"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, março 30, 2017

Transcendendo os pensamentos humanos

- Joel S. Goldsmith - 


O sofrimento deste mundo deve-se à nossa procurada bagagem material – mesmo esperando que esteja no lugar certo. 

Este é o erro: procurar, esperar, desejar que algo apareça. O erro é a crença de que algo esteja desaparecido ou ausente. 

Não há um lugar para você, para mim ou para qualquer “ele”, “ela” ou “aquilo”, a não ser no exato local onde se encontra, que é na Onipresença, onde mesmo aquilo que os humanos sentidos julgam estar ausente quando, de fato, está apenas escondido de nossa vista. 

Do mesmo modo, as nuvens das crenças humanas podem temporariamente esconder de nós aquilo que é onipresente, que está presente onde “Eu sou”. E o que é aquilo que está presente onde “Eu sou”? 

Tudo o que é do Pai é AGORA onipresente – integridade, lealdade, fidelidade, eternidade, imortalidade, justiça, liberdade, contentamento, harmonia de todos os nomes e naturezas – a menos que nós os tornemos finitos e os vejamos como peças de bagagem, algo que ocupa tempo e espaço. 

Nada ocupa TEMPO E ESPAÇO a não ser nossas imagens mentais, e a razão disso é que nós aceitamos o ontem, o hoje e o amanhã.

No momento em que nos elevamos acima do reino mental da vida, percebemos que não há tal coisa como o tempo. 

Qualquer pessoa que tenha feito contato com Deus terá descoberto que não havia consciência temporal durante tal experiência e, embora o contato possa ter demorado apenas meio minuto, nesse curto lapso de tempo ocorreu o bastante para convencê-lo de que se haviam passado algumas horas.

Outras vezes, feito o contato, parece ter demorado só um minuto, mas, ao olharmos o relógio, percebemos que se passaram duas ou três horas.

Em outras palavras, não há percepção de tempo e de espaço na consciência da Onipresença

Estaremos na mente humana – que julga pelas aparências – toda vez que pensamos e raciocinamos, ou quando observamos coisas e pessoas. Só no reino espiritual é que transcendemos a mente.

Algumas pessoas acham um modo de transcender a mente por um processo que tem sido descrito como “o silenciar da mente”; acharam que tais esforços têm dado, frequentemente, resultados, se não em perceber a consciência espiritual, ao menos em deixar o pensamento humano mais sereno.  

Há um modo, contudo, de subirmos além do nível mental da vida, embora não sejamos capazes de ficar permanentemente nesse estado, que requer anos e anos de dedicação exclusiva; podemos porém nos elevar acima da mente a tal ponto que, mesmo se estivermos no mundo, ela não nos perturbará por muito tempo.

Podemos começar por não tentar parar o nosso processo de pensamento. Se a mente quer pensar, nós a deixamos ir; e, se for o caso, sentamos e a observamos em seu processo de pensar. Embora os pensamentos venham, eles não podem nos fazer dano.

Pensamentos não têm poder, e nada há neles que devamos temer, se os temermos ou os odiarmos, tentaremos fazer com que parem e, se por outro lado os amarmos, tentaremos segurá-los. 

Não nos deixemos pois odiar ou temer qualquer pensamento que se apresente à nossa mente, mas não nos permitamos também amá-los ou segurá-los, por mais que nos pareçam bons. 

Deixemos os pensamentos vir e ir embora, enquanto sentamos e observamos como espectadores. 

Tudo o que estamos olhando são sombras que deslizam rapidamente sobre a tela: não há nelas poder nem qualquer substância – não há nelas nenhuma lei ou causa-; são apenas sombras.

Algumas podem ser muito agradáveis, e nós poderemos querer agarrá-las. Outras poderão nos perturbar ou constranger, mas são apenas pensamentos, pensamentos e nada mais. 

Estes pensamentos podem testificar a doença, podem testificar o pecado ou o acidente. Mas, por mais constrangedores que sejam, nós nos quedamos imóveis e os observamos vir e ir embora. “Não há bem nem mal naquilo que estou observando: essas coisas são só figuras, sem poder. Não podem fazer nada, não podem testificar coisa alguma; e, mesmo que pareçam ser boas, não são boas porque são apenas figuras.”

Se tentarmos esse pequeno experimento em nossos momentos de meditação, logo perceberemos que estivemos a sofrer por causa dessas imagens e pensamentos que nos submergiram, e ficamos tão aflitos que tentamos fugir deles ou apagá-los; todavia, quando somos capazes de vê-los em sua perspectiva correta, eles são inofensivas nulidades, apenas sombras. 

Na verdade, por vezes representam teorias ou regras feitas pelo homem, com relativas punições associadas, também produto humano. Quem porém lhes outorgou a autoridade? 

Senão vejamos este aqui testifica a infecção e o contágio e este outro os falsos apetites. O próximo é uma profecia de desastre, o outro é o medo da carência, e este outro é o medo do medo. 

Mas a verdade é que aí só há nomes – terríveis nomes, é verdade, pela sua conotação trágica, mas só nomes. Nomes que Adão deu para algo que não compreendia – apenas imagens no pensamento.

Deixemos de nos amedrontar com nomes. Mesmo que seja uma imagem na maquina de raios X, por que deveríamos temê-la?

Continua sendo só uma imagem, uma representação de imagem mental. Quando não mais a temos na mente, não é mais possível sua representação. 

Nós só podemos fazer figuras daquilo que temos na mente. Se podemos vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, saboreá-lo ou cheirá-lo, será uma atividade da mente, uma imagem mental, o “braço da carne”, uma nulidade. É uma falsa criação que Deus nunca fez.

Sempre que estivermos a pensar nisso, estaremos ainda no reino mental, o reino do conhecimento da verdade; contudo, se continuarmos o nosso exercício, observando honestamente a imagem, começaremos a perceber que se trata de algo sem substância ou causa.

Indiferentemente de quão material pareça ser uma condição, não é nada mais material do que o fora minha bagagem perdida, que não era material: ela era uma imagem mental, cuja descoberta revelou a onipresença.

As pessoas, às vezes, seguindo tais práticas parecem vislumbrar imagens bonitas, ou visões, e cometem então o primeiro engano, tentar segurá-las. 

O segundo engano é querer trazê-las de volta em algum momento futuro. Isso é uma verdadeira insensatez. Nunca devemos fazer isso e nem mesmo segurar uma imagem bonita, pois é só uma imagem. 

Se é de Deus, o próprio Deus pode nos dar muito mais do que precisamos, e, se for uma imagem desagradável, devemos aprender a não temê-la, uma vez que não tem existência como realidade eternizada, mas é apenas uma imagem mental.

Chegaremos talvez ao ponto em que não haja mais o que dizer ou pensar. E assim teremos uma última palavra sobre isso: “Independentemente do que pareça ou afirme ser, não há em você propriedades intrínsecas de bem e de mal. Todas as propriedades estão na consciência que fez este universo à sua imagem e semelhança, e nem o bem nem o mal existem como forma ou efeito. Qualquer que seja seu nome ou natureza, se você existe no tempo e no espaço, você é uma imagem mental, uma nulidade. Eu não tenho de temer você, pois não tem existência no meu ser e nem do de ninguém. Só tem existência na mente, e como existência mental não tem forma e é vazio. Não há em você mais bem ou mal do que numa sombra que se move na dela da lanterna mágica – você é só uma sombra sem substância”.

Quando atingimos a completa quietude e a paz, a mente já não funciona, nós a transcendemos ao subirmos à atmosfera do Espírito, dentro da qual estamos receptivos e sintonizados com qualquer coisa que Deus conceda. 

Tão logo nos tornemos desapegados, isto é, desprendidos do pensamento da fome, do medo, do amor por pessoas ou objetos, de modo que podem flutuar diante de nossos olhos nos deixando completamente indiferentes, não mais estaremos no reino da mente. 

Somos atingidos, tocados, e tocamos a nossa própria alma, que é Deus – estamos na atmosfera na qual, quando Deus fala, nós podemos ouvi-lo.

Quando Deus faz soar sua voz, o coração derrete e todos os problemas se dissolvem.


terça-feira, março 28, 2017

Deus é somente isto: Amor e Bem


- Joel S. Goldsmith -


"Assim diz o Senhor, Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos Exércitos:
Eu Sou o Primeiro, e Eu Sou o último,
e além de Mim não há Deus."
(Isaías 44:6)

"Amarás o Senhor, teu Deus,
de todo o teu coração, e de toda a tua Alma
e com todas as tuas forças."
(Deuterônomio 6:5)


Ao longo de todos os tempos, as Escrituras revelam que Deus é o Único Poder, mas quem aceita isso literalmente?

A maioria dos religiosos ensina que existem dois poderes, o Poder de Deus, que é bom e abençoa, e o poder do diabo, que é mau e amaldiçoa.

Até mesmo na Bíblia existem relatos desses dois poderes. Deus está sempre lutando contra o diabo pelo controle da Alma do homem; também há relatos de pessoas lutando umas contra as outras. E a pergunta sempre é: quem ganhará?

Hoje a história se repete. Acidentes, desastres e doenças são explicados com base em dois poderes ou tornando Deus - a Essência Única - responsável por esses males.

