"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, novembro 30, 2016

Diálogos conscienciais: Meditar, perceber e Amar!



- Núcleo -


De que forma o Amor está relacionado à meditação?

A resposta pode ser obtida através do compartilhamento a seguir de um diálogo entre a "mente" e a "Consciência", entre o "homem" e "Deus", entre o "personagem" e o "Ser”.

Personagem: O que é meditação?
Ser: Meditação é percepção.

Personagem: Como faço para aprender a meditar?
Ser: Meditação é percepção. Você já está percebendo…

Personagem: O que estou percebendo é que sou um ser humano que quer aprender a meditar.
Ser: Quem medita percebe que não é um ser humano…

Personagem: Se já estou percebendo, mas eu não percebo que não sou um ser humano, quem é o eu que está percebendo?
Ser: É seu Eu verdadeiro; é Quem já está percebendo…

Personagem: Se não percebo meu Eu verdadeiro, que é Quem já está percebendo, como posso percebê-lo?
Ser: Meditando…

Personagem: Mas o que é meditar?
Ser: Meditar é perceber…

Personagem: Parece que voltamos ao início! Meditar é perceber… Espere um momento… perceber o que?
Ser: É apenas perceber…

Personagem: De fato já estou percebendo algo!
Ser: Sim, foi o que Eu disse, você já está percebendo…

Personagem: Mas estou percebendo apenas o meu mundo, o que todos percebem com os cinco sentidos de percepção.
Ser: É o que você já está percebendo…

Personagem: Mas eu quero perceber a Realidade Divina, não a realidade humana, que os iluminados dizem que não é real. Como posso perceber a Realidade Divina?
Ser: Há apenas uma realidade, que é percebida meditando…

Personagem: Eu me rendo! Não consigo sair disso. Sei que não vai adiantar eu perguntar novamente o que é meditar…
Ser: Não é preciso se render, apenas siga a direção correta…

Personagem: Mas minhas perguntas acabam sempre voltando ao mesmo ponto…
Ser: Mesmo no nível das perguntas, no nível da mente, faça a pergunta correta! Não desista!

Personagem: Está bem. Vamos lá… O que é meditação?
Ser: Já dei esta resposta. Meditação é percepção.

Personagem: Perguntei como faço para aprender a meditar?
Ser: Já dei esta resposta também. Quer que a repita?

Personagem: Não. Quero saber qual a pergunta correta aqui?
Ser: Quando disse que meditar é perceber… já dei a deixa… abri todas as possibilidades a você.

Personagem: Por que em vez de “dar a deixa” você não me diz logo qual o caminho a seguir para eu poder meditar?
Ser: Porque é você que escolhe o caminho que quer seguir… Suas escolhas definem a realidade de quem você está sendo. Escolhas não alteram a possibilidade de meditar e perceber. A possibilidade de meditar e perceber estará sempre a sua disposição!

Personagem: Você disse que meditar é apenas perceber…
Ser: Sim, é apenas perceber…

Personagem: Se é apenas perceber… e não é perceber algo, o que você percebe?
Ser: Percebo apenas a Mim mesmo!

Personagem: Mas você está me percebendo, já que estamos tendo um diálogo!
Ser: Sim, estou te percebendo em Mim mesmo…

Personagem: Como assim, me percebendo em você mesmo? Não estamos separados? Não tenho realidade fora de você?
Ser: Não estamos separados, percebo apenas a Mim mesmo! E somos Um só!

Personagem: Já sou você e estamos vivendo a mesma Vida? Se é assim, porque não estamos vivendo a mesma realidade?
Ser: Só há uma Vida, Eu sou essa Vida e estamos vivendo esta Vida. Mas a realidade que você vê vem de um tipo de percepção e a realidade que vejo vem de outro…

Personagem: Então refaço a pergunta sobre a percepção! Você disse que meditar é perceber e então perguntei: Perceber o que? Refaço a pergunta: Que tipo de percepção?
Ser: A percepção que resulta em uma ação consciente.

Personagem: Que ação consciente? O que devo fazer?
Ser: De início perceba que perguntas e respostas estão na percepção da mente… Não se detenha nesse nível. A percepção que se expressa numa ação consciente pode ser expandida ao infinito. Saiba: Estou sempre meditando, sempre percebendo a Mim mesmo e a Minha Realidade, que é a nossa, a única. Somos Um, por isso você pode Me perceber, ou seja, você pode perceber-Se. Quando você imerge em Mim e Me percebe, percebe que em realidade Sou Eu Quem está Se percebendo… Neste sentido, nunca há alguém além de Mim que Me percebe… Sou sempre Aquele que medita, Aquele que percebe! Por isso disse que: “Quem medita percebe que não é um ser humano”.

Personagem: Um mestre deu a entender num poema que sou fruto da Sua imaginação… Eu sou fruto da Sua imaginação?
Ser: Que mestre deu a entender isso?

Personagem: Você não sabe que mestre?! Como é possível você não saber se somos Um; se estou em você?
Ser: Quem disse que não sei? Apenas perguntei que mestre deu a entender isso, porque sei que outros lerão este nosso diálogo e eles saberão a quem e ao que você está se referindo. Assim poderão acompanhar melhor este diálogo.

Personagem: Percebo… Bem, o mestre a que me referi é Meher Baba em seu poema "O amante e o Amado", onde ele escreve:

Deus é amor. E o amor deve amar. E para se amar deve haver um amado. Mas como Deus é Existência infinita e eterna, não há ninguém para Ele amar além Dele mesmo. E para poder amar a Si mesmo ele deve imaginar-se como o amado a quem Ele como o amante imagina amar. A relação amado e amante implica separação. E a separação cria anseio e o anseio resulta em procura. E quanto mais ampla e intensa é a procura maior será a separação e mais terrível será o anseio. Quando o anseio é o mais intenso a separação está completa e a finalidade da separação, que tinha a finalidade de permitir que o amor pudesse experimentar a si mesmo como o amante e o amado, é cumprida; e a União é o que resulta. E quando a União é atingida, o Amante vem a saber que o tempo todo ele próprio era o Amado a quem ele amou e com quem desejou a União e que todas as situações impossíveis que Ele superou eram obstáculos que Ele mesmo colocou no caminho para Si mesmo. Atingir a União é tão incrivelmente difícil porque é impossível tornar-se o que você já é! A união não é nada além do conhecimento de si mesmo como o Sujeito Único.

Eu me refiro ao trecho em que ele escreveu: “E para poder amar a Si mesmo ele deve imaginar-se como o amado a quem Ele como o amante imagina amar”Por isso fiz a pergunta se sou fruto da Sua imaginação?

Ser: Estamos falando da ação consciente que resulta da percepção. Como disse, estou sempre meditando, sempre percebendo a Mim mesmo. A Minha Realidade resulta deste tipo de percepção que produz sempre uma ação consciente e muito amorosa. O Amor é a Minha Realidade e você é a expressão do Amor!

Personagem: Sou expressão do Amor de Deus! Então, o que alguém deve fazer para “ver” em sua realidade esse Amor?
Ser: Aceita uma resposta breve?

Personagem: Sim, claro!
Ser: Deve Amar!

Personagem: Nossa, resposta muito breve! O que é Amar?
Ser: Amar é o Verbo que expressa a ação de alguém que percebe Quem somos.

Personagem: Está dizendo que nós somos Um e devemos perceber isso para amar?
Ser: Não. Eu já percebo isso por todos nós e estou compartilhando o que percebo. Você deve amar para “ver o amor”, perceber o que percebo; e para viver a Minha realidade!

Personagem: Por onde começar a amar?
Ser: Comece se harmonizando com “o céu e a terra”! Ou seja, harmonize-se com todos os seres, com tudo que percebe em sua realidade!

Personagem: Efetivamente como fazer isso?
Ser: Note que o tipo de percepção de que estamos falando não implica necessariamente em fazer algo. Você pode estar fazendo algo ou não e mesmo assim “amando o que faz” e “interagindo comigo”. É agindo assim, ou seja, amando que se ativa esta percepção! A chave é: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como ama a você mesmo.

Personagem: Sim, eu sei, sei do que trata este diálogo sobre amor e a percepção… Sei que podemos interagir como estamos interagindo e ter a percepção de “Quem” Sou. Nesta percepção instantaneamente Eu Me “percebo” e todas as perguntas e respostas cessam. A bem-aventurança advém desta percepção oceânica na qual tudo Se revela como o Ser Real que tudo É…
Ser: Então você Se percebe…

Personagem: Não. Percebo que não sou eu…; ao menos não esse eu que pergunta… Ocorre exatamente o que você disse! Você Se percebe!
Ser: Sim, percebo que somos Um!

Personagem: Posso compartilhar este diálogo com todos eles?
Ser: Com todos eles? Por enquanto compartilhe apenas comigo…

Personagem: Mas agora estou te percebendo em todos eles…
Ser: Então compartilhe com todos eles!

Assim sendo, por estar harmonizado com “o céu e a terra”;
Por perceber o que estou percebendo [ Deus em cada um ];
Por desfrutar o que estou desfrutando [a percepção divina],
Compartilho esse diálogo com a divindade, com o Mestre…
Com Aquele que apareceu como leitor!
Com Aquele que pode ainda aparecer como vários outros…
Percebo o Mestre em todos!
E a todos agradeço!


domingo, novembro 27, 2016

Aos "divinos personagens"!

- Núcleo - 

Divinos personagens,

Sempre que uma pessoa comenta e enfatiza um texto já compartilhado, ela está ativando a percepção consciencial. Ao desfrutar o que percebeu do texto e compartilhar a sua própria ênfase, ela está dando um belo exemplo de como ativar esta percepção!

A propósito...

Sabem por que este meu atual "personagem" os chama de "Divinos personagens"?

Porque em verdade é quem todos estamos sendo nesta representação divina chamada de universo material!

Sim, na "Representação" somos todos "personificações do Ser", que é o único Ser Real, a única "Realidade".

Assim, a "Representação" é o cenário no qual surgem os "personagens". E tendo sido a "Representação concebida pelo Ser Real, que é Deus, Seus personagens são todos "seres divinos", ou seja, todas as personificações de Deus são originariamente e essencialmente seres divinos, que na "Representação" concebida por Deus, e por isso divina, aparecem como os personagens divinos.

O algo a ser percebido ou conscientizado é que a "Representação" é tida como "Realidade" pela mente do personagem!

Atentem bem! A Representação não é algo real! Mas por ser uma representação divina, ou seja, uma representação concebida por Deus, ela é percebida pela mente, ou seja, pela mente do personagem como sendo algo real, como sendo a realidade. Porém, a única Realidade é Deus!

E Quem percebe isso; Quem percebe que a única Realidade é Deus?

Apenas Deus! O Ser Real.

E como Deus percebe isso?

Com Sua própria Consciência!

É esse o ponto a ser notado!

A percepção de "quem estamos sendo" é a percepção da "mente do personagem" que estamos representando;

A percepção de "Quem somos" é a percepção da "Consciência do Ser" que realmente somos.

Ocorre que a Consciência do Ser, que é Deus, é onipresente! Inclusive na "Representação divina"!

Você está vendo a manifestação visível do invisível em tudo o que vê...

Ou seja: Você está vendo a manifestação visível do Ser Real, que é invisível, em tudo o que vê.

Isto ocorre porque você está vendo a manifestação do Ser Real com a visão da mente de quem está representando...

Mas quem você está representando é quem "você está sendo", não Quem "você É".

