"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, outubro 30, 2010

Você é o Ser

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Ramana Maharshi


Pergunta: Como posso atingir o Ser (Self)?

Bhagavan: Não existe atingir o Ser. Se o Ser fosse para ser alcançado, significaria que o Ser não está aqui e agora e que ainda está para ser obtido. O que é conseguido de novo também será perdido. Portanto será impermanente. Não vale a pena lutar para obter o que não é permanente. Então, digo que o Ser não é alcançado. Você é o Ser, você já é isso.

O fato é que você é ignorante do seu estado bem-aventurado. A ignorância sobrevém e lança um véu sobre o puro Ser, o qual é bem-aventurança. As tentativas são direcionadas apenas para remover esse véu da ignorância que é meramente conhecimento errôneo. O conhecimento errôneo é a falsa identificação do Ser com o corpo e a mente. Essa falsa identificação tem que ir, e então apenas o Ser permanece.

Portanto, a realização é para todos, a realização não faz diferença entre os aspirantes. Essa própria dúvida, se você pode Realizar, e a noção 'eu-não-Realizei' são os obstáculos em si. Livre-se desses obstáculos também.

P: Quanto tempo leva para atingir a liberação (mukti)?

B: Mukti não é para ser ganhada no futuro. Ela existe para sempre, aqui e agora.

P: Eu concordo, mas não experimento isso.

B: A experiência está aqui e agora. Não se pode negar seu próprio Ser.

P: Isso significa existência e não felicidade.

B: Existência é o mesmo que felicidade e felicidade é o mesmo que Ser. A palavra mukti é muito provocante. Por que deveríamos buscá-la? Acreditamos que há aprisionamento e portanto buscamos isso. Mas o fato é que não há aprisionamento, apenas liberação. Por que chamá-la por um nome e então buscá-la?

P: Verdade, mas nós somos ignorantes.

B: Apenas remova a ignorância. Isso é tudo o que precisa ser feito. Todas as questões relacionadas com mukti são inadmissíveis. Mukti significa livrar-se do aprisionamento, o que implica a presente existência do aprisionamento. Não há aprisionamento e portanto não há liberação também.

P: De que natureza é a realização dos ocidentais que relatam que tiveram flashes de consciência cósmica?

B: Ela veio como um flash e desapareceu da mesma maneira. Aquilo que tem um começo deve também ter um fim. Apenas quando a consciência sempre-presente for realizada ela será permanente. A consciência de fato está sempre conosco. Todos conhecem 'eu sou'. Ninguém pode negar seu próprio Ser. O homem em sono profundo não está ciente, enquanto está acordado ele parece estar ciente. Mas é a mesma pessoa. Não há mudança naquele que dormiu e naquele que está acordado agora. No sono profundo ele não estava ciente de seu corpo, e, portanto, não havia consciência-corpo (ego). No estado desperto ele está ciente de seu corpo e, portanto, há consciência-corpo. Portanto, a diferença está no emergir da consciência-corpo e não em nenhuma mudança na consciência real.

O corpo e a consciência-corpo emergem juntos e submergem juntos. Tudo isso corresponde a dizer que não há limitações no sono profundo, enquanto que há limitações no estado desperto. Essas limitações são o aprisionamento. O sentimento 'o corpo sou eu' é o erro. Esse falso sentido de 'eu' tem que ir embora. O 'Eu' real está sempre aí. Ele está aqui e agora. Ele nunca aparece como algo novo e depois desaparece novamente. Aquilo que É deve persistir para sempre também. Aquilo de novo que aparece também será perdido. Compare o estado desperto com o sono profundo. O corpo aparece em um estado mas no outro não. Portanto o corpo será perdido. A consciência era pré-existente e irá sobreviver ao corpo.

Não há ninguém que não diga 'eu sou'. O conhecimento errôneo 'eu sou o corpo' é a causa de todo prejuízo. Esse conhecimento errôneo deve ir embora. Isso é a realização. A realização não é a aquisição de nada novo nem é uma nova faculdade. É apenas a remoção de toda camuflagem.

A verdade última é tão simples! Não é nada mais do que estar no estado original. Isso é tudo o que precisa ser dito.


sexta-feira, outubro 29, 2010

Turiya: O estado natural do Ser

Ramana Maharshi



Pergunta: O que é o estado Turiya?

Bhagavan: Existem apenas três estados, vigília, sonho e sono. Turiya não é um quarto estado, ele é o que sublinha esses três. Mas as pessoas não o compreendem de imediato. Por isso, é dito que esse é o quarto estado e é a única Realidade. Na verdade ele não está à parte de tudo, pois forma o substrato de todos os acontecimentos, ele é a única verdade e é o teu próprio Ser. Os três estados aparecem como fenômenos fugazes sobre ele e depois se afundam para dentro dele. Portanto, eles são irreais. As imagens em um cinema são apenas sombras passando sobre tela. Elas tem seu aparecimento, se movem para frente e para trás, mudam de uma para outra, dessa forma são irreais, enquanto que a tela o tempo todo mantém-se inalterada. Da mesma forma, numa pintura: as imagens são irreais e a tela é real. Assim também é conosco: o mundo dos fenômenos, dentro ou fora, são apenas fenômenos passageiros e não são independentes de nosso Ser. Somente o hábito de olhar para eles como sendo reais e localizados fora de nós é que é responsável por deixar escondido o nosso verdadeiro Ser e aparente todo o restante. A única Realidade sempre presente, o Ser, ao ser encontrado, fará todas as outras coisas irreais desaparecerem, deixando como resíduo o conhecimento de que elas não são nada além do Ser. Turiya é apenas um outro nome para o Ser. Cientes dos estados de vigília, sonho e sono, continuamos inconscientes do nosso próprio Ser. No entanto, o Ser está aqui e agora, é a única Realidade. Não há nada mais. Enquanto dura a identificação com o corpo o mundo parece estar fora de nós. Apenas realize o Ser e ele não estará mais fora.

P: Eu consigo entender a unidade na variedade, mas não consigo percebê-la.

B: Porque você está na variedade você diz que entende a unidade, que tem flashes da realidade, que se lembra dela, etc., você considera esta variedade como sendo real. Por outro lado, a Unidade é a realidade, e a variedade é falsa. A variedade deve ir antes que a unidade se revele, antes que revele a sua realidade. Ela é sempre real. Ela não envia flashes de seu ser nesta variedade falsa. Pelo contrário, esta variedade obstrui a verdade.

P: A graça é necessária para a remoção da ignorância.

B: Com certeza. Mas a Graça está o tempo todo aí. A Graça é o Ser. Não é algo a ser adquirido. Tudo o que é necessário é conhecer sua existência. Por exemplo, o sol é só brilho. Ele não vê escuridão. Ao passo que as pessoas falam da escuridão fugindo do sol enquanto ele se aproxima. Da mesma forma, a ignorância também é um fantasma e não é real. Devido à sua irrealidade, ao descobrirmos sua natureza irreal, se diz que ela foi removida. Novamente, o sol está lá e também está brilhando. Você está rodeado pela luz solar. Ainda assim, para você conhecer o sol você tem que voltar seus olhos na direção dele e olhar para ele. Da mesma forma, a Graça só é encontrada através de práticas, embora esteja aqui e agora.

P: Espero eu, que pelo constante desejo de me render, uma Graça crescente seja experimentada.

B: Renda-se de uma vez por todas e acabe com os desejos. Enquanto o senso de ser o fazedor é mantido existe os desejos; isso também é a personalidade. Se isso for embora o Ser será descoberto brilhando de maneira pura. O senso de 'fazedor' é o aprisionamento, e não as próprias ações. "Aquietai-vos e sabeis que Eu sou Deus." Aqui, quietude é a rendição total, sem nenhum vestígio de individualidade. A quietude prevalecerá e não haverá agitação da mente. A agitação da mente é a causa do desejo, do senso de fazedor e da personalidade. Se ela é interrompida, há serenidade. Desse modo, "Saber" significa "Ser". E não é um conhecimento relativo envolvendo a tríade - conhecimento, sujeito e objeto.

P: Após o retorno da consciência-corpo...

B: O que é a consciência-corpo? Diga-nos isso primeiro. Quem é você à parte da consciência? O corpo é encontrado porque há consciência-corpo que surge da "consciência-eu", que novamente surge da Consciência.



Consciência → 'consciência-eu' → consciência-corpo → corpo.



