Em certa ocasião, chegou ao Ashram a notícia de que Mahatma Gandhi estava a caminho de Tiruvannamalai para receber o darsham, isto e, a benção, de Bhagavan Sri Ramana. Todos se alegraram e aguardavam-no com curiosidade, pois Gandhi já era bastante conhecido, e seu trabalho de não-violência ecoava pelo mundo todo. Criou-se então a expectativa sobre a conversa entre os dois Grandes Mestres, e esperava-se que abordassem temas referentes às causas sociais, aos entraves políticos pelos quais o país passava, enfim, assuntos complexos e polêmicos.
Quando Mahatma Gandhi chegou ao Ashram, cercado pela multidão que o havia reconhecido e acompanhado rumo à montanha, adentrou o hall e aproximou-se do Mestre, curvou-se diante dele e aguardou silenciosamente. Após algum tempo, Bhagavan Sri Ramana disse: "Sim", e Gandhi levantou-se, agradeceu e, colocando-se aos Pés do Sat Guru Deva, retirou-se.
A ação do sábio muitas vezes não se mede em termos de ação física, em níveis em que as pessoas esperam, mas sim em planos nos quais a ação é verdadeiramente produtiva. Falar pouco é a característica dos que obedecem a espontaneidade de sua natureza.
Gandhi havia atravessado toda a índia, viajando milhares de quilômetros, de Delhi a Tiruvannamalai, para estar com Ramana, ainda que por apenas alguns instantes, para receber dele a orientação para seu trabalho. Uma vez ouvida a resposta positiva do Mestre ao trabalho que Gandhi vinha desenvolvendo, a maneira como realizava seu dharma, não havia mais o que dizer, mas sim voltar ao trabalho e continuar a missão. Por isso retirou-se.
Nesse episódio constatamos a maneira diametralmente oposta de agir entre os grandes sábios e os dirigentes dos povos, os líderes que comandam grandes multidões. O encontro de personalidades reconhecidas pelo público normalmente provoca grandes discursos, muita pompa e protocolo. Faz-se muita publicidade, discute-se cada palavra dita, aprova-se, desaprova-se, emenda-se, enfim, cada pessoa envolvida no processo dá sua opinião, que deseja ver aprovada.
Usam muitas palavras, mas desconhecem a maior das linguagens: o silêncio do Ser. Entre Ramana e Mahatma Gandhi não houve nada que tornasse o encontro especial ou solene. Não houve nenhuma propaganda, nenhum alarde. Foi um encontro singelo, natural e verdadeiro.
E assim o Grande Mestre de pequena estatura e doces olhos castanhos retirou-se levando consigo a Sagrada Upadesa, toda a força espiritual emanada de Bhagavan Sri Ramana, que sempre o acompanhou e ajudou em sua tarefa de trazer à humanidade a opção da paz, a alternativa prática da não-violência, pois o importante não é vencer a outra pessoa, mas os falsos personagens que estão em nosso próprio psiquismo. Os princípios de Mahatma Gandhi estão revelados nesses ensinamentos:
"Verifiquei que a vida persiste em meio à destruição. Unicamente sob essa lei se poderá conceber a sociedade organizada e a vida digna de ser vivida. Se essa e a lei da existência, devemos praticá-la na rotina diária. Sempre que houver guerras, sempre que nos defrontarmos com um oponente, devemos mostrar-Ihe a virtude do amor supremo. Descobri que a lei do amor tem correspondido com amor , em minha própria vida, enquanto a lei da destruição me deixaria só. Na Índia, tivemos a prova ocular da operação desta lei, na mais ampla escala possível. Não proclamo que a não-violência tenha penetrado nos corações dos trezentos e sessenta milhões de habitantes da Índia, mas proclamo, sim, que em tempo incrivelmente curto penetrou mais fundo que qualquer outra doutrina. Para atingir o estado natural de não-violência, exige-se um treinamento rigoroso. E uma vida de disciplina como a vida de um soldado. Alcança-se o estado perfeito quando a mente, o corpo e a palavra consumam sua coordenação. Todo problema evoluirá para uma solução se decidirmos fazer da lei da Verdade e da não-violência a lei da vida."
