"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

domingo, abril 29, 2012

"Vós sois a luz do mundo"

 Dárcio Dezolt


Imagine a cena: Jesus diante da multidão, sendo por ele vista como a "Luz de Deus” em cada indivíduo, revelando com clareza: “Sois a Luz do mundo!”. Aquela era a Verdade sobre cada ouvinte; e era a Verdade dita por ele a cada coração! Que deveria fazer cada ouvinte, ao  escutar a Verdade sobre si mesmo? Deveria fazer da informação uma definição definitiva de seu próprio Ser como sendo “Luz do mundo”, sem jamais voltar a se julgar um mero ser humano sob crenças falsas!

Podemos imaginar também o que deve ter passado pela mente de cada um daqueles ouvintes: “Eu, Luz do mundo?, Onde está esta Luz? Um pecador como eu poderia ser Luz do mundo? Se sou Luz do mundo, como posso ter tantos problemas?”, etc.. Entretanto, Jesus expunha o que via; e, o que via, era DEUS sendo TUDO!

A aceitação da Verdade não depende de avaliações da suposta “mente humana”. Trata-se de uma aceitação espontânea, natural, que transcende esta mente ilusória! Trata-se de uma aceitação chamada por Jesus, de “coração de criança”. A Verdade É! E VOCÊ É A LUZ DO MUNDO! Contar com aceitação ou rejeição da mente humana em nada altera o fato! Em vista disso, você tem duas opções: viver agora sem mais se julgar pela carne, irradiando a Luz da Verdade “pelos poros”, como fala a Ciência Cristã, ou permanecer na cegueira mental coletiva, com suas conhecidas frases baseadas na ILUSÃO! Algumas delas? “Um dia eu chegarei lá!”, “Quando eu tiver bastante tempo para meditar, eu irei desintegrar a ilusão”, “Se não tivesse vivido tanto tempo condicionado por falsas crenças, eu poderia aceitar de imediato que sou Luz do mundo”…

Não é à toa que há registrado na Bíblia que “a mente carnal é a inimizade contra Deus”. Se VOCÊ deixá-la de lado, assumindo “ter a Mente de Cristo”, estará irradiando a SUA LUZ, sem dar brecha às mentiras criadas sobre seu Ser. Irradiar a Luz é SER A LUZ! SER A VERDADE! SER DEUS! “SOIS A LUZ DO MUNDO!”


quinta-feira, abril 26, 2012

"Deus é tudo" importa que "ilusão é nada"

   Dárcio Dezolt


O modo de atuação da mente humana consiste em lançar sobre nós, como se fosse verdade, uma avalanche de crenças falsas na forma de “imagens hipnóticas”. Se acreditarmos em tais imagens, elas receberão o endosso e poder que lhe dermos; por outro lado, se desviarmos nossa atenção para Deus, para o Reino de Deus, para a Verdade eterna e perfeita, estas imagens tenderão a se amoldar ao “padrão divino”, onde nem bem nem mal existem, mas, existe unicamente o constante estado de perfeição.

O cuidado que devemos tomar é mantermos a nossa permanência em Deus, sejam quais forem as supostas imperfeições, os supostos conflitos ou problemas. Mesmo que estas imagens se mostrem insistentes, jamais dê poder a elas por reconhecer esta insistência aparente. Contemple Deus como TUDO e, olhando as “imagens hipnóticas” à sua frente, tire delas o poder de serem reais e também insistentes, usando pensamentos do seguinte tipo: “De nada adianta esta imagem tentar forçar-me a crer ser ela real; além de irreal, ela não tem poder algum para insistir em manter sua presença diante de mim como se fosse realidade. Deus é TUDO; portanto, unicamente a PERFEIÇÃO DIVINA está presente em todo o Universo, inclusive onde esta 'imagem hipnótica' aparenta estar."

Esse tipo de  Autotratamento é bastante útil, quando associado com as “contemplações absolutas da Verdade”, feitas através da “Prática do Silêncio”.

Viver a Verdade é viver Realidade espiritual onipresente, consciente de que “Em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser” (Atos 17:28). E esta vivência é nossa permanência eterna na Onipresença, o que exclui toda suposta “existência mortal ou material”, chamada, em vista disso, de ILUSÃO DE MASSA.

Contudo, acreditar que “algo além de Deus” é ILUSÃO DE MASSA é acreditar em “ilusão de massa”, ou seja, se a mente se deixar prender a esta dualidade, sem entender que IRREALIDADE É NADA, as crenças falsas aparentarão estar em vigor e operando sobre cada um, sendo apenas batizadas de “ILUSÃO DE MASSA”. 

Quando é dito que DEUS É TUDO, e que o nosso “ponto de partida” é estarmos identificados com esta totalidade, o que precisa ser entendido, é que TUDO É REALIDADE INFINITA, ESPIRITUAL PERFEITA, e que todas as supostas “imagens hipnóticas”, que aparentam existir, não existem! São irrealidades! São “nada!”

Joel S. Goldsmith fez a seguinte colocação: "Sabem por que demoramos tanto para nos livrar dos males, discórdias e demais condições materiais? O motivo é devido inteiramente à nossa falta de habilidade em captar a grandiosa revelação de que não há realidade na ilusão".

Partir da TOTALIDADE da Realidade significa partir da NULIDADE da irrealidade. Medite! As contemplações da Verdade são simplesmente cada um ser Deus, cada um se discernir sendo a Verdade absoluta, reconhecendo: “Não há outro ao lado de Mim”. Quando a “mente” que supostamente "vê" ILUSÃO DE MASSA é descartada, pela admissão livre, suave, espontânea e radical  de que “Temos a Mente de Cristo”, a palavra “ilusão” sumirá em sua nulidade. Ocupe-se, portanto, em “ter a mente de Cristo”, e a discernir unicamente o que esta Mente, que é divina, aceita como Fato real.

DEUS E HOMEM SÃO UM! Inquebrantavelmente UM! A revelação da Verdade está fundamentada unicamente nesta UNIDADE: "Dei-lhes a glória para serem um, como nós, ó Pai, somos um - perfeitos em UNIDADE" (João 17: 22). Quando Jesus diz que "deu-nos a glória de ser um com Deus", está, de fato,  "revelando-nos" uma Verdade permanente! Exatamente AGORA, Deus e VOCÊ são um! Jamais a suposta "mente humana" enxergará esta UNIDADE, que é discernida apenas ESPIRITUALMENTE! E é Fato PRESENTE!

Deus mantém o Universo infinito sendo TUDO! E Deus mantém VOCÊ, que é o CRISTO, em SI MESMO! DEUS MANTÉM O CRISTO SENDO VOCÊ! Em vista disso, suas "contemplações da Verdade" são sem esforço e atemporais! AGORA, NESTE EXATO AGORA,  DEUS O MANTÉM SENDO UNICAMENTE O CRISTO! Não existe "matéria" e não existe "ser nascido de pai na Terra": DEUS É TUDO! Livre-se da dualidade e, com "coração de menino", reconheça esta Verdade, que é a própria Verdade sendo VOCÊ!


segunda-feira, abril 23, 2012

Compreendendo a natureza do problema como SUGESTÃO HIPNÓTICA ou APARÊNCIA


Lorraine Sinkler


Mesmo com dedicada prática, talvez não tenhamos atingido a união consciente com a Fonte de nosso ser. Um motivo deve haver, e este é o seguinte: estamos diante de Deus e do problema. Estamos, no fundo, tentando ver se Deus já atuou no caso. Apesar de muitos se acharem avançados demais para cair numa armadilha como esta, o fato é que acabam esperando que alguma situação desagradável comece a melhorar.

Isto nos leva ao mais importante dos princípios de cura. Devido à infinidade e bondade de Deus, a natureza do problema deve ser uma “aparência”, uma "sugestão", uma "crença hipnótica", uma errônea compreensão a respeito da bondade eterna de Deus.

Há vários tipos de aparências. Uma delas é a que nos faz pensar que estamos parados, embora a Terra esteja girando velozmente em torno de seu eixo. Uma aparência não traduz o que verdadeiramente É. Na cura espiritual, o problema deve ser entendido como uma aparência ou sugestão, e uma sugestão jamais faz a coisa ser real. Qualquer palavra que nos dê ideia de que o problema é inexistência passa a ser valiosa. A palavra “tentação” pode servir para descrever a crença universal de que possamos estar separados de Deus, com vida própria, e que possa existir algo que nos cause dor e sofrimento. Na verdade, há somente uma Substância, uma Vida, um Ser. A tentação que nos chega, é no sentido de nos fazer crer na existência de algo além de Deus no centro de nosso ser, o próprio EU que nós somos.

Jesus assim reagia às sugestões que lhe vinham: “Afasta-te, Satanás!”, ou seja, “afaste-se, tentação! Nada me levará a crer na existência de algum poder ou vida ao lado do Uno!”.