Em outras palavras, sua real identidade não é a do personagem divino que você está sendo (representando), mas sim, é a do Ser Real que você realmente É!

Assim, não há necessidade de "buscar espiritualmente" por sua Fonte, mas apenas de "perceber espiritualmente" que a Fonte é Quem você É!

A busca espiritual parte de um pensamento de separação entre personagem e Ser...

A percepção espiritual parte de uma percepção de unidade entre personagem e Ser!

A primeira parte de um pensamento e se debate;

A segunda parte de uma percepção e se aquieta...

O pensamento projeta a dualidade;

A percepção reconhece a Unidade!

Enfim, este meu atual "personagem" os chama de "Divinos personagens" porque percebe que em verdade é quem todos "estamos sendo" nesta "Representação divina"...

E Quem percebe isso em mim é Quem sou...

Quem Sou é na Realidade Quem todos Somos!

É o que percebo, desfruto e compartilho.

Saiba que, ao perceber Quem você realmente É, instantaneamente perceberá Quem todos Somos. E perceberá claramente Quem percebe em você!

Por perceber Quem percebe em mim; por perceber que é o Ser Real Quem percebe e que por isso esta percepção é possível a todos os "divinos personagens" é que desfruto e compartilho.

Namastê!

quinta-feira, novembro 24, 2016

O Tempo e a Eternidade

- Núcleo - 


Quem Eu Sou é o tempo e a Eternidade …
Em outras palavras…
Quem Eu Sou é o tempo (representação divina) e a Eternidade (Realidade Divina)
Não há exceção da divindade…
Há apenas onipresença!

Não há espaço vazio onde parece haver…
Não há solidão onde parece haver…
Não há nascimento, envelhecimento, doença ou morte, onde parece haver…
Há apenas Deus, o Ser Real;
Há apenas a divindade onipresente!

Onde parece haver ódio, Eu Sou o perdão…
Onde parece haver tristeza, Eu Sou a alegria…
Onde parece haver desespero, Eu Sou a esperança…
Eu Sou a Realidade por trás da representação!

O Amor é o Caminho para Me ver…
Eu Sou esse Amor divino!
Eu Sou o Caminho!
Eu Sou Quem ama…
Eu Sou Quem é amado…

Apareço como passado e futuro…
Mas Eu Sou o eterno presente!
Assim como apareço como você…
Mas Eu Sou Quem Eu Sou!

Você e Eu parecemos ser dois…
Mas Somos Um só Ser!
Você parece ser real…
Mas sua realidade Sou Eu!

Sim,
Sou o tempo e a eternidade…
A representação e a Realidade!


segunda-feira, novembro 21, 2016

Estudo Bíblico pela visão do Núcleo

- Núcleo -


Para início desse estudo vamos à questão das terminologias utilizadas. 

Para isso remeto os leitores deste post à leitura do que foi exposto na série “Preleções Nucleares – A Unidade Essencial”, publicada no blog Templo dos Iluminados, em especial ao início da explanação sobre a tabela sinótica com o esquema de duas colunas, no qual na coluna Um, no item 4, está o termo “Consciência” enquanto que na coluna dois, está no item 4 o termo “mente”.  Acessem: 

http://busca-espiritual.blogspot.com.br/2013/06/prelecoes-nucleares-unidade-essencial-23.html

Para se ter uma ideia da importância de se distinguir a terminologia usada pelos vários autores de ensinamentos espirituais, notem que Joel Goldsmith no Capítulo V do seu livro “O caminho infinito”, cujo título é A Alma, de início a define como sendo a Realidade do Ser. Contudo, ao longo do livro o termo “mente” é utilizado tanto para se referir à “Mente” de Cristo como à “mente” humana.

Para evitar ambiguidade no Núcleo usamos o termo “Consciência” para nos referir à “Mente de Cristo” e o termo “mente” para nos referir à “mente humana”.

Assim, há dois referenciais pelos quais podemos perceber algo: pela mente ou pela Consciência. Joel Goldsmith utiliza o termo “consciência material” quando se refere à percepção pela mente; por vezes usa também o termo “sentido material”, “sentidos finitos” etc., e usa o termo “consciência espiritual” quando se refere à percepção com os sentidos da Alma.

Se por um lado podemos perceber algo pela mente ou pela Consciência, aquilo que vemos como sendo a realidade que surge diante de nós é completamente diferente! Isto porque o que percebemos com a mente é a realidade aparente… Mas o que vemos com a Consciência é real. Essa diferença se torna perceptível e evidente quando vemos com a Consciência! A essencial e maior diferença entre estas visões é que apenas na visão da Consciência torna-se evidente que não há nada além de Si mesma; não há nada além da própria Consciência, pela qual fica evidente que tudo é expressão da própria Consciência de um Ser Único e Real.

Por isso a terminologia usada no Núcleo usa as expressões “Consciência do Ser” e “mente do personagem” para deixar ainda mais evidente que a única percepção que apreende o Real é a percepção da Consciência, a “percepção consciencial”. 

Assim a percepção mental vela nossa real identidade forjando uma identidade aparente [a de um personagem], enquanto a percepção consciencial desvela nossa real identidade.

Não devemos, contudo, descartar a percepção da mente, que é a percepção com a qual, enquanto representando nossos “personagens”, percebemos a realidade deste “mundo” porque há uma beleza incomensurável neste nosso mundo quando percebemos o que ele realmente é: Uma expressão magnificente da Glória de Deus! E ao mesmo tempo percebemos que é Deus mesmo em nós Quem nos faz conscientes dessa Sua Glória! Perceber “Quem faz” é em si algo glorioso! Esse é o ponto central que quase sempre não é notado com a devida atenção pelos seguidores de qualquer ensinamento espiritual, ou seja, o fato de que só é possível ver a Glória de Deus através de Sua própria visão!

Foi isso o que Jesus ressaltou quando Simão Pedro o reconheceu como Filho de Deus.

Vejam esta passagem:

“E, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Ao que Jesus lhe afirmou: “Abençoado és tu, Simão, filho de Jonas! Pois isso não foi revelado a ti por carne ou sangue, mas pelo meu Pai que está nos céus.” (Mateus 16)

No budismo se diria: Somente Buda vê Buda.

Masaharu Taniguchi escreveu: “O mundo da Imagem Verdadeira criado por Deus [mundo da Consciência do Ser] é perfeito e harmonioso, não existindo qualquer mal. Esse mundo existe aqui, neste momento, mas os cinco sentidos carnais não conseguem percebê-lo. Somente a pessoa que desperta aquilo que poderíamos chamar de percepção da Imagem Verdadeira [percepção do Eu Verdadeiro ou percepção da Consciência do Ser] é que consegue ver mentalmente esse mundo perfeito.” [Leia-se “mentalmente” através da visão da “Mente” do “Eu Verdadeiro”. Segundo a terminologia usado no Núcleo diz-se “consciencialmente”]. [Do livro: “Imagem Verdadeira e Fenômeno”, página 53 – SNI]

Independente da terminologia utilizada importa o fato de que podemos apreender o universo que se apresenta a nós com nossa visão ou percepção mental ou com nossa visão ou percepção consciencial. Nosso propósito nesse estudo bíblico é enfocarmos a visão ou percepção consciencial.

O objetivo deste estudo é elucidar que podemos ler a Bíblia do ponto de vista da mente, ou seja, de nossa identidade humana, representada pela segunda coluna na tabela sinótica ou esquema de duas colunas da Unidade Essencial, ou do ponto de vista da Consciência, de nossa identidade divina, que é representada pela primeira coluna. Notamos, entretanto, que a leitura do ponto de vista mental nos dará um enfoque temporal da mensagem divina, ou seja, uma visão de que as coisas acontecem apenas como a mente concebe a realidade, numa percepção de passado/presente/futuro. Por outro lado, a leitura “consciencial” da mesma mensagem divina nos possibilita uma visão “atemporal”, na qual tudo existe num “eterno presente” e, assim, percebemos que a Bíblia é realmente uma revelação divina, algo que nos desperta e nos faz imediatamente conscientes de que Deus é a essência do nosso próprio Ser, e que de fato “vivemos, nos movemos e temos nossa existência em Deus.” (Atos 17:28).

O objetivo deste estudo é enfocar esta percepção.

Então, muitas passagens bíblicas que não têm sentido do ponto de vista mental, passam a ser percebidas como revelações essenciais sobre a natureza da realidade do Ser Real, de Quem realmente somos quando nos identificamos não do ponto de vista da mente, mas sim, da Consciência. Em João 8:56, Jesus relata uma “percepção consciencial” de Abraão. Sobre este relato os judeus perguntaram a Jesus: "Ainda não tem cinqüenta anos e viste Abraão?". Perguntaram isto porque Jesus não poderia ter conhecido Abraão, que viveu centenas de anos antes de todos eles, fato que do ponto de vista mental era algo lógico e evidente para todos os presentes naquele encontro, menos para Jesus, que, mesmo sabendo que todos ali o percebiam apenas mentalmente, não retirou o que disse e declarou: “Antes que Abraão existisse Eu Sou”. Esta declaração de Jesus sobre sua real identidade é essencial para o nosso estudo, por ser uma revelação consciencial. Ela significa não apenas que Jesus tem a percepção de sua real identidade real como Cristo, o Filho de Deus, a qual por ser atemporal existe antes do dia do encontro com os judeus, registrado nesta passagem, como significa, também, que existe antes do próprio Abraão. As mentes daqueles personagens todos, os judeus, não conseguiram assimilar a verdade revelada por Jesus. Isto os irritou bastante, e diz a Escritura que eles pegaram em pedras para apedrejá-lo, mas que Jesus se ocultou e retirou-se do templo.

O que importa para nós neste estudo não é condenar os judeus por sua revolta contra Jesus, mas sim, observar que eles agiram mentalmente e, então, não conseguiram assimilar a verdade declarada por Jesus; e, que não devemos proceder da mesma forma. Mas, o ponto mais importante desta passagem está em percebermos que a revelação de Jesus é consciencial. Ela diz respeito à identidade do Cristo, que é atemporal, ou seja, não está limitado à existência no tempo de Jesus, no tempo de Abraão ou mesmo antes de Abraão. Ela não pode ser percebida da forma como a mente concebe a realidade, como algo cindido em passado, presente e futuro. É a realidade eternamente presente.

Cristo declarou EU SOU e, portanto, ele continua sendo real e presente AGORA! No entanto, isto só é possível ser percebido consciencialmente. Jesus é o exemplo perfeito do ponto de vista da mente, que vê a representação divina e muitos personagens, de um personagem divino consciente de Quem ele é. Como personagem Ele é o próprio Deus “aparecendo como” no mundo dos personagens, para que todos os que nele crerem, ou seja, todos os que perceberem consciencialmente Quem ele É, sejam “Um” com ele, assim como ele é “Um” com Deus (João 17:22). Esta é uma declaração consciencial, na qual Jesus ora a Deus para que todos percebam o que ele percebe e que sejam o que ele é, para que percebam quem eles também são e que não permaneçam em pecado. Pecar é estar se vendo separado de Deus e, em termos bíblicos, é “pender para a carne”; é “cogitar das coisas da carne”, ou seja, é pender para a mente e permanecer nela. E o maior pecado é negar a existência do Espírito de Deus em nós. Aquele que assim procede “já está julgado”, porque a percepção consciencial está no Espírito, em nossa identidade e natureza divina. Quando a negamos (negar é fazer um julgamento, é estar na percepção mental), nós impossibilitamos que ela se revele e, assim, estamos condenando a nós mesmos a viver percebendo tudo mentalmente, nos isolando da Consciência do Ser em nós, ou seja, nos condenando a não perceber a Onipresença divina, o Espírito Santo, que é perceptível consciencialmente.

