"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, abril 30, 2010

A SIMPLICIDADE DA REVELAÇÃO


Dárcio Dezolt


A Verdade revelada é a coisa mais simples que há: diz que DEUS É TUDO, E FORA DE DEUS NADA EXISTE! Chegando à mente humana, começam as divagações intelectuais e as complicações: "Como pode ser? E os problemas? Você ficou maluco? Não está vendo as coisas horrorosas de hoje em dia?" A simplicidade da revelação continua: DEUS É TUDO, E FORA DE DEUS NADA EXISTE... Mas, a mente continua: "Tem certeza? E esta Verdade me ajudará? Acabará com meus problemas? Serei beneficiado por ela? Não será puro escapismo? Como 'eu farei' para conscientizar isso? Existe alguma 'fórmula'?" E a simplicidade permanece: DEUS É TUDO, E FORA DE DEUS NADA EXISTE...


DEUS É TUDO; FORA DE DEUS NADA EXISTE! SIMPLES! REVELADO! FALTA O QUÊ? O CORAÇÃO DE CRIANÇA! AQUELE CORAÇÃO QUE VÊ A IRREALIDADE DO SONHO, QUE VÊ A REALIDADE SUPERIOR AO MELHOR DOS SONHOS, O CORAÇÃO QUE SIMPLESMENTE VÊ!


“Eu sou o Senhor, e não haverá outro: fora de MIM não há Deus: Eu te cingi a espada, e tu não me conheceste.”
(ISAÍAS 45:5)

quarta-feira, abril 28, 2010

Universo holográfico - A inexistência da matéria - III (final)




O filme do 'universo holográfico' explicita de modo bastante claro que a matéria não é existência real. Em determinado momento, porém, após afirmar que toda a matéria é inexistente, diz que Deus, o único Ser que existe realmente, cria, a partir de Sua onipotência - e no âmbito da irrealidade! -, este mundo fenomênico/material, ou seja: diz que Deus estabelece Sua criação num âmbito ilusório. Este é o único equívoco a poder ser encontrado nas explanações do vídeo. Podemos perceber a presença de uma pitada de sectarismo religioso no filme, fazendo alusão a Alah, nome que o islamismo dá para Deus. O vídeo apresentado possui uma parte científica e uma parte religiosa-espiritual. Em sua parte científica, o vídeo discorre brilhantemente sobre a inexistência da matéria, proporcionando-nos o entendimento de que só o Espírito é real; mas ao chegar na última parte, de cunho religioso, e dizer que "a criação material é obra de Deus" e que "Deus cria a matéria", toda parte científica é sacrificada em nome de uma exortação religiosa.

Primeiramente o vídeo explica e prova que só o Espírito é existência verdadeira e, posteriormente, cai na contradição de dizer que o Espírito (que existe e é real) cria a matéria (que inexiste e é irreal). O irreal nunca advém do real. Nada irreal pode ter origem na realidade. Deus não cria ilusões. Em sua parte final, o filme procura misturar a ciência (que veio aprimorando o seu entendimento acerca da natureza da matéria ao longo dos anos) com sua fé/entendimento religioso ortodoxo, e assim negou tudo o que havia afirmado, admitiu a ilusão como realidade. A explicação final do vídeo serviu para desfazer/desconsiderar tudo o que foi considerado desde o início. De quê forma essa desconsideração foi feita?

A explanação dada ao longo de quase todo o vídeo incita o homem a desacreditar na matéria e em tudo que é captado pelos sentidos. Somente assim, somente desconsiderando a matéria por completo, é que a mente do homem fica desocupada do trabalho de ver a matéria como existência real e torna-se receptiva para ocupar-se com o Espírito. O mundo precisa ceder lugar a Deus se quisermos conhecê-Lo. Mas, ao afirmar que "a matéria não existe" e, após isso, dizer que "a matéria apesar de ser irreal, é uma criação feita por Deus", o vídeo dá a entender que está tudo bem continuar acreditando na existência deste mundo material - que vivemos nossas vidas nele! -, sob a justificativa de que "este mundo foi criado por Deus".

Aqui está o equívoco do filme: Dizer que o mundo material é irreal, como se houvesse uma Verdade profunda e revolucionária a ser conhecida e, no final, desfazer toda a necessidade de se compreender essa Verdade, uma vez que "este mundo material é criado por Deus". Logo, não precisamos nos preocupar em entender se a matéria é inexistente ou não, podemos continuar vivendo nossas vidinhas normalmente neste mundo assim mesmo como ele é. Desse jeito, nenhuma Verdade é conhecida; nada muda. O vídeo apresenta a explanação da inexistência da matéria como se essa verdade não tivesse nenhuma relação conosco - apenas o mundo é ilusório, consequentemente, nós somos ilusórios também, vivemos e viveremos toda nossa vida nesta ilusão. Somos seres ilusórios criado por Deus. E, da mesma forma que Deus cria um planeta Terra ilusório, um dia Ele irá criar um céu e um inferno (também ilusórios!) e enviar seres ilusórios para um ou para outro, dependendo de seus comportamentos (conforme o entendimento que eles têm de sua Escritura). Será que Deus não tem nada melhor pra fazer do que ocupar-se com inexistências, com ilusões? A compreensão espiritual da inexistência da matéria é uma Verdade que possui relação direta e total com o ser que somos e com nossas vidas - é a Verdade sobre nós.

A Verdade da inexistência da matéria não é uma verdade inútil ou desnecessária, o homem necessita conhecê-la porque está apegado e identificado com algo que não é existência verdadeira. Tal é seu apego, tal é sua identificação com o fenômeno que, quando o mundo fenomênico forma seus filmes/quadros (irreais) mostrando aparências de limitações, doenças, sofrimentos e pecados, o homem considera essas cenas como realmente existentes, apegando-se com todo o seu ser. Ao considerar essas coisas como existentes, o filme continua sendo perpetuado/projetado pela mente/crenças humanas. Se conhecer Verdade e compreender que a matéria e o fenômeno são vazios, que são meras "imagens", "símbolos", "efeitos", "sombras", "idéias", "representações" externas (sem essência, sem vida, e sem presença!) do pensamento interno, essa compreensão causa um imediato distanciamento e desapego, e o homem deixa de preocupar-se ou temer o mundo. Essa Verdade revela que a Vida não está no mundo, mas no Espírito, no Invisível que transcende o mundo. Ao entender a revelação de que o mundo, com todos os quadros hipnóticos e ilusórios, é nada, e que também ilusório e vazio é todo o sentido de pecado, doença e morte que pertencem ao mundo, o homem pode liberta-se pelo poder da compreensão (despertar espiritual). Pecado, doença e morte são concepções da mente humana, sendo que o homem é quem cria tais coisas, sabendo disto ou não. Quando compreende a natureza de tais erros, entende que não há necessidade de temer o mundo, pois conhece a causa e a origem deste, o qual é apenas um efeito sem vida e sem atividade, mero símbolo sem presença real. Não é necessário temer "efeitos" quando se está consciente do reino da "causa". E justamente por soltar da mente as imagens do fênomeno ao qual se apegava, tais imagens mudam, porque tudo neste mundo fenomênico tem natureza efêmera e transitória; aqui nada dura para sempre.

Portanto, essa é a ressalva que deve ser feita quanto ao conteúdo apresentado no filme. Se Deus é tudo o que existe, por mais que haja um mundo material que nos esteja sendo informado pelos sentidos, tal mundo é irreal. Mesmo que pareça ser real, não é! Mesmo que pareça ter vida, não tem! Mesmo que pareça estar presente, não está. O que existe, estando permanentemente presente onde a matéria parece estar? Essa resposta requer um despertar espiritual para que se possa obtê-la. Você compreende e então a obtém. Quando se solta da mente a (aparente) realidade, vida e presença da matéria, a mente compreende a Verdade automaticamente, porque ao ser negada a matéria, sobra apenas o Espírito, e este penetra na mente, que desocupou-se do trabalho de tomar a matéria como existência verdadeira. Continuaremos o blog com posts de textos que, de uma forma ou de outra, negam a realidade da matéria, versam sobre a mesma (a única!) Verdade, e buscam despertar o leitor para a realidade única do Espírito.

segunda-feira, abril 26, 2010

Universo holográfico - A inexistência da matéria - II




O post anterior, do vídeo tratando sobre a inexistência da matéria, pode ser de fundamental importância para ajudar as pessoas a superarem seus paradigmas. Se numa conversa casual com um parente ou um amigo alguém de repente começar a falar sobre a inexistência da matéria, que este mundo não existe, que ele é pura ilusão, rapidamente esta pessoa seria vista como um 'louco', um excêntrico e logo cairia em descrédito com seus parentes e amigos. Por que isso? Porque essas pessoas estão rigidamente enraizadas nos padrões de seus condicionamentos. Desde que nasceram, foram ensinadas a acreditar no que elas vêem, ouvem, sentem, cheiram, tocam, experimentam... A maior parte das pessoas no mundo são assim, seguem apenas o mundo, seguem-no como um líder. O mundo não pode estar errado. Para pessoas assim, que se deixam reger por crenças coletivas, é o mundo quem dita as regras. O mundo define como as coisas são, por meio de sua avaliação, seus experimentos, sua ciência (todos eles limitados!) e a palavra do mundo é absoluta, é a única palavra que pode amolecer o coração da pessoa e fazê-la mudar. A mudança se dá através da aceitação. Em se tratando do mundo, as pessoas aceitam as coisas com "o coração de criança", porque elas o seguem. Daí a importância de destacar artigos e filmes científicos que falam sobre a inexistência da matéria: é o mundo falando para elas.

A Ciência acreditou durante um longo tempo na matéria como algo de existência objetiva, ou seja, como se s matéria estivesse lá indepentente de "quem está vendo", o observador. Recentemente a Ciência tem tido experiências com a matéria que fizeram-na ficar confusa. Numa delas, os átomos começaram a desobedecer o padrão até então estabelecido como certo/absoluto/garantido pelo conhecimento científico e passaram a se comportar como se tivessem "vida própria", "vontade própria". A cada vez que uma experiência era realizada, a matéria, que todas as vezes deveria obedecer a um padrão constante e culminar sempre nos mesmos resultados, passou a se comportar de forma inesperada, fazendo com que os cientistas obtivessem, a cada tentativa, resultados diferentes. Logo foi descoberto que as variações na reação dos átomos aconteciam conforme mudava a pessoa que observava a experiência. A conclusão: o comportamento da matéria variava porque variava também o observador, aquele que estava conduzindo o experimento com a matéria. Se a matéria fosse uma existência objetiva, real, ela deveria apresentar sempre o mesmo resultado, independente de quem a estivesse observando.

Conhecimentos assim, mais profundos, sobre a realidade não são assim tão recentes. Eles foram descobertos fazem já algumas décadas. O antigo modelo atômico de que que o "o átomo é composto de núcleo, prótons e neutrons" foi superado, e o modelo atualmente adotado admite a existência de outra estrutura, composta de: partículas e elementos antipartículas, fótons, spins, grávitons, "quarks" (que se dividem em "quark up" e "quark down"), "gluons" e uma série de outros subcomponentes. O novo modelo atômico, muito mais complexo, permite à Ciência um entendimento mais específico e detalhado da matéria, o que permitiu-lhe contribuir para a descoberta da "teoria das cordas". A Ciência mudou muito o seu modo de pensar, mas as pessoas do mundo não. Esses novos modelos não são ensinados nas escolas. Essas descobertas foram feitas há muitas décadas, e no Brasil (e especulo que em quase todos os outros países sejam assim também) ainda hoje ensina-se o modelo atômico baseado na estrutura de prótons, neutrôns e elétrons. Esse modelo há muito tempo já foi descartado pela Ciência, não possuindo mais serventia alguma para a ciência ou à humanidade, entretanto isso é o que está sendo ensinado nas escolas. Para que se possa ter o conhecimento dos verdadeiros conceitos e daquilo com que a Ciência realmente trabalha, o indivíduo precisa fazer um curso superior e tornar-se um especialista. Deveria ser feita uma reforma nos ensinos escolares, porque essa forma de proceder está errada. Quanto mais a Ciência avança em sua compreensão da realidade que nos cerca, mais o mundo todo deveria ser informado e incetivado a pensar igual.