“Hipnotismo” é outra palavra útil. O hipnotismo jamais cria algo real. Suponha que eu fosse hipnotizado para acreditar que um tigre estivesse entrando na sala. Que faria? Provavelmente sairia correndo o mais rápido possível! E aqueles não hipnotizados iriam dizer: “Que deu nele?” O fato de estar hipnotizado para ver um tigre não criaria um deles no local. O hipnotismo apenas criaria uma impressão, uma sugestão de algo que não existe realmente.

Como seres humanos, estamos hipnotizados pela crença no bem e no mal, atuando sob a hipnose do mundo das aparências. Entretanto, tudo o que vemos tem por substância o hipnotismo, mero conceito ou imagem mental, que apenas tem “substância” na mente.

A mente que aceita dois poderes é chamada de mente carnal, ou mente humana universal. Já a mente preenchida pela Verdade é clara transparência para o Universo espiritual, revelando o Corpo espiritual na plenitude de sua perfeição e o Universo em sua essência espiritual. A mente carnal constantemente julga e avalia em termos de quadros ou imagens mentais e nunca em termos de Realidade. Ela reconhece somente um conceito do Universo e do Corpo espiritual perfeitos, que jamais necessitam de melhorias ou de curas.

Já somos o SER PERFEITO que não necessita de cura. Basta afastarmos o que esconde esta perfeição, para que a chamada “cura” apareça. Mas ela não se dará enquanto estivermos acreditando que teremos de modificar alguma coisa. Cabe a nós perceber aquilo como “aparência”, que dispensa qualquer modificação, bastando-nos olhar além dela.

Para isso, devemos eliminar as crenças que nublam a mente, nutrindo-a com a Verdade, com a sabedoria e leituras espirituais. Os conceitos passam a ruir, a mente se torna bem transparente e o Verbo flui do interior para “se tornar carne” em nossa vida.

O corpo que vemos é uma formação mental; não é corpo sólido de carne e osso, mas uma formação mental de conceitos. Exatamente onde aparenta estar um corpo físico, existe o Corpo espiritual. O conceito material de corpo é um quadro na mente, o que explica porque nunca estamos lidando com condições físicas. O que aparece como condição física é, de fato, formação mental: um quadro que se apaga pela transformação de nossa mente.

Frente a uma suposta doença mortal, não é fácil serenarmos a mente para atingirmos a paz na meditação. Porém, assim que for reconhecido que aquilo é uma imagem mental, formada mentalmente, tendo em vista que “matéria é formação da mente”, tornamo-nos aptos a permanecer sentados para discernir a presença real do Universo e do Corpo espirituais, exatamente aqui e agora.

Podemos desenvolver um estado de consciência em que ficamos imunes a todos os males do mundo. Contudo, isto só nos será possível da seguinte forma: vendo os problemas pelo que realmente são. Que são eles? São a “mente carnal”, imagens mentais que desfilam diante de nós. Há somente uma “mente carnal”, razão pela qual todos vemos coletivamente o mesmo quadro. A Unidade é um princípio que jamais pode ser esquecido. Existe uma só Consciência; e, na realidade, existe apenas uma mente, que atua como instrumento da Consciência única. Na crença, contudo, há a aceitação de dois poderes, e esta crença no bem e no mal é o que constitui a chamada “mente carnal”.

Sempre é importante lembrar que estamos diante de simples quadros mentais. A mente gera quadros que aparentam ser matéria sólida; entretanto, jamais estes quadros chegam a alterar a Realidade ali presente. Se as montanhas estiverem encobertas por nuvens, poderiam estas nuvens modificá-las? Jamais! Nuvens, miragens, hipnotismo, ou “mente carnal” – com suas crenças no bem e no mal – nunca chegam a modificar o mínimo que seja da Realidade, por mais que, para nós, estas nuvens, a miragem, ou o hipnotismo, aparentem fortemente ser reais. E continuarão aparentando ser reais enquanto permanecermos no patamar da mente ou da matéria.

Somente quando elevamos nossa consciência ao ponto em que a mente se torna um espelho perfeito é que veremos a Realidade que não necessita de cura. O que vemos com a mente não iluminada é uma percepção equivocada da Realidade divina, a que podemos chamar de “mente carnal”, aparência, sugestão, tentação ou hipnotismo.

Há uma grande diferença entre acreditar que algo seja real e aquilo ser real de fato. O hipnotismo jamais cria alguma coisa ou condição. Eis por que se torna importante que rapidamente, diante de um problema, seja reconhecido que sua única “substância” é hipnotismo ou aparência. Devido ao hipnotismo universal, acabamos aceitando a crença em doença. Não sejamos, contudo, tolos a ponto de acreditar que o hipnotismo cria mesmo uma doença! Não cria! Repito: o hipnotismo jamais cria alguma coisa; ele somente gera uma "crença" de que aquilo existe. Jamais o hipnotismo modifica o Universo espiritual e a criação espiritual (Realidade). Nunca ele modifica a Unidade; nunca ele cria uma dualidade.

Alcançaremos um estágio em que deixaremos de pensar em tratar uma condição ou o corpo de alguém. Instantaneamente reconheceremos ser aquilo a “mente carnal”, aparência ou hipnotismo. Quando cessa o hipnotismo, cessa também todo o conceito material de mundo –este conceito de mundo material ou de corpo físico é dissipado.

Nunca tratamos de uma condição: tratamos de um hipnotismo. O hipnotismo é a “substância” do problema. Conscientes disso, ficamos repousados na percepção de que jamais o hipnotismo cria coisa alguma. Nosso trabalho é reconhecer que, como Deus, o Ser infinito, está aparecendo como Ser individual, não existe pessoa passível de ser hipnotizada, e esta Verdade inclui o nosso Ser. Assim, eu não posso ser hipnotizado; não existe mente que acredite em dois poderes: a mente única que existe, é instrumento puro de Deus.

Um motivo pelo qual muitos fracassam na cura é que tentam mudar uma condição, como se ela fosse real, em vez de discernirem que ela é um falso conceito mental da Realidade ali presente. O hipnotismo é a “substância” de todos os males que afligem o mundo. É vitalmente importante lembrarmos que o hipnotismo não cria uma coisa, mas cria somente a tentação de nos fazer crer na existência de uma condição ou um poder além de Deus.

O mundo da Realidade divina está aqui e agora. A pessoa da Realidade divina está aqui e agora. O que vemos, com os sentidos humanos, é o mundo de conceitos, o mundo hipnótico. Não é ele, em absoluto, o mundo da criação de Deus. Se um quadro for visto através de vidro fosco, mostrar-se-á distorcido; porém, quando o vidro for transparente, a Harmonia divina sempre-existente conseguirá ser observada através dele. Para atingirmos a consciência deste princípio, precisamos de um treinamento para “ver através ou além da aparência”, lembrando sempre que não existe pessoa a ser mudada nem condição a ser modificada. Precisamos ser aquele que é não-hipnotizado. Uma pessoa não hipnotizada, firmada no princípio de que DEUS É TUDO, E NADA MAIS EXISTE, pode retirar um grupo de pessoas do hipnotismo.

Como poderia haver união consciente com Deus, quando a máscara da crença universal se interpõe entre Deus e você? Isto é possível através do reconhecimento de que este “mundo de aparências” é hipnotismo; assim, passamos a ver, através da máscara, o Coração do Universo do Espírito.

Somos um com o Pai, e nessa Unidade reconhecemos somente um Eu, uma Vida. Transcendendo o hipnotismo, observamos a glória do Universo de Deus.

Tudo que é conhecido pelos cinco sentidos físicos não passa de uma forma de hipnotismo. O real, o eterno, a criação divina, que é a própria expressão de Deus, somente pode ser conhecido através do discernimento espiritual. Quando nossos olhos se abrem para a Realidade divina, ficamos conscientes de que não há pessoas nem condições que necessitem de cura ou mudança.

Toda condição negativa é uma “tentação” para que aceitemos algum poder apartado do Poder de Deus. Cada problema é um ponto a nos fazer recordar que vivemos no Universo espiritual, perfeito e pleno. Se algo inferior estiver sendo reconhecido, significa que ficamos hipnotizados; e assim, temos por incumbência despertar, para vivermos constante e continuamente na atmosfera do amor, da paz e da plenitude do Reino interior.

Este trabalho contínuo de encararmos cada problema como hipnotismo, um “nada”, um “não-poder” ou “não-substância”, nos conduz à Consciência mística da Unidade, em que não existe “Deus e”, mas que existe somente Deus: Deus aparecendo como ser individual, e Deus aparecendo como Universo espiritual.

