"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, dezembro 24, 2020

Natal

 - Joel S. Goldsmith -



Uma mensagem de Natal deve ser uma mensagem de paz, em que nossos pensamentos se voltam do conceito de paz que o mundo busca, para a realização da verdadeira paz, “a Minha paz”, que vem assim que os homens se encontram prontos a recebê-la.

O mundo busca uma paz que jamais pode ser encontrada enquanto o senso de paz estiver baseado na cessação de guerra. Esta paz, ainda quando esteja realizada, é temporária, pois está baseada somente em conferências e relacionamentos entre homens e nações. A verdadeira paz é consumada, exclusivamente, quando nos despimos da armadura da carne, no momento em que deixamos de erguer a espada em defesa dos temores e ódios do mundo e cessamos de guerrear com as condições terrenas.

A paz duradoura reina somente quando os relacionamentos entre os homens estão alicerçados na conexão de cada um com Deus. A paz é realizada quando nos encontramos unidos com nossos companheiros através da experiência da vivência de Deus. A paz é alcançada quando contemplamos antes o Filho de Deus governando nossa vida e, em seguida, também a de nosso irmão.

O mundo está procurando a paz “lá fora”, mas ela deve ser encontrada dentro do nosso próprio ser individual, na medida em que hospedamos o Príncipe da Paz. Portanto, deixemos de procurar a paz que “o mundo está buscando” e empenhemo-nos em encontrar “A paz de Deus que ultrapassa todo entendimento humano”. “A Minha Paz vos deixo, a Minha Paz vos dou: não como o mundo vos dá. Que não se turvem vossos corações e nem se receiem”. (Ler Isaías 42: 1-9, em seguida, Isaías 61-62: 1-4 e 62: 12).

As advertências e as promessas do Velho Testamento são muitas vezes mal interpretadas como se fossem dirigidas a algum homem em particular ou a uma determinada raça. Os amigos Hebreus consideravam-se filhos de Deus distintos e favorecidos por Ele; tal má interpretação levou à adoração de certas pessoas chamadas de salvadores, como se fossem, por si mesmas, o Cristo. Isto gerou o sectarismo em determinadas religiões, com limitadas diferenças e inimizades.

Deus não ungiu especificamente um homem ou um povo: Deus tem ungido o Seu Bem-amado, o Cristo. O Cristo é uma entidade espiritual, um impulso espiritual – Um espírito que está no homem. É Ele que, em nós, é abençoado, ungido e sustentado pelo Pai.

Ocasionalmente, este divino Impulso Espiritual - o Cristo -, se manifesta de uma forma mais pronunciada num indivíduo aqui, noutro acolá; porém, Ele existe na consciência de cada um na face do globo terrestre. Chega um período específico na vida de cada indivíduo no qual ele recebe a anunciação espiritual, e então o Cristo é concebido, nutrido e desenvolvido. Num dia de Natal, o Cristo nasce; em outras palavras, a presença do Cristo é realizada dentro do nosso ser.

O nascimento de Cristo não ocorre cronologicamente no dia 25 de dezembro nem em lugares de terras santas, mas ocorre, sim, na consciência elevada do indivíduo. Este estado de consciência elevado é a Cidade Santa – a cidade cuja busca foi esquecida, o lugar de nascimento e o lugar onde habita o Cristo. Onde quer que o Espírito de Deus apareça na consciência humana, todas as bênçãos e profecias em relação aos ricos frutos do Cristo se evidenciam.

Na luz do Cristo o cenário humano se revela como algo fantástico. É somente depois da realização do Cristo em consciência que o sentido profundo da verdadeira humildade é compreendido. Antes desse acontecimento, sempre haverá um sentido pessoal do ego; mas, com o nascimento do Cristo, todo sentido de exibição pessoal, todo desejo de algo ou de alguém e toda a espécie de ambição humana são perdidos. A partir desse ponto de transição em consciência, onde havia necessidades, desejos pessoais ou uma vida incompleta, passa-se a não mais ter uma vida própria para ser plenificada com seus apegos e suas necessidades de êxitos e sucessos. Neste estado de consciência não existe nem mais um senso de necessidade de Deus, porque há a realização de se contemplar Deus agindo através de si. Esta atividade nunca é para benefício pessoal, mas se torna uma bênção para aqueles que ainda não experienciaram a concepção e o nascimento de Cristo dentro do seu próprio ser e, portanto, não realizaram a natureza universal de Cristo.

Elias revelou a natureza do Cristo como sendo a “pequenina e silenciosa voz” que está dentro e ao alcance de cada indivíduo que se torna receptivo a ouvir; Daniel revelou o Cristo como uma “pedra cortada da montanha sem mãos”. Nas palavras de Isaías (42; 2-4): “Não chamará, não se exaltará, nem fará ouvir sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade, produzirá o juízo”. Quando Cristo Jesus falava daqueles que “tinham olhos, mas não viam”, referia-se a uma capacidade interna que contempla aquilo que jamais os olhos humanos seriam capazes de captar.

A natureza do Cristo é uma atividade espiritual, totalmente sem cumprimento físico, e mesmo assim suficiente para destruir os quatro reinos temporais. As palavras e os pensamentos de Elias, de Daniel, Isaías e outros grandes personagens bíblicos transitam no meu ser e se unem na revelação de uma Essência espiritual única, de uma Presença e de um Poder. Mesclados com estes pensamentos estão também os das crianças que vêm ao mundo com deficiências. Estas crianças, com seus clamores, indagam: “por que isto?, por que eu?, por que comigo?”, e suas vozes penetram a consciência da Terra, e esta não tem resposta aos seus problemas e às suas necessidades de cura. Um clamor semelhante se faz dos povos do mundo inteiro, ansiosos por uma cessação de guerras e esperançosos de uma paz mundial, e a Terra também não tem resposta para eles.

Mas há uma resposta! A resposta é o Cristo! Cristo é a influência espiritual dentro de você, de mim e de todas as almas e corações abertos para a anunciação, para a experiência da concepção e nascimento do Cristo. O Espírito do Senhor Deus Todo-poderoso está sobre o Cristo do seu ser individual e esta suave Presença é manifestada, não pela força e nem pelo poder, mas sim pela unção do próprio Espírito.

É este Cristo a resposta à paz mundial, assim como também é a resposta a todos aqueles pequeninos que clamam por suas heranças divinas de saúde, harmonia e plenitude.

A maior missão do Cristo é curar o mundo, portanto, se torna necessário, para aqueles que sentiram o toque do Cristo para servir, abrir caminho para a atividade do Cristo, que é permear a consciência humana com o conhecimento e o amor do Cristo. A prece é o canal ativo em nossa consciência, que traz a Presença e o Poder de Deus aos afazeres humanos.

Eventualmente você poderá receber pedidos para uma ajuda específica; e, para estar preparado, é preciso aprender a manter a comunhão com o Príncipe da Paz, com nenhum outro propósito a não ser o da própria comunhão com Ele. Você deve reservar períodos todos os dias para a meditação e nesses momentos se isentar de qualquer preocupação com os problemas relacionados com sua própria vida. Sua única razão para meditar deve ser experienciar em consciência a comunhão com Deus.

Nesta comunhão, a atividade de Cristo em você se torna o agente curador por todos aqueles que lhe solicitem ajuda.

Pensem acerca da consciência curadora que pode ser implementada no mundo, quando cada estudante da verdade se conscientizar, em primeiro lugar, que “o único filho bem-amado, que está no âmago do Pai”, é o Cristo do seu ser individual.

Tudo que o Pai tem, está derramado sobre esta Centelha divina, vital, eterna e imortal, e o lugar onde Ele habita é dentro de você, em sua consciência!

Lembre-se sempre de que “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles”.

A atividade amorosa do Cristo, em você, é suficiente para derrubar os reinos temporais. Mas, uma coisa é exigida: cada Cristo deve ter o seu Jesus. A criança espiritual deve ter o Seu representante na Terra, e Ela deve ser liberada ao mundo através da conscientização daquelas pessoas que chegaram a realizar o Cristo em si mesmas.

É nossa função recolhermo-nos, diariamente, sem nunca falhar, com o propósito de receber o Príncipe da Paz e, dessa forma, criar-Lhe a possibilidade de atuar em nossos negócios e relacionamentos humanos.

Não é necessário dirigi-Lo ou esclarecê-Lo; a nossa parte consiste em esperar, silenciosamente, sem esforço e sem poder, e deixá-Lo ocupar nossa consciência! Você pode vislumbrar o que acontece quando o Cristo realmente realizado começa a tocar a consciência de todas as pessoas na Terra, removendo delas as causas e os efeitos do erro humano? O Cristo, ao nos tocar a consciência, liberta-nos dos ódios e dos medos do mundo, abençoando assim inúmeras pessoas.

A prece feita dessa forma nos abre à visitação e à comunhão com o Príncipe da Paz, fazendo de nossa consciência a Cidade Santa, onde o Cristo habita, e através da qual Ele acha o caminho de entrada em todas as consciências humanas.

Enquanto a videira recebe a sua substância pelo Pai, cada galho está sendo alimentado. O Santo de Israel, o Espírito de Deus no homem, o Cristo, está sempre presente, porém, disponível somente na medida em que nos abrimos para recebê-Lo, deixando-O em nós habitar. Nosso único propósito, ao entrarmos em comunhão com o Cristo, é o de Lhe propiciar uma entrada ao mundo, para que possam ser demolidas as crenças humanas cristalizadas e ser estabelecido o Reino de Deus sobre a Terra.

Saibamos que não nos cabe um trabalho pessoal, temos somente que nos aquietar e “deixar fluir”. No verdadeiro sentido da humildade, não há um “eu” dirigindo esta atividade; ao contrario, há um sentimento profundo de paz e quietude, onde nos tornamos exclusivamente desejosos de deixar o Cristo se encarregar dos negócios do Pai.

Nunca você ou eu poderemos nos ocupar dos negócios do Pai – somente o Cristo pode executar as funções de Deus sobre a Terra, estabelecendo Seu reino nos corações de todos aqueles que são receptivos e responsivos à Sua presença curadora.

E assim, no dia de Natal, façamos votos de boa sorte ao Príncipe da Paz em Sua jornada de amor nas consciências humanas, de modo que cada indivíduo que tenha seu pensamento e mente, Espírito e Alma, abertos à concepção e nascimento de Cristo, possa conhecer essa Presença amorosa capaz de lançar a paz na Terra e a boa vontade entre os homens.


domingo, novembro 22, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 11/11

- Don Miguel Ruiz -


O NOVO SONHO: O CÉU NA TERRA


Quero que você esqueça tudo o que aprendeu durante sua vida inteira. Este é o começo de um novo entendimento, de um novo sonho.

O sonho que está vivendo é sua criação. É a sua percepção de realidade que você pode mudar a qualquer momento. Você tem o poder de criar o inferno e o poder de criar o céu. Por quê, então, não sonhar um sonho diferente? Por que não usar sua mente, sua imaginação e suas emoções para sonhar o céu? Use apenas sua imaginação e uma coisa tremenda acontece. Imagine que você tem a habilidade de enxergar o mundo com olhos diferentes, sempre que escolher. A cada vez que você abre os olhos, enxerga o mundo de forma diferente.