A luta pacífica de não-resistência empreendida por Mahatma Gandhi foi se expandindo mais e mais, fazendo adeptos em todas as partes do mundo. Mesmo entre os discípulos de Sri Ramana havia quem simpatizasse muito com a causa da não-violência. Dois deles vieram até o Mestre Ramana falar a respeito do trabalho de Mahatma Gandhi:
PERGUNTA: Ele esta começando um jejum de vinte e um dias. Pedimos a Sri Ramana autorização para irmos até sua prisão para participar de seu sacrifício e poder jejuar tanto tempo quanto ele.
RAMANA: Essa atitude e motivada por bons sentimentos. É um bom sinal. Mas o que vocês podem fazer, realmente? Tratem antes de aumentar em vocês a força e a energia das quais Gandhi da prova e que ele soube acumular graças a sua disciplina e consciência do Ser. Somente assim vocês terão sucesso no que se propõem.
P. Ahimsa, a não-violência, pode acabar com as guerras no mundo?
R. A pergunta traz a resposta nela mesma. É evidente que, se o estado perfeito de ahimsa prevalecer, não poderá haver mais nenhuma guerra. Se um homem insulta seu próximo ou o injuria, o remédio não consiste em revidar ou resistir-Ihe, mas em permanecer tranquilo, simplesmente. Essa tranquilidade provocará a paz nele próprio e deixará quem o ofendeu pouco à vontade, até o momento em que este admita seu erro. Mahatma Gandhi entregou-se completamente ao Ser Supremo e cumpre sua missão sem nenhum interesse pessoal. Ele não se preocupa com os resultados de suas atividades e aceita-os como eles se apresentam. Sua atitude deveria servir de exemplo a todos os que trabalham pela nação.
P. Sua missão será coroada de sucesso?
R. Essa pergunta surge porque quem a faz não se submeteu, ele próprio, à vontade divina.
P. Isso quer dizer que nos não devemos pensar no bem-estar de nosso país nem nos esforçarmos para promovê-lo?
R. Cuide primeiro de si mesmo e tudo o mais se seguirá naturalmente.
P. Não falo por mim, pessoalmente penso em minha pátria.
R. Suas dúvidas provem de sua falta de submissão. Submeta-se primeiramente à vontade divina e espere. Você perceberá que o ambiente que o cerca melhorará à medida que você se fortificar espiritualmente.
P. Não deveríamos saber antes se nossos atos têm alguma utilidade?
R. Siga o exemplo de Mahatma Gandhi em sua obra para a causa nacional. Submeta-se à vontade divina. Essa é a palavra de ordem.
P. A distinção entre as castas é tolerável?
R. Quem vê essa distinção? Encontre-o.
P. As distinções sociais foram inventadas pelos homens.
R. Você não tem necessidade de se deter em todas as diferenças. A diversidade é a lei do mundo. Mas uma corrente única une todas elas. O Ser é o mesmo em todos os homens. Ele não conhece nenhuma diferença. As diferenças são superficiais, exteriores e provêm da mente pensante. Você deve apenas descobrir a unidade suprema através da meditação.
P. Eu não tenho objeções a encontrar diferenças. Apenas afirmo que as reivindicações de superioridade são errôneas.
R. Existem diferenças entre os diversos membros de seu corpo. Cada um deles cumpre sua função. Por que você quer suprimir as diferenças?
