o ser humano pode atingir a conscientização de sua natureza espiritual sagrada e imaculada. Até consegui-lo por completo, ele continuará sendo descendente de Adão e não deixará de ser um mortal que "veio do pó e ao pó voltará".

Mas, como será possível a aniquilação do corpo carnal? Será por meio do suicídio? Matar a si próprio viola o mandamento "Não matarás". Então, o único meio que nos resta é a comunhão com Cristo. Comendo da carne de Cristo, bebendo do seu sangue, identificando-nos com a carne e o sangue de Cristo e ligando-nos à anulação do corpo (crucificação) de Cristo, teremos concluído a anulação do nosso corpo juntamente com a crucificação de Cristo, mesmo possuindo na realidade o corpo carnal. A redenção de Cristo tem duplo significado. O primeiro significado da redenção (atonement, em inglês) é a aniquilação comutativa da ideia de que o corpo carnal existe, e o segundo é a consequente união (at-one-ment) com Deus. A conscientização da união com Deus só é possível com a negação do corpo carnal. Entre as pessoas que, como nós, explicam a redenção de Cristo como "at-one-ment", temos a fundadora da Ciência Cristã, a sra. Mary Baker Eddy. Ela diz:

A ressurreição é a prática concreta por meio da qual o homem se une a Deus e, com isso, o homem passa a refletir a Verdade, Vida e o amor como filho de Deus. Jesus de Nazaré pregou a Verdade de que pai e filho (Deus e o homem) são um, e comprovou isso. Jesus negou corajosamente as provas sensoriais mostradas pelos cinco sentidos, fez oposição a mandamentos materialistas e dogmas farisaicos e, pelo seu poder de cura, refutou concretamente todos os seus opositores.

A redenção de Cristo foi para que o homem se reconciliasse com Deus, e não para que Deus Se reconciliasse com o homem. O "princípio de salvação por Deus", que é o Cristo, é o próprio Deus; assim sendo, que necessidade haveria de Deus Se crucificar para consolar a Si mesmo? O Cristo é a Verdade (...)

Cristo é a Verdade proveniente do amor eterno, e por isso não tem necessidade de se reconciliar com a sua própria origem. Por essa razão, o objetivo de Cristo era fazer o homem se reconciliar com Deus, e não Este Se reconciliar com o homem. O Amor e a Verdade não podem alimentar maldade contra o homem, que é realizador da vontade de Deus e imagem concretizada de Deus. (...) Jesus possibilitou ao homem ver a Imagem Verdadeira por meio do amor (o princípio básico de seu ensinamento) e lhe ensinou a reconciliar com Deus. Quando contemplar a Imagem Verdadeira com amor e intuição, que é superior aos cinco sentidos, o homem será salvo das leis materiais do pecado e da morte, graças à lei da Imagem Verdadeira, isto é, lei do amor de Deus. (Ciência e Saúde, pp. 18-19, de autoria da Sra. Eddy)

Se o homem está doente, é porque ele próprio não está reconciliado com Deus. Mesmo que ele seja aparentemente ateu, ele pensa na parte profunda da mente: "Sendo como sou, será que mereço ser perdoado por Deus?". Por isso, podemos dizer que a sua infelicidade ou a doença constitui uma espécie de autopunição. No subconsciente coletivo da humanidade, existe a ideia de que o pecado se extingue quando se impõe sofrimento ao corpo carnal. Essa ideia é difícil de ser erradicada por esforços individuais de aprimoramento espiritual. É aí que se torna necessário um redentor como Jesus. As doenças congênitas podem ser consideradas formas de autopunição para expiar os erros de encarnações passadas. Jesus curou doenças congênitas (tais como cegueira), eliminando o sentimento de culpa (pecado).

Na Seicho-No-Ie também, existem alguns casos verídicos de cura de mudos de nascença. Segundo contou um membro do setor de censura telefônica do Exército de ocupação americano sediado em Tóquio, uma criança de seis anos de idade que nascera surda-muda foi curada por um adepto da Seicho-No-Ie do Havaí. De que forma Jesus curou doentes? Ele usou palavras tais como "tem ânimo", "teu pecado foi perdoado", "é a vontade de Deus: sê puro", "a tua fé te salvou", etc. Com isso, o doente sente que foi perdoado dos pecados, que foi salvo, que foi purificado, e sua mente se tranquiliza. Além disso, às vezes, Jesus tocava com sua mão a parte afetada do doente, para lhe dar mais tranquilidade. Dessa forma, até as doenças incuráveis acabam curando-se quando a pessoa adquire paz de espírito após a eliminação do temor e do sentimento de autopunição do subconsciente.

Mas, então, como eliminar do subconsciente o sentimento de autopunição e o temor? Uma das formas consiste em realizar o at-one-ment (tornar-se um) com Deus por meio de expiação. Mas expiar totalmente vários pecados e carmas negativos por meio de esforços individuais é muito difícil. Torna-se, então, necessária uma expiação mais forte, isto é, uma expiação poderosa, feita por uma pessoa de grande caráter, tal como a redenção de Jesus. Nas igrejas cristãs, de modo geral, as pessoas, comungando com essa redenção, acreditam que ficam unidas à carne e ao sangue de Jesus e que, por meio dessa fé, vinculam-se ao amoroso ato de anulação da carne (crucificação) de Jesus; dessa forma, mesmo tendo o corpo carnal, conscientizam que são libertadas de todos os pecados relacionados com o corpo carnal, e essa conscientização elimina a ideia de autopunição do subconsciente. Este é o mecanismo de cura pela eliminação do sentimento de culpa.

Porém, na atualidade, as doenças não se curam só pelo fato de as pessoas se tornarem adeptas de igrejas cristãs comuns, porque a Verdade sobre a anulação do corpo, a Verdade sobre a redenção e a consequente Verdade da inexistência do pecado e da desnecessidade de autopunição não são compreendidas a fundo, verdadeiramente. Mas na Ciência Critã estão ocorrendo muitas curas somente pela leitura de livros sobre a Verdade, porque ela ensina a fundo a Verdade sobre a redenção. Na Seicho-No-Ie também ocorrem curas somente com a leitura de livros, o que foi alvo de polêmica durante algum tempo. Tais curas são possíveis devido à Verdade de que o homem é, por natureza, isento de doença, e, como diz a bíblia, "a Verdade vos torna livres". O ritual de comer pão e beber vinho não passa de ato simbólico para se chegar à compreensão dessa Verdade. Quando se conscientiza realmente a Verdade da inexistência do corpo carnal, são resolvidos os problemas de nascimento, envelhecimento, doença e morte, relacionados ao corpo carnal, e todos os sofrimentos cármicos. A cura de doenças é apenas uma parte dessas soluções.

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Do livro "A Verdade da Vida vol. 39", pp. 94-104