"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, janeiro 31, 2011

MEDITAÇÃO: PERCEBA!


Dárcio Dezolt

Logo de início, medite entendendo que não é "você" que está no Universo, mas sim, que o Universo inteiro está em VOCÊ, em "sua" Consciência. Esta visão absoluta o fará meditar eficazmente, por não se considerar "separado do Todo", mas sendo o Todo. Toda a Existência está em sua Consciência infinita e iluminada; de fato, a Existência é a Consciência! Não existe algo, chamado "Consciência", tomando conhecimento de "outro algo", chamado "Existência". Consciência e Existência são UMA!

Perceba, e passe a contemplar, toda a Existência sendo UNA com Sua Consciência! Por isso Cristo disse: "o REINO DE DEUS está dentro de vós". Contemple a Verdade a partir da própria Verdade, e, assim que discernir que TUDO É SUA CONSCIÊNCIA, admita, serenamente: "Eu Sou a Verdade".

Onde agora estamos, dizem as Escrituras, é o Reino do Absoluto e não a imagem tridimensional captada pela mente humana. Esta é a informação; pare, agora, e perceba o que foi dito! Está vendo mundo terreno? Tire dele a atenção, intua estar vivenciando o Absoluto aqui presente. A mente humana poderá continuar vendo a “ilusão”; separe-se dela! Você não é “mente humana”; você não está no quadro que ela acredita existir! Nem ela nem seus quadros são reais! Esta é a informação; pare, agora, e perceba o que foi dito! Como se sente? Sem “mente humana”, "sem estar “neste mundo"? Intua como você se sente, sabendo ter a “Mente de Cristo”, e que está no Absoluto!

Deus está sendo você! Por isso, jamais você nasce, muda ou morre! Esta é a informação; pare, agora, e perceba o que foi dito! Percebe estar consciente? Vivo? Livre? Esta Consciência - consciente, viva, livre - é “você”, o seu Eu! Esta é a informação; pare, agora, e perceba o que foi dito! Percebendo? Então agora diga, com Consciência:

EU SOU!


sábado, janeiro 29, 2011

Você: a onda perfeita emitida por Deus!


Dárcio Dezolt

“Eu vim para que tenhais vida, e vida em abundância.”
(JOÃO 10: 10 )


Suponha que você chegue em casa, entre na sala, e veja num canto o aparelho de TV desligado. Ansioso por ver um jogo de futebol em que o jogador está para dar um chute ao gol, você corre, liga o aparelho, sintoniza o canal desejado, e, de imediato, ali “surge” a imagem correspondente na tela. E você vê o jogador chutar a bola e fazer o gol. Pergunte-se: naquela própria sala, onde estava o jogador, antes que você ligasse o aparelho?

Talvez alguém julgasse, sem parar para pensar, que o jogador em nenhum momento existiu naquela sala! E, que “passou a existir” somente após o aparelho ser ligado e sintonizado com a emissora. Mas, isso não é verdade! O jogador já estava presente como “onda invisível”; ele apenas se tornou “perceptível” (visível) graças à sintonia feita!

De modo análogo, VOCÊ É ONDA PERFEITA, INVISÍVEL, emanada de Deus! Acreditar que você é “corpo físico” é o mesmo que acreditar que o jogador é o vidro da TV ligada! Acreditar que “você está na matéria” é o mesmo que acreditar que o jogador esteja “no aparelho de TV”: um absurdo que não tem tamanho! Se algo distorcer a imagem do jogo, o jogador parecerá estar deformado! Mas, aquela imagem “vista” não é ele! Ele, na sala, é sempre a “onda da emissora”.

Aplique esta analogia em suas silenciosas contemplações meditativas! Sejam quais forem as deformações visíveis ligadas a você, ao seu corpo, negócios ou atividades, tire toda a sua atenção da “imagem distorcida”! Você não está nela! Assim como o jogador não está (e nunca esteve) na "tela da TV". Você é a ONDA PERFEITA, irradiada de modo também PERFEITO por Deus! Separe conscientemente a imagem imperfeita e visível da onda sempre perfeita invisível! Separe a “ilusão” da Verdade! Identifique-se única, total e exclusivamente com o que é verdadeiro! Desse modo, sua “antena” ficará sintonizada com a Emissora divina, a sua “Imagem Verdadeira” poderá ser “captada” com precisão, e “surgirá” visivelmente na “tela da mente” como VOCÊ real e espiritualmente já é: PERFEITO.

Eis por que a Bíblia diz: “O que se vê é feito do que não se vê”.


quarta-feira, janeiro 26, 2011

Encontrando o Cristo em nós mesmos - 02 (final)


H. EMILIE CADY


Uma vez que você haja posto todos os problemas nas mãos do Cristo, sempre presente em seu íntimo, em Quem há a todo tempo um irreprimível desejo de vir em nossa salvação e fazer tudo por nós, não ouse tomá-los de novo em suas mãos mortais, para operar por si mesmo, porque, assim o fazendo, você está simplesmente adiando o tempo da Sua manifestação. Tudo o que tem a fazer é pensar firmemente: “Está feito. E manifesto agora”. Essa Divina Presença é a nossa suficiência em todas as coisas e Se materializa como tal, em tudo aquilo que desejarmos ou necessitarmos, se apenas soubermos esperar confiantemente.

Esse assunto de confiar no Cristo, no íntimo, para fazer tudo por nós – capacitando-nos de que somos unos com Ele e que a Ele é dado todo o poder – não é algo que nos venha espontaneamente. Começa por um persistente esforço da nossa parte. Começamos pela determinação de que Nele confiamos como nossa presente libertação, como nossa saúde, nossa riqueza, nossa sabedoria, nosso tudo, e continuamos por um laborioso esforço, até que formemos uma espécie de hábito espiritual. Nenhum hábito surge repentinamente em nossa vida, mas cada um vem por uma sucessão de pequeninos atos. Quando você vê alguém operando as obras do Cristo, curando os enfermos, libertando os aprisionados, e assim por diante, pela palavra da Verdade proferida com fé, esteja certo de que essa fé não pulou para ele de alguma fonte externa, de repente. Se você conhecesse os fatos, talvez soubesse dos dias e das noites quando, com os punhos e os dentes cerrados, ele se agarrou firme ao Cristo, em seu íntimo, “confiando onde não se podia encontrar pegadas” até que se encontrou possuindo a verdadeira “fé do Filho de Deus”.

Se desejamos que o Pai, no íntimo, que é o Cristo, Se manifeste como todas as coisas através de nós, precisamos aprender a conservar o nosso eu mortal quieto, aquietar todas as suas dúvidas e medos e falsas crenças e apegar firmemente ao “Cristo somente”. Em Seu nome poderemos enunciar palavras de cura, de paz e de libertação para outros, e como Jesus disse de Si mesmo, assim devemos também dizer de nós mesmos: – “Eu não posso de mim mesmo (isto é, do mortal) fazer coisa alguma; o Pai que permanece em mim, faz as suas obras”. Ele é o sempre-presente Poder que supera todos os erros, doenças, fraquezas e ignorância ou o que mais possa ser. Clamamos por esse Poder ou trazemo-Lo para o nosso consciente onde ele é de uso prático, declarando muitas e muitas vezes que ele já é nosso. Dizendo e experimentando capacitarmo-nos da Verdade, “Cristo é a minha sabedoria, consequentemente conheço a Verdade”, teremos, em pouco tempo, compreendido as coisas espirituais muito melhor do que com meses de estudo. Dizendo: “Cristo é a minha força, eu não posso ser fraco ou frágil”, iremos nos tornar bastante fortes para enfrentar qualquer emergência.

Lembre-se de que não começamos por sentir essas coisas logo a princípio, mas, enunciando-as fervorosa e ardentemente, e agindo como se elas fossem verdadeiras – essa é a fé que traz a manifestação do Poder.

O Cristo vive em nós sempre. Deus, a Energia Criadora, enviou Seu Filho primeiramente, mesmo antes que o corpo estivesse formado, e Ele habita sempre, no íntimo, “primogênito de todas as criaturas”. Mas dá-se conosco o que se deu com o barco num mar proceloso, depois que se ergueu a tempestade: – A presença de Jesus, no barco, não impediu que ele fosse sacudido ou que as ondas furiosas se arremessassem contra ele, porque Ele dormia. Foi somente depois que Ele foi despertado e trazido a manifestar o Seu poder, que o mar tornou-se calmo e o perigo passou.

O Cristo, em nosso íntimo, tem estado aí sempre, mas nós não tomamos conhecimento disso, e assim os nossos pequeninos barcos têm sido agitados por doenças, pobreza e desconfiança, até nos parecermos quase perdidos. Eu, o meu verdadeiro Eu espiritual, é uno com o Cristo. O verdadeiro Eu de cada pessoa é o filho de Deus feito à Sua imagem. “Amados, agora somos filhos de Deus e não está ainda manifesto o que havemos de ser. Sabemos que se Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele”. Agora, já, somos filhos. Quando Ele aparecer (não quando, algum dia, após a transição chamada morte, Ele, um grande e glorioso Ser, romperá diante de nossos olhos, mas quando tenhamos aprendido a calar o mortal em nós, e deixar que o Pai se manifeste a nós, através do Cristo interior), então seremos como Ele, porque Ele será visível somente através de nós.

“Vede que amor o Pai tem mostrado, para que fôssemos chamados filhos de Deus”. Não somos simples reflexos ou imagens de Deus, mas expressões (do latim Exprimere – manifestar), daí uma manifestação de Deus, o Bem Total, o Todo-Perfeito. Somos as projeções da Presença Invisível em visibilidade. Deus fez o homem "um com o Pai", como Jesus o era. E na medida exata em que reconhecermos este fato e o reivindicarmos para o nosso direito de nascença, o Pai em nós será manifestado ao mundo. Muitos de nós sentimos um temor inato em dizer “seja feita a Tua vontade”. Por causa dos falsos ensinamentos e associações, temos acreditado que essa prece, se respondida, nos tirará tudo o que nos proporciona alegria e felicidade. Certamente nada poderá estar tão longe da verdade. Ó! Como temos tentado abarrotar o grande amor de Deus dentro dos estreitos limites da mente humana! O maior e mais generoso e amoroso pai que jamais haja existido não é senão uma pequenina parcela da paternidade de Deus manifestada através da carne. A vontade de Deus para nós significa mais amor, mais pureza, mais poder, mais alegria, em nossas vidas, todos os dias.

Não há estado de coisas espirituais ou materiais, não há esforço de nossa parte, ainda que ele seja sobreumano, que possa ser tão eficiente para nos tornar grandes criaturas, semelhantes a Deus, mostrando a mesma alma ilimitada que Jesus mostrou, orando continuamente a mesma prece: - “Faça-se em mim a tua vontade”, porque a vontade do Pai é manifestar o Seu Ser perfeito, através de nós. “Entre as criaturas, umas são melhores do que outras, conforme o Bem eterno se tenha manifestado e operado, mais em umas do que em outras. Naquela onde o Bem Eterno mais se tenha manifestado, brilhado e operado, é mais conhecida e amada; é a melhor; e naquela onde o Eterno Bem é menos manifestado, é a menor das criaturas (Teologia Germânica)”.

“Porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude”: plenitude de amor, plenitude de vida, plenitude de alegria, de poder, de TODO O BEM. E, nele, seremos completos. Cristo em nós, um conosco, para que possamos ousada e confiadamente dizer: – “Em Cristo todas as coisas são minhas”. Declarando, isto se fará manifesto.

Acima de todas as coisas, aprenda a guardar-se para o Cristo, em seu íntimo e não no íntimo alheio. Deixe que o Pai Se manifeste através de VOCÊ, à Sua própria maneira, ainda que a Sua manifestação seja diferente da Sua manifestação em outros filhos. Até aqui, mesmo os mais espiritualmente iluminados têm sido meros pigmeus, porque temos, pela ação do nosso pensamento consciente, limitado a manifestação divina através de uma outra pessoa. Deus nos tornará gigantes espirituais se quisermos realmente abolir todos os limites e dar-Lhe uma oportunidade.

“Embora seja-nos bom e proveitoso aprender e saber o que os homens bons e grandiosos produziram e sofreram, e como Deus tem agido com eles e operado neles e através deles, ainda será mil vezes melhor que aprendamos, percebamos e compreendamos quem somos e o que é a nossa vida, o que Deus está fazendo em nós e o que Ele deseja que façamos (Teologia Germânica).”