Há sempre a consciência e nada mais que isso. O que você está agora considerando ser a consciência-corpo deve-se à sobreposição. Se houvesse somente a consciência e nada além dela, o significado da Escritura 'Atmanastu kamaya bhavati priyam sarvam' (Todos são queridos por causa do amor do Ser) se tornaria claro.

terça-feira, outubro 26, 2010

O que não tem princípio, é Eterno


Nisargadatta Maharaj


Pergunta: No outro dia perguntei a você sobre os dois caminhos de crescimento: a renúncia e o desfrute (yoga e bhoga). A diferença não é tão grande quanto parece, o iogue renuncia ao prazer; o bhogi aprecia a renúncia. O iogue renuncia em primeiro lugar; o bhogi primeiro desfruta.

Maharaj: E daí? Deixe o iogue com sua Ioga e o bhogi com sua Bhoga.

P: O caminho da Bhoga me parece o melhor. O iogue é como uma manga verde, separada prematuramente da árvore e posta para amadurecer em uma cesta de palha. Sem ar e superaquecida, amadurece, mas o sabor e a fragrância verdadeiros se perderam. A manga deixada na árvore cresce até o tamanho normal, tem cor e doçura, um prazer em todas as formas. No entanto, a Ioga obtém todos os louvores e a Bhoga – todas as maldições. Tal como eu vejo, a Bhoga é a melhor das duas.

M: O que o faz dizer isto?

P: Tenho observado os iogues e seus enormes esforços. Mesmo quando se realizam, nota-se certa amargura ou austeridade. Parece que passam muito tempo em transes e, quando falam, meramente citam suas escrituras. No melhor dos casos, tais gnanis são como flores – perfeitas, mas pequenas, espalhando suas fragrâncias em um curto raio. Há outros que são como florestas – ricos, variados, imensos, cheios de surpresas, um mundo em si mesmos. Deve existir alguma razão para esta diferença.

M: Você mesmo o disse. Segundo você, um atrofiou-se em sua Ioga, enquanto o outro floresceu em sua Bhoga.

P: Não é assim? O iogue teme a vida e busca a paz, enquanto o bhogi é aventureiro, cheio de vigor, indo adiante. O iogue está limitado por um ideal, enquanto o bhogi sempre está disposto a explorar.

M: É uma questão de querer muito ou ficar satisfeito com pouco. O iogue é ambicioso, enquanto o bhogi meramente é aventureiro. O bhogi parece ser mais rico e interessante, mas, na realidade, não é assim. O iogue é estreito como o fio de uma lâmina. Tem que ser – para cortar profunda e suavemente, para penetrar sem erro as múltiplas coberturas do falso. O bhogi adora em muitos altares; o iogue não serve a ninguém, exceto a seu próprio Ser verdadeiro.

Não tem sentido opor o iogue ao bhogi. O caminho de saída (pravritti) precede necessariamente ao caminho de regresso (nivritti). Julgar – e repartir qualificações – é ridículo. Tudo contribui para a perfeição final. Alguns dizem que há três aspectos da realidade – Verdade-Sabedoria-Felicidade. Aquele que busca a Verdade torna-se um iogue, aquele que busca a sabedoria se converte em gnani; aquele que busca a felicidade se converte em homem de ação.

P: Falaram-nos da felicidade da não-dualidade.

M: Tal felicidade é mais da natureza de uma grande paz. O prazer e a dor são os frutos das ações – corretas ou incorretas.

P: O que faz a diferença?

M: A diferença está entre o dar e o tomar. Qualquer que seja o modo de aproximação, no fim todos se tornarão um.

P: Se não há diferença na meta, por que discriminar entre várias aproximações?

M: Deixe que cada um atue de acordo com sua natureza. Em qualquer caso, o propósito derradeiro não deixará de ser cumprido. Todas as suas discriminações e classificações estão bastante bem, mas não existem em meu caso. Assim como a descrição de um sonho pode ser detalhada e acurada embora sem qualquer fundamento, igualmente o seu modelo não se ajusta exceto a suas próprias presunções. Você começa com uma ideia e termina com a mesma ideia vestida diferentemente.

P: Como você vê as coisas?

M: O um e o todo são o mesmo para mim. A mesma consciência (chit) aparece como o ser (sat) e como felicidade (ananda); Chit em movimento é Ananda; Chit imóvel é ser.

P: Não obstante, ainda está fazendo uma distinção entre movimento e imobilidade.

M: A não-distinção fala em silêncio. As palavras transmitem distinções. O imanifesto (nirguna) não tem nome, todos os nomes se referem ao manifesto (saguna). É inútil lutar com palavras para expressar o que está além delas. A consciência (chidananda) é espírito (purusha), a consciência é matéria (prakriti). O espírito imperfeito é a matéria, a matéria perfeita é o espírito. No princípio, como no fim, tudo é um.

Todas as divisões estão na mente (chitta); não há nenhuma na realidade (chit). O movimento e o repouso são estados da mente e não podem existir sem seus opostos. Por si mesmo nada se move, nada repousa. É um grave erro atribuir existência absoluta a construções mentais. Nada existe por si mesmo.

P: Parece que você identifica o repouso com o Estado Supremo.

M: Existe o repouso como estado mental (chidaram) e existe o repouso como um estado de ser (atmaram). O primeiro vem e vai, enquanto o verdadeiro repouso é o próprio coração da ação. Por desgraça, a linguagem é uma ferramenta mental e funciona só com opostos.

P: Como testemunha, você está trabalhando ou em repouso?

M: Testemunhar é uma experiência, e o repouso é a liberação da experiência.

P: Não podem coexistir como o tumulto das ondas e a quietude das profundezas coexistem no oceano?

M: Além da mente (chit) não existe tal coisa como a experiência. A experiência é um estado dual. Você não pode falar da realidade como de uma experiência. Uma vez que isto seja entendido, você não mais verá o ser e o devir como separados e opostos. Na realidade são um e inseparáveis, como raízes e ramos da mesma árvore. Ambos só podem existir à luz da consciência que, de novo, surge no despertar do sentido de ‘Eu sou’. Este é o fato primário. Se você não percebe o sentido exato disto, você perdeu tudo.

P: A sensação de ser é apenas um produto da experiência? O grande dito (Mahavakya) tat-sat é um mero modo de atividade mental?

M: Qualquer coisa que diga é apenas fala. Qualquer coisa que pense é apenas pensamento. O significado real é inexplicável, embora experimentável. O Mahavakya é verdadeiro, mas suas ideias são falsas, pois todas as ideias (kalpana) são falsas.

P: A convicção ‘Eu sou Aquilo’ é falsa?

M: Certamente. A convicção é um estado mental. No ‘Aquilo’ não existe nenhum ‘Eu sou’. Quando surge o sentido de ‘Eu sou’, ‘Aquilo’ é obscurecido, da mesma forma que ao sair o sol as estrelas se apagam. Mas como com o sol vem a luz, assim, com a sensação de ser, vem a felicidade (chidananda). A causa da felicidade é buscada no ‘não-eu’ e, desse modo, começa a escravidão.

P: Em sua vida diária é sempre consciente de seu estado real?

M: Nem consciente, nem inconsciente. Eu não necessito de convicções. Eu vivo da coragem. A coragem é minha essência, a qual é amor à vida. Estou livre de recordações e antecipações, sem preocupar-me com o que sou e com o que não sou. Não sou viciado em autodescrições; soham e brahmasmi (‘Eu sou Ele’, ‘Eu sou o Supremo’) não me servem para nada, porque tenho a coragem de ser como nada e de ver o mundo como é, isto é, nada. Soa simples, mas tente-o!

P: Mas, o que lhe dá coragem?

M: Quão distorcido é seu modo de ver! A coragem é algo que se dá? Sua pergunta implica que a ansiedade é o estado normal e que a coragem é anormal. É ao contrário. A ansiedade e a esperança nascem da imaginação – eu estou liberado de ambas. Sou um ser simples e não necessito nada em que me apoiar.

P: A menos que conheça a si mesmo, de que lhe serve seu ser? Para ser feliz com o que você é, você deve conhecer o que é.

M: O ser brilha com o conhecer, e o conhecer é cálido em seu amor. Tudo é um. Você imagina divisões e cria problemas para si mesmo com perguntas. Não se interesse demasiadamente em formulações. O ser puro não pode ser descrito.