Nosso estudo tem o objetivo de nos livrar deste mal, a visão puramente mental da vida. E, então, compreenderemos porque Jesus pediu a Deus, não que nos tirasse do mundo (onde vivem os personagens, que são divinos quando percebidos consciencialmente), mas sim que nos livrasse do mal, desta visão apenas mental que não nos dá uma vida consciente da nossa unidade com Deus. (Jo 17:15)

Para finalizar este nosso estudo, vamos a uma passagem bíblica:

“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.” (1 Jo 3:2)

Apenas quando permitimos que o Espírito de Deus se manifeste em nós, ou seja, quando escolhemos agir conforme a percepção da Consciência do Ser em nós, é que percebemos “Quem” faz, “Quem” está diante de nós e “Quem” realmente somos.

Até então nós estamos na percepção mental, ou seja, estamos alheios à percepção da Consciência. Nós nos mantemos “inconscientes” de Deus e não sabemos o que fazemos.

Por isso Jesus, mesmo estando sendo crucificado, pediu a Deus que perdoasse seus ofensores, porque estava consciente de que eles não sabiam o que estavam fazendo!

A visão consciencial de Jesus muitas vezes surpreendeu e chocou a muitos. Isto fica claro observando a seguinte passagem bíblica:

Novamente, os judeus pegaram pedras para apedrejá-lo e ele lhes perguntou: “Tenho vos mostrado muitas obras boas da parte do Pai, por qual delas querem me apedrejar? Então, lhe responderam os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, tu sendo homem te fazes Deus a ti mesmo”. (Jo 10:33).

Aqui também não devemos condenar os judeus, mas sim perceber que aqueles judeus só estavam percebendo Jesus mentalmente e estavam reagindo mentalmente. No Núcleo dizemos: “O que você prefere? Reagir ao personagem ou interagir com o Ser?” O que acontece é que quando escolhemos “reagir aos personagens” imediata e inadvertidamente nós estamos “agindo mentalmente”, exatamente como aqueles judeus e romanos fizeram!

Para “interagirmos com o Ser” precisamos “ouvir a voz da Consciência do Ser” em nós, e, para isso, precisamos nos dar um tempo, ainda que breve, devemos nos silenciar. Foi o que Jesus ensinou com um ato quando lhe trouxeram a mulher flagrada em adultério, para terem de que o acusar. Então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão… Como insistissem na pergunta Jesus levantou e disse: Quem estiver sem pecado seja o primeiro a atirar pedra…

Está escrito:

"Eles falavam assim para prová-lo e terem alguma coisa de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo, como se não tivesse ouvido. Porque insistiram na pergunta, Ele se levantou e lhes disse: 'Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.' E, novamente, inclinou-se e escrevia na terra.” (João 8: 6-8)

Notamos que Jesus se deu um tempo antes de simplesmente reagir aos personagens… E é o que devemos fazer antes de agirmos impulsivamente, ou seja, reagir ao personagem.

Por fim, quando acusaram Jesus de blasfemar por se dizer Filho de Deus ele se defendeu dizendo que Quem disse que somos todos filhos do Altíssimo foi o próprio Deus e ainda  enfatizou que a Escritura não pode falhar! (João 10.34-35)

Contudo, enquanto agimos guiados apenas pela mente estamos inconscientes de nossa relação com Deus. Somente quando passamos a ouvir e a nos guiar pela Consciência é que nos tornamos conscientes de nossa origem e filiação divina. A Bíblia Sagrada diz isto claramente (e como afirma Jesus a escritura não pode falhar) da seguinte forma: “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” (Romanos 8,14).

Eis a finalidade deste estudo bíblico, sermos guiados pelo Espírito de Deus em nós e agirmos conforme nossa real natureza e identidade de verdadeiros Filhos de Deus!

A paz seja com todos!


sexta-feira, novembro 18, 2016

Quem está na Consciência do Ser é o próprio Ser

- Núcleo -


Pergunta:  Seria correto dizer que "Deus é a Consciência onde todas as coisas aparecem"? E se Deus for a Consciência onde tudo aparece, as coisas que aparecem nela  na Consciência de Deus  também são Consciência/Deus?


Resposta: Você perguntou: "Estaria correto dizer que Deus é a Consciência onde todas as coisas aparecem?”

O mundo onde as coisas "aparecem" é aquele que a mente humana "vê". Em Deus, na Consciência do Ser, todas as coisas "são": você É, nós SOMOS. Estaria correto dizer que "Deus é a Consciência onde todas as coisas SÃO."

E você também pergunta: "as coisas que aparecem na Consciência que Deus é também são Consciência/Deus?"

Na Consciência do Ser não existem "coisas". Tudo o que É é o próprio Ser que Deus É manifestando-se como. Na percepção consciencial não há percepção de nada além de Deus, além do próprio Deus que Deus É, além do próprio Ser que o Ser É.

As manifestações do Ser, numa multiplicidade de formas, são o próprio Ser Real. No universo da Consciência do Ser há uma multiplicidade de seres, todos eles são o próprio Ser em diferentes manifestações. Em todo o universo só há o "Ser Real"Só Deus é Real. "Eu Sou" (eu sou pleno) é a percepção de Deus, o Ser único.

Mesmo no nosso mundo, nesse "universo que a mente do personagem percebe" também tudo é Deus, porém a mente projeta a dualidade, ela percebe muitos onde só há Um. "Estive preso e fostes Me visitar, tive fome e Me destes de comer".

"Homem: Suba a montanha!". Eleve-se em espírito. "Desperta, tu que dormes; Ergue-te do leito, e o Cristo (O Cristo do teu Ser) te dará luz (te proporcionará a visão unitária, a percepção da unicidade de tudo)."

Todas as perguntas e dúvidas provém da mente dos personagens; as respostas estão na Consciência do Ser. As perguntas "parecem" provir de seu personagem humano (que levantou a pergunta) e as respostas "parecem" ser dadas por mim, que estou lhe falando. Mas "só há um de nós".

Nós estamos contracenando com a divindade, num universo divino, onde só Deus é real. Se parece haver "você", se parece haver um "eu" (o que está respondendo à pergunta feita por você), e se parece haver alguém mais que esteja lendo esse diálogo entre mim e você, tudo não é o que parece.

Contemple o "Ser Real" aparecendo como um personagem, num cenário divino e perceberá que você não é o personagem (não é o que aparece); você é o Ser que está observando o cenário e os personagens que contracenam. Saia do espelho! Tudo o que está no espelho do "mundo visível pela mente" não é o que parece. A mente é a percepção do personagem que está "dentro do espelho", a visão do personagem. A Consciência do Ser é a visão do Observador, que Se percebe "fora do espelho". Essas percepções revelam realidades diferentes. O Observador percebe apenas a imagem de Si mesmo e seus reflexos no espelho, reflexos perfeitos, harmoniosos. Tudo o que Deus faz "é bom" (Deus criou o mundo e viu que tudo era bom). Mas, dentro do espelho, no mundo das imagens, no universo visto pelos personagens, no universo criado pela mente do personagem, Deus, o Ser Real, não é percebido. Nós existimos em Deus! Não há realidade fora do Ser. O que há é uma realidade aparente. É preciso transcender a mente para ouvir a Consciência Se expressar.

Transcender a mente é ativar uma percepção que está além dos cinco sentidos. Até que esta percepção seja ativada Deus não será percebido pelos sentidos da percepção mental: visão, audição, tato, olfato, paladar. Em contrapartida, quando esta percepção é ativada todos os cinco sentidos percebem a Presença de Deus em tudo! O mundo revela a maravilha que é, em toda a sua grandiosidade, tanto nas pequenas quanto nas grandes manifestações. Quando a Consciência do Ser é alcançada, então a vida do personagem se transforma, as "coincidências divinas" passam a se suceder no cotidiano, o suprimento vem, as maravilhas acontecem.

Cristo disse: "Eu vim para que tenha Vida em abundância"Cristo é Filho de Deus, Ele não vem da mente humana, Ele vem da parte do Pai, da Consciência do Ser, em nós. É preciso permitir que o "Filho de Deus" se manifeste em nós para que o "reino de Deus" (o Universo real, aquele que Deus criou) seja percebido por nós. Enquanto isso não acontece permanecemos no universo da mente (criado por nós). O universo aparente e mutável é o que a mente percebe, é aquilo que "parece" ser, é a interpretação que a mente dá às coisas. O Universo real é o que Deus criou (descrito no primeiro capítulo do Gênesis).

As manifestações mudam, mas é sempre o mesmo Ser, a mesma Fonte. Quando se contempla a indescritível beleza e imensidão do Oceano, está se percebendo a manifestação visível do Deus Invisível. Quando se contempla o céu, as estrelas, uma flor, a vida e inteligência que há nas plantas e nos animais, ou o movimento de uma folha ao vento, o equilíbrio do voo dos insetos; tudo isso está revelando o que está por trás, Deus Onipresente, Aquele que sempre É, de Eternidade à Eternidade. As diversas manifestações revelam apenas o mesmo Ser, em diferentes formas – uma infinidade delas. Em síntese, perceba Deus "aparecendo como", desfrute-O, contemple essa visão, ela é sua por herança divina. O Homem é "Filho de Deus". Então, seja o que você É, assuma sua real Identidade. Descarte a ilusão. Você é real.

Perceba o Real, contemple o Real, interaja com o universo como um Ser Espiritual que você É. Dirija-se ao Ser, à sua Realidade interna. Não procure nenhum mestre exterior, no mundo físico. Se surgir algum em seu caminho será Deus aparecendo em sua realidade visível, mas a percepção será a de que as respostas do mestre SEMPRE ESTIVERAM EM VOCÊ. São como os ensinamentos de Goldsmith ou de Jesus, que emergem de nosso Ser como verdades que não haviam sido antes percebidas, mas que se tornam plenamente compreensíveis, porque vêm da mesma Fonte interna do Ser, que está neles e que está em você. Quando você se dirige a Deus com suas dúvidas, Ele move o Universo para responder. Seus instrumentos poderão ser uma música, um encontro casual, um ruído, um texto, um livro, um e-mail ou mesmo o silêncio.

Esteja atento!


terça-feira, novembro 15, 2016

Um mergulho na imensidão oceânica do Ser!

 
 - Núcleo -



Há um Ser Real, Oceânico...
Deus é este Oceano de Luz, infinito e eterno. 
De Suas profundezas Deus emerge à superfície de Si mesmo como Ondas do Oceano...
O Ser oceânico, infinito e eterno, é Quem somos!

Quando imergimos nas profundezas, nos percebemos em Unidade com Deus.
Quando emergimos à superfície, aparecemos como Ondas do Oceano de Luz.
Assim, há apenas um Oceano de Luz e Ondas neste Oceano.

Na superfície sou uma Onda e nas profundezas, Oceano.
Quando emerjo Me percebo apenas como a Onda.
Quando imerjo Me percebo como o vasto Oceano.

Vi cada um de nós como essa Unidade oceânica e muitas Ondas.
Sei que esta é a nossa essência e Realidade, é Quem somos.
Saibam que vocês são todos Ondas de um Oceano de Luz.
É o que percebo, o que desfruto e o que aqui compartilho.