Todas as bênçãos prometidas no capítulo 28, de Deuteronômio, serão para aqueles que “ouvirem atentamente à voz do Senhor teu Deus”. Aqueles que buscam a voz interior em sua própria alma e aprendem a ouvir e obedecer o que ela lhes diz individualmente, sem se importarem com o que ela diz a uma outra pessoa, independentemente de quanto ele ou ela possa estar adiantado no conhecimento espiritual. Essa voz não o guiará exatamente do mesmo modo como conduz aos outros, neste vasto mundo; mas na infinita variedade, haverá perfeita harmonia uma vez que há um só Deus e Pai, de todos, que está acima de todos, através de todos e em todos.

Emerson disse – “Cada alma não é somente a entrada, mas pode se tornar a saída de tudo que há em Deus”. Somente conseguiremos isso se nos conservarmos conscientemente abertos, em comunicação com Deus, sem a intervenção de nenhuma outra alma entre Ele e nós. “O Ungido que tendes recebido habita em vós e não necessitais que ninguém vos ensine”. “Mas o Consolador que é o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas”.

“Não obstante, quando ele, o Espírito de verdade vier, vos guiará à verdade, porque ele não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que estão para vir”
.

Somente é necessária uma pequena palavra: – “agora” – firme e persistentemente conservada na mente para manifestar-se através de nós, o mais alto ideal de que somos capazes de formar; sim, muito mais alto, pois não está dito: “Como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os meus pensamentos do que os seus pensamentos.”? Essa manifestação através de nós será o cumprimento do ideal de Deus, em vez do nosso limitado ideal mortal, quando aprendemos a deixar que o Espírito nos conduza e atenhamo-nos à nossa mente consciente do “agora”.

Se você deseja manifestar o perfeito Cristo, afirme com todo o seu coração e toda a sua alma e força que você o manifesta agora; que você manifesta saúde e força, amor e verdade e poder. Abandone a ideia de ser ou fazer qualquer coisa no futuro. Deus não conhece o tempo, mas somente o eterno “agora”. Você não pode jamais conhecer qualquer outro tempo, porque não há nenhum outro. Você não pode viver uma hora ou dez minutos no futuro. Você não pode vivê-lo enquanto não o alcançar, e então ele se torna o “agora”. Dizer ou crer que a salvação e a libertação estão por vir, será para sempre e através de todas as idades eternas, conservá-las, como um fogo fátuo, um pouco adiante de si, sempre para serem alcançadas, mas jamais perfeitamente realizadas.

“Agora é o tempo da aceitação; Agora é o dia da salvação”, disse Paulo (*Nota: esse "agora" nada tem a ver com termos humanos de tempo). Ele nada disse sobre sermos salvos das nossas aflições após a morte, mas sempre ensinou uma presente salvação. O trabalho de Deus completa-se em nós, agora. Toda a plenitude habita nesse Cristo interior, agora. O que quer que seja que persistentemente declaremos, manifesta-se agora, está manifesto agora. E então, consequentemente, em termos humanos de tempo, o veremos cumprido.

FIM

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Encontrando o Cristo em nós mesmos - 01

H. EMILIE CADY


Em todos os seus ensinamentos Jesus tentou mostrar àqueles que O escutavam qual era a Sua relação com o Pai e ensiná-los que eles também estavam relacionados ao mesmo Pai e exatamente do mesmo modo. Vezes após vezes, experimentou explicar-lhes de diferentes maneiras que Deus habitava no íntimo deles, e que Ele era um Deus dos vivos e não dos mortos. Nunca Ele manifestou que fazia as coisas por Si mesmo, mas disse sempre: - “Eu por mim mesmo nada posso. O Pai que habita em mim é quem faz as obras”. Era, porém, difícil ao povo compreendê-Lo, como ainda é difícil para nós compreendermo-Lo hoje.

Havia, na pessoa de Jesus, duas regiões distintas: a parte carnal, mortal, que era Jesus, o filho do homem; e a parte central, viva e real – o Cristo, o Ungido. Assim, cada um de nós tem duas regiões no ser: uma, a parte carnal e mortal, que está sempre sentindo a sua insuficiência e fraqueza, em todas as coisas, e está sempre dizendo, “Não posso”; ao passo que, no mais profundo do nosso ser, há alguma coisa que nos nossos momentos mais elevados sabe ser mais do que conquistador sobre todas as coisas. Ela diz sempre: – “Eu posso, eu quero”. É o infante Cristo, o Filho de Deus, o Ungido, em nós. “A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus”.

Aquele que nos criou não nos formou e nos pôs à parte de Si mesmo como um artífice que fabrica uma cadeira ou mesa e a põe de lado, como coisa acabada e que é apenas trazida de novo, ao artífice que a fez, quando precisa de conserto. De modo algum. Deus não somente nos criou no princípio, mas é sempre a Fonte da Vida, habitando em nós. Dessa fonte, constantemente, jorra nova vida para restaurar os corpos mortais. Ele é a Inteligência que habita sempre em nós, que enche e renova as nossas mentes. As Suas criaturas não existiriam um só momento estivesse Ele ou pudesse Ele estar separado delas. “Sois o santuário de Deus… e o Espírito de Deus habita em vós”.

Suponhamos que uma linda fonte seja suprida por um manancial oculto e inesgotável. Em seu centro está ela cheia de vida, forte, vigorosa e borbulhando continuamente, com grande atividade; mas em sua superfície a água está quase parada a ponto de se tornar impura e coberta de espuma. Isso representa exatamente o homem. Ele é composto de uma substância infinitamente mais sutil, mais real do que a água. “Porque dele também somos geração”. O homem é o descendente – ou o trazimento à visibilidade – de Deus, o Pai. No fundo ele é puro Espírito, feito à imagem e semelhança de Deus, Substância do Pai, um com o Pai, alimentado e renovado continuamente pelo inexaurível Bem, que é o Pai. “Nele vivemos, nos movemos e existimos”. A superfície onde a estagnação tem lugar (que é o corpo do homem) não há muito que se assemelhe à Divindade, sob qualquer aspecto. Fixamos nossos olhos na periferia ou na parte externa do nosso ser, e assim perdemos a Consciência de Deus, que habita em nós, sempre ativo e imutável em nosso íntimo, e por isso vemo-nos doentes, fracos e infelizes. E até que aprendamos a viver no centro e conhecer que temos poder para irradiar paz desse centro, essa vida incessante e abundante, não estaremos bem e fortes.

Jesus conservava os Seus olhos longe da exterioridade, e mantinha os Seus pensamentos voltados para o íntimo do Seu ser, que era o Cristo. “Não julgueis pela aparência”, disse Ele, isto é, de acordo com o exterior, “MAS JULGAI SEGUNDO A RETA JUSTIÇA”, de acordo com a Verdade real ou do Espírito. Em Jesus Cristo, a Centelha Interior, que era Deus, a mesma que vive em cada um de nós, hoje, foi exteriorizada para se mostrar perfeitamente, sobre e acima do corpo, ou homem carnal. Ele operou todas as Suas poderosas obras não porque Lhe foi dado algum poder maior ou diferente daquele que Deus nos deu – não porque Ele era de alguma forma diferente, um Filho de Deus, e nós apenas criaturas de Deus – mas porque essa mesma Centelha Divina que o Pai implantou em cada nascituro, fora bafejada numa flama resplandecente, pelas Suas influências pré-natais, primeiras ambiências e pelos Seus esforços posteriores em manter-Se em constante e consciente comunhão com o Pai, a Fonte de todo o amor, vida e poder.

Ser tentado não significa que as coisas lhe advenham e que embora possam afetar os outros em muito, não lhe afetem de nenhum modo, por causa de alguma superioridade sua. Significa ser experimentado, sofrer e ter que fazer esforço para resistir. Paulo refere-se a Jesus como “alguém tentado em todas as coisas à nossa semelhança”. E o próprio Jesus confessou haver sido tentado quando disse aos seus discípulos: – “Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações” (Lc. 22: 26). A humanidade do Nazareno “sofreu tentação” ou experiência, do mesmo modo que você ou eu sofremos hoje, por causa das tentações ou sofrimentos e por igual maneira.

Sabemos que, durante o Seu ministério público Jesus dedicou horas, em cada dia, a sós com Deus; e nenhum de nós sabe o que Ele passou nos anos de Sua pré-maturidade – como você e eu estamos fazendo hoje – superando o mortal, os Seus desejos carnais, as Suas dúvidas e medos, até que atingiu o perfeito conhecimento dessa íntima Presença, esse “Pai em mim”, ao qual Ele atribuiu a autoria de todos os seus maravilhosos feitos; Ele teve que aprender como temos de aprender, Ele teve de se manter firme como nós o temos de fazer hoje; Ele teve de tentar muitas e muitas vezes, como nós o temos, ou então Ele não foi “tentado em todas as coisas à nossa semelhança”.

Precisamos todos reconhecer, creio, que foi o Cristo, em nosso íntimo, que fez de Jesus o que Ele foi; e o nosso poder, agora, reside em nossa compreensão da Verdade – porque é uma Verdade, quer nos capacitemos ou não disso – que o mesmo Cristo que vive em nós é o que vive em Jesus. É uma parte Dele próprio que Deus colocou em nosso íntimo, que vive sempre aí com inexprimível amor e desejo para assomar à periferia do nosso ser ou do nosso consciente como a nossa suficiência em todas as coisas. “O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se regozijará em ti com alegria, descansará no teu amor, exultará sobre ti com júbilo” (Sofonias 3:17). Cristo, em nosso íntimo, é o “bem-amado Filho”, o mesmo que habitava em Jesus. Ele é o “Eu em vós e vós em mim para que sejamos perfeitos” do qual Jesus falou.

Em toda essa explanação, em nada queremos diminuir de Jesus. Ele é ainda o nosso Salvador, pois que padeceu indescritíveis sofrimentos, na perfeita crucificação do ego, para que pudesse nos conduzir a Deus; para que pudesse nos mostrar a saída do pecado, da doença, e da aflição; para nos mostrar como esse mesmo Pai nos ama e vive em nós. Amamos a Jesus e devemos amá-Lo sempre com um amor que é maior do que todos os outros, e para provar o nosso amor seguiremos de perto os seus ensinamentos e a Sua vida. De nenhuma forma poderemos fazer isso perfeitamente, exceto tentando aprender o significado real de tudo o que Ele disse, e permitindo que o Pai opere através de nós, como Ele o fez, através Dele, nosso perfeito Irmão mais velho e Salvador.

Jesus algumas vezes falou da Sua parte mortal, mas Ele vivia quase completamente na parte crística Dele mesmo, tão conscientemente no centro do Seu ser, onde a verdadeira essência do Pai borbulhava em incessante atividade que Ele usualmente falava dessa parte.

Quando Ele disse: – “Vinde a mim que vos aliviarei” não quis dizer que convidava a humanidade a vir à Sua personalidade, Seu ego mortal (humano), pois Ele sabia que milhões de homens e mulheres não poderiam jamais chegar até Ele. Estava falando do próprio Cristo Nele, não significando “Vinde a mim Jesus”, mas “Vinde a mim o Cristo”. Nem significou “Vinde ao Cristo habitando em mim”, porque comparativamente, pouquíssimos poderiam fazê-lo. Mas Ele disse: – “As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo, mas do Pai que me enviou”. Assim, o Pai não dizia “Vinde a Jesus”, mas “Vinde a mim”, o que significa “deixai a vossa parte mortal, onde tudo é doença, tristeza e aflição, e vinde para o Cristo, onde habito e onde vos darei paz. Vinde à capacitação de que sois uno com o Pai, que estais cercados e cheios do amor divino, de que nada há no universo que é real, senão o bem, que todo o bem é vosso e vos dará descanso”.

“Ninguém vem ao Pai senão por mim” não significa que Deus é um Pai severo a quem devamos adular e pacificar indo a Ele através de Jesus, Seu mais terno e mais suplicado Filho. Não disse Jesus: – “Quem me vê a mim, vê o Pai”? Ou, em outras palavras, “Assim como sou, em amor, em gentileza e acessibilidade, assim é o Pai”? Essas palavras significam que ninguém pode ir ao Pai a não ser através da parte crística, em seu íntimo. Você não pode ter esta realização por meio de outra pessoa ou por qualquer caminho externo. Alguém poderá ensiná-lo como realizar e assegurar-lhe que tudo será seu se o fizer, mas você terá de recolher-se dentro de sua própria alma, encontrar ali o Cristo, e buscar o Pai através do Filho, para aquilo que você deseje.