Como Ele - A ESSÊNCIA ÚNICA DE TUDO QUE EXISTE - pode ser responsabilizado por qualquer mal, à luz da mensagem e missão de Jesus, que foi a cura dos doentes, a ressurreição dos mortos, a alimentação dos famintos e a superação de todo tipo de desastre?

Jesus disse: "Eu não vim para destruir, mas para trazer plenitude", então, nenhuma dessas coisas pode ser a vontade do Pai, pois na Presença de Deus - NA PERCEPÇÃO DO INFINITO INVISÍVEL  NO AQUI E AGORA - não há nenhum mal.

Se Deus permitisse o pecado, a doença, a morte que estamos experimentando, que chance teríamos nós de superá-los ou de sobreviver?

Se Deus permitisse esses males e soubesse da existência deles, ou se Ele fosse um pai humano querendo ensinar uma lição, como poderíamos aprender a voltar para a casa do Pai?

Desde o início de nosso estudo espiritual aprendemos que Deus é o Único Poder, é o Todo Poderoso, e não só isso, é o Poder de todo o bem - A ORIGEM DE TODO O BEM.

É possível, então, para um Poder do Bem criar, permitir ou tolerar maldades?

No Caminho Infinito, obtemos a Cura Espiritual e para isso precisamos de um  Princípio Exato.

Não pode haver nenhum desvio, assim como não há desvios dos Princípios da Matemática ou da Música.

O Princípio de Cura Espiritual é que Deus é Amor e Vida, Nele não há treva alguma, Ele é Puro demais para enxergar iniquidades.

Mas se somos levados a acreditar que existe um Deus que conhece, permite e tolera a doença ou está nos testando ou punindo através dela, perdemos toda a possibilidade de sermos curados.

Não temos como negar que no mundo há pecados, doença, morte, carência, limitação e guerras. Mas isso significa que Deus permite essas coisas? Não! Essas coisas são aparências transitórias criadas e projetadas pela mente humana que acredita estar separada da  Essência Única - DEUS.

Da mesma forma, os Princípios da Matemática e da Música não são afetados se cometemos algum erro de cálculo ou ao cantarmos fora do tom, a imutabilidade e perfeição da Essência Única - do Eterno Agora - nunca é afetada pelas aparentes imperfeições.

De acordo com o Gênesis, "Deus viu tudo o que havia feito, e viu que tudo era muito bom".

Portanto, se o diabo existisse, Deus como  Essência Única - Origem Única - o teria feito também, e até mesmo ele deveria ser bom.

A crença de que o diabo é mau e Deus é bom nos separa física, mental, financeira e moralmente da harmonia. Isso porque Só Existe Deus, o Bem Absoluto. Não há nenhum mistério ou poder no mal. 

Quando jovens, nos ensinaram a confiar apenas em nossos pais, mas em Isaías aprendemos que "Deus te formou desde o ventre materno". Somos filhos protegidos de Deus, somos aqui e agora os Efeitos dessa Fonte Única desde o ventre, Ele, e somente Ele, nos supre e nos apoia em nossas atividades.

Aprendemos que só Deus - O INFINITO INVISÍVEL - é o Único Poder em nossas Vidas por todo o sempre. 

É fácil imaginar o que teria acontecido com a CRENÇA FALSA de que existe diabo, se tivéssemos aprendido que Só Deus é Poder: jamais haveria o medo do mal ou da punição. Teríamos encontrado somente o amor de Deus e nunca o temor a Deus; nunca acreditaríamos que Ele pudesse nos virar as costas. 

Conhecer a Deus é amá-Lo, e isso só é possível quando entendemos que a Sua natureza É AMOR infinito e que nos doou a sua própria identidade Espiritual e Infinita. Nem mesmo o amor do marido, da esposa ou do filho poderia ser maior do que o nosso amor por Ele, no coração e na Alma.

Deus - A Essência Única - não deveria ser temido, mas reverenciado, amado, lembrado em todos os momentos de cada dia e não apenas por uma hora no domingo.

Não há um momento no qual não possamos conscientemente, mantê-Lo vivo em nossos corações pela lembrança de quem Ele é:

Deus é a Inteligência e o amor do Universo,  o Espírito Onipresente que o criou,  o mantém e o sustenta.

Deus é a fonte da beleza das árvores, flores e frutas, a essência dos vegetais e minerais, do ouro, da prata, dos diamantes e das pérolas no mar.
Deus preenche o mar com peixes e o ar com pássaros. 
Deus está dentro de mim.
Onde eu estou Deus está,
e o Seu Amor me envolve sempre.
Deus é a fonte do meu ser.
Ele é a fonte do meu suprimento e dos alimentos da minha mesa.
Deus é aquele que me dá o trabalho e a força para realiza-lo.
"Ele cumprirá o que me concerne[...]
O Senhor aperfeiçoará o que me diz respeito.

"Aquele que está dentro de mim é maior do que aquele que está no mundo", maior do que qualquer problema.

Há apenas um poder, e Deus é esse poder. 

Não há poder no efeito e não há poder separado de Deus, pois Ele é a Vida de todo o ser.

Essa Verdade, conhecida por todos os povos, existe desde sempre. No texto sagrado hindu, o Bhagavad-Gita,traduzido, por Sir Edwin Arnold, lemos o belo poema épico, "A canção celestial":

Eu digo a ti, armas não te ferem a Vida
A chama não a queima, águas não a inundam,
Nem os ventos a fazem secar, 
Impenetrável, Inexplicável, inatingível, ilesa, intocada, Imortal, toda presente, estável, segura. Invisível, inefável, pela palavra e Pensamento não planejado, tudo em si mesma,  
Assim é a Alma declarada! 

Novamente vemos que há uma vida e Deus é essa vida, só há um poder e Deus - a Essência Única subjacente à todas as aparências transitórias - é esse poder.

Quando se tem a Percepção de Deus como Único Poder - no AGORA ETERNO - não há nada a temer .


sexta-feira, março 24, 2017

Samadhi - O Filme (Parte 1)


(Para visualizar a legenda em português, clique no botão "detalhes" e selecione a opção das legendas)

quarta-feira, março 22, 2017

O Dom Supremo - 7/7

O DOM SUPREMO
(Henry Drummond) 


Estou quase acabando este longuíssimo sermão. Mas, antes, quero fazer uma proposta: quanto de vocês querem juntar-se a mim, para ler este trecho da carta aos coríntios, pelo menos uma vez por semana? Quem quiser, que o faça durante os próximos três meses. Um homem assim o fez, e mudou completamente sua vida. Ou então vocês podem começar por ler esta epístola uma vez por dia, principalmente os versos que descrevem a maneira de agir que combina com o Amor: “O Amor é paciente, é benigno, o Amor não arde em ciúmes.” Coloquem estes ingredientes na vida de vocês. A partir daí, tudo o que fizerem passará a ser Eterno. Vale a pena dedicar um pouco de tempo para aprender a arte de Amar. 

Nenhum homem se torna santo enquanto dorme; é necessário rezar, meditar. Da mesma maneira, qualquer melhora, em qualquer sentido, requer preparação e cuidados. Exijam de si mesmos: viver uma vida plena e correta. Se vocês olharem para trás, perceberão que os melhores e mais importantes momentos da vida foram aqueles onde estava presente o Espírito do Amor. 

Quando olhamos nosso passado – e não nos detemos nos prazeres transitórios da vida -, notamos que os momentos marcantes de nossa existência são aqueles em que vivíamos o amor; ou que, escondidos, fizemos algo de bom para alguém. Coisas às vezes tolas demais para serem contadas, mas que, por frações de segundo, nos fizeram sentir como se estivéssemos mergulhados na Eternidade. 

Eu já vi quase todas as belas coisas que Deus criou. Já gozei quase todos os prazeres que um homem pode gozar. Mesmo assim, ao olhar meu passado, sobram apenas quatro ou cinco momentos - geralmente muito curtos - em que pude fazer uma pobre imitação do Amor de Deus. São esses momentos que justificam minha vida. Todo o resto é passageiro. Qualquer outro bem ou virtude é apenas uma ilusão. Esses pequenos atos de Amor que ninguém reparou, que ninguém conheceu, justificam minha vida. Porque o amor permanece. 

Mateus nos dá uma descrição clássica do Juízo Final: o Filho do Homem senta-se em um trono, e separa, como um pastor, os cabritos das ovelhas. Nesse momento, a grande pergunta do ser humano não será: “Como eu vivi?” Será, isto sim: “Como amei?” O teste final de toda busca da Salvação, será o Amor. Não será levado em conta o que fizemos, em que acreditamos, o que conseguimos. Nada disso nos será cobrado. O que nos será cobrado: nossa maneira de amar o próximo. Os erros que cometemos nem sequer serão lembrados. Seremos julgados pelo bem que deixamos de fazer. Pois manter o Amor trancado dentro de si é ir contra o Espírito de Deus, é a prova de que nunca O conhecemos, de que Ele nos amou em vão, de que Seu Filho morreu inutilmente. Deixar de Amar significa dizer que Deus jamais inspirou nossos pensamentos, nossas vidas, e que nunca chegamos perto Dele o suficiente para sermos tocados por seu exuberante Amor. Significa que “eu vivi por mim mesmo, pensei por mim mesmo, por mim mesmo, e ninguém mais - como se Jesus jamais tivesse vivido, como se Ele jamais tivesse morrido.” 