Divinos personagens,

Assim como há incontáveis ondas no oceano, há incontáveis personagens no Ser. Assim como o oceano se manifesta como incontáveis ondas e isso não altera Sua natureza e unicidade, o Ser se manifesta como incontáveis personagens e isso não altera Sua natureza e unicidade. Do ponto de vista de uma onda o oceano é imenso, mas há incontáveis outras ondas. Do ponto de vista de um personagem o Ser é imenso, mas há incontáveis outros personagens. Embora possa haver, do ponto de vista do oceano, incontáveis ondas, todas serão percebidas como manifestações do próprio oceano. E embora possa haver, do ponto de vista do Ser, incontáveis personagens, todos serão percebidos  como manifestações do próprio Ser.

Assim como o Ser se percebe como Único, os personagens se percebem como incontáveis. O Ser se percebe como real e os personagens se percebem como reais… Eis a representação divina! Os personagens se percebem como reais. Personagens não são seres reais, a não ser para si mesmos. Assim, a não ser na representação, ou seja, a não ser do ponto de vista dos personagens, a representação é real. Por ser uma representação divina ela é realística, ou seja, parece ser real para os personagens.

Assim, o universo material, por ser uma representação divina, ele é realístico, ou seja, parece ser real para os personagens. O tempo, por ser uma representação divina, ele é realístico, ou seja, parece ser real para os personagens. O espaço, por ser uma representação divina, é realístico, ou seja, parece ser real para os personagens. Os personagens, por serem representações divinas, eles são realísticos, ou seja, parecem ser reais para os personagens. Enfim, todo o cenário material, tempo, espaço e os próprios personagens, por serem representações divinas, eles são todos realísticos, ou seja, parecem ser reais para os personagens.

Há duas percepções possíveis, uma delas percebe o Ser Real; a outra, percebe a representação do Ser. A primeira percepção é real; a outra é realística. No momento em que perceber que a representação é o que é, ou seja, que é apenas uma representação, estará percebendo o real! Não haverá o que temer, pois ela já não será o seu Senhor e não te afetará como pode estar te afetando hoje. Você poderá inclusive descartá-la! O fim da representação não acarreta o fim do Ser, nem sequer o afeta! [Quem você É não é afetado por quem você está sendo!] No Núcleo temos falado sobre as duas percepções possíveis e temos enfatizado que a percepção que vê a representação e o realismo é a percepção mental; e que a percepção que vê o real é a percepção consciencial.

Na Bíblia, em sentido figurado, mas como uma profunda revelação, há a seguinte afirmação: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." (Ap 21:3-4)

As “primeiras coisas” a que se refere esta revelação bíblica é aquilo percebido pela mente, ou seja, é a representação, na qual existe mundo material, tempo, espaço e personagens.

O capítulo 21 do Apocalipse descreve “o novo céu e a nova terra”, e relata uma experiência consciencial de João. Há que se observar que no Núcleo temos enfatizado que por ser uma “experiência consciencial”, ela não pertence apenas a quem a teve, ou seja, não é válida somente para quem a teve, mas também, é válida para quem a percebe! As “experiências conscienciais” são percepções da realidade do Ser, e como tal são atemporais, são não espaciais, imateriais e impessoais. Isto quer dizer que as “experiências conscienciais” não são experiências da mente de um personagem, são revelações da Consciência do Ser Real [por isso são experiências conscienciais]. E uma vez vivenciadas, podem ser desfrutadas e compartilhadas com todos. Relatos de “experiências conscienciais” estão presentes nas Sagradas Escrituras de todas as religiões e devem ser assimilados consciencialmente. Não fará sentido analisar mentalmente uma “experiência consciencial”, e pretender contextualizá-la como sendo de alguém [personalizá-la]; ou como sendo de algum tempo [passado, presente ou futuro]; ou como sendo de algum lugar [um local na terra, ou no espaço].

Aceite com naturalidade, a princípio, a percepção mental, sem esforço, sem lutar contra a representação, sem negá-la, sem pretender desmascará-la. Apenas observe todo o cenário e os personagens. Observe seus argumentos, seus gestos, suas convicções e não julgue, apenas observe. Observe a tudo. Depois, siga adiante! Imerja-se em sua própria observação e a contemple! Sim, veja seu personagem observando a tudo.

Se seguiu estes dois passos [se observou a tudo sem julgar e se contemplou seu personagem observando a tudo] estará a um passo de meditar, de ter “uma experiência consciencial”! Note que sua parte vai apenas até aqui! Concentração e contemplação. Não pretenda ir além, não tente “meditar”, pois, não é a mente Quem medita, é a Consciência, e ela não é influenciada por nada que a mente [a percepção do personagem] possa fazer.

Quando você decide se concentrar e contemplar o cenário, parece ser você quem está “batendo à porta” da Consciência para que você tenha a “experiência de meditação”, mas não é isso o que realmente está ocorrendo. É algo muito mais divino. É algo além da imaginação! É o próprio Ser Real “Quem” está “batendo à porta” da sua mente e te convidando a deixá-la.

Do ponto de vista do personagem parece que ele se dirigiu ao Ser, mas, em verdade foi o Ser Quem se dirigiu ao personagem! Isto é assim porque todo o enredo do personagem é escrito pelo Ser. Como exemplo, um personagem de quadrinhos, como o “cebolinha” não dá um passo se o Maurício de Souza [se o Autor do personagem “cebolinha”] não o desenhar dando um passo! Assim o “cebolinha” só pode ter a percepção de que ele, “cebolinha”, é um personagem, se o Maurício de Souza escrever este enredo para o “cebolinha”. Mesmo assim, o “cebolinha” jamais terá “esta percepção” [A percepção consciencial é sempre do Autor, nunca do personagem]. É a “Consciência do Ser” Quem percebe “consciencialmente”, não a “mente do personagem”.

Apenas quando o personagem se volta ao Ser Real é que ele está prestes a perceber Quem realmente É. Em qualquer outra busca o personagem está se enveredando na representação. No momento em que percebe Quem É, percebe que não é ele, enquanto personagem, Quem percebe; mas sim, que é Deus Quem percebe; e que há apenas o Ser; que somente Deus é Real.

Este texto é endereçado aos que estão compartilhando a Verdade de si mesmos, a percepção de sua real identidade! Nesta visão não há porque deixar de estar na representação. Nós não somos “personagens”; essa não é nossa real identidade! Somos Quem sempre fomos, Quem sempre seremos! Sabemos que "antes que houvessem personagens, nós somos"! Cada um de nós É Quem realmente É. Somos o Ser Real, a divindade atemporal.

O que muda entre nós, enquanto personagens, é a percepção deste fato! Muitos estão completamente imersos na ilusão, e se vêem separados de Deus, se imaginam “filhos pródigos”. Outros se vêem imersos em Deus, e se percebem “Filhos de Deus”! O que muda é a percepção que cada um quer ter, não o fato em si, pois, a única realidade, a “real identidade” de todos é Deus!

A humanidade sempre teve esse conhecimento. Krishna veio ao mundo e revelou este conhecimento divino; Buda veio ao mundo e revelou este conhecimento divino; Jesus Cristo veio ao mundo e revelou este conhecimento divino. Muitos mestres, como Yogananda, Ramakrishna, Ramana Maharishi e Masaharu Taniguchi vieram ao mundo e revelaram este conhecimento divino. Não é um conhecimento novo, nem uma “verdade nova”. Trata-se apenas de uma “revelação da Fonte”, uma “revelação do Núcleo”. Todos os que convergem para esta Fonte têm esta percepção. É uma percepção para ser desfrutada e compartilhada entre todos, não para ser imposta, mas apenas para ser vivenciada.

Assim, os que estão no Núcleo não devem ter a intenção de reunir seguidores de uma nova doutrina ou de uma nova religião, mas sim, devem ter a intenção de compartilhar com aqueles que quiserem, de todas as religiões, esta visão da divindade!

Afinal, não faz diferença para Deus que o personagem esteja na representação percebendo apenas a representação, mas, faz enorme diferença para o personagem que ele esteja na representação percebendo a divindade! É a diferença entre estar “vivendo o que a mente concebe” ou “vivendo o céu”!

Por fim, lembro esta revelação do Cristo, a divindade que “apareceu como” o divino personagem, o Filho de Deus: O “reino de Deus” está dentro de vós! O Ser Real é o “Oceano de Luz e Bem-aventurança”! E no Núcleo desfrutamos a imensidão deste Oceano. Glorifiquemos a Deus por compartilhar esta percepção!

A paz seja com todos.

Muito obrigado.


 

sábado, novembro 12, 2016

Desperte! Perceba!

- Gustavo -

“O único saber necessário é que nenhum saber é necessário.

O único aprendizado necessário é aprender que nenhum aprendizado é necessário.

Ser quem você é em sua totalidade não requer nenhum saber, nenhum aprendizado, requer apenas que você seja – Aquilo que você já é”.


O estado de iluminação é o estado de consciência tido como meta por muitos de nós. Em geral nós, os personagens, pensamos que devemos fazer ou deixar de fazer algo a fim de podermos alcançar esse estado transcendente e beatífico de consciência. Julgamos existir uma consciência adormecida que deve ser desenvolvida, despertada ou mesmo iluminada. Acreditamos não termos a “percepção mística” tão amplamente falada e comentada pelos mestres iluminados e pelas escrituras. E a partir de todos esses julgamentos, pensamos ser necessário fazer ou deixar de fazer alguma coisa a fim de podermos obter, acionar ou ativar a percepção consciencial. Muitos de nós, personagens, utilizamos os mais variados métodos e artifícios a fim de conseguir atingir ou ativar essa percepção. Todavia esse é um procedimento equivocado. E aqui será esclarecido por quê.

Em se tratando da Consciência do Ser (e de todas as coisas relacionadas à Consciência do Ser), o personagem é impotente. É impotente por ser ilusório, irreal. Ele (o personagem) não vive, mas pensa que vive. Ele não está no controle, mas pensa que está. O personagem pensa que tem o poder de fazer suas ações contarem, mas elas não contam.

Considere o seguinte exemplo: Todos conhecemos as historinhas da "Turma da Mônica". Nessas histórias acompanhamos a vida de vários personagens como a Mônica, o Cebolinha, o Cascão e a Magali. Podemos notar claramente o que todos esses personagens são: apenas personagens. Os personagens são irreais, e existem apenas na dimensão de realidade dos quadrinhos. Um personagem fictício, como a Mônica ou o Cebolinha, não vive e não percebe a realidade onde vive o Maurício de Sousa, o autor das historinhas. Podemos compreender, também, que se o Maurício de Sousa não existisse (por detrás da realidade dos quadrinhos), os personagens jamais poderiam existir.

No universo da "Turma da Mônica", cada personagem poderia estar adormecido ou desperto. O que seria um personagem adormecido? Seria aquele cuja percepção estivesse confinada/limitada somente ao âmbito da história em quadrinho. E o que seria um personagem iluminado ou desperto? O desperto seria aquele que, além de estar consciente da realidade dos quadrinhos (realidade a qual pertence os personagens), está também consciente da existência do Maurício de Sousa. O personagem iluminado tem a plena consciência de que, perante o Maurício de Sousa, ele é uma existência impotente, irreal, nada. Ao mesmo tempo, o personagem iluminado percebe haver uma unidade essencial entre o "Maurício de Sousa" e "cada personagem" dos quadrinhos, inclusive ele próprio. A percepção da mente da personagem "Mônica" somente capta o que existe dentro da história dos quadrinhos. Para que a Mônica tomasse consciência do Maurício de Sousa e Sua realidade, o próprio Maurício de Sousa deveria desenhar a Mônica "percebendo" a existência/presença do Maurício de Sousa por trás dos quadrinhos. O ponto importante que vale notar é que: a personagem Mônica jamais conseguiria perceber a existência ou presença do Maurício de Sousa por si mesma (com a mente da personagem), a menos que o próprio Maurício de Sousa decidisse desenhar a história com a Mônica tendo esse "despertar". O personagem é um ser completamente impotente, irreal, que não apresenta condições nem mesmo para despertar.

