"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, novembro 29, 2017

A Verdade é totalmente aqui e agora

- OSHO -


Toda a ignorância da mente consiste em não estar no presente. A mente está sempre em movimento: indo para o futuro ou para o passado. A mente nunca está no aqui e agora. Ela não pode estar. A própria natureza da mente é tal que  ela não pode ficar no presente, porque a mente tem de pensar, e no momento presente não há possibilidade de pensar. Você tem que ser, você tem que ouvir, você tem que estar presente, mas  você não pode pensar.

O momento presente é tão estreito que não há espaço para pensar. Você pode estar nele, mas os pensamentos não podem. Como você pode pensar? Se você pensar, isso significa que já é passado, o momento já passou. Ou você pode pensar se não chegou ainda, se está no futuro.

Para pensar, é preciso espaço, porque o pensamento é como uma caminhada – um passeio da mente, uma viagem. É preciso espaço. Você pode caminhar para o futuro, você pode caminhar para o passado, mas como andar no presente? O presente está tão perto... na verdade não está nem perto – o presente é você. Passado e futuro são partes do tempo, o presente é você, que não faz parte do tempo. Não é um tempo: não é de modo algum parte do tempo, não pertence ao tempo. O presente é você, o passado e o futuro estão fora de você.

A mente não pode existir no presente. Se você conseguir estar aqui, totalmente presente, a mente desaparecerá. A mente pode desejar, pode sonhar, sonhar mil e um pensamentos. Ela pode mover-se para o fim do mundo, e pode mover-se para o próprio começo do mundo, mas não pode estar no aqui e agora – isso é impossível para ela. Toda a ignorância consiste em não saber disso. E então você se preocupa com o passado, o qual não existe mais – isso é absolutamente estúpido. Você não pode fazer nada quanto ao passado. Como você pode fazer alguma coisa quanto ao passado que não existe mais? Nada pode ser feito, já passou; mas você se preocupa com isso, e ao se preocupar você desperdiça a si mesmo.

Ou você pensa no futuro, e sonha e deseja. Ele não pode chegar. Tudo o que chega é sempre o presente, e o presente é absolutamente diferente dos seus desejos, dos seus sonhos. É por isso que tudo o que você deseja, sonha, imagina, planeja e se preocupa, nunca acontece. Mas desgasta você. Você continua se deteriorando. Você continua morrendo. Suas energias continuam andando num deserto, não atingindo nenhum objetivo, simplesmente se dissipando. E então a morte bate à sua porta. E lembre-se: a morte nunca bate no passado, e a morte nunca bate no futuro, a morte bate no momento presente.

Você não pode dizer para a morte: "Amanha!". A morte bate no presente. A vida também bate no presente. Deus também bate no presente. Tudo o que existe sempre bate no presente, e tudo o que não existe sempre bate no passado ou no futuro. 

Sua mente é uma entidade falsa, pois nunca bate no presente. Que esse seja o critério para a realidade: tudo o que existe está sempre aqui e agora, e tudo o que não existe nunca faz parte do presente. Largue tudo o que nunca bate no agora. E se você se mover no agora, uma nova dimensão se abre: a dimensão da eternidade.

Passado e futuro movem-se numa linha horizontal. Assim como A se move para B, B para C, C para D, numa linha. A eternidade move-se verticalmente: A move-se mais profundamente em A, mais alto em A, não se move para B; A continua se movendo mais profundamente e para cima, em ambos os sentidos. É vertical. O momento presente move-se verticalmente, o tempo se move horizontalmente. O tempo e o presente nunca se encontram. E você é o presente – todo o seu ser move-se verticalmente. A profundidade está aberta para você, a altura está em aberto, mas você está se movendo horizontalmente com a mente. É assim que você perde Deus.

As pessoas vêm a mim e perguntam como encontrar Deus, como ver, como perceber. Isso não é o que importa. A questão é: como você o está perdendo? Porque ele está aqui e agora batendo à sua porta. Não pode ser de outra forma! Se ele é real, ele tem que estar aqui e agora. Apenas a irrealidade não está aqui e agora. Deus já está na sua porta, mas você não está presente. Você nunca está em casa. Você continua vagando em milhões de palavras, mas você nunca está em casa. Lá você nunca é encontrado, e Deus vai ao seu encontro lá, a realidade rodeia você lá. A verdadeira questão não é como você deveria encontrar com Deus, a verdadeira questão é que você deveria estar em casa, de modo que, quando Deus batesse ele encontrasse você lá. Não é uma questão de você encontrá-lo, é uma questão de ele encontrar você.

Portanto, é uma meditação real. Um homem de entendimento não se preocupa com Deus ou com esse tipo de assunto, porque ele não é um filósofo. Ele simplesmente se empenha em ficar em casa, ele para de preocupar-se em pensar no passado e no futuro, e se estabelece firmemente no aqui e agora, e não sai deste momento. Quando você fica neste momento, a porte se abre. Este momento é a porta!

As pessoas estão realmente dormindo, em todo o planeta, em todos os lugares. Essa é a natureza do sono: você nunca está no aqui e agora, porque, se estiver no aqui e agora, você vai ficar acordado! O sono significa que você está no passado, significa que você está no futuro. A mente é o sono, a mente é uma hipnose profunda – porque qualquer coisa feita durante o sono não vai ser de muita ajuda, pois qualquer coisa feita no sono faz parte do próprio sonho. Sua mente, como ela é, está dormindo. Mas você não consegue sentir como ela está dormindo porque você parece bem acordado, com os olhos abertos. Mas você já viu alguma coisa? Você parece acordado e com ouvidos abertos, mas você já ouviu alguma coisa?

Você está me ouvindo e você diz: "Sim!". Mas você está me ouvindo ou está ouvindo a sua mente aí dentro? A sua mente está sempre comentando. Eu estou aqui, falando com você, mas você não está me ouvindo. Sua mente comenta o tempo todo. Ela diz: "Sim, ele está certo, eu concordo", ou diz "eu não concordo, isso é absolutamente falso"; sua mente está lá, sempre comentando. Através desse comentário, desse nevoeiro mental, eu não posso entrar em sintonia com você. O entendimento vem quando você não está interpretando, quando você simplesmente ouve.

Numa pequena escola, a professora percebeu que um menino não estava escutando. Ele era muito preguiçoso e irrequieto, inquieto. Então ela perguntou: "Por que? Você está com alguma dificuldade? Não está conseguindo me ouvir?"

O menino disse: "A audição está boa, escutar é que é o problema".

