"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, outubro 09, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 5/11

- Don Miguel Ruiz - 


O TERCEIRO COMPROMISSO

Não tire conclusões

O terceiro compromisso é não tire conclusões.

Nós temos a tendência para tirar conclusões sobre tudo. Presumir. O problema com as conclusões é que acreditamos que elas são verdadeiras. Poderíamos jurar que são reais. Tiramos conclusões sobre o que os outros estão fazendo e pensando - levamos para o lado pessoal-, e então os culpamos e reagimos enviando veneno emocional com nossa palavra. Por isso sempre que fazemos presunções estamos pedindo problemas. Quando tiramos uma conclusão, entendemos errado, levamos isso para o lado pessoal e acabamos criando um grande drama do nada.

Toda tristeza e drama que você passou em sua vida foram causados por tirar conclusões e levar as coisas para o lado pessoal. Pare um instante  para examinar essa afirmativa. Toda a teia de controle entre seres humanos é sobre tirar conclusões e levar as coisas para o lado pessoal. Todo o nosso sonho de inferno é baseado nisso.

Criamos muito veneno emocional apenas tirando conclusões e fazendo isso de forma pessoal porque geralmente começamos a fofocar sobre nossas conclusões. Lembre-se, fofocar é a forma como nos comunicamos uns com os outros no sonho do inferno e transferimos veneno de uns para os outros. Como ficamos com medo de pedir esclarecimentos, tiramos conclusões e acreditamos estar certos sobre essas conclusões; depois defendemos nossas conclusões e tentamos tornar a outra pessoa errada. Sempre é melhor fazer perguntas do que tirar conclusões, porque as conclusões nos predispõem ao sofrimento.

O grande mitote na mente humana cria um bocado de caos, que faz com que interpretemos mal e tudo errado. Apenas enxergamos o que queremos enxergar e escutamos o que queremos escutar. Temos o hábito de sonhar sem base na realidade. Literalmente, sonhamos coisas com nossas imaginações. Quando não entendemos algum fato, tiramos uma conclusão sobre o significado daquilo. Assim que a verdade aparece, as bolhas de nossos sonhos estouram e descobrimos que não coincidem em absoluto com o que imaginávamos.

Um exemplo: você está andando no shopping e encontra uma pessoa de quem gosta. A pessoa se volta para você, sorri e afasta-se. Você pode tirar várias conclusões baseado nessa experiência. Com essas conclusões, pode criar toda uma fantasia. E você quer de verdade acreditar nessa fantasia e torná-la real. Todo um sonho começa a formar-se baseado nessas conclusões e você pode acreditar: "Puxa, essa pessoa gosta de mim". Em sua mente, Um relacionamento inteiro pode começar daí. Talvez você até se case com ela nessa sua terra da fantasia. "Mas a fantasia é na sua mente, em seu sonho pessoal.

Tirar conclusões em relacionamentos é pedir problemas. Frequentemente, presumimos que nossos parceiros sabem o que pensamos e que não temos necessidade de expressar nossos desejos. Presumimos que eles irão fazer o que queremos porque nos conhecem muito bem. Se não fizerem o que presumimos que fariam, nos sentimos magoados e dizemos: "Você devia saber".

Outro exemplo: você resolve se casar, e pressupõe que sua companheira enxerga o casamento da mesma forma que você. Depois, vivem juntos e descobrem que não é verdade. Isso cria um bocado de conflito, mas, mesmo assim, você não tenta esclarecer seus sentimentos sobre casamento. O marido chega do trabalho e a esposa está brava, e o marido não sabe porquê. Talvez seja porque a mulher tirou uma conclusão. Sem lhe dizer o que quer, ela presume que ele a conheça tão bem que saiba o que ela deseja, como se pudesse ler sua mente. A mulher fica brava porque o marido não atinge essa expectativa. Tirar conclusões num relacionamento leva a muitas brigas, muitas dificuldades e desentendimentos com pessoas que supostamente amamos.

Em qualquer tipo de relacionamento podemos presumir que os outros sabem o que pensamos e que não precisamos dizer o que queremos. Eles farão o que quisermos porque nos conhecem muito bem. Se não fizerem o que desejamos, quando presumimos que fariam isso, nos sentimos magoados e pensamos: "Como é que você pôde fazer isso comigo? Deveria saber". Outra vez presumimos que o outro deveria saber o que nós queremos. Todo um drama é criado porque tiramos uma conclusão e em seguida tiramos novas conclusões sobre a primeira.

É interessante observar como a mente humana trabalha. Temos a necessidade de justificar tudo, de explicar e compreender tudo para sentir segurança. Temos milhões de perguntas que precisam de respostas porque existe muitas coisas que a mente racional não consegue explicar. Não importa se a resposta é correta; uma resposta já nos faz sentir seguros. Por isso presumimos.

Se os outros nos contam algo, tiramos conclusões; se não nos contam, também tiramos, para preencher nossa necessidade de saber e suprir a necessidade de comunicação. Mesmo que escutemos alguma coisa e não compreendamos, tiramos conclusões sobre o significado e depois acreditamos nelas. Tiramos todas essas conclusões porque não temos a coragem de fazer perguntas.

Essas conclusões são rápidas e inconscientes porque na maior parte do tempo mantemos compromissos nesse sentido. Concordamos conosco que não é seguro fazer perguntas; concordamos com que se as pessoas nos amam, devem saber exatamente o que desejamos e como nos sentimos. Quando acreditamos em algo, presumimos que estamos certos sobre aquilo, até o ponto em que destruiremos relacionamentos para defender nossas posições.