P. As pessoas sofrem devido à injustiça da divisão em castas. É preciso libertá-Ias.
R. Você pode perfeitamente acabar com a distinção entre as castas chegando você mesmo ao estado onde não há mais nenhuma diferença, inclusive de castas, e onde sua visão será a mesma para todas as coisas. Como você pode esperar reformar o mundo? Mesmo que se esforce intensamente para isso, não conseguirá. Já houve tentativas anteriores de se eliminar a distinção entre as castas, mas os que se encontram em posição inferior recusaram-se a ser tratados como iguais aos considerados superiores. Isso mostra que eles estão possuídos por um complexo de inferioridade. Seria preciso, primeiro, que você fizesse desaparecer esse complexo para depois proceder às reformas. Mahatma Gandhi tenta instaurar a igualdade. Ele também deve enfrentar o obstáculo do complexo de inferioridade que paralisa as castas mais baixas, porém não impõe seu ponto de vista aos outros, apenas observa a não-violência.
P. Precisamos trabalhar para destruir toda distinção entre as castas.
R. Pois bem, faça-o. Se você conseguir realizar esse seu objetivo, avise-me.
P. É aqui, na India, o primeiro lugar onde desejo estabelecer a reforma.
R. Por que você se preocupa tanto em fazer reformas? A conscientização do Ser provoca automaticamente a reforma social. Contente-se com sua própria reforma, e a reforma social cuidará dela mesma.
P. Nós pertencemos a um movimento pacifista. Queremos fazer reinar a paz entre os homens.
R. A paz está sempre presente. Você deve apenas eliminar os obstáculos que a perturbam. Esta paz é o Ser Eterno.
P. Mas qual e a melhor maneira de se trabalhar para a paz do mundo?
R. O que é o mundo? O que é a paz? Quem é aquele que trabalha para a paz? O mundo não aparece quando você dorme. Ele não é mais que uma projeção mental produzida no estado e vigília. Ele é apenas uma idéia. Nada mais. Quanto à paz, é a ausência de perturbação. A perturbação é provocada pelo surgimento dos pensamentos no homem. Consequentemente, assegurar a paz significa estar livre de todo pensamento e permanecer em estado de pura consciência. Se um homem obtiver a paz suprema do Ser, esta se espalhará ao seu redor, sem nenhum esforço da parte dele. Quando o homem não encontra a paz nele mesmo, como pode sonhar em espalhá-Ia fora dele?
P. Qual é a melhor maneira de se viver em paz?
R. Eliminar a mente pensante e o ego profano através da constante meditação é uma boa prática para se viver a suprema paz. As pessoas têm a tendência de não compreenderem a verdade simples, a verdade de sua experiência de cada dia, sempre atual e eterna. Essa verdade é o Ser. Mas as pessoas não querem ouvir falar disso. Preferem saber o que se passa no além, no paraíso imaginário, no inferno, querem saber sobre a reencarnação. Preferem o mistério à verdade simples, mistério que as religiões utilizam para atrair os homens por vias tortuosas. Mas é inútil ir por tais caminhos. É necessário conscientizar-se do Ser. Por que, então, não se estabelecer imediatamente nele?
P. O que acontece com o corpo após a conscientização do divino? Vemos seres conscientizados da Verdade Suprema agindo como os outros.
R. Essa pergunta não precisa surgir agora. Deixe que ela seja feita depois que você se conscientizar do divino. Quanto às pessoas que já são conscientes da verdade de ser, permita que elas cuidem de si mesmas.
P. A conscientização espiritual permite acabar com o tormento dos homens? Estou no mundo e vejo nele guerras cruéis. A conscientização do Ser pode pará-Ias?
R. Você fala do mundo e do que acontece nele. Todas essas considerações são idéias que você faz. Elas estão na mente. E o mundo é apenas uma projeção mental.
P. A felicidade da autoconscientização pode ser completa se não colaborarmos para que os outros tambem sejam felizes? Como podemos ficar felizes se sabemos que guerras assolam o mundo? Não é uma prova de egoísmo permanecer passivo no estado consciente sem sair em socorro dos que sofrem no mundo?