É diante de Deus que as nações do mundo serão reunidas. É na presença de todos os outros homens que seremos julgados. E cada homem julgará a si mesmo. Ali estarão presentes aqueles que encontramos e ajudamos. Ali também vão estar aqueles que desprezamos e negamos. Não há necessidade de chamar qualquer Testemunha, pois nossa própria vida se encarregará de mostrar, na frente de todos, o que fizemos. Nenhuma outra acusação - além da falta de Amor - será proferida. Não se enganem; as palavras que neste Dia ouviremos não virão da teologia, não virão dos santos, não virão das igrejas. Virão dos famintos e dos pobres. Não virão dos credos e das doutrinas. Virão dos desnudos e dos desabrigados. Não virão das Bíblias e dos livros de orações. Virão dos copos de água que damos ou deixamos de dar. 

- Quem é Cristo? 
É aquele que alimentou os pobres, vestiu os nus, e visitou os doentes. 

- Onde está Cristo? 
“Todo aquele que receber uma criancinha destas em seu nome, também me recebe.” 

- E quem está com Cristo? 
Aquele que ama. 

Quando o rapaz acabou de falar, o sol já havia se posto. As pessoas se levantaram, em silêncio, e foram para as suas casas. Nunca mais, pelo resto de suas vidas, esqueceriam aquele dia. Haviam sido tocadas pelo Dom Supremo, e desejaram, naquele instante, que aquela tarde fosse lembrada por muito tempo. “Embora não possa ser lembrada para sempre”, pensou um deles, consigo mesmo. Porque, como bem havia dito o rapaz, só o Amor permanece.

FIM 

segunda-feira, março 20, 2017

O Dom Supremo - 6/7

O DOM SUPREMO
(Henry Drummond) 


Falta acrescentar muita pouca coisa sobre as razões que levaram Paulo a considerar o Amor como o Dom Supremo. Falta apenas analisar a principal razão. Algo muito importante, que pode ser resumido numa frase curtíssima: O Amor permanece. “O Amor”, insiste Paulo, “jamais acaba”. Então ele nos dá mais uma de suas maravilhosas listas. Fala de assuntos que eram importantes em sua época. Coisas que todos garantiam ser eternas. E mostra como são frágeis, temporárias, agonizantes. 

“Havendo profecias, desaparecerão.” Naquele tempo, o sonho de todas as mães era que seus filhos se tornassem profetas. Durante séculos e séculos, Deus tinha escolhido falar ao mundo por meio dos profetas, e estes eram mais poderosos que os Reis. Os homens esperavam, aflitos, que chegasse um novo mensageiro do Alto, e o honravam quando ele aparecia. Paulo é implacável : "Havendo profecias, desaparecerão." A Bíblia está repleta de profecias. Mas, na medida em que foram transformadas em realidade, perderam seu verdadeiro sentido. Desapareceram como profecias, para se tornarem apenas o alimento da fé de homens piedosos. 

Então, Paulo fala sobre as línguas. “Havendo línguas, cessarão", diz ele. Tanto quanto sabemos, já se passaram milhares de anos desde que as primeiras línguas surgiram sobre a face da Terra. Elas ajudaram o homem a se organizar, crescer, e sobreviver num mundo perigoso e hostil. Onde estão estas línguas? Desapareceram. 

Os egípcios construíram pirâmides e gravaram sua escrita em monumentos que permanecem até hoje. Ainda existem como nação, mas sua língua original desapareceu. Considere estes exemplos da maneira que você quiser, inclusive no sentido literal. Embora não fosse esta a principal preocupação de Paulo, pelo menos podemos entender melhor o que ele estava falando. A carta aos coríntios, que lemos e que discutimos durante todo este tempo, foi escrita originalmente em grego antigo. 

Se formos até a Grécia com o texto original, pouquíssimas pessoas seriam capazes de decifrá-lo. Há mil e quinhentos anos atrás, o latim dominava o mundo. Hoje não significa mais nada. Reparem as línguas indígenas: estão desaparecendo. A língua original do País de Gales, ou a da Escócia, está morrendo diante de nossos olhos. O livro mais popular da Inglaterra, com exceção da Bíblia, é Pickwick Papers, de Charles Dickens. Foi quase todo escrito num inglês falado pelas pessoas nas ruas. Pois bem: estudiosos nos garantem que, em cinqüenta anos, este livro será ilegível para o leitor comum. 

Então, Paulo vai mais longe e acrescenta, com ênfase: "havendo ciência, passará". Onde está a ciência dos antigos? Sumiu por completo. Hoje, um menino de escola secundária conhece muito mais coisas que Sir Isaac Newton, o descobridor da Lei da Gravidade, conhecia em sua época. O jornal que nos traz as novidades da manhã é jogado fora quando chega a noite. Compramos enciclopédias de dez anos atrás por apenas alguns tostões, porque as conquistas científicas que estão em suas páginas já foram completamente ultrapassadas. 

Reparem como a carruagem puxada a cavalo foi substituída pelo vapor. E como a eletricidade, por sua vez, ameaça superar o vapor, jogando no esquecimento centenas de invenções que apenas acabaram de nascer. Uma das maiores autoridades dos dias de hoje, Sir William Thomson, garante: “O motor a vapor em breve deixará de existir.” 

“Havendo ciência, passará.” Vemos no fundo dos quintais algumas rodas velhas, peças quebradas, objetos de ferro corroídos pela ferrugem; vinte anos atrás, estas mesmas peças faziam parte de objetos que eram o orgulho de seu dono. Agora não representam mais nada, a não ser um estorvo do qual não conseguimos nos livrar. Toda ciência e toda filosofia de nossa época, de que tanto nos orgulhamos, um dia envelhecerão. Alguns anos atrás, a maior autoridade de Edimburgo era Sir James Simpson, o descobridor do clorofórmio e o precursor da anestesia. Recentemente, o bibliotecário da universidade onde Sir James Simpson lecionava, pediu ao sobrinho do cientista que se livrasse dos livros do tio. Estes já não tinham qualquer interesse para os novos estudantes. O sobrinho disse ao bibliotecário: “Não são apenas os livros de meu tio. Qualquer livro científico com mais de dez anos deve ser levado para o porão.” Sir James Simpson era uma pessoa mundialmente importante; cientistas de todas as partes do planeta vinham consultá-lo. Entretanto, suas descobertas - e quase todas as outras descobertas de sua época - foram superadas. 

“Porque agora vemos como num espelho, obscuramente.” Vocês podem me dizer algo que permaneça para sempre? Paulo deixou de mencionar muitas coisas. Não falou em dinheiro, fortuna, fama; limitou-se apenas às coisas importantes do seu tempo, às coisas a que se dedicavam os melhores homens da sua época. E as colocou, decididamente, de lado. Paulo nada tem contra as coisas em si; não falou mal delas. Tudo que disse foi que elas não durariam. Eram coisas importantes, mas não eram dons supremos. Existia algo além delas. O que somos é mais do que fazemos, e muito mais do que possuímos. Muitas coisas, que os homens chamam de pecado, não são pecados; são sentimentos e deslizes que desaparecem rápido. Efêmeros. Este é um argumento favorito do Novo Testamento. João não nos diz que o mundo está errado; diz que “passará”. Existem muitas coisas no mundo que são belas; coisas que nos entusiasmam e nos engrandecem. Mas não vão durar. Todo o reino deste mundo, o deslumbramento de visão, os prazeres da carne, o orgulho, tudo existe apenas por um breve momento. Por isso, não deixe que seu amor se prenda às coisas do mundo. Nada que o mundo contém vale a dedicação e o tempo de uma alma imortal. A alma imortal deve entregar-se a algo que é imortal. E as únicas coisas imortais são “a fé, a esperança e o amor”. Alguns podem dizer, inclusive, que duas destas coisas também passam: a fé, quando sentimos e vivemos a presença de Deus, e a esperança, quando é satisfeita e preenchida. Mas, com toda certeza, o Amor continuará presente. 

Deus, o Eterno Deus, é Amor. Busquem, portanto, o Amor - este momento eterno, a única coisa que vai permanecer quando a própria raça humana tiver chegado ao final de seus dias. O Amor será sempre a única moeda corrente aceita no Universo, quando todas as outras moedas, de todas as nações, tiverem perdido seu uso e seu valor. Se vocês querem se entregar a muitas coisas, entreguem-se primeiro ao Amor - e tudo o mais lhes será acrescentado, dando a cada coisa o seu devido valor. 