Ele fez uma distinção muito sutil. Ele disse: "A audição está boa, eu estou ouvindo você, mas escutar é que é o problema", porque escutar é mais do que ouvir. Escutar é ouvir com plena consciência. Só ouvir é bom, os sons estão todos em torno de você; você ouve, mas não está escutando. Você tem que ouvi-los porque os sons vão continuar batendo no seu tímpano, você tem que ouvir. Mas você não está lá para escutar, porque escutar significa uma atenção profunda – não um comentário interior constante. Não é dizer "sim" ou "não", não é concordar ou discordar; porque se você estiver concordando e discordando, estará realmente me escutando neste momento?

No momento em que você estiver concordando, aquilo que eu disse terá se tornado passado; quando você discorda, o momento já passou. E no momento em que você acenar com a cabeça interiormente, dizendo não ou sim, você estará deixando escapar – isso é uma coisa constante dentro de você.

Você não consegue escutar. E quanto mais conhecimento você tiver, mais difícil fica escutar. Ouvir significa atenção inocente, você simplesmente escuta. Não há necessidade de estar em concordância ou discordância. Não estou em busca da sua concordância ou discordância. Eu não estou tentando de forma alguma convencê-lo.

O que você faz quando um pássaro começa a gritar numa árvore? Você comenta, interpreta? Sim, então você também diz: "Que incômodo!". Você não consegue ouvir nem mesmo um pássaro. Quando o vento está soprando através das árvores e há o farfalhar, você escuta? Às vezes, talvez, quando você é pego de surpresa. Mas então você também comenta: "Sim, lindo!";

Agora observe: sempre que você comenta, você adormece. A mente interferiu, e com a mente o passado e o futuro entraram em cena. A linha vertical é perdida – e você se torna horizontal. No momento em que a mente interfere, você se torna horizontal. Você perde a eternidade.

Simplesmente escute. Não há necessidade de dizer sim ou não. Não há necessidade de se convencer ou não. Simplesmente escute, e a verdade será revelada a você – ou a inverdade! Se alguém está falando bobagem, e você simplesmente escutar, o absurdo será revelado a você – sem qualquer comentário da mente. Se alguém estiver falando a verdade, ela será revelada a você. A verdade ou a inverdade não é um acordo ou desacordo da sua mente, é um sentimento. Quando você está em harmonia total, você sente, e você simplesmente sente que é verdade ou não é verdade – e a coisa termina aí! Sem você ter que se preocupar mais com isso, sem pensar sobre isso. O que o pensar pode fazer?

Se você foi criado de uma certa forma, se você é cristão, ou hindu ou muçulmano, e eu estiver dizendo algo que por acaso esteja de acordo com a sua educação/cultura, você vai concordar dizendo "sim". Se por acaso não estiver, você vai dizer que "não". Você está aqui, ou é apenas a sua cultura? E sua educação é apenas acidental.

A mente não consegue encontrar o que é verdadeiro, a mente não consegue encontrar o que é inverdade. A mente pode raciocinar sobre isso, mas todo o raciocínio é baseado no condicionamento. Se você é hindu, você raciocina de uma maneira; se você é muçulmano, raciocina de uma maneira diferente. E todo tipo de condicionamento é passível de ser racionalizado. Não se trata de fato de raciocínio, mas de racionalização.

O Mulá Nasrudin ficou muito idoso; ele fez 100 anos. Um repórter foi vê-lo porque ele era o cidadão mais velho daquela região. O repórter disse: "Nasrudin, há algumas perguntas que eu gostaria de fazer. Uma delas é: você acha que vai conseguir viver mais 100 anos?"

Nasrudin disse: "Claro, porque cem anos atrás eu não era tão forte quanto sou agora". Cem anos antes ele era uma criança recém-nascida, por isso ele disse: "Cem anos atrás eu não era tão forte quanto sou agora, e se aquela criancinha indefesa, fraca, conseguiu sobreviver durante cem anos, por que eu não conseguirei?"

Isso é a racionalização. Parece lógico, mas falta alguma coisa. É a realização de um desejo. Você gostaria de sobreviver por mais tempo, então você cria uma lógica em torno disso: você acredita na imortalidade da alma. Você foi criado numa cultura que diz que a alma é eterna. Se alguém diz: "Sim, a alma é eterna", você concorda, e diz: "Sim, isso está certo". Mas isso não está certo – ou errado. Você diz "sim" porque é um condicionamento arraigado em você. Esteja aberto à verdade e descubra por si mesmo, sem depender da educação que lhe foi incutida pela sociedade. Então você realmente saberá. Há outros: metade do mundo – hindus, budistas, jainistas – acredita que a alma é eterna, e também que existem muitos renascimentos. E metade do mundo – cristãos, muçulmanos, judeus – acreditam que a alma não é eterna e não existem renascimentos, apenas uma vida e depois a alma se dissolve no final.

Metade do mundo acredita nisso, a outra metade acredita naquilo, e todos têm seus próprio argumentos, todos têm as suas próprias racionalizações. Tudo em que você quiser acreditar, você vai acreditar; mas no fundo seu desejo será a causa da sua crença, não a razão. A mente parece racional, mas não é. É um processo de racionalização: tudo o que você quiser acreditar, a mente dirá que "sim". E de onde vem esse querer? Ele vem da sua educação.

Escutar é um assunto totalmente diferente, que tem uma qualidade totalmente diferente. Quando você escuta, você não pode ser hindu, nem muçulmano, nem jainista, nem cristão. Quando você escuta, você não pode ser teísta ou ateu. Quando você escuta, você não pode fazê-lo através da pele dos seus "ismos" ou escrituras – você tem que colocar todos eles de lado, você tem simplesmente que ouvir.

Eu não estou pedindo para você concordar, não tenha medo! Basta escutar sem se incomodar em demonstrar concordância ou discordância, e então o correto raciocínio acontece.

Se a verdade está ali, de repente você é atraído – todo o seu ser é puxado como que por um ímã. Você derrete e se funde, e seu coração sente "Isso é verdade" sem nenhuma razão, sem nenhum argumento, sem nenhuma lógica. É por isso que as religiões dizem que a razão não é o caminho para o divino. Elas dizem que é a fé, dizem que é a confiança.

E o que é confiança? É uma crença? Não, porque a crença pertence à mente. Confiar é um rapport. Você simplesmente coloca de lado todas as suas medidas de defesa, sua armadura, você se torna vulnerável. Você escuta algo, e você escuta tão totalmente que o sentimento surge em você dizendo se é verdade ou não. Se não é verdade, você sente isso. Por que isso acontece? Se é verdade, você sente isso. Por que isso acontece?

Isso acontece porque a verdade reside em você. Quando você está totalmente no "não pensamento", a sua verdade interior sempre pode sentir a verdade – isso porque o igual sempre sente o igual: ele se encaixa. De repente, tudo se encaixa, tudo cai num padrão e o caos se torna um cosmos. As palavras caem em linha... e uma poesia surge. Então tudo simplesmente se encaixa.