R. As pessoas conscientes da Verdade Suprema não ignoram que as guerras assolam o mundo, mas não são afetadas por elas, assim como a tela do cinema não é perturbada por cenas de incêndio ou inundação. Cuide de você e deixe o mundo cuidar de si mesmo. Se a autoconscientização é taxada de egoísmo, esse egoísmo deve, então, englobar o mundo inteiro. Não há nisso nada de desprezível. O mundo é bom assim como está. Se aparentemente existem problemas, é em virtude do modo errado como as pessoas se posicionam. O que se deve fazer é aniquilar o erro inicial, que é a mente pensante. Então tudo estará bem.
P. O mundo foi criado pela operação da inteligência cósmica sobre o éter e o átomo?
R. Conscientize-se do Ser Supremo primeiro e depois verifique por si mesmo. Então você poderá fazer essa pergunta, se necessário. Além disso, o mundo lhe diz: "Eu sou o mundo"? O corpo lhe diz: "Eu sou o corpo"? Você diz: "Isso é o mundo, isso é o corpo", e assim por diante. Então, essas são apenas suas concepções. Descubra quem você é em essência, e chegarão ao fim todas as suas dúvidas.
P. Se Deus é perfeito, por que ele criou o mundo imperfeito? A obra compartilha da natureza do autor. Mas com o mundo não é assim.
R. Quem é que levanta essa questão?
P. Eu, o indivíduo.
R. Isso é sinal de ignorância. O mesmo poder que criou o mundo pode cuidar dele. Você faz essa pergunta porque se sente separado do divino. Enquanto considerar-se como o corpo, você verá o mundo como exterior, e a imperfeição aparecerá em você. O divino é a perfeição. Mas você vê o mundo como imperfeito por causa de sua identificação incorreta.
P. Está o mundo progredindo, atualmente?
R. Se nós progredirmos, o mundo também progredirá. Ninguém lhe pediu para fechar os olhos ao mundo. Se você achar que é o corpo, o mundo lhe aparecerá como exterior. Mas quando você se identifica com o Ser, o mundo lhe aparece como Brahman. É errado imaginar que há o mundo, que nele há um corpo e que você é esse corpo. Se a Verdade for conscientizada, o universo e o que fica além dele será descoberto como estando somente no Ser. O modo de ver varia segundo o olho da pessoa. A visão vem do olho. Se você vir com os olhos densos, você encontrará outros seres densos. Se vir com olhos sutis, os outros parecerão sutis. Nada mais há para se ver diferente do Ser. Sem conscientizar-se do Ser Supremo, não há razão para compreender o mundo. Sem a autocompreensão, a compreensão do mundo torna-se sem significado. Mergulhe profundamente em você mesmo, no lado direito do peito, e veja o mundo através dos olhos do Ser Supremo.
P. Se o mundo é um vale de lágrimas, como suportá-Io?
R. As pessoas conscientes do Ser Ihe disseram que o mundo é insuportável? É você que sente a dor e que procura a ajuda dos sábios afirmando que o mundo é um inferno. O sábio Ihe explica, então, que se você dedicar-se sinceramente a prática da meditação e da devoção seus sofrimentos acabarão.
P. Por que o Ser se manifestou então sob a forma deste mundo de misérias?
R. O Ser é o manifestador imanifestado. Quem Ihe disse que ele está manifestado? Seus olhos não podem ver-se. Mas coloque-se diante de um espelho e eles poderão enxergar-se. Acontece o mesmo com a criação. Veja a si mesmo primeiramente e em seguida você verá que não existe nada além do Ser Supremo.
P. Na não-dualidade, a criação ou a manifestação têm ainda sentido? O que pensar da teoria, segundo a qual Brahman aparece como o mundo semrenunciar à sua natureza essencial?