Jesus estava constantemente tentando afastar a atenção do povo da Sua própria personalidade e fixá-la no Pai que habitava Nele, como a fonte de todo o Seu poder. E quando estavam apegados ao Seu eu mortal, porque seus olhos ainda não haviam sido abertos no entendimento sobre o Cristo no íntimo das suas próprias almas, Ele disse: – “Convêm-vos que eu vá. Pois se eu não for, não virá a vós o Paráclito, mas se eu for, enviar-vo-Lo-ei”, isto é, se Ele permanecesse onde pudessem continuar olhando para Ele todo o tempo, eles nunca compreenderiam que o mesmo Espírito de Verdade e de Poder habitava neles próprios.

Há uma grande diferença entre uma vida cristã e uma vida crística. Viver uma vida cristã é seguir os ensinamentos de Jesus, com a ideia de que Deus e Cristo estão inteiramente no exterior do homem, para serem buscados, mas sem terem de responder sempre. Viver uma vida crística é seguir os ensinamentos de Jesus no conhecimento de que, a constante Presença de Deus, que é sempre vida, amor e poder em nosso íntimo, está agora sempre pronto, e à espera para fluir abundante e prodigamente em nossa consciência e através de nós a outros, desde o momento em que nos abrimos a ela e confiantemente esperamo-la. Uma coisa é seguirmos o Cristo, o que é belo e bom, no que isso concerne, mas que é sempre imperfeito, e outra coisa é deixar que o Cristo, o perfeito Filho de Deus, Se manifeste através de nós. Uma coisa é esperarmos ser eventualmente salvos do pecado, da doença e da aflição; outra coisa é saber que somos, em realidade, salvos agora, de todos esses erros, pela Presença do Cristo em nós, e pela fé afirmando isso, até que sua evidência se manifeste em nossos corpos.

Acreditar, simplesmente, que Jesus morreu na cruz para aplacar a ira de Deus nunca salvou nem salvará ninguém do presente pecado, da doença ou da necessidade; e não foi isso o que Jesus ensinou. “Os demônios creem e tremem”, disseram-nos, mas nem por isso eles são salvos. É preciso algo mais do que isso – um toque vital de alguma espécie, uma comunhão de nossas almas com a Divina Fonte de todo bem e suprimento. Temos que ter fé em Cristo, crer que Cristo habita em nós e em nós está o Filho de Deus; e que esse Uno, que habita em nós, tem o poder de salvar-nos e tornar-nos íntegros. Sim, e mais: Ele já nos tornou íntegros. Pois não disse o Mestre: – “Tudo quanto suplicais e pedis, crede que o tendes recebido e te-lo-eis”?

Se você manifesta doença, procure esquecer a aparência que é externa, ou a superfície da lagoa, onde a água está estagnada e a espuma subiu – e falando do âmago do seu ser, diga: – “Este corpo é o templo do Deus vivo; o Senhor está agora no Seu templo sagrado; o Cristo é a minha vida, o Cristo é a minha saúde, o Cristo é o meu vigor; o Cristo é perfeito, porque Ele habita em mim como vida perfeita, saúde e vigor”. Diga estas palavras com fervor, esforçando-se por se capacitar do que está dizendo e quase instantaneamente a perene Fonte da Vida, no íntimo do seu ser, começará a borbulhar e continuará com uma rápida e crescente atividade, até que nova vida irradie através da dor, da doença, da mágoa, e de todas as enfermidades, para a superfície, e o seu corpo mostrará a perfeita vida do Cristo.

Suponhamos seja dinheiro o de que você necessite. Pense: – “Cristo é o meu suprimento abundante (ao invés de o "meu supridor"). Ele está aqui, em meu íntimo, agora, e deseja ardentemente manifestar-Se como meu suprimento. O Seu desejo é cumprido agora”. Não cogite de como Ele o fará, mas mantenha o firme pensamento no suprimento aqui e agora, esquecendo-se de todas as demais fontes, e Ele, seguramente, honrará sua fé manifestando-Se como seu suprimento, muitas vezes mais abundante do que você havia pedido ou pensado. Lembre-se das sábias palavras de Tiago, o apóstolo: – “Porque quem duvida é semelhante à vaga do mar, que o vento subleva e agita. Não cuide esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa”.

Em nenhuma parte do Novo Testamento está expressa a ideia de que Jesus Cristo veio para que pudesse haver, depois da morte, uma remissão da pena para o pecado. Essa ideia é pura ficção da ignorante mente carnal humana, de época posterior. Em muitos lugares da Bíblia são feitas referências à “remissão de pecados”; e mesmo Jesus, de acordo com o relato de Lucas, disse que “pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações”. “Pecado”, no texto original, não significa crime merecedor de punição. Significa qualquer erro ou falha que traga sofrimento. Cristo veio para que haja remissão de pecados, de erros, de falhas, os quais são inevitavelmente seguidos pelo sofrimento. Ele veio para trazer “boas novas e grande alegria a todos os povos”. Boas novas de que? Boas novas de salvação. Quando? Onde? Não há salvação da punição depois da morte, mas salvação dos erros e falhas aqui e agora. Ele veio para nos mostrar que Deus, nosso Criador e Pai, anseia com profundo desejo inexprimível ser para nós, através do Cristo, a abundância de todas as coisas de que necessitamos ou desejamos. Mas a nossa parte é escolher tê-Lo, e depois de ter escolhido, “atermo-nos firmemente até que Ele venha”, não até que ele venha depois da morte, mas apenas atermo-nos firmemente à nossa fé até que Ele Se manifeste. Por exemplo, por essa forma pedindo-Lhe saúde, quando por um ato da própria vontade você deixa de buscar em meios materiais (e isso nem sempre é fácil de se fazer) e declara que o Cristo, em você, é a única vida do corpo e a vida sempre perfeita; é apenas necessário que você se atenha, firmemente, sem vacilação no pensamento, a fim de se tornar bom.
Cont...


sexta-feira, janeiro 21, 2011

Transcendendo o Jakkô (mundo da claridade serena) - 02 - final


Masaharu Taniguchi


O senhor considera que "na vontade da Grande Fonte do Universo existem luz e sombra, ou seja, o daijakko (a Grande Penumbra), que abrange simultaneamente a sombra e a claridade". Com base nesse pensamento, o senhor afirma que não consegue ir além desse conceito, isto é, não consegue acompanhar a ideia de um mundo exclusivamente de luz. Afirma também que a origem dos aspectos sombrios do mundo fenomênico está na própria Grande Fonte do Universo. O senhor chegou a essa conclusão porque está confundindo o Universo Verdadeiro com o Universo Fenomênico. O Universo Verdadeiro é o "mundo em conformidade com a vontade de Deus", é o "mundo onde as graças estão à nossa disposição, mesmo que não as peçamos", é o "mundo onde o amor de Deus envolve a todos, do mesmo modo que o Sol ilumina os bons e os maus". É portanto, um mundo onde existe unicamente a luz. Já o Universo Fenomênico é um mundo onde o aspecto perfeito do Universo Verdadeiro é projetado de maneira imperfeita na dimensção de tempo e espaço, devido a distorções e irregularidades da "lente mental". É, portanto, um mundo onde se mesclam a luz e a sombra, o certo e o errado, a saúde e a doença. Em suma, o Universo Fenomênico recebe a luz da perfeição do Universo Verdadeiro, mas tem na superfície a "lente mental opaca que não deixa passar totalmente essa luz". Assim sendo, o mundo fenomênico surge como resultado "daquilo que é perfeito", distorcida apenas pelas vibrações mentais, o que equivale a dizer que "ele abrange ao mesmo tempo, luz e sombra". Por isso, entendo bem o seu argumento e não acho que esteja errado.

Porém, isso se aplica ao Universo Fenomênico e não ao Universo Verdadeiro. O Universo Verdadeiro é o mundo que transcende o Universo Fenomênico. É o mundo constituído exclusivamente de luz, que transcende o mundo onde se mesclam a luz e a sombra. Talvez não seja uma alegoria perfeita, mas podemos dizer que o Universo Fenomênico é uma foto, ou filme projetado na tela de tempo e espaço. É um universo de luz e sombra, um mundo gerado pela luz do projetor e pelas sombras do filme que obstruem a luz. Continuando com a alegoria, podemos comparar às "imagens-sombras" do filme os aspectos fenomênicos gerados pelos goun (cinco agregados que, segundo o budismo, são a forma - matéria -, a sensibilidade, o pensamento, a ação e a consciência), ou seja, "cinco agregados", que são produzidos pela mente. Na Origem da luz não existem sombras imperfeitas dos goun. As "imagens sombras" só existem no filme. Transcendendo o "filme" e chegando à Origem da Luz, só teremos a luminosidade. Esse mundo constituído exclusivamente de luz é o Universo Verdadeiro.

Talvez o senhor diga que se houvesse somente luz não poderia existir nada que tivesse forma, pois a existência de forma implica em surgimentos de sombra. A comparação Universo Verdadeiro com o filme de cinema é mera alegoria, e embora sirva para explicar o processo pelo qual o Universo Verdadeiro se projeta no Universo Fenomênico, não é suficiente para demonstrar o magnífico cenário do Universo Verdadeiro. Não é possível captá-lo com os cinco sentidos e, por isso, também no budismo atribuem-se a ele diversos nomes, tais como: "Realidade Absoluta", "Vazio Original", Jakkô-do ("mundo da claridade serena" ou "mundo da luz difusa"), "Imagem Verdadeira", "Mundo Amorfo", "O Mundo que, por ser amorfo, possui infinitas formas". Mas, considerando que o mundo sem formas é um mundo anterior à manifestação fenomênica, os budistas constumam concebê-lo como um "mundo vazio absoluto". Daí, as expressões como "O mundo da igualdade absoluta" e "O maravilhoso mundo da igualdade sem limite". As expressões variam, mas, como se trata de um mundo anterior à manifestação fenomênica, as pessoas tendem a imaginar um mundo de igualdade em oposição ao mundo de desigualdade. Além disso, por causa de determinadas expressões usadas pelos predecessores da doutrina, as pessoas tendem também a imaginar um mundo comparável ao meio etéreo, que é amorfo, incolor, insípido, inodoro, impalpável e inaudível. Por isso, existe a tendência de se pensar que "voltar à Imagem Verdadeira" é retornar ao vazio, a um mundo etéreo, e que "viver em conformidade com a Imagem Verdadeira" é levar uma vida de isolamento, com inclinação ao budismo Pequeno Veículo. Supõe-se que essa tenha sido uma das princípais causa do declínio do budismo.





Mas o mundo da Existência Verdadeira, que consegui intuir, não é um mundo incolor, insípido, impalpável e inaudível, mas sim um mundo de dimensão ilimitada, dotado de infinitos e maravilhosos aromas, sons, cores, sabores e sensações táteis. Consigo reconhecer intuitivamente esse mundo sublime e, como prova que corrobora a sua existência, posso mencionar o seguinte fato: à medida que o nível de aprimoramento espiritual se eleva, ocorre a cura de distúrbios dos sentidos, tais como: daltonismo, dificuldade de distinguir os sons, dificuldade de sentir cheiro (resultante, por exemplo de sinusite), e também aumenta a capacidade de sentir o sabor. E, à medida que eliminamos as impurezas e distorções da nossa "lente mental" - através da qual projetamos o mundo da Imagem Verdadeira no nível fenomênico -, o mundo das sensações que podemos captar torna-se mais rico, oferecendo maior variedade de sensações. Podemos, pois, presumir que, quando conseguimos purificar completamente a nossa "lente mental", tornando-a transparente e cristalina, de modo a permitir que o mundo da Existência Verdadeira se projete com toda a nitidez no mundo fenomênico, as sensações que poderemos captar serão infinitamente maravilhosas e variadas.