Se você está em rapport, e a verdade surge, seu ser interior simplesmente concorda com ela, mas não é uma concordância da mente que te leva embora para o passado (ou futuro). Você sente uma sintonização, você se torna uno. Isso é confiar. Se algo está errado, isso simplesmente se esvai de você: você nem pensa outra vez, você nunca olha para isso uma segunda vez – não há sentido nisso. Você nunca diz: "Isto não é verdade", aquilo simplesmente não se encaixa – você segue em frente! Se se encaixa, torna-se a sua casa. Se não se encaixa, você segue adiante.

Por meio do escutar vem a confiança. Mas, para escutar é preciso ouvir com mais atenção. E você está dormindo – como você pode estar atento? Mas, mesmo dormindo, um fragmento de atenção permanece flutuando em você. Você pode estar numa prisão, mas as possibilidades sempre existem – você pode sair. Pode haver dificuldades, mas não é impossível, porque se sabe que prisioneiros têm escapado de lá. Um Buda escapa, um Mahavira, um Jesus escapa – eles também estavam presos como você. Prisioneiros escaparam antes. Resta em algum lugar uma porta, uma possibilidade, você simplesmente tem que procurá-la.

Se não for possível, se não houver nenhuma possibilidade, então não há nenhum problema. O problema surge porque a possibilidade existe – você está um pouco alerta. Se você estivesse absolutamente adormecido, então não haveria nenhum problema. Se você estivesse em coma, então não haveria nenhum problema. Mas você não está em coma, você está dormindo, mas não totalmente. Uma lacuna, uma brecha existe. Você tem que encontrar dentro de si mesmo essa possibilidade de ficar atento.

Às vezes você fica atento. Se alguém vem bater em você, a atenção vem. Se você estiver em perigo, passando por uma floresta à noite e estiver escuro, você anda com uma qualidade diferente de atenção. Você está acordado, o pensar não está presente. Você está em plena harmonia com a situação, com tudo o que está acontecendo. Se uma folha faz barulho, você fica totalmente alerta. Você é exatamente como uma lebre ou um cervo – que está sempre acordado. Sua audição está maior, seus olhos estão bem abertos, você está sentindo o que está acontecendo ao seu redor, porque o perigo existe. Em perigo o seu sono é menor, a sua consciência é maior. Se alguém encosta um punhal no seu coração e está prestes a cravá-lo, nesse momento não há pensamento. O passado desaparece, o futuro desaparece, você está no aqui e agora.

Então lembre-se: encontre a atenção, deixe que ela se torne uma continuidade em você 24 horas por dia, em tudo o que você faz. Coma, mas tente ficar atento: coma com consciência. Caminhe, mas caminhe com consciência. Ame, mas ame plenamente consciente. Experimente!

Aqui, me ouvindo, fique alerta. Sempre que você sentir que caiu novamente no sono, traga-se de volta: basta se sacudir um pouco e se trazer de volta. Ao andar na rua, se você sentir que está andando dormindo, agite-se um pouco, leve um pouco de vibração a todo o seu corpo. Fique alerta. Esse estado de alerta permanecerá por alguns instantes, e mais uma vez você irá perdê-lo, porque você tem vivido dormindo há tanto tempo que se tornou um hábito.

Isso não vai se tornar total em apenas um dia, mas, mesmo se um raio for pego, você vai sentir uma satisfação profunda – porque a qualidade é a mesma se você atingir um raio ou a totalidade do sol. Se você provar uma gota d'água do oceano ou todo o oceano, o gosto salgado é o mesmo – e o gosto se torna o seu satori, o seu vislumbre. Então você provará da verdade, e finalmente você saberá.


sexta-feira, novembro 24, 2017

A ilusão já está tragada pela Verdade

- Dárcio Dezolt -


É sumamente importante, para aqueles que estudam a Verdade e fazem questão de encarar espiritualmente as questões das “aparências”, o que ressalta Freda Benson, praticista da Ciência Cristã:  “Jesus estava sempre consciente da falta de base de qualquer argumento da crença mortal. Sabia muito bem que o mal nunca é uma entidade; é apenas uma negação. Uma negação não pode tomar a iniciativa. Só pode parecer inverter a realidade do bem. Por isso, o magnetismo animal é sempre o inverso do bem existente e real e é assim que devemos mantê-lo: já tragado pela ação ininterrupta de Deus, através de Seu Cristo.

Há pessoas  que não recorrem automaticamente rumo a supostas soluções humanas, quando surpreendidas pelas “aparências negativas”, como a maioria costuma fazer! Sentem internamente que possuem recursos do Alto, uma sabedoria que o mundo desconhece! E estes recursos, a cada estudo e contemplação, se ampliam cada vez mais. É neste sentido que  o que Freda Benson  nos declara tem o seu grande valor: faz aflorar em cada um o domínio crístico sobre as aparentes situações indesejáveis “deste mundo”.

Nas Escrituras, não vemos um Jesus cego para as “aparências do mal”; pelo contrário, ele as via exatamente como todos os demais à volta dele viam! Entretanto, sua postura diante delas era única! Era notória  a  enorme diferença entre a atitude dele e a dos demais! E este seu entendimento é o que devemos ter, assumir e dominar, para agirmos de modo igual diante desta “negação”.

Seja qual for a “aparência de mal”, entendamos que não há ali entidade alguma, mas tão somente uma “negação”, uma “argumentação da crença mortal”, que somente parece “inverter a realidade do bem”.

O bem é real e existente, e sua “negação” somente aparenta invertê-lo para o “mal”. Entretanto, somente ignorar a mentira não revela a Verdade! Nosso papel é “contemplar” a situação REAL E EXISTENTE, mesmo que APARENTEMENTE se nos mostre estar invertida,  e isto é feito mediante a Presença de Deus atuando como o Cristo que somos! Estaremos convictos de que A PRESENÇA DE DEUS É ONIPOTENTE, INCLUSIVE COMO O CRISTO QUE SOMOS, E AS SUPOSTAS “IMAGENS HIPNÓTICAS” SIMPLESMENTE SE ESVAEM EM SEU NADA ORIGINÁRIO!

Sempre que assim procedermos, diante dos aparentes  “males deste mundo”, estaremos manifestando a Mente de Cristo.


terça-feira, novembro 21, 2017

Atitude Mística de Cura


- Joel Goldsmith - 


Você tem se defrontado com um problema e pensado sobre como encará-lo? Então, neste instante, terá se esquecido da existência de um único poder, e de que tal compreensão elimina a necessidade de encarar algo como um problema. Você tem sido chamado para resolver o problema de alguma pessoa, e ficado a imaginar se possui suficiente compreensão ou suficiente poder divino? Caso esteja assim agindo, está revelando, nesse momento, que  não conheceu a Verdade.