Outro vídeo/documentário científico, também bastante conhecido, chamado "Quem somos nós", apresenta o estudo das descobertas recentes da física quântica. Esse filme apresenta bem o conceito de que "a matéria não existe". Diz que o mundo fenomênico existe conforme a mente ou a percepção do observador, e que a matéria embora pareça ter consistência em ser visível e sólida, não o é. Por exemplo: se olharmos para uma parede, ela parecerá ser uma substância cheia de matéria, tão cheia de matéria que é impossível ela ser transpassada por outro corpo material. Mas, então, se a analisarmos com um microscópio com potência suficiente para atingir (e observar) o grau mínimo da matéria (ou seja, o átomo), veríamos que a parede é um imenso aglomerado de átomos que, em conjunto, formam a substância que aos olhos físicos se apresenta como "parede". Analisando mais detalhadamente a parede, veríamos somente átomos formando a sua composição, perceberíamos que as distâncias (os espaços vazios) que separam os átomos são maiores do que as substâncias materiais (átomos) que ela separa, e conluiríamos que a "parede" é um corpo expressivelmente mais "vazio" do que "cheio". Assim, a parede só é visível e sólida para os sentidos da visão e do tato. Entretanto, é mais verdadeira a afirmação de que "a parede não está lá" do que a afirmação que diz "a parede está lá".

Quem se deixa levar pela percepção dos sentidos está sendo iludido pelo que não existe. O Universo em que vivemos não é substância real, não é presença real, é apenas um holograma. Parece ser físico, parece ser real, mas não existe. O que existe no lugar daquilo que não existe, mas apenas parece existir? Isso é o que deve ser compreendido. Primeiro vem a compreensão da mente intelectual, que não é a compreensão verdadeira, mas que ajuda muito porque permite ao indivíduo parar de oferecer resistência à uma Verdade que antes ele não era capaz de aceitar. Tendo, por fim, este ponto sido atingido, a pessoa pode começar a aprofundar sua compreensão até atingir o nível da compreensão verdadeira - que transcende/põe totalmente de lado a mente intelectual, indo mais além dela. A verdadeira compreensão não é mental, é espiritual. Você compreende a Verdade não com a mente racional, mas igualmente com todo o seu ser. A compreensão é tão profunda que você a sente com seu sangue, seus ossos e sua medula. O espiritual só é discernido por outra coisa que seja espiritual, ou seja: somente o espiritual discerne o espiritual. A matéria e a mente só percebem o que é material e mental. Este princípio, muito importante, é a base, e deve ser sempre lembrado.

A inexistência da matéria é um ensinamento que há milênios é pregada pelos sábios e mestres espirituais de todos os tempos. Mas o mundo os olha e os rejeita. O mundo diz: "O que? Você está dizendo que tudo o que eu toco, ouço, vejo e sinto - tudo isso que está diante de mim, portanto, obviamente, existe! - são coisas inexistentes? Você deve estar louco." E como o mundo quase todo pensa assim, todos se deixam levar pelo mesmo pensamento. A existência da matéria é sustentada pelo pensamento coletivo de que "a matéria existe". Consequentemente, todo ser humano vê sua identidade como sendo um corpo material, e essa crença errônea retira do homem (um ser espiritual, perfeito e livre) toda liberdade que lhe é natural e aprisiona-o dentro de seus próprios conceitos que nutre da vida e de si mesmo, e essa é a origem de todas as limitações e sofrimentos. De vez em quando ocorre de um homem aqui ou ali sair dessa corrente de crenças coletivas e despertar para o que realmente é existência verdadeira. Portanto, este é o valor de se apresentar vídeos mostrando o verdadeiro pensamento da Ciência: amolecer o coração do homem, fazê-lo aceitar a Verdade com "coração de criança", porque a aceitação é a principal barreira que impede o homem de se libertar de seus próprios conceitos. O homem tomou para a si a existência da matéria como algo verdadeiro por meio de sua aceitação, e é também por meio de sua aceitação que ele desfará dela. Mas ele precisa fazê-lo sem objeções, sem resistência, com "coração de criança", exatamente da forma como quando ele aceitou, pela primeira vez, a matéria como sendo existência verdadeira.

sábado, abril 24, 2010

Universo holográfico - A inexistência da matéria

A seguir, um vídeo (bastante conhecido!) explicitando que este universo em que vivemos é holográfico, ilusório, imaterial. As explicações nele contidas embasam-se no que a Ciência já sabe hoje, e foram feitas de tal forma que nos proporciona fácil compreensão. O vídeo todo está dividido em seis partes, cada uma com 4 ou cinco minutos no máximo, totalizando 24 minutos. Valerá a pena assistí-lo com atenção, apreender o que está sendo ensinado, porque este assunto que está contido no vídeo estará servindo como uma base/introdução para os temas que serão discutidos nos posts futuros. Compreender que "a matéria não existe" é um ato fundamental a ser realizado em nossa jornada para o despertar espiritual, a iluminação.























quarta-feira, abril 21, 2010

O dedo de Gutei (Masaharu Taniguchi) - Fim

Masaharu Taniguchi


Recentemente, uma pessoa que veio fazer treinamento espiritual disse-me: “Uma vez que todas as coisas do Universo, inclusive remédios, são criações de Deus, creio que não há problema algum em tomar remédios, não é mesmo?”. Respondi: “Como o homem é filho de Deus, não há problema algum em tomar o que quer que seja. Nada que tomemos nos poderá causar mal. Na verdade, mesmo que tomemos um produto tóxico, este não poderá fazer mal à nossa Vida, e muito menos um remédio. Jamais a nossa Vida será afetada só porque tomamos um remédio. O que pode causar mal à nossa Vida é a nossa própria mente. Por exemplo, tomar remédios com espírito de dependência à matéria é o mesmo que andar de muletas, e isso dificulta a exteriorização da natureza divina perfeita, harmoniosa. O senhor diz que o remédio é criação de Deus, mas ele não foi criado por Deus. O remédio foi criado pela ‘ilusão’ que consiste em acreditar que a doença existe. Como Deus não criou doença, não tem necessidade de criar remédios para curá-la. Foi a ‘ilusão’ quem criou a doença; logo, é a ‘ilusão’ quem se preocupa em curar a doença e foi ela quem criou os remédios. Procurar combater a ilusão com a ilusão ou tentar neutralizar o veneno com veneno é o método do tratamento medicamentoso. Para os que ainda não despertaram para a Verdade de que o homem é filho de Deus e, portanto um ser espiritual, e pensam que o homem é uma existência material chamada corpo carnal, os remédios produzem efeito temporário. Para os que acreditam que o homem é filho de Deus, de natureza espiritual, os remédios tornam-se desnecessários. Mas também torna-se desnecessária a insistência em recusar os remédios, pois ele compreende que o remédio nada pode acrescentar à Imagem Verdadeira da Vida do homem, nem diminuir-lhe coisa alguma”.

Conforme consta no capítulo intitulado “O Gênesis visto através da Seicho-No-Ie”, do volume 11 da coleção A Verdade da Vida, em todas as coisas deste mundo visível aos olhos carnais existem “dia” e “noite”. Este mundo é um lugar onde se entrelaçam a luz e a treva, a imagem projetada pela Verdade e a imagem projetada pela ilusão. Portanto, é equivocada a idéia de que o remédio seja criação de Deus só porque ele parece existir neste mundo visível, assim como é equivocada a idéia de que a doença seja criação de Deus só porque ela parece existir neste mundo visível. No mundo da Imagem Verdadeira, criado por Deus, não existem doenças; por conseguinte, também não existem remédios para curá-las. Portanto, também no mundo fenomênico, no qual esteja projetado corretamente o mundo da Imagem Verdadeira, não existem doenças nem remédios. Tanto o fato de parecer que a doença existe quanto o fato de parecer que existem os remédios para curar as doenças, que na verdade inexistem, ambos são projeções da mente em ilusão que não despertou para a Imagem Verdadeira.

Após negar assim todos os artifícios humanos, que irá restar? Restará unicamente a Vida original, que é filho de Deus totalmente livre. A Verdade que a Seicho-No-Ie prega é uma Verdade rigorosa. É o caminho que consiste em abrir mão de tudo e, no final, conseguirmos tudo. Mesmo que uma pessoa consiga abandonar os remédios, se não despertar para a Imagem Verdadeira da Vida e ficar com a mente apegada a outras coisas, terá um resultado contrário ao esperado. Existem também pessoas que sofrem por estar com a mente apegada à idéia de “abandonar os remédios” e entra em conflito com os familiares que com ele não concordam. Tais pessoas, na verdade, ainda não abandonaram tudo. Abandonando até mesmo a “idéia de abandonar” é que se alcança a liberdade total.

No livro Mumonkan, do zen-budismo, na oitava questão para meditação, consta que o bonzo Getsuan formulou a um sacerdote a seguinte questão: “Um homem chamado Keichu confeccionou uma carreta, mas retirou as rodas e arrancou o eixo. Que pretendia ele esclarecer com isso?”. Segundo o livro, a resposta é: “Quando se retiram todos os aspectos formais, a mente compreende a Verdade com a rapidez de um relâmpago”. Quando existem os trilhos, a locomotiva, as rodas e os eixos, pode-se viajar de trem e considerá-lo realmente um cômodo meio de transporte. Esse pensamento é idêntico ao da pessoa que considera o remédio um cômodo meio de combater a doença. Mas o que fará tal pessoa se deparar com um obstáculo chamado “falta de dinheiro para comprar remédio”? Como poderá evitar que se choque com esse obstáculo? Se um trem não consegue evitar o choque com algum obstáculo, é porque sua liberdade é tolhida pelos trilhos, pelas rodas e pelos eixos. Se retirarmos os trilhos, as rodas e os eixos e colocarmos o vagão sobre uma “carreta mágica” chamada “compreensão da Verdade”, seremos totalmente livres. Este é o estado de liberdade alcançado por aquele que despertou para a Imagem Verdadeira da Vida e não precisa mais de remédios. Se nos sentimos desorientados, é porque nossa mente se apega aos “trilhos” e às “rodas” da existência e pensamos que precisamos rodas necessariamente sobre esses trilhos. Se eliminarmos os “trilhos” e as “rodas” limitadores, conseguiremos conscientizar que, no tocante à Imagem Verdadeira da Vida, somos filhos de Deus livres de todas as restrições, e alcançaremos o estado de total liberdade em todos os sentidos. Entretanto, mesmo que retiremos e destruamos os “trilho” e as “rodas” da vida, se não nos colocarmos sobre a “carreta mágica” chamada “compreensão da Verdade”, ficaremos em situação ainda mais incômoda.

Na Seita Ittoen, por exemplo, mandam abandonar de vez todos os bens para se conseguir a liberdade econômica. A finalidade disso não é o simples abandono dos bens, mas a conscientização da Vida interior, exatamente como no caso do jovem monge cujo dedo foi decepado pelo bonzo Gutei. Quando abandonamos o que é sujeito à limitação, recuperamos toda a liberdade econômica. Ao abandonarmos totalmente as posses do “pequeno eu” ou da ilusão, nos são dadas de modo natural todas as coisas necessárias. No exemplo da Ittoen, não existem posses que pertençam ao “pequeno eu”, mas em seu vasto terreno denominado Koserin ergue-se um magnífico santuário.

