"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

domingo, agosto 30, 2009

Em que estágio obteremos completa satisfação?


Sripad Vana Maharaj


No mundo material vemos que muitas pessoas possuem casas, esposa, marido, filhos e riqueza, mas ainda assim, a mente está insatisfeita e vaga daqui para lá. Muitas pessoas agem contra as regras da sociedade e cometem atividades pecaminosas. A causa deste comportamento é a falta de satisfação da mente. Uma pessoa pode ter vasta riqueza, mas ainda assim sua mente pode permanecer agitada e tal pessoa pode se engajar em muitas atividades pecaminosas. Vemos também que há pessoas piedosas que ouvem discursos espirituais, mas elas também sofrem de muitos tipos de insatisfação. O Sastra declara que para se obter completa satisfação, o coração deve estar limpo e claro. Assim, a pessoa automaticamente exercerá um bom comportamento e naturalmente será capaz de ajudar os outros a irem além dessa existência material.

Você pode perguntar, “Em que estágio obteremos verdadeira satisfação?”. Como podemos obter isso? A ciência material explica que no cérebro humano há quatro tipos de onda: alfa, beta, teta e delta. Com a velocidade de 0.5 a 4 ciclos por segundo, elas são a causa para a paz, agitação e satisfação. De acordo com a ciência material, no lado direito do cérebro estão as ondas delta, enquanto do lado esquerdo residem as outras três ondas.

É por esta razão que sentimos falta de paz. Mas se transferirmos as ondas delta para o lado esquerdo do cérebro, a satisfação será obtida. Isso é chamado “estado de inércia”, de acordo com a linguagem científica. Quando um átomo não está completamente estável devido à falta de elétrons, ele começa a revolver-se, e algumas vezes é atraído ou repelido por outros átomos. Mas quando este átomo está completamente estável, então, de acordo com as regras da camada de valência 2n (n= número de órbitas), se ele obtiver o número máximo de elétrons, torna-se completamente inerte.

De acordo com a ciência material, Hélio, Criptônio, Argônio, Neônio, etc., são gases inertes (gases nobres) que nunca se misturam a átomos. Da mesma forma, as ondas delta nunca se juntam com as ondas alfa, beta e teta. Você pode perguntar se é possível então que as ondas delta possam vir para o lado esquerdo do cérebro. O Yoga sastra explica que há três tipos de nervos: ingla, pingla, e susumna. Quando o susumna está ativo, as ondas delta são ativadas em nosso cérebro. No yoga-sastra é explicado que há muitas formas para ativar o nervo susumna através de muitos tipos de processos yóguicos, como por exemplo, asanas, pranayama, dhyana (posturas, controle de respiração, meditação), etc. Essas coisas são explicadas para Arjuna por Krishna no Bhagavad Gita 6.13-15




"saman kayo-siro-grivam
dharayann acalam sthirah
samprekesya nasikagram svam"


“Mantendo o corpo, pescoço e cabeça eretos, a pessoa deve fixar sua visão apenas na ponta no nariz. Assim, seguindo celibato estrito, tornando-se destemido, pacífico e controlando a mente, deve-se praticar yoga ao meditar em Mim com atenção unidirecionada, permanecendo sempre devotado a Mim.”


"disas canavalokayam
prasantatma vigata-bhir
brahmacari-vrate sthitah
manah samyamya mac-citto
yukta asita mat-parah"



“Ademais, constantemente mantendo a mente absorta em Mim através do yoga ao seguir o processo, um yogi cuja mente está controlada, pode situar-se em Minha svarupa (Nirvisesh Brahma) e obter shanti na forma de completa emancipação.”


yunjann evam sadatmanam
yogi piyata-manasah
santim nirvana-paramam
mat-smstham adhigacchati



“Assim, praticando o controle do corpo, mente e palavras, o místico transcendentalista obtém o reino de Deus [a morada de Krishna] através da cessação da existência material.” (Bg. 6,13-15)

Portanto, o yogi concentra sua mente na meta e então seu pran-vayu (inspiração) e apan-vayu (expiração) entram em equilíbrio. Sem tal equilíbrio, o nervo susumna não é ativado. Deste modo, os yogis executam o pranayama (controle da respiraçãol) para abrir essa porta, e ao cantarem o mantra OM tornam-se liberados das coisas materiais, e obtém sua meta.

Na Bhakti-Yoga, entretanto, nós entoamos:


"Hare Krishna Hare Krishna,
Krishna Krishna Hare Hare,
Hare Rama Hare Rama,
Rama Rama Hare Hare..."



E obtemos nossa meta final, que é Krsna-prema (amor divino pelo Senhor Supremo). Então nos tornamos completamente satisfeitos.

quinta-feira, agosto 27, 2009

O incognoscível (Osho)

"Eu não acreditei,
em pé, às margens de um rio
largo e agitado,
que eu atravessaria aquela ponte
trançada de palhas finas e frágeis
amarradas com corda.
Eu caminhei delicadamente como uma borboleta
e pesadamente como um elefante,
eu caminhei certamente como um dançarino
e titubeante como um cego.
Eu não acreditei que iria atravessar aquela ponte,
e agora que eu estou do outro lado,
eu não acredito que eu a atravessei."
(Leopoldo Staff
)

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.
.

"Mesmo quando você conhecer Deus, você não será capaz de acreditar que O conheceu. Isso é o que eu quero dizer quando digo que Deus é um mistério.
Desconhecido, Ele permanece incognoscível.
Conhecido, Ele também permanece incognoscível.
Sem ser visto, Ele é um mistério.
Visto, Ele se torna um mistério ainda maior.
Ele não é um problema que você possa resolver. Ele é maior do que você. Você pode dissolver-se nele, você não pode resolvê-lo."
(Osho)




"A verdade é. Ela simplesmente é. Nada pode ser dito a respeito dela. E tudo que puder ser dito a respeito dela irá torná-la falsa.

Não há necessidade de qualquer explicação. Não explicada, completamente imediata, a verdade é. Ela circunda você. Ela está dentro de você e sem você. Não há necessidade de se chegar a qualquer conclusão a respeito dela. Ela já é conclusiva! Você está nela.Você não consegue ser sem ela. Não há maneira alguma de perdê-la. Não há maneira alguma de se desviar dela. Você pode estar dormindo profundamente, inconsciente, mas ainda assim você estará nela.

Assim, aqueles que conhecem a verdade sabem muito bem que a filosofia não irá ajudar. Quanto mais você tentar conhecer a respeito da verdade, mais você se tornará adormecido. O próprio esforço para conhecer levará você a se perder. A verdade pode ser sentida, mas não pode ser conhecida. Quando eu digo que ela pode ser sentida, eu quero dizer que você pode estar presente nela, que ela pode estar presente em você. Existe uma possibilidade de um encontro. Existe uma possibilidade de tornar-se um com ela. Mas não existe uma maneira de se conhecê-la.

A verdade não pode se tornar um objeto. Você não pode colocá-la ali e vê-la. Você não pode segurá-la em suas mãos e vê-la. Você não pode examiná-la externamente. Somente do lado de dentro, somente tornando-se um com ela, você pode senti-la. Sentir é o único conhecimento possível. Por isso, aqueles que conhecem dizem: o amor é a maneira.

O conhecimento é um tipo de ignorância. A palavra 'ignorância' é muito bonita. Divida-a em duas e ela se torna 'ignor-ância'. A verdade pode ser ignorada. Isso é o que ignorância é, de outra forma, a verdade já está presente. Ignorância nada mais é que ignorar a verdade que já está aí. E um homem de conhecimento se torna mais ignorante, porque quanto mais ele pensa que sabe, mais ele se torna capaz de ignorar aquilo que é. Perdido em suas teorias, dogmas, credos e escrituras, ele não tem mais olhos para ver a realidade. Perdido em palavras e verbalizações, a sua visão está anuviada. Ele não consegue ver aquilo que é.

Quanto mais você estiver anuviado pelo seu pensar, quanto mais você estiver na mente, mais você será capaz de ignorar a verdade. O conhecimento não é necessário, mas apenas a inocência, a inocência de uma criança. Vulnerável, aberto... Sem tentar conhecer. No próprio esforço para conhecer você se torna um voyeur. Você agrediu a realidade, você está tentando estuprar a realidade.

É por isso que eu continuamente digo que a ciência é um estupro da realidade. A palavra 'ciência' vem de uma raiz que significa 'conhecer'. Ciência é conhecimento. Religião não é conhecimento. Religião é amor. A palavra 'religião' vem de uma raiz que significa comprometer-se, apaixonar-se, tornar-se um.

A verdade é sentida. Ela é uma experiência vivida. Assim, qualquer coisa que puder ser dita a respeito da verdade não será verdadeira. Pelo simples fato de ter sido dita, ela já se torna não verdadeira.

Tudo o que já foi dito até agora e tudo o que vier a ser dito no futuro, nada tem a ver com a verdade. Não há maneira alguma de expressá-la. A verdade é muito arisca. Você não consegue pegá-la em palavras. Você não consegue pegá-la através da mente. A mente perde-a seguidamente, porque o próprio funcionamento da mente é anti-verdade. O funcionamento da mente é não-existencial. A mente funciona naquilo que não é, ou no passado ou no futuro. O passado não existe mais e o futuro não existe ainda. E a mente só funciona, ou no passado ou no futuro. No presente existe a não-mente.

Se você está no aqui e agora, de repente você terá se separado da mente. Como você pode pensar aqui e agora? O pensar leva você para longe do aqui e agora. Um simples pensamento e você já estará a milhares de quilômetros longe do aqui e agora. No aqui e agora não há qualquer possibilidade, não há qualquer espaço para o pensamento surgir.

A mente funciona no não-existencial, no fictício, no imaginário. A mente é uma faculdade de sonhar, ela é uma faculdade de sonhos. A verdade não é conhecida pela mente, é por isso que eu digo que ela não é conhecida de jeito algum. A verdade é sentida pelo coração, pela sua totalidade, por você, não pela sua cabeça, por você enquanto uma unidade orgânica. Quando você vier a conhecer a verdade, você a terá conhecido pela cabeça e pelos dedos do pé; você a terá conhecido pelos ossos e pelas suas entranhas; você a terá conhecido pelo seu coração e pelo seu sangue; você a terá conhecido pelo seu respirar; simplesmente pelo seu ser. A verdade é conhecida pelo ser.

Esse é o significado quando eu digo que a verdade é sentida. Ela é uma experiência. (........ )

Na terminologia budista, 'Buda' é equivalente a 'verdade'. Eles não falam muito a respeito da verdade. Eles falam muito mais a respeito de Buda. Isso também é significante, porque quando você se torna um Buda, a verdade é. E Buda significa que você se tornou Acordado. Então, porque conversar a respeito da verdade? Simplesmente pergunte o que é o acordar. Simplesmente pergunte o que é consciência, porque quando você está consciente, a verdade está ali. Quando você não está consciente, a verdade não está ali.

Assim, a pergunta básica e real é a respeito da consciência. Mas isso também não pode ser perguntado e resolvido. A pessoa tem que se tornar consciente, não existe outra maneira.

Um discípulo perguntou a um mestre Zen: 'Se alguém me perguntar daqui a cem anos o que eu penso ter sido a sua compreensão mais profunda, o que eu deverei dizer?' O mestre respondeu: 'Diga a ele que eu disse: é Isto!'

Agora, que tipo de resposta é essa: 'é Isto!'? Ele indicou a realidade imediata: Isto.