Na maioria das vezes, o cenário do mundo da Existência Verdadeira tem sido expresso como "vazio" ou Jakkô-do. Por isso, é provável que alguns budistas que não têm poder intuitivo e que se baseiam apenas na interpretação das literaturas sobre o assunto imaginem um mundo etéreo, uma imensidão vazia, onde paira uma luminosidade suave e mística. Porém, o cenário do mundo da Imagem Verdadeira não é assim. O mundo da Existência Verdadeira é o Jyodo ("Terra Pura") real e concreto, como podemos perceber por uma rápida descrição constante no tópico Jigage da Sutra do Lótus. Nesse tópico consta: "Mesmo quando o mundo fenomênico chegar ao fim de sua existência e for consumido por um grande fogo, esta Terra Pura (mundo da Imagem Verdadeira) permanecerá pacífica e tranquila, repleta de seres celestiais; templos e palácios rodeados por jardins e bosques estão majestosamente ornados por grandes variedades de tesouros; belas árvores estão carregadas de flores e frutos; este é o lugar onde todos os seres viventes desfrutam uma sublime alegria; os seres celestiais executam belas músicas, tocam os 'tambores do céu' e fazem chover pétalas sagradas flores de mandarava sobre Buda e sobre a multidão". A paz e a felicidade do mundo da Existência verdadeira são eternamente indestrutíveis, mas o mundo fenomênico, que é visto através da "lente mental", é um mundo transitório, que a cada instante se aproxima do fim. E o tópico Jigage assim prossegue: "A nossa Terra Pura é indestrutível, mas as pessoas veem o mundo dizimado pelo fogo e repleto de angústia, medo e sofrimento".

A meu ver, o que o senhor chama de seian, de daijakko, de "Grande Fonte do Universo" - a força motriz que age incessantemente abrangendo dentro de si a felicidade e os infortúnios dos homens -, e até mesmo de "Deus", na verdade deve ser "Grande Fonte do Universo Fenomênico". O Universo Fenomênico, apesar de receber a luz do mundo da Existência Verdadeira, move-se incessantemente impulsionado pelas paixões mundanais e pelos carmas. Portanto, o que move o Universo fenomênico não seria a "vontade cega", a que o filósofo schopenhauer se referiu? Se o Universo fenomênico é um mundo em constante mutação, é inevitável que a claridade e a treva se mesclem, que as tristezas e as alegrias se alternem. Qual será, então, o caminho para sublimá-lo e torná-lo um mundo feito exclusivamente de luz e felicidade? O caminho consiste em amainar o máximo possível as "agitadas ondas das paixões mundanais", através do conhecimento da Verdade; da atitude mental de entrega total preconizada pelo fundador da religião Konko; ou da postura mental como a sua, expressa na frase "Devo resignar-me com a doença se é a vontade de Deus"; com isso será possível diminuir consideravelmente as distorções da "lente mental" através da qual tudo se manifesta neste mundo. Como resultado disso, o aspecto deste mundo fenomênico se tornará mais parecido com o maravilhoso cenário do mundo da Existência Verdadeira (mundo da Imagem Verdadeira), ocorrendo a cura de doenças e o advento da felicidade. Creio que assim se manifestarão as "graças que estão à nossa disposição antes mesmo que peçamos a Deus", as "graças que conseguimos quando adotamos a postura mental de entrega total", as "graças que obtemos quando confiamos em Deus, abandonando os apegos". Assim é a visão de mundo da Seicho-No-Ie. O surgimento, neste mundo, das bênçãos e dádivas do mundo da Imagem Verdadeira - comumente designadas com o termo "graças" - é um fato em conformidade com a lógica filosófica, não ocorrendo ao sabor da "vontade cega" ou da ilusão.

Se muitas pessoas têm a dificuldade de entender a "visão de um mundo constituído exclusivamente de luz" preconizada pela Seicho-No-Ie, é porque estão confundindo o Universo Fenomênico com o Universo Verdadeiro, e o homem fenomênico com o homem real. Sakyamuni (Buda) pregava que "o Monte Ryoju (local que Buda pregava com frequência) é eterno"; mas o povo não conseguia ver o Monte Ryoju eterno, enxergando apenas o "mundo fenomênico devastado pelo fogo e cheio de angústias, medos e sofrimentos".

As pessoas não conseguiam acompanhar o despertar de Sakyamuni. Quando ele, às vésperas de entrar no nirvana, declarou "Sou corpo diamantino, indestrutível, imune a doenças, imortal", o discípulo Kasho-bosatsu perguntou: "Por que uma pessoa boa como o senhor, que só praticou o bem, adoece e sofre?". Sakyamuni não se referira ao seu "eu fenomênico" constituído de corpo carnal, mas ao seu Eu verdadeiro (Buda eterno); porém, o discípulo Kasho não conseguia trasnscender o aspecto fenomênico de Sakyamuni (a imagem física de Sakyamuni).

Ao falar em "mundo constituído exclusivamente de luz" e em "ser humano isento de doenças, aflições e sofrimentos", refiro-me ao mundo da Existência Verdadeira e ao homem real (o que existe de verdade) e não ao mundo fenomênico e ao homem carnal. E, ao usar a expressão "O homem é filho de Deus", refiro-me à Imagem Verdadeira - ou Natureza Verdadeira - do ser humano, e não ao homem carnal, cujas células morrem com o passar dos dias e cujo corpo expele fezes e urina e segrega lágrimas e suor. O Universo Fenomênico é uma existência material, e o homem fenomênico é um ser corpóreo. Portanto, segundo o ponto de vista da Seicho-No-Ie, que desde o princípio vem pregando a inexistência original da matéria - por conseguinte, do corpo carnal -, não se deve atribuir demasiada importância ao corpo carnal nem aos benefícios deste mundo, que são constituídos de elementos materiais. Porém, é curioso que, justamente quando negamos de modo categórico a existência real da matéria (e, portanto, do corpo carnal), ocorram fatos benéficos, como efeito surpreendente dessa negação. A razão disso está implícita na sua afirmação e que sarou quando se entregou aos desígnios de Deus, e também na afirmação do fundador da religião Konko: "Quando nos entregamos nas mãos de Deus, concretizam-se todas as coisas boas deste mundo". Ou seja, ocorre a manifestação do maravilhoso aspecto do mundo da Existência Verdadeira quando a pessoa deixa de se apegar ao mundo fenomênico. Como o mundo da Existência Verdadeira é um mundo perfeito, repleto de harmonia e felicidade, é esse o aspecto que se manifesta. Portanto, quando eu afirmo "Manifestando-se a luz, extingue-se a treva", o termo "luz" não significa uma luz relativa a que o senhor se refere, mas à luz do mundo da Existência Verdadeira. Quando o sublime cenário do mundo da Existência Verdadeira se revela, o cenário imperfeito do mundo relativo (mundo fenomênico) acaba sendo "assimilado" pela luz e passa a apresentar um aspecto semelhante ao do mundo da Existência Verdadeira. A cura de doença também ocorre por este motivo.

Conforme o senhor disse, o seu conceito de jakkô difere do meu conceito de luz. Jakkô é um mundo que se encontra um pouco aquém do Mundo da Luz (mundo constituído unicamente de luz); é a origem do mundo fenomênico, que contém a "lente mental de ilusão" através da qual o mundo fenomênico se manifesta, ao passo que o Mundo Verdadeiro constituído unicamente de luz, é o mundo maravilhoso que transcende a "lente mental de ilusão". Portanto, é compreensível que o senhor afirme "Ainda que se retorne ao mundo de jakkô", a sombra continua existindo, ao passo que eu afirmo: "Quando se retorna ao mundo constituído de luz, obviamente não existirá mais a treva nem o jakkô, descortinando-se unicamente o mundo de imensa luminosidade, dinâmico e vibrante, o qual não pode ser expresso com a palavras jakkô, que significa 'penumbra' ou 'meia-luz'". O senhor diz que a minha argumentação difere bastante do seu conceito tradicional e que provavelmente apenas os estudiosos do assunto conseguirão entender, Mas eu acho que o senhor a entenderá.

No dia 18 de novembro de 1936, proferi palestra numa conferência religiosa realizada no auditório público de Nakanoshima, Osaka, sob o patrocínio do Jornal Chugai-Nippo. A certa altura, afirmei: "O Mundo da Imagem Verdadeira é por demais dinâmico e vibrante para ser chamado de jakkô; é um mundo concreto e indestrutível que jamais poderá ser chamado de 'vazio'. Ao contrário do mundo fenomênico, que é fugaz e sem consistência como uma visão ou um relâmpago, o Mundo da Imagem Verdadeira é um mundo real, concreto, e é esse o seu aspecto descrito no tópico Jigage, do Sutra do Lótus". Então, da ala dos ouvintes budistas, alguém gritou: "Não distorça o budismo!". Até nos dias atuais existem muitos budistas que pregam: "O Mundo da Existência Verdadeira é o mundo do 'vazio', semelhante à atmosfera ou ao meio etéreo, quenão se fragmenta mesmo que lhe apliquemos golpes. Por isso, dizemos que é indestrutível". Lamento que façam esse tipo de pregação. Se o mundo da Existência Verdadeira fosse assim, retornar a ele, significaria tornar-se algo semelhante ao ar ou ao éter; as pessoas retornariam à Existência Verdadeira somente ao serem completamente desintegradas, após morrerem e serem queimadas a uma temperatura altíssima, que não deixassem remanescer nem cinzas nem gazes. Considero lastimável que ainda hoje se pratique no Japão o budismo Pequeno Veículo que reduz o homem ao nada.

É verdade que a propaganda que fazemos nos jornais e outros meios de comunicação "é um expediente para conduzir a massa para o caminho da fé", como o senhor disse. Como expediente para conduzir as pessoas à salvação, às vezes enfatizamos as graças proporcionadas neste mundo. Mas as matérias das propagandas nunca contêmm mentiras. É natural que o budismo Grande Veículo, ao desenvolver a obra de salvação do povo, atue no sentido de proporcionar graças deste mundo e possibilitar a construção de um paraíso terrestre, isento de doenças e sofrimentos. É, portanto, uma ação de avanço da luz, e não uma ação em que haja a interferência de sombra. Penso que os religiosos budistas não devem se limitar a ficar nos templos e cuidar dos funerais. É preciso reconhecer que as atividades para a salvação da massa são fenômenos que ocorrem quando a , ao passar pela "lente mental de manifestação do fenômeno", promove a desintegração da treva e revela o luminoso e vibrante mundo da Existência Verdadeira.

Finalizo aqui a minha opinião acerca das questões que o senhor apresentou. Será ótimo se este ensaio servir de ensejo para que outras pessoas, que tenham dúvidas semelhantes às apresentadas pelo senhor, possam estudar mais a fundo essas questões religiosas. Obrigado.


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pgs. 78-88)

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Transcendendo o Jakkô (mundo da claridade serena) - 01



Carta do sr. Hyakuzo Kurata*

Há algum tempo, comecei a escrever-lhe uma carta, mas acabei interrompendo porque não me sentia totalmente satisfeito com o seu ponto de vista. Explico: embora tenha grande simpatia e interesse pelo seu espiritualismo absoluto, pela sua teoria de que a matéria não existe originalmente, há dentro de mim um bloqueio que me impede de aderir totalmente a essa teoria. Por isso, não consigo agir como o senhor, isto é, afirmar corajosa e energeticamente que é possível curar as doenças físicas por meio da força espiritual. Entretanto, do ponto de vista da epistemologia, reconheço que tenho grande inclinação pela teoria espiritualista, e, no tocante à ciência, sei que a ciência moderna, na área da teoria dos elétrons (Nota: esse diálogo ocorreu na década de 30. Hoje em dia, a Ciência comporta a teoria quântica, estando ainda bem mais adiantada), tem uma faceta bastante "espiritualista". Essa constatação me deixa muito satisfeito. O que me agrada especialmente é a maneira clara e firme com que o senhor apresenta sua teoria diametralmente oposta à afirmação marxista de que "matéria é elemento dominante e o espírito se sujeita a ela". Considero-me uma testemunha viva da ação do espírito sobre o corpo, pois consegui curar-me de uma doença com a força espiritual - proveniente principalmente do despertar alcançado através da religião. No entanto, ainda não consigo acreditar realmente que "retornar à original união com a Grande Fonte do Universo" garantirá a cura de doença, melhora do destino, felicidade e prosperidade. De fato, uma vida em conformidade com a Grande Fonte do Universo é uma vida de luz. Contudo, essa luz não é aquela em oposição à treva, mas sim uma claridade difusa que está além da luz e treva, e que no budismo se diz jakkô. Por isso, há quem prefira usar a expressão seian ("treva sagrada"), em vez do termo jakkô - luz difusa que pode ser descrita como claridade suave ou penumbra. Vendo ocorrer doenças, infortúnios e calamidades neste mundo, deduzo que tudo isso esteja no grande jakkô, mas não consigo deduzir o contrário, ou seja, que do mundo do jakkô só podem vir coisas positivas como cura de doenças, felicidade e benefícios. Não posso saber se o Universo abrange por natureza a saúde, a felicidade e os benefícios. Quando adoeço, sinto que é o Universo que está doente, que é Deus que está doente. Então, como posso ter a certeza de obter a cura?