Deem a cada coisa apenas o seu devido valor. Permitam pelo menos que o grande objetivo de suas vidas seja o de conseguir forças suficientes para defender esta ideia, e construir uma existência usando o Amor como principal referência. Como fez Cristo, que construiu toda a sua obra em cima do Amor. Eu comentava que o Amor é eterno. Já repararam como João o associa, várias vezes, à Vida Eterna? Quando eu era criança, me diziam que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito para que todo que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Os mais velhos diziam então - lembro-me bem - que Deus amou tanto o mundo que, se confiássemos Nele, teríamos paz, descanso, alegria, ou segurança. Eu tive que descobrir por mim mesmo que não era bem assim. Que, na verdade, todos aqueles que confiassem Nele - isto é, que O amassem, pois a confiança é uma avenida pela qual o Amor caminha - teriam, isto sim, a Vida Eterna.

Os textos sagrados nos falam de uma nova vida. Não ofereça ao próximo apenas a paz, ou o descanso, ou a segurança. Em vez disso, conte como Cristo veio ao mundo para dar ao homem uma vida mais cheia de Amor - e, por isso mesmo, abundante em salvação, longa o suficiente para que possamos nos dedicar ao aprendizado do Amor. Só assim as palavras do Evangelho fazem sentido, e podem tocar o corpo, a alma e o espírito, dando a cada uma destas partes uma orientação e uma finalidade. 

Muitos dos textos espirituais que vemos hoje são dirigidos apenas a uma parte do homem. Oferecem Paz, mas não falam em Vida. Discutem a Fé, e esquecem o Amor. Contam sobre a Justiça, e não tocam na Revelação. E o homem termina se afastando da Busca Espiritual, porque esta foi incapaz de mantê-lo em sua trilha. Não cometamos esses erros. Que fique sempre claro para nós que só o Amor Total pode competir com o amor deste mundo. Amar abundantemente é viver abundantemente. Amar para sempre é viver para sempre. A vida Eterna está completamente acorrentada ao Amor. 

Por que queremos viver para sempre? Porque desejamos que o dia de amanhã nos traga alguém que amamos. Porque queremos conviver mais um dia com a pessoa que está ao nosso lado. Porque queremos encontrar alguém que mereça nosso amor, e que saiba, por sua vez, nos amar como achamos que merecemos. Por isso, quando um homem não tem ninguém que o ame, sente uma profunda vontade de morrer. Enquanto ele tiver amigos, gente que ele ama e que o ama, ele viverá. Porque viver é amar. Até mesmo o amor por um animal de estimação - um cachorro, por exemplo - pode justificar a vida de um ser humano. Mas se ele não tiver mais esse laço de amor com a vida, desaparece também qualquer razão para continuar vivendo. A “energia da vida” falhou.

Participar da Vida Eterna significa conhecer o Amor. Deus é Amor. João diz: “Estamos no verdadeiro, em seu Filho. Este é o verdadeiro Deus e a Vida Eterna.” Seja qual for sua crença, ou sua Fé, busque primeiro o Amor. E o resto lhes será acrescentado. Pois o Amor precisa ser eterno. Porque Deus o é. Amor é Vida. O Amor nunca falha, e a vida não falhará enquanto houver Amor. É isto que Paulo nos mostra: que, no fundo de todas as coisas criadas, o Amor está presente como o Dom Supremo - porque o Amor permanece, enquanto as coisas acabam. O Amor está aqui, existe em nós agora, neste momento. Não é algo que nos venha a ser dado depois de morrermos. Ao contrário, teremos pouquíssimas chances de aprender o Amor quando estivermos velhos se não o buscarmos e o praticarmos agora. 

O pior destino que um homem pode ter é viver e morrer sozinho, sem amar e sem ser amado. Quem ama está salvo. Quem não ama, nem é amado, está condenado. E aquele que se alegra no Amor, se alegra em Deus, porque Deus é amor.

Continua...

sexta-feira, março 17, 2017

O Dom Supremo - 5/7


O DOM SUPREMO
(Henry Drummond) 


Chega de analisar o Amor. Agora temos que nos esforçar para que todos estes ingredientes passem a fazer parte de nós mesmos. Este deve ser o nosso objetivo no mundo: aprender a amar. A vida nos oferece milhares de oportunidades para aprendermos a amar. Todo homem e toda mulher, em todos os dias de suas vidas, têm sempre uma boa oportunidade de entregar-se ao Amor. A vida não é um longo feriado, mas um constante aprendizado. E a mais importante lição que temos é: aprender a amar. Amar cada vez melhor.

O que faz do homem um grande artista, um grande escritor, um grande músico? Prática. O que faz do homem um grande homem? Prática. Nada mais. O crescimento espiritual aplica as mesmas leis usadas pelo corpo e pela alma. Se um homem não exercita seu braço, jamais terá músculos. Se não exercita sua alma, jamais terá fortaleza de caráter, nem ideais, nem a beleza do crescimento espiritual. O Amor não é um momento de entusiasmo. O Amor é uma rica, forte e generosa expressão de nossas vidas, a personalidade do homem em seu mais completo desenvolvimento. E, para construir isso, precisamos de uma prática constante.

O que fazia Cristo na carpintaria? Praticava. Embora perfeito, aprendia, todos nós já lemos sobre isso. E assim, ele crescia em sabedoria, para Deus e para os homens. Procure ver o mundo como um grande aprendizado de Amor, e não fique lutando contra aquilo que acontece em sua vida. Não reclame por precisar estar sempre atento, ser obrigado a viver em ambientes mesquinhos, cruzando com almas pouco desenvolvidas. Essa foi a maneira que Deus encontrou para você praticar o Amor. E não se assuste com as tentações. Não se surpreenda com o fato de elas estarem sempre à sua volta, e não se afastarem, apesar de tanto esforço e tanta prece. É desta maneira que Deus trabalha sua alma. Tudo isso o está ensinando a ser paciente, humilde, generoso, entregue, delicado, tolerante. Não afaste a Mão que esculpe a sua imagem, porque esta Mão também mostra o seu caminho. Esteja certo de que você está ficando mais belo a cada minuto que passa, e, embora não perceba, dificuldades e tentações são ferramentas utilizadas por Deus. Lembrem-se das palavras de Göethe: “o talento se desenvolve na solidão; o caráter, no rio da vida.” O talento se desenvolve na solidão; a prece, a Fé, a meditação, se desenvolvem na visão clara da vida. Mas o caráter só pode crescer se fizermos parte do mundo. Porque é no mundo que aprendemos a Amar. 

Pois bem, eu mostrei alguns aspectos do Amor, para facilitar nossa compreensão a respeito de Deus e do próximo. Mas são apenas aspectos. O Amor jamais pode ser definido. A luz é muito mais do que a soma de seus componentes, é algo que brilha, fulgurante, no espaço. E o Amor é muito mais do que a soma de todos os seus ingredientes. É algo vivo, palpitante, divino. Se misturarmos todas as cores do arco-íris, tudo que conseguimos criar é a cor branca, não conseguimos fazer a luz. Da mesma maneira, ao sintetizar todas as virtudes das quais falamos, podemos nos tornar virtuosos, mas não quer dizer que tenhamos aprendido a amar. Então, como vamos trazer o Amor para dentro de nossos corações? Vamos trabalhar nossa vontade, para mantê-lo sempre próximo. Vamos tentar copiar os que aprenderam a amar. Vamos esquecer todas as regras que nos ensinaram sobre o que é o Amor, inclusive estas minhas palavras. Vamos orar. Vamos vigiar. Nada disso, porém, vai nos fazer amar, porque o Amor é um efeito. E, só ao conhecermos a causa, o efeito se manifestará. Devo dizer qual é esta causa? Se lermos a versão revisada da Primeira epístola de João, vamos encontrar as seguintes palavras: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro”. Está escrito: “Nós amamos”, e não “Nós O amamos”, como pensam alguns. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.” Reparem na palavra porque. Essa é a causa a que me refiro. Porque Ele primeiro nos amou, o efeito, consequentemente, é que nós amamos. Somos todos manifestações do Amor. Amamos a Ele, amamos a nós mesmos, amamos a todos. É assim. Nosso coração vai aos poucos se transformando. Contemplem o Amor que lhes é dado, e saberão como amar.

Você não pode se obrigar a amar, e tampouco pode obrigar a qualquer pessoa. Tudo que pode fazer é olhar o Amor, apaixonar-se por ele, e copiá-lo. Ame o Amor. Olhe o grande sacrifício que Ele propôs a si mesmo. Ao amá-lo, você se tornará como Ele. O Amor produz Amor. Coloque uma peça de ferro numa fonte de eletricidade, e você levará um choque. É um processo de indução. Ou a coloque perto de um ímã, e esta peça também se transformará em um ímã enquanto estiver ali. Permaneça perto de Quem nos amou, e você será imantado por esse Amor. Qualquer homem que buscar esta Causa, terá o seu Efeito. Tente livrar-se do preconceito de que a Busca Espiritual existe por acaso, ou capricho, ou por nosso gosto por mistério. Ela está aí por causa de uma lei natural, ou melhor, espiritual, porque é uma lei divina.