A Seicho-No-Ie ensina que, para obtermos a liberdade da Vida, devemos abandonar todos os métodos materiais nos quais nos apoiávamos como se fossem muletas de nossa Vida, e ordenar: “Ó Vida, levante-se com a sua própria força!”. Quando abandonamos todas as coisas materiais em que nos apoiávamos, manifesta-se em nós a Vida infinita do filho de Deus que somos; quando abandonamos todas as posses do nosso “pequeno eu”, tudo no Universo torna-se nossa propriedade; e quando abandonamos todos os “remédios da ilusão”, a Vida infinita do Universo torna-se nossa.

No zen-budismo, o alimento é considerado remédio. O alimento é concretização da vibração espiritual do Amor de Deus. O alimento certo constitui o verdadeiro remédio. Até as substâncias tóxicas têm sua utilidade: o arsênico e o ácido cianídrico, por exemplo, são indispensáveis para fins industriais. Quando atua a Sabedoria de Deus, que utiliza as substâncias em lugares certos e em doses adequadas, nada existe que faça mal; todo medicamento artificial e inadequado à Vida é, para ela, um elemento estranho. A eficaz penicilina é uma bactéria de fungos, os quais podemos considerar um alimento novo, até então desconhecido. O alimento foi criado por Deus, conforme escrito também no Gênesis. Esse alimento (graça divina) criado por Deus no mundo da Imagem Verdadeira é que se projeta no mundo fenomênico como alimento material. No mundo da Imagem Verdadeira estamos alimentando-nos da graça divina, e a projeção disso é ingerirmos alimentos fenomênicos.

Mas, conforme afirmei antes, uma vez que Deus não cria a doença, também não cria remédios para curá-la. A doença, em suma, é um sinal de que se transgrediu a ordem estabelecida por Deus e se utilizou da matéria de modo inadequado. Se corrigirmos a inadequações, a doença será curada. O que criou a doença foi a ilusão, o pensamento errôneo de considerar o inadequado como adequado. Por isso, se abandonarmos essa ilusão, a doença desaparecerá. Se ficarmos perseguindo uma ilusão (doença) com outra ilusão (pensamento errôneo), a ilusão não terá fim, aumentando, consequentemente, cada vez mais o número de remédios e a procura de medicamentos e hospitais. Por isso, a Seicho-No-Ie ensina que, em vez de nos preocuparmos com remédios, devemos conscientizar que a Imagem Verdadeira da Vida é perfeita, livre de doenças.

Houve certa vez um médico que, lendo superficialmente o livro A Verdade da Vida, escreveu um artigo de protesto do seguinte teor: “Um paciente que estava internado no meu hospital abandonou totalmente os remédios, arrumou as malas e voltou para casa; não quis mais médico nem remédios, passeou de livre vontade, sofreu uma violenta hemoptise e acabou morrendo”. Lendo apenas a opinião desse médico, parece que o paciente sofreu hemoptise “porque saiu do hospital e abandonou os remédios”, e que não teria tido essa crise se não tivesse deixado o hospital e os remédios. No entanto, há um outro paciente internado no mesmo hospital que, mesmo tomando remédios, teve hemoptise, e por isso enviou telegrama à Seicho-No-Ie pedindo a mentalização à distância para a cura. Sendo assim, a hemoptise pode ocorrer independentemente de o paciente estar ou não internado e tomando ou não remédios. Não se pode afirmar que o paciente sofreu hemoptise porque deixou o hospital ou porque dispensou os remédios.

Tenho recebido muitas cartas de agradecimento de pessoas que se restabeleceram deixando o hospital e os remédios. Portanto, não posso relacionar a piora do estado do paciente, no caso relatado pelo citado médico, com abandono do hospital e dos medicamentos. É preciso buscar a causa em outro lugar. Raciocinemos bem: ainda que a doença de alguém se agrave após deixar o hospital e os remédios, e ainda que sucedam inúmeros casos idênticos, tal fato não constitui fundamento para se concluir que a dispensa do hospital e dos remédios seja a causa do agravamento. Se tal argumento fosse válido, poderíamos concluir também que o homem morre em conseqüência dos tratamentos médicos e da ingestão de remédios, pois milhões de pessoas no mundo inteiro têm morrido após se submeterem aos cuidados médicos e tomarem remédios. No entanto, os médicos não admitem tal conclusão. Eles alegam que os pacientes morrem porque chegou a hora deles, e não por intervenção médica. Eu também digo o mesmo, obviamente. Não sou tolo a ponto de afirmar que o fato A deve necessariamente ser a causa do fato B, só porque este ocorreu depois daquele. Digo que a medicina moderna é uma “crença de que a matéria domina a Vida”, pois restringe a causa a um ou a alguns fatores favoráveis à sua tese e ignora outros fatores desconhecidos ou desfavoráveis. Se a doença for curada após ministrar remédios, o mérito é apenas dos remédios e da medicina; mas, se o paciente morrer após tomar remédios, diz-se que morreu por si mesmo, excluindo a responsabilidade médica. No caso citado, em que o paciente sofreu hemoptise após sair do hospital, o médico deve analisar a causa psicológica dessa hemoptise. A meu ver, já que a palavra é semente, deve-se levar em consideração as palavras que o médico proferiu ao paciente que estava deixando o hospital. Em se tratando de médico capaz de protestar numa revista contra a saída de um paciente de seu hospital, pode ter dito categoricamente: “É muito arriscado deixar o hospital!”. Se foram ditas palavras semelhantes a estas, podemos concluir o seguinte: Mesmo que o doente não tenha dado atenção a tais palavras naquele momento, elas foram semeadas no fundo do subconsciente dele e depois germinaram.

Quando um portador de moléstia para a qual ainda não há remédio específico toma a grande decisão de abandonar os remédios, esse instante corresponde ao importante momento em que o bonzo Gutei cortou o dedo do jovem monge. Naquele momento, o bonzo Gutei mostrou ao jovem a Verdade de que o homem real é um ser espiritual e não um ser material e que, portanto, mesmo não tendo mais o dedo, pode levantá-lo. Graças a essa lição, o jovem monge pôde despertar para a Imagem Verdadeira de sua Vida e alcançou a verdadeira salvação. Mas a questão não se restringe a apenas um dedo: o homem precisa compreender que ele é um ser indestrutível, ainda que lhe cortem o corpo todo. Do contrário, não será salvo verdadeiramente. Se naquele momento o bonzo tivesse dito que o homem é uma existência material e que sem o dedo físico nada pode fazer, o jovem monge só teria sentido dor na sua mão sangrenta e não teria despertado para a Verdade, nem teria alcançado a iluminação. Também o médico, ao se dirigir a um paciente que dispensou decididamente os recursos medicinais, deve tomar a mesma atitude do bonzo em relação ao jovem monge. Quando, ao contrário, o médico tem a infeliz idéia de dizer “Se você dispensar os remédios materiais não será curado, porque o homem é feito de matéria”, poderá matar o paciente, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente.

Segundo escreveu certo médico numa revista, um tuberculoso convalescente tomava banho de sol. Achando desaconselhável tomar muito sol, advertiu-o: “Você não pode tomar tanto sol”. Como foi uma advertência, é evidente que o tom de suas palavras sugeria perigo. Nessa mesma noite, o paciente teve hemoptise grave e morreu. Esse médico escreve vangloriando-se de seu diagnóstico “acertado”, baseado em seus conhecimentos terapêuticos. Mas, a meu ver, podemos afirmar, ou pelo menos supor, que as palavras proferidas por ele ao paciente foram a causa da hemoptise, porque não era a primeira vez que o paciente tomava banho de sol; mas foi justamente no dia em que foi sugestionado pelo médico sobre o perigo do sol que vomitou muito sangue e morreu. Como essa pessoa morreu sugestionada pela idéia de que a Vida do homem é algo frágil que pode ser destruída pelo sol ou pela hemoptise, a sua alma não será salva facilmente após desencarnar, e isso é realmente lamentável. O médico, sendo uma pessoa que cuida da Vida do homem, tem a obrigação de saber, pelo menos, que suas palavras possuem grande poder de influência no paciente, sugestionando-o. Nesse sentido, o médico deve ser também um psicólogo. Considerando que a Vida do homem é eterna e que, geralmente, o médico é o único que assiste o homem nos derradeiros momentos que antecedem o abandono do corpo carnal, pode-se dizer que o médico deve ser também um religioso; deve ser um mestre e orientador capaz de ensinar o caminho para viver sem depender da matéria.


(Do livro “A Verdade da Vida, vol. 04", pgs. 45 à 55)


segunda-feira, abril 19, 2010

O dedo de Gutei (Masaharu Taniguchi) - 01

Masaharu Taniguchi



O terceiro item do livro Mumonkan (zen-budismo) diz o seguinte: “O bonzo Gutei levanta o dedo”.

O bonzo Gutei, superior do templo Kinzakan, apenas mostrava um dedo em posição ereta, quaisquer que fossem as perguntas a ele dirigidas pelos visitantes que vinham à procura da Verdade. Vendo seu dedo, alguns despertavam para a Verdade, enquanto outros iam embora sem nada entender. Aquele que vê apenas a forma exterior do dedo e não vê a Vida-essência não consegue despertar para a Verdade. Certo dia, um jovem monge desse templo, ao ser indagado por um visitante acerca dos ensinamentos, levantou o dedo, imitando o seu mestre. Mas o jovem monge imitou apenas o gesto do mestre Gutei, sem conhecer a razão porque ele levantava o dedo, isto é, sem compreender a Vida-essência do homem. Quando o mestre soube disso, cortou o dedo indicador do jovem monge. Este tentou fugir, gritando de dor. Ato contínuo, o mestre chamou-lhe pelo nome. Este olhou para trás a fim de ouvir o que o mestre teria a dizer, mas o mestre, como de costume, levantou o dedo. Naquele instante, o jovem monge compreendeu uma grande Verdade. O que o jovem monge compreendeu? Quem souber o que ele compreendeu, também terá despertado para a Verdade.

O jovem monge, enquanto tinha dedo para levantar, estava apegado à forma do dedo e não conseguia ver a Vida-essência. Todavia, agora que lhe fora cortado o dedo, não possuía mais o dedo a ser levantado. Apesar disso, o mestre bonzo ordenava-lhe que levantasse o dedo, assim como ele fazia. Como levantar o dedo que não existe mais? Na sua resposta está a essência do Zen. O dedo a ser levantado não era o dedo físico. Um dedo que pode ser levantado apenas formalmente não poderá ser levantado quando ele não existir mais. O verdadeiro “dedo” é aquele que pode ser levantado, mesmo depois que se perdeu o dedo, mesmo depois que se perdeu tudo. O que o mestre quis mostrar era o “dedo da Vida”, absolutamente livre e que não sofre restrição alguma, mesmo quando se perde tudo. Aquele que se queixa das privações, dizendo que falta isso ou aquilo, é uma pessoa que não conhece a Imagem Verdadeira da Vida (o Jissô). A Imagem Verdadeira da nossa Vida é aquela que não sofre de privação alguma, mesmo quando não possuímos nada.

São muitos os testemunhos de cura de pessoas que leram as revistas sagradas Seicho-No-Ie ou o livro sagrado A Verdade da Vida e abandonaram os remédios e os tratamentos médicos. Mas não devemos nos equivocar, pensando que a moléstia foi curada porque se abandonou o tratamento médico ou porque se deixou de tomar remédios. A verdadeira cura da doença – não o desaparecimento temporário da doença – será possível somente pela conscientização de que o aspecto real e original (A Imagem Verdadeira) da Vida é filho de Deus, perfeito e harmonioso por natureza. Embora a doença seja aparentemente curada por outros métodos, não se trata de uma cura verdadeira. Isso deve ficar especialmente gravado em nossa mente.