Não é o seu conhecimento da Verdade ou o Poder de Deus que enfrentam problemas, mas sim a realização de  Deus como sendo o único poder. Nesta compreensão, não há problemas a serem enfrentados, não há leis a serem dominadas e não há males a serem superados. Tudo  não passa de ilusão dos sentidos.

Tendo lido os textos de O Caminho Infinito, mesmo por curto período, você já deve saber que “Deus É”, e isso lhe basta, pois, sendo Deus infinito, não pode haver coisa alguma além ou ao lado de Deus. Como Deus é onipresente, não existe nenhuma outra presença maligna ou de natureza destrutiva. Como Deus é onipotente, não há poderes do mal com que lidar, e nem mesmo pensamentos malignos. Como Deus é onisciente, Deus é Todo-conhecedor, e nada mais há para você saber ou realizar sobre alguma coisa, exceto  repousar nesta percepção de Deus como “aquele que É”.

Você tem acreditado que através de pensamentos, mesmo os de natureza espiritual, a harmonia do reino de Deus pode se modificar? Ou um reino mítico pode ser  destruído?

Quando você se senta em meditação, prece ou tratamento, você se compenetra de que sua única função é habitar “no que “É”? Deus é amor; você não irá fazer com que Deus se torne amor, ou fazer com que Deus ame. Deus é vida; você não irá salvar a vida de alguém ou evitar a morte de alguém. Você irá conhecer a Verdade libertadora. Do que ela nos liberta? Da ignorância e da superstição, da crença num poder apartado de Deus. Se estiver buscando a Deus por algo, ou por alguém, será você quem estará acreditando em poder apartado de Deus.

Os seus períodos de prece ou tratamento são de quietude? Um habitar no Verbo que Deus É? Ou você estaria  tentando fazer algo referente a alguma coisa? Estaria você tentando conseguir de Deus que Ele fizesse algo, no que diz respeito a alguma pessoa ou coisa? Ou você estaria habitando “naquilo que É”?

Deus É; Eu Sou: saber isto lhe será o bastante. Você permanece ainda temeroso, devido ao seu “paciente”, aluno ou filho? Então dê a si mesmo o “tratamento”, até elevar-se à percepção de que, apesar de todas as aparências do mal, vistas na terra, nenhuma delas tem mais realidade do que uma ilusão qualquer. Como há suficiente Graça divina e Maná divino para atender às necessidades de cada momento, o seu conhecimento desta Verdade promoverá a remoção de suas dúvidas e temores, fazendo com que seu “paciente” responda instantaneamente à sua percepção de que “Deus É”.

A Graça de Deus não depende de coisa alguma, e isto significa que todo estudante está suficientemente avançado para se defrontar com qualquer necessidade, bastando-lhe a compreensão dos princípios de O Caminho Infinito: o princípio da “É-dade” de Deus, e o princípio da “imediata disponibilidade da Graça e do Maná divinos”, para dar o atendimento pleno a cada instante.

Em cada período de meditação, prece ou tratamento, relaxe todos os esforços mentais, pois eles apenas lhe trariam frustrações, ou agiriam como barreiras para sua percepção da instantaneidade da paz, harmonia e plenitude espirituais.

Entre, de uma vez por todas, na quietude e no silêncio, e ouça a “pequenina voz suave”, porque quantidade alguma de pensamentos será de benefício para alguém.


sexta-feira, novembro 17, 2017

33 coisas que aprendi em 33 anos


- Gustavo Tanaka - 


1 -  Abrir mão do controle

A vida me mostrou por diversas vezes que não sou eu que controlo. Não sou eu que escolho como e quando vai acontecer. Então eu aprendi a confiar que existe uma inteligência maior que move todas as peças e sabe quando e como as coisas devem acontecer.

2- Respeitar os mais velhos

Existe uma ordem na vida. E nessa ordem, temos que honrar quem chegou antes. Você pode saber de muita coisa, ter estudado um monte. Mas viveu menos que quem é mais velho que você. E nenhum conhecimento vale mais que a vivência. Aprenda com os mais velhos e ensine os mais novos.

3- Curar sua relação com pai e mãe

Não existe um ser humano no planeta que não tem questões a serem trabalhadas na relação com os pais. Cure todas as mágoas, trabalhe internamente incessantemente até conseguir aceitação completa de quem seus pais são e como se comportam com você. Até conseguir sentir gratidão por absolutamente tudo que eles te proporcionaram. Relações não curadas com pai e mãe te atrapalham nos seus relacionamentos e prejudicam sua vida financeira. Eles te deram a vida e são o portal de acesso ao amor.

4- Fazer as pazes com o dinheiro

Talvez você acredite que o mundo seria melhor sem o dinheiro. Eu também já pensei muito nisso. Mas ainda vivemos num mundo que precisa do dinheiro. E por isso precisamos curar nossa relação com ele. Enquanto você achar que o dinheiro é sujo, que é a raiz do mal, que pessoas ricas são desonestas, que não é merecedor, que dinheiro só vem com muito esforço e tiver vergonha de falar sobre dinheiro, você vai ter dificuldades com ele. Faça as pazes com o dinheiro e cure sua relação com ele.

5- Observar os sinais

Aprendi com um amigo que a vida é a estrada mais bem sinalizada que existe. Só não sabemos ler as placas. A vida dá sinais o tempo todo. São pistas espalhadas em cada interação que você tem com o mundo. Desacelere para perceber. Erga a cabeça para poder enxergar. Silencie-se para poder escutar.

6- Se reconectar à natureza

Todas as respostas estão na natureza. É a nossa maior escola e a maior fonte de energia disponível. Faça da sua conexão com a natureza um hábito. Colocar o pé na grama sempre que possível. Sair da cidade sempre que possível. Mergulhar no mar e entrar em todas as cachoeiras que puder.

7- Não existe um lugar para chegar

Pare de tentar chegar lá. Não existe lá. Só existe aqui. Ao invés de tentar chegar lá, aprenda a conseguir ficar aqui. Se você tentar chegar lá, vai ficar a vida toda tentando chegar a um lugar que não existe. Como fazer sua vida ficar boa hoje? Como fazer hoje ser legal? Esse é o nosso desafio.