O Universo espiritual, feito da Substância do Espírito, formado pela Consciência e mantido pela Lei espiritual, está exatamente AQUI. Neste Universo espiritual não existe doença, não existe falta ou limitação, não existe infelicidade ou discórdia, nem tampouco ser algum para ser curado ou modificado. Há somente o Reino da Divina Harmonia e Paz, que a tudo permeia, sem distúrbio de qualquer natureza,

Aceitemos ou não, o fato é que estamos neste Universo espiritual neste instante. Não temos de ir a algum lugar para encontrá-Lo. Ele está exatamente aqui, onde nós estamos. Portanto, assim deve ser a nossa oração:

“Pai, que meus olhos sejam abertos, permitindo-me ver e contemplar este Universo espiritual! Revele-me a Sua Glória, aqui e agora. Não permita que eu tente modificar este Universo! Deixe-me somente contemplá-Lo”.


O Caminho espiritual não se reduz a meditações de dez ou vinte minutos, em que há o reconhecimento do único Poder e única Presença, enquanto saímos pelo mundo esquecidos dessa Unidade pelo resto do dia. Este Caminho é o do reconhecimento constante da Presença de Deus onde quer que estejamos, o que nos requer um estado de alerta a cada segundo.

Pela prática constante destes princípios, eles se tornarão parte de nossa consciência de tal forma, que jamais poderemos ser convencidos da existência de algum outro poder ao lado daquele Poder único.


sábado, abril 21, 2012

A Mente de Cristo desconhece ilusão

Dárcio Dezolt


O trabalho interior, de reconhecimento de que “temos a Mente de Cristo”, é a princípio um “autotratamento mental”, quando aceitamos as revelações de que as crenças no bem e no mal são meramente “sugestões hipnóticas”, sem realidade, substância e poder. Assim, durante a “Prática do Silêncio”, consideramos a ILUSÃO chamada “mundo material” realmente como o definiu Jesus: “o mundo do pai da mentira”.

As imagens “deste mundo” são integralmente ILUSÓRIAS! Não são, de fato, realidades “vistas”. Aparentemente, “este mundo” é visto ou reconhecido como “algo presente” pela suposta “mente humana”; O Fato real, entretanto, é que a Mente divina está ocupando a Onipresença na condição de discerni-La como TUDO! Por isso partimos da presença de Deus como TUDO, sem jamais levarmos em conta “aparências” que simulam existir, e que são simples “miragens” - puríssimo “nada”. Nós temos a Mente de Cristo; e esta Mente, que é divina, somente tem conhecimento e entendimento da Perfeição absoluta. Desse modo, ao “contemplarmos” a Verdade, mesmo que a princípio reconheçamos a natureza hipnótica do “mundo terreno” (e reconheçamos também a natureza hipnótica da “mente” que fez aquele reconhecimento), este chamado “autotratamento” é inteiramente mental e, portanto, faz parte da “sugestão hipnótica” tanto quanto “o mundo e as coisas do mundo”. Não há Deus algum reconhecendo que “este mundo” é ILUSÃO! Em outras palavras, a Mente de Cristo, que temos, jamais dá "autotratamentos”, jamais reconhece que “este mundo” é sugestão hipnótica, jamais é afetada pela ILUSÃO, e jamais tem conhecimento de algo além de Deus.

O “autotratamento” atua contra a ILUSÃO na própria ILUSÃO, enquanto que VOCÊ, que é DEUS SENDO VOCÊ, permanece na ONIPRESENÇA sem participar de nada disso: nem da ILUSÃO nem do suposto “desmantelamento” da ILUSÃO! A Mente de Cristo, que é a SUA, já é livre de ILUSÃO, sequer tem conhecimento desse fato, uma vez que unicamente sabe da Perfeição onipresente. E como a ILUSÃO somente aparenta existir, sendo “anulada” em si mesma, deixa de ser “sugestão hipnótica” para ser o que é: inexistência!

Em vista do que foi dito, VOCÊ É A MENTE DE CRISTO! Não é a “mente que medita”, “mente que desmantela a ilusão”, NEM TAMPOUCO A “MENTE” que discerne a ILUSÃO como “sugestão hipnótica”: VOCÊ É A MENTE QUE DEUS É! NADA MAIS!


quarta-feira, abril 18, 2012

O Segredo dos Segredos

Joel S. Goldsmith


Segredo dos Segredos é o seguinte: nunca tente curar matéria como matéria; nunca tente alterar pressão sanguínea, reduzir febre, etc. Praticista não é médico e nada tem a ver com curas do corpo. Pela Graça de Deus, tivemos a revelação de que este é um Universo espiritual, que somos inteiramente espirituais, que temos corpos espirituais perfeitos, e que é nossa função corrigir a crença de que o homem e o universo são materiais ou mortais. Jamais tratamos de uma pessoa ou de um corpo: nosso trabalho é impessoal e lida com a crença do mundo. Por isso é que não olhamos para o corpo tentando verificar se ele está saudável ou melhorando.

Assim que você compreender que há um Princípio que rege seu Universo, jamais voltará a crer na existência de doença, pecado ou guerra. Qualquer quadro diante dos sentidos deve ser entendido como ilusão. Um erro não pode ter forma objetiva. Assim, você na terá de lutar contra o erro, pecado ou discórdia. Bastará que fique sentado quietamente, declarando a Palavra da Verdade, encorajamento e fé, para demonstrar a inexistência da matéria, da doença, da morte. Ver-se-á livre da ansiedade e encontrará a liberdade em Deus. Não volte atrás para ver como estão indo as coisas! Elas estarão indo na direção certa, pouco importando o que você possa estar vendo ou ouvindo. 

Somos governados inteiramente por Deus. Pais humanos não fabricam corpo, cérebro ou mente para crianças! E o corpo não é criado por si; não tem ação própria. O poder, chamado Deus, Vida, Mente, Espírito, fez a Criação e a mantém e sustém. A mente do indivíduo, somente, produz efeito sobre o seu corpo. E a mente real do indivíduo é Deus.

Qualquer quadro mortal, presente temporariamente, deve ser desprezado, até Deus lhe revelar o quadro perfeito. Ao aprender a se desviar do sentido material, você estará desenvolvendo sua visão espiritual; e então, a Realidade poderá ser contemplada.



terça-feira, abril 17, 2012

Toda aparência é ilusão

Siddharameshwar Maharaj


Toda a aparência é ilusão (Maya) e o "presenciador" é Brahman. O que é visto, ou seja, a aparência, é falsa; e o que vê é Brahman. Há uma declaração nos Vedas que diz que existem somente duas entidades, aquilo é visto e Aquele que vê. O Vedanta declara isso de maneira contundente. Neste mundo não há nada além do observador e do observado. Aquele que reside no coração de cada um é Brahman, e Ele é "Real".

Quem se refugia no que é visto, perece; e quem se refugia em Brahman, alcança o estado Dele. Se você concentrar a atenção no visto (no mundo objetivo), você será destruído assim como aquilo que é visto (o mundo objetivo). A pergunta é: se aquilo que é visto não é verdadeiro, por que é visível então? O que é visto é falso, porque tudo o que é visto é a magia criada pelo olho. É por isso que não é verdadeiro. No espelho vemos um rosto, isso implica que parecem existir dois rostos; significa então, que existe de fato dois "você"? O fato é que "você" é somente um, mas, entretanto, parecem existir dois. Um pintor pinta quadros com tinta, e diz: "esta é uma montanha, este é o Sr. Vishnu, esta é a Deusa Lakshmi". Você aceita isso como real? Você é o criador. O que na realidade é madeira (a tela) aceitamos como se fosse carne. É o milagre do olho. Aquele que adorar o "Eu Real" desvendará o próprio "Eu Real". 

Este mundo mortal é feito de terra e será reduzido a poeira apenas. O corpo humano vem da maternidade e vai para a tumba. Devemos comer o interior do côco e jogar a casca. Aquele que come a casca consegue só quebrar os dentes.


sexta-feira, abril 13, 2012

Evidência e Aparência

Dárcio Dezolt


Bastante conhecido, na Metafísica, é o exemplo do lápis colocado dentro de um copo com água. Visto de fora, ele aparenta estar torto e quebrado. Que é a evidência? É a manifestação imediata daquilo que já é, ou seja, o lápis inteiro, em estado perfeito. E que é aparência? Como o próprio nome diz, é aparência, uma ilusão de imperfeição, que apenas aparenta existir, e que é inexistente.

A mente humana vê aparências, e nunca a evidência. Que é a Evidência? é O UNIVERSO INFINITO, PRESENTE AQUI E AGORA, impossível de ser discernido pela mente humana.

Em I Cor. 2:9-12, lemos que "As coisas que o olho não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo Seu Espírito:... Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo que só vê as coisas do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus."