R. Ha muitos métodos para demonstrar a irrealidade do universo. Um dentre eles é o do sonho. As escrituras sagradas comentam muito os estados de vigília, de sonho e de sono profundo, com a finalidade de chamar a atenção para a realidade que Ihes é subjacente. As escrituras dizem que o mundo é irreal. De que grau de irrealidade se trata? É comparável a uma flor nascida no céu, isto é, a simples jogos de palavras sem nenhuma correspondência com fatos concretos? Mas o mundo não é uma palavra, ele é um fato. Em consequência disso, somos forçados a concluir que o mundo é uma superposição colocada sobre a única realidade. O mundo, porém, não desaparece de nossa vista, mesmo quando sabemos que ele é irreal. O que isso implica? Tome o exemplo de uma miragem. A aparência de água não se desfaz, mesmo que você receba todas as provas de que ela não existe na realidade. Tal é o caso da aparência do mundo. Ainda que saibamos que ele é irreal, ele continua a se manifestar. É inútil desejar medir o universo e estudar os diversos fênomenos, pois os objetos são apenas criações mentais. Querer medi-Ios é comparável à tentativa de alguém que coloca o pé sobre sua própria sombra para bloqueá-la. Quanto mais ele avança, mais a sombra recua diante dele; jamais será detida. Acontece o mesmo com aquele que procura estudar o universo, que é unicamente um objeto criado pela mente e que têm sua existência na própria mente. Ele não é uma entidade exterior a ela e não pode, portanto, ser medido. Para compreender o universo, é preciso primeiramente conscientizar-se do estado natural de ser.
P. Ainda que saibamos que o mundo é irreal, não podemos nos impedir de sentir por ele um grande fascínio. Como explicar isso?
R. Aquele que deseja os bens deste mundo é semeIhante ao sonhador que procura satisfazer em sonho seus desejos oníricos. No mundo do sonho, você encontra igualmente desejos, objetos desejados e a satisfação. A criação onírica preenche uma função tão importante para o sonhador quanto o mundo objetivo para o homem em estado de vigília. E, no entanto, o sonho não é considerado real.
Esses exemplos servem para demonstrar os diversos graus da irrealidade. O Sábio consciente da Verdade constata que o mundo, no estado de vigília, aparece como sendo tão irreal quanta o mundo onírico aos olhos do homem acordado. Mas cada um desses exemplos não deve ser isolado de seu contexto geral. Eles constituem elos de uma corrente. Seu objetivo comum é de dirigir a atenção de quem busca a Verdade para a única realidade que lhes serve de fundamento. Chega-se à Verdade conscientizando-se do fato fundamental de que todos somos eternos, e não simplesmente acreditando que o mundo é efêmero.
P. É recomendável que se pratique a neutraIidade em relação ao mundo?
R. Sim. Mas o que é neutraIidade? É simplesmente a ausência de atração ou repulsão, de amor ou de ódio. Quando você se conscientizar do Ser, como poderá ainda amar ou detestar as manifestações da vida fenomenal? É esse o verdadeiro sentido da neutraIidade.
P. Mas isso leva a uma falta de interesse por nosso trabalho. E não temos que cumprir nosso dever?
R. Sim, tem que cumprir seu dever. Mesmo que queira escapar dele, você será obrigado a cumpri-lo. Deixe, então, seu corpo cumprir a tarefa para a qual foi criado. No "Bhagavad Gita" Krishna diz a Arjuna que este seria obrigado a combater, quer ele quisesse ou não. Se seu destino for de cumprir determinada tarefa, você não poderá se abster de fazê-lo. E, por outro lado, você não poderá reaIizar uma atividade a que você não esteja destinado. O trabalho deve ser realizado, e você deve participar. Seu dever é executar a parte que lhe cabe.
P. Por que os homens se absorvem nos negócios do mundo e obtém como resultado de seus esforços apenas dificuldades? Eles não deveriam, ao contrário, ser livres? Se eles vivessem no mundo espiritual apenas, não se beneficiariam de uma Iiberdade maior?
R. É porque o homem se identifica com o corpo físico que ele considera que este mundo é material e que o outro é espiritual.
P. Mas os homens são muito materiaIistas. Como remediar isso?
R. Materialista? Espiritualista? Tudo depende do ângulo pelo qual os fatos são observados. Tenha uma perspectiva correta das coisas da manifestação e todas as suas dúvidas se dissiparão.