Agora suponha que, na realidade dos quadrinhos (representação), todos os personagens estivessem inconscientes da existência do Maurício de Sousa. Então o Maurício de Sousa, desejando que os personagens se tornem cientes da Sua existência por detrás dos quadrinhos, decide iluminar um dos personagens – o Cebolinha – para que ele vá até aos outros personagens e conte a eles sobre a existência do Maurício de Sousa. Então Ele desenha o Cebolinha desperto, que comparece diante dos outros personagens e diz: "Quem me vê a mim, vê Aquele que me enviou." (João, 12:45), "as palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Maurício de Sousa, que está em mim, é quem as diz." (João 14:10), "Eu e o Maurício de Sousa somos um" (João 10:30), "Eu de mim mesmo nada posso fazer, o Maurício de Sousa em mim é quem faz as obras". Ao ouvir essas palavras, cada personagem poderia concordar ou discordar, acreditar ou não acreditar; mas perceba que a concordância/discordância e o acreditar/não acreditar são percepções que pertencem à mente dos personagens. As palavras do Cebolinha estão vindo do Maurício de Sousa (e não do personagem), mas a mente dos personagens só é capaz de perceber as palavras vindo através da boca do Cebolinha. Somente uma percepção que não provém da "mente dos personagens" é que estaria em real condição de avaliar e constatar a veracidade das palavras ditas pelo Cebolinha.

O mais importante a ser percebido nesse exemplo é que: a iluminação do Cebolinha não está no personagem "Cebolinha". O "Cebolinha iluminado" só aconteceu porque foi da vontade do Maurício de Sousa desenhar ele se iluminando. Da mesma forma que o Cebolinha iluminado, um personagem não iluminado jamais poderia existir nos quadrinhos se não fosse pelo desejo do Maurício de Sousa de desenhá-lo. O Cebolinha iluminado é tão irreal quanto qualquer outro personagem não iluminado. Assim, personagem iluminado ou não iluminado – ambos são irreais.

A mente dos personagens percebe apenas a realidade dos personagens. Para perceber o Ser e Sua realidade é necessário utilizarmos a percepção que está no próprio Ser. Essa percepção que provém da Consciência do Ser é chamada de "percepção consciencial". Nós existimos no mundo da representação como se fôssemos os personagens, mas podemos transcender a percepção da mente do personagem (percepção mental) e perceber a existência através da percepção que está no próprio Ser (percepção consciencial). Essa percepção já existe, já está ocorrendo, já está em atividade. Não é necessário desenvolvê-la ou despertá-la. Só o que devemos fazer é ativa-la. Mas como acionar ou ativar a percepção consciencial, que já existe? Para isso, uma compreensão sutil (muito importante!)  deve o tempo todo acompanhar o nosso intuito ou tentativa de “acionar” ou “ativar" essa percepção.

Primeiro devemos compreender que a “Consciência desperta” já está desperta, a "Consciência iluminada" já está iluminada. Essa percepção não se ativa por meio de alguma ação ou esforço de nossa parte. Ela é “ativada” quando compreendemos que ELA JÁ ESTÁ ATIVA. Como assim? Continue acompanhando. A percepção consciencial é ativada quando nos estabelecemos firmemente na compreensão de que ELA JÁ ESTÁ ATIVA. Por que é assim? Por existir uma unidade essencial entre o Ser e o personagem. O personagem, para poder existir no universo da representação, deve existir primeiro na Consciência do Ser. A totalidade do personagem (e tudo o que pertence à realidade do personagem) existe primeiramente no universo da Consciência do Ser.  

É exatamente como ocorre com um robô-mecânico-humano projetado por um engenheiro cientista: se o robô consegue piscar os olhos, sorrir com a boca, pronunciar palavras ou mover a cabeça, é porque essas ações foram primeiro idealizadas pelo engenheiro. Antes de tais ações existirem no robô, elas existiram primeiro no cientista. Um robô conseguiria ignorar seu cientista (criador) e realizar alguma ação que não foi programada? Não. Pois, até para poder “ignorar o cientista”, o robô deveria estar programado para fazê-lo. O robô não consegue realizar um único ato sem que o engenheiro tenha colocado-o “lá”. Perceba, então, essa relação de “unidade” que existe entre robô e o engenheiro.

A mesma relação existe entre o personagem e o Ser. O personagem não dá um passo sequer, sem que esse passo tenha sido dado primeiro na Consciência do Ser. O personagem não move um dedo, sem que o “movimento do dedo” exista antes em alguma espécie de "lugar". Procure enxergar intuitivamente onde fica esse "lugar" e você compreenderá que, embora não possa vê-lo, consegue constatar que ele existe. Esse "lugar" é a Consciência. O personagem não consegue pensar, raciocinar, sentir, intuir, sem que todas essas coisas estejam primeiro na Consciência do Ser. E, da mesma forma, o personagem não consegue se iluminar (despertar a consciência – perceber) sem que isso exista primeiramente na Consciência do Ser. Não há nada que possa estar no universo da representação sem existir primeiro no universo da Consciência do Ser. "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam." (Salmos 127:1)

Quando empreendemos esforços (ou não-esforços) a fim de atingir um estado desperto de consciência, estamos sendo como “robôs tentando realizar ações independentes (separadas) que não foram colocadas lá pelo engenheiro”. Mas, e se o robô ficasse “louco” e passasse a tentar ações ou atos que não foram designados pelo engenheiro? O que dizer desse robô? Apenas que ele está “louco”, que algo “deu errado”, que “ele está com defeito”, ou que “ele está agindo em miragens, sonhos”. Contudo nenhum robô age assim, mas o ser humano sim. Em se tratando da iluminação, o ser humano age como se fosse possível haver separação total entre “personagem” e “Consciência do Ser”. É quando ele passa a buscar, estudar, orar, meditar, despertar, transcender – como se ele tivesse de realizar tais coisas por conta própria (agindo como se estivesse separado do Ser). E a iluminação ou despertar espiritual jamais tem a ver com “separação”, e sim com unicidade, unidade.

Qualquer coisa que nós, personagens, possamos fazer (ou deixar de fazer) – seja de ordem física, emocional, mental, psíquica, espiritual – só é possível por existir primeiramente no âmbito de uma Consciência Maior. Tudo o que fazemos está sob a égide dessa Consciência Maior. Nada escapa a essa Égide. Essa Égide é que deve ser considerada, compreendida, contemplada. Tudo o que é real está “lá”, nEla. Procure intuitivamente enxergar esse lugar. Estar consciente dessa Égide Maior é o modo de estarmos sempre no estado de unidade, ao invés de na separação. A fim de perceber essa Consciência-Égide-Maior, nós (personagens) não devemos sequer tentar percebê-la porque... a própria intenção ou ato de “tentar perceber” só nos é possível por existir primeiro na Égide dessa Consciência Suprema. Não há nada que possamos fazer para percebê-la, isto é compreensível? Basta perceber (diretamente, ou seja, de uma vez por todas, num só lance) que essa Consciência existe por Si mesma, e está acima de todas as coisas. Isso é o que é a percepção. E isso é tudo o que necessita ser “feito”.

Assim, o que devemos fazer para despertar? O que devemos fazer para ativar a percepção? Basta perceber essa Consciência-Égide-Suprema. Note que não é possível percebê-la com a percepção que se origina do personagem (pois a “percepção que funciona a partir da capacidade personagem” existe primeiramente na Consciência do Ser – não é a percepção do Ser). É apenas com a percepção que está na própria Consciência que é possível perceber a Consciência. A Consciência já está desperta. Quando nos volvemos para ela, em pura compreensão (atravessando toda a realidade, elementos e aspectos do personagem), isso é meditação, é percepção consciencial.

Estamos cercados totalmente – por todos os lados. Há algo que possamos fazer (ou deixar de fazer) sem que isso esteja nos domínios desta Consciência Suprema? A resposta é “não”. O próprio Salmista disse:

"SENHOR, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar. Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá." (Salmos 139: 1-10)

Essa Consciência é tão alta, que nós (personagens) não podemos atingi-la. Mas podemos compreender que ela existe e está por detrás de tudo, porque nada existe que não esteja primeiramente nos domínios dessa Consciência.

Quando um personagem aqui na terra se ilumina, a iluminação verdadeira não consiste na situação de que ele, o personagem “x”, deixou de ser um personagem não-iluminado para se tornar um iluminado. Se ele se iluminou aqui na representação, é porque essa iluminação existia primeiro na Consciência Universal (em Deus). Quando ele se ilumina, a atenção dele volta-se para aquela iluminação que existe na Consciência (e não para a iluminação fenomênica que aconteceu ao personagem efêmero). Ele não se vê como um ser que antes estava adormecido e que posteriormente despertou. A percepção dele é a de que ele é desperto, iluminado, desde sempre. Ele sempre fora um iluminado! Mas ele percebe isso porque a atenção dele volta-se para aquela Consciência-Égide-Maior. É lá que a verdadeira iluminação (percepção) está. A iluminação do personagem é apenas um fenômeno secundário.

Assim, como fazer para ativar a percepção? Primeiro você compreende que ela já está ativada, então você busca enxergar (intuitivamente) o lugar onde essa percepção está. Esse "lugar" é a Consciência, é Deus. Você apenas volta a sua atenção para Ele, e Ele cuida de fazer o resto. Você não tem de "ativar" a sua percepção. Deixe que Deus faça isso. Apenas volte-se para Ele. Mas esse "voltar-se para Ele" requer a compreensão sutil que acima foi explicada. Compreenda isso, e esteja em paz quanto ao resto! Isso é meditação.

Se você gostou da abordagem do texto, e deseja saber mais sobre a percepção mental e a percepção consciencial, acesse a série: "Preleções Nucleares: A Unidade Essencial", clicando aqui.


quarta-feira, novembro 09, 2016

Preleções Nucleares: A Unidade Essencial - 4/4

- Gustavo -


Continuando a explanação do esquema de duas colunas:



14 – A realidade consciencial não pode ser percebida pela mente do personagem. As verdades conscienciais não estão ao alcance da mente. O máximo que a mente consegue fazer é "acreditar" ou "não acreditar" nas revelações da Consciência. Por exemplo, Jesus pode vir até cada um e dizer que o reino de Deus está dentro de nós. Essa é uma revelação consciencial que não pode ser percebida pela mente. A mente, então, só conseguirá acreditar ou não acreditar na revelação de Jesus. Jesus não depende de “acreditar” ou “não acreditar” que o reino de Deus está em nós – ele sabe! O saber está além do mero “acreditar” ou “não acreditar”. O saber é consciencial.