Paulo estava aqui neste mundo, quando teve a revelação. O reino de Deus é aqui mesmo, quando deixamos de lado a aparência vista pela mente humana para focalizarmos a atenção completamente no Espírito de Deus, a Mente do Cristo, que recebemos de Deus. A citação diz que não recebemos o espírito do mundo, ou seja, a chamada mente humana. A mente humana vê a ilusão que ela aceita como real; o Espírito de Deus, em NÓS, já vê a realidade: O UNIVERSO PERFEITO!

Na Metafísica, temos a Prática do Silêncio, períodos que reservamos para reconhecer a totalidade de Deus e seu Universo Perfeito. Após estes períodos, precisamos, no dia-a-dia, manter esta percepção. Como? Separando o que a mente humana vê daquilo que o Espírito de Deus em nós vê. Por exemplo, se estivermos presos num congestionamento de trânsito, poderemos reconhecer: "a mente humana, não a MINHA MENTE, vê um congestionamento; entretanto, eu não tenho mente humana. Assim, enquanto ela vê o congestionamento, a minha Mente, que é o Espírito de Deus em mim, vê a Realidade espiritual sempre presente." Isto não é mentalização. É um reconhecimento que promove uma soltura da crença em mente humana, enquanto a Presença de Deus e Seu Universo é percebida. Retornando à ilustração do lápis dentro do copo com água, é como se percebêssemos: "A mente humana vê o lápis quebrado, mas a minha Mente sabe que ele está como sempre esteve: perfeito."

Precisamos reconhecer que as revelações são válidas para todos nós. Se Paulo diz que "recebemos não o espírito do mundo (mente humana), mas o Espírito de Deus", devemos levar a sério tais afirmações, para "podermos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus".

Em geral, diante de uma aparência desarmônica vista pela mente humana, desejamos reverter o quadro, mudando-o para uma situação harmônica. Não é esta a prática correta. "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito". Reconheçamos que a mente humana vê o quadro imperfeito; porém, não reconheçamos que ela seja a NOSSA MENTE. Enquanto ela vê e dá testemunho da mentira, toda a nossa atenção estará na Realidade imutável: Temos a Mente do Cristo, que reconhece, aqui e agora, a TOTALIDADE DE DEUS e SEU REINO PERFEITO E IMUTÁVEL. Quem se dedicar a esta prática de reconhecimento da Realidade, desprezando os quadros ilusórios apresentados pela mente humana a ela mesma, dará testemunho da Verdade. E, esta Verdade aparecerá também visivelmente. DEUS É, DE FATO, TUDO O QUE EXISTE.


quarta-feira, abril 11, 2012

Não lute com a ilusão

Joel S. Goldsmith


Se for chamado a dar ajuda espiritual a alguém, tente abandonar a prática de fazer afirmações e negações. É uma verdade sagrada que Deus é o único agente de cura. Uma ilusão deverá ser dissipada; porém, seria tolice crermos que isso possa ser feito pela mente humana. Assuma como absoluta a frase de Jesus: "Eu, de mim mesmo, nada faço."

Eis a atitude que devemos tomar: sentados, de olhos fechados, deixamos que o Verbo se manifeste. O trabalho será assim realizado. A cura ocorrerá por não depender de conhecimento ou de compreensão humana da Verdade. A confiança em Deus, na própria Verdade, dissipará a ilusão da mente mortal. O Verbo divino expresso será a prece. Não há nada neste mundo humano que não se possa realizar mediante o recebimento do Verbo divino no pensamento.

O erro, ou o mal, sendo irreal -- um sentido ilusório -- não pode ser exteriorizado (nunca pode ser uma pessoa, lugar ou coisa). Você não viverá harmoniosamente enquanto não entender a natureza da ilusão como sendo uma forma de hipnotismo universal, ou crença universal. Até então, irá temer ou odiar esta ou aquela forma de ilusão.

Mas a ilusão, independentemente da forma com que possa aparecer -- se como pessoa ou condição -- não é para ser temida, odiada, vencida ou destruída: é simplesmente para ser conhecida como NADA.

Pecado, doença, morte - não são problemas: são as formas sob as quais a ilusão ÚNICA aparece. O mal é sempre ilusão, embora possa aparecer como pessoa, condição, falta ou limitação.

Quando a ilusão é tratada como hipnotismo -- o NADA pretendendo ser alguma coisa -- ela desaparece em sua nulidade. Lutar contra seria fatal. Sempre aquilo que estiver aparecendo como mal estará sendo meramente uma sugestão mental agressiva. E você, com esta percepção, irá vê-la se auto-destruindo. Assim, diante de qualquer tipo de ilusão de mal, lembre-se: ela não tem poder algum para ser algo além do que é: miragem, nada. Para ilustrar essa nulidade do mal, analisemos uma parábola oriental do homem que confundiu uma corda enrolada com uma cobra:

"Por volta de 500 A.C. foi escrito: É fácil acontecer de um homem, ao se banhar, pisar numa corda e imaginar que se trate de uma serpente. Ficará aterrorizado e tremerá de medo, antecipando todo o sofrimento causado pelo veneno dentro de seus pensamentos. Que alívio não irá sentir ao perceber que a corda não é uma serpente! A razão de seu susto era o seu erro, sua ignorância, sua ilusão. Se a natureza verdadeira da corda for reconhecida, ele recuperará a sua tranquilidade mental: ficará alegre e feliz. Este é o estado mental daquele que reconhece que não existe nenhum ego pessoal, e que a causa de todos os seus problemas e cuidados é uma miragem, uma sombra, um sonho."

Ao senso material, pecado e doença aparecem como entidades reais, tendo substância, lei, causa e efeito. Ao senso material, o pecado e a doença parecem sólidos e pessoais. Mas, para a consciência espiritual, ambos são irrealidades, existindo apenas como o produto da crença universal numa identidade apartada de Deus.

Na metafísica, as curas do pecado e doença surgem à medida da conscientização da infinitude - da totalidade absoluta da eterna Vida e suas manifestações, e da irreal natureza de qualquer forma da ilusão.


sexta-feira, abril 06, 2012

Distinguir entre o Eu verdadeiro e o "falso eu"

Masaharu Taniguchi


Hayashino – Como podemos distinguir entre as ações do Eu verdadeiro e as do falso eu?

Noda – Uma ação do falso eu é proveniente do pequeno eu, contém interesses egoísticos e não traz consigo a alegria do prazer espiritual. Como não é uma ação para atender o todo, contém certa insegurança, agitação, certa irritação. Como o Eu verdadeiro provém do Eu Maior, isto é, do Eu Universal, sua ação deixa uma impressão harmoniosa no geral, e a pessoa tem a sensação de estar crescendo espiritualmente de modo pacífico, alegre e natural.

Taniguchi – Quando temos um determinado pensamento, este permanece latente, constituindo a força motriz que gera outro pensamento semelhante. É como a corda do relógio do despertador: seus ponteiros giram agora porque foi-lhe dado corda no passado. Assim como o alarme do despertador soa quando os ponteiros indicam uma determinada hora devido ao desenrolar da corda, temos turbulências na mente ou iramo-nos ou entristecemo-nos em determinadas oportunidades devido ao desenrolar da “corda cármica” que demos no passado. Por isso o carma não se eliminará enquanto a corda cármica não se desenrolar e se manifestar concretamente. Se manifestamos ira ou tristeza, é porque no passado formamos um carma correspondente a estes sentimentos. Mas tal manifestação nos ´r preciosa. A corda do relógio, ao se desenrolar, esgota-se e, após certo tempo, cessa o alarme. Da mesma forma, nosso carma também se esgota ao se manifestar.

Porém, a maioria das pessoas torna a dar corda ao carma quando este está se desintegrando. É por isso que essa força maligna do carma nunca se esgota. O que significa tornar a dar corda quando o carma está se desintegrando? É pensarmos, quando estamos zangados, “Estou zangado” ou, durante uma reflexão, “Sou um ser mau que fica facilmente zangado”. Com isso, confessamos a nossa culpa e as gravamos novamente em nossa própria mente. Costuma-se considerar como boa atitude do ponto de vista religioso e moral refletir sobre si próprio como sendo um ser mau. Mas não existe esse eu que a pessoa diz ser mau. Não existe o eu mau – esta é a visão fundamental da Seicho-No-Ie acerca do homem. Já que todos os homens são filhos de Deus, todos são bons.