P: A menos que uma coisa seja conhecida e apreciada, não me servirá para nada. Antes de tudo, deverá converter-se em parte de minha experiência.

M: Você está reduzindo a realidade ao nível da experiência. Como pode a realidade depender da experiência, quando é seu próprio fundamento (adhar)? A realidade está no próprio fato da experiência, não em sua natureza. Depois de tudo, a experiência é um estado mental, enquanto o ser não é de nenhum modo um estado mental.

P: Outra vez estou confuso! O ser (sat) está separado do conhecer (chit)?

M: A separação é uma aparência. Como o sonho não está separado do sonhador, assim o conhecer não está separado do ser. O sonho é o sonhador, o conhecimento é o conhecedor, a distinção é meramente verbal.

P: Agora posso ver que sat e chit são um. Mas o que acontece com ananda? O ser e a consciência sempre estão juntos, mas a felicidade apenas brilha ocasionalmente.

M: O estado despreocupado do ser é felicidade; o estado perturbado é o que aparece como o mundo. Na não-dualidade há felicidade; na dualidade – experiência. O que vem e vai é a experiência com sua dualidade de prazer e dor. A felicidade não é para ser conhecida. Sempre se é felicidade, mas nunca se é feliz. A felicidade não é um atributo.

P: Tenho outra pergunta a fazer. Alguns iogues alcançam sua meta, mas ela não serve para os outros. Não sabem ou não podem compartilhar com os demais. Aqueles que podem compartilhar o que têm iniciam outros. Onde está a diferença?

M: Não há diferença. O seu ponto de vista é incorreto. Não há outros a quem ajudar. Um homem rico, quando transferiu toda sua fortuna para sua família, não tem nem uma moeda para dar a um mendigo; do mesmo modo é o sábio (gnani), despido de todos seus poderes e posses. Nada, literalmente nada, pode ser dito dele. Não pode ajudar a ninguém porque ele é todos. Ele é o pobre e também sua pobreza, o ladrão e também seu roubo. Como se pode dizer que ajuda quando ele não está separado? Aquele que se crê separado do mundo que o ajude.

P: Ainda assim há dualidade, aflição, há necessidade de ajuda. Denunciá-lo como um mero sonho não serve para nada.

M: A única coisa que pode ajudar é despertar do sonho.

P: Um despertador é necessário.

M: O qual, novamente, está no sonho. O despertador significa o começo do fim. Não existem sonhos eternos.

P: Mesmo quando não têm princípio?

M: Tudo começa com você. Que outra coisa não tem princípio?

P: Eu começo ao nascer.

M: Isso é o que lhe disseram. É assim? Viu-se a si mesmo começando?

P: Eu começo agora mesmo. Tudo o mais é memória.

M: Correto. O que não tem princípio é para sempre. Do mesmo modo, eu dou eternamente porque nada tenho. Ser nada, ter nada, não guardar nada para si mesmo é o maior presente, a mais elevada generosidade.

P: Não resta nenhum interesse próprio?

M: Certamente que há interesse próprio, mas o ser é tudo. Na prática, toma a forma de boa vontade, universal e inesgotável. Pode chamá-lo amor que abarca tudo, que redime tudo. Tal amor é supremamente ativo – sem a sensação de fazer.


sábado, outubro 23, 2010

Sobre o perdão (Osho)

Pergunta: "Por favor, você poderia dizer algo sobre o perdão?"



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Osho: É uma das coisas mais fundamentais para entender.

As pessoas geralmente pensam que o perdão é para aqueles que são dignos disso, que ele apenas para aqueles que o merecem. Mas, quando somente alguém que merece ser digno de receber o perdão é perdoado, isso não é muito um perdão. Você não está fazendo nada de sua parte - é ele quem merece. Você não está sendo amoroso e compassivo. Seu perdão só será autêntico quando até mesmo aqueles que não merecem puderem recebê-lo. Não se trata de se a pessoa merece ou não. A questão é se seu coração está preparado ou não.

Recordo-me de uma das místicas mais significantes, Rabiya al-Adabiya. Ela era uma mulher Sufi conhecida pelo seu comportamento muito excêntrico. Porém, em todo seu comportamento excêntrico havia um grande insight.

Uma vez, outro místico Sufi - Hasan - esteve com Rabiya. Devido ao fato de ele ter ido para estar com Rabiya, ele não trouxe seu sagrado Corão, que ele costumava ler toda manhã como parte de sua disciplina. Ele pensou que poderia pegar emprestado o sagrado Corão de Rabiya, e foi por isso que ele não trouxe a sua própria cópia.

Pela manhã ele pediu a Rabiya e ela lhe deu uma cópia sua. Ele não podia acreditar no que via. Quando ele abriu o Corão ele viu algo que nenhum Maometano podia acreditar: em muitas partes a Rabiya o tinha corrigido. Isso é o maior pecado para os Maometanos pois, segundo eles, o Corão é a palavra de Deus. Como você pode alterá-lo? Como é que você pode até mesmo se achar capaz de melhorá-lo? Ela não apenas o mudou, ela simplesmente eliminou algumas palavras, algumas linhas - ela as removeu.

Hasan disse a ela: "Rabiya, alguém destruiu seu Corão!" Rabiya disse: "Não seja tolo, ninguém toca em meu Corão. O que você está olhando fui eu que fiz". Hasan disse: "Mas como é que você pode fazer uma coisa dessas?". Ela disse: "Eu tinha que fazê-lo, não havia outro jeito. Por exemplo, veja aqui: o Corão diz, 'Quando você encontrar o diabo, odeie-o'. Desde que me tornei desperta não posso encontrar nenhum ódio dentro de mim. Mesmo se o diabo ficar diante de mim só posso banhá-lo com meu amor, porque não tenho mais nada para dar. Não importa se é Deus ou o diabo que está diante de mim; ambos irão receber o mesmo amor. Tudo que tenho é amor; o ódio desapareceu. No momento em que o ódio desapareceu de mim, eu tinha que efetuar mudanças no meu livro do sagrado Corão. Se você não o mudou, isso simplesmente significa que você ainda não chegou no espaço onde só o amor permanece."

Eu vou lhes dizer: pessoas que são dignas ou pessoas que não são dignas... não faz nenhuma diferença para o homem que chegou no espaço do perdão. Ele irá perdoar sem considerar quem o merece. Ele não pode ser tão mesquinho que só os dignos possam recebê-lo. E onde ele irá encontrar essa implacabilidade para perdoar? Essa é uma perspectiva totalmente diferente. A resposta não está relacionada com o outro. Quem é você para julgar se o outro é digno ou indigno? O próprio julgamento é feio e medíocre.

Há um homem, Rudolph Hess... Ele certamente é um dos maiores criminosos já conhecidos. E o crime dele se torna um milhão de vezes maior porque no julgamento de Nuremburg, com os outros companheiros de Adolf Hitler - que matou quase oito milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial -, ele disse diante da corte: "Não me arrependo de nada!". Não apenas isso, ele também disse: "E se eu pudesse começar do princípio, eu faria o mesmo novamente". É muito natural achar que esse homem não merece nenhum perdão; esse será o entendimento comum. Todos irão concordar com você.

Mas não posso concordar com você. Não importa o que Rudolph Hess tenha feito, o que ele está dizendo. O que importa é que você é capaz de perdoar até mesmo ele. Isso irá elevar sua consciência às alturas. Se você não puder perdoar Rudolph Hess você irá permanecer apenas um ser humano comum, com todo tipo de julgamento de merecimento ou de não merecimento. Mas basicamente você não pode perdoá-lo porque seu perdão não é suficientemente grande.

Posso perdoar o mundo inteiro pelo simples motivo de que meu perdão é absoluto; não depende de julgamento. Vou lhe contar uma pequena história Tibetana que irá tornar o ponto absolutamente claro para você.

Um antigo grande mestre, adorado por milhões de pessoas, recusou-se a iniciar qualquer um como discípulo. Durante toda sua vida, consistentemente, reis lhe pediram, pessoas ricas lhe pediram, grandes ascetas lhe pediram - homens santos! -, para serem iniciados como seus discípulos, e ele continuou recusando. Ele sempre dizia, "A menos que encontre um homem que o mereça, a menos que eu encontre um homem digno disso... Não vou iniciar nenhum."