Presumimos que todos enxergam a vida da mesma forma que nós. Presumimos que os outros pensam da mesma forma que nós, sentem da mesma forma que nós, julgam como nós julgamos e sofrem como nós sofremos. Essa é a maior presunção que o ser humano pode ter. Por isso, temos medo de ser nós mesmos na presença dos outros. Porque achamos que todos estarão julgando, nos vitimando, nos fazendo sofrer e nos culpando, como fazemos a nós mesmos. Portanto, antes que os outros tenham uma chance de nos rejeitar, nós já nos rejeitamos. É assim que funciona a mente humana.

Também tiramos conclusões sobre nós mesmos, e com isso criamos um bocado de conflito interior. "Acho que sou capaz de fazer isso." Você tira essa conclusão, e depois descobre que não foi capaz de fazer. Você superestima ou subestima a si mesmo porque não resolveu parar e formular perguntas a si mesmo, depois respondê-las. Talvez precise reunir mais fatos sobre uma situação determinada. Ou talvez você precise parar de mentir a si mesmo sobre o que deseja.

Frequentemente, quando você inicia um relacionamento com alguém de quem gosta, precisa justificar porque gosta daquela pessoa. Enxerga apenas o que deseja enxergar e nega que existam coisas naquela pessoa de que você não gosta em absoluto. Mente para si mesmo, a fim de ficar com a razão. Em seguida, passa a tirar conclusões, e uma delas pode ser: "Meu amor vai mudar essa pessoa". Porém, isso não é verdade. Seu amor não pode mudar ninguém. Se os outros mudam, é porque desejam mudar, não porque você pode mudá-los. Então, algo acontece entre os dois e você se magoa. Repentinamente, enxerga o que não quis enxergar antes, e amplificado pelo seu veneno emocional. Agora você precisa justificar sua dor emocional e culpa os defeitos por suas escolhas.

Não precisamos justificar o amor de forma alguma; está ali ou não está ali. O amor verdadeiro é aceitar a outra pessoa da forma que ela é, sem tentar mudá-la. Se tentamos mudá-la, isso significa que na verdade não gostamos dela. Claro, se decide viver com alguém, se firmou tal compromisso, sempre é melhor fazer isso com alguém que seja exatamente da forma que você deseja. Descubra alguém que você não precise mudar em absoluto. É muito mais fácil encontrar alguém que já é da forma que você gosta, em vez de tentar mudar essa pessoa. Igualmente, essa pessoa precisa amá-la da forma que você é. Por que estar com alguém, se essa pessoa não é quem você desejaria que fosse?

Devemos ser quem somos, de forma que não precisemos apresentar uma falsa imagem. Se você me ama da forma como sou, "Muito bem, me aceite". Se você não me ama da forma como sou, "Muito bem, até logo. Procure outra pessoa". Pode soar rigoroso, mas esse tipo de comunicação significa que os compromissos pessoais que fazemos com outros são claros e impecáveis.

Imagine o dia em que você não vai tirar conclusões sobre seu parceiro e, mais tarde, com todas as outras pessoas em sua vida. Sua forma de se comunicar irá mudar completamente e seus relacionamentos não mais sofrerão com os compromissos criados por falsas presunções.

A forma de evitar tirar conclusões é fazer perguntas. Se você não compreende, pergunte. Tenha a coragem de perguntar até que as coisas fiquem tão claras quanto possível, e, mesmo assim, nunca imagine que sabe tudo o que há para saber numa determinada situação. Uma vez ouvida a resposta, não terá de tirar conclusões, porque saberá a verdade.

Da mesma forma, prepare-se para perguntar o que quiser saber. Todos têm o direito de responder sim ou não, mas você também tem o direito de perguntar.

Se não compreende alguma coisa, é melhor perguntar e saber do que tirar qualquer conclusão. No dia em que você parar de tirar conclusões, irá se comunicar com clareza e pureza, livre de veneno emocional. Sem tirar conclusões, sua palavra se torna impecável.

Com clareza de comunicação, todos os seus relacionamentos irão mudar, não apenas com seu companheiro, mas com todos os outros. Não será necessário tirar conclusões, porque tudo se tornará claro. É isso o que desejo; é isso o que você deseja. Se nos comunicarmos sempre assim, nossa palavra se tornará impecável. Se todos os humanos pudessem se comunicar com a impecabilidade da palavra, não existiriam guerras, violência ou mal-entendidos. Todos os problemas humanos poderiam ser resolvidos se tivéssemos uma comunicação boa e clara.

Este, portanto, é o Terceiro Compromisso: não tire conclusões. Dizer isso parece fácil, e sei que é uma coisa muito difícil de fazer. É difícil porque fazemos o oposto com muita frequência. Temos hábitos e rotinas mentais dos quais não nos damos conta. Tornar-se consciente desses hábitos e compreender a importância desse compromisso é o primeiro passo. Mas compreender sua importância não é o suficiente. A informação ou a ideia é apenas a semente em sua cabeça. O que realmente faz diferença é a ação. E afirmar a ação várias vezes fortalece sua vontade, alimenta a semente e estabelece uma base sólida para que os novos hábitos germinem. Depois de muitas repetições, esses novos compromissos se tornarão uma segunda natureza, e você perceberá a mágica de sua palavra transformá-lo de um praticante de magia negra em praticante de magia branca.

Um praticante de magia branca usa a palavra para criar, dar, partilhar e amar. Tornando esse compromisso um hábito, toda a sua vida será completamente transformada.

Quando você transforma todo o seu sonho, a mágica acontece em sua vida. Aquilo de que precisa lhe vem facilmente, porque o espírito se move com liberdade através de você. É o domínio da intenção, o domínio do espírito, o domínio do amor, O domínio da gratidão e o domínio da vida. Esse é o objetivo dos toltecas. Esse é o caminho para a liberdade pessoal.


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