Então, quem é mau? Não é o nosso eu. O que parece mau é simplesmente um processo através do qual um carma maléfico formado no passado está se manifestando para se desintegrar. Por isso, quem conhece esta verdade, mesmo que fique zangado ou tenha pensamentos e sentimentos maus, não pensa “Eu sou mau”, mas mentaliza “Está se extinguindo o carma; extinto o falso eu, manifesta-se o meu Eu verdadeiro, minha natureza verdadeira de filho de Deus, perfeito, harmonioso. Doravante não mais ocorrerá isso comigo” e deixa que a força do carma desapareça por si mesma. Pensando desta forma, anulamos a força do carma que nos leva a repetir maus pensamentos e más ações. Creio que foi nesse sentido que o apóstolo Paulo disse: “Nem eu tampouco julgo a mim mesmo”. E nem há necessidade de se julgar, pois se trata de um falso eu, isto é, uma imagem projetada pelo carma, que não provém da natureza divina originária, algo inexistente que em breve se extinguirá. Basta assim refletir e jogá-lo fora. E sendo o Eu Verdadeiro filho de Deus, este também não precisa ser julgado.

Kawamoto – Se aprovarmos os maus pensamentos, achando-os ótimos porque são desintegração do carma, não estaremos formando um carma maléfico e assim perpetuando-o?

Taniguchi – Conscientizando que o “eu que comete o mal” não existe, desaparece também a ideia de aprovar esse falso eu. O viciado em bebida alcoólica, por exemplo, não deixa esse vício porque ele pensa que existe o “eu que é dominado pela bebida” e tenta reprimi-lo; mas, compreendendo realmente que não existe um eu que seja dominado pela bebida, deixará de ser dominado por ela.

Há pouco surgiu a pergunta sobre como distinguir o Eu verdadeiro do falso eu. Pois bem, o eu dominado pela matéria é o falso eu; e o eu que domina a matéria é o Eu verdadeiro. E, ainda, uma ação que parte do princípio de que “eu e o outro somos um” é uma manifestação do Eu verdadeiro. E essa atuação do Eu verdadeiro se dá através dos pequeninos atos do cotidiano. Colocar amor nos pequenos atos diários – nesta atitude amorosa é que Deus Se manifesta. Esperando apenas por grandes acontecimentos, talvez a pessoa nunca tenha uma oportunidade na vida para pôr o Eu verdadeiro em ação. E na mente de quem aspira a uma grande obra, a um trabalho de destaque, tende a perpetrar a vaidade do falso eu – a vaidade de querer vencer os outros.

Sempre podemos fazer o Eu verdadeiro atuar nos pequenos atos da vida prática. Mesmo na escolha do lugar onde jogar a água com que lavamos o arroz, podemos manifestar amor. Podemos colocar em prática a gentileza e a atenção em pequenos atos como este, pensando na morte que causaríamos a grande número de insetos se jogássemos água em determinado ponto, e na alegria que proporcionaremos às plantas se a jogarmos num outro. Essa prática de gentileza e atenção é que significa manifestar Deus. É por isso que existem ensinamentos exortando a todos a praticar a sinceridade e a atenção, considerando-as como virtudes número um.


Do livro “A Verdade da Vida, vol. 16”, p. 85-88.


quarta-feira, abril 04, 2012

Filosofia da inexistência originária do conflito

Masaharu Taniguchi



A "FILOSOFIA QUE ADMITE A EXISTÊNCIA DO CONFLITO" E A "FILOSOFIA DA INEXISTÊNCIA ORIGINÁRIA DO CONFLITO"

Taniguchi – O senhor é o sr. Kozu, do 13º templo de Ozaka, cujo nome sai de vez em quando na revista Sei do sr. Masao Takahashi?

Kozu – Sim, sou Eisaboru Kozu.

Taniguchi – A fé do sr. Takahashi é de nível muito elevado. Parece que ele apreendeu a Vida eterna...

Kozu – Compreender a eternidade da Vida é coisa de suprema importância, mas eu, ultimamente, estou interessado na continuidade da Vida individual após a morte do corpo carnal. O senhor já se diplomou há muito tempo no estudo do espiritismo, mas eu estou a isso me dedicando há cerca de um ano e meio, e por isso às vezes frequento o Grupo de Estudos da Ciência Espírita do sr. Asano.

Tsukada – (Mudando de assunto) Será que é errado nos defendermos levantando as mãos quando o adversário vem nos bater?

Taniguchi – O certo seria aprimorar nossa mente de tal maneira que não venham nos bater. Mas, se por exemplo um vulcão entrar em erupção e voarem sobre nós pedras ou cinzas, ocorrerá em nós o impulso de evitá-los, levantando as mãos. Como essa reação ocorre espontaneamente, não é certa nem errada. Naturalmente, numa situação ideal, em que o mundo fenomênico reflete a perfeição do Mundo da Imagem verdadeira, o certo é a pedra não vir voando em nossa direção. Mas, como o mundo até agora ainda manifesta uma imagem distorcida do Mundo da Imagem Verdadeira, ocorrem abalos para colocar as coisas no devido lugar para corrigir essa distorção.

Nosso corpo carnal também se defende: quando ingerimos alimento estragado, ocorrem fenômenos como diarreia ou vômito, com a finalidade de expeli-lo. O ideal é não comermos alimento estragado, mas, já que o ingerimos, o jeito é expelirmos através do vômito ou diarreia. Isso é um processo de defesa para fazer voltar ao estado natural o que está em estado desnatural. Portanto, não podemos rotular de bem ou de mal a função de resistência contra substâncias tóxicas chamada vômito, ou a função da excreção de elemento tóxico chamada diarreia; que são reações corretivas naturais que ocorrem espontaneamente. Devemos aceitá-los naturalmente, transcendendo o julgamento humano de bem e mal.

Tsukada – Se evitar com a mão o choque da pedra e defender-se de elementos tóxicos como o vômito é uma reação natural, o que os homens se sentem impelidos a fazer, tal como utilizar um analgésico quando sentem dor ou submeter-se à cirurgia quando ocorre algum ferimento externo, também não seria ação corretiva natural? Se admitimos os meios de defesa contra ações externas no sentido amplo, não deveria ser admitida também a utilização de remédios como um meio de defesa do corpo carnal?

Taniguchi – A Seicho-No-Ie não rejeita absolutamente o tratamento médico. Apenas há certos pontos com que não pode concordar na condição atual, pois o tratamento médico ainda é imaturo e por vezes atrapalha a função curativa natural. Da mesma forma que é certo evitar o choque da pedra que vem de fora, podemos curar os ferimentos causados pela ação externa, extraindo um espinho que se cravou ou suturando por fora no caso de corte grande. Como a parte externa do corpo é dotada de mãos, que servem para realizar trabalhos externos como estes, executá-los é obedecer à Natureza. Como a parte interior do corpo não permite o acesso das mãos, há uma mão interna invisível chamada poder curativo natural. Por isso, podemos dizer que confiar nesse poder é a providência mais natural possível. Drogas de uso interno ou injeções nem sempre são recomendadas pela Seicho-No-Ie, pois às vezes funcionam como força externa perturbadora do poder curativo natural. Estas são providências tomadas após o surgimento da doença ou do ferimento, mas, fundamentalmente, todo e qualquer tratamento sintomático, seja cirúrgico, seja medicamentoso de uso interno, trata partindo da ilusão de que existe neste mundo algo desarmonioso que pode nos atingir. Portanto, ainda que tal expediente seja aceito fenomenicamente, não o é no nível da Imagem Verdadeira.

Quando passamos a acreditar firmemente na Verdade de que Essencialmente inexiste algo desarmonioso que possa nos prejudicar, conseguiremos ser como o mestre Shinran que, apesar de perseguido por Be-en, sempre se desencontrava deste e nunca sofreu seu ataque; naturalmente, elementos prejudiciais nem entrarão em contato com nosso organismo. Lutar e sair salvo após a investida de um atacante é um bem relativo. Fazer tratamento cirúrgico após ser atingido por uma bala é um bem relativo. O bem resultante da compreensão da Essência (Jisso) não é algo como defender-se após ser atacado; tais situações desarmoniosas deixam de ocorrer, e isto é o bem absoluto.

Se compreendermos que o fenômeno exterior é projeção da mente, que a mente não se manifesta somente no interior do corpo carnal, mas age também no ambiente ao redor da pessoa, perceberemos que é natural que o despertar da mente se reflita no exterior, fazendo com que o ambiente e a circunstância também se tornem harmoniosos. Se realmente a grande maioria da humanidade atingir o mais alto nível desse despertar, surgirá um mundo em que a ovelha e o leão conviverão pacificamente, em que o gato e o rato brincarão em paz, como consta na Bíblia, em Isaías. Sendo o homem o soberano de toda a Criação, seu estado mental comanda todos os seres criados.

Kozu – O rato ser devorado pelo gato não é um fato harmonioso? Por que o senhor acha que é desarmonioso?

Taniguchi – Porque o rato não deseja ser devorado. Podemos percebê-lo porque o rato teme o gato e foge deste. No entanto, o gato o persegue e insiste em devorá-lo. E o amor que se aloja em nós faz-nos sentir que é um ato desarmonioso capturar cruelmente e devorar aquele que foge temeroso.