Edward Irving visitava um menino que estava morrendo. Ao entrar no quarto, colocou a mão na testa do garoto e disse: "Garoto, Deus te ama." Não disse mais nada. Saiu em seguida. O garoto levantou-se, chamou todas as pessoas da casa, e gritava: "Deus me ama! Deus me ama!" A mudança foi completa; a certeza de que Deus o amava lhe deu forças, destruiu o que havia de mal, e permitiu sua transformação. Da mesma maneira, o Amor derrete o mal que existe no coração de um homem e o transforma em uma nova criatura, paciente, humilde, tolerante, gentil, entregue (desapegado), sincera. Não existe nenhuma outra maneira de conseguir amar, e tampouco há qualquer mistério sobre isso. Nós amamos os outros, amamos a nós mesmos, amamos nossos inimigos, porque, primeiro, fomos amados por Ele.
Continua... 

terça-feira, março 14, 2017

O Dom Supremo - 4/7

O DOM SUPREMO
(Henry Drummond) 


7) O Amor é Tolerância. 

O próximo ingrediente é a tolerância. “O Amor não se exaspera”. Somos inclinados a julgar a intolerância como um defeito de família, uma característica da personalidade, uma distorção da natureza, quando na verdade deveríamos considerá-la uma verdadeira falha do caráter do homem. Em razão disso, na análise que faz do Amor, Paulo cita a tolerância. E a Bíblia, em muitas outras passagens, cita a intolerância como o elemento mais destruidor da nossa maneira de agir. O que mais me impressiona é que a intolerância, o preconceito, está sempre presente na vida de pessoas que se julgam virtuosas. Geralmente é a grande mancha numa personalidade que tinha tudo para ser gentil e nobre. Conhecemos muitas pessoas que são quase perfeitas mas que, de repente, acham que estão certas em alguma coisa e perdem a cabeça por causa disto. Esta suposta boa relação entre a virtude e a intolerância é um dos mais tristes problemas da raça humana e da sociedade. 

Na verdade, existem dois tipos de pecado: pecados do corpo e pecados do espírito: Em certa parábola do Novo Testamento, o Filho Pródigo abandona sua família e sai pelo mundo, enquanto o irmão mais velho fica junto ao pai. Depois de muitas desgraças, o Filho Pródigo resolve voltar, e o pai dá uma grande festa em sua homenagem. Ao saber disso, o irmão mais velho revolta-se contra o pai: "Não fiquei aqui ao seu lado este tempo todo, trabalhando, enquanto ele gastava sua herança?", pergunta. Podemos considerar que o Filho Pródigo comete o primeiro tipo de pecado, enquanto o irmão, o segundo. A sociedade, curiosamente, garante saber qual dos dois tipos de pecado é o pior, e sua condenação cai, sem sombra de dúvidas, sobre o Filho Pródigo. Mas será que estamos certos? Não temos nenhuma balança para pesar o pecado dos outros, e "melhor" ou "pior" são apenas duas palavras do vocabulário. Mas eu vos digo: faltas mais sofisticadas podem ser muito mais graves do que as simples e óbvias. Aos olhos Daquele que é Amor, um pecado contra o Amor é cem vezes pior. Não existe nenhum vício, ou desejo, ou avareza, ou luxúria, ou embriaguez que seja pior que um temperamento intolerante. 

Por tornar a vida amarga, por destruir comunidades, por acabar com muitas relações, por devastar lares, por sacudir homens e mulheres de suas bases, por tirar toda a exuberância da juventude, por seu poder gratuito de produzir miséria, a intolerância não tem concorrentes. Olhamos para o irmão mais velho, correto, trabalhador, paciente, responsável. Vamos dar a ele todo o crédito de suas virtudes, olhemos para este rapaz, para esta criança que agora se encontra na porta da casa, diante de seu pai. "Ele se indignou", nós lemos, "e não queria entrar". Como a atitude do irmão deve ter afetado o Filho Pródigo! E quantos filhos pródigos são mantidos fora do Reino de Deus por causa destas pessoas sem amor, que garantem estar do lado de dentro! 

Como devia estar o rosto do irmão mais velho ao dizer aquelas palavras? Coberto por uma nuvem de ciúme, raiva, orgulho, crueldade, certeza de que havia agido sempre direito. Determinação, ressentimento, falta de caridade. São esses os ingredientes dessa alma escura e sem Amor. São esses os ingredientes da intolerância e do preconceito. 

E todos nós, que já sofremos este tipo de pressão muitas vezes na vida, sabemos que estes pecados são muito mais destruidores do que os pecados do corpo. Não falou o próprio Cristo a este respeito, quando disse que as prostitutas e os pecadores entrariam no Reino dos Céus, na frente dos sábios escribas de sua época? Não existe lugar Reino para os preconceituosos e os intolerantes. Um homem preconceituoso conseguiria tornar o Paraíso insuportável para si e para os outros. Se o intolerante não nascer de novo, deixando de lado tudo aquilo que julga intocável e certo, ele não pode, simplesmente não pode, entrar no Reino dos Céus. Porque, para entrar no Reino dos Céus, o homem precisa carregar o Paraíso em sua alma. 

Reparem! Enquanto falava, eu me exasperei. E uma bolha da intolerância subiu, mostrando algo podre lá no fundo. Este é um grande teste para o Amor: saber que por mais que tentemos, não conseguimos quase nunca a paz necessária para que o Amor floresça. Vejam como as partes mais ocultas da alma aparecem quando baixamos a guarda. E de repente, pregando a generosidade, a humildade, a paciência, a cortesia, a entrega, me exaltei. Cometi o vício de quem fala em virtude: a intolerância manifestou-se. Vemos que não basta apenas falar de preconceitos ou lidar com eles. Temos que ir até onde eles se escondem, mudar o que há de mais íntimo em nossa própria natureza. Só assim os sentimentos de raiva morrerão por si mesmos. E nossas almas serão mais suaves, não porque colocaram a agressividade para fora, mas porque colocaram o Amor para dentro. 

Deus é Amor. Um amor que, ao nos penetrar, suaviza, purifica, e a tudo transforma. Afasta o que está errado, renova, regenera, reconstrói o interior do homem. O poder da vontade não transforma o homem. O tempo não transforma o homem. O Amor transforma. Portanto, deixem o Amor entrar. Lembrem-se: isto é uma questão de vida ou de morte. De nada adianta eu estar aqui falando sobre o Amor se sou incapaz de despertá-lo. “Melhor seria que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra, de moinho e fosse atirado ao mar do que fazer tropeçar a um destes pequeninos.” Ou seja: melhor não viver que não amar. Melhor não viver do que não amar. 


8 e 9) O Amor é Inocência e Sinceridade:

Vamos falar pouco de inocência e sinceridade. As pessoas que mais nos influenciam, mais nos tocam, são aquelas que acreditam no que dizemos. Num ambiente de mútua suspeita, as pessoas se retraem. Diante da inocência, porém, todos nós crescemos. Encontramos coragem e amizade junto de quem acredita em nós. Quem nos entende, pode nos transformar. É muito bom saber que, aqui e ali, ainda existem certas pessoas que não ficam ressentidas com o mal porque sabem a importância do bem que estão fazendo. Estas pessoas cresceram aos olhos dos homens e de Deus. Não temem a inveja ou a indiferença. Porque o Amor "não se ressente do mal", vê sempre o lado bom, coloca o melhor de si para funcionar. 

E, de novo, quem ama é quem sai ganhando, embora não procure nenhuma recompensa. Que maravilhosa é a vida daqueles que estão sempre na luz! Que estímulo, que bênção, passar um dia inteiro sem ressentir-se com qualquer mal. Fazer com que as pessoas confiem em nós é estar muito perto do Amor. E só vamos conseguir isto se confiarmos nas pessoas. O pouco que os outros podem nos ferir por causa da nossa atitude inocente, não significa nada perto da alegria que vamos passar e sentir diante da vida. Não será mais necessário carregar pesadas armaduras, incômodos escudos, armas perigosas. A inocência nos protege. Só podemos ajudar alguém, se nele confiarmos. Pois o respeito pelos outros termina fazendo com que recuperemos o respeito por nós mesmos. Se acreditamos que uma pessoa pode melhorar, e esta pessoa sente que a consideramos igual a nós mesmos, terá ouvidos para nossas palavras. Acreditará que pode se tornar uma pessoa melhor. 

"O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade." Chamei esse ingrediente de sinceridade.

Aquele que sabe amar ama a Verdade tanto quanto o seu próximo. Alegra-se com a Verdade, mas não com a verdade que lhe foi ensinada. Não com a verdade das doutrinas. Nem com a verdade das igrejas. Nem com este ou aquele "ismo". Ele se alegra na Verdade. Busca a Verdade com uma mente limpa, humilde, e sem preconceitos ou intolerância, e acaba ficando satisfeito com o que encontra. Talvez a palavra sinceridade não seja a melhor para explicar esta qualidade do Amor, mas não consigo encontrar nenhuma outra. Não estou falando da sinceridade que humilha o próximo, aquela que usa o erro dos outros para mostrar o quanto somos bons. O verdadeiro Amor não consiste em expor aos outros a sua fraqueza, mas aceitar tudo, alegrar-se ao ver que as coisas são melhores do que os outros disseram.

Continua... 


domingo, março 12, 2017

O Dom Supremo - 3/7


O DOM SUPREMO
(Henry Drummond) 


1) O Amor é Paciência. 