Muitos dos adeptos alegram-se dizendo que foram curados ao pararem de tomar remédios, mas o fato de parecer que a doença foi curada com o abandono dos remédios forma um bom par com o fato de parecer que foi curada pela ingestão de remédios. Isso é apenas a aparência. Uma vez que a Vida é filho de Deus originado de Deus, jamais poderá ser beneficiada ou prejudicada pelos remédios. Isto é a Imagem Verdadeira da Vida. Ao despertarmos para a Imagem Verdadeira da Vida, ocorre a cura da doença. Esta simplesmente revela a sua inexistência. Desta forma, quando se conscientiza o aspecto verdadeiro da Vida, os remédios tornam-se desnecessários.

A causa primeira da cura está na compreensão do aspecto verdadeiro da Vida do homem, filho de Deus, e dessa causa primeira decorrem as consequências tais como a cura da doença ou o ato de abandonar os remédios. Tanto a cura da doença como o abandono dos remédios são igualmente consequências. Por conseguinte, o fato de abandonar os remédios não constitui a causa da cura. Expressando isso em termos do zen-budismo, teríamos a seguinte sequência de perguntas e respostas:

- Qual o efeito de se tomar remédios?
- Nenhum.
- Qual o efeito de se parar de tomar remédios?
- Nenhum.

Sendo assim, é uma grande insensatez abandonar os remédios sem despertar para o aspecto real e original da Vida, pensando que basta parar de tomar remédios para curar a doença. Isso é o mesmo que considerar os remédios como uma espécie de corda que “amarra” a Vida. Quem acha que abandonando os remédios vai se livrar dessa corda, está acreditando que a matéria tenha o poder de “amarrar” a Vida, e que a Vida seja algo passível de ser “amarrada” pela matéria. Com uma crença tão duvidosa em relação à Vida, mesmo que a pessoa pare de tomar remédios, não haverá efeito algum. Já que no recôndito de sua mente essa pessoa está admitindo a idéia errônea de que a matéria tem o poder de “amarrar” a vida, o seu ato de abandonar os remédios nada mais é que uma outra maneira de expressar o pensamento de que “a Vida é impotente”.

Então, não é preciso dispensar os remédios? Na verdade, se o enfermo dispensar os remédios, ser-lhe-á mais fácil despertar para a Imagem Verdadeira da sua Vida. Como foi dito no início, o bonzo Gutei apenas mostrava o dedo em posição ereta a qualquer visitante que viesse à procura da Verdade. Um jovem monge, imitando o bonzo, mostrou o seu dedo a um visitante. Mas ele imitou apenas o gesto exterior do mestre, pois o seu dedo levantado não continha o despertar espiritual. Por isso, o bonzo Gutei, quando soube disso, acabou decepando o dedo do jovem monge. Este tentou fugir, chorando e gritando de dor. Gutei chamou-o: “Espere, jovem”. No exato momento em que o jovem se voltou, o bonzo levantou o dedo, como se lhe ordenasse a fazer o mesmo. Mas o jovem monge já não tinha mais aquele dedo para levantar, e foi então que ele despertou espiritualmente. Ele compreendeu que o “dedo a ser levantado não era o dedo material”.

O ato de dispensar remédios tem o mesmo significado que o ato do bonzo Gutei, que decepou o dedo do jovem monge. Quando a pessoa se coloca numa situação extrema, em que não tem mais o dedo material a levantar ou não tem mais o remédio a que recorrer, ela desperta naturalmente para a Imagem Verdadeira de sua própria Vida. Acreditar demasiadamente na eficácia dos remédios é tão errôneo quanto acreditar demasiadamente na eficácia do abandono de remédios. A única coisa em que podemos acreditar é o fato de que a Imagem Verdadeira de nossa Vida é divina. Se não conscientizarmos que a Imagem Verdadeira da Vida é de um filho de Deus perfeito, a doença não será verdadeiramente curada, quer tomemos remédios, quer deixemos de tomá-los. Pode parecer que houve a cura, mas não passa de desaparecimento temporário da doença. Não há nada mais errôneo do que interpretar o ensinamento da Seicho-No-Ie sobre a inexistência da doença como uma simples afirmação de que “a doença se cura quando se deixa de recorrer aos remédios”. Naturalmente, como há pessoas de diferentes níveis de compreensão entre os leitores da Seicho-No-Ie, varia também o modo de pregar os ensinamentos. Ora se prega o ensinamentos do “pequeno veículo”, ora segundo o do “grande veículo”. Os ensinamentos do “pequeno veículo” que Sakyamuni (Buda) pregou no início e os do “grande veículo”, como a Sutra do Lótus ou a Sutra do Nirvana, que ele pregou no fim de sua vida parecem contraditórios à primeira vista; mas isso ocorre porque Sakyamuni foi mudando o modo de pregar conforme ia se elevando a consciência dos fiéis. No início, Sakyamuni pregou que o homem oculta sob sua pele imunda vísceras e sangue, e que, portanto, não é nada belo como parece. Assim pregou para que as pessoas desprezassem o homem carnal como algo imundo. Essa negação do homem carnal foi um recurso para posteriormente afirmar a existência do homem indestrutível, verdadeiro, eterno. Esse recurso corresponde ao ato do bonzo Gutei, que cortou o dedo do jovem monge. Pregando-se a fealdade do homem carnal e eliminando-se o apego ao mesmo, estimula-se a conscientização e manifestação do homem verdadeiro, dotado de Vida eterna.

Pode ser que algumas pessoas, ao conhecer os ensinamentos de Sakyamuni a respeito da fealdade do homem carnal, julguem ser necessário libertar-se da vida carnal e desperdicem a vida inteira, retirando-se para lugares ermos e isolando-se do mundo; e, outras, pensando que o homem verdadeiro não poderá manifestar-se enquanto existir o corpo carnal, decidam aniquilar o seu corpo através do suicídio. Mesmo que isso aconteça, a culpa não será dos ensinamentos de Sakyamuni, mas das pessoas que não conseguem compreender o verdadeiro significado de seus ensinamentos e os interpretam de maneira errada. Qualquer ensinamento torna-se nocivo para quem não o compreende verdadeiramente, e o mesmo acontece com a medicina. Quem compreende realmente a medicina faz dela um verdadeiro caminho da salvação. Entretanto, muitas pessoas estão se prejudicando por acreditarem cegamente no aspecto material da medicina.

Aos portadores de doenças crônicas para as quais os remédios são ineficazes, a Seicho-No-Ie aconselha afastar resolutamente os remédios e por isso dá a impressão de estar pregando a inutilidade dos remédios; mas isso é um expediente semelhante àquele utilizado por Sakyamuni, que pregou a fealdade do homem carnal a fim de que as pessoas despertassem para a Imagem Verdadeira da Vida, para o fato de que o homem, sendo filho de Deus, jamais é dominado pela matéria. Aquele que fica sempre apoiando-se na matéria e curvando-se diante dela tem dificuldade em conscientizar-se de que, sendo ele filho de Deus, é um ser espiritual. Por isso, afirmo-lhe energeticamente: “Não se apóie na matéria!” E digo ainda: “Os remédios são elementos estranhos à Vida! O grande médico é aquele que conhece a Verdade a tal ponto que é capaz de curar um tuberculoso ministrando-lhe, se é que vai ministrar, apenas bicarbonato de sódio, do começo ao fim.” Este golpe verbal equivale à pancada que o bonzo desfere nos praticantes do zen (bambuzadas), com um instrumento denominado nyoi-bo. Uns despertam para a Verdade da Vida ao receberem a pancada, enquanto outros não conseguem despertar. Mesmo que alguém não tenha conseguido despertar para a Verdade após a pancada, seria ridículo concluir-se que a causa do não-despertar foi o fato de ter tomado a pancada de nyoi-bo. “Não se apóie na matéria! Não se preocupe com o que comer e beber! Saiba que a Vida é perfeita e auto-suficiente!” – esta é a pancada verbal que se aplica às pessoas dominada pela ilusão. Mas elas não devem apegar-se à expressãoNão se apóie na matéria e, no intuito de cumpri-la ao pé da letra, decidir deixar de ingerir a matéria chamada alimento, deixar de vestir a matéria chamada roupa, deixar de andar sobre a matéria chamada chão, deixar de respirar a matéria chama ar, etc. De nada adianta deixar de “apoiar-se na matéria” apenas na forma, sem despertar para a perfeição da Vida.

Quando despertamos para a perfeição de nossa Vida, os alimentos necessários para o nosso sustento e todas as demais coisas necessárias passam a vir naturalmente a nós, pois o nosso corpo e tudo que nos cerca são projeções daquilo que concebemos na nossa mente. Se reconhecermos que esses alimentos vêm naturalmente a nós são 'projeções dos alimentos a nós dados por Deus no mundo do Jisso', e os comermos reconhecendo que por trás desses alimentos está a maravilhosa e infinita força de Deus que a tudo vivifica, o nosso corpo refletirá automaticamente a perfeição da Vida e nos tornaremos saudáveis. Além do mais, se conscientizarmos realmente que somos filhos de Deus, que somos a Vida, e compreendermos realmente que a matéria é o “nada”, que o corpo carnal não é existência verdadeira, não nos apegaremos mais à matéria, não haverá mais a necessidade de tentarmos abandoná-la a todo custo, nem precisaremos tentar obtê-la a todo custo; e caso alguém nos ofereça remédios com amor, tomaremos também esses remédios.

Durante as viagens, em que me servem alimentação um tanto desequilibrada, às vezes recebo algumas vitaminas, ofertadas espontaneamente por algum adepto. Essas vitaminas não são propriamente remédios; são alimentos concentrados e são também a concretização do amor das pessoas que as oferecem. Entre os produtos considerados como remédios, há muitos que, na verdade, são alimentos apropriados. Ao ingerirmos tais produtos, ofertados por alguém, não o fazemos considerando-os matéria, mas o fazemos agradecendo à força vivificante do amor dessa pessoa. Mesmo que não consigamos obter tais remédios ou nutrientes, não precisamos ficar tristes. Como a matéria é originariamente o “nada”, o fato de tomarmos ou deixarmos de tomar as vitaminas não traz conseqüência alguma sobre a Imagem Verdadeira da Vida. A maioria das vitaminas pode ser produzida a partir de outras substâncias dentro do nosso próprio organismo, quando conscientizamos que a Imagem Verdadeira da nossa Vida é filho de Deus. Portanto, o que decide o nosso destino é o fato de conseguirmos ou não fazer com que a nossa mente se desprenda da matéria através do despertar para a Verdade.
Cont...


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 04"; pgs. 37 à 45)





sexta-feira, abril 16, 2010

O dedo de Gutei (Osho)


O Mestre Zen Gutei
Tinha o costume de erguer um dedo
Ao esclarecer uma questão sobre o Zen.
Um discípulo muito jovem começou a imitá-lo:
Quando alguém lhe perguntava
A respeito do que seu Mestre havia pregado,
Ele erguia um dedo.

Gutei ficou sabendo disso.
Um dia, ao encontrar o menino imitando-o,
Pegou o dedo do discípulo, puxou uma faca,
Cortou o dedo e jogou-o fora.

Enquanto o menino corria, berrando,
Gutei gritou: “Pare!”.
O menino parou- virou-se
e olhou para o seu mestre através das lágrimas.

Gutei estava com um dedo levantado.
Quando o rapaz foi levantar o seu,
Percebeu que o seu dedo não estava lá
E inclinou-se.

Nesse instante, tornou-se iluminado.






Essa é uma estranha história. É possível que você não a compreenda. Na vida, a coisa mais difícil de compreender é o comportamento de um iluminado.