Para elucidar ainda mais, vamos utilizar um exemplo bastante simples aqui mesmo da representação: se perguntarmos às pessoas se é possível um ovo de galinha ser colocado em pé sem tombar para um dos lados, algumas pessoas acreditarão ser possível, enquanto outras acreditarão ser impossível. Conta-se que Cristóvão Colombo provou ser possível um ovo ficar perfeitamente imóvel, equilibrado e em pé. Alguns personagens acreditam, outros desacreditam. Mas o fato é: um ovo pode ficar em pé. Quem já conseguiu ou viu um ovo ser colocado em pé, deixou o campo do “acreditar” ou “não acreditar” e passou a saber que um ovo pode ficar em pé. A questão do "acreditar" ou "não acreditar" para ele não mais existe. No caso deste exemplo, os personagens que responderam “eu acredito” estão mais próximos da realidade do que aqueles que responderam “eu não acredito”;  porém, mesmo que tenham escolhido a resposta mais aproximada, isso não os leva para dentro da realidade. Assim, podemos perceber que até mesmo o acreditar não é suficiente; o saber está além inclusive do acreditar.

A mente também tem o hábito de querer concordar ou discordar. Da mesma forma que o "acreditar" e o "não acreditar", a concordância ou discordância da mente não irá ajudar. Sempre que a mente concorda ou discorda, a verdade (realidade consciencial) fica encoberta pela realidade mental. Esta é uma outra verdade consciencial: tudo o que está acontecendo na representação é divino. A representação não é apenas representação – ela é uma representação divina! A Consciência do Ser pode ser percebida/sentida em tudo e em todos. Você concorda? Você discorda? Então você teceu juízo de valor e isso é o suficiente para acionar a percepção mental e mantê-lo fora da percepção consciencial. Se pudermos lançar um olhar desprovido de qualquer julgamento, a Consciência do Ser passa a Se evidenciar nas coisas grandes e pequenas. Apenas olhe, contemple! Quando algo estiver acontecendo, apenas permita que isso esteja ali, sem julgamentos, sem interferir, sem querer concordar ou discordar disso. A mente sentirá vontade de entrar e dizer: "sim, isso está acontecendo, é assim mesmo! Concordo com o que estou presenciando", ou poderá dizer: "isso não está certo, não pode ser assim, pois jamais vi isso antes". A mente sempre mede, analisa, julga. O julgamento é o que lhe dá energia. Com a concordância ou discordância, nada se resolve, apenas uma crença é criada. E a realidade consciencial fica ocultada, encoberta pela realidade mental.

Para percebermos a verdade basta não deixarmos que a mente interfira, ocupando o foco de nossa percepção. Muitos sinceros buscadores espirituais pensam que devem se esforçar para tentar neutralizar ou eliminar a mente (a visão dual, a percepção mental) para ter a percepção unitária (percepção consciencial). Contudo, este esforço do personagem é em vão porque atua sobre a própria “mente do personagem” na tentativa de neutralizá-la ou eliminá-la; enquanto somente o próprio Ser pela “Consciência do Ser” pode transcender a percepção da mente e perceber-Se! Não é necessário eliminar a mente para perceber a verdade; a mente pode estar presente, mas deve estar quieta, silenciosa. É necessário saber presenciar silenciosamente um acontecimento, colocando a mente de lado.

Quando você vai para a natureza e escuta o som de uma cachoeira, você concorda ou discorda disso? Nesses momentos, você tenta entender ou decifrar o som que está escutando? Ao invés disso, você está relaxado, entregue, em harmonia, integrado ao que está presenciando. Você apenas escuta, observa, presencia, contempla – sem julgamentos. O som da cachoeira nos soa tranquilo, leve e revigorante. A tranquilidade, paz e beleza que encontramos no som de uma cachoeira na verdade não advém da cachoeira (fenômeno externo) em si. A beleza que sentimos é espiritual, consciencial. A natureza é selvagem, devido a isso ela tem o poder de diminuir a interferência da mente e aumentar o silêncio. Por isso, os ensinamentos são unânimes em dizer que quando estamos na natureza estamos mais próximos de Deus. A natureza aumenta o silêncio e facilita nosso contato com a dimensão consciencial, por isso sentimos ela ser tão bonita. Mas o que sentimos na natureza podemos sentir com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Basta acessar a dimensão do silêncio.  Escute tudo a sua volta como você escutaria o som de uma cachoeira.

Na concordância ou discordância é necessário haver "dois", você e a cachoeira, separados. Você está na dimensão da separação, das partes: uma parte (você) está escutando a outra parte (cachoeira). Ao presenciar silenciosamente o som da cachoeira, subitamente não há mais "você" e a "cachoeira", ambos foram integrados/unidos e agora há apenas o todo. A dimensão do todo apareceu, o todo entrou na frente. Agora é o todo que está acontecendo – agora, antes de haver um personagem escutando a cachoeira ou uma cachoeira sendo escutada por um personagem, há o todo aparecendo simultaneamente como o personagem e como a cachoeira. Tudo passa a ocorrer ao mesmo tempo. A presença do personagem, a presença da cachoeira, o sentido de escutar, o som escutado, o processo de escuta... Os elementos que antes estavam separados são juntados em uma só leva, e toda uma sincronicidade surge, uma música começa a ser formada. Essa música repleta de sincronia ocorre no todo e só é percebida pelo todo, mediante a percepção que está no próprio todo. O todo é a Consciência do Ser. Silêncio é música, é a melodia divina.


15 – A intuição está relacionada à percepção consciencial. E os cinco sentidos estão relacionados à percepção da mente do personagem. Os cinco sentidos a que se refere o Núcleo são: visão, audição, olfato, paladar e tato. Também o sexto sentido faz parte da mente do personagem. O sexto sentido da mente significa: visão mediúnica, audição mediúnica, olfato mediúnico e demais percepções mediúnicas. Ou seja, o sexto sentido corresponde aos cinco sentidos do corpo, só que utilizados para perceber fenômenos espirituais de cunho mediúnico, tais como ver, ouvir e falar com espíritos desencarnados. Os sentidos mentais do personagem incluem também o intelecto, a razão e a lógica. Tudo isso é percepção mental.

A intuição é um fenômeno não mental, ela não tem a sua fonte na mente (intelecto, razão ou lógica) do personagem. A mente do personagem não pode compreender a intuição por ser ela própria um fenômeno irracional, ilógico. Alguém talvez pergunte: “A intuição pode ser explicada?”, mas essa pergunta na verdade significa: “A intuição pode ser reduzida ao intelecto?”. E a intuição é algo acima do intelecto, ela provém da Consciência do Ser. O intelecto é sempre contínuo, linear: “A” está ligado a “B”, que está ligado a “C”, que se liga a “D” e assim por diante. O intelecto é constituído por: causalidade, linearidade, conexões lógicas. A intuição é não-linear: quando atua a intuição, as ligações da mente são quebradas, o que torna possível à percepção passar diretamente de “A” para “D”, ou para qualquer outro ponto. A intuição cria uma lacuna – uma desconexão e descontinuidade completas – o que permite à percepção dar um salto. Esse salto é inconcebível para a mente. Assim, a intuição é um pulo, um salto direto e imediato de um ponto a outro ponto, sem nenhuma interligação entre os dois. A percepção consciencial é imediata; com ela a coisa é captada de súbito, diretamente do interior, sem a interferência linear ou lógica da mente. E o interior é vasto, infinito, tudo já está contido nele. No interior está o reino de Deus inteiro.

A mente pode sentir a intuição, mas não pode explica-la. A intuição pode penetrar a mente e a mente pode notar que algo aconteceu, mas não pode explicar. Deve-se entender que uma realidade superior pode penetrar uma realidade inferior, mas a realidade inferior não consegue penetrar a realidade superior. A intuição pode penetrar o intelecto porque ela é superior, mas o intelecto não pode penetrar a intuição e tampouco explica-la. Não existe uma explicação do superior no inferior, porque o superior é muito vasto e os próprios termos da explicação tornam-se inadequados demais para fazerem sentido ali. Mas a mente pode sentir a lacuna, ela sente que: “aconteceu algo que está além de mim”. Assim, é possível utilizar a mente, o intelecto, sem estar fechado à intuição. Podemos utilizar a razão como um instrumento, permanecendo abertos, estando receptivos ao superior. O intelecto pode ser usado como um auxiliar a serviço de algo maior.


16 – O Amor é simplesmente Unidade, Totalidade, UM. A percepção consciencial pode revelar a Divindade manifestada no mundo da representação (1), como também pode revelar o Universo Consciencial no qual a representação está ausente (2). Conforme já dito, o espaço (silêncio, vazio) divide-se em duas partes ou aspectos. De um lado do espaço está Deus e o universo da representação; ali Ele está consciente de tudo – da criação inteira – em Si mesmo. Do outro lado do espaço, Deus está sozinho, habitando a ilimitada faixa da eternidade, existindo como Consciência inqualificada, Bem-aventurada, sempre existente, sempre nova. Nenhum mundo, nenhuma outra coisa existe em Sua Consciência, naquela região da infinitude onde Ele reina como o Absoluto.

Percebendo consciencialmente, podemos penetrar o Silêncio e contemplar a Luz da qual toda a representação emerge. Podemos contemplar a Divindade aparecendo como todo o universo da representação, ou seja, podemos perceber o oceano do Espírito com as ondas de Sua criação. O Divino revela-Se como Amor em todo o universo da representação. Nesse aspecto, o Oceano está completamente mesclado às ondas, ambos são UM. Deus se faz presente na representação da mesma forma que o oceano se faz presente em suas ondas. Nosso aparente universo físico quando percebido consciencialmente é um esplêndido oceano de luz, algo inconcebível pela percepção mental. Aumentando ainda mais o Silêncio, a nossa experiência transcende até a Luz manifestada e adentra o puro Universo Consciencial, que existe sozinho em um espaço onde o universo da representação está ausente. Isto é, podemos perceber o mesmo Oceano espiritual existindo transcendentalmente de forma serena, sem as ondas da criação. Isso significa que "Quem somos" pode perceber-Se manifestado em toda a criação, como também pode perceber-Se como o Universo Consciencial que existe desde antes do surgimento da representação. Em ambos os casos, a percepção é de UNIDADE.  

Este assunto do Universo Consciencial merece ser mais aprofundado. O Universo consciencial existe fora do universo da representação – é onde habita Deus Universal (Paramatman) e o filho de Deus (Atman). É uma realidade de pura Unidade, Bem-Aventurança, Alegria, Amor perfeito.

O ensinamento Um Curso em Milagres apresenta uma cosmologia com uma ilustração bastante plausível do que vem a ser essa Realidade Divina suprema e absoluta. Nele, é contada a seguinte história: no Princípio (antes do surgimento da representação) existiam unicamente Pai e Filho vivendo na realidade perfeita denominada "Céu". Antes do início, não havia inícios nem fins; havia apenas o Eterno Sempre, que ainda está "lá" – e sempre estará. Havia apenas uma Consciência de uma unicidade imaculada, e essa unicidade era tão completa, tão espantosa e ilimitada em sua alegre extensão, que seria impossível que qualquer coisa (extensão) estivesse consciente de algo que não fosse Si Mesmo. Havia e há apenas Deus nessa realidade, chamada pelo Curso de “Céu”. O que Deus cria em Sua extensão de Si Mesmo é chamado de Cristo (o Filho, o Atman). Mas Cristo de maneira alguma é separado ou diferente de Deus (Paramatman). Eles são exatamente a mesma coisa. Cristo não é uma parte de Deus, Ele é uma extensão do todo. A única diferença possível entre Cristo e Deus – se uma distinção fosse possível – seria que Deus criou Cristo; Ele é o Autor. Cristo não criou Deus ou a Si Mesmo. Contudo, por causa da perfeita unicidade inerente ao próprio Deus, isso realmente não importa no Céu. Deus criou Cristo para ser exatamente como Ele, e para compartilhar Seu eterno Amor e alegria, em um estado de êxtase livre, ilimitado e inimaginável. Tal estado constante e bem-aventurado de consciência é completamente abstrato, eterno, imutável e unido. Cristo, então, estende a Si Mesmo, criando novas Criações, ou extensões simultâneas do todo, que também são exatamente as mesmas em sua perfeita unicidade com Deus e com Cristo. Portanto, Cristo, como Deus, também cria – porque Ele é exatamente o mesmo que Deus.