Feche os olhos agora, depois abra-os e olhe para fora. O que você vai enxergar é amor saindo das árvores, amor chegando do céu, amor saindo da luz. Você percebe o amor de tudo ao seu redor. Esse é o estado de graça. Você percebe o amor diretamente de tudo, inclusive de você mesmo e dos outros seres humanos. Quando os seres humanos estão tristes ou felizes, por trás desses sentimentos você pode ver que também estão emitindo amor.

Usando sua imaginação e seus novos olhos de percepção, quero que você se enxergue vivendo uma nova vida, um novo sonho, uma vida onde não precisa justificar sua existência e você fica livre para ser quem realmente é.

Imagine que tem permissão para ser feliz e aproveitar sua vida. Sua vida está livre de conflito com você mesmo e com os outros.

Imagine sua vida sem medo de expressar seus sonhos. Você sabe o que quer, o que não quer e quando quer. Está livre para alterar sua vida da forma que sempre desejou. Você não tem medo de pedir o que precisa, de dizer sim ou não para alguma coisa ou alguém.

Imagine-se vivendo sua vida sem o medo de ser julgado pelos outros. não regula mais seu comportamento de acordo com o que os outros possam pensar sobre você. Não tem. necessidade de controlar ninguém, e, em contrapartida, ninguém o controla.

Imagine viver sua vida sem julgar os outros. Você pode perdoar os outros com facilidade e esquecer os julgamentos que possa ter. Não tem a necessidade de estar certo, e não precisa mais tornar todos os outros errados. Você respeita a si mesmo e a todo mundo, que, em troca, também o respeitam.

Imagine a si mesmo sem o medo de amar e não ser amado. Não fica mais com medo de ser rejeitado e não tem a necessidade de ser aceito. Pode dizer: "Eu amo você", sem justificativa ou vergonha. Pode andar pelo mundo com seu coração completamente aberto, sem ter medo de ser ferido.

Imagine viver sem medo de assumir um risco e explorar a vida. Você não ter medo de perder nada. Não tem medo de estar vivo no mundo e não tem medo de morrer.

Imagine que ama a si mesmo da forma que você é. Ama seu corpo da forma que é e ama suas emoções da forma como são. Sabe que é perfeito assim como você é.

O motivo que peço para imaginar essas coisas é porque elas são inteiramente possíveis! Você pode viver em estado de graça, em êxtase, o sonho do céu. Mas, para experimentar esse sonho, você primeiro precisa entender o que é.

Apenas o amor possui a capacidade de coloca-lo nesse estado de êxtase. Estar em êxtase é como amar. Amar é como estar em êxtase. Você flutua nas nuvens. Percebe o amor aonde quer que vá. É inteiramente possível porque outros já o fizeram e eles não são diferentes de você. Vivem em êxtase porque mudaram seus compromissos e sonham um sonho diferente.

Uma vez que você sinta o que significa viver em êxtase, Vai adorar. Saberá que o céu na Terra é verdadeiro ... que o céu existe de liberdade. Uma vez que saiba que o céu existe, uma vez que saiba que é possível ficar, compete a você realizar o esforço necessário para isso. Dois mil anos atrás, Jesus nos falou sobre o reino dos céus, o reino do amor, mas as pessoas não estavam prontas para escutar isso. Disseram: "Sobre o que você está falando? Meu coração está vazio, não sinto esse amor do qual está falando, não tenho a paz que você tem". Você não precisa fazer isso. imagine apenas que essa mensagem de amor seja possível e vai descobrir que ela é sua.

O mundo é muito bonito e maravilhoso. Viver pode ser muito fácil quando o amor é sua forma de vida. Você pode estar cheio de amor o tempo todo. É uma escolha sua. Pode não ter um motivo para amar, mas pode amar, porque amar o toma feliz. O amor em ação só produz felicidade. O amor vai lhe dar paz interior. Irá mudar sua percepção de tudo.

Você pode enxergar tudo com os olhos do amor. Pode ficar consciente do amor que existe ao seu redor. Quando você vive dessa forma, não existe mais nevoeiro em sua mente. O mitote se foi para sempre. Isso é o que os seres humanos procuram há séculos. Por milhares de anos temos procurado a felicidade. A felicidade é o paraíso perdido. Os seres humanos têm trabalhado tanto para alcançar esse ponto, e isso faz parte da  evolução da mente. Este é o futuro da humanidade.

Essa forma de viver é possível e está ao seu alcance. Moisés a chamou de Terra Prometida, Buda a chamou de nirvana, Jesus a chamou de Céu e os toltecas a chamam de Novo Sonho. Infelizmente, sua identidade está misturada ao sonho do planeta. Todas as suas crenças e compromissos estão no nevoeiro. Você sente a presença dos parasitas e acredita ser  você. Isso toma difícil continuar libertar os parasitas e criar espaço interno para experimentar o amor. Você está viciado no Juiz, na Vítima. O sofrimento o faz sentir-se seguro porque você o conhece tão bem.

Mas, na realidade, não existe motivo para sofrer. O único motivo para sofrer é porque você escolhe sofrer. Se olhar para a sua vida, vai encontrar um bocado de desculpas para sofrer. Se examinar sua vida, descobrirá muitas desculpas para sofrer, mas não vai encontrar nenhum bom motivo para sofrer. O mesmo é verdade para a felicidade. O único motivo para  você ser feliz é porque escolheu ser feliz. A felicidade é uma escolha assim como o sofrimento.

Talvez não possamos escapar do destino dos seres humanos, mas temos a opção: sofrer nosso destino ou aproveitar nosso destino. Sofrer ou amar e ser feliz. Viver no inferno ou viver no céu. Minha escolha é viver no céu. Qual é a sua?


terça-feira, novembro 17, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 10/11


- Don Miguel Ruiz - 


A INICIAÇÃO DOS MORTOS: ABRAÇANDO O ANJO DA MORTE


A forma final de obter liberdade pessoal é preparar a nós mesmos para a iniciação dos mortos, para aceitar a própria morte como professora. O que o anjo da morte pode nos ensinar é como viver de verdade. Tornamo-nos conscientes de que podemos morrer a qualquer instante; só temos o presente para viver. A verdade é que não sabemos se vamos morrer amanhã. Quem sabe? Temos a ideia de que possuímos ainda muitos anos no futuro. Teremos?

Se formos ao hospital e o médico nos disser que temos uma semana de vida, o que faremos nessa semana? Como já dissemos antes, temos duas escolhas. Uma é sofrer porque morreremos e dizer a todos: "Pobre de mim, vou morrer" e realmente criar um grande drama. A outra escolha é usar cada instante para ser feliz, fazer o que realmente gostamos de fazer. Se tivermos apenas uma semana para viver, vamos aproveitar a vida. Vamos ficar vivos. Podemos dizer: "Serei eu mesmo. Não pretendo mais dirigir minha vida tentando agradar aos outros. Não vou mais ficar com medo do que eles possam pensar de mim. O que me importa o que os outros pensam do fato que morrerei em uma semana? Serei eu mesmo".

O anjo da morte pode nos ensinar a viver todos os dias como se fossem o último dia de nossas vidas, como se não existisse o amanhã. Podemos começar cada dia dizendo: "Estou acordado, vejo o sol. Entregarei minha gratidão ao sol, a tudo e a todos, porque ainda estou vivo. Mais um dia para mim".

Essa é a forma como vejo a vida, e foi isso o que o anjo da morte me ensinou - ser completamente aberto para saber que não existe nada a temer. Claro, trato as pessoas que amo com amor, porque esse pode ser o último dia em que terei a chance de dizer a elas quanto as amo. Não sei se vou vê-las outra vez, por isso não quero brigar com elas.

E se eu tivesse uma grande briga com você e lhe despejasse todo o  veneno emocional que tenho, e você morresse amanhã? Opa! Oh, meu Deus, o Juiz iria me pegar de jeito, e eu iria sentir-me culpado por tudo o que disse a você. Iria até mesmo me sentir culpado por não dizer quanto amo você. O amor que me faz feliz é o amor que posso compartilhar com você. Por que eu precisaria negar que amo você? Não é importante que você retribua esse amor. Posso morrer amanhã ou você pode morrer amanhã. O que me torna feliz agora é deixá-lo saber quanto amo você.

Você pode viver assim sua vida. Fazendo isso, prepara-se para a iniciação da morte. O que acontecerá na iniciação da morte é que o velho sonho que você abriga em sua mente vai sumir para sempre. Sim, terá lembranças dos parasitas - do Juiz, da Vítima e das coisas que costumava acreditar, mas eles estarão mortos.

É isso que vai morrer na iniciação da morte: os parasitas.

Não é fácil ir para a iniciação da morte, porque o Juiz e a Vítima lutarão com todas as suas forças. Eles não querem morrer. Sentimos que seremos aqueles que vão morrer e ficamos com medo dessa morte.

Quando vivemos o sonho do planeta, é como se estivéssemos mortos. Quem quer que sobreviva a iniciação dos mortos recebe um presente maravilhoso: a ressurreição. Receber a ressurreição é levantar-se dos mortos, estar vivo, ser nós mesmos outra vez. A ressurreição é ser como uma criança, selvagem e livre mas com uma diferença. A diferença é que temos liberdade com sabedoria em lugar de inocência. Somos capazes de quebrar nossa domesticação, de nos tornar livres outra vez e de curar nossa mente. Rendemo-nos ao anjo da morte, sabendo que os parasitas irão morrer e nós sobreviveremos com uma mente sadia e raciocínio perfeito. Então somos livres para usar nossa própria mente e dirigir nossa vida.

Por isso, na forma tolteca de viver, o anjo da morte nos ensina. O anjo da morte vem até nós e diz: "Você viu que tudo o que existe aqui é meu, não é seu. Sua casa, suas esposa, seus filhos, seu carro, sua carreira, seu dinheiro - tudo é meu e posso tirar quando eu quiser, mas por enquanto pode ir usando".

Se nos rendermos ao anjo da morte, seremos felizes para sempre. Por quê? Porque o anjo da morte leva embora o passado, para que sua vida possa continuar. Para cada momento passado, o anjo da morte continua tirando a parte que está morta e nós continuamos vivendo o presente. Os parasitas querem que continuemos a carregar o passado conosco, e isso torna muito difícil o ato de estar vivo .Quando tentamos viver no passado, como podemos aproveitar o presente? Quando sonhamos com o futuro, por que precisamos carregar o fardo do passado? Quando iremos aprender a viver no presente? Isso é o que o anjo da morte nos ensina.



segunda-feira, novembro 09, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 9/11

- Don Miguel Ruiz -

 

A DICIPLINA DO GUERREIRO: CONTROLANDO SEU PRÓPRIO COMPORTAMENTO


Imagine que você acorda bem cedo numa determinada manhã, transbordante de entusiasmo. Você se sente bem. Está feliz e tem bastante energia para enfrentar o dia. Então, ao café, você tem uma grande briga com seu cônjuge e emoções fortes vêm à tona. Você fica bravo e, na emoção da raiva, gasta um bocado de poder pessoal. Depois da briga você se sente drenado e só deseja chorar. Na verdade, você se sente tão cansado que vai para a sua sala, perde o controle e tenta se recuperar. Você passa o dia envolto nessas emoções. Não tem energia para continuar, e só deseja afastar-se de tudo.