As pessoas têm seus próprios valores e olham tudo com base neles. Um iluminado está numa dimensão totalmente diferente: vive sem valores, sem critérios, sem moralidade; vive simplesmente sem o ego. E todos os valores pertencem ao ego. Um iluminado simplesmente vive. Ele não manipula sua vida; é como uma nuvem branca flutuando. Não tem para onde ir, nada para alcançar. Para ele, nada é bom ou mau. Não conhece nenhum Deus, nenhum demônio. Conhece apenas a beleza que a vida é na sua totalidade.

Até mesmo um deus é feio porque é apenas uma parte, não um todo. Um demônio também é feio porque também é uma parte, e não o todo. Deus não está vivo; o demônio também está morto porque a vida existe como um ritmo entre os dois – o bom e o mau, Deus e o demônio. A vida existe entre esses dois pólos. Não pode existir em apenas uma polaridade. Eles são duas margens no meio das quais a vida flui. Um iluminado sabe disso. Nunca está a favor nem contra algo. Responde a cada momento sem qualquer julgamento. Eis por que é difícil compreendê-lo.

Um iluminado sempre tem alguma semelhança com um louco. Portanto, a primeira coisa a ser compreendida é: não avalie um iluminado com base nos seus próprios valores. Isso é muito difícil – mas o que mais você pode fazer?

Ouvi dizer que, certa vez, um grande pintor pediu a um médico amigo seu que viesse ver uma de suas telas, uma que acabara de pintar. O pintor achava que essa era sua obra-prima, o pico de toda sua arte. Por isso, naturalmente quis que seu amigo fosse vê-la. O médico observou a tela minuciosamente, olhou-a de um lado a outro. Passaram-se dez minutos. O artista ficou um pouco apreensivo e perguntou: “O que há? O que você acha do quadro?” O médico respondeu: “Parece que está com pneumonia dupla.”

Isso está acontecendo com todo mundo. Um médico tem suas próprias atitudes, seu modo de olhar as coisas. Ele olhou para a pintura à sua maneira sempre fixa; não poderia ter sido de outro modo. O médico diagnosticou o quadro... um quadro não necessita de qualquer diagnóstico. Ele não compreendeu, e uma bela pintura virou pneumonia.

É assim que a mente funciona. Quando você olha para algo, sua mente entra no meio modificando. Não faça isso com um iluminado. Não fará qualquer diferença para ele, mas a sua oportunidade de ver a beleza do fenômeno estará perdida.

Segunda coisa: um iluminado age do centro, nunca da periferia. Você sempre age a partir da periferia, você vive nela, na circunferência. Para você, ela é o que existe de mais importante. Você mata a sua alma para salvar o seu corpo. O iluminado pode sacrificar o seu corpo, mas não permite que a sua alma se perca. Está pronto para morrer a qualquer momento; isso não é mais um problema. Mas ele não está disposto a perder o seu centro, o âmago do seu ser.

Para o iluminado, o corpo é apenas um meio. Se for necessário, ele lhe dirá: – Deixe o corpo, mas não abandone o seu interior. É assim que toda tapascharya, toda a sua austeridade nasce. A circunferência tem de ser sacrificada em favor do centro. Se for necessário cortar a cabeça – se isso auxiliar, se com a sua cabeça o ego cair, o Iluminado lhe dirá: “Abandone a cabeça. Não a carregue. Ela mantém o ego. Por nada, você está perdendo tudo!”

Isto deve ser lembrado: quando se vive no centro, a perspectiva é totalmente diferente. Então, ninguém morre, ninguém pode morrer – a morte é impossível. Quando se vive na periferia, todos morrem. A morte é o ponto final para todos. Não há vida eterna.

Quando Krishna fala à Arjuna, no Gita, é realmente o centro falando para a periferia. Arjuna vive na periferia, pensa a partir do corpo, não sabe coisa alguma sobre a alma. Krishna fala do centro: “Não se preocupe com esses corpos. Eles já morreram muitas vezes e ainda morrerão. A morte é apenas uma transformação: como alguém que deixa suas roupas, sua velha casa, e entra numa casa nova. Esses corpos não são nada. Não se preocupe com eles, Arjuna. Olhe para o interior!” Mas como pode Arjuna olhar para o interior dos outros se ainda não conseguiu olhar para o seu?

Lembre-se: este Mestre Zen Gutei é Krishna. Vive do centro e age de acordo com ele. E esse incidente ocorreu com um discípulo que estava na periferia. Gutei poderia não ter cortado o dedo dele. Mas o discípulo valia isso, ele merecia. Só quando o discípulo merece é que o Mestre vai a tal extensão. Para Gutei ter chegado a tal extensão, o discípulo deve ter aprendido, deve ter merecido; de outro modo, Gutei não teria feito isso. Mesmo Arjuna não valia tanto quanto esse discípulo de Gutei porque Krishna apenas falou com ele, enquanto Gutei fez algo.

Observe a diferença. Um Mestre só chega a agir quando você merece. Do contrário, ele apenas fala. A ação só ocorre quando você está pronto, quando o momento está tão próximo que não pode ser perdido; quando nada pode ser dito; pode apenas ser feito. Quando uma pessoa fala, um tempo é necessário: o outro tem de compreender o que foi dito. Algumas vezes, algo tem de ser feito imediatamente, instantaneamente. Mas o mestre só o faz quando você está na beira. Então, falar não ajudará; é preciso empurrá-lo; você está bem na porta. Se um simples momento passar, a oportunidade estará perdida. E muitas vidas talvez sejam necessárias para você chegar novamente à porta.

A vida é muito complexa. Raramente se está perto da porta. Se o Mestre diz: “Olhe, a porta está aqui!” e começa a lhe explicar, até você compreender a porta não estará mais lá. A vida está em constante movimento. O Mestre precisa fazer algo. Se ele achar que matá-lo irá auxiliar, ele o matará. Eis por que a rendição é necessária.

A rendição não é fácil porque render-se significa dizer ao Mestre: “De agora em diante, minha vida e minha morte são suas. Estou pronto. Se você disser ‘morra’, eu morrerei sem perguntar por quê”.

Se houver pergunta, a rendição não existirá, nem a confiança. Nos velhos tempos, muitas pessoas conseguiram iluminar-se porque puderam render-se. A confiança estava na própria atmosfera, a fé circundava tudo, a confiança florescia em toda parte. Não era possível passar um dia sem cruzar com um homem cheio de confiança. E um homem com confiança é uma pessoa tão maravilhosa que, ao vê-lo, você sente ciúme.

Hoje em dia, isso tornou-se quase impossível. É difícil conseguir cruzar com um homem desses. Essa beleza desapareceu. Só se cruza com céticos, com pessoas cheias de dúvida que sempre dizem não. Elas são feias, mas estão por toda parte. Então, pouco a pouco, você também se enche de dúvidas. Desde o primeiro dia, desde a primeira vez em que sua mãe o amamentou, você tem se alimentado de dúvidas. Todas as descobertas da ciência dependem da dúvida. É preciso ser cético, duvidar; só assim a ciência pode trabalhar.

A religião trabalha num rumo totalmente oposto. É preciso ser confiante, é preciso dizer um profundo sim; só assim a rendição é possível. O discípulo de Gutei havia se rendido. Eis por que o incidente tornou-se a sua Iluminação.

Agora entraremos nessa estranha história. Nela, cada palavra é significativa.

“O Mestre Zen Gutei tinha o costume de erguer um dedo ao esclarecer uma questão sobre o Zen.”

Os Mestres nunca fazem algo desnecessariamente, nem mesmo levantar um dedo. O desnecessário desapareceu. Com o Mestre, existe apenas o essencial. Ele não fará um simples movimento, um simples gesto, se isso não for essencial. O não-essencial existe com a ignorância. Com ela, o que quer que se faça é trivial, não-essencial. Se for paralisada, nada estará perdido.

Olhe para a sua vida. Se você interromper o que quer que esteja fazendo, o que será perdido? Nada se ganha com o seu fazer. De manhã à noite você se ocupa com coisas triviais. Então, no fim do dia, fica cansado e vai dormir. Na manhã seguinte está pronto para reiniciar outra vez as mesmas coisas não-essenciais. É um circulo vicioso: um não-essencial encontra um outro não-essencial e os dois se ligam. Mas você tem tanto medo de olhar a trivialidade da vida que se mantém sempre de costas para ela. Se a olhar, você sentirá muita depressão, pensará: “O que estou fazendo?”

Se você vir que tudo o que está fazendo é absolutamente inútil, seu ego estará perdido. O ego pode sentir-se significante somente quando você está fazendo algo significante. Por isso você cria significados para as coisas triviais. Sente que está desempenhando grandes feitos para a nação, para a família, para a humanidade; como se, sem você, a existência fosse acabar. Nada do que você está fazendo é importante. Mas você tem de dar significado a tudo, porque por meio da significação seu ego é alimentado e fortalecido.

Na ignorância, tudo é não-essencial. O que quer que seja feito – mesmo sua meditação, sua prece, sua ida ao templo –, tudo é trivial. Até mesmo sua prece não é mais profunda do que a leitura de um jornal. Porque a questão não é a prece, é você. Se você tem profundidade, então cada movimento, cada ação é um ato de profundidade. Mas quando ela não existe, mesmo ir a um templo não faz nenhuma diferença: você entra no templo como se estivesse entrando num hotel. Você é o mesmo: assim, se é um templo ou um hotel, isso não faz diferença. Dê a uma criança um brinquedo caríssimo feito de diamantes. Ela fará com ele o mesmo que faria com um brinquedo comum, porque é uma criança. Brincará com ele por alguns momentos; depois o jogará num canto e irá embora.

Sua profundidade traz profundidade às suas ações. Quando um Iluminado levanta um dedo, até mesmo isso é importante, profundo, repleto de significado. Por que Gutei costumava levantar um dedo “quando costumava explicar alguma questão sobre o Zen”? Não sempre – apenas quando explicava uma questão sobre o Zen? Por que? É porque estava explicando e demonstrando ao mesmo tempo. Pois o que quer que se pergunte sobre religião, um dedo erguido é a resposta.

Todos os seus problemas existem por não ser um. Porque está fragmentado, em desunião, em caos – não em harmonia. O que é Zen, o que é Yoga, o que é Meditação? Nada mais do que chegar à unidade. A própria palavra “Yoga” significa unidade, único, total.

Quando Gutei estava explicando sobre o Zen, a explicação era secundária; o dedo levantado era o mais importante. Gutei explicava e demonstrava simultaneamente. É assim que um Iluminado vive: fala e demonstra. Seu próprio ser, seus gestos, seus movimentos demonstram o que é religião.

Se você não pode ver, se está cego ou se perdeu nessa dimensão de entendimento, de visão, ouve apenas as palavras. Mas se você sabe como olhar, as palavras são desnecessárias. As palavras são inúteis, podem ser dispensadas, tornam-se secundárias. Mas o dedo levantado não pode ser suprimido; ele é primário, é a única resposta. Todos aqueles que conheceram em qualquer parte do mundo, todos levantaram um dedo. Estavam falando de UM e você está vivendo na diversidade.

Quando se vive na diversidade, os problemas são criados, porque mover-se em muitas direções simultaneamente torna-o dividido, impede sua união. Um desejo o conduz para o norte, outro para o sul. Uma parte da mente ama, outra odeia. Uma parte da mente quer acumular riquezas e a outra diz: “Isto é inútil, renuncie!” Uma das mentes quer meditar, tornar-se profunda, silenciosa, e a outra diz: “Por que você está perdendo seu tempo?”