Essas extensões não vão para "dentro" ou para "fora", porque no Céu não existe conceito de espaço; existe apenas em todo o lugar. O resultado de tudo isso é o compartilhar sem fim do Amor perfeito, que está além da compreensão. Pai e Filho em um alegre e eterno compartilhar. A condição da realidade consciencial é puro Amor e tudo funciona de acordo com  esse Amor Eterno, que é o próprio Deus (Eu) sendo. Deus compartilha a integralidade de Seu Ser com seus Filhos. E os Filhos de Deus também compartilham tudo o que têm e são com outros Filhos de Deus, sendo que todos estão sempre conscientes de Quem são. O resultado disso é o enriquecimento e engrandecimento do Céu. O Infinito se ultrapassa e se expande ainda mais, contrariando tudo o que qualquer lógica possa conceber. Assim é (funciona) a realidade divina.

Podemos, então, compreender que Deus Universal (o Pai Eterno, Paramatman) não criou a representação. Ele criou o Universo Consciencial para desfrutar a Vida una, eterna e perfeita, a qual foi descrita de modo bastante plausível na história narrada. O Universo Consciencial é constituído somente por Deus (Paramatman) e filho de Deus (Atman). Quando surge o universo da representação, isso ocorre devido a vontade do filho de Deus. Por meio de Seu sonho/imaginação/representação, o filho de Deus concebe a existência irreal mas aparente de um universo de separação. É Ele quem possibilita o jogo da dualidade. E no universo da representação o filho de Deus aparece como sendo tudo o que existe... “Eu apareço como”.

Quando a representação é percebida consciencialmente (com a visão do filho de Deus) o senso de separação é impossível – mesmo na representação. A representação inteira assume uma qualidade divina de unidade, amor, plenitude, bem-aventurança. É como se Deus, o Amor, fosse trazido para dentro do universo da representação, e a representação ficasse totalmente impregnada, afetada pelo Divino. A representação torna-se uma representação divina, ela passa a expressar Deus em todos os seus aspectos.

Porém, quando a representação é percebida mentalmente, o senso de separação torna-se possível. E quando entra a separação, o Amor dá lugar ao medo ou temor. A separação provoca a divisão do um. Concomitantemente com a divisão do um, surge a noção falsa/irreal do "outro", do "desconhecido", do “estranho”. O "outro", o "desconhecido", o "estranho" é tudo aquilo que está separado de "mim", é tudo aquilo que não sou "eu". Esse fator gera insegurança, vulnerabilidade e medo e, com isso, o "eu" sente a necessidade de proteger-se e defender-se a si mesmo. O medo ou temor está ligado ao "eu" do personagem, que se vê separado do todo.


17 – Ação dhármica é a ação praticada com renúncia aos frutos. Significa agir desinteressadamente de modo a não se apegar ao resultado da ação. A ação dhármica implica em transcender o sentimento de querer satisfazer os desejos pessoais (eu-personagem). Na ação dhármica, o personagem age para o Todo e não para si mesmo. Ele é um canal, um veículo, um instrumento através do qual a Consciência (impessoal) do Ser se expressa.

Aqueles que praticam a ação dhármica agem com amor incondicional, desinteressado. Eles cumprem o dever de desempenhar fielmente o papel que lhes compete na representação. No universo da representação, tudo tem em si a Consciência divina. O Ser Real também se percebe, se vê presente, em personagens que não têm "mente", que não são humanos, como os vegetais e os minerais. Embora não tenham mente, todos tem a Consciência. E esta é a Consciência do próprio Ser. Ela está no Ser, não pertence aos personagens. A maioria dos personagens no cenário não pensam, mas desempenham perfeitamente seus papéis de personagens do Ser. Eles cumprem o seu papel específico ou o "dharma" que lhes foi designado.

Por exemplo, a flor cumpre incondicionalmente o papel de desabrochar e espalhar a sua fragrância. Ela não se importa se haverá alguém lá para presenciar ou apreciá-la, ela apenas continua exalando o seu perfume, quer alguém aprecie ou não. A flor não diz: "ali vem se aproximando um grande ser que poderá me apreciar, vou exalar a minha fragrância". Mesmo se ninguém estiver passando, a flor irá espalhar a sua fragrância. Da mesma forma, o sol cumpre o papel que lhe foi designado, enviando sua luz e calor a fim de aquecer e beneficiar todos os seres, indistintamente. Ele não diz que: "esta é uma boa pessoa que merece se beneficiar do meu calor; aquela outra é uma má pessoa, ela não merece ser aquecida com a minha luz". E assim também é com a água, as estrelas, os insetos, os animais, todos! Eles só cumprem os seus papéis – só existem – porque neles há uma presença, uma força que os mantém como tal. Essa força é a “Consciência” presente em cada personagem. De fato, a Consciência já está presente em cada personagem do cenário, e no próprio cenário! De forma que não existe cenário nem personagem sem esta “presença divina”, onipresente. É ela quem sustenta todas as formas e quem governa e mantém todas as leis naturais.

Todos os personagens possuem o seu dharma (missão) para cumprir perante o Todo aqui na representação. O Bhagavad Gita conta a história do príncipe Arjuna que, para reconquistar o seu reino, se vê obrigado a guerrear contra a sua própria família. Ele deseja recuperar o trono mas, para fazer isso, deverá matar um grande número de parentes que estão do outro lado da linha de combate. A situação é difícil, o príncipe Arjuna está num impasse,  ele não sabe o que fazer. Então Krishna aparece e lhe dá a ordem para lutar, derrotar todos os adversário e vencer a guerra. Krishna está lá para revelar o dharma de Arjuna, ou seja, o papel que ele está destinado a cumprir no mundo da representação. Ele diz: "Não cedas à fraqueza, que de nada te serve. Enche-te de coragem contra teus inimigos e sê o que realmente és. Apenas vá e lute; e deixe que Eu me encarregue dos resultados". Durante todo o Gita, Krishna irá revelar a Arjuna a verdade suprema – verdades universais, divinas, conscienciais; somente desse modo Arjuna poderá compreender a razão pela qual deverá cumprir na representação o seu papel de guerreiro. Mas Arjuna resiste às palavras de Krishna – e resiste enormemente. É somente no final do Gita que Arjuna compreende a necessidade de cumprir o seu dharma. Estas são algumas palavras de Krishna a Arjuna sobre o dharma:

"Agir é tua missão; mas não deves visar aos frutos da tua atividade. Não permitas que a tua atividade seja inspirada pelo desejo dos teus frutos. Quem tudo faz sem apego ao resultado dos seus atos faz tudo no espírito de Deus. Eu, que ajo, não sou afetado por minhas ações, nem viso ao fruto da minha atividade. Quem isso compreende pode agir sem estar apegado ao que faz; não deseja lucro; quem está unido a Mim é livre e imaculado em suas obras. Tu, porém, ó Arjuna, refere a Mim, a fonte do Ser, todos os teus atos! Supera todos os desejos pessoais e o egoísmo! Liberta-te do apego! O que quer que fizeres, faze-o no espírito da renúncia, tendo em mente a Mim, o Senhor do mundo. Deixa a Mim o cuidado pelo sucesso; pensa em Mim e oferece-Me o teu coração e a tua alma. Confia em Mim e vive na fé em Mim. Pelo poder da Minha graça alcançarás a vitória sobre todos os obstáculos; mas se confiares somente em tua força pessoal, e não em Mim, serás derrotado.

Isento de egoísmo, violência, ganância e cobiça, desapegado do "eu" e do "meu", sereno e calmo dentro de si mesmo  este homem se torna um com Brahman. E integrado no espírito de Brahman, alcança o seu Eu divino; já não chora por nada, não tem desejo de nada, não luta por nada, não tem cobiça de coisa alguma. Porque dentro de si mesmo possui tudo. Quando o homem se integra a Mim é um Comigo. Dele é a Minha Grandeza, Meu Poder, Meu Ser, Minha Vida, Minha Sabedoria, Minha Beatitude. E agora escuta a mais sagrada das minhas revelações: Amo-te, e por isto te revelo o que é pelo teu bem."

A história do Bhagavad Gita é muito, muito simbólica. O diálogo ali contido ocorre na verdade entre a Consciência do Ser (representada por Krishna) e a mente do personagem (representada por Arjuna). O Gita é Deus conversando com o homem. Durante todo o diálogo, Arjuna tenta compreender os mistérios divinos que são exaustivamente revelados por Krishna. Mas, por mais que Krishna fale, Arjuna não entende. Isso carrega um significado: a mente do personagem é incapaz de compreender os mistérios revelados pela Consciência Divina. O Bhagavad Gita é, na verdade, uma escritura sagrada universal, que diz respeito a todo os seres. Ele descreve a história de cada ser humano: a de Arjuna, a minha, a sua... a história que vale para Arjuna vale para todos. Para que Arjuna pudesse compreender Krishna, ele teve de aprender a superar a mente de seu personagem. Ocorre o mesmo conosco.

Um outro significado muito importante que o Gita comporta é o seguinte: Arjuna está indo para o campo de batalha e sendo carregado por uma carruagem – e Krishna é o cocheiro, o condutor da carruagem! Com essa simbologia, o Gita quer dizer que Krishna (a Consciência do Ser) deve sempre ocupar o papel de "condutor da carruagem". Mas os personagens estão sempre tentando conduzir eles mesmos a carruagem. Enquanto Arjuna (a mente do personagem) estava querendo conduzir a carruagem, ele não compreendeu. E foi por esse motivo que ele demorou tanto a entender. O assento da frente da carruagem já tem dono – um dono oficial! –, somente a Ele compete o papel de ser o condutor de nossa carruagem. A história do Gita foi montada perfeita até mesmo nesse pequeno detalhe.

Se quisermos compreender o ensinamento de seres tais como Krishna, Buda e Jesus, precisamos desenvolver a habilidade de perceber consciencialmente. E como fazer isso? Uma das maneiras ensinadas no Núcleo é estar alerta para esta pergunta: “O que você prefere: reagir aos personagens/representação ou interagir Comigo?”. Essa pergunta (princípio nuclear) nos fornece todos os elementos necessários que nos ajudarão a perceber e interagir com a Consciência do Ser. Devemos estar cientes de que no mundo da representação Eu está aparecendo como tudo: como palco, roteiro, cenário e todos os personagens. Sabendo disso, deixamos de ser meros personagens (que apenas interagem com outros personagens), e passamos a ser como atores cientes de que aquele que está diante de nós na representação não é somente um personagem, ele é também um ator. Assim, podemos escolher continuar representando o papel de nossos personagens (1), ou podemos escolher romper com a representação e passar a interagir com o ator (2).