Este é o comportamento normal do Amor: esperar com calma, sem pressa, sabendo que em determinado momento ele poderá se manifestar. Está pronto para fazer seu trabalho agora, mas aguarda com calma e mansidão a hora certa. O Amor é Paciente. Aguenta tudo. Acredita em tudo. Tudo espera. Porque o Amor é capaz de entender. 


2) O Amor é Bondade. 

Já repararam que Cristo utilizou grande parte de seu tempo no mundo sendo bom para os outros, deixando os outros contentes? Utilizou grande parte do pouco tempo que tinha na Terra para fazer feliz seus contemporâneos? Procure olhar por esse ângulo, e notará que, embora Cristo tivesse muito o que fazer, não se esqueceu de ser carinhoso para com o próximo. Existe apenas uma coisa mais importante que a felicidade: a santidade. Mas a santidade não está ao nosso alcance produzir, pois não podemos ser santos com as próprias mãos, já que é Deus quem produz em nós a santidade. Porém, está ao nosso alcance fazer os outros felizes. Deus colocou isso em nossas mãos, e não nos custa quase nada. Se olharmos com cuidado, verificaremos que não nos custa absolutamente nada. Mesmo assim, por que relutamos em alegrar nosso próximo? A felicidade não é um bem que se multiplica em cativeiro, nem é nada que diminui quando se dá. Ao contrário, somente semeando felicidade é que conseguimos aumentar nossa cota. “A coisa mais importante que podemos fazer por um pai”, disse alguém certa vez , “é ser amável com seus filhos”. Como o mundo precisa disso! E como é fácil ser amável. O efeito é imediato, e seu autor é lembrado para sempre. E a recompensa é abundante, pois não existe dívida mais honrada que a dívida do Amor. O amor nunca falha. O Amor é a verdadeira energia da Vida. 

Como diz Browning: “pois a Vida, com todos os seus momentos, de alegria e de tristeza, de esperança e de medo, é apenas a chance para aprender o Amor: como o Amor pode ser, como foi e como é.” Onde existe Amor, existe o ser humano, e existe Deus. Aquele que se alegra no Amor, se alegra com o ser humano e se alegra com Deus. Deus é Amor. Portanto: AME! Sem distinção, sem hora marcada, sem adiamentos, sem medo de sofrer: AME! Derrame generosamente seu amor sobre os pobres, o que é fácil; e sobre os ricos, que desconfiam de todos e não conseguem enxergar o Amor de que tanto necessitam; e sobre seus semelhantes, o que é muito difícil. É com nossos semelhantes que somos mais egoístas. Muitas vezes tentamos agradar, mas o que precisamos fazer é dar alegria. Dê alegria. Jamais perca uma oportunidade de dar alegria ao próximo, porque você será o primeiro a se beneficiar disso, mesmo que ninguém saiba o que você está fazendo. O mundo à sua volta ficará mais contente, e as coisas serão muito mais fáceis para você.

Eu estou neste mundo, vivendo o presente. Qualquer coisa boa que eu possa fazer, ou qualquer alegria que eu puder dar aos outros, por favor, digam-me. Não me deixem adiar ou esquecer, pois jamais tornarei a viver este momento novamente. 


3) O Amor é Generosidade. 

"O amor não arde em ciúmes". O Amor não inveja. "Arder em ciúmes" significa: amar competindo com o amor dos outros. Deixe que os outros amem. E procure amar mais ainda. Dê a sua parte, dê o melhor de si. Sempre que você quiser praticar uma boa ação, encontrará pessoas que fazem a mesma coisa, às vezes de uma maneira muito melhor que a sua. Não os inveje. A inveja é um sentimento dirigido àqueles que estão ao nosso lado, geralmente tentando destruir o que há de melhor nesta pessoa. A inveja é o sentimento mais desprezível que um homem pode ter. Está sempre esperando para arrasar o que os outros fazem, mesmo que seja o melhor para nós. E a única maneira de escapar à inveja é concentrando forças no Amor. Apenas uma coisa temos que invejar: a grande, rica e generosa alma daqueles que conhecem um Amor que “não arde em ciúmes”. 


4) O Amor é Humildade.

E então, depois de aprender tudo isso, temos que aprender mais uma coisa: humildade. Colocar um selo em nossos lábios, e esquecer nossa paciência, nossa bondade, nossa generosidade. Depois que o Amor penetrou em nossas vidas, e realizou seu belo trabalho, devemos ficar quietos e não dizer nada. O Amor se esconde, inclusive, de si mesmo. O Amor evita a auto-promoção. O Amor “não se ufana, nem se ensoberbece”. 


5) O Amor é Delicadeza.

O quinto ingrediente é algo que pode parecer estranho e inútil neste Arco-íris do Amor: delicadeza. Esse é o amor entre os homens, o amor na sociedade. Muitas pessoas costumam dizer que delicadeza é um sentimento supérfluo. Não é verdade: delicadeza é o Amor manifesto nas pequenas coisas. O Amor não consegue ser agressivo ou inconveniente, não consegue comportar-se de maneira errada. Você pode ser a pessoa mais tímida do mundo, mais despreparada para lidar com o próximo, mas, se tiver um reservatório de amor em seu coração, sempre agirá da maneira certa. 
                              
Carlyle dizia: “Robert Burns é mais nobre que toda a nobreza da Inglaterra, porque consegue amar tudo: o rato, a margarida, todas as coisas grandes e pequenas que Deus fez. Assim, com este passaporte, Burns podia conversar com qualquer pessoa, visitar palácios e dormir em cabanas.” Você sabe o que quer dizer "nobre". Significa alguém que age de maneira digna. Este é o mistério do Amor. Quem possui Amor em seu coração, não pode agir grosseiramente, ao passo que o falso nobre, aquele que é apenas esnobe, está preso a seus sentimentos rudes e mesquinhos, e não consegue amar. "O Amor não se conduz inconvenientemente". 


6) O Amor é Entrega.

O Amor não procura seus interesses, não busca a si mesmo. O Amor não busca sequer aquilo que é seu. Na Inglaterra, como em muitos outros países, os homens procuram lutar, e com toda razão, pelos seus direitos. Mas há momentos, momentos muito especiais, em que podemos inclusive abrir mão desses direitos. Paulo, porém, não nos exige isto. Porque ele sabe que o Amor é algo tão profundo que quem ama ignora qualquer recompensa. Ama-se porque o Amor é o Dom Supremo, e não porque ele nos dá algo em troca. Não é difícil abrir mão de nossos direitos. Afinal de contas, eles são coisas fora de nós, ligadas à nossa relação com a sociedade. O que é difícil é abrir mão de nós mesmos. Mais difícil ainda é não procurar alguma recompensa para nós mesmos quando amamos. Geralmente procuramos, compramos, conquistamos, merecemos, atingimos o melhor e podemos, num gesto nobre, abrir mão da recompensa. Mas eu falo de não buscar. Id opus est. Esta é a obra. 

O Amor basta a si mesmo. "Você procura grandes coisas em sua vida?", pergunta o profeta. "Não as procure." Por quê? “Porque não existe grandeza nas coisas.” As coisas não podem ser maiores do que elas mesmas. A única grandeza que existe é na entrega proporcionada pelo Amor. Sei que é muito difícil abrir mão de uma recompensa. Mas é muito mais difícil não buscar uma recompensa naquilo que fazemos. Não, não devo falar desta maneira. Na verdade, nada é difícil para o Amor. Acredito realmente que o fardo do Amor seja suave. O "fardo" é apenas Sua maneira de viver a vida. E, tenho certeza, é também a maneira mais fácil de viver. Porque o Amor que não busca recompensas é capaz de preencher cada minuto da existência com sua luz.

A lição mais presente em todos os ensinamentos espirituais nos diz: “não existe felicidade em ter e receber; apenas em dar”. Repito: não existe felicidade em ter e receber. Apenas em dar. Quase todo mundo, neste momento, está seguindo uma pista falsa para chegar até a casa da Felicidade. Pensa-se muito em ter e receber, em exibir, em conquistar, em ser servido um dia pelos outros. Isso é o que a maior parte das pessoas chama de realização. Realização, entretanto, é dar e servir. "Aquele que quiser ser maior entre todos vocês", disse Cristo, "que sirva a seu próximo". Quem quiser ser feliz deve colocar no Amor o seu encontro com a vida. O resto não tem importância.

Continua...

sexta-feira, março 10, 2017

O Dom Supremo - 2/7


O DOM SUPREMO
(Henry Drummond) 

Paulo começa por comparar o Amor com outras coisas que, em seu tempo, tinham muito valor para os homens. Ele compara com a eloquência; um dom nobre, capaz de tocar os corações e mentes dos seres humanos, e estimulá-los a realizar aventuras que vão além dos limites. Paulo se refere aos grandes pregadores e diz: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos se não tiver amor, serei como o bronze que soa; ou como o címbalo que retine.” E todos nós sabemos por quê. Muitas vezes escutamos o que pareciam ser grandes idéias de transformação do mundo. Mas são palavras ditas sem emoção, vazias de Amor, elas não nos tocam, por mais lógicas e inteligentes que pareçam ser.