Ouvi dizer que uma vez aconteceu o seguinte: Um homem renunciou ao mundo quando ainda era muito jovem e foi para os Himalaias. Meditou lá por quase vinte anos. Aos 40, continuava sentado, meditando, sem fazer coisa alguma. Os pássaros e os animais selvagens, pouco a pouco, perderam o medo dele. Ele ficava lá, simplesmente sentado, o próprio amante da paz. Os animais sentavam-se ao seu redor e quando iam caçar, deixavam seus filhos para que ele tomasse conta. Seu cabelo tornou-se muito grande e os pássaros vinham fazer ninhos e pôr seus ovos nele. E o homem tinha que cuidar deles.

Depois de vinte anos ele se fartou de tudo isso. Disse: “Se estou tomando conta dos filhos dos outros, por que não me caso e tomo conta dos meus próprios filhos? Isso que estou fazendo é um absurdo, não estou chegando a nada. Esses vinte anos que passaram estão perdidos. Agora, não tenho mais tempo a perder. Já tenho 40 anos e logo a vida começará a declinar.”

Qual era o problema? Ele estava realmente meditando. Qual era o problema? Vinte anos é um longo tempo – mas sua mente continuava fragmentada. Uma parte meditava e a outra dizia: “É inútil. Por que você está perdendo tempo? Os outros estão se divertindo. Volte para os vales. As pessoas de lá estão felizes, dançando, bebendo, comendo, amando. O mundo está em êxtase e você aqui sentado como um tolo.” Ouvindo continuamente esse outro fragmento durante vinte anos, o primeiro fragmento tornou-se fraco.

Na superfície, ele repetia mantras: Ram, Ram, Ram. Mas, no fundo, este era o mantra: “Inútil! Sentado como um tolo e os outros aproveitando a vida enquanto a minha se acaba. Logo serei incapaz de aproveitar algo. Estou me tornando velho.” Este era o mantra real. Na superfície rezava: Ram, Ram, Ram; mas no íntimo, o mantra verdadeiro era outro.

Quando sua mente está dividida, você não pode orar nem meditar porque uma parte fica sempre contra a outra. E, mais cedo ou mais tarde, ela vencerá. Lembre-se disto: a parte que está em ação perde energia a cada instante e a que não está, a que critica, não perde nenhuma energia. Assim, mais cedo ou mais tarde será a mais poderosa.

Uma de suas partes ama uma mulher e a outra odeia. A parte do ódio fica escondida – todos escondem essa parte – e, a menos que você se torne um Iluminado, ela permanece no seu interior. A parte que ama começa a se tornar fraca porque está sendo usada, sua energia está sendo aplicada. A parte escondida, a do ódio, fica cada vez mais forte. Assim, todos os casamentos caminham para o divórcio. Quer o divórcio seja efetuado, quer não, todo casamento acaba em divórcio, a menos que se esteja casado com um Iluminado, o que é muito difícil.

Um dia, o homem se fartou. Começou a descer dos Himalaias. Pensou: “Por onde vou começar?” Tinha se esquecido completamente de como era o mundo! Tinha estado fora por tanto tempo! “Por onde vou começar? Se quero ser iniciado neste mundo preciso de um guia, exatamente como se quisesse conhecer o outro mundo. Quem será o guia certo para este mundo?” Então, lembrou-se de que antigamente os reis mandavam seus filhos para as prostitutas a fim de aprenderem como entrar neste mundo. Não existe melhor guia para este mundo do que uma prostituta. Ela é o mundo encarnado. Até mesmo o amor tornou-se um negócio para ela – este é o último estágio do mundo. Até o amor tornou-se uma profissão, uma comodidade; ela o vende. O dinheiro tornou-se mais importante do que o amor. Esta é a última coisa no mundo e pode tornar-se a porta.

Então, ele foi diretamente a uma prostituta. Era noite e ela estava se aprontando para ir a um rei. Ela lhe disse: “Você é bem-vindo, mas eu fui convidada por um rei. Ele é um avarento e, por isso, não espero ganhar muito. Mas quem sabe? Às vezes até os avaros dão. Venha divertir-se conosco.” O monge foi.

Durante toda a noite, a prostituta dançou e cantou. O rei ficou sentado em silêncio, sem lhe dar nada. Então, a última parte da noite já estava se esvaindo; logo haveria luz e a mulher estava cansada. Então, numa canção, ela disse a seu marido que tocava tabla: “Agora já fiz tudo o que poderia fazer.” Ela cantou de modo que ninguém pudesse compreender – este era um código para com seu marido. Disse: “Tudo o que podia ser feito, já fiz. Agora parece não haver nenhuma esperança. É melhor partirmos.”

Dentro de sua mente, o monge pensou: “Ela está na mesma situação em que eu me encontrava: tudo o que eu podia fazer já havia feito. Nada mais poderia ser feito e o melhor era partir.” Então, ele ouviu atentamente quando o marido disse: “Tudo o que podíamos fazer, nós já fizemos. Mas a noite ainda não acabou. Quem sabe? Devemos ir até o final. Só falta um pouco mais. Seja paciente.”

Ouvindo isso, o monge pensou: “E agora, o que devo fazer? Talvez eu estivesse na beira quando deixei os Himalaias. Talvez um pouco mais de paciência...”

O monge possuía apenas um lençol. Estava nu por baixo. Mas sentiu-se tão encantado que atirou seu lençol aos pés da prostituta e começou a correr para fora do palácio. O rei, então gritou,: “Pare: isso é contra a convenção.”

A convenção era a seguinte: quando uma pessoa rica estava presente, ela deveria contribuir primeiro; senão, seria um insulto. O rei estava presente e aquele homem havia contribuído primeiro.

O monge respondeu: “Se é contra a convenção, pode me matar, mas ela salvou a minha vida. Foi um momento de tão grande êxtase que tive de dar algo. Eu não tinha mais nada além desse lençol, mas não posso esperar por você, estou indo para os Himalaias. Esta mulher e este homem que estava tocando tabla revelaram-me um segredo: um pouco mais de paciência.” Dizem que o homem tornou-se Iluminado naquele momento e que nunca mais voltou aos Himalaias. Ao descer as escadas do palácio, iluminou-se.

O que aconteceu? Pela primeira vez as duas partes tornaram-se uma. Eis o significado da paciência. Paciência significa permitir que a outra parte lute. Paciência significa estar pronto para esperar infinitamente. Quando você está pronto para esperar pelo infinito, não existe nenhuma possibilidade de a outra parte dizer: “Não aconteceu ainda.” Não existe sentido em dizer: “Você está perdendo o seu tempo”. Se você está pronto para esperar infinitamente, então nada é perdido. Se a sua espera é eterna, infinita, então a outra parte fica sem ter o que dizer.


A unidade é necessária. Se não há unidade, a luta é constante. Eis por que Gutei costumava levantar um dedo quando explicava sobre o Zen. Estava dizendo: “Seja um! – e todos os seus problemas estarão solucionados.”

Existem muitas religiões, muitos caminhos, vários métodos, mas o ponto essencial é o mesmo: a UNIDADE. Seja qual for a sua escolha, seja um. Se puder render-se totalmente, tornar-se-á um, a unidade virá.

Se você puder trabalhar num jardim totalmente absorto, de modo que nenhuma pessoa exista, nem mesmo quem está cavando; se você se transformar no ato de cavar, então o agente será a ação, o observador a observação, o meditador a meditação – de repente, todas as ondas de maya desaparecerão, todas as ilusões terminarão. Você será elevado a uma camada diferente, a um diferente plano de ser.

Quando você for um, alcançará o Um. Enquanto for muitos, estará no mundo. O mundo é muitos e Deus é um. Para conhecer o Um, é preciso, antes, tornar-se um. Não existe outro modo. Só quando você se transformar Nele é que será capaz de conhecê-lo.

“O Mestre Zen Gutei costumava erguer um dedo ao esclarecer uma questão sobre o Zen.”

Zen é um termo sânscrito vindo da palavra dhyan. É a forma japonesa de dhyan. Quando Bodhidharma levou para a China as técnicas de Buda, dhyan tornou-se Chan. Quando Chan foi levado ao Japão, tornou-se Zen. Mas o termo original é dhyan. Quando Gutei falava sobre dhyan (meditação), levantava um dedo. A unidade é dhyan, a unidade é tudo o que deve ser atingido – é o fim.

“Um discípulo muito jovem começou a imitá-lo...”

É claro. Deve ter sido um discípulo bem jovem, pois só as crianças imitam. Quanto mais maduro se é, menos se imita; quanto mais imaturo, mais se imita. Se você ainda imita, ainda é um adolescente, ainda não atingiu a maturidade, ainda não se tornou um adulto. O que é ser adulto? É compreender que você tem de ser você mesmo e não um imitador, isso é que é maturidade.

Se você olhar para si mesmo, não encontrará essa maturidade. Você tem estado imitando os outros. Alguém tem um carro novo – de repente, você começa a imitar, precisa de um carro novo também. Os vizinhos sempre o deixam nervoso. Estão sempre comprando isso e aquilo e você tem de imitá-los. E quando isso ocorre, você é exatamente como os macacos.

Não imite! Seja maduro! Imitar não o levará a lugar algum. Por que? O que é imitar e o que é ser autêntico, verdadeiro?

Imitar significa estabelecer um ideal a partir dos outros; significa ter um ideal que não é seu, um ideal que não vem de dentro de você, que não é um florescimento natural vindo do seu interior. Algum outro estabeleceu o ideal e você vai atrás. Se não o alcança, sente-se miserável por não ter conseguido atingi-lo. Se o alcança, sente-se miserável também porque esse nunca foi o seu ideal. Você nunca o quis, isso nunca ocorreu no seu interior.

Eis por que existe tanta miséria no mundo: as pessoas ficam se imitando. Se falham, sentem-se miseráveis porque não atingiram. Se são bem-sucedidas, também se sentem na miséria. Observe: nada fracassa tanto quanto o sucesso, se este sucesso advier de uma imitação. É possível alcançar um objetivo após longa e extenuante jornada, após muito esforço e perda de tempo e energia. Mas então você descobre: “Eu nunca quis ser isso. Alguma pessoa deve ter querido e eu peguei emprestado o seu ideal.” Não pegue ideais emprestado dos outros, isso é infantil.

“Um discípulo muito jovem começou a imitá-lo...”

Deve ter sido um discípulo bem jovem mesmo, infantil. Começou a imitá-lo.

“Quando alguém lhe perguntava sobre o que o seu Mestre havia pregado, ele levantava um dedo” – do mesmo modo, com o mesmo gesto que o Mestre havia feito.

As pessoas devem ter gostado disso, devem ter rido. O rapaz era um imitador perfeito: fazia a mesma cara, levantava o mesmo dedo, tentava olhar do mesmo jeito. Ele representava muito bem.

Quanto mais eficiente é a representação, mais imaturo se permanece. É preciso ser verdadeiro consigo mesmo. Se você não é muito eficiente, isso não importa; o que importa é que você seja verdadeiro consigo mesmo, porque apenas a sua própria verdade poderá levá-lo à Verdade Última. A verdade de nenhuma outra pessoa poderá ser a sua.

Você tem uma semente no seu interior. Só quando essa semente germinar e tornar-se uma árvore é que você florescerá, entrará em êxtase, terá a bênção. Mas se você estiver seguindo os outros, essa semente continuará morta. É possível acumular todos os ideais do mundo e tornar-se bem-sucedido, mas você se sentirá vazio porque nada poderá preenchê-lo. Só a sua semente, quando se tornar árvore, é que poderá satisfazê-lo. Você só se sentirá completo quando a sua verdade florescer, nunca antes.

As pessoas podem apreciar seu sucesso na imitação – elas sempre o apreciam. Esse rapaz deve ter sido apreciado no mosteiro por estar representando exatamente como o Mestre. Deve ter ficado famoso; os imitadores ficam famosos. Eles não sabem que estão cometendo suicídio. Entretanto, para que os outros o apreciem, você é capaz até de se suicidar.