Vedanta, o maior trabalho em Filosofia da Índia, fala a respeito do 'aquilo'. ... O povo Zen fala a respeito do 'isto'. Certamente a compreensão deles é mais profunda, porque 'aquilo' está de novo no futuro, lá longe, enquanto 'isto' é presente. Isto é aquilo. Esta margem é a outra margem. Esta vida é a única vida e este momento é a eternidade.

Se você puder viver este momento, se você puder estar aqui neste momento, então tudo irá se arranjar por si mesmo. Então você não precisa estar ansioso. Então não há necessidade de perguntar. Antes que você pergunte, a resposta já terá sido dada. A resposta sempre tem estado ali, mas nós não estamos conscientes. Por isso, todo o esforço do Zen é como trazer consciência para você.

É como se o homem estivesse dormindo. O homem vive num estado de estupor: ele se movimenta, trabalha, nasce, vive e morre, mas dormindo, quase profundamente, roncando. A mente humana é burra. Mente é burrice. A mente não tem qualquer inteligência em si. Nunca houve uma mente inteligente. Eu não quero dizer que nunca houve pessoas inteligentes, mas sim que nunca houve uma mente inteligente. Inteligência é alguma coisa que vem quando a mente é abandonada. A mente nunca é original, nunca é radical. A mente sempre é ortodoxa. A mente sempre é repetitiva, mecânica. Ela funciona como um robô. Ela segue repetindo a mesma coisa por várias vezes. Ela é como um computador: qualquer coisa que você lhe der para alimentar, ele irá mastigar repetidas vezes.

Você já observou a sua própria mente e o seu funcionamento? Nada de novo acontece com ela. Nada de novo pode acontecer com ela. E por causa disso você permanece alheio a tudo o que está ocorrendo ao seu redor, você segue ignorando. Você está muito apegado a esse instrumento medíocre e estúpido. Ela é boa para ser usada; ela é boa como um reservatório, como memória; ela é boa para manter registros. Mas esse não é o jeito de se ver a realidade. Ela não tem olhos.

A mente é cega como um morcego. Ela não tem olhos. A mente nunca pode ser inteligente. Apenas a não-mente é inteligente. Apenas a não-mente é original e radical. Apenas a não-mente é revolucionária - revolução em ação.

Essa mente dá a você um tipo de estupor. Carregada pelas memórias do passado, carregada pelas projeções do futuro, você segue vivendo no mínimo. Você não vive no máximo. A sua chama permanece muito fraca. Uma vez que você começa a abandonar os pensamentos e a poeira que você acumulou no passado, a chama se levanta, limpa, clara, viva e renovada. Toda a sua vida se torna uma chama, e uma chama sem qualquer fumaça. Consciência é isso.

Consciência sem pensar: isso é consciência. Estar alerta e sem qualquer pensamento. Tente isso! Sempre que você vir pensamentos se reunindo, disperse-os. Puxe você mesmo para fora disso. Olhe para as árvores sem qualquer tela de pensamento entre você e as árvores. Ouça o gorjeio dos pássaros sem qualquer gorjeio dentro da mente. Olhe para o sol nascente e sinta dentro de você também um sol de consciência nascendo... mas não pense sobre isso, não faça comentários, declarações, não fale. Simplesmente esteja. E, pouco a pouco, você vai começar a sentir vislumbres de consciência, súbitos vislumbres de consciência, como se uma brisa fresca tivesse entrado em seu quarto que estava ficando velho e morto; como se um raio de luz tivesse entrado na noite escura de sua alma; como se, de repente, a vida tivesse chamado você de volta.

Você já ouviu a história de Lázaro. Conta-se que Lázaro morreu. Jesus amava-o muito. Suas irmãs mandaram avisar Jesus. Com o tempo as notícias alcançaram-no. Lázaro tinha morrido quatro dias antes. Jesus veio correndo. Todo mundo estava chorando aos prantos e ele disse: 'Não chore! Deixe-me chamá-lo de volta à vida!'

Ninguém podia acreditar nele. Lázaro estava morto. E as irmãs de Lázaro diziam: 'Ele já está apodrecendo, ele não pode voltar. Seu corpo está se deteriorando.'

Mas Jesus foi ao túmulo onde o corpo estava sendo preservado até que ele viesse. Puxaram a pedra para o lado e na caverna escura Jesus chamou: 'Lázaro, levante-se'. E conta-se que ele se levantou.

Isso pode não ter acontecido desse jeito. Isso pode ser apenas uma parábola, mas é uma bela parábola a respeito do homem. Quando eu olho em seus olhos, isso é tudo o que eu posso dizer: 'Lázaro, levante-se'. Você está morto e apodrecendo. Você não está mais vivo. Você teve um nascimento, mas você precisa renascer. O seu primeiro nascimento não foi de muita ajuda. Ele o trouxe a uma certa dimensão, mas isso não é o suficiente. Você tem que ir um pouco mais. O nascimento que já aconteceu para você foi apenas físico. Você precisa de um nascimento espiritual. (...)

O primeiro nascimento é apenas um nascimento físico. Não se satisfaça com ele. Ele é necessário mas não suficiente. Um segundo nascimento é necessário. O primeiro nascimento foi através de seu pai e sua mãe. O segundo nascimento será a partir de sua mente.Você tem que se separar da mente e esse será o seu renascimento, você estará renascido.

E, pela primeira vez, as árvores estarão mais verdes; estarão mais verdes do que eram antes; as flores estarão mais lindas do que eram antes; e a vida estará mais viva como você jamais a conheceu, porque você só pode conhecer a vida dentro da dimensão em que você estiver vivo. Você não pode conhecer a vida se você não estiver vivo. Seja você o que for, você conhecerá a vida somente dentro daquela sua dimensão.

A mente e o controle da mente sobre você, são aprisionamentos. Livre-se da mente. A questão não é como conhecer a verdade. A questão é como ficar livre da mente; como livrar-se desse constante ignorar, dessa ignorância; como estar simplesmente aqui, despido, palpitando, jorrando, fluindo, transbordando e encontrando a verdade que já está aí, que sempre esteve aí. (...)

A filosofia tenta explicar as coisas e nunca é bem sucedida. ... A religião não faz qualquer esforço para explicar a vida. Ela tenta vivê-la. A religião não considera a vida como um problema para ser resolvido, mas um mistério a ser vivido. A religião não é curiosa a respeito da vida. A religião está num deslumbramento, num tremendo maravilhamento a respeito da vida.

O nosso simples estar aqui é um tal milagre... Não se pode explicar porque eu estou aqui, porque você está aqui. Porque essas árvores estão aqui, porque essas estrelas estão aqui. Porque todo esse universo existe e segue povoando a si mesmo com árvores, pássaros e pessoas. Porque originalmente ele está aí, não há maneira alguma de se saber. Ele simplesmente está aí. Mas ele inspira um deslumbramento! Ele preenche o coração com um maravilhamento. Ele é inacreditavelmente verdadeiro, ele é incrível! Ele é absurdo, mas tremendamente belo.

Não há maneira alguma de se dizer porque ele está aí, mas ele está aí. E a religião diz: Não desperdice seu tempo com os porquês. Ele está aí: Curta-o! Celebre-o! Perca-se nele! E deixe que ele se perca em você. Encontre-o! deixe que o encontro seja como dois amantes entrando um no outro. Deixe que isso seja uma experiência orgástica.

Mas a religião no ocidente tem uma conotação muito errada. Chegou-se a um ponto em que a própria palavra 'religião' cria uma repulsa, em que a própria palavra 'religião' faz lembrar igrejas mortas e padres mortos. Ela faz lembrar pessoas com olhares sérios, rostos sisudos. Ela perdeu a capacidade de dançar, de cantar, de celebrar. E quando uma religião perdeu a capacidade de dançar, de celebrar, de cantar, de amar, de simplesmente ser, então ela já não é mais religião, ela é um cadáver, ela é teologia. Teologia é religião morta.

No ocidente a teologia dominou a religião. Quando a teologia domina a religião, então a religião nada mais é senão filosofia. E uma filosofia que também não é muito filosófica, porque a filosofia somente pode existir através das dúvidas, e a teologia se baseia na fé. Assim, ela é uma filosofia impotente, nem mesmo é uma filosofia no seu verdadeiro sentido.

A religião não é baseada em crenças ou fé. A religião é baseada no deslumbramento, a religião é baseada no maravilhamento. A religião é baseada no mistério que o circunda. Para sentir isso, para estar consciente disso, para ver isso, abra os seus olhos e abandone a poeira acumulado por séculos. Limpe o seu espelho. Veja quanta beleza circunda você. Veja a tremenda beleza que segue batendo em suas portas. Por que você está sentado com os olhos fechados? Por que você está sentado com esse rosto sisudo? Por que você não pode dançar? E por que você não pode rir?

Nietzsche está certo: Deus está morto... porque os teólogos O mataram. Deus pode estar vivo somente quando um amante está dançando. Mas quando um teólogo está tentando encontrar argumentos para provar Deus, Ele está morto. Deus está vivo quando duas pessoas se apaixonam, então Deus está palpitando e saltitando. Deus está vivo quando você olha para uma flor e você não consegue se mover diante dela, alguma coisa o domina e o emociona. Quando você olha para as estrelas e você se torna um com o mistério, e o seu barco começa a velejar em direção à outra margem, então Deus está vivo. Quando você canta uma canção, ela pode ser sem significado, ela pode ser um simples lá-lá-lá, ela pode não ter qualquer sentido, mas Deus está vivo naquela pura expressão de alegria.

Deus está vivo quando você está vivo. Se você não está vivo, como pode o seu Deus estar vivo? O seu Deus é seu. Se você está morto, o seu Deus está morto; se você está vivo, o seu Deus está vivo. O seu Deus não pode ser maior do que você, porque o seu Deus é o centro mais profundo do seu ser. Assim, se você quiser saber o que é Deus, torne-se mais vivo. Se você quiser saber o que é Deus, torne-se mais divino. Se você quiser saber o que é Deus, então não tente saber, tente sentir. Ele chega através da porta do coração.

Deus é um tal mistério, ou chame isso de vida, ou existência. A vida é um tal mistério que mesmo se você entrar no santuário mais interno dela, você não será capaz de acreditar. Ela é inacreditavelmente verdadeira. Ela é Incrível. (...)

Sim, a vida é um mistério, e nada há para se explicar, porque tudo está simplesmente aberto, ela está exatamente diante de você. Enfrente-a! Encontre-a! Seja corajoso! Esse é o ponto de vista do Zen. (...)"

OSHO - A Sudden Clash of Thunder

[Osho+web.jpg]

segunda-feira, agosto 24, 2009

Abandone-se à fonte do teu ser


Ramana Maharshi



Tudo o que nasce deve morrer; tudo o que é adquirido será perdido.
Você nasceu? Não, você existe eternamente. O Eu Real nunca pode
ser perdido.

Você impõe limitações a si mesmo e depois luta em vão para transcendê-las.
Toda infelicidade e miséria vem do ego.
Ele é a origem de todos os seus problemas.

Um "eu" imaginário surge entre a Pura Consciência e o
corpo inerte e se imagina limitado ao corpo. Busque esse "eu" e ele
desaparecerá como uma miragem.

Basta que você se entregue. A entrega é abandonar-se à Fonte do
seu ser. Não se iluda pensando que essa Fonte é algum Deus fora de
você. A Fonte está dentro. Abandone-se a ela. Isso significa que
você deve buscar a Fonte e mergulhar nela.