Essa ideia de fatalidade me ocorre principalmente quando se trata de adoecimento de animais. Creio que eles vivem em conformidade com a vontade de Deus; então por que adoecem? Em relação ao ser humano, tenho várias dúvidas. Pode-se fazer distinção entre morte natural e morte por doença? Entendo que é preciso viver conforme a vontade de Deus, mas não consigo acreditar que, procedendo desse modo, ocorra realmente a cura da doença. Consigo aceitar a crença de que, dependendo da vontade de Deus, pode-se obter a cura ou não. E foi assim que me curei da doença. Curei-me quando deixei de buscar ansiosamente a cura e me conformei, pensando: "Devo aceitar com resignação a doença, se essa é a vontade de Deus". Portanto, acho que a forma pela qual obtive a cura é diferente do seu método de cura, de cunho positivista e calcado na Ciência Cristã.

Entretanto, não significa que eu negue o seu ensinamento positivista sobre cura de doenças, felicidade e benefícios, e a respeito disso discorri de maneira detalhada e lógica no meu livro Mikagura Uta o Yumo (Lendo Hinos Sagrados). Pelo contrário, não posso deixar de concordar com suas afirmações. Porém, como eu próprio não tenho base suficiente, não posso fazer as mesmas afirmações aos outros.

Quando penso em Deus com uma visão panteísta, desenvolvo o seguinte raciocínio: já que Ele se manifesta através da mente humana, teria de possuir, necessariamente, uma natureza espiritual e também "pessoal". Por conseguinte, a vontade divina deve se manifestar não apenas como infalibilidade da lei natural, mas também como liberdade individual. A relação entre Deus e o ser humano baseia-se num livre intercâmbio de pensamentos e, portanto, é possível ocorrer milagres (fatos que transcendem a lei de causa e efeito). Acho que é possível a mente mover coisas. Devo reconhecer que Deus age segundo Seus propósitos. Só de pensar no mecanismo das válvulas do coração, fico maravilhado. É inconcebível que tal mecanismo, comparável ao da válvula de bomba que os homens fabricam com determinado propósito, tenha sido gerado por acaso ao longo do processo de selação natural das espécies, e sem o conhecimento do próprio indivíduo.

Por essa razão, estou inclinado a admitir a obtenção de cura, de bênçãos, e de benefícios por meio da fé. Contudo, não me parece que essa seja a essência da fé religiosa. Penso que a essência da fé está em manter-se um com Deus em toda e qualquer circunstância e viver conforme Seus desígnios. Se é vontade de Deus, temos de aceitar com resignação a doença e a morte - é assim que penso. No máximo, pediria a Deus: "Se é Vossa vontade, afastai de mim esse cálice". Por enquanto, não consigo ir além desta postura mental.

Por isso, não posso seguir seus passos. Como não tenho prova de que "doença não é desígnio de Deus", não posso recomendar ou divulgar esse ensinamento que o senhor vem pregando.

Pelas explicações acima, creio que o senhor entenderá as minhas razões.

Acho que existe uma diferença básica entre o meu conceito de jakkô (luz difusa) e o seu conceito de Luz. Segundo o meu conceito, jakkô é uma luz mesclada com treva, e não a luz em oposição à treva. Assim, ele abrange também as doenças, infortúnios e calamidades. É muito diferente da luz resplandecente, diante da qual a treva se afasta.

Por causa dessa diferença de conceitos, não estou em condição de escrever um texto apoiando inteiramente o seu ponto de vista. Não sei se os leigos me compreenderão.

Apesar disso, lendo o seu livro, percebo que na explicação da razão e do processo de cura existe fé, o que deixa bem claro que sua religião não visa simplesmente curar doenças, como criticam alguns segmentos da sociedade. Para curar doença, é preciso tornar-se um com o Universo. A iluminação ocorre como resultado da comunhão com o Universo; portanto, a iluminação é a prova da fé.

Uma vez esclarecidos o motivo e o meio pelo qual ocorre a cura da doença, com certeza as pessoas compreenderão que o senhor não está fazendo propaganda enganosa e que a cura é uma consequência natural da fé.

Só que, no meu caso - conforme expliquei no início desta carta -, tenho um conceito de fé um pouco diferente do seu, pois acredito que, mesmo que se torne um com o Universo, pode continuar existindo a treva. Por isso, não consigo seguir o seu caminho.

Concordo com o seu modo de pensar no que concerne à visão de mundo, até o ponto em que o senhor passa a tratar de intricados princípios de fé, como um entendido no assunto. Inclino-me a concordar que é possível obter benefícios por meio da devoção religiosa, mas não acredito que essa seja a essência da fé, e acho que o senhor também pensa assim.

Quanto à propaganda que o senhor publicou nos jornais, creio que seja um expediente para conduzir a massa para o caminho da fé. Como eu próprio participo de um campanha nacional, tenho real compreensão sobre estratégia de propaganda dirigida à massa. Porém, acho inevitável que tal propaganda cause ressentimentos em algumas pessoas vaidosas da própria integridade moral. Creio que essa questão só poderá ser esclarecida com base no meu conceito sobre "luz que pode conter uma parcela de treva". Se quisesse uma propaganda sem essa "parcela de treva", teria de optar por uma publicação dirigida a uma minoria, como a revista Seikatsusha. Bungei-Shunju e a Iwanami. De outro modo, não se pode gerar benefício em grande escala.

Não me importo nem um pouco que esta carta seja publicada. As questões que levantei são questões muito importantes do ponto de vista religioso, e as minhas considerações talvez contribuam para desfazer o equívoco e as críticas da sociedade quanto à forma de divulgação e ao modo de realizar curas.

(Hyakuzo Kurata)




Masaharu Taniguchi
RESPOSTA AO SR. HYAKUZO KURATA:
Prezado sr. Hyakuzo Kurata:

Recebi o seu livro Shinran Shonin, de cunho religioso, e pensei em fazer comentários sobre ele ou em apresentá-lo ao público. Mas decidi não fazê-lo porque constatei em seu livro a mesma divergência sobre o conceito de fé a que o senhor se refere ao afirmar que até certo ponto identifica-se com a minha fé, mas que a partir desse ponto discorda de mim em vários aspectos e, por essa razão, não consegue se decidir a transmitir aos outros o ensinamento da Seicho-No-Ie. Eu receava que, escrevendo um artigo citando esses pontos, poderia ser interpretado como uma crítica ao senhor, e a intenção de apresentar sua obra ao público acabaria tendo resultado negativo, o que seria lastimável. Entretanto, ao ler sua carta, compreendi melhor a sua postura mental no tocante à fé. Considerando que o senhor mesmo disse: "Não me importo nem um pouco que esta carta seja publicada. As questões que levantei são questões muito importantes do ponto de vista religioso, e as minhas considerações talvez contribuam para desfazer o equívoco e as críticas da sociedade quanto à forma de divulgação e ao modo de realizar curas", e considerando que também devem existir pessoas que estão no nível de fé semelhante ao seu e outras que têm dúvidas iguais às suas no que concernem à Verdade que a Seicho-No-Ie prega, decidi enumerar os pontos divergentes de nossas opiniões, mencionados em sua carta, esperando que os meus comentários a respeito sejam úteis para quem busca o caminho da verdadeira fé. Mesmo porque, conforme sua afirmação, os pontos divergentes de nossas opiniões constituem uma questão bastante grave no âmbito da religião, e eu penso que nessas diferenças está a razão pela qual a fé por nós preconizada realiza milagres no cotidiano, enquanto religiões tradicionais como o budismo e o cristianismo raramente operam milagres no dia a dia.

O senhor é uma pessoa que realmente vivenciou a cura divina. Na carta, afirma: "Considero-me uma testemunha viva da ação do espírito sobre o corpo, pois consegui curar-me de uma doença com a força espiritual - proveniente principalmente do despertar alcançado através da religião". Mas, em seguida, diz: "No entanto, ainda não consigo acreditar realmente que 'retornar à original união com a Grande Fonte do Universo' garantirá a cura de doença, melhora do destino, felicidade e prosperidade", e tece a seguinte consideração: "De fato, uma vida em conformidade com a Grande Fonte do Universo é uma vida de luz. Contudo, essa luz não é aquela em oposição à treva, mas sim uma claridade difusa que está além da luz e treva, e que no budismo se diz jakkô. Por isso, há quem prefira usar a expressão seian ('treva sagrada'), em vez do termo jakkô - uma luz difusa que pode ser descrita como claridade suave ou penumbra".

Não sei exatamente o que o senhor quer dizer com a expressão "Grande Fonte do Universo", usada nessa parte de sua teoria; talvez esteja se referindo ao Criador, do ponto de vista do cristianismo; ao "vazio original" da filosofia budista, ou ao mundo Sumikiri - mundo absoluto anterior ao surgimento dos fenômenos do universo -, de que fala o xintoísmo ortodoxo. Suponho que, segundo o seu conceito, a "Grande Fonte" seja algo comparável a raios solares originalmente "incolores", que no arco-íris estão decompostos em raios de sete cores. Os "raios incolores" do Sol corresponderiam ao Ser Absoluto, e os raios decompostos, aos fenômenos manifestados neste mundo. Pensando desse modo, posso entender a sua ideia de que na "Grande Fonte do Universo" estão abrangidos todos os fenômenos, inclusive doenças, infortúnios e calamidades. Se o senhor pensa que todos os fenômenos do mundo fenomênico, tanto as doenças, os infortúnios e as calamidades como a saúde, a felicidade e outros benefícios estão abrangidos na Grande Fonte, da mesma forma que as cores do arco-íris estão abrangidas nos raios solares "incolores" (que corresponderiam ao grande jakkô), é natural que tenha chegado à seguinte conclusão: "Vendo ocorrer doenças, infortúnios e calamidades neste mundo, deduzo que tudo isso esteja no grande jakkô, mas não consigo deduzir o contrário, ou seja, que do mundo do jakkô só podem vir coisas positivas como cura de doenças, felicidade e benefícios. Não posso saber se o Universo abrange por natureza a saúde, a felicidade e os benefícios. Quando adoeço, penso que isso é consequência do 'adoecimento' do Universo - diria, até, que é proveniente de Deus. Então, como posso ter a certeza de obter a cura?"

Prosseguindo a leitura da carta, percebi que sua ideia de "Grande Fonte do Universo" é bastante parecida com o conceito de "vontade cega do Universo" preconizado por Schopenhauer. Não pude deixar de me lembrar de um trecho da coletânea de pensamentos Seichi (Reflexões) que o senhor publicou há mais de dez anos, no qual expressa a sua visão de mundo com as seguintes palavras: "Penso que este mundo segue a sua trajetória abrangendo em si o 'incêndio' e a 'festa das flores', mas que vai dominando gradativamente o 'incêndio' e fazendo predominar cada vez mais a 'festa das flores'". Lembrando-me dessas palavras, concluí que o senhor vê como Grande Fonte do Universo a força incompleta que, "abrangendo o 'incêndio' e a 'festa das flores' e lutando contra essa incoerência, vai se ampliando e intensificando. Sob esse prisma, talvez a "Grande Fonte do Universo" seja a "treva sagrada", como disse alguém. Por outro lado, já que é um mundo que transcende a matéria, talvez seja o "vazio original". Mas se o ser que rege nossa vida fosse alguém imperfeito que fizesse surgir várias tragédias da "treva sagrada" ou gerasse diversos infortúnios do "vazio original", e se afligisse, sofresse e lutasse junto com o homem carnal, então ele seria um ente destituído de sabedoria e não mereceria ser chamado de Deus.Da frase: "Quando adoeço, penso que é consequência do 'adoecimento' do Universo", constante na sua carta, depreendo que, no seu entender, quem cria um corpo doente e o mantém é uma força proveniente da Grande Fonte do Universo. Se a Fonte do Universo fosse uma força que nos traz infortúnios, não se poderia chamá-la Deus, e sim Mumyo (Ausência de Luz, ilusão). Dizer que é essa a força motriz que sustenta a existência deste mundo é confirmar a teoria budista dobre mumyo-engi ("Tudo surge a partir da ilusão primordial do mundo") e negar a teoria cristã sobre a criação do Universo por Deus.