Ouvi dizer que um ator morreu. Seu funeral atraiu milhares de pessoas. Sua mulher batia no peito, chorava e gritava. Quando ela viu que milhares de pessoas tinham vindo, disse: “Se ele soubesse que tantas pessoas viriam, teria morrido mais cedo.”

Você pode se suicidar para ser apreciado. Você está se suicidando apenas porque os imitadores são apreciados. Uma pessoa autêntica não, porque ela é rebelde. Não imita ninguém. Ela diz: “Eu não serei Buda, nem Krishna, nem Jesus. Um já é o suficiente! Um Jesus já é o suficiente. Por que imitá-lo?” Um segundo Jesus, embora belo, é apenas uma cópia, não tem valor. Por que imitar Jesus? Deus não lhe perguntará, no fim, por que você não se tornou Jesus, mas sim por que não se tornou você mesmo.

Ouvi falar sobre um místico hasid chamado Magid. Ele era muito pobre e ninguém sabia muito a seu respeito, mas ele era um homem realmente autêntico. Quando estava morrendo, alguém lhe perguntou: “Magid, você rezou a Deus para fazê-lo como Moisés?” Ele abriu os olhos e disse: “Pare! Não diga tais coisas enquanto eu estou morrendo. Deus não irá me perguntar por que eu não me tornei Moisés. Ele perguntará: ‘Magid, por que você não se tornou um Magid real?’”

Os outros não o compreenderam, não podiam compreender, pois isso parecia um insulto a Moisés. Não é. Isso não é um insulto. Moisés tornou-se Moisés: essa é sua beleza. Magid tem de se tornar Magid: essa é a sua beleza. E somente a beleza, somente o ser florescido pode ser ofertado a Deus. Como poderia Deus perguntar a uma rosa: “Por que você não se tornou um lótus?” Como poderia Deus ser tão tolo? Não! Ele não é tão tolo quanto você pensa. Ele perguntará à rosa: “Por que não floresceu totalmente? Por que voltou como um botão e não como uma flor?”

Florescer é o essencial. Se você é um lótus ou uma rosa ou alguma flor não especificada, desconhecida, não faz diferença. Quem você é não é o essencial. O essencial é que você possa chegue à porta do Divino como uma flor aberta, florescida e não fechada como um botão.

“Um discípulo muito jovem começou a imitá-lo...”

Quando você chega perto de um Mestre, esta é a possibilidade – a primeira possibilidade: começar a imitá-lo. Lembre-se de que isso não irá ajudá-lo, de que isto é perigoso, de que estará cometendo suicídio. Compreenda o Mestre, beba sua presença, alimente-se dela o máximo que puder, mas não se torne um imitador. Não se torne falso.

“Gutei ficou sabendo disso. Então, um dia, ao encontrar o menino imitando-o, pegou o dedo do discípulo, puxou uma faca, cortou o dedo e jogou-o fora.”

Parece que esse Mestre era muito duro, muito cruel. Os Mestres são cruéis. Se não o forem, não poderiam auxiliá-lo. São cruéis por que têm uma profunda compaixão. Por que o Mestre cortou o dedo dele? Se ele fosse um pouco menos duro, não teria sido de nenhuma utilidade ao rapaz. Algo muito severo era necessário. Algo que fosse direto ao coração. Isso deve ser compreendido.

Ouça-me. Se você está aqui apenas por curiosidade, não poderá ir muito a fundo. Se sua curiosidade é apenas intelectual; se você está interessado apenas em saber o que estou dizendo, não poderá ir muito a fundo; não será capaz de compreender o que estou dizendo. Mas, se a vida lhe deu muito sofrimento e você está aqui por causa disso: para compreender como transcendê-lo, então o que direi poderá ir até lá dentro. O sofrimento lhe dá profundidade, o conduz em direção ao centro.

Se você me ama, se você não tem comigo um relacionamento intelectual – o qual não é absolutamente um relacionamento – mas uma relação de amor; se está emocionalmente tocado por mim, então irá compreender. Porque quando você ama uma pessoa, você a ouve com o coração, não com a cabeça. A cabeça é a pior coisa que existe: tola, fútil, exatamente como um cesta de lixo – nada mais. Tudo o que é tolice vai sendo colecionado por sua cabeça. As futilidades nunca entram no coração, são acumuladas na cabeça. Só o que é essencial vai para o coração. Assim, se você estiver aqui apenas por curiosidade, conseguirá me ouvir apenas na superfície. Pouco poderá lhe acontecer. Mas se você estiver aqui porque sofreu: se não veio como um curioso, mas como alguém que tem conhecido a vida, conhecido seu sofrimento e por meio dele a maturidade; se você quiser ser transformado – então, me ouvirá com muito mais profundidade.

Mas sua profundidade poderá ir mais além ainda. Se você me amar, se tiver confiança, estará mais aberto – só a confiança pode abrir; se você não confiar estará sempre com medo e o medo é sempre fechado. Quando você está totalmente aberto – você sofreu, a vida lhe deu profundidade e, além disso, você confia, além disso, está totalmente aberto – então, o que eu disser poderá ir imediatamente ao seu coração. E, depois de ouvir, você nunca mais será o mesmo.

“Gutei ficou sabendo disso.” Um Mestre sempre fica sabendo quem são os imitadores. Eles são tão aparentes, tão óbvios! Eu sei muito bem quem são os imitadores aqui. Um imitador não pode enganar a quem está imitando. Pode enganar aos outros, mas não a quem está imitando. Sua falsidade é patente.

As pessoas vêm a mim e repetem minhas próprias palavras, meus próprios gestos e pensam que podem me enganar. Elas podem enganar aos outros, mas não a mim porque suas palavras são tão superficiais! Você pode repetir as mesmas palavras, não há problema: as palavras não são o problema – mas a intensidade que você dá a elas, isso vem do seu próprio ser. A palavra pode ser usada por qualquer um. Você pode recitar todo o Gita, mas suas palavras não serão as mesmas pronunciadas por Krishna.

Você pode repetir toda a Bíblia, mas quando aquelas palavras foram usadas por Jesus elas tinham uma tremenda energia, uma força de transformação – porque Jesus estava naquelas palavras. Seu ser se movia através de cada uma delas.

Você pode usar as mesmas palavras. Para cada cristão, existem milhões de padres repetindo as mesmas palavras. Repetem o Sermão da Montanha... e as palavras são tão superficiais que acabam sendo um grande prejuízo. Seria melhor que eles não as repetissem porque quando se repete muito certas palavras, elas perdem a magia, tornam-se usadas e as pessoas ficam tão acostumadas a ouvi-las que se tornam muito inúteis, apenas clichês.

Gutei ficou sabendo a respeito do jovem que o imitava e “...um dia, ao encontrar o menino imitando-o, pegou seu dedo, puxou uma faca, cortou o dedo e jogou-o fora.”

Quanta severidade! Mas Gutei deve ter tido muita, muita compaixão. Só desse modo é que se pode ser tão duro. É difícil compreender porque pensamos que a crueldade, a austeridade acontecem apenas quando não existe compaixão. Não – se você pensar assim nunca entenderá um Mestre. Um Iluminado só é vigoroso com o discípulo quando está repleto de compaixão. Se assim não fosse, porque se preocuparia? Ele é rígido justamente porque se preocupa, porque está aflito a seu respeito, quer auxiliá-lo. E menos do que tal atitude de nada adiantará.

O que aconteceu? Quando ele puxou sua faca, pegou o dedo do rapaz, cortou-o e jogou-o fora, o que aconteceu? Quando o rapaz viu o Mestre puxar sua faca, o que lhe ocorreu? Se alguém chega, de repente, perto de você com uma faca, o que lhe acontece? – Seus pensamentos param.

Você não pode pensar, é tudo tão novo, tão inédito. A velha mente simplesmente pára, ela não pode compreender o que está acontecendo. Ninguém poderia sequer supor que Gutei carregasse uma faca. É possível alguém me imaginar carregando uma faca? É tão impossível, tão incompreensível. Mas Gutei puxou a faca – o rapaz deve ter ficado em estado de choque, com o pensamento parado. Era um tratamento de choque. Aquilo vindo de Gutei – quase impossível! O rapaz não pensaria nisso nem em sonhos... e então Gutei não somente puxou a faca, mas cortou o seu dedo também.

Enquanto Gutei estava cortando o dedo do discípulo, enquanto o dedo era decepado da mão, o que estava acontecendo dentro do rapaz? Pela primeira vez em sua vida, ele estava atento, sem pensamentos. Não podia estar adormecido num momento desses. Você pode estar adormecido enquanto alguém corta o seu dedo? Não, é impossível.

A dor foi tão intensa, o sofrimento foi tão intenso, que nesse exato momento o rapaz se transformou. Deixou de ser uma criança, tornou-se maduro. Isso pode ocorrer em apenas um instante, pode não acontecer por muitas vidas. A imitação deve ser severamente cortada. O dedo era apenas simbólico. O rapaz tinha de ser atingido severamente e o sofrimento devia ir até a raiz de seu ser. Devia ser tão desconhecido que ele não pudesse teorizar a respeito. Não pudesse pensar, nem filosofar, mas simplesmente ficar chocado. Assim, sua mente não poderia mover-se para lugar algum.

Pela primeira vez, ele deve ter olhado com olhos novos, sem pensamentos flutuando, se interpondo. A dor foi tão severa e súbita que deve ter atingido diretamente seu coração.

Lembre-se, o prazer nunca atinge tanto quanto a dor. O prazer nunca vai tão a fundo! Não pode, A própria natureza do prazer é superficial. Assim, as pessoas que vivem no prazer são sempre superficiais, frívolas. Você não pode encontrar profundidade num homem rico, é muito difícil. Mas pode encontrá-la num mendigo. Você pode não olhar para um mendigo porque pensa que ele é simplesmente um mendigo; mas não se fixe em suas idéias. Quando cruzar com um mendigo, olhe-o. Ele sofreu muito, sentiu muita dor e a dor dá profundidade. Um rico é sempre superficial, frívolo. Vive no prazer e, por isso, não pode ir muito a fundo.

No sofrimento do discípulo de Gutei, a dor foi tanta e tão repentina que a mente parou de revolver e o coração foi atingido.

“Enquanto o rapaz corria, berrando, Gutei gritou: ‘Pare!’”

É sobre isso que eu estava falando. Primeiro, você deve estar em profundo sofrimento, gritando; somente então o “Pare” pode ser significativo. O rapaz correu uivando de sofrimento e dor e Gutei gritou: “Pare!” Se o “pare” é dito no momento certo, ele atinge diretamente.

De repente, ele parou! O que aconteceu nessa parada? Não havia mais dor. Se você pára repentinamente, toda sua atenção move-se para o som “pare”. O corpo é deixado para trás e você se torna atento. Quando você está realmente atento, o corpo não pode perturbá-lo, não pode distraí-lo. O dedo não estava mais lá, o sangue fluía – havia dor, mas esse “pare” levou toda a atenção do discípulo para o Mestre.

Quando não há atenção, não existe dor. A dor só existe no corpo se atenção for dada para o corpo. Quando você está doente, deitado na cama, o que você faz? Fica continuamente prestando atenção à sua doença, fica alimentando-a. Algo deve ser feito a esse respeito, pois isso tornou-se um grande problema em todo o mundo.

Os médicos sugerem que você se deite e descanse quando está doente. Mas descansando, o que você fará? Prestará atenção à dor e assim a estará alimentando; a atenção alimenta a dor. Então, você estará pensando nela continuamente; isso se torna um mantra, um canto interno: “Estou doente, estou doente. Alguma coisa está errada.” Você reclama e percorre o corpo (com sua atenção) diversas vezes, tentando encontrar o que está errado. Você fica remoendo isso. Que coisa mais patológica! Isso faz com que a doença continue. Torna você hipnotizado pela doença!