8- Viver o aprendizado no corpo

Não adianta aprender com a mente. Não adianta ler centenas de livros e não vivenciar no corpo. É como ler um livro sobre o sabor do morango e nunca provar um morango na vida. Para aprender de verdade, faça coisas que permitam seu corpo de sentir. Leve seu corpo para passear. Deixe seu corpo viver cada aprendizado. Enquanto tiver na cabeça, você não vai ter aprendido. Faça, experimente, prove, caia, sinta. Aí sim vai ter aprendido.

9- Tudo é vibração

Tudo é vibração. Tudo é energia. Tudo está vibrando o tempo todo. Algumas coisas vibrando numa frequência mais alta e outras numa frequência mais baixa. Seu objetivo é elevar sua frequência. Comece a perceber como você vibra diferente com cada pessoa e em cada lugar. Faça escolhas de atividades que elevem a sua frequência.

10- Não se achar superior a ninguém

Estamos todos na mesma. Ninguém é melhor que ninguém. Você pode saber muito de uma coisa, mas sabe menos de outras. Pode ter vivido algumas experiências que outros não viveram. Mas eles viveram coisas que você não viveu. Cada pessoa que cruza seu caminho tem muito a lhe ensinar. É só se abrir pra poder aprender.

11- Aprender a dizer não

Dizer não empodera. Quando diz não, estabelece seus limites e passa as mensagens do que quer que o universo de dê mais. Se você aceita qualquer coisa, vai receber qualquer coisa. Quando diz não, você abre espaço para outros sim.

12- Integrar o masculino com o feminino

Todas as pessoas têm energia feminina e masculina. Não importa o gênero ou orientação sexual. É o yin e yang. Observe qual energia está se manifestando mais na sua vida e comece a dar espaço para a outra polaridade de manifestar. É assim que você vai chegar mais perto da integridade, da inteireza, de ser você por completo.

13- Colocar a mente a serviço do coração

O coração sabe. A mente acha que sabe. O coração dá sempre a direção correta. A mente mente pra gente. Use a mente para criar e se movimentar em direção ao que o seu coração diz que deve ser feito. Usar a razão para manifestar a intuição.

14 - Respeitar os ciclos da natureza

Na natureza tudo é cíclico. Na nossa vida não pode ser diferente. Comece a perceber os ciclos e se alinhe a eles. Perceba como sua energia e disposição mudam a cada fase da lua, em cada estação, em cada época do ano, em cada período do dia. Alinhe sua vida a esses ciclos e vai conseguir ter muito mais energia e menos esforço.

15- Parar de mentir para si mesmo

Seja verdadeiro nas pequenas coisas. Fale seu peso, sua altura e sua idade reais. Quando consegue ser verdadeiro nas pequenas coisas, consegue ser verdadeiro nas coisas grandes também. Para ser quem você é de verdade, tem que parar de mentir para si mesmo

16- Não querer convencer ninguém de nada

A sua verdade faz sentido para você. Cada pessoa viveu uma história única. E essa história criou o senso de realidade dela hoje. Você não vai convencer uma pessoa a ver a vida como você enxerga. Mas mesmo assim, siga firme com o que você acredita.

17- Milagres existem

Tem coisas que a gente simplesmente não consegue explicar. É o invisível trabalhando. Sincronicidades, coincidências, coisas que acontecem do nada e sem a gente saber como e porque aconteceram. E se acontecem, viva com a expectativa de que a qualquer momento algo incrível pode acontecer. A vida fica mais legal assim.

18- Aprender a ser vulnerável

A maior coragem está em conseguir expressar sua vulnerabilidade. Usar máscaras e se proteger é fácil. Difícil é conseguir ficar exposto, nu e falar a verdade. E é na vulnerabilidade que as pessoas se conectam com você. Quanto mais vulnerável você for, mais verdadeiro será, e mais empatia vai conseguir gerar.

19- Parar de fugir do erro

É impossível viver sem errar. Justamente porque você não está no controle da vida. E se é impossível não errar, porque fugimos tanto do erro? Se o erro vai acontecer, o que eu preciso fazer não é evitar o erro, mas aprender a levantar e seguir em frente depois de errar.

20- Ficar à vontade para dizer: “eu te amo”

Quanto maior sua capacidade de dizer “eu te amo” mais livre você será. Diga que ama seus pais, que ama seus amigos, que ama pessoas que você mal conhece. Quando você expressa amor, você sente mais amor e dá ao outro a possibilidade de sentir amor. E o que está em falta no mundo hoje é amor.

21- Ser o primeiro a sorrrir e o último a soltar o abraço

Um sorriso desarma qualquer desconfiança. Não espero o outro sorrir para você se desarmar. Sorria antes. Não economize no abraço. É infinito e você só ganha abraçando. Não perde nada. Seja o último a soltar um abraço.

22- Não carregar o peso dos outros

Cada pessoa é responsável pela sua própria vida. Cada um tem a responsabilidade do que acontece e de como reage aos acontecimentos. Hoje tudo virou uma salada. Filhos carregando o fardo dos pais. Esposas absorvendo as dores dos maridos. Amigos se sentindo mal pela dificuldade de um amigo. A verdade é que o seu peso já é pesado demais pra você. Quando você tenta salvar e cuidar da outra pessoa, está tirando dela a oportunidade de crescer e evoluir. Escute, dê colo, acolha. Mas ao final da conversa, devolva e fique somente com o que é seu.

23- Não dá pra agradar todo mundo

O mundo é de dualidade. Luz e sombra. Calor e frio. Pessoas que gostam de você e pessoas que não gostam. Não adianta tentar fazer o maior número possível de pessoas gostarem de você. Apenas seja você. Quanto mais você você conseguir ser, mais pessoas vão gostar de você. E quanto mais pessoas gostarem de você, mais pessoas não vão gostar. Simples assim.

24- Todos os dias o jogo começa de novo

Não importa quão incrível tenha sido o dia de hoje. Amanhã você vai começar e o jogo vai começar zero a zero. Você pode viver o êxtase hoje, mas esse êxtase não é cumulativo. Todos os dias você tem que começar de novo. E se o dia de hoje for difícil, vai dormir que passa. Acorde amanhã para tentar fazer melhor.

25- Aprender a receber

Aprenda a receber dos outros. Aceite que paguem sua conta, aceite o elogio, aceite o presente. O que você recebe é seu por direito. Às vezes está recebendo agora pelo que contribuiu em outro momento e com outra pessoa. A vida se encarrega do equilíbrio. Aceite e tenha gosto por receber. Você só recebe se está aberto a receber.

26- Não é possível mudar o outro

Pare de querer que o outro mude. Que seu marido, que sua namorada, que seus pais mudem. Você não muda ninguém. Não importa quanto você fale para a pessoa mudar, é ela que tem que fazer isso sozinha. Se você sofre pelo que o outro faz, é você que precisa mudar. Tem que trabalhar internamente para que sofra cada vez menos. E quando você consegue ficar bem internamente, o mundo externo muda. E é até capaz que aí sim a pessoa mude.