Paulo compara o Amor com a Profecia. Compara com os Mistérios. Compara com a Fé. Compara com a Solidariedade. Por que o Amor é mais importante que a Fé? Porque a Fé é apenas uma estrada que nos conduz até o Amor Maior. Por que o Amor é mais importante que a Solidariedade? Porque a Solidariedade é apenas uma das manifestações do Amor. E o todo é sempre mais importante que a parte. Além disso, a Solidariedade é também apenas uma estrada, uma das muitas estradas que o Amor utiliza para fazer com que um homem se una a seu próximo. E existe, todos nós sabemos disto, um bocado de solidariedade sem Amor. É muito fácil jogar uma moeda para um pobre na rua. Geralmente é mais fácil fazer isto que deixar de fazê-lo. Deixamos de nos sentir culpados pelo cruel espetáculo da miséria. Que grande alívio, por apenas uma moeda! É barato para nós, e resolve o problema do mendigo. Entretanto, se realmente amássemos aquele pobre, nós faríamos muito mais por ele. Ou não faríamos nada. Não daríamos a moeda e, quem sabe, a nossa culpa por aquela miséria poderia despertar o verdadeiro Amor. 

Paulo então compara o Amor com o sacrifício e o martírio. E eu suplico àqueles que desejam, algum dia, trabalhar para o bem da Humanidade: jamais esqueçam que, mesmo que seus corpos sejam queimados em nome de Deus, se não tiverem Amor, não adianta nada. Nada! Vocês não podem dar nada mais importante do que o reflexo do Amor em suas vidas. Isto é a verdadeira linguagem universal, que nos permite falar chinês, ou os dialetos da Índia. Se algum dia vocês forem a estes lugares, a eloquência silenciosa do Amor fará com que sejam entendidos por todos. A mensagem de Fé de um homem está na maneira como vive sua vida, e não nas palavras que ele diz. 

Faz pouco tempo, estive no coração da África, perto dos Grandes Lagos. Ali, entrei em contato com homens e mulheres que se lembravam com carinho do único homem branco que conheceram: David Livingstone. E, ao seguir os passos dele pelo Continente Negro, o rosto das pessoas se iluminava quando me contavam sobre um doutor que por ali havia passado três anos antes. Eles não podiam compreender o que Livingstone dizia. Mas sentiam o Amor que estava presente em seu coração.

Carreguem este mesmo Amor com vocês, e o trabalho de suas vidas estará plenamente justificado. Vocês não podem possuir nada mais eloquente que isto, quando forem falar de Deus e do mundo espiritual. De nada adianta seguir adiante, levando relatos de milagres, testemunhos de Fé, belas orações. Se vocês tiverem tudo isto, e esquecerem o Amor, para nada servirá tanto esforço. Porque vocês podem conseguir tudo. Podem estar prontos para qualquer sacrifício. Mas se entregarem seus corpos para serem queimados, e não tiverem Amor, isto não significará nada para vocês nem para a causa de Deus.

Depois de comparar o Amor com tudo o que já vimos, Paulo, em três versos pequenos, faz uma surpreendente análise do que é este Dom Supremo. Ele nos diz que o Amor é uma coisa composta de muitas outras. Como a luz. Aprendemos na escola que, se pegarmos um prisma e fizermos com que um raio de sol o atravesse, este raio se divide em sete cores. As cores do arco-íris. Paulo, então, pega o Amor e faz com que atravesse o prisma de sua sensibilidade, dividindo-o nos seus elementos. Paulo nos mostra o Arco-íris do Amor, como o prisma atravessado por um raio nos mostra o Arco-íris da Luz. E quais são estes elementos? São virtudes das quais ouvimos falar todos os dias, virtudes que podemos praticar em qualquer momento de nossas vidas. São estas pequenas coisas, estas virtudes simples, que compõem o Dom Supremo. O Amor é composto de nove ingredientes.

1) Paciência: "O Amor é paciente";
2) Bondade: “é benigno"; 
3) Generosidade: “o Amor não arde em ciúmes”;
4) Humildade: "não se ufana nem se ensoberbece";
5) Delicadeza: "O amor não se conduz inconvenientemente"; 
6) Entrega: "não procura seus próprios interesses"; 
7) Tolerância: "não se exaspera";
8) Inocência/Pureza: "Não se ressente do mal”;
9) Sinceridade: "não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade";

Paciência. Bondade. Generosidade. Humildade. Delicadeza. Entrega. Tolerância. Inocência/Pureza. Sinceridade. Estas coisas compõem o Bem Supremo, estão na alma do homem que quer estar presente no mundo e próximo a Deus. Todos estes dons estão relacionados com a gente, com a nossa vida diária, com o hoje e com o amanhã. Com a Eternidade. Nós sempre escutamos falar muito do Amor a Deus. Mas Cristo nos fala do Amor ao homem. Nós buscamos a paz nos Céus. Cristo busca a paz na Terra. A Busca do Ser Humano para responder à sua principal pergunta ("a que devo dedicar minha existência?") não é uma coisa estranha ou imposta. Ela está presente em todas as civilizações, mesmo que estas não se comuniquem. Porque nasceu junto com o homem, e reflete o sopro do Espírito Eterno neste mundo.

O Dom Supremo também reflete este sopro. Não é apenas um Dom em si, mas a soma de várias atitudes e palavras de nosso dia a dia.

Continua...

quarta-feira, março 08, 2017

O Dom Supremo - 1/7

O DOM SUPREMO
(Henry Drummond) 


No final do século passado, numa tarde fria de primavera, um grupo de homens e mulheres se reuniu para escutar o mais famoso pregador daquela época. Eram pessoas vindas de diversos lugares da Inglaterra, ansiosas para ouvir o que o homem tinha a dizer.

Mas o pregador, depois de oito meses percorrendo diversos países do mundo num cansativo trabalho de evangelização, sentia-se vazio. Olhou a pequena platéia, ensaiou algumas frases, e terminou por desistir. O Espírito de Deus não o havia tocado naquela tarde.

Triste, sem saber o que fazer, virou-se para um jovem missionário que estava entre os presentes. O rapaz havia regressado da Africa há pouco tempo, e talvez tivesse alguma coisa interessante para dizer. Pediu, então, que o rapaz o substituísse.

As pessoas reunidas naquele jardim em Kent ficaram um pouco desapontadas. Ninguém sabia quem era o jovem missionário. Na verdade, ele nem era um missionário; havia recusado sua ordenação como ministro, porque não estava seguro de que aquela fosse sua verdadeira vocação. Procurando uma razão para viver, procurando a si mesmo, o rapaz havia passado dois anos no interior da Africa, entusiasmado com o exemplo de pessoas que iam atrás de um ideal.

As pessoas no jardim em Kent não gostaram da troca. Tinham vindo por causa de um pregador experiente, sábio, famoso. E agora eram obrigadas a ouvir uma pessoa que, assim como elas, ainda lutava para encontrar a si mesma. Mas Henry Drummond (este era o nome do rapaz) havia aprendido algo. Henry pediu emprestada uma Bíblia de um dos presentes e leu um trecho da carta que Paulo escreveu aos coríntios:

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver Amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.  Ainda que eu tenha o dom da profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar montanhas, se não tiver Amor, nada serei.  E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que eu entregue meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver Amor, nada disso me aproveitará.  O Amor é paciente, é benigno, o Amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura seus próprios interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a Verdade.  Tudo sofre, em tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor jamais acaba.  Mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará. Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, o imperfeito será aniquilado. Quando eu era menino, falava como um menino, sentia como menino, discorria como menino. Quando cheguei a ser adulto, desisti das coisas próprias de menino. Porque agora vemos como em espelho, confusamente, e então veremos face a face; agora conheço em parte, e então conhecerei como sou conhecido. Agora, pois, permanecem a Fé, a Esperança, e o Amor. Estes três. Porém, o maior deles é o Amor.” (1 Cor 13, 1-13).

Todos escutaram em silêncio respeitoso. Mas estavam decepcionados. A maior parte já conhecia o trecho, e já havia meditado longamente sobre ele. O rapaz podia ter escolhido algo mais original, mais palpitante. Quando acabou de ler, Henry fechou a Bíblia, olhou para o céu, e começou a falar: 

Todos nós, em algum momento, já fizemos a mesma pergunta que todas as gerações fizeram: “qual é a coisa mais importante da nossa existência?”. Queremos empregar nossos dias da mesma maneira, pois ninguém mais pode viver pela gente. Então, precisamos saber: para onde devemos dirigir nossos esforços, qual o supremo objetivo a ser alcançado? 

Estamos acostumados a escutar que o tesouro mais importante do mundo espiritual é a Fé. Nesta simples palavra se apoiam muitos séculos de religião. Consideramos a Fé a coisa mais importante do mundo? Pois bem, estamos completamente errados. Se em algum momento acreditamos nisto, podemos deixar de acreditar. 

No capítulo que acabei de ler, fomos conduzidos aos primeiros tempos do Cristianismo. E, como vimos, "permanecem a Fé, a Esperança, e o Amor, estes três. Porém, o mais importante é o Amor". Não se trata de uma opinião superficial de Paulo, autor daquelas linhas. Afinal de contas, ele estava falando de Fé um momento antes. Ele dizia: "Ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver Amor, nada serei." Paulo não fugiu do assunto; pelo contrário, comparou a Fé com o Amor. E concluiu: “(...) o maior destes é o Amor”. Deve ter sido muito difícil para Paulo dizer isto. Um homem costuma recomendar aos outros aquilo que, nele, é o ponto forte. 