Todos as manhãs acordamos com uma certa quantidade de energia mental, emocional e física, que gastamos durante o dia. Se permitirmos que nossas emoções drenem essa energia, não teremos energia para mudar nossa vida ou para doar aos outros.

A forma como você vê o mundo vai depender das emoções que experimenta. Quando está bravo, tudo ao seu redor está errado, nada parece certo. Você culpa tudo, incluindo o tempo; se estiver chovendo ou fazendo sol, nada vai agradá-lo. Quando você está triste, tudo ao redor o deixa triste e o faz chorar. Enxerga as árvores e sente-se infeliz; vê a chuva e tudo parece muito triste. Talvez você se sinta vulnerável e tenha necessidade de proteger a si mesmo porque não sabe em que momento alguém vai atacá-la. Você não confia em ninguém nem em nada ao seu redor. Isso é porque enxerga o mundo com os olhos do medo.

Imagine que a mente humana seja o mesmo que sua pele.

Você pode tocar a pele saudável, o que é maravilhoso. Sua pele é feita para a percepção, e a sensação do toque é maravilhosa. Agora imagine que você tem um machucado e a pele se corta e infecciona. Se você tocar a pele infectada, sentirá dor; portanto, tenta cobrir e proteger a pele. Você não gosta de ser tocado por causa da dor.

Agora imagine que todos os seres humanos possuam doença de pele. Ninguém pode tocar o outro porque irá doer. Todos possuem pústulas na pele, portanto a infecção é vista como normal, e a dor é também considerada normal; acreditamos que as coisas devam ser assim. Pode imaginar como nos comportaríamos uns com os outros se todos os seres humanos do mundo tivessem doença de pele? Naturalmente, mal iríamos abraçar os outros  porque seria doloroso demais. Por conseguinte, precisaríamos criar um  bocado de distância entre nós.

A mente humana é exatamente como essa descrição da pele infectada. Todo ser humano possui o seu corpo emocional coberto de veneno emocional - o veneno de todas as emoções que nos fazem sofrer, tais como ódio, raiva, inveja e tristeza. Uma ação injusta abre um ferimento na mente e nós agimos com um veneno emocional por causa dos conceitos que temos de injustiça e do que é justo. A mente está tão machucada e cheia de veneno pelo processo da domesticação que todos descrevem a mente ferida como normal. É considerado normal, porem eu afirmo que não é normal.

Temos um sonho do planeta não funcional e os seres humanos estão mentalmente doentes com uma doença chamada medo. Os sintomas da doença são todos os sintomas que fazem os seres humanos sofrerem: ira, ódio, tristeza, inveja e traição. Quando o medo é grande demais, a mente racional começa a falhar, e podemos chamar a isto de doença mental. O comportamento psicótico ocorre quando a mente fica tão assustada e os ferimentos doem tanto que parece melhor quebrar o contato com o mundo exterior.

Se pudermos enxergar o estado de nossa mente como uma doença, encontraremos a cura. Não precisamos sofrer mais. Em primeiro lugar, necessitamos da verdade, que abre ferimentos emocionais, retira o veneno e os cura completamente. Como fazemos isso? Precisamos perdoar os que sentimos nos ter feito mal, não porque mereçam ser perdoados, mas porque amamos tanto a nós mesmos que não queremos ficar prestando atenção nas injustiças.

O esquecimento é a única forma de cura. Podemos escolher a  cura porque sentimos compaixão de nós mesmos. Precisamos deixar o ressentimento sair e declarar: "Basta! Não pretendo mais ser o grande Juiz que está sempre contra mim. Não pretendo mais bater em mim mesmo ou me fazer sofrer. Não farei mais parte da Vítima".

Em primeiro lugar, precisamos perdoar nossos pais, nossos irmãos, amigos e a Deus. Uma vez que perdoe a Deus, finalmente você está pronto para perdoar a si mesmo, a auto rejeição em sua mente termina. A auto-aceitação se inicia, o auto-amor irá crescer tão forte que você finalmente aceitará a si mesmo da forma que você é. Esse é o início do ser humano livre. O esquecimento é a chave.

Você saberá que esqueceu alguém quando enxergar alguém e não apresentar nenhuma reação emocional. Você escutará o nome da pessoa e não terá reação emocional. Quando alguém puder tocar o que costumava ser um ferimento e você não sentir mais dor, então saberá que está perdoado.

A verdade é como um bisturi. É dolorosa, porque abre todos os ferimentos criados por mentiras, de forma que possam ser curados. Essas mentiras são o que chamamos de sistema de negação. É uma boa coisa que tenhamos o sistema de negação, porque nos permite cobrir os ferimentos e ainda funcionar. Contudo, uma vez que não se tenha mais ferimento ou veneno, não precisamos mentir mais. Não precisamos mais do sistema de negação porque uma mente sadia, como a pele sadia, pode ser toda sem provocar dor. É uma sensação agradável para uma mente livre ser tocada.

O problema com a maior parte das pessoas é que elas perdem o controle das emoções. São as emoções que controla o comportamento dos seres humanos, não os seres humanos que controlam as emoções. Quando perdemos o controle, dizemos coisas que não queríamos dizer e fazemos coisas que não queríamos fazer. Por isso é tão importante ser impecável com nossa palavra e para nos tornar guerreiros espirituais. Precisamos aprender a controlar as emoções a fim de juntar poder pessoal suficiente para mudar nossos compromissos baseados no medo, fugir do inferno e criar nosso próprio céu pessoal.

Como nos tomamos guerreiros? Existem certas características do guerreiro que são aproximadamente as mesmas ao redor do mundo inteiro. O guerreiro possui consciência. Isso é muito importante. Estamos conscientes de estar em guerra, e a guerra em nossas mentes requer disciplinas. Não a disciplina do soldado, mas a disciplina do guerreiro. Não a disciplina do exterior para nos dizer o que fazer e o que não fazer, mas a disciplina para sermos nós mesmos, não importa o que aconteça.

O guerreiro possui controle. Não o controle sobre outro ser humano, mas o controle sobre as próprias emoções, controle sobre o próprio eu. E quando perdemos o controle que reprimimos as emoções, não quando estamos no controle. A grande diferença entre um guerreiro e uma vítima é que a vítima reprime, e o guerreiro controla. A vítima reprime porque tem medo de mostrar as emoções, medo de dizer o que deseja dizer. Controlar não é a mesma coisa que reprimir. Controlar é segurar as emoções, a fim de expressá-las no momento adequado, nem antes nem depois. Por isso os guerreiros são impecáveis. Eles possuem controle completo sobre as próprias emoções e, portanto, sobre o próprio comportamento.


segunda-feira, novembro 02, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 8/11


- Don Miguel Ruiz - 


A ARTE DA TRANSFORMAÇÂO: O SONHO DA SEGUNDA ATENÇÃO


Aprendemos que o sonho que você está vivendo agora é o resultado do sonho exterior capturando sua atenção e alimentando-o com suas crenças. O processo da domesticação pode ser chamado de sonho da primeira atenção, porque foi como sua atenção foi usada pela primeira vez para criar o primeiro sonho de sua vida.

Uma forma de mudar suas crenças é focalizar sua atenção nesses compromissos e alterar aqueles firmados com você mesmo. Ao fazer isso, você está usando sua atenção pela segunda vez, criando assim o sonho da segunda atenção ou o novo sonho.

A diferença é que você não é mais inocente. Quando você era criança, isso não era verdade; não tinha escolha. Porém, você não é mais criança. Agora cabe a você escolher no que acreditar e no que não acreditar. Você pode escolher acreditar em qualquer coisa, e isso inclui acreditar em si mesmo.

O primeiro passo é tomar consciência do nevoeiro em sua mente. Você precisa tornar-se consciente de que está sonhando o tempo todo. Apenas com essa consciência você tem a possibilidade de transformar seu sonho. Se você tem a consciência de que todo o drama de sua vida é o resultado do que você acredita e o que acredita não é real, então pode começar a mudar tudo. Entretanto, para mudar de verdade suas crenças, você precisa focalizar sua atenção sobre o que deseja mudar. Precisa saber que compromissos quer mudar, antes de mudá-los.

Então, o próximo passo é desenvolver a consciência sobre todas as crenças auto limitantes e baseadas no medo que o tornam infeliz. Você faz um inventário de tudo em que acredita, todos os seus compromissos, e por meio desse processo inicia a transformação. Os toltecas chamavam a isso de a Arte da Transformação, e é um campo inteiro de domínio. Você adquire o domínio da Transformação alterando os compromissos baseados no medo que os fazem sofrer e reprogramando sua mente da sua própria maneira. Uma das formas de fazer isso é explorar e adotar crenças alternativas, como os Quatro Compromissos.

A decisão de adotar os Quatro Compromissos é uma declaração de guerra para reconquistar sua liberdade do parasita. Os Quatro Compromissos oferecem a possibilidade de terminar a dor emocional, que pode abrir a porta para que você aproveite sua vida e inicie um novo sonho. Depende  de você explorar as possibilidades de seu sonho, se estiver interessado. Os Quatro Compromissos foram criados para ajudar você na Arte da Transformação, para ajudá-lo a quebrar compromissos limitantes, a ganhar mais poder pessoal e tomar-se mais forte. Quanto mais forte você ficar, mais compromissos vai poder quebrar até o instante em que conseguir chegar ao fundo de todos os compromissos.

Chegar ao fundo de todos os compromissos é o que chamo de ir para o deserto: quando você vai para o deserto e encontra todos os seus demônios face a face. Depois de sair do deserto, todos esses demônios se tornam anjos.

Praticar quatro novos compromissos é um grande ato de poder. Quebrar  os encantamentos de magia negra em sua mente requer grande poder pessoal. A cada vez que você quebra um compromisso, ganha mais poder. Começa quebrando pequenos compromissos, que requerem menos poder. Quando esses pequenos compromissos são quebrados, seu poder pessoal irá aumentado até atingir um ponto em que você pode finalmente  enfrentar os grandes demônios em sua mente.

Por exemplo, a menina que ouviu críticas ao seu canto tem agora vinte anos e ainda não consegue cantar. A forma de ultrapassar a crença de que a voz dela é feia é dizer: Muito bem, vou tentar cantar, mesmo que cante mal". Então ela pode fingir que alguém está batendo palmas e dizendo a  ela "Foi ótimo". Isto pode quebrar um pouco o compromisso, mas ele ainda continuará ali. Entretanto, agora ela tem mais poder e coragem para tentar outra vez e insistir até finalmente quebrar o compromisso.

Essa é uma forma de sair do sonho do inferno. Para cada compromisso que o faz sofrer e que deseja quebrar, será necessário fazer outro que o torne feliz. Isto vai manter afastado o antigo compromisso. Se você ocupar o mesmo espaço com um novo compromisso, então o antigo se vai para sempre e em seu lugar fica o novo.