27- Cuidar do corpo

Seu corpo é seu veículo. Cuide do seu corpo melhor que você cuida do seu carro. Cuide do seu corpo melhor que você cuida da sua casa. É com ele que você vai conseguir sentir. É com ele que vai conseguir materializar. O corpo fala com você. Aprenda a escutar o que ele pede e a se relacionar com ele. O corpo é como um cavalo selvagem. Se você não dominar seu corpo, ele vai te dominar. Quando você cuida bem dele, ele cuida bem de você.

28- Viver o amor e a dor com a mesma intensidade

Não viemos aqui para vivermos felizes para sempre o amor eterno. Nós já viemos do amor eterno. Aqui nós viemos para experimentar a vida. E para experimentar a vida, precisamos aprender a vivenciar a dor. Viva o luto, chore, mergulhe e explore a dor. Enquanto você fugir do sofrimento, ele vai te perseguir. Enquanto negar sua sombra, ela vai te encher. Para você ser você de verdade, precisa se integrar a todas as partes de si mesmo. Viver o amor e a dor, a luz e a sombra.

29- Não esperar ninguém dizer que você está pronto

Ninguém vai te dar o aval e dizer que chegou sua hora. Que agora você já pode se lançar. É você quem vai fazer isso. Enquanto esperar alguém te dar o ok, vai continuar no mesmo lugar. Deixe a vontade de se mover, de começar algo novo, de viajar, de mudar tomar conta de você até que não seja possível mais permanecer no lugar de antes. Aí você vai saber que é hora de agir.

30- Você não vai morrer de fome

Por mais pessimista que você seja. Por mais que tudo dê errado, você não vai morrer de fome. Sempre tem alguém pra te ajudar. Se você souber pedir ajuda, alguém vai estender a mão. Você está cercado de gente que te ama, que quer te apoiar e quer o seu bem. Lembre-se sempre disso.

31- O fracasso está na sua cabeça

O que é fracassar? Como se mede o fracasso? E o que acontece depois do fracasso? Tudo que está relacionado ao fracasso é uma criação sua. Não existe um ranking, métricas, ou lista do que é fracasso. Tudo está na sua cabeça. Depois que você fracassar, vai ver que o fracasso não existe na verdade.

32- Se relacionar com o divino

Existe um mundo invisível que nos influencia o tempo todo. Existe um universo inteiro do qual sequer temos noção de como funciona. Mas que te influencia diretamente. Se abra para essa percepção. Desenvolva hábitos para se relacionar com o que é divino para você. Deus, guias, anjos, mestres, mentores, fadas, gnomos, extraterrestres, energia, astros, deuses e elementos da natureza, tanto faz. Mas lembre-se sempre de que eles existem e aprenda a se relacionar todos os dias. Se você acredita em algo a mais, traga esse algo a mais pra sua vida.

33- Agradecer, agradecer, e agradecer 

A vida é cheia de armadilhas. E uma das maiores é a de acharmos que não temos o suficiente. Quanto mais você agradece, mais se lembra que tem o que precisa e sai dos pensamentos de escassez. Faça da gratidão um hábito e busque em todas as relações conseguir chegar ao estado de gratidão. Enquanto não conseguir ser grato, tem coisas para trabalhar internamente. A vida é um jogo de cura e a gente se cura quando consegue agradecer pela experiência vivida, pela relação e pelo aprendizado.


sábado, novembro 11, 2017

A necessidade de vencer (OSHO)


“Quando um arqueiro atira por diversão
Ele está de posse de toda a sua habilidade.
Se atira para ganhar uma fivela de bronze
Já fica nervoso.
Se atira por um prêmio em ouro
Fica cego
Ou vê dois alvos – ele fica louco.
Sua habilidade não mudou.
Mas o prêmio deixa-o dividido.
Ele se preocupa,
Pensa mais em ganhar do que em atirar.
E a necessidade de vencer exaure suas forças.”
(Chuang Tzu)

Continuação... (primeira parte aqui)

Agora, tente entender o sutra de Chuang Tzu: "A necessidade de vencer". De onde vem essa necessidade – a necessidade de vencer? Todo mundo está em busca da vitória, buscando vencer, mas porque surgiu essa necessidade de vencer?

Você não está de forma alguma consciente de que já é vitorioso, que a vida já aconteceu a você. Você já é um vencedor e nada mais é possível, tudo o que poderia acontecer já aconteceu com você. Você já é um imperador e não há nenhum outro reino a ser conquistado. Mas você não reconheceu isso, você não conhece a beleza da vida que já lhe aconteceu. Você não conhece o silêncio, a paz, a felicidade, que já estão presentes.

Porque você não está ciente desse reino interior, você sempre sente que algo é necessário, alguma vitória, para provar que você não é um mendigo.  

Qual é a necessidade de vencer? Você tem de provar a si mesmo. Você se sente tão inferior por dentro, você se sente tão ocioso e vazio – por dentro você se sente como se fosse um ninguém, por isso essa necessidade de provar. Você tem que provar que é alguém, e, a menos que você tenha provado isso, como pode ficar em paz?

Há duas maneiras, e tente entender que estas são as duas únicas maneiras. Uma delas é ir para fora, voltar-se para fora, e perceber que você é ninguém. Se você sair por aí, nunca será capaz de provar que é alguém. A necessidade permanecerá; na verdade, pode aumentar. Quanto mais você provar, mas vai se sentir como um mendigo; você vai se sentir assim sempre. Porque o mero ato de provar aos outros que você é alguém não faz de você alguém. No fundo, o sentimento de ser ninguém permanece. Ele continua açoitando o seu coração – o sentimento de que você é ninguém.

Conquistar reinos não vai ajudar, porque os reinos não vão entrar dentro de você e preencher a lacuna. Nada pode entrar em você. O que está fora permanecerá fora; o que está dentro permanecerá dentro. Não há um encontro. Você pode ter toda a riqueza do mundo, mas como você pode trazê-la para dentro para preencher o seu vazio? Não, mesmo com toda riqueza do mundo você ainda vai se sentir vazio, mais até, porque agora o contraste vai estar diante de você. É por isso que Buda abandonou seu palácio: ver toda a riqueza e ainda sentir o vazio interior, perceber que tudo é inútil.

Outra maneira é se voltar para dentro – não para tentar se livrar deste sentimento de ser ninguém, mas para percebê-lo. Isso é o que Chuang Tzu está dizendo: torne-se um barco vazio, apenas se volte para dentro e perceba que você é ninguém. No momento em que você perceber que é ninguém, você explode numa nova dimensão, porque, quando alguém percebe que é ninguém, também percebe que é tudo.