Você é o Eu Real mesmo agora, mas você confunde a sua
consciência atual, ou ego, com a Consciência Absoluta, ou Eu Real.
Essa falsa identificação existe devido à ignorância, e a
ignorância desaparece junto com o ego. Transcender o ego é a
única coisa a ser feita. A Realização já existe – não
é necessário tentar alcançá-la.


O seu dever é Ser, e não ser "isso" ou "aquilo". "Eu sou o que
sou"
resume toda a Verdade. E o método é a quietude.

- Sri Ramana Maharshi

quinta-feira, agosto 20, 2009

O "Eu" permanente

Mooji por Snax's Visual experiment.
Mooji


Questão – A felicidade vem e vai.

Mooji – A felicidade pessoal vai e vem. A pessoa vai e vem, o sentido de ser uma pessoa vai e vem. E por isso qualquer coisa a que a pessoa se agarre também vai e vem. Porque a pessoa não é uma coisa estável. A pessoa, em si mesma, é uma idéia. Ao dizer isso, eu não sei quão profundo isso entra em vocês. É por este motivo que eu não confio em ensinamentos. E eu não confio também em aprender. Mas experiência - aquilo que você descobre porque você experimenta -, isso é algo. Você diz que a felicidade vai e vem. E toda e qualquer outra emoção e sensação vai e vem. Existe qualquer emoção que venha e fique? Existe qualquer coisa na tua vida inteira que veio e ficou? Tudo vem e vai.

Há uma interessante história de um homem que queria se livrar de sua sombra.

A sombra lhe perturbava. Então um dia ele teve uma idéia. Ele foi a um funeral e viu que eles fizeram um buraco bem grande, colocaram o corpo e cobriram. Ele teve a idéia de que ele poderia enterrar a própria sombra. Então, cava um buraco profundo e grande, e ele ficou lá parado, com o sol atrás dele, até que a sombra se posicionasse dentro do buraco. E ele começou a botar terra em cima rapidamente. Mas a sombra estava sempre em cima...

(...)Você está tentando matar a mente. E a mente fica cada vez mais forte através de sua tentativa de matá-la. Abandone esta tarefa. Deixe a mente ser. Permaneça enquanto testemunha da mente. Você não pode matar aquilo que não existe.

Você pode apenas despertar para a Verdade. Você é a testemunha da mente. Localize-se. Descubra o que você pode ser. Você pode ser encontrado? Você, que testemunha todo o resto, você pode ser encontrado?

Eu vou lhe dar um exemplo. É como uma faca. Uma faca pode cortar muitas coisas, mas não pode cortar a si mesma. Porque é uma única unidade. Ou seus olhos, que podem ver muitos objetos, mas não podem ver a si mesmos diretamente. Ou uma balança que pode pesar tantas coisas, mas não pode pesar a si mesma. Porque é uma unidade. Você também é um! Você não pode ver a si mesmo. Você pode ver a partir de si mesmo, mas o Self, você não pode ver. Tudo o que você pode perceber são os efeitos, o vapor do oceano. E esse vapor são os conceitos que surgem a partir do Self. Você pode perceber a idéia que tem de si mesmo, mas não pode perceber a si mesmo. Não de uma maneira fenomenal.

Você se conhece intuitivamente, além da dualidade. Da mesma forma como se você se tornasse consciente e não tivesse nada para ver. Nada com que se relacionar. Você ainda teria o sentimento Eu Sou. Você não precisa de mais nada para você dizer que você é. Então, se sua mente está pulando, não tente suprimi-la ou controlá-la. Você pode controlar a mente? Sim. Mas por períodos curtos de tempo. Quando você pára o exercício, a mente volta novamente.

Então, não desperdice toda sua energia tentando parar a mente. Permaneça como o observador das atividades mentais. Contemple essa energia, ou este principio que observa. Até que o observador incuba no observar. Significando que ele fica apenas sobre si mesmo. E neste momento a mente desaparece, não tem mais poder. Se você perder o interesse, ou ver que a mente é ilusória e perder o interesse na mente, no final você não vê mais a mente. Ela não deixará mais nenhuma pegada em você.

O que isso significa?

Recentemente, fizeram uma pergunta bastante profunda na Índia: ‘Bhagavan Sri Ramana Maharshi disse uma coisa: ele disse “Quando o Self é visto, o mundo não é visto, e quando o mundo é visto, o Self não é visto”.’

Ela disse: ‘Se eu vir o Self, o eu real, o mundo desaparecerá, e eu me sinto com medo. Mas é isso que o Bhagavan disse. Você pode explicar?’ Eu disse ok, vou tentar lhe dizer o que é. Quando não há interesse ou apego naquilo que você percebe, o objeto enquanto objeto de percepção ainda continua. Mas quando você não criou nenhuma relação com ele, ou criou qualquer tipo de sentimento em relação a ele, ele continua a ser um objeto da percepção, mas não registra nenhuma marca na consciência. Então, a pessoa vê, percebe, mas não faz um registro na consciência, é pura percepção. Então, é isso que ele quis dizer.

Quando o Self é realizado, as coisas não são vistas na consciência. As experiências estão lá, espontaneamente. Mas sem nenhum apego. Então a experiência é pura. A alegria está presente. A tristeza pode acontecer também, mas não deixa nenhuma marca na consciência. Elas são como as ondas na superfície do oceano. A experiência, o experienciar é sempre novo. É como escrever na água. Você não pode ler três segundos depois. Acabou. Quando sua percepção é fresca, é nova assim, e isso é completamente possível, da maneira como estou apontando a vocês, reconheça a testemunha.

Mas como você pode reconhecer a testemunha se ela não possui nenhuma característica? Isso não pode ser respondido através mente. Algo está observando todo o resto. Isto é óbvio. Descubra o que é esta coisa que está testemunhando todo o resto. Deixe que a atenção pare de ir para fora e volte para o coração. E compartilhe o que vocês descobriram comigo. É tudo o que vocês precisam fazer. Se seguirem esta pergunta, podem deixar de lado todos os livros espirituais, todas as suas práticas. Porque, para todas as práticas, para todas as leituras, o eu deve estar lá. O eu que pratica, o eu que lê, o eu que aprende. É por isso que o eu é o mais significante. O que é este eu?



segunda-feira, agosto 17, 2009

O ensinamento que desfaz o "É preciso ser assim" - Final


Masaharu Taniguchi


Entre as Palavras de Sabedoria da Seicho-no-Ie, há uma frase que diz: “Tanto as circunstâncias como o corpo carnal são sombras de sua própria mente”. Que o corpo carnal é sombra da mente pode ser percebido no semblante: torna-se carrancudo quando a pessoa fica zangada, ou risonho quando ela fica alegre, ou empalidece quando ela fica preocupada, mas muitas pessoas não percebem que as circunstâncias ou o ambiente também são sombras da mente. No budismo, diz-se: “Os três mundos são unicamente a manifestação da mente; não há outra existência fora da mente”, mas as pessoas comuns costumam pensar que isso não passa de filosofia de Sakyamuni (Buda), sem aplicação na vida prática. São poucas as pessoas que percebem que “os três mundos são unicamente a manifestação da mente”, e que “o ambiente e as circunstâncias não estão no mundo exterior, mas sim no seu interior”. Por isso, a maioria das pessoas, quando quer obter alguma coisa, pensa que ela está no mundo exterior e avança apenas em direção a ele, esquecendo-se de verificar o interior de sua mente.

Entretanto, como aquilo que parece ser mundo exterior na realidade é sombra daquilo que há no “seu mundo interior” (da mente), quando a pessoa se lança cegamente em direção ao mundo exterior sem verificar o mundo interior, ela acabará projetando a desarmonia interior no mundo exterior, tornando-o mais desarmonioso e desordenado. (...) A Seicho-no-Ie, deste modo, está demonstrando na vida prática que “os três mundos são unicamente a manifestação da sua própria mente; não há outra existência fora da mente”.


Tornam-se desnecessários os óculos

Há uma senhora, Nobuko Miya, cujos relatos de significativas experiências estão sendo frequentemente publicados na revista Seicho-no-Ie. Ela é uma secretária da Associação das Senhoras de uma Universidade Feminina, na região de Kobe. Ela teve sua vista melhorada após ler o livro sagrado Seimei no Jisso e conhecer a Verdade, passando a ler sem óculos até os furigana (letras miúdas que vêm ao lado do kanji para indicar o som dos mesmos), que acompanhavam as letras de corpo 6, sendo que antes na conseguia ler nem as de corpo 4, que são bem maiores, a não ser com o auxílio de óculos. Ela me visitou neste fim de ano e contou uma experiência provando que “o ambiente e as circunstâncias são manifestações da mente”.

Na região de Kansai há um organismo federativo denominado Federação das Associações Femininas de Kansai que agrega mais de cem associações femininas. Essa Federação promove todos os anos na “Semana da Solidariedade” o chamado “mercado móvel”, ou seja, ela entra em entendimento com as lojas e as representantes de cada associação participam como balconistas para vender dentro dessas lojas os artigos necessários para o fim de ano. Dez por cento da renda é doado aos pobres para as despesas de fim de ano. A sra. Miya também participava desse “mercado móvel” quase todos os anos, representando a sua associação; mas no ano retrasado, os sogros dela se opuseram dizendo: “Não precisa ficar saindo de casa para tais coisas”. Mesmo assim, a sra. Miya, achando que estava praticando uma boa ação que ia ajudar os pobres, saiu furtivamente de casa e foi participar da campanha da Semana da Solidariedade daquele ano.

Como saiu furtivamente, queria voltar o mais rápido possível. Assim que terminou o serviço, e enquanto as outras voluntárias só iam embora depois de tomar chá na sala de descanso, ela, sem ao menos tomar chá, saiu da loja e correu para o ponto do bonde. Mas o bonde demorou para vir; precisou esperar trinta minutos, e o outro bonde também demorou o mesmo tanto. Quando chegou em casa, era tão tarde que os seus sogros ficaram ainda mais mal-humorados. Nessa época a sra. Miya ainda não conhecia a Seicho-no-Ie, nem a “lei da mente”, e por isso pensou que o fato de os sogros ficarem zangados era um acontecimento que ocorria no mundo exterior a ela, e que a sua mente nada podia fazer. Ela saía para praticar boas ações, mas se os sogros não aprovavam, paciência. Porém, a sra. Miya, no ano passado, teve contato com a Seicho-no-Ie e conheceu a lei da mente e a Verdade de que “tanto o ambiente como as circunstâncias são a sombra da própria mente e mesmo as coisas que parecem ser do mundo exterior são todas projeção do mundo interior”.

Com isso, começou a ficar claro que os sogros, que até então pareciam constituir um “mundo exterior” a ela, e que não podiam ser modificados com a mente dela, na verdade estavam no mundo interior dela mesma, e eram “coisas do interior dela” que podiam ser modificadas como ela quisesse, de acordo com a sua mente. Por isso, quando estava para ir a campanha da “Semana da Solidariedade” do ano passado, acalmou seu espírito e, abandonando a idéia de que os sogros são incompreensivos, fez todos os serviços de casa até sair, e disse a eles: “Agora vou para a campanha da Semana da Solidariedade”. Então a resposta deles foi completamente diferente da do ano anterior: “Ah, pois não, pois não, vá indo”, e a deixaram sair, com muita boa vontade.