Ele tinha um jovem que costumava cozinhar para ele, lavar suas roupas, comprar vegetais no mercado. O próprio garoto foi lentamente crescendo, e por toda sua vida ele escutou o velho homem, que havia vivido quase cem anos, e que sempre recusava quem quer que o procurasse. Sem exceção: ninguém era digno! "Posso morrer sem iniciar ninguém", ele dizia, "mas não irei iniciar alguém que seja indigno".

As pessoas ficaram cansadas, frustradas. Elas amavam o homem, ele tinha qualidades imensas, mas não podiam entender aquela atitude tão teimosa, a qual mostrava-se sem nenhuma ternura, nenhuma compaixão.

Mas, numa manhã, o velho acordou seu companheiro, que já tinha envelhecido, e lhe disse: "Corra imediatamente morro abaixo até o mercado e diga a todos que quem quiser ser iniciado deve vir logo, porque nesse entardecer, quando o sol se pôr, eu vou morrer".

Seu companheiro respondeu: "Mas e quanto ao merecimento? Não sei quem é digno e quem é indigno. A quem devo trazer?"

O velho homem falou: "Não se preocupe com isso. Era apenas uma tática, porque eu mesmo não era digno de iniciar ninguém. No entanto, era contra minha própria dignidade dizer isso. Então escolhi outro modo. Eu estava dizendo, 'A menos que encontre alguém bastante digno, bastante merecedor, eu não irei iniciar'. Mas a verdade é que eu não era digno de ser um mestre. Agora sou, só que agora o tempo é curto. Somente na manhã de hoje quando o sol estava surgindo, minha própria consciência atingiu o pico supremo. Agora estou pronto. Agora não importa quem é digno e quem é não é. O importante agora é que eu sou digno. Vá e traga qualquer um! Vá e avise a toda a vila que esse é o último dia da minha vida e qualquer um que queira ser iniciado deve vir imediatamente. Traga tantos quanto possível".

O companheiro do velho homem ficou perplexo, mas não havia tempo para argumentar. Ele desceu o morro correndo, chegou ao mercado e gritou por toda a vila: "A todos que queriam se tornar um discípulo, o velho homem agora está pronto!"

As pessoas não podiam acreditar nisso. Mas por curiosidade alguns pensaram: "Não há nenhum problema em ir pelo menos para ver o que está acontecendo". O homem havia se recusado por toda sua vida, e no último dia da sua vida uma mudança tão grande havia ocorrido. A esposa de alguém tinha falecido e ele estava se sentindo muito só, então ele pensou, "Isso é bom. Se ele vai iniciar todo mundo, sem nenhuma questão de merecimento...". Alguém havia sido libertado da prisão na noite anterior, e igualmente pensou, "Ninguém vai me dar emprego; isso é uma boa oportunidade de virar um santo".

Todo tipo de pessoas estranhas foram para a caverna do velho homem, e seu companheiro ficou tão embaraçado pelo tipo de pessoas que ele tinha trazido: Um é criminoso, a esposa de outro havia falecido, é por isso que ele pensa, "Assim é melhor... oq ue mais farei agora?" Alguém tinha ido a falência e estava pensando em cometer suicídio, mas agora pensava que isso era melhor que o suicídio.

Alguns tinham vindo por curiosidade; eles não tinham nenhum outro trabalho. Eles estavam tocando jazz e pensaram: "Podemos tocar jazz amanhã, mas hoje não há nenhum problema, nós vamos lá ver o que é essa iniciação. De qualquer maneira, esse homem vai morrer ao entardecer e assim estaremos livres para permanecermos discípulos ou não. Podemos tocar jazz amanhã - não há nenhum problema".

O companheiro do velho homem estava se sentindo muito embaraçado. "Como irei apresentar essa gente estranha quando esse velho homem recusou reis, santos, sábios, que tinham vindo com profunda seriedade para ser iniciados? E agora ele vai iniciar esse bando!" Ele estava até mesmo envergonhado, mas ele entrou e perguntou: "Devo chamar as pessoas? Onze deles estão aí".

O velho homem disse: "Chame-os rápido, porque já entardeceu. Você demorou muito tempo e só pôde trazer onze pessoas?"

Seu companheiro disse: "O que posso fazer? É um dia de trabalho; não é um feriado. Só consegui esses. Todos são absolutamente inúteis; mesmo eu não poderia iniciá-los. Não apenas que eles não sejam dignos - eles são absolutamente indignos. Porém você insistiu em trazer alguém; só ninguém mais estava disponível".

O velho homem disse: "Não há nenhum problema. Traga-os para dentro". E ele os iniciou a todos. Mesmo eles estavam chocados. E disseram para o velho homem: "Esse é um comportamento estranho. Toda sua vida você insistiu que nós precisávamos merecer ser um discípulo. O que aconteceu com o seu principio?"

O velho homem sorriu. Ele disse: "Isso não era um principio, era apenas para esconder minha própria indignidade. Eu ainda não estava preparado para ser um mestre. E não posso trapacear ninguém, não posso enganar ninguém. Daí eu ter me ocultado atrás da atitude julgadora de que, a menos que vocês mereçam, não conseguirão a iniciação".

Obviamente ninguém é digno.

Todo mundo tem seus próprios defeitos, fraquezas. Todos fizeram coisas que nunca quiseram fazer. Todo mundo se desviou. Ninguém pode dizer que é absolutamente puro, todos estão poluídos. Assim quando o velho homem insistiu dizendo: "A menos que você seja digno não volte para mim", ninguém discutiu com ele - ele estava certo. Primeiro eles tinham que ser merecedores!

No último dia, ele disse para aqueles onze discípulos: "Eu os abençôo e inicio vocês. Não importa se vocês são merecedores ou não, mas pela primeira vez sou digno. E se sou realmente digno, basta minha presença para purificar vocês. Meu mérito de ser um mestre irá tornar vocês discípulos dignos. Agora não preciso depender do merecimento de vocês. Meu mérito é suficiente."

"Sou como uma nuvem carregada de chuva; irei banhar todo o lugar - sobre as montanhas, nas ruas, nas casas, nas fazendas, nos jardins. Irei banhar todo lugar, porque estou sobrecarregado demais com minha água de chuva. Não importa se o jardim merece... Não faço qualquer distinção entre o jardim e as pedras. Irei simplesmente chover a partir da minha abundância".

Se sua Meditação lhe traz para esse estado de nuvem de chuva, você irá perdoar sem nenhum julgamento a partir da sua abundância, do seu amor, da sua compaixão.

De fato, eu gostaria de declarar que o homem que é indigno merece mais do que aquele que é digno. O homem que não merece, merece mais - porque ele é tão pobre! Não seja duro com ele. A vida tem sido difícil para com ele. Ele se perdeu, ele tem sofrido por causa de seus atos errados. Agora não seja duro com ele. Ele precisa de mais amor do que aqueles que são merecedores. Ele precisa de mais perdão do que aqueles que são dignos.

Essa deve ser a única abordagem de um coração religioso.

Essa questão foi trazida perante Gautama Buda, porque ele estava prestes a iniciar um assassino no sannyas - e o assassino não era um assassino comum. Rudolph Hess não é nada comparado a ele. Seu nome era Angulimala. Angulimala significa "um homem que usa um colar de dedos humanos".

Ele fez o juramento de que mataria mil pessoas, e não menos que isso, porque a sociedade não o tratava bem. Ele jurou que de cada dessas mil pessoas ele retiraria um dedo e faria um rosário de dedos em volta do pescoço. Na ocasião da história, ele já tinha novecentos e noventa e nove dedos coletados - no seu colar só estava faltando um. E esse último dedo estava faltando devido ao fato que a estrada onde esse homem ficava estava fechada; ninguém passava por esse caminho. Ele matou 999 pessoas. Ninguém ia onde ele estava; quando as pessoas ficavam sabendo onde ele estava, o tráfego deixava de ir para aquela direção. E assim ficou muito difícil para ele encontrar uma pessoa, e apenas mais uma era necessária.

Gautama Buda, porém, entrou naquela estrada fechada. O rei tinha colocado guardas na estrada para impedir as pessoas, principalmente estrangeiras, que não sabiam que um homem perigoso vivia por trás das colinas. Os guardas deram o aviso a Gautama Buda: "Essa não é uma estrada para ser usada. Você terá que tomar um caminho mais longo, mas é melhor caminhar um pouco mais do que penetrar na boca da própria morte. Esse é o lugar onde Angulimala vive. Até mesmo o rei não tem coragem de andar por essa estrada. Esse homem é simplesmente louco."