Você não é alguém, porque você é tudo. Como pode o tudo ser alguém? "Alguém" sempre será uma parte. Deus não pode ser alguém porque ele é tudo, ele não pode possuir nada porque ele é o todo. Apenas os mendigos possuem, porque as posses têm limitações. As posses não podem ser ilimitadas. “Ser alguém”  tem um limite, o “ser alguém” não pode ser sem limites, não pode ser infinito. “Ser ninguém” é infinito, assim como ser tudo. 

Na verdade, ambos são a mesma coisa. Se você está se movendo para fora, você vai sentir seu reino interior como um ninguém. Se você está se movendo para dentro, você vai sentir o mesmo ninguém como tudo. É por isso que Buda diz que shunya, o vazio absoluto, é brahman. Ser ninguém é perceber que você é tudo. Perceber que você é alguém é perceber que você não é tudo. E nada menos servirá.

Assim, a outra maneira é ir para dentro de si, não para lutar com esse sentimento de ser ninguém, não para tentar preencher esse vazio, mas para percebê-lo e tornar-se uno com ele. Seja o barco vazio e, então, todos os mares serão seus. Então você pode passar para o desconhecido, então não existirá qualquer impedimento para esse barco, ninguém pode bloquear seu caminho. Nenhum mapa é necessário. Esse barco avançará para o infinito. Agora todos os lugares são o objetivo, mas a pessoa tem que ir para dentro.

A necessidade de vencer é para provar que você é alguém, e a única maneira que conhecemos de provar isso é provar aos olhos dos outros, porque os olhos deles se tornam reflexos.

Qual é a necessidade de vencer? O que você quer provar? Aos seus próprios olhos você sabe que você é um nada, coisa nenhuma, e esse nada dói no seu coração. Você sofre porque você não é nada – então você tem que provar a si mesmo aos olhos dos outros. Você tem que criar uma opinião na mente das outras pessoas de que você é alguém, de que não é um nada. E olhando nos olhos delas você vai reunir  opiniões, a opinião pública, e por meio dela vai criar uma imagem. Essa imagem é o ego, não é o seu verdadeiro eu. É uma glória refletida, não é a sua própria – ela vem dos outros.

Este tipo sempre vai ter medo dos outros, porque eles podem pegar de volta tudo o que deram. Um político está sempre com medo do público, porque eles podem pegar de volta tudo o que lhe deram. É só emprestado; seu eu é um eu emprestado. Se você tem medo dos outros, você é um escravo, você não é um mestre.

Essa é a diferença entre o eu e o ego – o ego é um eu emprestado, ele depende dos outros, da opinião pública. O eu é o seu ser autêntico, não é emprestado, ele é seu. Ninguém pode pegá-lo de volta.

Veja, Chuang Tzu disse palavras bonitas:

“Quando um arqueiro atira por diversão
Ele está de posse de toda a sua habilidade”

Quando um arqueiro atira por diversão, ele está de posse de toda a sua habilidade. Quando você está brincando, não está tentando provar que você é alguém. Está à vontade, contente. Durante a brincadeira, apenas por diversão, você não está preocupado com o que os outros pensam de você.

Você já viu um pai numa luta simulada com o filho? Ele vai ser derrotado. Ele vai se deitar e a criança vai se sentar sobre o seu peito e rir, e dizer: “Eu sou o vencedor!” – E o pai vai ficar feliz. É só diversão. Na diversão você pode ser derrotado e ficar feliz. A diversão não é uma coisa séria, não está relacionada com o ego. O ego é sempre sério.

Então, lembre-se, se você é sério, você sempre está num tumulto interior. Um santo está sempre brincando, como se atirasse por diversão. Ele não está interessado em atirar num alvo específico, ele está apenas se divertindo.

Um filósofo alemão, Eugene Herrigel, foi ao Japão para aprender a meditar. No Japão eles usam todos os tipos de artifício para ensinar a meditar, incluindo o arco e a flecha. Herrigel era um arqueiro perfeito, acertava cem por cento. Nunca errava o alvo. Então ele procurou um mestre para aprender a meditar através do arco e da flecha, porque ele já era hábil nisso.

Depois de três anos Herrigel começou a sentir que aquilo era um desperdício de tempo, porque o mestre continuava insistindo que ele não deveria atirar. Ele dizia a Herrigel: “Deixe a flecha se lançar por si só. Você não deve estar presente quando aponta a flecha, deixe-a fazer ela mesma a pontaria.”

Era um absurdo. Para um ocidental em particular, era um completo absurdo: “O que quer dizer com isso, deixar que a flecha se lance por si só? Como uma flecha pode se atirar por si só? Eu tenho que fazer alguma coisa.” E ele continuava. E nunca errava o alvo.

Mas o mestre dizia: “O alvo não é o alvo coisa nenhuma. Você é o alvo. Eu não estou vendo se você está atingindo o alvo ou não. Essa é uma habilidade mecânica. Eu estou olhando para você, para ver se você está presente ou não. Atire para se divertir! Divirta-se, não tente provar que nunca perde o alvo. Não tente provar o ego. Ele já está lá, você está lá, não há necessidade de prova-lo. Fique à vontade e permita que a flecha atire a si mesma.”

Herrigel não conseguia entender. Ele tentou e tentou e disse repetidas vezes: “Se minha pontaria é cem por cento correta, por que você não me dá o certificado?”

A mente ocidental está sempre interessada no resultado final e a oriental está sempre interessada no começo, não no final – no arqueiro, não no alvo. O resultado final não tem importância. Então o mestre dizia: “Não!”

Então, completamente decepcionado, Herrigel pediu para ir embora. Ele disse: “Então eu terei que ir. Três anos é muito e não ganhei nada com isso e você continua dizendo não, e continua dizendo que ainda sou o mesmo.”

No dia em que estava para sair, ele tinha acabado de se despedir. O mestre estava ensinando outros discípulos. Naquela manhã, Herrigel não estava interessado em nada; ele estava partindo, tinha desistido de todo o projeto. Então, estava apenas esperando ali até que o mestre estivesse desocupado. Ele se despediria e iria embora.

Sentado em um banco, ele olhou para o mestre, pela primeira vez. Pela primeira vez em três anos ele olhou para o mestre. Na verdade, ele não estava fazendo nada; era como se a flecha estivesse atirando a si mesma. O mestre não estava sério, ele estava brincando, ele estava se divertindo. Não havia ninguém interessado no alvo.