Tentando provar a sua teoria de que na Fonte do Universo estão abrangidas até mesmo doenças e, portanto, elas não são consequências das ilusões das pessoas, o senhor diz: "Essa ideia de fatalidade me ocorre principalmente quando se trata de adoecimento de animais. Creio que eles vivem conforme a vontade de Deus; então, por que adoecem?". O senhor não estaria se baseando numa observação equivocada ao questionar isso? É sabido que as aves e os animais, enquanto vivem de modo natural em seu habitat, não adoecem. Mas tornam-se vulneráveis a doenças quando são domesticados e passam a viver em contato com o ambiente humano. Os pardais procriam duas vezes por ano, na primavera e no outono; devido à rápida multiplicação, com certeza existe uma enorme população desses pássaros. Se eles fossem vulneráveis a doenças, o número de mortes seria elevadíssimo, e veríamos pardais mortos em toda parte. Porém, esses pássaros não morrem prematuramente, a não ser quando são vítimas de meninos malvados que atiram neles com espingarda de pressão ou quando sofrem algum acidente. Os animais e as aves só morrem prematuramente quando são domesticados e passam a conviver com o ser humano. Não nos leva este fato à conclusão de que eles só se tornam vulneráveis a doenças quando entram em contato com as emanações da mente ilusória do ser humano?

Existem casos que comprovam que animais domésticos doentes curam-se quando alguém lhes dirige vibrações positivas. Isto nos leva a inferir que o adoecimento de animais não é algo que ocorre longe dos humanos, que é o principal de todos os seres viventes. Talvez o senhor questione se havia ou não doenças no mundo animal, anteriormente ao surgimento da existência do homem na Terra. Como não existe nenhuma prova seja para afirmar, seja para negar, acho que não vale a pena discutir o assunto com base na imaginação. Limito-me a opinar que, anteriormente ao aparecimento do homem na Terra, os animais devem ter tido destinos condizentes com a mente deles, muitos como vítimas de erupções vulcânicas e outros cataclismos.

O sr. Yaomura, gerente da empresa Han-wa Dentetsu, contou-me que a esposa dele conseguiu curar, por meio da Meditação Shinsokan, o seu cachorro que estava com o corpo coberto de sarna e em estado de fraqueza extrema. O animal sarou quando a sra. Yaomura passou a mentalizar a natureza búdica do cachorro. A pergunta "Existe natureza búdica ou não?" é um koan (questão para meditação) do budismo zen. Já que o cachorro do casal Yaomura ficou curado quando recebeu a mentalização positiva que dissipou a nuvem de ilusão que encobria a sua natureza búdica, penso que a manifestação da natureza búdica só pode resultar na cura de doenças, na felicidade, em tudo o que é bom. (...) (o restante foi suprimido) (Existem vários outros casos verídicos, mas as pessoas envolvidas me pediram para não citá-los, alegando que o ponto de vista segundo o qual o estado de saúde dos animais depende da energia espiritual emanada do ser humano poderá trazer consequências danosas. Por isso, abstive-me de mencionar esses casos verídicos, apesar do receio de que a não-citação deles poderá fazer com que o meu ponto de vista seja considerado uma teoria vazia ou argumento vazio.)

Existem fatos comprovando que os animais mantêm-se sadios quando recebem do ser humano vibrações mentais positivas e adoecem quando recebe vibrações mentais negativas. Diante disso, não posso deixar de pensar que a doença dos animais estão abrangidas na Grande Fonte do Universo, mas se originam da mente do ser humano. O seian ("treva sagrada"), que na sua interpretação abrange doenças e infortúnios, seria a própria mente humana, e não a Grande Fonte do Universo ou o próprio Deus. Obviamente, na mente humana encontram-se não apenas as causas das doenças, dos infortúnios e da degradação, como também as da saúde, da felicidade e da prosperidade, o que pode ser comprovado pelo fato de que, quando uma pessoa pratica a Meditação Shinsokan, lê a Chuva de Néctar da Verdade e passa a exteriorizar a luz que existe em seu interior, consegue proporcionar saúde e felicidade não somente às pessoas à sua volta, como também aos animais domésticos. Podemos, pois, chamar a mente humana de seian, que abrange simultaneamente coisas ruins como doenças, infortúnios, degradação e coisas boas como saúde, felicidade, prosperidade, e que está evoluindo pouco a pouco, dominando o que é ruim e desenvolvendo o que é bom.

Acho que podemos substituir o termo seian por um outro, seimumyo (sei = "sagrada" + mumyo = expressão do budismo, que significa "ilusão", "ausência de luz"). E considerando que o prefixo sei ("sagrada") não se aplica a algo que abrange coisas maléficas como doenças, infortúnios e degradação, creio que convém dizer simplesmente mumyo. Sob este prisma, pode-se concluir que o senhor, apesar de usar as expressões "Grande Fonte do Universo" e "Deus", que evocam o Criador, na verdade pensa que aforça motriz do Universo seja o mumyo (que corresponde à "vontade cega do Universo", teoria de Schopenhauer).

Creio ser natural que o senhor, com essa postura mental, afirme: "Entendo que é preciso viver conforme a vontade de Deus, mas não consigo acreditar que, procedendo desse modo, ocorra realmente a cura da doença". O senhor fala em "viver conforme a vontade de Deus", mas o que o senhor quer dizer, na verdade, é "viver conforme o mumyo". Eu também não acredito que "vivendo conforme o mumyo, ocorra realmente a cura da doença". O senhor diz: "Consigo aceitar a crença de que, dependendo da vontade de Deus, pode-se obter a cura ou não." A meu ver, o que o senhor quer dizer é: "A ocorrência ou não da cura depende do mumyo".

O senhor afirma que sarou quando deixou de buscar ansiosamente a cura e se resignou, pensando: "Devo aceitar com resignação a doença, se essa é a vontade de Deus". Parece que o senhor chama de "vontade de Deus" o seimumyo, que abrange tanto a enfermidade como a cura e que às vezes provoca doença e outras vezes propicia uma cura gradativa. Se é assim, podemos dizer que a sua afirmação de ter-se curado quando se conformou pensando "Devo aceitar com resignação a doença, se essa é a vontade de Deus" implica em admitir que você obteve a cura quando se entregou ao mumyo. Acho que, neste ponto, o senhor me apresentou um tema muito interessante para ser discutido.

Considero perfeitamente natural que ocorra a cura da doença quando a pessoa se entrega nas mãos de Deus, confiando na vontade divina, que é a expressão da perfeição suprema, bondade suprema e amor supremo; mas não me parece natural a cura como a que o senhor experienciou, ou seja, a cura que o senhor obteve quando se entregou aos "desígnios do mumyo". Dos inconstantes e arbitrários desígnios do mumyo ou seian não se pode esperar exclusivamente a cura, a felicidade, a prosperidade, e é por isso que o senhor afirma: "Se é vontade de Deus, temos de aceitar com resignação a doença e a morte - é assim que penso. No máximo, pediria a Deus: 'Se é vossa vontade, afastai de mim esse cálice'. Por enquanto não consigo ir além desta postura mental". Lendo esta afirmação, penso que o senhor não avançou nenhum passo da postura demonstrada na época em que escreveu Shuke to Sono Deshi (O Monge e Seu Discípulo), no qual fez o personagem Shinran proferir, num trecho, uma frase semelhante.

O senhor diz: "Não posso seguir seus passos". É compreensível o senhor alegar que "não tem prova de que a doença não é desígnio de Deus", pois a seu ver, a vontade que é o emissor dos desígnios seria a "vontade cega do Universo", de que falou o filósofo Schopenhauer.

Não importa o nome que o senhor atribua à força que sustenta o Universo - seian, seimumyo, daijakko ou Grande Fonte do Universo -, se a sua ideia sobre essa força corresponde à da "vontade cega do Universo" preconizada por Schopenhauer, estará admitindo a ação de uma força cega que gera consequências imprevisíveis, e, portanto, não poderá chegar à conclusão de que "doença não existe". Do mesmo modo que um cego andando pela cidade ora pode se chocar com um poste, ora pode caminhar sem topar com nenhum obstáculo, uma vida regida pela "vontade cega", pode se deparar ora com o infortúnio, ora com a felicidade. Assim, é natural que, segundo essa teoria da "vontade cega do Universo", as pessoas estejam sujeitas a "colidir com um poste" ou "cair numa valeta" uma vez ou outra. O fato de alguém obter a cura mesmo seguindo a "vontade cega do Universo" é comparável a atravessar são e salvo uma avenida, conduzido por um guia cego; podemos dizer que foi pura sorte.

Entretanto, não quero pensar que o fato de o senhor ter-se curado quando se resignou pensando "Devo aceitar a doença se essa é a vontade do céu" foi pura sorte, isto é, devido à ação da "vontade arbitrária" do seian ou seimumyo, que o favoreceu por acaso. O motivo da cura é perfeitamente explicável à luz dos ensinamentos da Seicho-No-Ie a respeito da lei mental. É o seguinte:

Somente o que é bom, como a harmonia, a perfeição, a saúde, a felicidade, os benefícios, a luz, a sabedoria, e, sobretudo, a Vida, tem existência real. O mundo fenomênico é uma projeção da imagem do mundo da Existência Verdadeira na "tela" de tempo e espaço, feita através da "lente mental". Portanto, se a "lente mental" estiver opaca ou distorcida, o mundo projetado através dela (o mundo fenomênico) terá aspecto imperfeito; nesse caso, o corpo carnal, que é uma manifestação fenomênica, deixará de ser sadio; e a situação da pessoa será de infortúnio. O senhor afirma ter-se curado de uma doença que já durava mais de dez anos quando atingiu o estado mental de "entregar-se totalmente à vontade do seian". Mas não foi pela obra da "vontade arbitrária" do seian que a cura ocorreu. Quando o senhor, não conseguindo escapar do sofrimento apesar das tentativas, percebeu que só lhe restava entregar-se à vontade de algo superior e assumiu a atitude mental de abnegação total, sua mente se sublimou e atingiu o estado de completa serenidade; então, a sua "lente mental" - através da qual o mundo fenomênico se projeta na "tela" de tempo e espaço - tornou-se límpida e sem distorção e, em consequência, o seu corpo carnal passou a apresentar maior semelhança com a Imagem Verdadeira que é perfeita. Assim, o senhor recuperou a saúde, de forma inesperada. Se o corpo carnal torna-se sadio mesmo que a pessoa se entregue à vontade do seian em vez de confiar na luz suprema, é porque as agitações da mente se amainam.

Na antiga seita Hito-no-Michi, muitas pessoas obtiveram a cura da doença quando adotaram a postura mental de obediência absoluta aos goshisnen ("sentenças divinas"), abandonando o criticismo, anulando o ego e confiando em ofurikae (transferência de problemas a orientador-mediador). Esse fato mostra que, quando a pessoa alcança o estado mental de entrega total, ou seja, assume a postura mental de receber com docilidade todas as coisas, as ondas agitadas da sua mente se amainam, o que propicia a projeção, no mundo fenomênico, do cenário harmonioso e perfeito do mundo da Existência Verdadeira que está à disposição de todos desde o princípio. Assim, ocorrem a cura da doença e o advento da felicidade.