A mãe dele costumava chegar até ele. Ela era a única pessoa que podia ir de vez em quando vê-lo, mas até mesmo ela deixou de ir. Na última vez que ela foi, ele disse a ela: "Agora só está faltando um dedo e apenas porque você é minha mãe... quero lhe avisar que se você vier outra vez, você não voltará mais. Preciso desesperadamente de um dedo. Até agora não lhe matei porque outras pessoas estavam disponíveis, mas agora ninguém mais passa por essa estrada exceto você. Então quero que você saiba que da próxima vez, se você vier, será sua responsabilidade, não minha." Desde aquela vez a mãe dele não veio mais.

Os guardas disseram a Buda: "Não corra um risco tão desnecessário". E vocês sabem o que Buda disse a eles? "Se eu não for, então quem irá? Apenas duas coisas são possíveis: Ou eu conseguirei mudá-lo - e não posso perder esse desafio -, ou irei provê-lo com mais um dedo para que o desejo dele seja realizado. De qualquer maneira, irei morrer algum dia. Dar minha cabeça para Angulimala pelo menos será de alguma utilidade. Do contrário, um dia certamente morrerei e vocês me colocarão na pira funerária. Acho que é melhor me arriscar a realizar o desejo de alguém e lhe dar paz mental. Ou ele irá me matar ou irei matá-lo, mas esse encontro irá acontecer. Agoram, mostrem-me o caminho."

É isto o que os budas fazem: arriscam a própria vida. Buda foi, e mesmo os discípulos mais íntimos que juraram permanecer com ele até o final começaram a ficar para trás, pois era perigoso! Assim, quando Buda chegou à colina onde Angulimala estava sentado sobre uma pedra, não havia ninguém atrás dele; ele estava sozinho, pois todos os discípulos haviam desaparecido. Angulimala olhou para aquele homem inocente, como uma criança, tão belo, e pensou: "mesmo um assassino sentiria compaixão por esse homem". Ele pensou: "esse homem parece não saber que eu estou aqui, porque ninguém vem por esse caminho."

Angulimala estava sentado sobre sua rocha observando. Ele não podia acreditar em seus olhos. Um homem muito bonito, de um carisma tão imenso, estava vindo em sua direção. Quem seria tal homem? Ele nunca tinha ouvido falar de Gautama Buda, mas mesmo o coração duro de Angulimala começou a sentir uma certa ternura para com aquele homem. Ele parecia tão belo... e estava vindo na direção dele. Buda estava chegando cada vez mais perto.

Finalmente, Angulimala desembanhou sua espada e, com ela em mãos, gritou, "Volte! Pare aí mesmo e volte!" Gautama Buda estava a alguns metros de distância, e Angulimala disse: "Não dê outro passo porque então a responsabilidade não será minha. Talvez você não saiba quem sou!".

Buda disse: "Você sabe quem você é?".

Angulimala disse: "Isso não tem importância. Esse não é o lugar nem a hora para discutir tais coisas. Sua vida está em perigo!"

Buda disse: "Penso de outra maneira - sua vida é que está em perigo."

Angulimala disse: "Eu costumava pensar que era louco - mas é você que é simplesmente louco. E você continua chegando mais perto. Assim não diga que matei um homem inocente. Você parece tão inocente e tão bonito, que quero que você volte. Pode passar. Encontrarei outra pessoa. Posso esperar, não há nenhuma pressa. Se já consegui novecentos e noventa e nove... é somente mais um, mas não me force a matá-lo". Mas Buda continuou a se aproximar.

Então Angulimala pensou: "Ou esse homem é surdo ou é louco!". De novo ele gritou: "Pare, não se mova!"

Buda disse: "Eu parei há muito tempo, Angulimala, não estou me movendo - você é que está. Pare você. Você está cego. Você não pode ver uma simples coisa: eu não estou me movendo na sua direção, você está se movendo na minha direção."

Angulimala estava sentado sobre uma pedra e começou a rir; ele disse: "Você é realmente louco! Estou sentado e você está me dizendo que estou me movendo. E você está se movendo e diz que está parado. Você realmente é um tolo, um louco ou alguém muito estranho!"

Buda disse: "Bobagem! A verdade é que, desde o dia que me tornei iluminado não me movi mais nem uma simples polegada. Estou centrado, totalmente centrado, nenhum movimento. E sua mente está perdida, movendo-se continuamente em círculos."

Buda chegou muito perto, e as mãos de Angulimala estavam tremendo. O homem era tão belo, tão inocente, tão infantil. Ele já estava apaixonado. Ele havia matado tanta gente... nunca antes ele tinha sentido essa fraqueza. Ele nunca havia conhecido o que é amor. Pela primeira vez ele estava cheio de amor. Assim, havia uma contradição: a mão dele estava segurando uma espada para matar a pessoa, mas seu coração estava dizendo "ponha a espada de volta na bainha".

Buda disse: "Ouvi dizer que você precisa de mais um dedo. No que se refere a este corpo, o meu objetivo foi alcançado; este corpo é inútil. Você pode usá-lo, seu juramento pode ser cumprido. Corte meu dedo e corte a minha cabeça."

Angulimala ficou parado e olhando perplexo.

Buda continuou: "Estou pronto, mas porque suas mãos estão tremendo? Você é um grande guerreiro, até mesmo os reis e os generais o temem, e eu sou apenas um pobre mendigo. Exceto a tigela de esmolas, não tenho mais nada. Você pode me matar e sentir-me-ei imensamente satisfeito de que pelo menos minha morte realiza o desejo de alguém. Minha vida tem sido útil. Assim minha morte também será útil. Mas antes que você corte minha cabeça tenho um pequeno desejo, e acho que você pode me conceder um pequeno desejo antes de me matar"

Diante da morte, até mesmo o maior inimigo tem boa vontade de realizar qualquer desejo.

Angulimala disse: "O que você deseja?"

Buda disse: "Quero que você apenas corte da árvore um galho que esteja cheio de flores. Nunca mais verei essas flores novamente. Quero ver essas flores bem de perto, sentir a fragrância delas e sua beleza nessa manhã ensolarada".

Então Angulimala cortou com sua espada todo um galho cheio de flores. E antes que ele pudesse dá-lo a Buda, Buda lhe disse: "Isso era somente metade do desejo. A outra metade é: por favor, ponha o galho de volta e junte-o novamente à árvore".

Angulimala disse: "Eu achava desde o começo que você era maluco. Agora este é o desejo mais louco. Como é que posso colocar esse galho de volta?"

Buda disse: "Se você não pode criar, você não tem o direito de destruir. Se você não pode dar a vida, você não tem o direito tirar a vida de nenhuma coisa viva".

Foi momento de silêncio e um momento de transformação... A espada caiu de suas mãos. Angulimala fechou os olhos, jogou-se aos pés de Gautama Buda e disse: "Não sei quem você é, mas quem quer que seja, conduza-me por esse cmainho, por favor me inicie".

Nesse momento, os seguidores de Gautama Buda chegaram cada vez mais perto. Vendo que Buda estava agora de pé na frente de Angulimala, já não havia mais nenhum problema, nenhum receio, a despeito do fato de ele precisar apenas de mais um dedo. Eles ficaram ao redor e, quando ele caiu aos pés de Buda, eles imediatamente se aproximaram.

Alguém levantou a questão: "Não inicie esse homem, ele é um assassino. E ele não é um assassino qualquer, ele assassinou novecentos e noventa e nove pessoas, todos inocentes. Eles não fizeram nada de errado a ele. Ele nunca os tinha visto antes!"

Buda disse novamente: "Se eu não iniciá-lo, quem irá fazê-lo? E eu amo esse homem, amo sua coragem. Posso ver tremendas possibilidades nele: um simples homem lutando contra o mundo inteiro. Quero um tipo de pessoa assim que pode enfrentar o mundo inteiro com uma espada; agora ele irá enfrentar o mundo com uma consciência que é muito mais afiada do que qualquer espada. Eu lhes disse que um assassinato estava para acontecer, mas não tinha certeza de quem iria ser assassinado: ou eu iria ser assassinado, ou Angulimala. Agora vocês podem ver que Angulimala foi morto. E quem sou eu para julgar?"