P. O mundo é constantemente abalado por grandes catástrofes que espalham a morte, a desolação, a fome, as epidemias. Qual é a causa dessas calamidades?
R. Quem é consciente de todos esses flagelos?
P. Eu não aceito essa resposta. Constato ao meu redor a existência do sofrimento.
R. Permaneça no estado no qual você não é afligido pela miséria do mundo. Em outras palavras, quando você não tem consciência do mundo, não é afetado por seu sofrimento. Quando você permanece no Ser, o mundo e seus sofrimentos não o afetam mais. Assim sendo, conscientize-se do Ser e terá então colocado um fim na existência do mundo e suas misérias. O mundo não é exterior a você. É por identificar-se erroneamente com seu corpo que você considera o mundo exterior a você e capaz de desenvolver por si mesmo suas, misérias. Isso não corresponde à realidade. Procure a verdade de ser e Liberte-se dessa falsa impressão.
P. Entretanto, grandes homens se mostraram incapazes de resolver o problema da miséria no mundo.
R. É porque eles eram egocêntricos, daí seu insucesso. Se eles permanecessem no Ser, o resultado seria outro.
P. Por que os Avatares não ajudam?
R. Como você sabe se eles não ajudam? Discursos públicos, atividades físicas e ajuda material são todos de menor valor do que o silêncio dos Avatares.
P. As palestras ajudam o homem a tornar-se consciente do divino?
R. As palestras não conduzem ninguém a autoconscientização. O importante é receber silenciosamente a Sagrada Upadesa. Só assim é possível ao homem tornar-se consciente daquilo que ele realmente é: o divino. As palestras só atrasam quem as profere e quem as escuta. Não confunda a transmissão de ensinamentos pelo Mestre com as palavras proferidas pelos eruditos.
P. O que deve ser feito por nós para melhorar a condição do mundo?
R. Se você permanecer livre da dor, não haverá dor.
P. O que o Mestre vê como o futuro da Terra?
R. Para essa pergunta, há uma atitude a ser tomada: fique em silêncio e saiba que somos o Ser. Silêncio significa ser livre de pensamentos.
P. Isso não responde a pergunta. O planeta tem um futuro. Como será ele?
R. O tempo e o espaço são funções de pensamentos. Se os pensamentos não surgissem, não haveria o futuro ou a Terra. Você sabe o que existe no presente? O mundo, como todas as coisas da manifestação, é sempre o mesmo, seja hoje ou amanhã.
P. Mas o tempo e o espaço subsistem, quer eu pense neles ou não.
R. Os dois vieram-lhe dizer que existem? Quando você dorme, sente a presença deles?
P. Mas no meu sono sou completamente inconsciente.
R. E, no entanto, você não existe menos por isso.
P. Eu não habitava mais meu corpo. Eu o havia deixado e retomei-o ao acordar.
R. A saída de seu corpo e o retorno a ele são apenas idéias. Onde você estava realmente durante seu sono? Você era o que você é agora, com a diferença de estar livre de todos os pensamentos.
P. E as guerras que assolam o mundo? Elas existem! É suficiente que não pensemos mais nelas para que elas terminem?
R. Você pode parar as guerras? Aquele que criou o mundo sabe muito bem como cuidar dele.
P. É as guerras são puramente imaginárias? Sri Ramana não poderia, nesse caso, utilizar sua imaginação para pensar o contrário e acabar com as guerras?
R. O Sri Ramana ao qual você fala é também sua imaginação, tanto quanto as guerras as quais você se refere. Enquanto houver a mais leve percepção de individualidade surgirão dúvidas, indagações intermináveis e jamais haverá uma resposta plenamente satisfatória. Quando desaparecer o conceito de dualidade entre si próprio e o Ser, não haverá mais confusões nem sofrimentos.
(Capítulo extraído do livro “Ramana, Meu Mestre”, de Sri Maha Krishna Swami.)