Constatamos, pois, o profundo significado das afirmações feitas pelo fundador da seita Konko: "As graças estão à nossa disposição mesmo que não as peçamos" e "Não podemos obter as graças se não adotarmos a atitude mental de total entrega". "As graças que estão à nossa disposição mesmo que não as peçamos" são a perfeição e a harmonia do mundo da Existência Verdadeira, que nos são concebidas desde o princípio, independentemente de assumirmos ou não a atitude mental de total entrega, ou de orarmos ou não. Essas graças existem de verdade desde o princípio; são a perfeição, a harmonia, os benefícios, a felicidade e a saúde que existem no mundo da Existência Verdadeira independentemente de termos fé ou não. Mas como o mundo da Existência Verdadeira é o mundo que transcende o tempo e o espaço, a sua perfeição não está manifestada sob a forma de graças tangíveis. Para que isto aconteça, é preciso adotar a postura mental de entrega total preconizada pelo fundador da seita Konko e tornar a "lente mental" límpida e sem distorção. Quando uma pessoa passa a ter a postura mental de entrega total e amaina as agitações da mente, consegue fazer com que se manifeste no mundo fenomênico o cenário perfeito do mundo da Existência Verdadeira, independentemente da crença que lhe proporcionou a serenidade mental; por exemplo, a pessoa pode conseguir a cura da doença tendo fé em qualquer coisa, tomando pílulas de feitas de farinha de trigo pensando tratar-se de um remédio precioso, acreditando na eficácia de ofurikae, ou crendo que o mumyo é a "Grande Fonte do Universo" e dispondo-se a aceitar docilmente os desígnios do mumyo. Em suma, quando passamos a viver com a mente serena, manifesta-se no mundo fenomênico o cenário perfeito do mundo da Existência Verdadeira ("as graças que estão à nossa disposição mesmo que não as peçamos").

Cont...
(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pgs. 59-78)


domingo, janeiro 16, 2011

A natureza do Homem

Ramana Maharshi


Bhagavan: O indivíduo que identifica a sua própria existência com a existência da vida no corpo físico, e o toma como “eu”, é chamado de ego. O Eu Real, que é pura Consciência, não tem sentimento de ego ligado ao corpo. Nem pode o corpo físico, que é por si só inerte, ter esse sentimento de ego. Entre os dois – ou seja, entre o Eu ou pura Consciência e o corpo físico inerte – surge misteriosamente a sensação de ego, ou noção de ‘eu’, este híbrido que não é nenhum dos dois e que floresce como ser individual. Este ego ou ser individual é a raiz de tudo o que é fútil e desagradável na vida. Por isso ele deve ser destruído por qualquer meio possível; então permanece apenas o brilho d’Aquilo que sempre é. Isso é a Libertação, Iluminação ou Auto-Realização.

Discípulo: O Bhagavan muitas vezes diz: “o mundo não é exterior a você” ou, “tudo depende de você”, ou “o que existe fora de você?”. Para mim isso tudo é muito enigmático. O mundo existia antes de eu nascer e vai continuar a existir depois da minha morte, assim como continuou a existir depois da morte de todas as pessoas que já viveram como eu.

B: Alguma vez eu disse que o mundo existe por sua causa? Eu apenas lhe coloquei a questão ‘o que existe além de você mesmo?’ Você deve compreender que ‘você mesmo’ não se refere ao corpo físico nem ao corpo sutil, mas ao Eu Real. O que lhe foi dito é que uma vez que você conheça o Eu Real dentro do qual todas as idéias existem, incluindo a idéia de ‘eu mesmo’, ‘outros como eu’ e ‘mundo’, você pode compreender a verdade de que existe uma Realidade, uma Verdade Suprema que é o Eu Real de todo o mundo que você agora percebe, o Eu de todos os eus, o Real, o Supremo, o Eu eterno, distinto do ego ou ser individual, que é impermanente. Você não deve confundir o ego, ou noção de corpo, com o verdadeiro Eu.

D.: Então o Bhagavan quer dizer que o Eu Real é Deus?

B.: Você percebe a dificuldade disso? A auto-inquirição “Quem sou eu?” é uma técnica diferente da meditação “Eu sou Shiva” ou “eu sou Ele”. Eu prefiro enfatizar o autoconhecimento, porque você primeiro está preocupado consigo mesmo antes de querer saber do mundo ou seu Senhor. A meditação “Eu sou Ele” ou “Eu sou Brahman” é mais ou menos mental, mas a busca pelo Eu de que eu falo é um método direto, e de fato superior a ela. Pois, na medida em que você começa a busca pelo eu e vai se aprofundando, o Eu Real está lá esperando para lhe receber; então, o que quer que seja feito é feito por algo além, e você, como ser individual, não é responsável por isso. Neste processo são automaticamente abandonadas todas as dúvidas e discussões, assim como um homem que dorme esquece todas as suas preocupações por hora.

D.: Que certeza existe de que há alguma coisa me esperando lá para me receber?

B.: Quando a pessoa é suficientemente madura ela se convence disso naturalmente.

D.: Como alcançar essa maturidade?

B.: Vários caminhos são ensinados. No entanto, qualquer que seja o desenvolvimento prévio da pessoa, a prática ardente da auto-inquirição o acelera.

D.: Mas isso é uma argumentação circular: eu sou forte o bastante para praticar a autoinquirição se eu sou maduro, e é a própria prática da auto-inquirição que me torna maduro.

B.: A mente tem dificuldade de entender isso. A mente quer uma teoria para se satisfazer. Na verdade, entretanto, o homem que ardentemente busca a Deus ou ao seu Eu verdadeiro não precisa de nenhuma teoria.

Todos são o Eu Real e são, de fato, infinitos. No entanto, cada um confunde o seu corpo com o Eu Real. Para se conhecer qualquer coisa precisa-se de uma iluminação, e esta só pode ser da natureza da Luz – no entanto, ela ilumina tanto a luz física quanto a escuridão física. Ou seja, esta Luz está além da luz e escuridão aparentes. Ela em si não é nenhuma das duas, mas é chamada de Luz porque ilumina ambas. Ela é infinita e é Consciência. A Consciência é o Eu de que todos estão conscientes. Ninguém nunca está afastado do Eu Real, e portanto todos são de fato Auto-Realizados; o que acontece é que – e este é o grande mistério – as pessoas não sabem disso e buscam realizar o Eu Real. A Realização consiste apenas em se libertar da falsa noção de que não somos realizados. Não é nada novo a ser adquirido. Ela deve já existir, caso contrário ela não seria eterna, e apenas vale a pena se esforçar por aquilo que é eterno. Uma vez que a falsa visão “eu sou o corpo” ou “eu não sou realizado” for removida, apenas a Consciência Suprema ou Eu Real permanece; e é isso o que as pessoas chamam de “Realização” no seu estado atual de conhecimento. Mas a verdade é que a Realização é eterna e já existe aqui e agora. A Consciência é conhecimento puro. A mente surge dela e é constituída de pensamentos. A essência da mente é apenas atenção ou consciência. Entretanto, quando o ego nubla a mente, esta adota as funções de raciocínio, pensamento e percepção. A mente universal, não sendo limitada pelo ego, não tem nada exterior a si, e portanto ela é apenas consciência. É isso o que a Bíblia quer dizer com “EU SOU O QUE EU SOU”. A mente que é dominada pelo ego tem sua força drenada e por isso é muito fraca para resistir a pensamentos perturbadores. A mente sem ego é feliz, como nós percebemos no sono profundo, sem sonhos. Portanto, claramente se percebe que perturbação e felicidade são apenas estados da mente.

D.: Quando eu procuro o “eu” eu não vejo nada.

B.: Você diz isso porque você está acostumado a identificar o seu 'eu' com o seu corpo e a sua visão com os seus olhos. O que existe para ser visto? E por quem? E como? Existe apenas uma Consciência e esta, quando se identifica com o corpo, projeta a si mesma através dos olhos e vê os objetos a sua volta. O indivíduo está limitado ao estado de vigília; ele espera ver algo diferente e aceita a autoridade dos seus sentidos. Ele não vai aceitar que aquele que vê, os objetos vistos, e o ato de ver são todos manifestações da mesma Consciência – o “Eu-Eu”. A prática da meditação ajuda a superar a ilusão de que o Eu Real é alguma coisa [objetiva] para ser vista. Na verdade não há nada para ver. Como você se reconhece agora? Você precisa por um espelho na sua frente para reconhecer a si mesmo? A consciência em si é o “eu”. Realize-a e isto é a verdade.

D.: Quando eu investigo a origem dos pensamentos há a percepção do “eu”, mas isso não me satisfaz.

B.: Exatamente. Isso acontece porque essa percepção de “eu” está associada a uma forma, talvez à forma do corpo físico. Mas nada deveria ser associado ao Eu puro. O Eu Real é a Realidade pura em cuja luz brilha o corpo, o ego, e tudo mais. Quando todos os pensamentos são aquietados sobra apenas a pura Consciência.

D.: Como o ego surgiu?

B.: Não existe ego. Se existisse, você teria que admitir a co-existência de dois “eus” em você. Portanto, também não existe ignorância. Se você investigar dentro do Eu, a ignorância, que já é não-existente, vai ser vista como tal, e então você dirá que ela sumiu. A ausência de pensamentos não significa um vazio. Alguém deve estar consciente desse vazio. Conhecimento e ignorância são duais e pertencem apenas à mente – o Eu Real está além de ambos. Ele é pura Luz. Não é necessário que um eu veja o outro. Não existem dois eus. O que não é o Eu é apenas não-Eu, e não pode ver o Eu. O Eu Real não possui visão ou audição, mas está além deles brilhando sozinho como pura Consciência.

(O Bhagavan muitas vezes apontava a existência contínua do homem mesmo durante o sono sem sonhos como uma prova de que ele existe independente do ego e do sentimento de ter um corpo. Ele também se referia ao estado de sono profundo como um estado sem corpo e sem ego. )

D.: Eu não sei se o Eu é diferente do ego.

B.: Em que estado você estava quando dormia profundamente?

D.: Eu não sei.

B.: Quem não sabe? O eu do estado de vigília? Mas você não nega que existia durante o sono profundo, certo?

D.: Eu existia no sono profundo e existo agora, mas não sei quem estava em sono profundo.

B.: Exatamente! O homem no estado de vigília diz que ele não sabia de nada no estado de sono profundo. Agora ele vê objetos e sabe que ele existe, mas no sono profundo não havia objetos e nem o observador. No entanto, a mesma pessoa que fala agora existia também no sono profundo. Qual é a diferença entre esses dois estados? Agora existem os objetos e a atividade dos sentidos, enquanto que no sono profundo não havia. Surgiu uma nova entidade: o ego. O ego age através dos sentidos, percebe objetos, se confunde com o corpo, e afirma ser o Eu. Na realidade, aquilo que era no sono profundo continua a ser agora. O Eu Real é imutável. É o ego que surgiu entre os dois. Aquilo que surge e desaparece é o ego; aquilo que permanece imutável é o Eu Real.

(Tais exemplos às vezes davam a idéia equivocada de que o estado de Realização – ou permanência no Eu Real – que Bhagavan prescrevia, era um estado de inconsciência como o sono físico, e por isso ele buscava evitar essa idéia. )

B.: A vigília, o sonho e o sono são apenas fases da mente. Eles não são o Eu Real. O Eu Real é a testemunha desses três estados. A sua verdadeira natureza continua existindo enquanto você dorme.

D.: Mas nós somos aconselhados a não pegar no sono enquanto meditamos.

B.: O que você deve evitar é o torpor. O sono que se alterna com o estar desperto não é o verdadeiro sono; o estar desperto que se alterna com o sono não é o verdadeiro estar desperto. Você está desperto agora? Não. O que você precisa fazer é acordar para o seu estado verdadeiro. Você não deveria nem cair no falso sono e nem ficar falsamente acordado.

B.: Apesar de o Eu Real estar presente no sono também, ele não é percebido neste estado. Ele não pode ser conhecido no sono imediatamente. Deve-se primeiro realizá-lo no estado de vigília, pois ele é a nossa verdadeira natureza por trás dos três estados. O esforço deve ser feito no estado de vigília e o Eu Real deve ser realizado aqui e agora. Então ele será percebido como o Eu contínuo e intocado pela alternância vigília-sonho-sono.

(Com efeito, um dos nomes do verdadeiro estado de um ser realizado é o ‘Quarto Estado’, que existe eternamente e está além dos três estados de vigília, sonho e sono. Ele é comparado ao estado de sono profundo pois, como este, é sem forma e não dual; no entanto, como mostra a citação acima, está longe de ser o mesmo. No Quarto Estado o ego é absorvido pela Consciência, enquanto que no sono ele fica imerso na inconsciência.)