Existem muitas crenças fortes na mente que podem tomar esse processo uma tarefa sem esperança. Por isso você precisa caminhar passo a passo e ser paciente consigo mesmo; trata-se de um processo lento. A forma como você está vivendo agora é o resultado de muitos anos de domesticação. Você não pode esperar terminar essa domesticação de um dia para  o outro. Quebrar compromissos é muito difícil porque colocamos o poder da palavra (que é o poder da vontade) em cada compromisso que fizemos.

Precisamos da mesma quantidade de poder para mudar um compromisso. Não podemos mudar um compromisso com menos poder do que utilizamos para fazer esse compromissos e quase todo o nosso poder pessoal está investido em manter os compromissos que temos conosco. Isto acontece porque nossos compromissos são como um vício forte. Somos viciados em ser da maneira que somos .Somos viciados na raiva, no ciúme e na auto piedade. Somos viciados nas crenças que nos dizem: "Não sou bom o suficiente, não sou inteligente o suficiente. Por que tentar? Outras pessoas vão fazer isso porque são melhores do que eu".

Todos esses compromissos antigos que regulam o sonho de nossa vida são o resultado de inumeráveis repetições. Portanto, para adotar os Quatro Compromissos, você precisa colocar o mecanismo de repetição em ação. Praticar os novos compromissos em sua vida é como você se toma melhor. A repetição faz o mestre.


sábado, outubro 24, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 7/11


- Don Miguel Ruiz - 


O CAMINHO TOLTECA PARA A LIBERDADE

Quebrando velhos compromissos

Todos falam sobre liberdade. Ao redor do mundo, diferentes  pessoas, raças e países estão lutando por liberdade. mas o que é liberdade? Nos Estados Unidos, sempre dizemos que o nosso é um país livre. Mas somos realmente livres? Somos livres para ser quem realmente somos? A resposta é não, não somos livres.

A liberdade está relacionada com o espírito humano é a liberdade de sermos quem realmente somos.

O que nos impede de ser livres? Culpamos o governo, culpamos o tempo, culpamos a religião, culpamos Deus. Quem nos impede de ser livres? Nós nos impedimos. O que realmente significa ser livre? Algumas vezes nos casamos e dizemos que perdemos nossa liberdade, depois  nos divorciamos, e ainda não ficamos livres. O que nos impede? Por que não podemos ser nós mesmos?

Temos lembranças de muito tempo atrás, quando costumávamos ser livres e amávamos ser livres, mas esquecemos o que a liberdade realmente significa.

Se olhamos para uma criança que tem dois ou três anos, talvez quatro, estamos em frente a um ser humano livre. Por que esse ser humano é livre? Porque esse ser humano sempre faz o que ele deseja. O ser humano é completamente selvagem. Assim como uma flor, uma árvore ou um animal que não foi domesticado ... selvagem! E se observarmos os seres humanos que possuem dois anos de idade, descobrimos que na maior parte do tempo esses humanos têm um grande sorriso no rosto e estão se divertindo. Estão explorando o mundo. Eles não têm medo de brincar. Têm medo quando se machucam, quando ficam com fome, quando algumas de suas necessidades não são satisfeitas. Porém, não se preocupam com o passado, não se importam com futuro, e só podem viver no momento presente.

Crianças muito pequenas não têm medo de expressar o que sentem. São tão sensíveis ao amor que se perceberem amor, derretem-se em amor. Não têm medo de amar. Essa é a descrição de um ser humano normal. Assim como as crianças, não estamos com medo do futuro ou envergonhados pelo passado. Nossa tendência normal como seres humanos é apreciar a vida, jogar, explorar, ser feliz e amar.

Mas o que aconteceu com o ser humano adulto? Por que somos tão diferentes? Por que não somos selvagens? Do ponto de vista da Vítima, podemos dizer que algo triste aconteceu conosco; e do ponto de vista do guerreiro, podemos dizer que o que nos aconteceu é normal. O que aconteceu é que temos o Livro da Lei, o grande Juiz e a Vítima, que governam nossas vidas. Não somos mais livres porque o Juiz, a Vítima e o Sistema de Crenças não nos permitem ser quem realmente somos. Uma vez que nossas mentes foram programadas com tanto lixo, não somos mais felizes.

Essa corrente de treinamento de indivíduo para indivíduo, de geração a geração, é perfeitamente normal na sociedade humana. Não é preciso culpar seus pais por ensinar você a ser como eles. Que outra forma poderiam ensinar,

além da que conhecem? Fizeram o melhor possível, e se fizeram você sofrer, foi devido à própria domesticação deles, dos medos deles e das próprias crenças. Eles não possuíam controle sobre a programação que recebiam; portanto, não poderiam ter se comportado de forma diferente.

Não há necessidade de culpar seus pais ou qualquer outra pessoa, incluindo você mesmo, por tê-lo feito sofrer na vida. Mas é tempo de parar com esse sofrimento. Está na hora de libertar-se da tirania do Juiz ao trocar a fundação de seus próprios compromissos. É hora de libertar-se do papel de Vítima.

Seu" eu" verdadeiro ainda é uma criança que não chegou a crescer. Algumas vezes essa criança aparece quando você se diverte ou está jogando, escrevendo poesias ou tocando piano, enfim, expressando a si mesmo de alguma forma. Esses são os momentos mais felizes de sua vida:. quando o "eu" verdadeiro sai, quando você não se importa com o passado e não se preocupa com o futuro. Você fica como uma criança.

Mas existem algumas coisas que muda tudo: nós as chamamos de responsabilidades. O Juiz diz: "Espere um. segundo, você é responsável, tem coisas para fazer, precisa trabalhar, precisa frequentar a escola, precisa ganhar sua vida". Todas essas responsabilidades nos vêm à mente. Nosso rosto se altera e nos tomamos sérios outra vez. Se você observar as crianças brincando de adultos, vai perceber que os rostos delas mudam. "Vamos fingir que sou um advogado." E logo os rostinhos mudam; o rosto do adulto assume. Vamos para o tribunal, e esse é o rosto que enxergamos. Vamos para a corte, e esse é o rosto que enxergamos... o que enxergamos. Somos ainda crianças, mas perdemos nossa liberdade.

A liberdade que estamos procurando é a liberdade de ser nós mesmos, de nos expressar. Mas se examinarmos nossas vidas, veremos que na maior parte do tempo fazemos coisas para agradar aos outros, apenas para ser aceitos pelos outros, em vez de viver nossas vidas para agradar a nós mesmos. É o que acontece com nossa liberdade. Enxergamos em nossa sociedade, e em todas as sociedades ao redor do mundo, que para cada mil pessoas, novecentas e noventa e nove mil estão completamente domesticadas.

A pior parte é que a maioria de nós nem ao menos tem consciência de não ser livre. Existe algo no interior sussurrando para nós que não somos livres, mas não compreendemos o que é e por que não somos livres.

O problema com as pessoas é que vivem suas vidas e nem chegam a descobrir que o Juiz e a Vítima governam suas mentes e, portanto, não têm uma chance de ser livres. O primeiro passo na direção da liberdade pessoal é a consciência. Precisamos estar conscientes do problema para poder resolvê-lo.

A consciência é sempre o primeiro passo, porque se você não está consciente, não existe nada para mudar. Se você não percebeu que sua mente está cheia de ferimentos e veneno emocional, não pode começar a limpar e curar os ferimentos e continuará sofrendo.

Não existe motivo algum para sofrer. Com a consciência, você pode ser rebelde e dizer: "Chega!". Você pode procurar por uma forma de criar e transformar seu sonho pessoal. O sonho do planeta é apenas um sonho. Nem ao menos é real. Se você entrar no sonho e começar a desafiar suas crenças, vai descobrir que sofreu todos aqueles anos por nada. Por quê? Porque o Sistema de Crenças no interior de sua mente é baseado em mentiras.

Por isso, é tão importante que você domine o próprio sonho; por isso, os toltecas se tornaram mestres do sonho. Sua vida é a manifestação de seu sonho; é uma arte. E você pode mudar sua vida a qualquer momento em que não estiver gostando do sonho. Os mestres do sonho criaram obras- primas de vida; controlavam os sonhos fazendo escolhas. Tudo tem consequências e o mestre de sonhos está consciente das consequências.

Ser tolteca é uma forma de viver. Uma forma de viver em que não existem líderes nem seguidores, em que você possui sua própria verdade e vive de acordo com ela. Um tolteca se torna sábio, selvagem e livre outra vez.

Existem dois domínios que levam as pessoas a se tornar toltecas. O primeiro é o Domínio da Consciência. Significa tornar-se consciente de quem realmente somos, com todas as possibilidades, O segundo é o Domínio da Transformação ... como mudar, como ficar livre da domesticação. O terceiro é o Domínio da Intenção. Intenção, do ponto de vista tolteca, é aquela parte da vida que torna a transformação de energia possível; é o ser vivente que sem esforço envolve toda a energia, ou o que denominamos "Deus". Intenção é a própria vida; é amor incondicional. O Domínio da Intenção, portanto, é o Domínio do Amor.

Quando conversamos sobre o caminho tolteca para a liberdade, descobrimos que eles possuem um verdadeiro mapa para libertar-se da domesticação. Eles compara o Juiz, a vitima e o sistema de crenças a um parasita que invade a mente humana. Do ponto de vista tolteca, todos os seres humanos domesticados são doentes. São doentes porque existe um parasita que controla a mente e controla o cérebro. A comida, para o parasita, são as emoções negativas produzidas pelo medo.

Se repararmos na definição de "parasita", descobrimos que um parasita é um ser vivo que vive de outros seres vivos, sugando sua energia sem nenhuma contribuição útil em troca e machucando o hospedeiro pouco a pouco. O Juiz, a Vítima e o Sistema de Crenças se encaixam bem nessa descrição. Juntos, formam um ser vivo feito de energia psíquica ou emocional, e essa energia está viva. Claro que não se trata de energia material, mas tampouco as emoções são energias materiais. Nossos sonhos não são energia material da mesma forma, mas sabemos que existem.

Uma das funções do cérebro é transformar energia material em energia emocional. Nosso cérebro é uma fábrica de emoções. E temos dito que a função principal da mente é sonhar. Os toltecas acreditam que os parasitas - o Juiz, a Vítima e o Sistema de Crenças - controlam sua mente; controlam seu sonho pessoal. Os parasitas sonham pela sua mente e vivem sua vida por intermédio de seu corpo. Sobrevivem nas emoções que têm do medo, e se alegram com o drama e o sofrimento.

A liberdade que procuramos é usar nossa própria mente e corpo para viver nossa própria vida, em vez da vida do Sistema de Crenças. Quando descobrimos que a mente é controlada pelo Juiz, pela Vítima, e o "nós" verdadeiro fica num canto, temos apenas duas escolhas. Uma escolha é continuar vivendo da forma que somos, render-se a esse Juiz e a essa Vítima e continuar vivendo o sonho do planeta . A segunda escolha é fazer como quando éramos crianças e os pais tentavam nos domesticar. Podemos nos rebelar e dizer "Não!". Podemos declarar uma guerra contra os parasitas, uma guerra contra o Juiz e a Vítima, uma guerra pela nossa independência, uma guerra pelo direito de usar nossa própria mente e nosso cérebro.