Kozu – Desculpe-me, mas não concordo. Por que o rato não quer ser devorado pelo gato, teme-o e foge?

Taniguchi - Porque sente sofrimento, sente dor no fato de ser devorado.

Kozu – Se o rato compreender que, mesmo sendo devorado pelo gato, seu espírito não se extingue e renascerá em outro lugar, e que seu corpo material viverá em forma de energia do corpo material do gato, ele não sofrerá. O senhor fala também que é desarmonioso porque quando o rato é devorado sente dor. Então, se a ausência da dor significa harmonia, podemos dizer que, ficando anestesiado, o indivíduo estaria numa situação harmoniosa, já que não sente mais dor. Se for assim, como os organismos primitivos não têm células nervosas que sentem a dor, podemos dizer que a Vida é mais harmoniosa na forma não evoluída. Entretanto, se houve evolução da forma primitiva para forma superior como a do ser humano e surgiram células nervosas responsáveis pela sensação da dor, não há nada de errado com a dor, pois ela é sinal de evolução da Vida.

Para começar, evolução significa a transformação da forma de Vida simples para a complexa; quanto mais se torna complexa, mais aumenta a dor. O belo, num certo sentido, não existiria se não houvesse o feio, o negativo. O colorido também se torna belo porque existe o contraste. No caso da eletricidade também é a mesma coisa: surgem o raio, a chuva e a luz porque o positivo e o negativo entram em choque. Se alguém vê a oposição como desarmonia, a tragédia como desarmonia, é porque não vê a essência da vida. O mundo é bom justamente porque existem o conflito, o sofrimento, a tragédia.

Se o ser humano perceber que o mundo é bom porque existe oposição, deixará de sofrer, mesmo estando em conflito, mesmo estando em briga. A nossa função de religiosos é fazer co que os homens compreendam que há meio de não sofrer mesmo brigando, e levá-los à grande paz espiritual assim como estão, e não consiste em eliminar deste mundo a desavença propriamente dita.

Taniguchi - Tenho a impressão de que, prosseguindo na sua teoria, desaparecerá a sua missão como religioso. Seguindo a sua linha de pensamento – de que nada há de errado com o sofrimento, a dor e o conflito porque a vida, quanto mais evolui e se torna mais complexa, mais aumenta a dor e o sofrimento, porquanto foi criando células nervosas responsáveis pela sensação de dor –, chegaremos à conclusão de que a vida, evoluindo ainda mais, fez desenvolver um sistema mais complexo do que o sistema nervoso que capta a sensação de dor física, isto é, um sistema que capta o sofrimento moral; portanto, ter sofrimento moral significaria, em última análise, uma vida evoluída. Se fosse assim, a missão dos religiosos – que consiste em livrar os homens do sofrimento moral – não significaria inverter o processo de evolução da vida, como se torpecesse os nervos sensitivos com anestesia?

Kozu – Lógico que não! Há casos em que a vida do homem tem a sua evolução retardada justamente por causa do sofrimento. Por exemplo, queremos curar a doença de uma determinada pessoa, mas essa pessoa não tem chance de recuperação se não for operada. Porém, uma cirurgia não pode ser feita cm a pessoa consciente, porque ela sentirá muita dor. Se, em casos como este, eliminarmos a dor com um anestésico e operarmos a pessoa, salvá-la-emos da doença. Da mesma forma nós, religiosos, temos como função eliminar os sofrimentos mentais que impedem a evolução da Vida das pessoas e criar condições propícias para tal evolução.

Taniguchi – Mal o senhor acaba de dizer que a existência da dor significa evolução da vida, e que por isso não há necessidade de eliminá-la, mas sim fazer a pessoa entender que o fato de existir a dor é bom, cita um exemplo de que é necessário eliminar a dor? Para defender sua teoria, ora diz que é bom que exista a dor, ora diz que é melhor ela não existir. Para mim, o que o senhor diz é contraditório e não dá para compreender.

Kozu – O que eu quero dizer é que devemos fazer a distinção entre a dor e o sofrimento. Não é porque sentimos dor que precisamos sofrer; a dor é uma sensação captada pelo corpo carnal, mas o sofrimento pode ser controlado pela mente. É possível não sofrer mesmo sentindo dor, bem como não sofrer mesmo estando em conflito com alguém. Se o sofrimento do homem não acaba enquanto sua dor não for eliminada, ele não tem possibilidade de escapar do sofrimento, pois cada homem nasce com uma mente complexa, diferente da dos outros, sujeita a constantes atritos, e a cada atrito sofrerá. Se não se tornar capaz de não sofrer mesmo sentindo dor, mesmo estando em conflito com alguém, o homem não poderá se livrar do sofrimento, pois o mundo está repleto de dor, repleto de conflito. Por isso penso que é missão do religioso tornar o homem capaz de não sofrer mesmo estado doente, mesmo estando em conflito com alguém.

Taniguchi - Então o senhor quer dizer que é missão do religioso fazer com que ratos não sofram mesmo sendo devorados pelos gatos.

Kozu – Sim. Devorar ratos é próprio da natureza do gato e por isso não pode ser mudado. Portanto, não adianta ensinarmos o gato a não comer ratos. Se um rato se deixar devorar pelo gato com prazer, sem sofrer, esse rato será salvo.

Taniguchi – Isso me parece teorização de gabinete. Creio que, enquanto o rato tiver sensibilidade para a dor, ele não se deixará devorar com prazer pelo gato. Se a sensibilidade à dor se desenvolveu nos seres vivos, é para que eles evitem a dor e vivam de um modo em que ela não ocorra. A ocorrência da dor nos seres vivos é um aviso da Natureza de que algo está desarmonioso e que devem tomar alguma providência interna ou externa para desfazer a desarmonia. E, quando pelo esforço, desfaz-se a desarmonia e surge a harmonia, desaparece a dor como sinal disso. Não é que a dor em si seja sinal de evolução da vida, como o senhor disse, nem que a dor em si seja a harmonia. Sentir que a desarmonia é dolorosa, e que a harmonia é prazerosa, isto é, ser sensível à diferença entre a harmonia e a desarmonia, é sinal de que esse ser é evoluído. E se os seres vivos desenvolveram essa capacidade, é para poder captar a existência da desarmonia através da dor e tomar medidas para superá-las. A possibilidade de ensinar os seres vivos a aceitarem com prazer a desarmonia acompanhada de dor, tal como o rato se atirando para dentro da boca do gato mesmo sentindo dor, não seria ficção sua?

Kozu – Não consigo achar que isso seja ficção. Acho que o gato pode se atirar com prazer para dentro da boca do rato. O mundo, se virmos bem a sua essência, constataremos que ele é, em última análise, um mundo de luta, um mundo de dor. Não creio que o homem não seja salvo se não cessar essa luta e eliminar a dor. A luta entre os homens é como o jogo de damas; não é necessário deixar de jogar damas para o homem ser feliz. Assim como há mestres de damas que são capazes de competir deixando de lado o sentimento de humilhação e de tristeza pela derrota, tanto o homem como outros seres vivos se tornarão capazes de viver felizes sem deixar de lutar entre si, sem deixar de se devorar uns aos outros.

Taniguchi – Não é possível comparar o jogo de damas com a lei do mais forte.

Kozu – Eu acho que, convertendo todas as lutas em jogo, em esporte, os seres vivos deixarão de sofrer, mesmo se mantendo em luta. Acho que serão capazes de aceitar a derrota, dizendo: “Perdi, mas tudo bem”, “Ai, que dor! Rendo-me! Mas tudo bem”. Quando o homem se torna assim, surgirá uma vida iluminada, sem sofrimento, mesmo permanecendo o conflito e a dor como antes, mesmo brigando entre si. Tanto o conflito como a lei do mais forte são uma dura realidade necessária para a evolução da vida individual; por isso, não há necessidade de acabar com eles. O que devemos é apenas deixar de senti-los como sofrimento.

Taniguchi – O senhor vem argumentando muito teoricamente. Na prática, a lei do mais forte é disputa séria, sangrenta, chocante, pela sobrevivência, ao passo que o esporte é uma disputa que não tem importância vital alguma, que não precisamos necessariamente praticar. Portanto, o próprio fato de locá-los no mesmo nível não estaria errado? Gostaria que o senhor citasse uma situação verídica comprovando que a pessoa pode se salvar tornando a mente livre de sofrimento apesar do conflito, como o senhor disse há pouco. Na minha opinião, o mundo fenomênico nada mais é do que projeção da mente; a forma é projeção da mente; portanto, quando a mente se tornar pacífica e harmoniosa, a pessoa deixará de brigar também na forma, deixará de haver desarmonia tanto no corpo como no ambiente.