A sra. Miya estava por isso muito tranqüila. Mesmo ficando o dia inteiro em pé no mercado móvel, com as mercadorias na mão, não se cansou nem um pouco. Uma outra senhora que também estava trabalhando na campanha, disse: “Trabalhar em pé assim, quando não se está acostumada, deixa a gente um bocado cansada e com ombros rígidos, não!?” Mas a sra. Miya não estava com os ombros endurecidos nem cansada. “A senhora está tão cansada assim? Se o ombro fica endurecido e a senhora se cansa, é porque fica tensa”, respondeu-lhe. Após o serviço, já que tinha o consentimento dos sogros, só foi embora após tomar sossegadamente o chá e conversar com as outras senhoras, na sala de descanso. E assim que chegou ao ponto, veio um bonde que lhe servia. O outro bonde também não demorou nem um minuto para chegar. E assim, ela chegou em casa mais cedo do que no ano anterior, quando correu para tomar o bonde sem sequer tomar chá. Nem é preciso dizer que os sogros estavam de bom humor. Desta maneira, a sra. Miya, que até o ano retrasado pensava que os sogros eram uma existência que se situava no mundo exterior a ela, no ano passado comprovou que isso era “existência no seu interior” até ao nível da vida prática, e não apenas uma teoria filosófica.

Deste modo, a Seicho-no-Ie ensina que quaisquer problemas, sejam na família, entre sogro e nora, sejam de ordem financeira, se resolvem solucionando os problemas da mente. Qual é a chave que nos conduz à solução de tais problemas? É a Verdade segundo a qual “sendo o mundo das formas sombra da mente, quando a mente atinge um estágio de total liberdade, no mundo das formas as coisas também passam a correr livremente, e onde quer que a pessoa vá, todas as coisas e fatos a aguardam, abrindo-lhe o caminho”.

Então, o que fazer para atingir esse “estágio de total liberdade”, ou seja, o estágio em que nada prende a mente? Para isso, é preciso compreender, de um lado, o fato de que a matéria é o “nada”, e de outro, que o Jisso do homem é originariamente Filho de Deus. Por pensar que a matéria existe, a pessoa se prende à matéria, mental e fisicamente, e começa a dizer que “neste mundo as coisas não correm como a gente quer”. Na Seicho-no-Ie, aprende-se que “a matéria é o nada”. E, sendo “nada”, não há como se prender a ela; torna-se possível fazê-la circular abundante e infinitamente de acordo com a sua mente.

Se a pessoa estiver com a mente libertada do “precisa” que determina que “precisa fazer isso, precisa fazer aquilo”, ao mesmo tempo que ela enriquece e torna felizes aqueles que a cercam, ela própria recebe a retribuição do seu pensamento benéfico, e jamais se tornará pobre. O ensinamento que, libertando os homens de todos os “precisa”, vivifica o indivíduo, o lar, a pátria, o corpo carnal, a economia, o ambiente, harmoniza todas as coisas e faz prosperar todas as coisas – é a Seicho-no-Ie.


(Do livro 'A Verdade da Vida', vol.05 -- págs. 147 à 152)


sexta-feira, agosto 14, 2009

O ensinamento que desfaz o "É preciso ser assim" - 02

Masaharu Taniguchi


O conflito na família gera doenças

Se num lar o casal briga por causa de religião, e como conseqüência ambos se tornam doentes, não podemos entender como haverá salvação, não é mesmo? Jesus recomendou que, ao levarmos uma oferenda ao altar, primeiro nos reconciliássemos com nossos semelhantes. A religião deve reconciliar as pessoas entre si. Se, no entanto, os seguidores chegam a resultados como os citados acima, é porque não compreendem a profundeza do ensinamento pregado pelo fundador, e ficam na frente da porta chamada “religião”, teimando que a outra porta é diferente desta; quando aprofundando-se no próprio ensinamento, verificariam que todos estão pregando a mesma Verdade. A Seicho-no-Ie trabalha para conduzir as pessoas para a profundeza do ensinamento a fim de reconciliar as religiões entre si. Há pessoas que, individualmente, são muito boas e que não são de briga, mas que são capazes de brigar só porque a religião dos outros é diferente da sua. Em tais casos, apenas reconciliando as pessoas, sem reconciliar uma religião com a outra, não será eliminado o conflito na família. A Seicho-no-Ie neste ponto tem a função de reconciliar as religiões.


A causa do câncer estomacal

O episódio acima é um exemplo no qual uma seita se reconciliou com a outra. Mas, como a Seicho-no-Ie é o salão situado no “interior” de todas as religiões, um salão da Verdade comum ao qual se pode chegar através de qualquer porta, quando a pessoa ingressa na Seicho-no-Ie, qualquer que seja sua religião, fica admirada ao descobrir ali a essência do ensinamento do fundador da sua seita.

Somente agora pude vir proferir palestra em Morioka, atendendo a um convite, mas quem lançou a primeira semente da Seicho-no-Ie em Morioka foi a sra. Tetsu Kudo, uma viúva que mora na Vila Obuke, na periferia de Morioka. O marido dela fora um oficial do Exército que morreu após sofrer de doença mental durante dez anos. E toda vez que a senhora Tetsu assistia à crise de loucura do marido, ela sentia o peito contrair-se e formar ali um caroço. Acontece que, logo depois que o marido morreu, o que ela sentia no nível espiritual também se manifestou fisicamente e começou a se formar um caroço no peito, que impedia o alimento de passar pela entrada do estômago. Por isso, em junho daquele ano (há três anos atrás) ela foi internada no Hospital Morioka. Certo dia, o sr. Katsumi Sato, que na época trabalhava na Caixa Econômica de Morioka, foi ao hospital visitar um professor secundário, conhecido seu, que tinha sido operado do apêndice e, olhando distraidamente a placa do quarto vizinho, lia-se: “Testu Kudo”. Esse era o nome da colega de escola e amiga bastante íntima da irmã mais nova do sr. Sato!

Depois de saber que a sra. Kudo estava internada ali, visitou-a várias vezes, e como o sr. Sato também estudara a “cura pela imposição da mão”, tentou com afinco curá-la com esse método. Mas a doença era mais forte e, se descuidasse um pouco, a “palma da mão” perdia o poder. A doença agravou-se mais ainda e, em novembro daquele ano, o médico ponderou: “Já que está ficando no hospital não há esperança de ela se curar, é melhor obedecer à vontade dela”, e assim deu-lhe alta e ela voltou para a Vila Obuke. Aos parentes o médico sentenciara: “Isso é câncer e, portanto, incurável; ela não vai resistir até o fim deste inverno”. Mas à própria paciente nada revelou.

O quadro da doença nessa época era assim: tudo o que ela ingeria era bloqueado na entrada do estômago e voltava, sem nada ir para o estômago; ela mastigava uma colher de comida e engolia-a junto com um copo d’água; então, o alimento descia pelo esôfago, entravam dois ou três grãos de arroz no estômago e o restante era devolvido. Assim, a cada dois baldes de vômito, entrava uma tigelinha de arroz, e era com isso que a sra. Kudo se mantinha viva. Isso ocorria desde quando ela estava nos hospital, e continuou assim após sair de lá. Tendo o sr. Sato ouvido do médico que “a sra. Kudo não sobreviveria até o fim deste inverno”, achou que ela deveria saber que o espírito é imortal, que existe um mundo espiritual depois da morte, e levou-lhe a revista O espírito e a vida de estudo sobre a imortalidade do espírito que ele assinava. Como ele não poderia falar claramente “Você está para morrer; portanto leia isto e fique sabendo desde já da existência do mundo espiritual”, disse-lhe: “Eu li esta revista durante a viagem de trem para cá, e seu conteúdo é muito interessante. Leia para ver. Vou deixá-la aqui porque eu já terminei de ler e não preciso mais dela”.

Segundo consta, ir para Morioka até a Vila Obuke onde morava a sra. Kudo, levava cerca de uma hora de trem pela linha variante. A sra. Kudo ficou com a revista, leu-a até o fim, e quando chegou na última página, encontrou ali o anúncio da revista Seicho-no-Ie. Naquela época, publicamos condensadamente os números 3 e 4 da segunda série daquela revista sob o título: “Combate às doenças crônicas”, e as anunciamos com a seguinte mensagem: “O homem é Filho de Deus e, portanto, originariamente isento de doença. Lendo esta revista e conhecendo a Verdade, a doença se aniquila por si”. Lendo isto, a sra. Kudo pensou: “Isto sim há de me salvar. Fora isto não há nada que me salve”. Imediatamente ela encomendou aquelas revistas e as leu; leu-as repetidas vezes, durante um mês. Enquanto lia, pela força curativa das palavras contidas nos escritos, foi-se formando na mente da sra. Kudo a consciência de que “O homem é Filho de Deus; sua força vital depende da Vida de Deus, e não dos alimentos”. Dizem que, nessa época, a sra. Kudo passou a dizer a cada pessoa que ela encontrava: Eu já não tenho problemas porque conheci o meio de viver sem ingerir alimentos”. Ao mesmo tempo que ia se formando a consciência de que “pode-se viver sem comer”, a comida que até então era bloqueada, passou a entrar no estômago sem ser devolvida.

No momento em que a pessoa abandona a idéia de que “É preciso colocar comida no estômago a todo custo, é preciso fazer isto, é preciso fazer aquilo para que o homem sobreviva” – enfim, quando abandona todos esses é preciso – ela se torna livre. O homem vive graças à vida de Deus, e não às condições materiais que precisam ser desta ou daquela maneira.


Abandone o “é preciso ser assim...”

Achar que “tem de ser desta ou daquela maneira” é obstinação da inteligência superficial. A pessoa estabelece uma lei e passa a ter a obstinação de que “precisa ser de tal maneira”. E por causa disso, se ela desrespeitar um pouquinho essa lei, o seu corpo se enfraquece, ou fica doente. Porém, quando abandona a obstinação com que está segurando algo na mente, a pessoa obtém a liberdade que é inata ao ser humano – descobre o seu “eu originariamente livre”, que pode viver sem regras pré-estabelecidas. Quando a sra. Kudo compreendeu que “o homem consegue viver mesmo sem comer”, antiteticamente a comida que parava no esôfago começou a passar para o estômago. Aqui está o segredo para vivificar a Vida do homem – a fórmula secreta para curar todas as doenças: no momento em que deixam de existir todos os “é preciso...”, é recuperada a liberdade da Vida, que estava sendo tolhida pelo “é preciso...” feito pela própria pessoa.

A esposa daquele professor secundário que há pouco mencionei, curou-se em três dias da doença que o médico dissera requerer dois anos de repouso no litoral, quando ofereceu todo o patrimônio e o próprio marido a Deus, desfez-se da obstinação com que pensava “precisa ser assim”, e abandonou todos os juízos de sabedoria superficial do homem, declarando que jamais se queixaria, aconteça o que acontecer. Aparentemente, as doenças dessas duas senhoras foram curadas por diferentes tipos de despertar espiritual, mas na verdade foi o mesmo. Como a pessoa decide tudo segundo seu juízo de que “precisa ser assim”, quando não acontece assim, surgem as queixas, surge o medo, e, como reflexo da mente que perdeu a calma, ocorre a estagnação da corrente sanguínea, ou produzem-se toxinas no sangue. Mas quando se desfaz essa obstinação de que “precisa ser assim”, mesmo que não ocorra o esperado, não surgem nem a queixa nem o medo; consequentemente a mente se torna dócil, a Vida adquire a liberdade e recupera a saúde.