Por isso nas tradições xamanistas em toda a América, desde o Canadá até a Argentina, as pessoas chamam a si mesmas de guerreiros, pois estão em guerra contra os parasitas em suas mentes. Esse é o real significado de um guerreiro. O guerreiro é o que se rebela contra a invasão dos parasitas. O guerreiro se rebela e declara guerra. Sermos guerreiros, porém, não significa sempre que iremos ganhar a guerra; podemos ganhar ou podemos perder, mas sempre damos o melhor de nós e temos uma chance de ser livres outra vez. Escolher esse caminho nos dá, no mínimo, a dignidade da rebelião e nos assegura que não seremos vítimas inocentes de nossas emoções frívolas ou do veneno emocional dos  outros. Mesmo se tivermos sucumbido ao inimigo - o parasita -,  estaremos entre aquelas vítimas que não reagiam.

Na melhor das hipóteses, ser guerreiros nos fornece uma oportunidade  de transcender o sonho do planeta e de alterar o sonho pessoal para um sonho que chamamos de céu. Assim como o inferno o céu é um local que só existe no interior de nossa mente. É um lugar de alegria, onde podemos ficar felizes, onde somos livres para amar e ser quem realmente somos. Podemos alcançar o céu enquanto somos vivos; não precisamos esperar até morrer. Deus esta sempre presente e o reino dos céus se encontra em toda a parte, mas primeiro precisamos ter olhos e ouvidos para enxergar e escutar a verdade. Precisamos estar livres de parasitas.

O parasita pode ser comparado a um monstro com mil cabeças. Cada cabeça do parasita é um dos medos que temos. Se queremos ser livres, temos de destruir o parasita. Uma das soluções é atacar o parasita de frente, o que significa enfrentarmos cada um dos nossos medos um por um. Esse é um processo lento, mas funciona. A cada vez que enfrentamos um dos medos, ficamos um pouco mais livres.

Uma segunda abordagem do problema é parar de alimentar o parasita .Se não dermos comida a ele, podemos mata-lo de fome. Para fazer isso é preciso aprender a controlar nossas emoções, conseguir controlar nossas emoções, precisamos nos abster  de  alimentar  as emoções que derivam do medo. Isso  é muito fácil de falar, mas difícil de realizar. É difícil porque o Juiz e a Vítima controlam nossa mente.

Uma terceira solução é chamada de iniciação dos mortos.

A iniciação dos mortos é encontrada em muitas escolas esotéricas e tradições ao redor do mundo, como no Egito, na Índia, na Grécia e nas Américas. Trata- se de uma morte simbólica, que mata o parasita sem, magoar nosso corpo físico. Quando "morremos" simbolicamente, o parasita tem de morrer. É uma solução mais rápida do que as duas primeiras, porém muito mais difícil de realizar. Precisamos de muita coragem para enfrentar o anjo da morte. Precisamos ser muito fortes.

Vamos examinar mais atentamente cada uma dessas soluções.


sexta-feira, outubro 16, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 6/11


- Don Miguel Ruiz - 


O QUARTO COMPROMISSO

Sempre dê o melhor de si

Existe apenas mais um compromisso, porém é o que permite  que  os outros três se tornem hábitos profundamente enraizados. O quarto compromisso se refere à ação dos outros três: Sempre dê o melhor de si. Sob qualquer circunstância, sempre faça o melhor possível, nem mais nem menos. Porém, tenha em mente que o seu "melhor" nunca será o mesmo de um instante para outro. Tudo está vivo e mudando o tempo todo; portanto, fazer o melhor algumas vezes pode produzir alta qualidade e outras 'vezes não vai ser tão bom. Quando você acorda, descansado e energizado, de manhã, o seu "melhor" tem mais qualidade do que quando você está cansado, à noite. Seu "melhor" possui mais qualidade quando você está saudável do que quando doente, ou sóbrio em contraposição a bêbado. Seu "melhor" vai depender de você estar se sentindo maravilhosamente feliz ou aborrecido, zangado ou ciumento.

Nos diferentes estados de espírito do dia, seu humor pode mudar de um instante para outro, de uma hora para outra ou de um dia para outro. Seu "melhor" também irá se alterar ao longo do tempo. À medida que você se habitua aos quatro compromissos, seu "melhor" irá se tornar mais e mais eficiente.

Independente da qualidade, continue dando o melhor de si, nem mais nem menos. Se você se esforçar demais para conseguir seu "melhor", irá gastar mais energia do que é necessário, e ao final seu "melhor" não será o suficiente. Quando você exagera, esgota seu corpo e vai contra si mesmo, sendo assim necessário mais tempo para alcançar seu objetivo. Se fizer menos do que seu "melhor", vai sujeitar-se a frustrações, autojulgamento, culpas e arrependimentos.

Simplesmente, dê o melhor de si - em qualquer circunstância da sua vida. Não importa se você está doente ou cansado, se der sempre o melhor de si, não haverá forma de julgar a si mesmo. E se não julga a si mesmo, não há forma de ficar sujeito à culpa, ao arrependimento e à autopunição. Fazendo sempre o melhor, você vai quebrar um encantamento sob o qual sempre esteve.

Havia um homem que, desejando transcender seu sofrimento, foi a um templo budista para encontrar um mestre que o ajudasse. Dirigiu-se ao mestre e perguntou:

- Mestre, se eu meditar quatro horas por dia, quanto tempo vou levar para me iluminar:

O Mestre olhou para ele e respondeu:

- Se você meditar quatro horas por dia, provavelmente atingirá a iluminação em dez anos.

Imaginando que poderia fazer melhor, o homem perguntou: - Mestre , e seu meditar oito horas por dia, quanto tempo levarei para transcender?

- Se meditar oito horas por dia, talvez possa atingir a iluminação em vinte anos - respondeu o Mestre.

- Mas por que levarei mais tempo se meditar mais? indagou o homem.

- Você não está aqui para sacrificar sua alegria ou sua vida. Você está aqui para viver, para ser feliz, para amar. Se puder dar o melhor de si em duas horas de meditação, mas você gasta oito horas, só vai se cansar, perder o objetivo principal e não aproveitará sua vida. Dê o melhor de si e talvez aprenda que não importa quanto tempo você medita, pode viver, amar e ser feliz.

* * *

Dando o melhor de si, você vai viver intensamente sua vida. Será produtivo, será bom para você mesmo, porque irá se doar a sua família, a sua comunidade, a todos. Mas é a ação que irá fazê-lo sentir a mais intensa felicidade. Quando você sempre faz o melhor, pode assumir a ação. Fazer o melhor é assumir a ação, porque você ama isso, porque espera uma recompensa. A maior parte das pessoas faz exatamente o oposto: só age quando espera uma recompensa e não aprecia a ação. E esse é o motivo porque não fazem o melhor.

Por exemplo, a maior parte das pessoas vai para o trabalho todos os dias pensando apenas no pagamento e no dinheiro que irá conseguir com o trabalho feito. Elas mal podem esperar pela sexta-feira e pelo sábado, ou qualquer que seja o dia que o pagamento sair. estão trabalhando pela recompensa e, como resultado disso, resistem ao trabalho. Tentam evitar a ação, o que a toma mais difícil; portanto, não fazem o melhor.

Trabalham muito ao longo da semana, sofrendo pelo trabalho, sofrendo pela ação não porque gostem, mas porque sentem que devem. Precisam trabalhar porque precisam pagar o aluguel sustentar a família. Carregam toda essa frustração e, quando recebem o dinheiro, estão infelizes. Têm dois dias para fazer o que desejarem, e o que fazem? Tentam escapar. Ficam bêbados porque não gostam de si mesmos. Não gostam de suas vidas. Existem muitas formas de magoar a nós mesmos quando não gostamos de quem somos.

Por outro lado, se você agir apenas pelo prazer de agir, sem esperar recompensa, vai descobrir que gosta de todas as suas ações. As recompensas virão, mas você não está ligado à recompensa. Pode até mesmo ganhar mais do que imaginou para si mesmo sem esperar recompensa. Se gostamos do que fazemos e sempre fazemos o nosso melhor, então estamos realmente apreciando a vida. Estamos nos divertindo sem sentir tédio e sem acumular frustrações.

Quando você dá o melhor de si, não dá ao Juiz a oportunidade  de descobrir sua culpa ou de condená-lo. Se for seu "melhor" e o Juiz tenta julgá-lo de acordo com seu Livro de Leis, você vai obter a resposta: "Fiz o melhor possível". Não existem arrependimentos. Por isso, sempre fazemos o melhor. Não é um compromisso fácil de manter, mas ele vai libertá-lo de verdade.

Quando você faz o melhor que pode, aprende a aceitar a si mesmo. Mas é preciso estar atento e aprender com os erros. Aprender com os erros significa praticar, observar com honestidade os resultados e continuar praticando. Isso aumenta sua consciência.

Na verdade, fazer o melhor não parece trabalho, porque você gosta do  que quer que faça. Sabe que está fazendo o melhor possível quando está apreciando a ação ou realizando-a de uma forma que não lhe provoque reações negativas. Você dá o melhor de si porque tem vontade, não porque precise, nem porque esteja tentando agradar ao Juiz, e não porque esteja tentando agradar a outras pessoas.

Se você age porque precisa agir, então não  existe  forma  de  fazer  o  melhor. O melhor seria não fazer. Deve fazer o melhor porque agir assim     em todos os momentos deixa você contente. Quando está realizando o melhor de si apenas pelo prazer de fazer bem-feito, você está agindo porque aprecia agir.

Agir é viver plenamente. Não agir é a forma de negar a vida. Não agir é sentar em frente à televisão todos os dias por muitas horas porque você tem medo de estar vivo e assumir o risco de expressar quem é. Agir significa expressar quem você é. Pode ter muitas ideias na cabeça, mas o que faz toda diferença é a ação. Sem a ação depois de uma ideia não existe manifestação, nem resultados ou recompensas.

Um bom exemplo disso vem da história de Forrest Gump.

Ele não tinha grandes ideias, mas agia. Era feliz porque sempre dava o melhor possível de si em tudo o que fazia. Era ricamente recompensado sem esperar recompensa em absoluto. Assumir a ação estar vivo. É assumir o risco de sair e expressar seu sonho. É diferente de impor seu sonho aos outros, porque todos têm o direito de expressar próprio sonho.

Fazer o melhor é um grande hábito para ser cultivado.

Faço o melhor em tudo o que realizo e sinto. Fazer meu melhor tornou-se um ritual em minha vida porque fiz a escolha para que se tomasse um ritual. É uma crença como qualquer outra que escolhi acreditar. Tomar um banho é um ritual para mim, e com essa ação digo a meu corpo quanto gosto dele. Faço meu melhor para preencher as necessidades de meu corpo. Faço o melhor para dar ao meu corpo e receber o que ele tem a me dar.