Ele iniciou Angulimala.

No dia seguinte, ele era um bikkhu, um mendigo, um monge de Buda, e pedia esmola na cidade. Toda a cidade se fechou, pois as pessoas estavam com muito medo e diziam: "Mesmo que ele tenha se tornado um mendigo, não se pode confiar nele. Esse homem é muito perigoso!" As pessoas não saíam às ruam. Quando Angulimala foi pedir esmolas, ninguém lhe deu comida, pois quem correria o risco? As pessoas estavam na cobertura de suas casas olhando para baixo. E então começaram a atirar pedras nele, pois ele havia matado 999 pessoas, incluindo muitas pessoas daquela cidade. Praticamente todas as famílias tinham sido vítimas, então elas começaram a jogar pedras.

Angulimala caiu na rua, sague escorria por todo o seu corpo; ele tinha muitos machucados. E Buda foi até ele e perguntou: "Angulimala, como você está se sentindo?"

Angulimala abriu os olhos e disse: "Estou muito grato a você. Eles podem matar o meu corpo, mas não podem me tocar. E foi isso que por toda minha vida fiz, e nunca percebi." Graças à compaixão de Buda, Angulimala iluminou-se, tornou-se um brâmane, um conhecedor de Brahma.

A questão não é se alguém merece ou não, se é digno ou não. A questão é se você possui a consciência, a abundância de amor: assim o perdão irá surgir dele espontaneamente. Isso não é um cálculo, isso não é aritmética.

Vida é amor, e viver uma vida de amor é a única vida religiosa - é a única vida de oração, paz, a única vida de gratidão, grandeza, esplendor. "


Osho - "The Great Pilgrimage: From Here To Here" - cap. #24



quarta-feira, outubro 20, 2010

"Julgar o próximo"






Pergunta: Osho, como deixar de julgar o próximo?









Osho: Não há necessidade de parar de julgar o próximo ou abandonar o julgamento; você deve compreender por que você julga e como você julga. Você pode julgar apenas o comportamento ou a ação do outro, porque apenas o comportamento ou a ação estão ao seu alcance. Você é incapaz de julgar a pessoa porque a pessoa está se escondendo atrás - está escondida -, você nunca vê a pessoa, ela é sempre um mistério para você. Você pode julgar a ação mas não pode julgar o ser.

E a ação é irrelevante. Não será correto você julgar uma pessoa por meio de um ato dela. Algumas vezes pode acontecer de um homem estar sorrindo. A ação está lá na superfície mas interioriormente ele poderá estar de fato triste. Ele não quer deixar transparecer sua tristeza para ninguém - por que expôr as feridas ou os machucados de alguém para todo mundo? Por que? Isso parece tão embaraçoso. Pode ser que ele está sorrindo só porque lá no fundo ele esteja chorando.

Nietzsche disse, "Sigo sorrindo. A pessoas pensam que sou alguém de muita alegria mas isto está absolutamente errado. Eu prossigo sorrindo porque tenho medo que, se eu não rir, de repente posso começar a chorar. Assim, necessito direcionar minha energia para algum outro lugar, ou então ela se converterá em lágrimas. Antes que ela se torne lágrimas, eu a converto em risadas".

O insight é a pura verdade. Nietzsche é um dos homens mais perspicazes que já nasceram na terra. Lágrimas e sorrisos são muito próximos. Nas aldeias da Índia, as mulheres costumam dizer aos seus filhos: "Não ria muito, senão você vai começar a chorar." E é o que acontece. Se uma criança rir muito, ela começa a chorar. Lágrimas e sorrisos são muito próximos. Se você quiser esconder suas lágrimas a melhor maneira é sorrir - é por isso que as pessoas estão sorrindo.

Só por ver um rosto sorridente você não deve julgar o que deve estar se passando dentro. O interior não está disponível para você. O interior é deconhecido, não está disponível para qualquer um. Então a primeira coisa a entender é que você pode olhar apenas o comportamento, e o comportamento não significa muito. Tudo o que significa realmente é a pessoa que está por detrás. E você não sabe - você nunca pode saber. Suas decisões serão erradas, e você sabe disso - porque quando as pessoas o julgam por seus atos, você sempre sente que elas julgaram erroneamente.

Você não julga a si mesmo por seus atos, você se julga pelo seu Ser. Assim as pessoas sentem que todos os julgamentos são injustos. Você sente que os julgamentos são injustos porque para você o seu ser está disponível - e ser é um fenômeno tão grande, enquanto que o ato é um fenômeno tão pequeno. Ele não define nada. Pode ser apenas uma coisa momentânea.

Você disse alguma coisa para alguém e ele ficou bravo... mas não o julgue por sua raiva, pois pode ser que ela tenha tido apenas um acesso momentâneo. Ele pode ser uma pessoa muito amorosa. Se julgá-lo pelo ato de ter ficado bravo, você avaliou mal. Então o seu comportamento dependerá da sua própria avaliação - você vai sempre esperar que o homem fique bravo e, com base nisso, pensará sempre que ele é um homem bravo. E você vai evitá-lo. Você perdeu uma oportunidade.

Nunca julgue alguém por suas ações - e as ações são a única coisa que está disponível para você. Então, o que fazer? Não julgue. Aos poucos, torne-se cada vez mais consciente da privacidade do ser. Cada ser, em sua alma, é tão particular que não há maneira nenhuma de acessá-la. Mesmo quando você ama, algo no âmago mais profundo permanece privado, reservado, secreto. Essa é a dignidade do homem. Esse é o significado quando se diz que o homem tem uma alma. "Alma" significa aquilo que nunca poderá se tornar público.

Algo permanecerá sempre profundo, perdido em algum mistério.

Eu ouvi... Dois homens foram chamados numa casa e foi-lhes pedido para jogarem certa quantidade de entulhos no caminhão de lixo. Depois de terem carregado o caminhão, a traseira do veículo ficou totalmente lotada. Um deles disse: "Você pode entrar em apuros com a polícia se nós dirigirmos pela cidade com todo esse lixo caindo pelas ruas."

O outro homem disse: "Não se preocupe, eu tenho uma ideia. Você dirige e eu vou deter o lixo com o meu corpo, enquanto o caminhão estiver em movimento. Isso vai impedir que o lixo seja derramado nas ruas." No caminho para o depósito, eles passaram debaixo de uma ponte. Enquanto passavam sob ela, dois homens que estavam em cima da ponte olharam para baixo e viram o homem deitado no lixo com os braços e as pernas abertas.

Um desses homens disse: "Olhe só para aquilo! Alguém jogou fora um homem perfeitamente sadio!"

Estando de fora, isso é tudo o que podemos enxergar e julgar. Pelo lado de fora é sempre errado. Se procurar prestar atenção nisso, olhando para isso sempre novamente e novamente, procurando compreender as coisas sempre de novo e de novo, você perceberá que não será preciso abandonar os julgamentos, eles param por conta própria. Apenas olhe, observe. Sempre que julga, você está cometendo algo estúpido. O que você julga não se aplica à pessoa, só pode ser aplicado ao ato. E esse ato sempre será visto fora do contexto, porque você não conhece toda a vida da pessoa.

É como quando você rasga a página de um livro de romance e a lê, e você julga toda a história do livro por isso. Não é certo, é fora de contexto. A novela toda pode ser totalmente diferente. Você pode ter apanhado uma parte negativa, uma parte feia. Mas você não conhece a vida de ninguém em sua totalidade. Um homem viveu durante quarenta anos antes de encontrá-lo e conhecê-lo. Aqueles quarenta anos de contexto estão lá. O homem vai viver mais quarenta anos quando você o tiver deixado.

Aqueles quarenta anos de contexto vão estar lá. E você viu o homem - apenas uma pequena amostra dele -, e você o julgou. Isso não está certo. Isso é simplesmente uma tolice. Seu julgamento não terá qualquer relevância em relação à pessoa em si. Seu julgamento vai mostrar algo mais sobre você do que sobre o homem. "Não julgueis, para que não sejais julgados", é o que diz Jesus.

O seu julgamento mostra algo sobre você, nada sobre a pessoa que você julgou - porque a história dela permanece indisponível para você. Todos os contextos estão fora de alcance, você estará se deparando com uma fração pequena e momentânea da situação - e sua interpretação será a sua interpretação. Ela vai mostrar algo sobre você. Compreendendo isso, o julgamento desaparece.

segunda-feira, outubro 18, 2010

100 recomendações para a vida - Parte 4

Venerável mestre Hsing Yün


76. Olhe para si mesmo antes de acusar os outros. Somente uma avaliação honesta de seus méritos e deméritos lhe dá o direito de julgar os demais.