A despeito do tempo de sono do homem, por exemplo, no ensino de fisiologia da escola antiga, ministrava-se a lei auto-restritiva de que “O homem precisa dormir oito horas por dia”. As pessoas que receberam essa educação escolar muitas vezes ficavam presas a essa lei feita pelo próprio homem e, quando se desviavam dessa norma, eram castigadas pelo seu próprio subconsciente e ficavam cansadas ou doentes. No momento em que o indivíduo rompe a lei auto-restritiva do “precisa”, inventada pelo homem, desaparecem do seu subconsciente as prescrições do tipo “se não proceder assim, ficarei enfraquecido ou serei condenado à doença”; portanto ele já não ficará debilitado nem contrairá a doença, mesmo sem tomar providência alguma.

Eu conheço um estudante secundário que teve pleurite tempos atrás. Acreditando não ser capaz de resistir a uma sobrecarga de estudos porque tivera pleurite, esse estudante já tinha desistido de continuar os estudos, quando teve contato com a Seicho-no-Ie e aprendeu que “o homem é Filho de Deus, é isento de doença, e seu corpo não precisa de determinado tempo de sono. O ‘precisa’ é uma lei que o homem fixou voluntariamente em seu pensamento; portanto, se romper esse ‘precisa’ com a mente, não se cansará por menor que seja o período de sono”. Depois disso, esse estudante adquiriu confiança em sua saúde e, decidindo recuperar o tempo perdido e ingressar numa escola de nível superior, passou a estudar todos os dias até as duas ou três horas da madrugada. Acordava às seis horas e, tomando a refeição matinal apressadamente, corria para a escola. Assim, ele passou a levar uma vida sobrecarregada e não condizente com a lei da saúde, de acordo com o senso comum.

No entanto, essa sobrecarga não prejudicava nem um pouco a sua saúde e, ao contrário, ele foi aumentando de peso cada vez mais. Por isso, os seus colegas comentavam: “O seu corpo é incrível! Quando não dorme, fica mais saudável e engorda mais!” De fato, ele estava se comportando contra a “lei da saúde” comum. Entretanto, originariamente, Deus não determinou nenhuma lei da saúde que deva ser seguida à risca. Trata-se de uma lei da saúde do mundo humano que a mente da pessoa fixou/aceitou; portanto, se a mente dela decidir “A partir de hoje, vou determinar como lei o seu inverso”, o “inverso da lei da saúde” é que passa a ser lei.

Para esse estudante, foi-se tornando lei da saúde estudar até duas ou três horas da madrugada, em vez de dormir longas horas de sono improdutivo. Em suma, isso aconteceu porque ele conheceu a Verdade pregada pela Seicho-no-Ie e, dando uma reviravolta, criou em sua mente uma nova lei da saúde segundo a qual “o homem fica mais saudável quanto mais estuda.” No momento em que a pessoa, abolindo a lei da saúde do “precisa ser” criada pela obstinação de sua mente, conhecer a Verdade de que “sem precisar ser desta ou daquela maneira, o homem já é sadio”, conquistará o verdadeiro princípio da saúde.

Bem, voltemos ao assunto anterior: enquanto a sra. Kudo segurava na mente a corriqueira lei da saúde de que “o ser humano precisa comer, caso contrário não consegue viver”, mesmo que ela ingerisse alimento, devolvia-o e não passava nada para o estômago; mas, ao conhecer a Verdade de que “o homem não vive graças à comida, mas sim graças à Vida de Deus” lendo repetidamente durante um mês os dois exemplares da revista Seicho-no-Ie, abandonou totalmente aquela “lei da saúde” e, ao contrário, curou-se do câncer e o estômago passou a receber os alimentos.

Aqui está o Seimei no Jisso (A Verdade da Vida) que devemos conhecer. Às vezes surgem questões como: “Então, se o homem não é mantido pelo alimento, ele não precisaria comer nada, não?” Mas o certo não é a pessoa comer em razão da idéia fixa de que “se não comer, não poderá sobreviver”, mas sim pela idéia de que “o alimento lhe chega naturalmente à boca, obedecendo ao fluir da Vida de todo o Universo, sem precisar de artifício algum”. Quando é assim, come-se mas ao mesmo tempo não se está comendo; não se está lutando desesperadamente por comer. A esposa daquele professor de curso secundário já mencionado, curou-se quando decidiu “entregar tudo a Deus, até o patrimônio e o próprio marido” e, embora continuasse possuindo-os, resolveu reconhecer que não era seu egoísmo pessoal que os possuía. É tudo a mesma coisa: Comer sem comer, possuir sem possuir. Isto se torna evidente quando se compreende que a matéria é originariamente “nada”, e que este mundo material é uma ilusão.

Voltando ao caso da sra. Kudo, o sr. Katsumi Sato, após ter sido avisado pelo médico de que ela não viveria além daquele inverso, ficou na expectativa do aviso de sua morte quando chegou o auge do inverno. Não é que ele estivesse desejando a morte da sra. Kudo, mas estava se preparando para isso. No entanto, ficou sabendo por uma carta dela que tinha se curado lendo a revista Seicho-no-Ie e que, com a saúde recuperada, ela estava trabalhando ativamente, fato que o surpreendeu. Curioso e conhecer essa revista que só de ler cura a doença desenganada pela medicina, escreveu à sra. Kudo dizendo que desejava lê-la, e ela mandou-lhe aquela revista Seicho-no-Ie. O sr. Sato, ao lê-la, ficou ainda mais surpreso (os artigos compilados na revista Seicho-no-Ie daquela época estão compilados no atual livro sagrado Seimei no Jisso). O sr. Sato antigamente seguia o cristianismo, e ultimamente vinha seguindo a filosofia as Sutra de Lótus, como o mais elevado dos ensinamentos de Sakyamuni (Buda). Porém, o ensinamento da Sutra de Lótus era extremamente sutil e ele não conseguia compreendê-lo de maneira clara. No entanto, ao ler a revista Seicho-no-Ie, ao mesmo tempo que se esclareciam todas as Verdades de difícil compreensão da Sutra do Lótus (mais tarde o sr. Sato se empenhou no estudo comparativo da “Sutra de Lótus” com Seimei no Jisso, e publicou "A interpretação da Sutra de Lótus"), compreendia-se de maneira perfeita o significado das palavras da Bíblia que ele antigamente seguia. E ficou admirado com o fato de a religião estar sendo apresentada não como simples ensinamento para o espírito, mas de modo a possibilitar que o despertar espiritual seja aplicado no cotidiano.

Anteriormente falei do casal que se reconciliou depois que conheceram a Seicho-no-Ie e compreenderam que a seita Tenri e a seita Shin, na essência, pregavam a mesma Verdade; porém, no caso do sr. Sato, ficou comprovado que a Seicho-no-Ie revela a essência da Sutra so Lótus e a verdadeira doutrina do cristianismo. Creio que com isso ficou claro que a Seicho-no-Ie não está preocupada em se afirmar como mais uma seita; por isso, pode ser introduzida em qualquer religião, e as pessoas de qualquer religião podem aderir à Seicho-no-Ie, sem abandonar a sua religião.

continua...


(Do livro 'A Verdade da Vida', vol.5 -- págs 132 à 141)


quarta-feira, agosto 12, 2009

O ensinamento que desfaz o “É preciso ser assim” - 01

Masaharu Taniguchi


Obs: As palestras realizadas em Morioka, Tóquio e Nanao, eu as proferi de improviso, sem texto prévio, com duração em torno de duas horas cada. Como o assunto-tema foi semelhante, com ligeiras modificações para adaptar o teor da palestra ao público de cada cidade, seria repetitivo transcrever cada uma das três palestras. Por esse motivo, resolvi produzir aqui um sumário das palestras, sintetizando os pontos essenciais abordados em cada lugar.


O que é a Seicho-no-Ie?

Eu sou Masaharu Taniguchi, da Seicho-no-Ie, conforme fui apresentado. Neste auditório estão presentes muitos adeptos, mas parece haver também muitas pessoas que ainda não o são. Portanto, se eu fizer uma longa introdução sobre a Seicho-no-Ie, em geral já de conhecimento dos adeptos, estes sentir-se-ão entediados, mas, por outro lado, se eu discorrer valendo-me apenas de terminologia específica, pode ser que os adeptos apreciem bastante, mas receio que as pessoas que a ouvem pela primeira vez considerem-na de difícil compreensão. Então, pretendo proferir esta palestra de modo que não seja repetitivo para quem vem lendo mensalmente a revista Seicho-no-Ie e, ao mesmo tempo, permita aos não-adeptos terem uma idéia do que seja a Seicho-no-Ie.

A Seicho-no-Ie pode ser chamada de religião. Porém, não se trata de uma religião com inclinação para uma doutrina ou para uma seita. As religiões até agora, de maneira geral, inclinam-se para uma ou para outra doutrina: os adeptos do cristianismo dizem que só há salvação através do cristianismo; os do budismo sustentam que só há salvação através do budismo, e muitas vezes acontece de, dentro do próprio budismo, a seita do “nenbutsu” (seita que prega a salvação pela repetição do nome de Buda) e a seita da “salvação por força própria” ficarem se insultando mutuamente; por sua vez, os seguidores da seita “Tenri” dizem que só há salvação através desta seita; os da instituição religiosa “Hitonomichi” (Caminho da Humanidade) dizem que só poderá haver salvação pela “Hitonomichi”; e, mesmo dentro de uma mesma família, quando os seus membros seguem diferentes seitas das várias religiões, estes, justamente por seguirem uma religião brigam entre si, o que constitui um fenômeno estranho.


A missão originária da religião

Acredito que a missão originária da religião deva ser a de reconciliar os homens entre si. Mas, se as religiões, em vez de desempenharem a função reconciliadora, acabam fazendo com que os homens briguem entre si, é porque estão teimando num ensinamento e não conseguem ver a virtude dos outros ensinamentos. Porque acham que só suas próprias pregações são boas, insistem nelas, não conseguem ver a virtude das demais e vêem-se forçadas a brigar entre si.

Dizem que a religião salva, mas o que significa “salvar”? Não é ser levado para um lugar onde há provisão material completa chamado “Céu”, nem ser transportado para um ambiente repleto de bons ornamentos, chamado “Paraíso”. É recuperar a “liberdade infinita” inata ao homem. A “liberdade” é apenas uma palavra moderna, mas em linguagem búdica, que vem desde a Antiguidade, seria “guedatsu” (emancipação). O oposto de “guedatsu” é chamado “impedimento”, “obstinação” ou “apego”, e refere-se ao ato de fanatizar-se, prender-se a alguma coisa e tornar-se aprisionado por ela. Quando se fanatiza e se prende a algo, a pessoa já deixa de ser livre, entra em conflito com tudo que a cerca e nada se resolve com facilidade. Alcançado o “guedatsu” (emancipação), isto é, desfazendo a obstinação, a “Vida” dessa pessoa se torna verdadeiramente livre; e essa verdadeira libertação da “Vida” contida no próprio homem chama-se salvação.

Ainda que uma pessoa seja colocada dentro de um palácio luxuoso denominado Céu ou Paraíso, se na Vida dessa pessoa houver algum aprisionamento, por mais que o ambiente seja ótimo, ela sofre afobando-se e irritando-se; em última análise, não está salva.