Na Índia, realizam um ritual chamado puja. Nesse ritual, tomam ídolos que representam Deus de muitas formas diferentes e os banham, alimentam-nos e dão amor a eles. O ídolo em si não é importante. “O que é importante é a forma como realizam o ritual, a maneira como dizem:” Amo você, Deus”.

Deus é vida. Deus é vida em ação. A melhor forma de dizer "Amo você, Deus" é deixando o passado de lado e viver no momento presente, aqui e agora. Qualquer coisa que a vida tome de você, deixe que vá. Quando você se rende e deixa o passado para trás significa que você pode aproveitar o sonho que está acontecendo no presente. Deixar o passado para trás significa que você pode aproveitar o sonho que está acontecendo no presente.

Se você vive num sonho de passado, não pode aproveitar o que está acontecendo agora, porque sempre deseja que ele seja diferente do que é. não existe tempo para ter saudade de algo ou de alguém, porque você está vivo. Não aproveitar o que acontece no aqui agora é viver no passado é estar vivo pela metade. Isso leva à auto piedade, sofrimento e lagrimas.

Você nasceu com o direito de ser feliz . Nasceu com o direito de amar, de aproveitar e compartilhar seu amor. Você está vivo; portanto, tome sua vida e a aproveite. Não resista a vida está passando através de você, porque é Deus passando através de você. Apenas sua existência prova a existência de Deus. Sua existência prova a existência da vida e da energia.

Não precisamos saber ou provar coisa alguma. Simplesmente ser, assumir o risco e apreciar a da é tudo o que importa. Diga "não" quando tiver de dizer "não", e "sim" quando tiver de dizer "sim.". Você tem o direito de ser você. E só pode ser você quando dá o melhor de si. Quando não dá o melhor de si, está se negando o direito de ser você. Essa é urna semente que deve alimentar em sua mente. Você não precisa de grande sabedoria nem de grandes conceitos filosóficos. Não precisa da aceitação dos outros. Você expressa sua divindade estando vivo e amando a si mesmo e aos outros. É uma expressão divina dizer: "Ei, eu amo você".

Os primeiros três compromissos só vão funcionar se você fizer o melhor. Não espere sempre poder ser impecável com as palavras. Seus hábitos rotineiros são fortes e enraizados demais em sua mente. Mas você sempre pode fazer o melhor. Não espere que nunca vá levar nada para o lado pessoal; faça o melhor possível. Não espere que vá parar de tirar conclusões, mas com certeza você pode fazer o seu melhor.

Dando o melhor de si, os hábitos de usar errado a palavra, de levar as coisas para o lado pessoal e de tirar conclusões irão se tornando cada vez mais fracos e menos frequentes. Você não precisa julgar a si mesmo, sentir-se culpado ou castigar-se se não conseguir manter os compromissos. Se estiver fazendo o melhor possível, irá sentir-se bem consigo mesmo, ainda que tire conclusões, que leve as coisas para o lado pessoal e que não seja impecável com sua palavra.

Se você sempre fizer o melhor, uma vez depois da outra, irá tornar-se um mestre da transformação. A prática faz o mestre. Fazendo o melhor, irá

tornar-se um mestre Tudo o que você já aprendeu, aprendeu por meio da repetição. Aprendeu a escrever, a dirigir e até mesmo a andar por repetição. Você é um mestre em utilizar sua linguagem porque praticou. A ação faz a diferença.

Se você der o melhor de si na procura de liberdade pessoal, na procura do amor próprio, vai descobrir que é apenas uma questão de tempo até conseguir o que deseja. Não é sobre sonhar acordado ou passar horas em meditação. Você precisa levantar-se e ser humano. Precisa honrar O homem. ou a mulher que é. Respeite seu corpo, aproveite seu corpo, ame seu corpo, alimente-o, limpe-o e cure-o. Exercite-o e faça o que ele se sente bem em fazer. Esse é o puja de seu corpo, e isso é a comunhão entre você e Deus.

Você não precisa adorar ídolos da Virgem Maria, de Cristo ou de Buda. Você pode se quiser; se é bom, faça. Seu próprio corpo é uma manifestação de Deus, e se você honrar seu corpo, tudo vai mudar em sua vida. Quando pratica o hábito de amar cada parte de seu corpo, planta sementes em   sua mente, e quando elas germinarem, você irá amar, honrar e respeitar seu corpo imensamente.

Cada ação se torna um ritual no qual você está honrando a Deus. Depois disso, o passo seguinte é honrar a Deus com todos os pensamentos, emoções, crenças, até com o que é "certo" e "errado". Cada pensamento torna-se uma comunhão com Deus, e você irá viver um sonho sem julgamentos, sem fazer o papel de vítima, além de libertar-se da necessidade de mexericar e provocar autossofrimento.

Quando você honra esses quatro compromissos juntos, não existe maneira de viver no inferno. É impossível. Se você for impecável com sua palavra,  se não levar nada para o lado pessoal, se não tirar conclusões e sempre  der o melhor de si, terá uma bela vida. Irá controlar cem por cento de sua vida.

Os Quatro Compromissos são um sumário do domínio da arte da transformação, um dos domínios dos toltecas. Você transforma o inferno no céu. O sonho do planeta é transformado  em seu sonho pessoal  de céu. A sabedoria está lá, só esperando que você a use. Os Quatro Compromissos estão lá; você só precisa adotar esses compromissos e respeitar seu domínio e poder. Você simplesmente dá o melhor de si para respeitar esses compromissos. Você pode fazer esse compromisso hoje: escolho honrar os Quatro Compromissos. São tão simples e lógicos que  até uma criança pode compreendê-los. Mas você precisa ter uma grande força de vontade, para cumprir esses compromissos. Por quê? Porque aonde quer que vamos, encontramos nosso caminho cheio de obstáculos. Cada um tenta sabotar nosso acordo com esses quatro compromissos, e tudo ao nosso redor é uma armadilha para quebra-lo. O problema é que  os outros compromissos são parte do sonho do planeta. Estão vivos, e são muito fortes.

Por isso, você precisa ser um grande caçador, um grande, guerreiro que possa defender esses Quatro Compromissos com sua vida. Sua felicidade, sua liberdade, toda a sua maneira de viver depende disso.O objetivo do guerreiro é transcender esse mundo, escapar desse inferno e nunca mais voltar. Como os toltecas nos ensinaram, a recompensa é transcender a experiência humana de sofrimento, tomar-se a encarnação divina. Essa é a recompensa.

Realmente, precisamos usar cada migalha de poder que possuímos para ter sucesso ao manter esses compromissos. Eu não esperava poder conseguir, de início. Caí muitas vezes, mas me levantei e continuei. Caí outras vezes e continuei. Não senti pena de mim mesmo. Não havia forma de sentir pena de mim mesmo. Eu dizia: "Se caí, sou forte o suficiente,  sou inteligente o suficiente, e posso conseguir". Fiquei em pé e continuei meu caminho. Caí e continuei caminhando, e a cada vez foi mais fácil. Ainda assim, no início foi muito duro e difícil.

Portanto, se cair, não julgue. Não dê ao seu Juiz a satisfação de transformar você em vítima. Não seja duro com você mesmo. Erga-se e faça o compromisso novamente. "Muito bem, quebrei meu compromisso de ser impecável com minha palavra. Vou começar outra vez. Vou manter os Quatro Compromissos só por hoje. Hoje serei impecável com minha palavra. Não levarei nada para o lado pessoal, não tirarei conclusões e farei o melhor possível."

Se você quebrar um compromisso, comece outra vez no dia seguinte, e novamente no dia que virá depois. Será difícil no início, mas a cada dia se tornará mais e mais fácil, até que um dia você descobre que está controlando a sua - vida com esses Quatro Compromissos. Você ficará surpreso com a maneira como sua vida foi transformada.

Você não precisa ser religioso nem ir à igreja todos os dias. Seu amor e auto respeito irão crescer cada vez mais. Você pode fazer isso. Se eu consegui, você também pode conseguir. Não se preocupe com o futuro; mantenha sua atenção no hoje e fique no momento presente. Viva apenas um dia de cada vez. Sempre dê o melhor de si para manter esses compromissos, e logo ,será fácil para você também. Hoje é o início de um novo sonho.


sexta-feira, outubro 09, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 5/11

- Don Miguel Ruiz - 


O TERCEIRO COMPROMISSO

Não tire conclusões

O terceiro compromisso é não tire conclusões.

Nós temos a tendência para tirar conclusões sobre tudo. Presumir. O problema com as conclusões é que acreditamos que elas são verdadeiras. Poderíamos jurar que são reais. Tiramos conclusões sobre o que os outros estão fazendo e pensando - levamos para o lado pessoal-, e então os culpamos e reagimos enviando veneno emocional com nossa palavra. Por isso sempre que fazemos presunções estamos pedindo problemas. Quando tiramos uma conclusão, entendemos errado, levamos isso para o lado pessoal e acabamos criando um grande drama do nada.

Toda tristeza e drama que você passou em sua vida foram causados por tirar conclusões e levar as coisas para o lado pessoal. Pare um instante  para examinar essa afirmativa. Toda a teia de controle entre seres humanos é sobre tirar conclusões e levar as coisas para o lado pessoal. Todo o nosso sonho de inferno é baseado nisso.

Criamos muito veneno emocional apenas tirando conclusões e fazendo isso de forma pessoal porque geralmente começamos a fofocar sobre nossas conclusões. Lembre-se, fofocar é a forma como nos comunicamos uns com os outros no sonho do inferno e transferimos veneno de uns para os outros. Como ficamos com medo de pedir esclarecimentos, tiramos conclusões e acreditamos estar certos sobre essas conclusões; depois defendemos nossas conclusões e tentamos tornar a outra pessoa errada. Sempre é melhor fazer perguntas do que tirar conclusões, porque as conclusões nos predispõem ao sofrimento.

O grande mitote na mente humana cria um bocado de caos, que faz com que interpretemos mal e tudo errado. Apenas enxergamos o que queremos enxergar e escutamos o que queremos escutar. Temos o hábito de sonhar sem base na realidade. Literalmente, sonhamos coisas com nossas imaginações. Quando não entendemos algum fato, tiramos uma conclusão sobre o significado daquilo. Assim que a verdade aparece, as bolhas de nossos sonhos estouram e descobrimos que não coincidem em absoluto com o que imaginávamos.

Um exemplo: você está andando no shopping e encontra uma pessoa de quem gosta. A pessoa se volta para você, sorri e afasta-se. Você pode tirar várias conclusões baseado nessa experiência. Com essas conclusões, pode criar toda uma fantasia. E você quer de verdade acreditar nessa fantasia e torná-la real. Todo um sonho começa a formar-se baseado nessas conclusões e você pode acreditar: "Puxa, essa pessoa gosta de mim". Em sua mente, Um relacionamento inteiro pode começar daí. Talvez você até se case com ela nessa sua terra da fantasia. "Mas a fantasia é na sua mente, em seu sonho pessoal.

Tirar conclusões em relacionamentos é pedir problemas. Frequentemente, presumimos que nossos parceiros sabem o que pensamos e que não temos necessidade de expressar nossos desejos. Presumimos que eles irão fazer o que queremos porque nos conhecem muito bem. Se não fizerem o que presumimos que fariam, nos sentimos magoados e dizemos: "Você devia saber".