Kozu – Eu me dava muito mal com meu falecido pai, tínhamos divergência de opiniões e vivíamos brigando. Esforçava-me desesperadamente para sair dessa situação, para me tornar melhor, mas, por mais que me esforçasse, não conseguia me corrigir, e o relacionamento familiar ia piorando cada vez mais. Quando cheguei a uma situação desesperadora, então abri os olhos, isto é, percebi que eu era um ser incapaz de mudar apesar de todos os esforços, portanto era com razão que eu vinha sendo tão veementemente contestado por meu pai. Então pensei: “Já que é a minha mente que está provocando reação de meu pai, vou deixar de pensar mal dele”. Assim, deixei de sofrer, mesmo brigando com meu pai.

Taniguchi – Ah, então a situação de não-sofrimento apesar da briga resulta desse estado de resignação? As religiões tradicionais se esforçavam por levar os homens à resignação, em vez de resolver as dificuldades concretas da vida. Foi por isso que a religião ficou desvinculada da vida prática e passou-se a pensar que ela não tinha nenhuma relação com a vida. Como o mundo fenomênico não é nada mais do que projeção da mente, não é possível que não possamos salvar este mundo com a religião. Se não o conseguimos, é devido à projeção da mente de religiosos como o senhor, que pensam “não dá pra salvar”. Não posso considerar como salvação a situação em que a pessoa deixa de sofrer estando em conflito. Isso não passa de resignação.

Utilizando o gato e o rato como exemplo, o rato, ao ser devorado pelo gato, mesmo sentindo dor e terror, pensaria resignado: “Se meu corpo parece apetitoso para o gato, é minha culpa porque exalo cheiro apetitoso; se não sou forte o bastante para não ser devorado pelo gato, é minha culpa”. O senhor, na sua utopia, imagina que o rato pode ficar em paz resignando-se assim, mas essa luta sangrenta da lei do mais forte constitui um sofrimento que nem se compara com o conflito entre pai e filho – uma simples luta verbal – como foi o seu caso. Situações como divergências entre pai e filho são fatos que, se quisermos, tornar-se-ão problemas, mas, se não quisermos, jamais serão problemas. Por isso, mesmo brigando, a mente da pessoa pode manter-se livre de sofrimento. Mas como na verdade o ambiente é projeção da mente, se o senhor compreendesse realmente que “originariamente a briga não existe”, a briga de fato não ocorreria em seu ambiente. A doença também pode ser curada se a mente da pessoa deixar de se afligir. Mas, se a pessoa está com a mente resignada e pacificada apenas pela metade, manifestará um estado de perfeição incompleta, em que a doença ainda permanece, estando livre do sofrimento apenas a mente. Portanto, se o senhor refletir mais profundamente, com certeza descobrirá que toda situação que ainda apresenta problema, apesar de a mente deixar de sofrer, ainda é projeção de um despertar parcial e não do despertar verdadeiro.

Kozu – Será?

Taniguchi – Os exemplos que o senhor citou, tanto o do jogo de damas como o do conflito entre pai e filho, não constituem fatos dolorosos como o de o rato ser devorado pelo gato. Se a situação do rato causa pena e nos faz achá-la desarmoniosa é porque tal fato é contrário à eterna harmonia do Mundo da Imagem Verdadeira. O que está de acordo com a eterna harmonia do Mundo da Imagem Verdadeira não nos causa dor nem sofrimento.

Kozu – Eu não penso assim. Sentir pena do ser fraco que está agonizando, devorado pelo ser mais forte, parece à primeira vista bondade, mas, se a pessoa sente pena, é porque é egoísta. Toda pessoa que sente pena de alguém está se colocando no lugar dele e pensando que seria horrível se aquilo acontecesse consigo. Como é egoísta e não gosta de se sacrificar pelo próximo, sente pena quando vê os outros se sacrificando. Se a pessoa deixar de ser egoísta e for capaz de compreender que na vida é necessário alguém se sacrificar, e que esse sacrifício é uma nobre missão, ao ver alguém se sacrificando, deverá pensar “Eles está realizando um nobre trabalho! Que inveja!” e não terá esse sentimento de pena.

Taniguchi – O senhor me rebate com bastante eloquência, mas como parte de uma premissa radicalmente diversa da minha, mesmo que o senhor apresente mil e um argumentos, é como se desse socos no ar. Ambos usamos o termo “Vida”, mas a vida de que o senhor fala é a vida fenomênica cuja evolução necessita do sacrifício de alguém. A Vida de que falo é a Vida-Imagem-Verdadeira que não necessita do sacrifício de ninguém, Vida que jamais mata ou sacrifica o outro, Vida que somente beneficia o outro e promove a harmonia – esta é a Vida-Imagem-Verdadeira que existe realmente. O mundo que vejo é o Mundo da Imagem Verdadeira, que está em harmonia sem haver sacrifício ou dor.

Kozu – Nada deste mundo teria beleza ou vida se não houvesse luta, conflito, oposição. Tanto a energia elétrica como a relação entre homem e mulher geram algo belo porque elementos de naturezas opostas se chocam entre si. Conhecendo essa essência da vida, a pessoa deixará de sofrer, mesmo havendo lutas e sacrifícios.

Taniguchi – O senhor diz que se não houver atrito, conflito ou sacrifício, não surgirá a beleza. O senhor está olhando somente a vida fenomênica e os acontecimentos que nela se verificam, e chama isso de “essência da vida”. Como eu também já pensei assim há quase dez anos atrás, entendo bem o que o senhor quer dizer. Mas agora não posso concordar com essa visão da Vida.

Tsukada – Parece-me que o Mestre tinha essa visão quando escreveu o livro “Shodo-E” (Em Direção ao Caminho Sagrado).

Taniguchi – Quando escrevi “Shodo-E” já estava começando a deixar essa visão da Vida que o sr. Kozu está defendendo e que é semelhante à visão da vida do escritor francês Romain Rolland: “Deus está sofrendo junto com o homem. Deus é uma Vida que evolui através de lutas” – assim consta no seu vasto romance em dez partes “Jean Christophe”, que lhe valeu p prêmio Nobel de Literatura.

Mas a vida que sofre junto com o homem, a vida que evolui através de lutas, é a vida fenomênica e não é a Vida-Imagem-Verdadeira; é a imagem falsa da Vida. Ela é a imagem distorcida que aparece quando a Imagem Verdadeira da Vida (Jisso) – na qual todos os seres são um – é encoberta pela ilusão chamada “eu isolado dos outros”. Na verdadeira Vida, ou seja, na Vida-Imagem-Verdadeira, não há conflito, somente se favorecem uns aos outros, e dessa harmonia nasce uma beleza ainda mais sublime. É possível haver beleza sem oposição à feiura; é possível haver beleza sem sombra, com luz apenas; é possível haver saúde que transcenda aquela que existe em oposição à doença.

Kozu – Não consigo imaginar tal mundo.

Taniguchi – Quem vê somente a beleza do mundo fenomênico constituída de sombra e luz não consegue imaginar a beleza do Mundo da Imagem Verdadeira, sem sombras. É errado afirmar que algo não existe só porque não se consegue imaginá-lo. Não podemos dizer que uma determinada música não terá beleza se não houver acordes dissonantes que firam as notas restantes, não é? Uma melodia em que uma nota realça a nota seguinte e assim sucessivamente, valorizando a si própria e às demais notas, esta é a música verdadeiramente bela. Não podemos dizer que se gato não devorar o rato não haverá a beleza da Vida. Um mundo em que o gato brinca em harmonia com o rato não é um mundo ainda mais belo?

Kozu – Se o gato não comer o rato, o que ele comerá para sobreviver?

Taniguchi – A cena em que o gato e o rato está comendo vegetais e brincando juntos é uma imagem do Mundo da Imagem Verdadeira. A ideia de que a Vida não poderá evoluir a não ser roubando ou devorando-se uns aos outros é uma ilusão de quem desconhece a Imagem Verdadeira. A situação em que as vidas se devoram umas às outras é a concretização dessa ilusão. Desfazendo-se essa ilusão, deixa de existir também a creofagia (hábito de alimentar-se de carne) da vida fenomênica. Entre os adeptos da Seicho-No-Ie são numerosos os casos verídicos de harmonização do gato com o rato através apenas da mudança da mente.

Kozu – Não consigo acreditar em tal coisa. Mesmo que o gato deixe de comer o rato e todos os animais deixem de devorar uns aos outros, a dor e o sofrimento humano não se acabarão. As catástrofes como terremoto ou maremoto, por exemplo, não deixarão de existir. Despertar o homem para que não fora mesmo deparando com tais sofrimentos é a missão dos religiosos.