O Amor não era o ponto forte de Paulo. Um estudante com senso de observador irá notar que, à medida que envelhecia, o apóstolo tornava-se mais tolerante, mais terno. Mas a mão que escreveu "porém, o maior destes é o Amor", esteve muitas vezes manchada de sangue na juventude. Além disso, esta carta aos Coríntios não é o único documento a mostrar o Amor como o summum bonum, o Dom Supremo. Todas as obras-primas do Cristianismo concordam a este respeito. 

Pedro diz: "acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados". E João vai mais longe: "Deus é Amor". Podemos ler, também, em outro texto de Paulo: "o cumprimento da Lei é o Amor". Por que Paulo disse isto? Nessa época os homens procuravam chegar até o Paraíso cumprindo os Dez Mandamentos, e as centenas de outros dez mandamentos que eles haviam fabricado tendo como base as Tábuas da Lei. Cumprir a lei era tudo. Era mais importante, inclusive, que viver. Então Cristo disse: "Eu vou mostrar a vocês uma maneira mais simples de chegar ao Pai. Se vocês aprenderem isto, podem fazer centenas de outras coisas sem medo de ofender a Deus". Amor. Se vocês amarem, estão cumprindo a lei, mesmo que não tenham consciência disto. Podemos verificar por nós mesmos que este conselho funciona. 

Peguemos um mandamento qualquer: "Amar a Deus sobre todas as coisas." Eis o Amor. "Não tomar seu santo nome em vão". Ousaríamos falar superficialmente de alguém que amamos? “Guardar domingos e festas". Não ficamos muitas vezes ansiosos, esperando o dia de encontrar quem amamos para nos dedicarmos ao Amor? Então, se amamos Deus, o mesmo há de acontecer. O Amor exige que obedeçamos todas as leis de Deus.

Quando um homem ama, é desnecessário exigir que honre seu pai e sua mãe, ou que não mate. Para o homem que quer bem a seu próximo é uma ofensa exigir que não roube (como poderia roubar quem ama?). E seria supérfluo pedir que não levante falso testemunho, pois jamais faria isto, como também seria incapaz de desejar a pessoa que o outro ama.

Portanto, "o amor é o cumprimento da Lei". O Amor é a regra que resume todas as outras regras. O Amor é o mandamento que justifica todos os outros mandamentos. O Amor é o segredo da vida. Paulo terminou aprendendo isto, e nos deu, na carta que lemos agora, a melhor e mais importante descrição do summum bonum, o Dom Supremo.

Continua... 

segunda-feira, março 06, 2017

Iluminação nas diferentes culturas

- Sri Bhagavan - 


Questão: Cada cultura do mundo produziu as suas próprias variedades de sábios e santos e há uma confusão generalizada entre os buscadores quanto ao que é a iluminação e, se a iluminação é um único estado de consciência ou existem diferentes estados de consciência.

Resposta: Existem várias formas de falar sobre unidade ou iluminação.

Se você é um neurocientista, você diria que é o fechamento dos lobo parietais.

Se é um psicólogo, você diria que é a perda do sentido do Self.

Se você é um filósofo, você diria que o sentimento de separação desapareceu.

Um Místico diria que estaria experimentando a Realidade como ela é.

Uma pessoa Espiritual diria que estaria experimentando a Consciência da Unidade.

Com relação à próxima parte da questão, para saber se há um estado de consciência comum para a humanidade, não é bem assim. Há estados diferentes para pessoas diferentes.

Para algumas pessoas é como um gerador barulhento que chega a uma pausa. Há um imenso silêncio, um Silêncio sagrado, que não é o oposto do ruído, e então essa pessoa diria: - "Eu sou o Silêncio".

Outro poderia estar sendo uma testemunha absoluta, tal como testemunhar o pensamento e a Vida em geral.

Outros iriam repousar em um estado de tanto Amor e Compaixão que não haveria separação alguma.

Outra pessoa poderia experimentar o Amor sem causa e Alegria sem limites.

No entanto, outro iria experimentar a Consciência Cósmica.

Qualquer que seja a experiência, o denominador comum é o sofrimento pessoal. Os problemas ainda estariam lá, mas não iriam afetá-lo mais, porque não há nenhuma pessoa. Portanto, não pode haver sofrimento pessoal. No entanto, ainda assim, poderia sentir o sofrimento do mundo mas, lembre-se, tudo isso é uma conversa que não é muito útil, você tem que chegar lá e eu gostaria que você chegasse lá. "


quarta-feira, março 01, 2017

A Iluminação acontece pela Graça


- Sri AmmaBhagavan -


Pergunta – Bhagavan, qual a diferença entre seus ensinamentos e outros grandes ensinamentos?

Bhagavan – Basicamente, por exemplo, outros mestres dizem: “Seja consciente de sua mente. Torne-se a testemunha” e coisas assim. O que eu digo é: para o homem não é possível fazer isso. A maioria dos ensinamentos são impraticáveis. Se alguém tenta praticá-los pode desembocar em vários problemas que vocês não conhecem, como por exemplo enlouquecer. Poderia entrar em depressão, todo tipo de problema ocorreria. As pessoas poderiam suicidar-se. Muitas coisas com estas poderiam acontecer porque estes ensinamentos não podem ser praticados.

Por exemplo, eles falam em “Praticar a Consciência”. Isso é impossível de ser praticado. Mas meu argumento é que, ao discursarem sobre tais assuntos, eles estão apenas descrevendo este estado. Eles o obtiveram. E como obtiveram esse estado, é possível para eles serem conscientes e praticarem isso. Sem este estado, você não pode praticar as coisas que somente são possíveis de serem praticadas se primeiro houver a consciência dele.

Igualmente, se falamos de Ramana Maharish, ele primeiro teve a experiência da morte. Então a pergunta: “Quem sou eu?” fazia sentido para ele. Mas essa pergunta sem a experiência da morte, não tem sentido. Então, o meu ponto é: a maioria dos ensinamentos não servem. Eles lhe dão alguma clareza sobre a vida, mas você não os pode praticar porque precisa estar em um estado alterado de consciência. Mas, uma vez que você esteja em tal estado, tudo se torna muito natural.

Por exemplo, é muito natural para um homem ser ciumento, muito natural para um homem estar aborrecido. Então, se você fala para não ser ciumento, ou não estar aborrecido, deveria ser como um Budha ou um Cristo. Budha e Cristo possuem diferentes estados de consciência. Então, o divino lhe dá este estado. Uma vez que lhe é concedido este estado, então naturalmente você não terá ciúmes, não terá raiva, não terá frustrações, e terá amor e êxtase. Mas você não pode tentar obter amor, porque o amor do qual estamos falando aqui é amor incondicional. Não importa o quanto tente, você não pode alcançar este estado. Você está cheio de ciúmes, e através do esforço não pode alcançar a ausência de ciúmes. A partir do ciúme, o único lugar a que pode chegar é o ciúme. Portanto, não importa o que faça - você está preso. Essa coisa toda não é um processo psicológico. É um processo biológico. Todo este assunto não é um processo psicológico. É um processo biológico.

Basicamente, o que faço é trabalhar no cérebro humano para ativar este poder místico. E, de fato, tão pouco preciso trabalhar diretamente. Estes Dasas (Guias), que já estão iluminados, estão sintonizados comigo. Fazemos este processo diariamente. Eu transfiro poder a eles e eles vão e os tocam. Então, quando eles os tocam, seus cérebros sofrem uma transformação. É por isso que Ramana Maharishi está neste estado. Jiddu Krishnamurti está neste estado porque seu cérebro passou por este processo. Um Budha é um Budha porque seu cérebro passou por isso. Então, a menos que seus cérebros sejam afetdos por este processo, não poderão ser um Ramana Maharishi, não poderão ser um Jiddu Krishnamurthi. Não podem ser nada. Então, o que eu estou lhes dizendo é que todos os ensinamentos são inúteis. Tudo o que eles podem fazer é torna-los um buscador. Eles (os ensinamentos) estão descrevendo Bombaim, e você começa a procurar Bombaim. E você sabe que não há via terrestre através da qual possa chegar a Bombaim pelo coração.

O que está envolvido aqui é a Neuro-Biologia. Então, lhes entregamos o que se chama Deeksha. A Deeksha é uma transferência de poder para certas partes do cérebro. Então certas partes são ativada e outras partes desativadas e você pode alcançar qualquer estado espiritual que esteja buscando. Pode ser o estado Crístico, pode ser o estado Islâmico, ou pode ser o estado Budista, ou estado Taoista. Cada um destes estados dependem de uma atividade particular no cérebro.

Por isso sou de todas as fés no movimento, nós, os cristãos, os mulçumanos. Assim, qualquer estado que você queira eu posso dar a você. Todo meu ensinamento é: ESTE ESTADO TEM QUE SER ENTREGUE.