Outro exemplo: você resolve se casar, e pressupõe que sua companheira enxerga o casamento da mesma forma que você. Depois, vivem juntos e descobrem que não é verdade. Isso cria um bocado de conflito, mas, mesmo assim, você não tenta esclarecer seus sentimentos sobre casamento. O marido chega do trabalho e a esposa está brava, e o marido não sabe porquê. Talvez seja porque a mulher tirou uma conclusão. Sem lhe dizer o que quer, ela presume que ele a conheça tão bem que saiba o que ela deseja, como se pudesse ler sua mente. A mulher fica brava porque o marido não atinge essa expectativa. Tirar conclusões num relacionamento leva a muitas brigas, muitas dificuldades e desentendimentos com pessoas que supostamente amamos.

Em qualquer tipo de relacionamento podemos presumir que os outros sabem o que pensamos e que não precisamos dizer o que queremos. Eles farão o que quisermos porque nos conhecem muito bem. Se não fizerem o que desejamos, quando presumimos que fariam isso, nos sentimos magoados e pensamos: "Como é que você pôde fazer isso comigo? Deveria saber". Outra vez presumimos que o outro deveria saber o que nós queremos. Todo um drama é criado porque tiramos uma conclusão e em seguida tiramos novas conclusões sobre a primeira.

É interessante observar como a mente humana trabalha. Temos a necessidade de justificar tudo, de explicar e compreender tudo para sentir segurança. Temos milhões de perguntas que precisam de respostas porque existe muitas coisas que a mente racional não consegue explicar. Não importa se a resposta é correta; uma resposta já nos faz sentir seguros. Por isso presumimos.

Se os outros nos contam algo, tiramos conclusões; se não nos contam, também tiramos, para preencher nossa necessidade de saber e suprir a necessidade de comunicação. Mesmo que escutemos alguma coisa e não compreendamos, tiramos conclusões sobre o significado e depois acreditamos nelas. Tiramos todas essas conclusões porque não temos a coragem de fazer perguntas.

Essas conclusões são rápidas e inconscientes porque na maior parte do tempo mantemos compromissos nesse sentido. Concordamos conosco que não é seguro fazer perguntas; concordamos com que se as pessoas nos amam, devem saber exatamente o que desejamos e como nos sentimos. Quando acreditamos em algo, presumimos que estamos certos sobre aquilo, até o ponto em que destruiremos relacionamentos para defender nossas posições.

Presumimos que todos enxergam a vida da mesma forma que nós. Presumimos que os outros pensam da mesma forma que nós, sentem da mesma forma que nós, julgam como nós julgamos e sofrem como nós sofremos. Essa é a maior presunção que o ser humano pode ter. Por isso, temos medo de ser nós mesmos na presença dos outros. Porque achamos que todos estarão julgando, nos vitimando, nos fazendo sofrer e nos culpando, como fazemos a nós mesmos. Portanto, antes que os outros tenham uma chance de nos rejeitar, nós já nos rejeitamos. É assim que funciona a mente humana.

Também tiramos conclusões sobre nós mesmos, e com isso criamos um bocado de conflito interior. "Acho que sou capaz de fazer isso." Você tira essa conclusão, e depois descobre que não foi capaz de fazer. Você superestima ou subestima a si mesmo porque não resolveu parar e formular perguntas a si mesmo, depois respondê-las. Talvez precise reunir mais fatos sobre uma situação determinada. Ou talvez você precise parar de mentir a si mesmo sobre o que deseja.

Frequentemente, quando você inicia um relacionamento com alguém de quem gosta, precisa justificar porque gosta daquela pessoa. Enxerga apenas o que deseja enxergar e nega que existam coisas naquela pessoa de que você não gosta em absoluto. Mente para si mesmo, a fim de ficar com a razão. Em seguida, passa a tirar conclusões, e uma delas pode ser: "Meu amor vai mudar essa pessoa". Porém, isso não é verdade. Seu amor não pode mudar ninguém. Se os outros mudam, é porque desejam mudar, não porque você pode mudá-los. Então, algo acontece entre os dois e você se magoa. Repentinamente, enxerga o que não quis enxergar antes, e amplificado pelo seu veneno emocional. Agora você precisa justificar sua dor emocional e culpa os defeitos por suas escolhas.

Não precisamos justificar o amor de forma alguma; está ali ou não está ali. O amor verdadeiro é aceitar a outra pessoa da forma que ela é, sem tentar mudá-la. Se tentamos mudá-la, isso significa que na verdade não gostamos dela. Claro, se decide viver com alguém, se firmou tal compromisso, sempre é melhor fazer isso com alguém que seja exatamente da forma que você deseja. Descubra alguém que você não precise mudar em absoluto. É muito mais fácil encontrar alguém que já é da forma que você gosta, em vez de tentar mudar essa pessoa. Igualmente, essa pessoa precisa amá-la da forma que você é. Por que estar com alguém, se essa pessoa não é quem você desejaria que fosse?

Devemos ser quem somos, de forma que não precisemos apresentar uma falsa imagem. Se você me ama da forma como sou, "Muito bem, me aceite". Se você não me ama da forma como sou, "Muito bem, até logo. Procure outra pessoa". Pode soar rigoroso, mas esse tipo de comunicação significa que os compromissos pessoais que fazemos com outros são claros e impecáveis.

Imagine o dia em que você não vai tirar conclusões sobre seu parceiro e, mais tarde, com todas as outras pessoas em sua vida. Sua forma de se comunicar irá mudar completamente e seus relacionamentos não mais sofrerão com os compromissos criados por falsas presunções.

A forma de evitar tirar conclusões é fazer perguntas. Se você não compreende, pergunte. Tenha a coragem de perguntar até que as coisas fiquem tão claras quanto possível, e, mesmo assim, nunca imagine que sabe tudo o que há para saber numa determinada situação. Uma vez ouvida a resposta, não terá de tirar conclusões, porque saberá a verdade.

Da mesma forma, prepare-se para perguntar o que quiser saber. Todos têm o direito de responder sim ou não, mas você também tem o direito de perguntar.

Se não compreende alguma coisa, é melhor perguntar e saber do que tirar qualquer conclusão. No dia em que você parar de tirar conclusões, irá se comunicar com clareza e pureza, livre de veneno emocional. Sem tirar conclusões, sua palavra se torna impecável.

Com clareza de comunicação, todos os seus relacionamentos irão mudar, não apenas com seu companheiro, mas com todos os outros. Não será necessário tirar conclusões, porque tudo se tornará claro. É isso o que desejo; é isso o que você deseja. Se nos comunicarmos sempre assim, nossa palavra se tornará impecável. Se todos os humanos pudessem se comunicar com a impecabilidade da palavra, não existiriam guerras, violência ou mal-entendidos. Todos os problemas humanos poderiam ser resolvidos se tivéssemos uma comunicação boa e clara.

Este, portanto, é o Terceiro Compromisso: não tire conclusões. Dizer isso parece fácil, e sei que é uma coisa muito difícil de fazer. É difícil porque fazemos o oposto com muita frequência. Temos hábitos e rotinas mentais dos quais não nos damos conta. Tornar-se consciente desses hábitos e compreender a importância desse compromisso é o primeiro passo. Mas compreender sua importância não é o suficiente. A informação ou a ideia é apenas a semente em sua cabeça. O que realmente faz diferença é a ação. E afirmar a ação várias vezes fortalece sua vontade, alimenta a semente e estabelece uma base sólida para que os novos hábitos germinem. Depois de muitas repetições, esses novos compromissos se tornarão uma segunda natureza, e você perceberá a mágica de sua palavra transformá-lo de um praticante de magia negra em praticante de magia branca.

Um praticante de magia branca usa a palavra para criar, dar, partilhar e amar. Tornando esse compromisso um hábito, toda a sua vida será completamente transformada.

Quando você transforma todo o seu sonho, a mágica acontece em sua vida. Aquilo de que precisa lhe vem facilmente, porque o espírito se move com liberdade através de você. É o domínio da intenção, o domínio do espírito, o domínio do amor, O domínio da gratidão e o domínio da vida. Esse é o objetivo dos toltecas. Esse é o caminho para a liberdade pessoal.


quarta-feira, setembro 30, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 4/11

- Don Miguel Ruiz -


 O SEGUNDO COMPROMISSO

Não leve nada para o lado pessoal

Os três compromissos seguintes na verdade se originam do primeiro. O segundo compromisso é: não leve nada para  o lado  pessoal.

O que quer que aconteça com você, não tome como pessoal. Usando o exemplo já mencionado, se o vejo na rua e digo: "Você é um estúpido", sem conhecê-lo, não estou falando de você, estou falando de mim. Se você levar para o lado pessoal, talvez acredite que é estúpido. Talvez possa dizer para si mesmo: "Como ele sabe? Será clarividente ou todos percebem que sou estúpido?".

Você leva tudo para o lado pessoal porque concorda com o que está sendo dito. Assim que concorda, o veneno passa através de você e o prende no sonho do inferno. O que causa a sua própria captura é o que chamamos de importância pessoal. Importância pessoal, ou levar as coisas para o lado pessoal, é a expressão máxima do egoísmo porque cometemos a presunção de achar que tudo é sobre "nós". Durante o período de nossa educação, ou domesticação, aprendemos a levar tudo para o lado pessoal. Achamos que somos responsáveis por tudo. Eu, eu, eu e sempre eu!

Nada do que os outros fazem é motivado por você. É por causa deles mesmos. Todas as pessoas vivem em seu próprio sonho, em sua própria mente; estão num mundo completamente diferente do que aquele no qual vivemos. Quando levamos algo para o lado pessoal, presumimos que os outros sabem o que está em nosso mundo e tentamos impor nosso mundo ao deles.

Mesmo quando uma situação parece pessoal, mesmo que os outros o insultem diretamente, não tem nada a ver com você. O que eles dizem, o que fazem e as opiniões que emitem estão de acordo com os  compromissos que as pessoas possuem em suas mentes. O ponto de vista deles provém de toda a programação que receberam durante a domesticação.

Se alguém emite uma opinião e diz "Nossa, como você engordou!", não a leve para o lado pessoal, porque a verdade é que essa pessoa está lidando com os próprios sentimentos, crenças e opiniões. Aquela pessoa tenta envenená-lo, e, se você levar isso para o lado pessoal, então estará aceitando esse veneno, que se torna o seu. Levar as coisas para o lado pessoal torna você presa fácil para esses predadores, os feiticeiros de palavras. Eles conseguem captar sua atenção com uma pequena opinião e injetam todo o veneno que desejam; como você levou para o lado pessoal, aceita tudo.

Você aceita o lixo emocional deles, que passa a ser o seu. Se você não levar para o lado pessoal, estará imune, mesmo no meio do inferno. Imunidade ao veneno no meio do inferno é a dádiva desse compromisso.