Por exemplo: imagine a situação em que dois personagens de teatro estão conversando; um deles desiste de seguir a conversa traçada no roteiro e de súbito inicia um diálogo diretamente com o ator. A atitude dele seria: “cansei de interagir com o personagem, agora eu quero conversar diretamente com o real, e não mais com o personagem que ele está representando”. Essa atitude rompe de imediato com a encenação. Um personagem nunca toma a decisão de romper com a representação, é sempre o ator. No momento em que se manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a representação, isso já é o ator agindo. Agora veja: o ator está sempre lá onde o outro personagem também está. Tudo o que for dito ao outro personagem, o ator irá ouvir – com os mesmos ouvidos. As palavras ou ações (fora do roteiro) que forem dirigidas ao outro personagem serão ouvidas pelo ator. E quando um dos atores rompe a representação (com palavras ou ações diferentes das contidas no script), como poderá o outro personagem seguir em frente com a sua representação? Ela começa a deixar de fazer sentido. Sempre que um ator manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a encenação, a representação inteira é afetada. Seus atos criam uma perturbação, um desequilíbrio ou uma descontinuidade na própria estrutura da representação. E, naquele ponto, a representação vai perdendo a força, o sentido. A representação se enfraquece. Esse procedimento traz à tona o ator que está por detrás do outro personagem. Ao romper assim com a representação, o ator criou uma descontinuidade na linha de representação do outro personagem – o outro não poderá mais seguir na linearidade de sua representação conforme prevista no roteiro. Uma lacuna foi criada. A resposta (palavra ou ato do outro personagem) que surgir a partir dessa lacuna virá, não do personagem, mas do ator. Assim, a interação ator-e-ator foi totalmente estabelecida.

É muito importante notar que, se o ator apenas mantivesse a intenção de romper com a representação, mas não manifestasse o seu intuito por meio de atos ou palavras (ou seja, ação), a representação simplesmente continuaria seguindo em frente, feliz. Não basta a mera intenção de romper com a representação, é necessário agir! No Núcleo é ensinado que não há percepção sem ação. A verdadeira percepção deverá sempre vir acompanhada de uma ação consciente. Estando na representação, para transcendermos a percepção da mente é imprescindível "perceber e agir"!

Retomando: Saiba que na representação Eu está aparecendo como tudo: a história, o cenário, os personagens. Tome a atitude de romper com a representação (aja!) e fique atento às respostas que virão da Consciência do Ser (através dos acontecimentos, dos outros personagens, o que for). Você pode aplicar esse princípio a tudo o que acontecer na sua vida. Por exemplo: você está dirigindo o seu automóvel; um outro carro passa e lhe dá uma fechada. Nesse instante, a mente condicionada do personagem sentirá vontade de fazer aquilo a que sempre esteve habituada: reagir. Se você reagir, vai ficar bravo, reclamar, xingar, etc. Ou você pode romper com a representação, sair da mente do personagem, e começar a ter uma interação com o Ser. Faça silêncio, tente entender porque na representação o Ser lhe deu uma fechada, e fique atento. Se você romper com a representação, a resposta virá pela lacuna. Então, você poderá constatar que, graças à fechada que você levou, você acabou chegando segundos ou minutos mais tarde ao local onde você estava indo, e naquele exato momento lá estava alguém que você desejava rever. Você passa a notar pequenos milagres acontecerem.

Outro exemplo: você está dirigindo o seu carro, quando um outro vem e acerta a sua traseira. Esse é o instante em que você deverá escolher entre "reagir aos personagens/representação" ou "interagir Comigo". Se preferir reagir à colisão, ficará triste, bravo, aborrecido e poderá até entrar numa briga com o outro personagem. Todavia, se escolher romper com a representação e interagir Comigo, ficando atento aos acontecimentos (respostas), logo você entenderá por que na representação o Ser acertou a traseira do seu carro. Algo bom deverá advir disso. Se nós apenas escolhermos romper a representação e permitirmos  nossas carruagens (vidas) serem conduzidas pela Consciência do Ser, a realidade da nossa representação é encaminhada para um rumo diferente daquele que estaria destinado a ocorrer caso escolhêssemos acionar a mente de nossos personagens e reagir à representação.

Para que você possa interagir com a Consciência do Ser, não é necessário que o outro personagem esteja consciente da sua realidade como ator. Basta que você esteja ciente de que Eu está aparecendo como. Um dos princípios do Núcleo diz que: "Eu apareço como. Às vezes nem eu mesmo percebo; mas se você perceber, já é o suficiente.". Deus está Se manifestando como os personagens. A cada momento, de inúmeras formas, a divindade está "aparecendo como" diante de nós. Às vezes o próprio personagem não percebe que está sendo instrumento de manifestação de Deus. Mas se apenas um de nós estiver consciente de que o Ser está "aparecendo como", e escolher romper com a representação e interagir com o Ser, isso será o suficiente para criar a brecha, através da qual ocorrerá a interação entre o personagem e o Ser.

Tudo o que foi aqui explanado abrange o significado do que vem a ser a ação dhármica. Ela é a ação que advém da percepção consciencial, na qual, despertos, os nossos personagens interagem com a Consciência do Ser.


18 – A oração de agradecimento é a verdadeira oração. O agradecimento não provém da mente do personagem, ele tem origem em Deus, na Consciência do Ser.  O Ser é sempre pleno de tudo, preenchido, completo. Em Deus, tudo está consumado, nada mais há para acontecer. Tudo o que poderia acontecer já aconteceu – daí porque o Ser desfruta de um eterno estado de plenitude. O Ser está derramando, transbordando, compartilhando toda a Sua plenitude com o infinito inteiro, com o qual é uno. E a gratidão absoluta nasce desse derramamento, desse transbordamento de todas as Suas qualidades divinas. Devido a isso, o estado de gratidão é o que mais nos sintoniza com Deus. Deus, a Consciência do Ser, está em unidade com todas as coisas, Ele não se percebe separado de nenhum objeto. Ele é o próprio objeto percebido. Se Ele deseja ser feliz, a felicidade está imediatamente lá, como Ele próprio. Se Ele deseja amar, a experiência do amor está imediatamente lá, como Ele próprio. O Ser transborda dessa plenitude de "tudo está feito". Nada há que reste a não ser um estado de gratidão absoluta. Quando o agradecimento é verdadeiro, absoluto, não é o personagem quem agradece, mas a própria Consciência do Ser agradecendo através do personagem. A gratidão é um estado consciencial.

A mente do personagem não é capaz de agradecer de forma absoluta, pois enxerga a separação, a carência, a ausência, a falta. A percepção da mente do personagem enxerga o "eu" separado do "objeto visado". Para ela, a felicidade existe separada do "eu", o amor existe separado do "eu", a sabedoria existe separada do "eu". O "eu" está presente, mas as outras coisas estão ausentes. É então que, em sua oração, o personagem pedirá/suplicará para que lhe seja concedido aquilo que lhe falta. A oração de súplica é própria da mente do personagem.

A gratidão verdadeira  é um estado consciencial. Mas até mesmo no mundo da representação (dimensão mental da realidade) a oração de agradecimento é mais eficaz que a oração de súplica. Por uma razão muito simples: se estamos em estado de agradecimento, criamos em torno de nós a atmosfera de que estamos satisfeitos, felizes, supridos, plenos. Essa atmosfera nada mais é que vibração, palavra, energia que juntamos em torno de nós e enviamos para o todo, o universo. Consequentemente, nosso estado positivo de gratidão atrai  pessoas, coisas e situações condizentes com nosso estado de felicidade, satisfação, plenitude. O universo da representação é regido pela lei mental de afinidade: semelhante atrai semelhante. O amor atrai mais amor, a alegria atrai mais alegria e, inversamente, tristeza atrai mais tristeza e o medo atrai ainda mais medo. O semelhante atrai ainda mais o seu semelhante. Agradecer é a melhor forma de fortalecer nossa conexão com o Divino, pois quanto maior for nossa gratidão, mais bênçãos de amor, alegria, paz, virtudes positivas e prosperidade ele nos enviará. A gratidão gerada a partir de nosso interior se manifesta-se e atrai no mundo exterior situações que nos farão sentir ainda mais gratos.

A gratidão é um estado da alma. Sentir-se grato é sentir-se feliz, pleno, alegre. Não há ser humano na vida que não tenha nada a agradecer. Só o fato de existir já é um grande motivo para ser grato à Vida, ao Universo, a Deus. São tantas as coisas que podemos agradecer: saúde, alimento, família, amigos, casa, trabalho, educação, inteligência, posses materiais e as imateriais. Reconhecer que tudo que temos nos foi dado por Deus é um excelente ponto de partida para exercitamos a nossa gratidão. E ela nos trará todos os seus frutos. Sempre que lembrar, sinta-se grato, mesmo que seja por algo aparentemente banal e simples. Sempre que puder, silencie sua mente e sinta a gratidão. Não deixe que o pessimismo, a reclamação, a amargura ou o desgosto poluam sua mente e seu espírito. Vigie sempre. Através da gratidão silenciosa você sintonizará com as forças milagrosas da vida que lhe trarão os mais diversos benefícios.

Por todos esses motivos, a gratidão é preferível à suplica. Na oração de súplica, ocorre o seguinte: quando estamos pedindo por "x", lá no fundo de nossas mentes (por detrás das cortinas) estamos reconhecendo simultaneamente que: "eu não tenho x". Esse reconhecimento (feito por nossa mente subconsciente) constitui afirmação, declaração, palavra para o universo. Por sua vez, o universo (que sempre responde "sim" às nossas palavras) confirmará a nossa oração dizendo: "Sim, você não tem. Assim seja.". Na superfície de nossas mentes podemos não estar afirmando nada, mas lá no fundo de nossas mentes (na região subconsciente, inconsciente) estamos declarando expressamente para o todo que não temos "x". Se, ao invés de suplicarmos, simplesmente agradecermos a Deus reconhecendo que Ele já atendeu nossa oração (ou seja, já temos "x"), as profundezas de nossa mente ficarão impregnadas de afirmações/declarações/palavra de que: "eu já tenho", e o universo nos confirmará dizendo: "Sim, você já tem. Assim seja.". Portanto, o agradecer está relacionado à unidade (Consciência do Ser), enquanto que a súplica importa em dualidade, separação.

Importante ressaltar que o agradecimento ao qual estamos nos referindo é o agradecimento relativo (mental), e não a verdadeira gratidão. A verdadeira gratidão é consciencial (absoluta), uma expressão da Consciência do Ser. Por fim, fiquemos com esta sabedoria expressada no livro sagrado da Bíblia: "Em tudo dai graças porque esta é a vontade de Deus!" (1 Ts 5:18).




Esta série "Preleções Nucleares: a Unidade Essencial" foi apresentada a fim de que o leitor possa ter condições de compreender claramente (cristalinamente!) os textos do Núcleo que são postados neste blog. A fim de transmitir sua mensagem, o Núcleo utiliza termos (metodologia) bastante específicos, que poderiam soar talvez um pouco "estranho" ou "nebuloso" para aqueles que desde o início entram em contato com os textos/mensagens que só fazem sentido levando em consideração o seu contexto. É impossível transmitir a totalidade do que é ensinado no Núcleo em uma única série de textos. Mas nesta série muitas coisas (bastantes mesmo!) foram explicitadas, toda a essência do ensinamento está contida aqui. Atentem-se sempre para Aquele que está aparecendo como tudo, rompa com a representação (aja!) e passe a interagir com Ele (Comigo). Agradeço a Quem aparece como Núcleo. Agradeço a quem aparece como esta divina mensagem. Agradeço a Quem está aparecendo como você que está lendo. Agradeço a Quem aparece como aqueles que ainda virão. Percebo Eu se manifestando como todos. E a todos agradeço. Namastê!