E, como o fundador de cada religião elaborou sua respectiva doutrina com o intuito de dar liberdade a essa “Vida” do homem, qualquer que seja a religião à qual a pessoa se filie, se essa pessoa se aprofundar em sua essência, conquistará a “liberdade da Vida” – isto é, será realmente salva. Porém, acontece que, surgindo uma, duas, várias pessoas que vão se salvando por meio dessa religião, na maioria dos casos tende a nascer um preconceito de que, se não for através dessa religião, não poderá ser salvo; que, por intermédio de outra religião, não se salvará. Por exemplo, enquanto os cristãos apregoam veementemente que “se não for pelo cristianismo não haverá salvação”, frequentemente seus vizinhos monges budistas, trajando túnicas (kessa), replicam: “Se não for pelo budismo, o homem não será salvo”. Nessas ocasiões, se perguntarmos ao pregador do cristianismo que está falando mal do budismo “Até que ponto você estudou sobre o budismo?”, ele ficará embaraçado e não conseguirá responder.


As seitas são os portais para se entrar na “casa”

“Salvação” significa conquista da liberdade que é inata ao homem. Por isso, muitos fundadores virtuosos e de visão avançada abriram as portas para o homem conquistar a liberdade da Vida nele inata, de acordo com a época e com o povo. É uma tendência natural do homem querer convidar os outros para entrarem pela porta através da qual ele atingiu a salvação. Mas não devemos criticar ou depreciar outras portas pelas quais nunca passamos, pensando que a única porta para a conquista da “salvação” é a que nós atravessamos e que não há outras.

Bem, e qual é a posição da Seicho-no-Ie em relação às várias seitas e religiões? Seicho-no-Ie diz “Ie” (casa) e não se diz “seita tal”, nem usa o sufixo “ismo”; não se trata de “mais uma” seita para se opor às demais. Quando se trata de “porta”, é preciso sair por uma para entrar por outra, o que ocorre inevitavelmente com as “portas” (religiões) que se colocam em posição relativa, e é por esse motivo que há rejeição a outras “portas”. Mas a Seicho-no-Ie não é “porta religiosa”; consequentemente, não diz para sair por uma porta e entrar por esta. Como a Seicho-no-Ie é “casa”, qualquer que seja a porta pela qual a pessoa entre, não há inconveniente algum. Tenha a bondade de adentrar-se para o interior da sua religião; lá, bem no fundo, você encontrará um salão bastante amplo – é esse salão interior que se chama Seicho-no-Ie – e a ele pode-se chegar, não importa qual seja a porta pela qual entrou. Se você penetrar até a profundeza de sua doutrina, infalivelmente chegará ali; sendo esse salão uma ampla área de total desprendimento e de verdadeira liberdade, nele já não há mais lugar para conflitos religiosos. Um estado em que todas as pessoas procedentes das mais diversas seitas conseguem viver amistosamente, dando-se as mãos, como membros de uma única família – isto é “Seicho-no-Ie”. Portanto, se de um lado a Seicho-no-Ie promove a reconciliação entre os homens, de outro lado tem também a função de reconciliar as religiões entre si.


A que se propõe a Seicho-no-Ie?

Talvez surpreenda o leitor o fato de haver uma religião tão liberal, mas eu não sei se a Seicho-no-Ie deve denominar-se religião, modo de vida, filosofia, movimento de divulgação do Pensamento Iluminador ou movimento de doutrinação. Bem, podem lhe dar o nome que quiserem. Só que nas religiões até agora existentes, a doutrina e a vida prática caminham totalmente desvinculadas entre si: a doutrina é uma coisa, e o cotidiano prático é outra, sendo tão independentes, de modo que há pessoas que seguem uma religião mas que têm a família desagregada ou constantemente eivada de desgraças e doenças, resultando daí que a religião seja salvação apenas espiritual, sem ter relação alguma co a vida prática. Mas, na Seicho-no-Ie, a doutrina em si já representa a salvação ao nível cotidiano; assim, ouvindo os ensinamentos, cura-se a doença, lendo-os, acabam-se a pobreza, as brigas conjugais, etc.


Reconciliação das seitas “Tenri” e “Shin”

Deixemos por aqui a explanação das virtudes, e passemos para um exemplo real, pois se eu não lhe contar um fato verídico, não acreditarão em mim. No dia 4 de janeiro deste ano, vieram de certa província um professor de curso secundário e sua esposa, em visita de agradecimento à Seicho-no-Ie. As religiões do casal não coincidem: o marido é seguidor da seita Tenri, e a esposa é budista e segue a seita Shin. Quando dentro da mesma família há conflitos espirituais provenientes de divergência de crenças, isto se torna a causa da doença. Durante um período, essa senhora foi vítima de tuberculose. Consultando o médico, este prescreveu: “Esta doença requer uns dois anos de tratamento no litoral”. “Então, se eu me tratar dois anos no litoral, ficarei infalivelmente curada?” – perguntou ela, com seriedade, ao que o médico respondeu: “Bem, eu não posso garantir a cura”. Em outras palavras, ele não sabia se curaria ou não, mas o único tratamento que recomendava era passar uns dois anos no litoral.

Parece tratar-se de um médico inseguro, mas a verdade é que, se fosse o médico que curasse a doença, ele poderia assegurar que curaria infalivelmente; mas, como é a Natureza que a cura, não se pode saber que rumo ela tomará. E a referida senhora, pensando que não adiantaria seguir o conselho do médico já que não tinha certeza de cura, consultou o marido e, foi procurar um professor da seita Tenri, da qual o marido era adepto. Esse professor aconselhou: “Faça o kokoro sadame (decisão)”. Como eu não conheço profundamente a seita Tenri, perguntei a ela: “O que é korodo sadame?, e ela reproduziu o que o professor lhe disse: “Dê o patrimônio, dinheiro, tudo a Deus”. (o auditório ri) Se fosse um professor qualquer, talvez mandasse vender o terreno, a casa e até os móveis para oferecer a Deus, mas esse professor parece ser um profundo conhecedor da Verdade, e não chegou a falar nesses termos. A pessoa oferece tudo a Deus, mas continua possuindo o que ofereceu. Essa senhora ofereceu até o marido a Deus – não estou dizendo que ela embrulhou o marido em papel de presente e levou-o até a sede da seita Tenri; formalmente, ele continua sendo o seu marido, e continua morando em sua casa. Entregou o marido a Deus, tendo-o dentro de sua casa como dantes. Entregar a Deus, seja o patrimônio, seja o marido, significa jurar para si próprio: “De agora em diante, não considerarei mais nem o patrimônio nem o marido como meus”. Isto constitui o chamado kokoro sadama.

Essa senhora até jurou: “Daqui pra frente, por mais que o marido cometa libertinagem, jamais me queixarei”. É uma grande decisão essa de considerar tudo como propriedade de Deus, e de confiar tudo à vontade d’Ele, portanto, de não reputar como seu nem o marido nem o patrimônio. Se pensar que é seu nascerá o apego e sua mente ficará presa nele e nascerão a queixa e a insatisfação. Mas se pensar que tudo aquilo não é seu, mas sim do Universo, de Deus, não haverá caprichos, queixas e insatisfações; consequentemente a doença também se curará. E assim, após essa senhora fazer o kokoro sadame, curiosamente a temperatura foi reduzindo um grau por dia; no terceiro dia, voltou à temperatura normal e depois disso a tuberculose foi completamente debelada.

Como se vê, quando a pessoa liberta aquilo que está segurando obstinadamente como seu, a rigidez da mente se desfaz e a doença se cura. Como a doença em última análise é conseqüência da “rigidez da mente”, quando esta é eliminada, a maior parte das doenças é curada. Pois bem, essa senhora tinha decidido que o marido não seria mais dela, mas, continuando a morar juntos na mesma casa, era inevitável que ela recomeçasse a achar que ele era seu. Embora tivesse jurado que não iria se queixar mesmo que o marido cometesse libertinagem, sentia-se triste e desgostosa, quando ele não correspondia aos seus anseios, ou porque não seguia a mesma crença que ela. Devido a tais conflitos espirituais entre os dois, ultimamente ambos estavam doentes: o marido foi submetido a uma cirurgia, mas, como o resultado não foi satisfatório, estava em licença há dois meses; a esposa, por seu turno, aborrecida com isso, fez sua própria doença e estava de cama. Nisso, chegou o livro sagrado da Seicho-no-Ie Seimei no Jisso (A Verdade da Vida) que um conhecido lhes enviou. Coincidentemente, desde o dia em que o livro sagrado chegou, o marido começou a melhorar consideravelmente.

A esposa começou a ler primeiro; e quando ela não lia, o marido lia, e compreenderam que tanto a seita Shin como a Tenri eram originariamente o mesmo ensinamento. Com isso, desfez-se o conflito espiritual entre o casal, e a doença de ambos, que estava demorando a curar-se, desapareceu. Isso ocorreu no fim do ano passado. No dia 28 de dezembro, o marido já estava praticamente recuperado, mas o corte da cirurgia ainda não se cicatrizara. Como a esposa desejava receber o dia de Ano Novo com a saúde totalmente restabelecida, colocou a sua mão sobre o corte do marido, e pediu: “Sei que estou pedindo demais, mas cure este corte em três dias”. Então, no dia 30 esse corte cicatrizou-se totalmente.

Tempos atrás, ela aprendera a chamada “cura pela imposição da mão”, e, assim que ela conheceu o verdadeiro Deus e foi desfeito o conflito mental do seu lar, repentinamente a “cura” manifestou o seu poder. A Seicho-no-Ie não critica a “cura pela imposição da mão”. Há também que estudou essa mesma técnica sem, no entanto, ter conseguido efeito; mas que, ao ler Seimei no Jisso, repentinamente passou a manifestar a capacidade curativa que emana da palma da mão. Como a força que emana da palma da mão não é simples radiação de natureza física, surge diferença no cumprimento da onda ou irradiação, conforme a mente da pessoa; por isso, quando a pessoa tem um conflito espiritual, ou quando admite que a doença existe e nutre sentimento de medo, a força curativa é reduzida. Porém, quando a pessoa adere a uma filosofia do tipo da Seicho-no-Ie, desfaz-se o conflito espiritual entre os membros da família e desaparece o sentimento de medo causado pela idéia de que a doença existe; consequentemente, as pessoas que aprenderam a “cura pela imposição da mão” e não conseguiram resultado ao aplicá-la, passam a conseguí-lo.

continua...

(Do livro 'A Verdade da Vida', vol. 5 -- págs. 123 à 132)



domingo, agosto 09, 2009

O Suprimento - Parte II


Joel S. Goldsmith


Em certo momento dizemos que não devemos nos preocupar quanto ao nosso suprimento ou a nossa saúde e, no momento seguinte, dizemos que precisamos "orar sem cessar" e "conhecereis a verdade e a verdade-vos libertará". Embora isso pareça contraditório, ambas as afirmações estão corretas, mas elas têm de ser compreendidas.

Há sempre uma crença de "bem humano" em operação — uma lei de estatísticas, e dela nós extraímos nosso benefício material. Nas vendas de porta em porta, há geralmente uma média de uma venda a cada vinte visitas; nas propagandas de mala-direta, há um retorno médio de dois por cento; no dirigir veículos, é dito que a regra estipula uma certa porcentagem de acidentes; as companhias de seguro de vida possuem uma tabela de expectativa de vida, e, baseando-se nessas médias, elas podem lhe informar a cada instante quantos anos de vida ainda lhe restam.

Viver humanamente, isto é, seguir ao longo do dia-a-dia permitindo que estas médias nos afetem, permitindo que crenças humanas operem sobre nós, não é um modo de vida científico. Isso tudo faz parte da crença em existência humana, e, a menos que façamos algo especificamente a esse respeito, ficaremos expostos a estas chamadas leis de saúde ou econômicas.