Quando você leva as coisas para o lado pessoal, sente-se ofendido e sua reação é defender suas crenças e criar conflitos. Você faz uma tempestade num copo de água, porque tem a necessidade de estar certo e tornar todos os outros errados. Você também tenta estar certo, fornecendo suas próprias opiniões. Da mesma forma, o que quer que sinta e faça é apenas uma projeção de seu sonho pessoal, um reflexo dos próprios compromissos. O que você diz, o que faz e as opiniões que emite estão de acordo com os compromissos que firmou - e esses compromissos nada têm a ver comigo.

Não é importante para mim o que você pensa sobre mim, então não levo para o lado pessoal. Não levo para o lado pessoal quando as pessoas dizem: "Miguel, você é o máximo", e não levo para o lado pessoal quando eles dizem: "Miguel, você é péssimo". Sei que, quando estiverem felizes, vão me dizer: "Miguel, você é um anjo". Mas quando estão zangados, devem me dizer: "Você é nojento. Como pode dizer uma coisa dessas?". De qualquer forma, não me afeta porque sei o que sou. Não tenho a necessidade de ser aceito. Não tenho a necessidade de ter alguém dizendo: "Nossa, como você é bom" ou "Como ousa dizer uma coisa dessas?".

Não levo as coisas para o lado pessoal. O que quer que você pense, como quer que se sinta, sei que é problema seu, e não meu. É a forma como você vê o mundo. Não se trata de nada pessoal, pois você está lidando consigo mesmo, não comigo. Os outros vão ter outra opinião, de acordo com seu próprio sistema de crenças; portanto, nada do que pensem sobre mim corresponde a mim, mas a eles.

Você pode me dizer: “Miguel, o que esta dizendo me magoa”. Mas não é o que estou dizendo que o está magoando; é que você possui ferida que eu toco com o que digo. Você está magoando a si mesmo. Não existe forma de eu levar para o lado pessoal. Não porque eu não acredite em você ou não confie em você, mas porque sei que enxerga o mundo com olhos diferentes, os seus olhos. Você cria uma imagem ou um filme em sua mente, e nessa imagem você é o diretor, o produtor e o protagonista. Todos os outros são coadjuvantes. É o seu filme.

A forma como você vê esse filme é resultado dos compromissos que firmou com a vida. Seu ponto de vista é estritamente pessoal. Não é a verdade de ninguém, e sim a sua. Então, se você ficar bravo comigo, sei que está lidando consigo mesmo. Sou uma desculpa para você se irritar. E você fica bravo porque está lidando com o medo. Se não está com medo, não existe motivo para se irritar comigo. Se você não tem medo, não há motivo para me odiar. Se você não tem medo, não há motivo para sentir ciúme ou tristeza.

Se você vive sem medo, se ama, não existe lugar para essas emoções. Se não sentir nenhuma dessas emoções, é lógico e normal que se sinta bem. Quando se sente bem, tudo ao seu redor está bem. Quando tudo ao seu redor está ótimo, qualquer coisa o faz feliz. Você está amando tudo ao redor porque está amando a si mesmo. Porque gosta da maneira como você é. Porque está contente consigo mesmo. Porque está contente com sua vida. Você está contente com o filme que está produzindo, contente com seus compromissos de vida. Você está em paz e sente-se feliz. Vive nesse estado de graça, no qual tudo é maravilhoso e tudo é tão bonito. Nesse estado de graça, você está produzindo amor o tempo todo com tudo o que percebe.

O que quer que as pessoas façam, sintam, pensem ou digam, não leve para o lado pessoal. Se eles disserem como você é maravilhoso, não o estão dizendo por sua causa. Você sabe que é maravilhoso. Não é necessário acreditar quando as pessoas dizem que você é maravilhoso. Não leve nada para o lado pessoal. Mesmo se alguém pegou uma arma e deu um tiro em sua cabeça, não foi nada pessoal. Até nessa situação extrema.

A opinião que você faz de si mesmo pode não ser verdadeira; portanto, não há necessidade de levar para o lado pessoal tudo o que escuta em sua própria mente. A mente possui a capacidade de falar consigo mesma, mas também tem a capacidade de ouvir informações de outros reinos. Algumas vezes você escuta uma voz em sua mente e pode ficar imaginando de onde ela vem. A voz pode ter vindo de outra realidade na qual os seres humanos são muito semelhantes à mente humana. Os toltecas chamam esses seres de Aliados. Na Europa, África e Índia são chamados de Deuses.

Nossa mente também existe no nível dos Deuses. Nossa mente vive nessa realidade e pode percebê-la. A mente vê com os olhos e percebe essa realidade física em estado de vigília. Mas a mente também vê e percebe sem os olhos, embora a razão raramente se dê conta dessa percepção. A mente vive em mais de uma dimensão. Existem ocasiões em que você tem ideias que não se originaram em sua mente, mas as está percebendo com sua mente. Você tem o direito de acreditar ou não acreditar nessas vozes e o direito de não levar para o lado pessoal o que elas dizem. Temos a opção de acreditar ou deixar de acreditar nas vozes que escutamos no interior de nossas mentes, assim como temos uma opção ao decidir no que acreditar e concordar no sonho do planeta.

A mente também pode falar e escutar. A mente é dividida da mesma forma que o seu corpo é dividido. Assim como você pode dizer: "Penso numa das mãos e posso sacudir e sentir minha outra mão", a mente também pode dizer o mesmo para si. Parte da mente está falando e outra parte está escutando. Torna-se um grande problema quando milhares de partes de sua mente estão falando ao mesmo tempo. Chamamos isso de mitote, lembra?

O mitote pode ser comparado a um grande supermercado onde milhares de pessoas estão falando e negociando ao mesmo tempo. Cada uma tem pensamentos e sentimentos diferentes; cada uma tem um ponto de vista diferente. A programação da mente, todos os compromissos que assumimos, não são necessariamente compatíveis uns com os outros. Cada compromisso comporta-se como um ser humano separado; possui sua própria personalidade e sua própria voz. Existem compromissos conflitantes que vão contra outros compromissos e continuam até se tornar uma grande guerra na mente. O mitote é o motivo pelo qual os humanos mal sabem o que querem, como querem ou quando querem. Não concordam consigo mesmos porque existem partes da mente que desejam uma coisa e outras partes que desejam exatamente o oposto.

Algumas partes da mente possuem objeções a certos pensamentos e ações, e outra parte suporta as ações de pensamentos conflitantes. Todos esses pequenos seres criam conflito interior porque estão vivos e cada um possui uma voz. Apenas fazendo um inventário de nossos compromissos é que poderemos descobrir quais os conflitos na mente e, mais tarde, ordenar o caos do mitote.

Não leve nada para o lado pessoal, porque ao fazer isso você sofre por nada. Os seres humanos são viciados em sofrer de várias formas diferentes, e apoiam uns aos outros quando se trata de manter esse  vício. Os seres humanos concordam em ajudar uns aos outros a sofrer. Se você tem necessidade de sofrer, vai encontrar facilmente quem o faça sofrer. Da mesma forma, se está com pessoas que precisam sofrer, algo em você faz com que produza esse sofrimento para elas. É como se elas tivessem um cartaz nas costas dizendo: "Por favor, me chute". Estão pedindo uma justificativa para o próprio sofrimento. O vício de sofrer não passa de um compromisso reafirmado todos os dias.

Aonde quer que vá, encontrará pessoas mentindo para você. E, quando sua consciência aumenta, vai reparar que você também mente para si mesmo. Não espere que as pessoas lhe digam a verdade, porque também mentem para si mesmas. Você precisa confiar em si mesmo e escolher acreditar ou não no que alguém lhe diz.

Quando realmente enxergamos outras pessoas como elas são - sem levar para o lado pessoal -, nunca poderemos ser feridos pelo que os outros digam ou façam. Mesmo que os outros mintam para você, não há problema. Estão mentindo porque têm medo. Têm medo de que você descubra que eles não são perfeitos. É doloroso retirar a máscara social. Se os outros dizem uma coisa e fazem outra, você estará mentindo para si mesmo se não prestar atenção nos atos deles. Se for verdadeiro consigo mesmo, irá poupar um bocado de dor emocional. Dizer a si mesmo a verdade pode magoar, mas você não precisa ficar ligado a essa dor. A cura é iniciada e torna-se apenas uma questão de tempo para que as coisas melhorem para você.

Se alguém não o está tratando com amor e respeito, é benéfico que se afaste de você. Se essa pessoa não se afastar, você vai permanecer anos a fio sofrendo com ela. Afastar-se pode magoar por um instante, mas seu coração irá curar-se disso. Então você pode escolher o que realmente deseja. Irá descobrir que não precisa confiar nos outros tanto quanto precisa confiar em si mesmo para fazer as escolhas corretas.

Quando você torna um hábito forte não levar as coisas para o lado pessoal evita muitos aborrecimentos em sua vida. Sua raiva, inveja e ciúme irão desaparecer, e até mesmo a tristeza irá dissolver-se quando você aprender a não levar as coisas para o lado pessoal.

Se você tomar esse segundo compromisso um hábito, irá descobrir que nada pode te colocar de volta no inferno. Uma grande quantidade de liberdade fica acessível quando você deixa de levar as coisas para o lado pessoal. Você se torna imune à magia negra, e nenhum encantamento pode afetá-lo, não importa quão poderoso seja. Todo mundo pode mexericar a seu respeito, mas se você não levar para o lado pessoal, estará imune. Alguém pode enviar veneno emocional intencionalmente, mas se você não levar para o lado pessoal, estará imune. Quando não aceita a dor emocional, ela se torna pior para quem a enviou, mas não atinge você.

Pode perceber como esse compromisso é importante? Não levar nada para o lado pessoal ajuda a quebrar muitos hábitos e rotinas que o prendem ao sonho do inferno e causam sofrimento desnecessário. Apenas praticando esse segundo compromisso você pode começar a quebrar dúzias de pequenos outros compromissos que lhe causam sofrimento. E se pratica os primeiros dois compromissos, irá quebrar setenta e cinco por cento dos pequenos compromissos que o mantinham ligado ao inferno.

Escreva o compromisso num papel e coloque na geladeira para lembrar você todo o tempo: Não leve nada para o lado pessoal.

Enquanto você se acostuma à prática de não levar as coisas para o lado pessoal, não vai precisar colocar sua confiança no que os outros dizem ou fazem. Só precisará confiar em si mesmo para fazer escolhas responsáveis. Você nunca é responsável pela ação dos outros; só é responsável por si próprio. Ao compreender verdadeiramente isso recusando-se a levar as coisas para o lado pessoal, você mal pode ser atingido pelos comentários descuidados ou ações dos outros.

Se você mantém esse compromisso, pode viajar ao redor do mundo com o coração completamente aberto e ninguém será capaz de lhe fazer mal. Pode dizer "eu amo você" sem medo de ser ridículo ou rejeitado. Você aprende a pedir o que precisa. Pode dizer sim ou não - qualquer que seja sua escolha - sem culpa ou autojulgamento. Você pode escolher sempre seguir seu coração. Então estará no meio do inferno e será capaz de experimentar paz e felicidade. Você pode permanecer em seu estado de graça e o inferno não será capaz de afetá-lo.