77. Cumpra suas promessas.

78. Não viole o direito dos outros para beneficiar a si próprio. Favorecer os demais, às vezes, é imperioso.

79. Não sinta prazer em ridicularizar os outros. Ao contrário, aprenda a fazê-los felizes.

80. Não critique, por inveja, a benevolência do outro. Respeite-o e siga seu bom exemplo.

81. Não use de traição para obter vantagens.

82. Os privilégios devem, antes de tudo, ser oferecidos às outras pessoas.

83. Aprenda a aceitar as desvantagens. Saiba que, na verdade, elas são vantagens.

84. Não se apegue a perdas e ganhos. Não faça comparações entre o que você e os outros têm ou deixam de ter.

85. Seja sincero, impetuoso e educado.

86. Harmonia, paz e tranqüilidade são a chave para o relacionamento com as pessoas.

87. Respeito, reverência e tolerância são a tríade para manter boas relações com o mundo.

88. A raiva não resolve problemas. Somente uma mente tranqüila e pacífica pode ajudar você a lidar com a vida.

89. Relacione-se com pessoas virtuosas e bons mestres.

90. Não contamine os outros com sua tristeza, nem leve preocupações para a cama.

91. Busque prazer e alegria em tudo o que faz, e transmita isso a todos.

92. Seja grato aos benevolentes e aos que prestam auxílio. Deixe-se tocar por seus atos virtuosos.

93. Dê um toque de serenidade a tudo o que você fizer na vida.

94. Não existe dificuldade ou facilidade absolutas. O esforço transforma dificuldade em facilidade, enquanto a indolência torna o fácil difícil.

95. Ajude seus vizinhos e sua comunidade e participe dos eventos locais. Assim, você se tornará um voluntário da humanidade.

96. Só a humildade gera o bem. A arrogância não traz nada mais que desvantagem.

97. Aproxime-se de mestres virtuosos. Ouça-os, seja leal e não os desacate.

98. Ajudar os outros é ajudar a si mesmo. Ter consideração pelos outros significa cuidar e amar a si próprio.

99. Dê aos jovens oportunidades e ofereça-lhes orientação sempre que necessário.

100. Cuide de seus pais e seja amoroso com eles.

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*Visite o site, e veja mais em: http://www.templozulai.org.br/zulai.htm

sexta-feira, outubro 15, 2010

100 recomendações para a vida - Parte 3


Venerável mestre Hsing Yün



51. Pratique meditação por, pelo menos, dez minutos todos os dias.

52. Passe, pelo menos, metade de um dia sozinho, uma vez por semana.

53. Ao menos uma vez por mês, pratique o vegetarianismo, para nutrir seu coração de compaixão.

54. Ajude os outros e faça o bem sem esperar nada em troca.

55. Compartilhe sua alegria e compaixão com os demais.

56. Mantenha a capacidade de se auto-avaliar sob qualquer circunstância.

57. Reze pelos desafortunados, onde quer que você esteja.

58. Seja preciso em suas observações. Considere todos os ângulos e seja tolerante e compreensivo em relação aos outros.

59. Aprecie a vida, cuide dela e não a maltrate jamais.

60. Use seu dinheiro e suas posses com sabedoria. Não desperdice nem gaste demais.

61. Em tempos de alegria, contenha a sua fala; no infortúnio, não despeje sua raiva sobre os outros.

62. Não enalteça seus próprios méritos nem aponte os erros alheios.

63. Não inveje nem suspeite. Méritos advêm das realizações e da ajuda aos outros.

64. Não seja ganancioso em relação às posses alheias, nem mesquinho em relação às suas.

65. Demonstre coerência entre atitude e pensamento. Não seja iluminado na teoria e ignorante na prática.

66. Não fique sempre pedindo ajuda aos outros. Busque ajuda dentro de si mesmo.

67. Faça de sua própria conduta um bom exemplo. Não espere benevolência dos outros, mas de si mesmo.

68. Cultivar bons hábitos é a melhor maneira de manter uma vida íntegra e saudável.

69. É melhor ser não-inteligente do que não-compassivo.

70. A mente otimista é contemplada com um futuro brilhante.

71. Construa seu próprio destino. Corra atrás das oportunidades ao invés de esperar que elas caiam do céu.

72. Controle suas emoções e seu humor: não se deixe levar por eles.

73. Elogio e ofensa fazem parte da vida. Não se apegue a eles – conserve sempre a paz interior.

74. A doação de órgãos ajuda a prolongar a vida além de propiciar recursos para as vidas de outros seres.

75. Ouça o que os outros têm a dizer e anote a essência do que eles dizem.

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quarta-feira, outubro 13, 2010

100 recomendações para a vida - Parte 2


Venerável mestre Hsing Yün


26. Procure ouvir boas palavras e jamais esqueça o que elas significam.

27. Não desperdice o seu tempo. Faça planos e use o tempo com sabedoria.

28. Seja sempre sensato, pois a sensatez é imparcial e igual para com todos.

29. Lembre-se dos erros cometidos. Tenha-os sempre em mente para não repeti-los.

30. Seja qual for a sua função, desempenhe-a bem. Não olhe para os lados.

31. Faça tudo com boa intenção, verdade, sinceridade e beleza.

32. Não se apegue ao passado. Olhe sempre adiante.

33. Lute sempre pelos seus objetivos e vá longe.

34. Planeje sua carreira, use seu dinheiro com sabedoria, purifique seus sentimentos e não se apegue a fama e riqueza.

35. Desenvolva compreensão e visão corretas. Não se deixe levar cegamente pelos outros.

36. Renuncie a apegos insensatos e aceite a verdade com mente humilde.

37. Não faça intrigas nem espalhe rumores. Não se deixe influenciar por eles.

38. Aprenda a desenvolver sua mente, reformar seu caráter, recuar e dar guinadas na vida.

39. Cultive méritos por meio de doações que estejam de acordo com sua capacidade, função, disposição e condição.

40. Creia profundamente no Darma e contemple todas as virtudes. Nunca faça o mal; pratique sempre o bem.

41. Não culpe os céus nem os outros por sua infelicidade, pois tudo tem sua causa e seu efeito.

42. Pense no bom e belo ao invés de pensar no que é triste e penoso.

43. Conquiste ao menos três tipos de habilitação ao longo da vida, como, por exemplo, para guiar automóveis, cozinhar, digitar, cuidar de enfermos, exercer a medicina, o magistério, o direito, a arquitetura etc.

44. Aprenda a articular bem a fala e a escrita. Aprenda a ouvir, a apreciar, a pensar, a cantar, a pintar e a desenvolver habilidades. Quanto mais se aprende, melhor. Aprenda, ao menos, metade disso tudo.

45. Leia ao menos um jornal por dia, para se manter em dia com o mundo.

46. Leia pelo menos dois livros por mês.

47. Mantenha uma rotina diária.

48. Cultive hábitos regulares de sono e alimentação.

49. Pratique exercícios físicos.

50. Mantenha-se longe de cigarro, álcool, pornografia e drogas. Administre e controle sua própria vida.

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terça-feira, outubro 12, 2010

100 recomendações para a vida - Parte 1

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Venerável mestre Hsing Yün


1. Descubra seu maior defeito e disponha-se a corrigi-lo.

2. Escolha até três exemplos de vida e determine-se a segui-los.

3. Tenha força e sabedoria para resistir às tentações do mundo.

4. Cultive a força da tolerância de forma a compreender, aceitar, assumir responsabilidades, ter determinação e melhorar as circunstâncias externas. Então, passe a cultivar a tolerância pela vida, a tolerância por todos os darmas e a tolerância pelos darmas não-surgidos de maneira a transformar o cultivo da tolerância em força e sabedoria.

5. Aprenda a se adaptar à pressão externa e não se deixe afetar por ela.

6. Seja ativo e destemido. Pense antes de agir.

7. Envergonhe-se do que ignora, do que é incapaz, do que o torna impuro e rude.

8. Faça com freqüência algo que toque o coração das pessoas.

9. Sinta-se bem sob qualquer circunstância, siga as condições corretas, esteja sempre livre de aflições e faça tudo com alegria no coração.