Estas sugestões, que realmente não passam de crenças, são tão universais que agem de modo hipnótico, e tendem a produzir efeito sobre os menos avisados, trazendo-lhes limitações.

O que nós podemos fazer para nos manter livres de tais sugestões e vivermos acima delas? Em primeiro lugar temos de viver em um plano de consciência mais elevado. Tanto quanto possível, temos de nos exercitar no conhecimento de que qualquer coisa que exista no campo do efeito, não é uma causa, não é criativo, e não tem poder sobre nós. E isso nos leva ao importante ponto da sabedoria espiritual: eu sou a lei, eu sou a verdade, eu sou a vida eterna. Ora, uma vez que eu sou consciência infinita e a lei, nada do mundo exterior pode agir sobre mim e se tornar uma lei para mim. Não há nada que nos possa infligir sofrimento, a não ser a aceitação da ilusão como realidade. As coisas chamadas pecado e a doença não são coisas pelas quais temos de sofrer: são formas assumidas pelo erro. Independentemente do nome que lhe dermos, elas são só hipnotismo, sugestões, ilusões se apresentando como pessoas, lugares ou coisas — se mostrando como pecado, doença, necessidade ou limitação.

Não devemos viver como se fôssemos "efeito", com alguma coisa operando sobre nós. Lembremos de viver como a Lei, como o Princípio do nosso ser. Podemos assumir os nossos negócios só na medida de nossa percepção consciente de que estes são efeitos de nossa própria consciência, a imagem e semelhança de nosso próprio ser, a manifestação ou expressão do nosso Eu divino — e só então seremos a lei que os governa.

Temos de começar nosso dia com uma reflexão sobre nossa verdadeira identidade. Temos de nos identificar como Espírito, como Princípio, como a Lei que atua em nossas coisas. É coisa muito necessária relembrar que não temos necessidades: somos consciência espiritual, individual, mas infinita, corporificando dentro de nós mesmos a infinitude do bem; por isso, somos o centro, o ponto da Consciência divina que pode alimentar cinco mil pessoas a cada dia, não usando nossa conta bancária, e sim a infinitude do bem que jorra através de nós, assim como o fazia através de Jesus.

Não vamos de encontro às pessoas pensando no que podemos delas obter ou no que elas possam fazer por nós — apenas vamos para a vida como para a presença de Deus.

Ao longo do dia, quer estejamos fazendo trabalho doméstico, dirigindo o carro, comprando ou vendendo, temos sempre de nos conscientizar que nós somos a lei do nosso universo, o que significa sermos a lei do amor para com todos que fazem contato conosco. Devemos lembrar conscientemente de que todos os que entram na esfera de nosso pensamento e atividade devem ser abençoados por este contato, pois nós somos a lei do amor; somos a luz do mundo. Lembremos de que não precisamos de coisa nenhuma, pois que somos a lei do suprimento em ação — podemos alimentar "cinco mil" daqueles que ainda não sabem de sua verdadeira identidade.

Existe a crença da separação entre nós e Deus — nosso bem — e nós a corrigimos quando reconhecemos que "Eu e o Pai somos um; tudo o que o Pai tem é meu; o lugar onde eu estou é solo sagrado". No reconhecimento da infinitude do nosso ser, percebemos as verdades da Bíblia, percebemos a verdade de suas promessas. Já não se trata de citações, mas de afirmações de fatos, e isto nos traz até a linha demarcatória entre "conhecer a verdade" e "não nos preocupar".

Percebemos agora a verdade como algo assentado em nossa própria consciência — a realidade do nosso ser. Não nos preocupamos em atrair algum bem; não estamos nos dando algum tratamento para que nos aconteça algo, mas percebemos a verdade, a realidade de nossa identidade, de nossa unidade com o Infinito, com nossas infinitas possibilidades. A razão para perceber e conhecermos esta verdade é que através dos tempos sempre nos reconhecemos apenas como homens — como algo diferente de ser divino — e a menos que, diária e conscientemente, lembremos da verdadeira natureza do nosso ser, recairemos sob a crença geral de que somos algo separado e longe de Deus.

Existe uma crença de que estamos separados das pessoas, que na realidade são parte de nosso ser como um todo; ou a idéia de que sejamos separados e distantes de certas idéias espirituais necessárias à nossa auto-realização, idéias que se apresentam como pessoas, textos, lar, amizades ou oportunidades. Esta crença de separação nós corrigimos com a percepção de que nossa unidade com Deus constitui nossa unidade com cada uma das idéias. Temos um bom exemplo com o telefone. Através do meu telefone eu posso fazer contato com qualquer outro telefone ou lugar do mundo, mas não posso falar nem ao meu vizinho pelo telefone sem que a ligação passe pela central. Se então eu estabelecer meu contato com a central, serei um com todos os telefones. Pelo conhecimento de nossa unidade com Deus, o Princípio infinito, o Amor, encontramos e manifestamos nossa unidade com todas as idéias necessárias à expansão de nossa "completeza".

Nunca esqueçamos de que não podemos viver cientificamente como homens ou como idéia, mas que devemos perceber que somos Vida, Verdade e Amor. Devemos aceitar a revelação de Jesus sobre o "Eu sou" até que se torne realizada em nós.

Paremos de tentar aplicar a Verdade: tal tentativa de aplicar a Verdade nada mais é que uma ação do pensamento humano. A Verdade é infinita e, por isso, não há nada a que possamos aplicá-la. Ela é a realidade do ser, e não há nada exterior ou interior sobre o que ela possa agir: a Verdade age e trabalha por si própria, ou seja, é auto-operante.

Estamos todos envolvidos em atividades que aparentemente fazem o suprimento vir até nós. Independentemente de se tratar de um negócio, uma profissão ou uma arte, o que está em atividade é Consciência. Vista desse modo, nossa atividade é amorosa e inteligentemente dirigida e amparada. E mesmo mais do que isso: como uma emanação da Consciência, é a Consciência em Si mesma manifestando individualmente o próprio ser, natureza e caráter. A direção está a Seu cargo, e só a Consciência é responsável. Aprendemos a não nos envolver e a deixar que Deus, a Consciência, assuma Suas responsabilidades.

Lemos na Bíblia sobre os esforços e atribulações de Elias. Se o acompanharmos pelo capítulo dezoito de I Reis, compreenderemos que apenas a consciência da presença de Deus, do Espírito dentro dele, poderia ter feito aquelas grandes coisas. Nenhum poder humano poderia tê-lo conseguido.

No capítulo dezenove encontramos o desânimo despontar naquilo que aparece como o fracasso do ministério de Elias. Na realidade, esta foi uma oportunidade dada a Elias para que comprovasse que o poder não era de um ser humano, mas que era de fato o poder de Deus se manifestando como em homem, Deus se mostrando como ser individual.


sexta-feira, agosto 07, 2009

O Suprimento - Parte I


Joel S. Goldsmith

O segredo do suprimento encontra-se no capítulo décimo segundo de Lucas:

E ele disse aos seus discípulos: "Portanto eu vos digo, não vos preocupeis com a vossa vida, com o que haveis de comer; nem com o vosso corpo, com o que o cobrireis. A vida é mais que o alimento, e o corpo é mais que a vestimenta.

Considerai os corvos: eles não semeiam nem colhem; eles não têm dispensa nem celeiro; e Deus os alimenta: quanto mais vaieis vós que as aves?

E qual de vocês, com toda solicitude, pode acrescentar um cúbito à sua estatura? E se, pois, não sois capazes de fazer estas pequenas coisas, por que vos preocupais com as outras?

Considerai os lírios, como eles crescem: eles não fiam nem tecem; e na verdade vos digo que nem Salomão, em toda sua glória, jamais se vestiu como um deles. E se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada ao forno, quanto
mais vestirá a vós, homens de pouca fé? Não pergunteis pois o que haveis de comer, ou o que haveis de beber, nem andeis na dúvida. Pois todas as gentes das nações do mundo buscam estas coisas: e vosso Pai sabe que delas haveis mister. Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão dadas de acréscimo.

Não temais, pequeno rebanho, pois é do agrado do vosso Pai dar-vos o reino.”



Surge agora a questão: Como é possível "não nos preocupar" com o dinheiro quando as prementes obrigações devem ser satisfeitas? Como podemos confiar em Deus se ano após ano tais problemas financeiros nos afligem, geralmente não por falha nossa? Vimos na passagem de Lucas que o modo de resolver nossas dificuldades está em não nos preocuparmos com o suprimento, quer seja dinheiro, alimento, roupa ou qualquer outra forma. E o motivo pelo qual não precisamos estar ansiosos quanto a isso é que "é do agrado do vosso Pai dar-vos o reino", uma vez que Ele "sabe que delas haveis mister".

Para podermos entrar completamente no espírito de confiança desta passagem inspirada das Escrituras, temos de compreender que dinheiro não é suprimento, e sim o resultado ou efeito do suprimento. Não existe tal coisa como suprimento de dinheiro, de roupas, de casa, de automóvel ou alimento. Tudo isso constitui o efeito do suprimento, e se este suprimento infinito não estivesse presente dentro de nós, nunca haveria as "coisas dadas de acréscimo" em nossa vida. As coisas de acréscimo, naturalmente, são estas coisas práticas como dinheiro, alimento e roupas, que são tão necessárias neste estágio da existência.

E se dinheiro não é suprimento, que é este então? Façamos uma pequena divagação e observemos uma laranjeira carregada de frutos. Sabemos que as laranjas não constituem o suprimento, pois quando estas tiverem sido comidas, vendidas ou dadas, uma nova safra começará a brotar. As laranjas se foram, mas o suprimento continua, pois dentro da laranjeira existe uma lei em operação. Chame-a de lei de Deus, ou lei da natureza — o nome não é tão importante, mas o que importa é o reconhecimento da lei que atua na, através e como laranjeira. E esta lei opera internamente — através das raízes vêm os elementos minerais, nutrientes, água, elementos do ar; e mais a luz solar, que são então transformados em seiva. Esta, por sua vez, caminha tronco acima, é distribuída pelos ramos e finalmente toma expressão como flor. A seu tempo, esta lei transforma as flores em bolotas verdes e estas se tornam laranjas maduras. As laranjas são pois o resultado, ou o efeito da ação da lei na, através e como laranjeira. Enquanto esta lei estiver presente, teremos laranjas. A laranja, por si, não pode produzir outra laranja. E assim compreendemos que a lei é o suprimento e as laranjas seus frutos, os resultados, os efeitos da lei.

Dentro de mim e de você há também uma lei em operação — a lei da Vida — e a conscientização da presença desta lei é o nosso suprimento. O dinheiro e as coisas necessárias à vida diária são os efeitos da conscientização da atividade da lei interior. Esta compreensão nos permite desligar o pensamento do mundo exterior para habitarmos na consciência da lei.

Que é esta lei, que é nosso suprimento? A Consciência divina ou universal, a sua consciência individual — isto é a lei. E ela é de fato a nossa consciência. Assim, nossa consciência se torna a lei do suprimento para nós, produzindo a sua imagem e semelhança na forma de coisas necessárias ao nosso bem-estar. E assim como não há limites para a nossa consciência, tampouco há limites para a percepção consciente da ação da lei e, por isso, não há limites para o nosso suprimento em todas as suas formas.