(Do livro: "Os Ensinamentos De Ramana M. em Suas Próprias Palavras")

quarta-feira, janeiro 12, 2011

"Fazei isto em memória de mim"



"E, quando chegou à casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus disse-lhes: Credes vós que possa fazer isto? Disseram-lhe: Sim, Senhor. Tocou, então, os olhos deles, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé. E os olhos se lhes abriram." (Mateus 9, 28-30)

"É lamentável que as pessoas busquem longe, sem saber que está bem perto o que buscam. É como se reclamassem de sede estando dentro da água. Não diferem de um filho de milionário perdido na ilusão de pobreza." (Hakuin, mestre zen-budista)




Masaharu Taniguchi
O ser humano se torna saudável pelo poder da palavra porque a essência do ser humano é a própria saúde. Mas a própria saúde, que está alojada por natureza no ser humano não se manifesta para quem não se conscientiza disso. Quando o homem entende que o ser humano é filho de Deus, e a doença não existe originariamente, é varrida a crença ilusória de que "a doença existe", desaparece o temor, some a preocupação e, assim como a lua cheia clareia quando desaparecem as nuvens, manifesta-se claramente a perfeição da Imagem Verdadeira (Jisso) do ser humano. Se a lua cheia clareia majestosamente após desaparecerem as núvens, é porque ela existe.

Não é após a cura da doença que a saúde aparece; originariamente, a Imagem Verdadeira do ser humano é saudável; por isso, a saúde aparece quando se retira a ilusão. A função de todas as religiões consiste em fazer o ser humano conscientizar a sua saudável Imagem Verdadeira, que é o próprio Deus, o próprio Buda.

O citado caso da Bíblia não se trata da cura de um só cego, mas de dois. Pelo poder da palavra e por meio do toque nos olhos, a fé das pessoas foi despertada profundamente, e consequentemente ambos os cegos ficaram curados e passaram a ver. Por que ocorreu a cura? Foi porque o ser humano é originariamente filho de Deus e saudável.

O Mestre Hakuin também disse: "A humanidade é originariamente Buda". A Sutra do Nirvana diz: "A libertação constitui Buda". A Imagem Verdadeira da Vida, que é plenamente livre por natureza, está encoberta de "gelo" de ilusão e não está podendo manifestar a sua original liberdade. Desfazendo essa cobertura, a Vida se liberta, e a esse estado de liberdade diz-se Buda. A budificação do homem, isto é, "tornar-se Buda", consiste na eliminação da ilusão e consequente restauração do estado de plena liberdade inerente ao homem filho de Deus. Neste ponto, o budismo e o cristianismo se identificam. O significado de "homem filho de Deus", na etimologia da língua japonesa, é "hito", ou "hiko" e "hime". Hito significa que a ramificação do espírito de Buda Grande Sol se aloja em nossa Vida. O filho de Buda Grande Sol é Hiko. E a filha de Buda Grande Sol é Hime. Em termos cristãos, diz-se que o ser humano é filho de Deus.

O ser humano é filho de Deus, mas se ele não se conscientizar disso, as suas qualidades inerentes não irão se manifestar. Foi visando essa conscientização que Sakyamuni praticou ascese durante seis anos, e Jesus Cristo jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Esse tipo de ascetismo tem sentido como negação do corpo carnal. A Vida chamada "filho de Deus" se manifesta por meio do corpo carnal; este, por si só, não é a Vida que se chama de filho de Deus. Por isso, para manifestar a Vida que é filho de Deus, é preciso, primeiramente, negar o corpo carnal. A crucificação de Jesus constitui o último degrau de negação do corpo carnal. Na Sutra do Lótus, no capítulo "Yakuô bosatsu honji hon", também consta que Issaishujô-kiken-bosatsu, negando o corpo carnal, queimou-o e depois manifestou o corpo de ouro indestrutível.




"E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo:Isto é o meu corpo oferecido a vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós." (Lucas 22, 19-20)
A crucificação de Jesus significa x (xis - anulação) e ao mesmo tempo + (positivo, afirmativo), isto é, ressureição. Caro leitor, enquanto você considerar como seu Eu verdadeiro o seu corpo carnal que está vendo com os olhos carnais, não poderá descobrir a Vida eterna do homem. A Vida eterna poderá ser conscientizada unicamente pela negação do corpo carnal e pela afirmação de uma dimensão mais elevada. A inteligência que faz ver o corpo carnal como sendo o homem em si, não passa de "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente. Por terem comido desse fruto, Adão e Eva (representantes da humanidade) foram expulsos do Jardim do Éden (mundo da Vida eterna). O "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente é o conhecimento baseado nos cinco sentidos, pois a serpente é um animal que rasteja na terra, isto é, na superfície da matéria.

Vendo o homem com o conhecimento baseado nos cinco sentidos, ele não passa de aglomerado de "pó da terra" e não é Vida eterna. O homem enganado pela serpente foi declarado por Deus como vida limitada (vida sujeita à morte) com as seguintes palavras: "Porque tu és pó e ao pó voltarás". O pecado original de Adão consistiu em ver o ser humano apenas com a inteligência dos cinco sentidos, considerando-o equivocadamente como existência carnal. Como tal, o homem é eterno pecador. Ele terá de se alimentar matando seres vivos, viver envolvido em conflitos e matanças. Enfim, será possível apenas uma vida de pecados. Mas o ser humano não consegue suportar tanto sentimento de culpa. Ele precisa absolutamente se livrar do homem carnal, que é um acúmulo de pecados, transcendê-lo, lançar-se no mundo sem pecado e conscientizar-se de que ele próprio é sem pecado. Do contrário, terá de sofrer de eterna autocontradição, a incoerência entre o desejo de ser puro e a vida maculada de lama. Para o homem se livrar dessa autocontradição e conscientizar-se de sua natureza perfeita e sem contradição como santo filho de Deus, precisa, a todo custo, negar o corpo carnal. Somente por meio dessa negação o ser humano pode atingir a conscientização de sua natureza espiritual sagrada e imaculada. Até conseguí-lo por completo, ele continuará sendo descendente de Adão e não deixará de ser um mortal que "veio do pó e ao pó voltará".

Mas, como será possível a aniquilação do corpo carnal? Será por meio de suicídio? Matar a si próprio viola o mandamento "não matarás". Então o único meio que nos resta é a comunhão com Cristo. Comendo da carne de Cristo, bebendo de seu sangue, identificando-nos com a carne e o sangue de Cristo e ligando-nos à anulação do corpo (crucificação) de Cristo, teremos concluído a anulação do nosso corpo juntamente com a crucificação de Cristo, mesmo possuindo na realidade o corpo carnal. A redenção de cristo tem duplo significado. O primeiro significado da redenção (atonment, em inglês) é a aniquilação comutativa da ideia de que o corpo carnal existe, e o segundo é a consequente união (at-one-ment) com Deus. A conscientização da união com Deus só é possível com a negação do corpo carnal. Entre as pessoas que, como nós, explicam a redenção de Cristo como "at-one-ment", temos a fundadora da Ciência Cristã, a sra. Mary Baker Eddy. Ela diz:

"A ressureição é a prática concreta por meio da qual o homem se une a Deus e, com isso, o homem passa a refletir a Verdade, a Vida e o amor como filho de Deus. Jesus de Nazaré pregou a Verdade de que pai e filho (Deus e homem) são um, e comprovou isso. Jesus negou corajosamente as provas sensoriais mostradas pelos cinco sentidos, fez oposição a mandamentos materialistas e dogmas farisaicos e, pelo seu poder de cura, refutou concretamente todos os seus opositores.

A redenção de Cristo foi para que o homem se reconciliasse com Deus,e não para que Deus se reconciliasse com o homem. O "princípio de salvação por Deus", que é o Cristo, é o próprio Deus; assim sendo, que necessidade haveria de Deus Se crucificar para consolar a Si mesmo? Cristo é a Verdade (...)

Cristo é a Verdade proveniente do amor eterno, e por isso não tem necessidade de se reconciliar com a sua própria origem. Por essa razão, o objetivo de Cristo era fazer o homem se reconciliar com Deus, e não Este Se reconciliar com o homem. O Amor e a Verdade não podem alimentar maldade contra o homem, que é realizador da vontade de Deus e imagem concretizada de Deus. (...) Jesus possibilitou ao homem ver a Imagem Verdadeira por meio do amor (o princípio básico de seu ensinamento) e lhe ensinou a se reconciliar com Deus. Quando contemplar (vir) a Imagem Verdadeira com amor e intuição, que é superior aos cinco sentidos, o homem será salvo das leis materiais do pecado e da morte, graças à lei da Imagem Verdadeira, isto é, lei do amor de Deus." (Science and Health - Imagem Verdadeira e Saúde, na tradução japonesa, pp. 18-19, de autoria da sra. Eddy)
Se o homem está doente, é porque ele próprio não está reconciliado com Deus. Mesmo que ele seja aparentemente ateu, ele pensa na parte profunda da mente: "Sendo como sou, será que mereço ser perdoado por Deus?".

Por isso, podemos dizer que a sua infelicidade ou doença constitui uma espécie de autopunição. No subconsciente coletivo da humanidade, existe a ideia de que o pecado se extingue quando se impõe sofrimento ao corpo carnal. Essa ideia é difícil de ser erradicada por esforços individuais de aprimoramento espiritual. É aí que se torna necessário um redentor como Jesus. As doenças congênitas podem ser consideradas formas de autopunição para expiar erros de encarnações passadas. Jesus curou doenças congênitas (tais como cegueira), eliminando o sentimento de culpa (pecado).

Na Seicho-No-Ie também, existem alguns casos verídicos de cura de mudos de nascença. Segundo contou um membro do setor de censura telefônica do Exército de ocupação americano sediado em Tóquio, uma criança de seis anos de idade que nascera surda-muda foi curada por um adepto da Seicho-No-Ie do Havaí. De que forma Jesus curou doentes? Ele usou palavras como "tende ânimo", "teu pecado foi perdoado", "é a vontade de Deus: sê puro", "a tua fé te salvou", etc. Com isso, o doente sente que foi perdoado dos pecados, que foi salvo, que foi purificado, e sua mente se tranquiliza. Além disso, às vezes, Jesus tocava com sua mão a parte afetada do doente, para lhe dar mais tranquilidade. Dessa forma, até as doenças incuráveis acabavam curando-se quando a pessoa adquire paz de espírito após a eliminação do temor e do sentimento de autopunição do subconsciente.

Mas, então, como eliminar do subconsciente o sentimento de autopunição e temor? Uma das formas consiste em realizar o at-one-ment (tornar-se um) com Deus por meio da expiação. Mas expiar totalmente vários pecados e carmas negativos por meio de esforços individuais é muito difícil. Torna-se então, necessária uma expiação mais forte, isto é, uma expiação poderosa, feita por uma pessoa de grande caráter, tal como a redenção por Jesus. Nas igrejas cristãs, de modo geral, as pessoas, comungando com essa redenção, acreditam que ficam unidas à carne e ao sangue de Jesus e que, por meio dessa fé, vinculam-se ao amoroso ato de anulação da carne (crucificação) de Jesus; dessa forma, mesmo tendo corpo carnal, conscientizam que são libertadas de todos os pecados relacionados com o corpo carnal, e essa conscientização elimina a ideia de autopunição do subconsciente. Este é o mecanismo de cura pela eliminação do sentimento de culpa. Porém, na atualidade, as doenças não se curam só pelo fato de as pessoas se tornarem adeptas de igrejas cristãs comuns, porque a Verdade sobre a anulação do corpo, a Verdade sobre a redenção e a consequente Verdade da inexistência do pecado e da desnecessidade de autopunição não são compreendidas a fundo, verdadeiramente.

Mas, na Ciência Cristã estão obtendo muitas curas somente pela leitura de livros sobre a Verdade, porque ela ensina a fundo a Verdade sobre a redenção. Na Seicho-No-Ie também ocorrem curas somente com a leitura de livros, o que foi alvo de polêmica durante algum tempo. Tais curas são possíveis devido à Verdade de que o homem é, por natureza, isento de doença, e, como diz a Bíblia, "a Verdade vos torna livres". O ritual de comer pão e beber vinho não passa de ato simbólico para se chegar à compreensão dessa Verdade. Quando se conscientiza realmente a Verdade da inexistência do corpo carnal, são resolvidos os problemas de nascimento, envelhecimento, doença e morte, relacionados ao corpo carnal, e todos os sofrimentos cármicos. A cura de doença é apenas uma parte dessas soluções.


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pgs. 92-105)