10. Ser corajoso e virtuoso é ter a capacidade de admitir os próprios erros.

11. Aprenda a aceitar perdas, falsas acusações, contratempos e humilhações.

12. Não inveje aqueles que praticam boas ações ou dizem boas palavras. Tenha sempre na mente, bondade e beleza.

13. Não empurre os outros para a beira do abismo; ao contrário, dê-lhes espaço para recuar -- um dia eles poderão lhe ajudar.

14. Sirva àqueles que desejam fazer o bem, compartilhe um objetivo. Favoreça os outros e respeite seus anseios.

15. Seja amável e humilde ao relacionar-se com as outras pessoas. Expresse bondade em seu semblante e em sua fala.

16. A capacidade de doar traz abundância verdadeira.

17. Importe-se apenas com o que é certo ou errado; não se fixe em perdas e ganhos.

18. Deixe de lado pensamentos egoístas e dedique-se à justiça, à verdade e ao bem comum.

19. Viaje pelo mundo sob o céu estrelado. Vivencie a prática da procissão de mendicância pelo menos uma vez na vida.

20. Abra mão de todas as suas posses ao menos uma ou duas vezes na vida.

21. A cada quatro ou cinco anos, empreenda uma viagem sozinho.

22. Não se deixe cegar pelo amor. Não se traia por dinheiro.

23. Não bata de frente com as coisas – aprenda a arte de ser sutil.

24. Não há êxito sem persistência, diligência e determinação.

25. Desenvolva autoconfiança, expectativas em relação a si mesmo e metas pessoais.

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domingo, outubro 10, 2010

Conto: O segredo do anel

Osho


Um rei chamou os sábios da corte e disse: “Estou fazendo um anel com um diamante raro e quero que escrevam uma frase curta, que me seja útil em um momento de desespero e caiba debaixo do diamante”. Os sábios pesquisaram e não encontraram nada. Então, o rei pediu a mesma coisa a um antigo serviçal a quem considerava como um pai.

- “Não sou sábio, mas sei qual a mensagem. Foi-me revelada por um místico que por aqui passou.”

Escreveu em um papel e deu a seu rei avisando: “Só abra quando não tiver mais saída”. E à hora logo chegou. O país foi invadido, o rei teve que fugir, a estrada chegou ao fim… Então se lembrou do anel. Tirou o papel e, enquanto lia, um grande silêncio se fez.

“Isso também irá passar.”

E passou. Porque nada permanece eternamente nesse mundo. Os inimigos se perderam. O rei reencontrou sua tropa, tomou seu reino e voltou à capital, exultante. Agradeceu ao serviçal, que caminhava ao lado da sua carruagem, enquanto, orgulhoso, acenava para o povo.

Este lhe disse: “É uma boa hora para ler a mensagem”.

- "Como? O povo está celebrando, tenho minhas terras, não sinto desespero!”

O homem explicou: “Essa mensagem não é só para quando for derrotado, mas para quando estiver vitorioso também”.

O rei releu: “Isso também irá passar”. E o mesmo silêncio se fez no meio da multidão. Em paz e livre do orgulho, chamou o serviçal, pediu que se sentasse ao seu lado e disse: “Sua mensagem me ajudou muito. Tem algo mais que devo saber?”.

E o velho respondeu: “Tudo passa. Apenas você permanece. Você permanece sempre como testemunha”.

Você é a realidade. O resto é sonho. Há sonhos bons e pesadelos terríveis, mas o que importa é quem os vê. Aquele que vê é a única realidade.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Para refletir...



"Muitas vezes, as correntes que nos prendem e nos impedem de sermos livres, são mais mentais do que físicas."

quarta-feira, outubro 06, 2010

O nosso encanto de cada dia

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Pe. Fábio de Melo


Ainda bem que o tempo passa! Já imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar uma segunda feira eterna?

A beleza de cada dia só existe porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência. Dizem que havia uma menina que se maravilhava todas as manhãs com a presença de um pássaro encantado. Ele pousava em sua janela e a presenteava com um canto maravilhoso que não durava mais que cinco minutos. A beleza era tão intensa que o canto a alimentava pelo resto do dia. Certa vez, ela resolveu armar uma armadilha para o pássaro encantado. Quando ele chegou, ela o capturou e o deixou preso na gaiola para que pudesse ouvir por mais tempo o seu canto.

O grande problema é que a gaiola o entristeceu, e triste, ele deixou de cantar.

Foi então que a menina descobriu que o canto do pássaro só existia porque ele era livre. O encanto estava justamente no fato de não o possuir. Livre, ele conseguia derramar na janela do quarto a parcela de encanto que seria necessário para que a menina pudesse suportar a vida. O encanto alivia a existência... Aprisionado, ela o possuia, mas não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto!

Fico pensando que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza.

Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também.

Precisamos descobrir, que há um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto à medida em que nos empenharmos em não reter a vida.

Viver é exercício de desprendimento. É aventura de deixar que o tempo leve o que é dele, e que fique só o necessário para continuarmos as novas descobertas.

Há uma beleza escondida nas passagens... Vida antiga que se desdobra em novidades. Coisas velhas que se revestem de frescor. Basta que retiremos os obstáculos da passagem. Deixar a vida seguir. Não há tristeza que mereça ser eterna. Nem felicidade. Talvez seja por isso que o verbo "dividir" nos ajude tanto no momento em que precisamos entender o sentimento da tristeza e da alegria. Eles só são suportáveis à medida em que os dividimos...

E enquanto dividimos, eles passam, assim como tudo precisa passar.

Não se prenda ao acontecimento que agora parece ser definitivo. O tempo está passando... Uma redenção está sendo nutrida nessa hora...

Abra os olhos. Há encantos escondidos por toda parte. Presta atenção. São miúdos, mas constantes. Olhe para a janela de sua vida e perceba o pássaro encantado na sua história. Escute o que ele canta, mas não caia na tentação de querê-lo o tempo todo só pra você. Ele só é encantado porque você não o possui.

E nisto consiste a beleza desse instante: o tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher será o suficiente para esperar até amanhã, quando o passaro encantado, na hora em que você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela.

domingo, outubro 03, 2010

Não pense duas vezes

Padre Fabio de Melo
Pe. Fábio de Melo


A felicidade é um susto. Chega na calada da noite, na fala do dia, no improviso das horas. Chega sem chegar, insinua mais que propõe... Felicidade é animal arisco. Tem que ser adimirada à distância porque não aceita a jaula que preparamos para ela. Vê-la solta e livre no campo, correndo com sua velocidade tão elegante é uma sublime forma de possuí-la.

Felicidade é chuva que cai na madrugada, quando dormimos. O que vemos é a terra agradecida, pronta para fecundar o que nela está sepultado, aguardando a hora da ressurreição.

Felicidade é coisa que não tem nome. É silêncio que perpassa os dias tornando-os mais belos e falantes. Felicidade é carinho de mãe em situação de desespero. É olhar de amigo em horas de abandono. É fala calmante em instantes de desconsolo.

Felicidade é palavra pouca que diz muito. É frase dita na hora certa e que vale por livros inteiros.

Eu busco a frase de cada dia, o poema que me espera na esquina, o recado de Deus escrito na minha geladeira... Eu vivo assim... Sem doma, sem dona, sem porteiras, porque a felicidade é meu destino de honra, meu brasão e minha bandeira. Eu quero a felicidade de toda hora. Não quero o rancor, não quero o alarde dos artifícios das palavras comuns, nem tampouco o amor que deseja aprisionar meu sonho em suas gaiolas tão mesquinhas.

O que quero é o olhar de Jesus refletido no olhar de quem amo. Isso sim é felicidade sem medidas. O café quente na tarde fria, a conversa tão cheia de humor, o choro vez em quando.

Felicidades pequenas... O olhar da criança que me acompanha do colo da mãe, e que depois, à distância, sorri segura, porque sabe que eu não a levarei de seu lugar preferido.

A felicidade é coisa sem jeito, mas com ela eu me ajeito. Não forço para que seja como quero, apenas acolho sua chegada, quando menos espero.

E então sorrio, como quem sabe que, quando ela chega, o melhor é não dispersar as forças... E aí sou feliz por inteiro na pequena parte que me cabe.

O que hoje você tem diante dos olhos? Merece um sorriso? Não pense duas vezes...