A Consciência divina ou universal, nossa consciência individual, é espiritual. A atividade desta lei interior é também espiritual e, por isso, nosso suprimento, em todas as suas formas, é espiritual, infinito, sempre presente. Aquilo que vemos como dinheiro, alimento, vestimenta, carros ou casas representa a nossa interpretação dessa idéia. Nossos conceitos são tão infinitos como nossa mente.

Convenhamos que, assim como não precisamos nos preocupar com as laranjas, enquanto tivermos a fonte ou suprimento que produz continuamente os frutos para nós, também não precisamos mais nos preocupar com o dinheiro. Aprendamos a olhar para o dinheiro como olhamos para as folhas ou para as laranjas, como um resultado natural e inevitável da lei que age interiormente. Não há, de fato, razão para nos preocuparmos, mesmo quando a árvore nos pareça desfolhada, enquanto mantivermos a consciência da verdade de que a lei continua assim operando internamente, para nos dar os frutos de sua própria espécie. Independentemente do estado de nossas finanças em dado momento, não fiquemos preocupados ou aborrecidos, pois agora sabemos que a lei atua dentro de nós, através e como nossa consciência e trabalha, quer estejamos dormindo ou despertos, para nos prover das coisas "de acréscimo".

Aprendamos a olhar para os lírios e a nos regozijar com a prova da presença do amor de Deus por Sua criação. Observemos as andorinhas, quão completamente confiam na lei.

Regozijemo-nos ao ver as flores na primavera e no verão, que nos confirmam a divina Presença. Assim como aprendemos a nos alegrar com as belezas e generosidade da natureza sem o desejo de nos apoderar de qualquer coisa, sem o medo de que seu suprimento não seja infinito, assim também aprendamos a nos alegrar com o desfrute de nosso suprimento infinito — resultado do infinito repositório em nosso interior — sem nenhum medo de que alguma carência venha a nos perturbar.

Gozemos dessas coisas do mundo exterior sem, contudo, considerá-las como suprimento. Nossa conscientização da presença e da atividade da lei é nossa consciência de suprimento, e as coisas exteriores são as formas sob as quais nossa consciência se expressa. O suprimento interno se manifesta como as coisas externas de que necessitamos.


terça-feira, agosto 04, 2009

OS CINCO SKANDHAS (AGREGADOS)




1º Skandha – Criação da Ignorância-Forma, três aspectos ou fases diferentes que podemos examinar empregando outra metáfora. Suponhamos que, no princípio, haja uma planície aberta sem montanhas nem árvores, uma terra completamente aberta, um simples deserto sem nenhuma característica especial. Eis aí como somos, o que somos. Somos simples e básicos. E, todavia, há um Sol que brilha, uma Lua que brilha, e haverá luzes e cores, a textura do deserto. Haverá alguma sensação da energia que brinca entre o Céu e a Terra. E, assim por diante, indefinidamente.

Depois, estranhamente, surge de improviso, alguém para notar tudo isso. Como se um dos grãos da areia espichasse o pescoço para fora e principiasse a olhar à sua volta. Nós somos o grão de areia, chegando a conclusão do nosso estado de separação. Este é o “Nascimento da Ignorância” em seu primeiro estágio, uma espécie de reação química. A dualidade começou.

A segunda fase da Forma-Ignorância dá-se o nome de “A Ignorância Nascida no Interior”. Tendo reparado que somos isolados, sobrevém a sensação de que sempre fomos assim. É uma inépcia, o instinto da constrangedora consciência e si mesmo.

O terceiro tipo é a “Ignorância que se Observa”, que se vigia. Há um sentido de nos vermos como objeto externo, o que conduz à primeira noção do “outro”. Estamos começando a relacionar-se com um mundo chamado “externo”. É por isso que os três estágios da ignorância constituem o Skandha da Forma-Ignorância; estamos começando a criar o mundo das formas.

2º Skandha – Sensação, como mecanismo de defesa para proteger a nossa ignorância. Desde que já ignoramos o espaço aberto, gostaríamos de sentir as qualidades do espaço sólido a fim de trazer completa satisfação à índole gananciosa que estamos desenvolvendo. Nós solidificamos todo o espaço e transformamos no “outro”.

3º Skandha – Percepção-Impulso, passamos a nos fascinar pela nossa própria criação, cores e as energias estáticas, queremos nos relacionar com elas e, dessa maneira, gradativamente, principiamos a investigá-las. São esses os três tipos de impulso: ódio, desejo e estupidez. Assim sendo, a percepção se refere à recepção de informações do mundo exterior e o impulso se refere à nossa resposta a essas informações.

4º Skandha – Conceito; A fim de proteger-nos e enganar-nos completa e adequadamente, precisamos do intelecto, da capacidade de nomear e categorizar as coisas. Assim rotulamos coisas e eventos qualificando-os “bons”, “maus”, “belos”, “feios”, etc., de acordo com o impulso que julgamos apropriados a eles. O “eu” é o produto do intelecto, o rótulo que unifica num todo o desenvolvimento desorganizado e desperso do ego.

5º Skandha – Consciência; Nesse nível se processa uma amálgama: a inteligência intuitiva do Segundo Skandha, a energia do Terceiro Skandha e a intelectualização do Quarto Skandha se misturam para produzir pensamentos e emoções. Nessas condições, no nível do Quinto Skandha, encontramos os Seis Reinos assim como padrões incontroláveis e ilógicos do pensamento discursivo.

Esse é o retrato completo do ego.


(Livro-texto: Além do materialismo Espiritual, Lama Chogyan Trungpa)

domingo, agosto 02, 2009

O DESENVOLVIMENTO DO EGO




Há uma metáfora na literatura budista comumente empregada para descrever todo o processo, criação e desenvolvimento do ego. Refere-se a um macaco encerrado numa casa vazia, uma casa de cinco janelas, que representam os cinco sentidos. O macaco é curioso, vive enfiando a cabeça pelas cinco janelas e pulando para cima e para baixo, sem parar. É um macaco cativo numa casa vazia. Uma casa sólida, diferente da mata em que ele costumava saltar e balançar-se, diferente das árvores em que escutava o vento que se movia e o farfalhar das folhas e dos galhos. Todas essas coisas se tornaram completamente solidificadas. De fato, a própria mata passou a ser a sua casa sólida, a sua prisão. Em lugar de encarapitar-se numa árvore, o macaco curioso foi emparedado por um mundo sólido, como se uma coisa que flui, uma impressionante catarata, se houvesse de repente, congelado. A casa congelada, feita de cores e energias congeladas, está completamente imóvel. Esse parece ser o ponto em que o tempo começa como passado, futuro e presente. O fluxo das coisas torna-se tempo tangível sólido, sólida idéia de tempo.

O macaco curioso desperta de seu desmaio, mas não desperta completamente. Desperta para encontrar-se preso no interior de uma casa sólida, claustrofóbica, de apenas cinco janelas. Ele se aborrece, como se vivesse cativo num jardim zoológico por trás de barras de ferro, e procura explorar as barras, subindo e descendo por elas. O fato de haver sido capturado não tem muita importância; mas a idéia de captura é aumentada mil vezes em virtude do seu fascínio por ela. Quando estamos fascinados, o sentido da claustrofobia torna-se mais vívido, mais e mais agudo, porque começamos a explorar nosso aprisionamento. A fascinação, na verdade, é parte da razão porque ele permanece prisioneiro, capturado por ela.

No princípio, evidentemente, houve um súbito desmaio, que lhe confirmou a crença num mundo sólido. Mas agora, tendo aceitado a solidez como verdadeira, está preso na armadilha devido ao seu envolvimento nela.

É claro que o macaco não investiga o tempo todo. Começa a ficar agitado, começa a sentir que algo é muito repetitivo e desinteressante e torna-se neurótico. Ávido de entretenimento, busca sentir e apreciar a textura da parede, tentando certificar-se de que a aparente solidez é realmente sólida. A seguir, certo de que o espaço é sólido, o macaco passa a se relacionar com ele, agarrando-o, repelindo-o ou ignorando-o. Se tenta agarrar o espaço a fim de possuí-lo como sua própria experiência, sua própria descoberta, sua própria compreensão, isso é desejo. Ou, se o espaço lhe parece uma prisão, e ele tenta sair dela a murros e pontapés, lutando com vigor cada vez maior, isso é ódio. O ódio não é somente a mentalidade da destruição; mais do que isso, é uma sensação de defesa, de defesa de si mesmo contra a claustrofobia. O macaco não sente necessariamente que há um adversário ou inimigo se aproximando; ele simplesmente deseja fugir da prisão.

Finalmente, o macaco pode tentar não tomar conhecimento de que é prisioneiro ou de que existe algo de sedutor em seu ambiente. Age como se fosse surdo e mudo e, portanto, mostra-se indiferente e preguiçoso em relação ao que acontece ao seu redor. Isso é estupidez.

Retrocedendo um pouco, podemos dizer que o macaco nasceu em sua casa ao despertar do desmaio. Não sabe como chegou àquela prisão, por isso presume que sempre esteve lá, esquecido de que ele próprio solidificou o espaço em paredes. Depois, sente a textura das paredes, o que é o Segundo Skandha, Sensação. Depois, relaciona-se com a casa em termos de desejo, ódio e estupidez, o Terceiro Skandha, Percepção-Impulso. Depois, tendo desenvolvido essas três maneiras de relacionar-se com a casa, o macaco se põe a rotulá-la e categorizá-la: “Isto é uma janela. Este canto é agradável. Aquela parede me assusta e é má.” Desenvolve uma estrtura conceitual que lhe permite rotular, categorizar e avaliar a sua casa, o seu mundo, de acordo com o que sente por eles, se os deseja, se os odeia ou se lhes é indiferente. Esse é o Quarto Skandha, Conceito.

O desenvolvimento do macaco até o Quarto Skandha foi razoavelmente lógico e previsível. Mas o padrão de desenvolvimento começa a desagregar quando ele entra no Quinto Skandha, Consciência. O padrão torna-se irregular e imprevisível e o macaco começa a desvairar, a sonhar.

Quando falamos em “desvairo” ou “sonho”, queremos dizer que estamos dando às coisas e aos acontecimentos um valor que eles podem não ter. Possuímos opiniões já definidas sobre o modo como são e deveriam ser as coisas. Isso é projeção: projetamos a nossa versão das coisas sobre o que está ali. Assim, nos afundamos completamente num mundo de nossa própria criação, um mundo de valores e opiniões conflitantes. O desvario, nesse sentido, é uma interpretação errônea das coisas e dos eventos, que empresta ao mundo fenomenal significados que ele não tem.(...)

“Fundamentalmente, só existe o espaço aberto, o solo básico, o que realmente somos”

“ Nós somos esse espaço, nós “somos um” com ele, com a vidya, inteligência e abertura”

“Toda ação sem amor é como plantar uma árvore morta, mas tudo o que se relaciona com o amor é como plantar uma árvore viva”

“o Amor, o caminho aberto, está associado ao ‘que é’”

“Quando uma pessoa manifesta o verdadeiro Amor, não sabe se está sendo generosa para com os outros ou para consigo mesma, porque o Amor é uma generosidade ambiental, sem direção, sem “para mim” e sem “para eles”; é cheia de alegria, de uma alegria que existe espontaneamente, de uma alegria constante no sentido de confiança, no sentido de que a alegria contém uma enorme riqueza, um tesouro”


*Obs: SKANDHA (sânsc.; pāli KHANDA) - agregados que constituem a realidade; forma, sensação, percepção, vontade e consciência.


*Créditos e agradecimentos ao meu amigo Raphael Bacelar.