Taniguchi – Já que o mundo fenomênico é manifestação da mente, o terremoto ou o maremoto também deixarão de ocorrer se nossa mente (mente coletiva dos povos) se purificar. A salvação de que o senhor fala consiste em libertar-se do sofrimento da vida concreta porque não se admite que ele seja existência verdadeira. Assim que a pessoa desperta para essa Verdade, cura-se a doença e o ambiente em que vive também melhora.

Kozu – Mesmo que de fato deixe de haver terremotos, isso será daqui a milhões de séculos, não é? Isso pode acontecer ou não. Não é possível salvar a pessoa do sofrimento da vida concreta imaginando tal mundo. Para salvar a pessoa do sofrimento, não há outro meio senão fazê-la mergulhar nele e compreender a verdade de que, mesmo com sofrimento e tudo, a Vida está aí presente.

Taniguchi – Para a extinção total de terremotos e maremotos deste planeta, é preciso que a mente de todos os seres vivos da Terra se purifique. Portanto, o tempo necessário para a extinção das catástrofes está relacionado com o tempo que se levará para purificar a mente de todos no globo terrestre. Mas, para melhorar o ambiente em que vive um indivíduo, basta a sua própria mente mudar para melhor. Mesmo que ocorram terremotos ou maremotos, tais catástrofes não poderão causar dano à pessoa em cuja mente deixou de haver terremotos ou maremotos. Este fato é confirmado pelos próprios adeptos da Seicho-No-Ie através de numerosas experiências. E, em se tratando de uma família, purificando-se a ente dos cônjuges, esse lar começa a melhorar de fato: a relação conjugal melhora, os membros da família deixam de adoecer e a renda também aumenta devidamente. A Verdade pregada pela Seicho-No-Ie salva também a vida concreta simultaneamente com o despertar espiritual da pessoa, e não proporciona apenas uma situação de resignação como a que o senhor defende, em que permanece a doença, a discórdia na família, a dificuldade financeira, e só a mente deixa de sofrer.

Kozu – Por qual princípio o mundo fenomênico também se salva?

Taniguchi – Tudo neste mundo fenomênico, seja o nosso corpo como o ambiente ao nosso redor, é sombra projetada de nossa própria mente; logo, mudando a mente, mudam os fatos – este é o princípio.

Kozu – Eu também não acredito que este mundo fenomênico seja existência verdadeira; penso que ele é sombra projetada. E acredito que por trás do fenômeno existe a Vida, a Verdade. Reconhecendo essa Vida, sinto-me grato, por maiores que sejam os sofrimentos.

Taniguchi – O senhor também diz que o mundo fenomênico é sombra projetada, mas está usando o vocábulo “sombra” em sentido diferente daquele em que eu o emprego. O senhor admite a existência de “sombras” tais como conflitos, doenças e sofrimentos e diz que tudo isso é harmonioso e bom porque existe por trás a Vida. Quando digo que o fenômeno é “sombra”, quero dizer que o mundo fenomênico repleto de conflitos e sofrimentos, embora pareça existir, não existe verdadeiramente e que existe unicamente o mundo da perfeita harmonia onde não há conflitos nem sofrimentos. E contemplando esse mundo da perfeita harmonia com os olhos da mente, não só transcendemos os sofrimentos, como também transformamos este mundo fenomênico, eliminando concretamente as doenças e os sofrimentos. Se tomarmos a doença como exemplo, o senhor diz que é a Vida que determina que o homem adoeça, e que, portanto, devemos nos alegrar com a doença. A Seicho-No-Ie diz que a doença não existe, mesmo que pareça existir; portanto devemos nos alegrar pensando que ela não existe. Para conseguir o mesmo fim, isto é, para transcender a doença, o senhor pensa que a doença é existência verdadeira, que ela faz parte da Imagem Verdadeira da Vida. Na Seicho-No-Ie, desperta-se para a Verdade a doença não existe, e a doença por si desaparece. Tentando superar a doença pensando que ela existe, poderá agravá-la por ação da ideia de que ela existe, mas jamais curá-la. Porém, pelo método da Seicho-No-Ie, graças à ação da ideia de que “a doença não existe”, a doença acaba desaparecendo.

Kozu – Com que fundamento o senhor diz isso?

Taniguchi – Fundamentado em fatos, e não em argumentos teóricos. Existem numerosos casos de doentes desenganados pela medicina, tais como tuberculosos, cancerosos, que se curaram assim que leram o livro A Verdade da Vida e mudaram de atitude mental.

Kozu – Mas nem todas as pessoas se curam de doença ao ler A Verdade da Vida, não é?

Taniguchi – Isso mesmo. Nem todos se curam.

Kozu – Então o senhor não pode afirmar categoricamente que as pessoas se curaram porque leram A Verdade da Vida.

Taniguchi – As pessoas que, mesmo lendo A Verdade da Vida, não concordam realmente com o seu conteúdo e não conseguem despertar para a Imagem Verdadeira da Vida não se curam. Como a Verdade é semente, lançando-a em terras áridas ou pedregosas, não brota. Mas o fato de não germinar não significa que a semente seja má. Se lançarmos dez das mesmas sementes, e metade delas germinam, podemos afirmar que a semente tem capacidade de germinar, e que, se algumas não germinam, é porque a terra é estéril. Como o homem é um ser que possui mente, não podemos obter um resultado uniforme como o de cura de doenças sempre que “acrescentamos” A Verdade da Vida ao homem, como se obtivéssemos água sempre que acrescentamos oxigênio ao hidrogênio. Há pessoas que, quanto mais explico sobre a Imagem Verdadeira da Vida, mais se negam a aceitá-la docilmente e contrapõem argumentos, como é o caso do senhor. Portanto, surgem diversos resultados de acordo com a atitude mental com que as pessoas lêem A Verdade da Vida. Mas não podemos negar o fato de que a grande maioria das pessoas que o leram tem sido salva da doença.


(Do livro “A Verdade da Vida, vol. 16”, pp. 89-110)


segunda-feira, abril 02, 2012

Lidando com as crenças universais


Joel S. Goldsmith


É verdade que temos, a todo momento, crenças universais a nos martelarem: a crença universal de idade, a crença universal de micróbios, a crença universal de morte. Porém, elas nos vêm aos pensamentos como crenças, sujeitas à nossa aceitação ou rejeição. Quem desconhece este estudo da Verdade também desconhece este direito à escolha, e se torna vítima das crenças universais, vivendo sob tais crenças sem que nada saibam ou possam fazer. Mas, quem estuda a Verdade está sempre no controle; pode aceitar ou rejeitar as crenças universais, pensamentos ou sugestões que lhe vêm, podendo inclusive lidar com elas antes mesmo que surjam. Toda aparência como pecado, doença, falta ou limitação vem à nossa consciência como crença ou sugestão, e nós podemos aceitá-la ou não, dependendo unicamente de nós mesmos.

Isso não quer dizer que se apenas dissermos: “Eu não gostei de você! Saia!”, isto bastará para darmos fim à crença. Não é tão simples. Deverá ser assunto de convicção, de uma real compreensão de que o Eu, a Consciência, governa, e controla este corpo, e que o corpo não pode receber ou se mostrar sensível às crenças do mundo. Deverá estar bem claro que existe somente um Poder, somente uma Causa: todo poder está na Causa e não há nenhum poder no efeito.

Deixe bem claro, em seu pensamento, que este senso de corpo, isto é, este conceito a que chamamos de corpo físico, não é, de si mesmo, uma entidade consciente. Assemelha-se a um carro nosso, um veículo em que viajamos e que segue na direção que nós determinamos. Este corpo também segue na direção que determinamos. Ninguém poderá fazer com que nosso corpo realize algo. Nós, nós próprios, governamos e controlamos sua ação.

Como já repeti várias vezes, este não é trabalho destinado a homem preguiçoso. É um trabalho que requer esforço constante e consciente. Seguir o caminho espiritual não é permanecer sentado, deixando que um Deus misterioso nos faça algum favor especial. Nossa vida é determinada pela nossa própria consciência, pelo nosso próprio conhecimento da Verdade do ser, e pelo nosso desejo de rejeitar, tão rápido nos venham, as sugestões deste miasma mental chamado “mente humana”, “mente carnal”, "mente mortal", ou “mente humana universal”.

Ao falarmos sobre o aspecto mais esotérico ou espiritual deste mundo, vemo-nos na possibilidade de realmente “caminhar nas nuvens”; porém, quando descemos à vivência prática em nossa experiência, será preciso sairmos um pouco das nuvens, para compreendermos a natureza daquilo com que estivermos lidando. Em nossa existência “neste mundo”, estamos lidando com crenças universais. Elas são mais antigas que o tempo, a começar da crença de que nós nascemos, que vai direto à crença de que morremos. Certamente, em algum período de nossa experiência, precisaremos despertar conscientemente para este fato e dar início à rejeição destas crenças do mundo.