Se muita atenção é dada à doença, você se torna uma vítima hipnotizada. Se você reclama, se queixa constantemente de algo, isso entra num ciclo vicioso: você reclama e, com isso, convida a doença a entrar ou permanecer, porque cada queixa significa dar atenção outra vez e outra vez; torna-se algo repetitivo.

O que acontece? Ouvi dizer – e isso já aconteceu muitas vezes – que um homem estava doente, paralisado há quinze anos sem poder andar. Uma noite, de repente, sua casa começou a pegar fogo. Havia o fogo, a casa estava em chamas e todos correram para fora. O homem esqueceu que estava paralisado e correu para fora da casa. Só lá fora, quando sua família o viu correndo e lhe disse “Como? Você está paralisado!”, é que o homem se incapacitou de ficar em pé e caiu.

O que aconteceu? Nesse acidente, nesse particular momento de intensidade – a casa estava em chamas – o homem esqueceu que estava paralisado. Por um momento sua atenção abandonou essa crença, ignorou essa ilusão, e por isso o homem pôde correr para fora da casa. Se você puder se esquecer da sua doença, ela irá embora mais rápido do que com qualquer remédio. Se não puder esquecê-la, se ficar continuamente remoendo-a estará mexendo na ferida. E quanto mais você a remexe mais profunda ela se torna.

O que aconteceu quando Gutei gritou: “Pare”? O rapaz olhou-o, sua atenção moveu-se do corpo para o Mestre. Seu grito parou e a dor desapareceu como se o dedo não tivesse sido cortado.

“O menino parou, virou-se e olhou para o seu Mestre através das lágrimas”.

Seus olhos estavam cheios de lágrimas, ele estava gritando, chorando e soluçando. Mas parou! Sua dor desapareceu, mas as lágrimas não podiam desaparecer tão de repente – elas estavam lá.

“Gutei estava com um dedo levantado. Quando o rapaz foi levantar o seu, percebeu que o dedo não estava lá, e inclinou-se. Nesse instante, tornou-se iluminado.”

“Gutei estava com um dedo levantado.” Esse foi um momento de intensa consciência; um grande truque foi feito, uma situação foi criada pelo Mestre. A mente não estava mais lá, a dor havia desaparecido porque a atenção havia se desviado para outro lugar... Como se o rapaz não fosse capaz de respirar. “Pare!” – e a respiração parou, o pensamento parou e ele se esqueceu de que não tinha mais um dedo. De acordo com o velho hábito, quando o Mestre levantava um dedo, o rapaz levantava também o seu – mas agora o dedo não estava mais lá. Isso mostra que ele havia se esquecido completamente do que havia ocorrido. O discípulo levantou o seu dedo como em todas as outras vezes que o fizera, quando ainda possuía o dedo. O simples fato de ter repetido o hábito de levantar o dedo, após o Mestre levantar o seu, demonstra que nesse momento ele esqueceu-se de que não tinha mais o dedo.

Nesse momento, ele não era o corpo; de outro modo, como poderia ter esquecido a dor, o dedo cortado, sangrando, os olhos ainda cheios de lágrimas? Há apenas um momento ele uivava de dor. O “Pare” provocou o milagre.

“O rapaz parou, virou-se, olhou para seu Mestre através das lágrimas. Gutei estava com um dedo levantado.”

De acordo com o seu velho hábito, o menino levantava o dedo sempre que o Mestre ensinava sobre o Zen. Ele ficava em pé, ao lado ou atrás da cadeira, e quando o Mestre levantava um dedo ele também levantava. Isso tornou-se um gesto automático. O corpo é um autômato, é um mecanismo, é mecânico.

O rapaz foi levantar o seu dedo e quando percebeu que não estava lá – só então ele viu que o dedo não estava lá – inclinou-se.

O que aconteceu? Por que ele ficou tão agradecido e inclinou-se? Porque, pela primeira vez, percebeu que não era o corpo. Que ele era a atenção, não o corpo; a consciência, não o corpo. O dedo não estava lá e a dor desaparecera, os gritos desapareceram. O pensamento não estava mexendo na ferida, remoendo-a. Ele não era mais o corpo, que importância então teria o fato de ele não ter mais o dedo? – Aquele corpo não era ele. Nada de real valor foi perdido. Ele despegou-se do corpo, abandonou-o. Não estava mais encarnado, estava simplesmente fora do corpo. Pela primeira vez, pôde saber o que é a alma, a consciência, o verdadeiro Ser; pôde saber que o corpo é apenas a casa.

Você não é o corpo; está nele, mas não é ele. Se a sua atenção puder chegar a tal intensidade, você perceberá que não é o corpo. Ao perceber isso, ficará sabendo que é imortal. Quem então poderá lhe cortar o dedo? Como alguém poderá ser violento com você? Ninguém poderá destruí-lo. Eis por que ele se inclinou para o Mestre em profunda gratidão. “Por você ter me dado esta oportunidade de conhecer o meu mais profundo ser que é imortal.”

“Nesse instante, iluminou-se.”

O que é iluminar-se? É chegar a entender, a perceber que você não é o corpo. É a luz interna. Não o lampião, mas a chama. Não é o corpo, nem a mente. A mente pertence ao corpo - ela não está além dele. Ela é a parte do corpo mais sutil, mais refinada, mas ainda assim é parte do corpo. A mente é tão atômica quanto o corpo.

Você não é nem o corpo nem a mente, Então, fica sabendo quem é. E ficar sabendo quem você é, é iluminar-se.

Quando Gutei cortou o dedo do discípulo, o pote, o velho pote caiu, quebrou-se, a água escorreu - nem água, nem lua! O discípulo iluminou-se.

Gutei deve ter esperado pelo momento certo. O menino fazia aquilo há muitos e muitos anos. Ele esperou e esperou. Não se pode forçar o momento certo. Quando ele chega, chega. Você cresce em direção a ele e o Mestre espera. Quando ele chega, quando ele está presente, qualquer coisa pode tornar-se a desculpa, qualquer coisa. Mesmo um grito, “Pare!”, pode ser o suficiente para despedaçar o velho pote. De repente, os reflexos desapareceram porque não há mais água. Você olha para a lua real, você está iluminado.

Iluminação significa compreender quem você é.

- Osho



quarta-feira, abril 14, 2010

Estados de consciência

Dárcio Dezolt


A percepção de que Deus é a Consciência única permite que nos identifiquemos com essa unidade e possamos conhecer a Verdade de que "temos a Mente de Cristo". Esta identificação correta anula a falsa, ligada à suposta mente humana; e, assim, as crenças hipnóticas universais acabam se mostrando como são: inoperantes e sem qualquer poder.

Suponhamos que alguém experiencie este Despertar espiritual de que sua consciência atual é a própria Consciência crística ou divina. Para as demais pessoas, que ainda se identificam com a mente humana, o homem "Desperto" passa a ser rotulado de "iluminado", "mestre", "praticista espiritual" etc. Desse modo, para a "mente humana", estará existindo, por exemplo, um curador espiritual e seus pacientes. Se este praticista se dedicar a contemplar os supostos pacientes com o "Olho Crístico", verá a Consciência infinita Se desdobrando em cada um deles, no lugar de vê-los como seres humanos em diversos estágios mentais de consciência. Quando as pessoas são receptivas à ação pura desta Consciência única, indivisível e onipresente, "curador" e "pacientes" são transcendidos, e, como efeito visível, teremos as chamadas "curas espirituais".

Este efeito curativo é recebido igualmente por todas as pessoas? Não. O envolvimento com as crenças humanas, tanto por parte do "curador" quanto por parte dos "pacientes" influi na receptividade à Verdade. Em vista disso, em muitos ensinamentos espirituais, surgiu a propalada questão dos estados ou estágios de consciência.

Didaticamente, podemos subdividir a mente humana em consciente e subconsciente. A receptividade espiritual se relaciona com a habilidade ou facilidade com que a pessoa consiga deixar de lado a análise puramente lógica ou intelectual, em termos humanos, para permitir a percepção da atuação transcendental da Consciência única nela própria. Como essa facilidade difere de indivíduo para indivíduo, em função de diversos fatores, todos ligados ao envolvimento de cada um com o mundo das aparências, alguns autores de temas metafísicos dão o nome de "estados de consciência" a cada uma dessas supostas graduações de receptividade.

As palavras são meramente expedientes que buscam elucidar uma idéia. Se, por um lado, essas explicações agradam ao intelecto humano, por tratarem de algo aparente, por outro lado, se não ficarmos atentos, teremos o endosso de que a ILUSÃO existe! Que é ilusão? A crença na inexistência! A VERDADE ABSOLUTA É CLARA: DEUS, A CONSCIÊNCIA ILUMINADA, É A ÚNICA CONSCIÊNCIA.

Assim, por mais que os supostos "estados de consciência" pareçam existir, são todos ILUSÃO! Aceitá-los como existentes, quando estudamos a Verdade Absoluta, seria negar a BASE do estudo: a UNIDADE.

Por difícil que possa parecer, devemos deixar de lado todas as "diferenças humanas", baseadas no "julgamento segundo as aparências". Disse Jesus: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos." (Mateus 11:25).

Há pessoas que justificam a permanência de seus problemas com argumentos do tipo: "Eu não pude elevar a minha consciência o suficiente para resolvê-los". Este é o perigo de encararmos os "estágios de consciência" como existentes! Somos levados a acreditar que tudo depende de nossa elevação de consciência, quando, na verdade, nossa posição é a de nos tornarmos receptivos à atuação da Consciência única, que é Deus. Jamais a suposta "mente humana" se elevará à Consciência divina, assim como jamais a escuridão atingirá a luz. A "mente humana" é NADA! As curas espirituais e a solução espiritual para todos os tipos de problemas não dependem de nada que seja ilusório; assim, independem dos chamados "estados de consciência". Para explicar esta Verdade, disse Jesus: "O Pai, que permanece em mim, faz as obras".

A compreensão deste princípio é fundamental, pois nele está implícito o motivo de não haver esforços mentais na prática da Verdade. Não meditaremos para "elevar a consciência", e sim para "aguardar a descida do Espírito Santo", ou seja, a revelação espontânea de que a Consciência infinita já é a nossa única Consciência individual. O Caminho não é o do "esforço", mas o da "dedicação". Iremos nos dedicar a manter a mente voltada para o nosso íntimo, para o Reino de Deus "dentro de nós". Aos olhos da crença, estaremos "evoluindo"; porém, aos nossos olhos, estaremos somente reconhecendo continuamente a nossa verdadeira e única IDENTIDADE DIVINA.

A mente ilusória estabelece, por exemplo, diferentes estados de consciência para um religioso e para um ladrão; além disso, aceita que estamos em constantes flutuações mentais, ora calmos, ora nervosos, etc. Precisamos sair desta esfera de crenças mortais, abrindo-nos à AÇÃO ÚNICA do Absoluto! TODOS OS SERES JÁ SÃO ILUMINADOS! TODOS SÃO O FILHO DE DEUS! Este reconhecimento é o ponto de partida, caso contrário, inexiste estudo da Verdade. Se formos "julgar segundo as aparências", os princípios espirituais não terão qualquer propósito. Deles nos utilizamos justamente para que as aparências sejam transcendidas. Que significa "transcender as aparências"? Significa RECONHECER a Onipresença de Deus e o puro NADA que são a "mente humana" e todos os seus supostos "julgamentos".

Habituando-nos à meditação correta, sabendo aguardar, aguardar e aguardar em silêncio e quietude, com a Mente em contemplação direta da Realidade iluminada já presente, perceberemos que jamais estivemos separados de Deus. E esta comunhão consciente surgirá também visivelmente COMO condição de harmonia nos vários segmentos de nossas vidas.