O ego é sempre orientado para o alvo. A diversão não tem meta a alcançar, o divertimento está no início, quando a flecha deixa o arco. Se ela dispara, isso é acidental; se atinge o alvo, isso não é relevante; se atinge o alvo ou não, essa não é a questão. Mas, quando a flecha deixa o arco, o arqueiro deve estar brincando, se divertindo, sem se levar a sério. Quando está sério, você está tendo; quando não está sério, você está relaxado e, quando você está relaxado/à vontade, você está presente. Quando você está tenso, o ego está presente, você está entorpecido.

Pela primeira vez Herrigel olhou – porque agora ele não estava interessado. Aquilo não era mais da conta dele, ele tinha desistido da coisa toda. Ele estava indo embora, então não havia mais por que levar tudo a sério. Ele tinha aceitado o seu fracasso, não havia nada para ser provado. Ele olhou e, pela primeira vez, seus olhos não estavam obcecados com o alvo.

Ele olhou para o mestre e era como se a flecha estivesse atirando a si mesma do arco. O mestre estava só dando energia a ela, ele não estava atirando. Não estava fazendo nada, a coisa toda era feita sem esforço. Herrigel olhou e pela primeira vez entendeu o que significava.

Como que enfeitiçado, ele se aproximou do mestre, tomou o arco da sua mão e recuou a flecha. O mestre disse: “Você compreendeu. Isso é o que eu tenho dito para você fazer há três anos.” A seta ainda não tinha deixado o arco quando o mestre disse: “Concluído: o alvo foi atingido.” Agora ele estava se divertindo, ele não estava sério, ele não estava preocupado com o objetivo.

Essa é a diferença. A diversão não visa um objetivo, ela não tem objetivo. A diversão é apropria meta, o valor intrínseco, nada mais. Você se divertiu, é o que basta. Não há nenhum propósito, você brincou. Isso é tudo.

Quando um arqueiro está atirando por diversão, ele está de posse de toda a sua habilidade. Quando você está atirando para se divertir, você não está em conflito. Não há dois, não há tensão, sua mente não vai a lugar nenhum. Sua mente não está indo – então você está inteiro. Então a habilidade está lá.

Dizem de um pintor zen, um mestre zen... Ele estava fazendo um desenho, um projeto, para um pagode novo, um novo templo. Ele tinha o hábito de manter seu principal discípulo ao seu lado. Ele fazia o desenho, olhava para o discípulo e perguntava: “O que você acha?”.

E o discípulo dizia: “Não é digno de você.” Então ele o jogava fora.

Isso aconteceu 99 vezes. Três meses se passaram e o rei estava sempre perguntando quando o projeto seria concluído, quando o trabalho poderia começar. E um dia aconteceu: o mestre estava fazendo o projeto e a tinta secou, então ele disse ao discípulo para sair e preparar mais tinta.

O discípulo saiu e, quando voltou, ele disse: “O que? Você fez isso! Mas por que durante três meses não conseguiu fazer?”

O mestre disse: “Por sua causa. Você estava sentado ao meu lado e eu estava dividido. Você estava olhando para mim e eu estava preocupado com o resultado, não era divertido. Quando você ficou ausente, eu relaxei. Senti que não havia ninguém ali, fiquei inteiro. Eu não fiz este projeto, ele veio por si só. Durante três meses, ele não veio porque era eu quem o fazia.”

Quando um arqueiro está atirando por diversão, ele está de posse de toda a sua habilidade... porque todo o seu ser está disponível. E quando todo o seu ser está disponível, você tem uma beleza, uma graça, uma qualidade totalmente diferente de ser. Quando você está dividido, sério, tenso, você é feio. Você pode ter sucesso, mas seu sucesso vai ser feio. Você pode provar para alguém que você é alguém, mas você não está provando nada, você está simplesmente criando uma imagem falsa. Mas, quando você é total, descontraído, inteiro, pode ser que ninguém conheça você, mas você é.

E essa totalidade é a bênção, a bem-aventurança, a beatitude, que acontece a uma mente meditativa, que acontece na meditação.  Meditação significa totalidade.

Então, lembre-se, a meditação deve ser divertida, não deve ser um peso, um trabalho. Você não deve fazê-la como um homem religioso, você deve fazê-lo como um jogador. Como quem joga para se divertir. Você deve ser como um esportista, não como um empresário. Deve ser divertido, então toda a sua habilidade estará disponível, então ela irá florescer por si só. Você não será necessário. Nenhum esforço será necessário. Simplesmente todo o seu ser tem de estar disponível, toda a sua energia tem de estar disponível. Então, o florescimento vem por si só.

“Se atira para ganhar uma fivela de bronze, já fica nervoso...”

Se ele está numa competição apenas para ganhar um fivela de bronze, se algo deve ser realizado, um resultado é necessário, ele já fica ervoso, com medo. O medo vem: “Será que vou ter sucesso ou não?” Ele fica dividido. Uma parte da mente diz: “Talvez você tenha sucesso”; a outra parte diz: “Talvez você falhe.” Agora nem toda a sua habilidade está disponível, agora ele é meio a meio. E sempre que você está dividido, todo o seu ser se torna feio e doente. Você fica desassossegado.

“Se atira por um prêmio em ouro, fica cego ou vê dois alvos – ele fica louco...”

Vá ao mercado e observe as pessoas que estão atrás de outro. Elas são cegas. O outro cega mais homens do que qualquer outra coisa, o ouro ofusca os olhos completamente. Quando você está muito preocupado em ter sucesso, em chegar a um resultado, está muito ambicioso, quando você está muito obcecado pela medalha de ouro, você fica cego e começa a ver dois alvos. Você fica tão embriagado que começa a ver dois alvos.

Todo mundo está louco, fora da própria mente. Não são apenas os loucos que estão fora da mente, você também está fora da sua mente. A diferença é apenas de grau, não de qualidade; um pouco mais e a qualquer momento você pode cruzar a linha divisória. É como se você estivesse a 99 graus. Cem graus e você entra em ebulição, atravessou a fronteira. A diferença entre aqueles que estão em manicômios e aqueles que estão fora é só de quantidade, não de qualidade. Todo mundo está fora da própria mente, porque todo mundo está atrás de resultados, metas, propósitos. Algo tem que ser alcançado. Então, vem o nervosismo, o tremor interior, então você não pode ter quietude interior. E, quando você treme por dentro, o alvo se torna dois, ou mesmo quatro ou oito – então é impossível se tornar um arqueiro.

O arqueiro perfeito é sempre aquele que está se divertindo.

O homem perfeito vive a vida como se ela fosse uma diversão, uma brincadeira.

Veja a vida de Krishna. Se Chuang Tzu o tivesse conhecido, teria sido uma beleza. A vida de Krishna é divertida. Buda, Mahavira, Jesus, de um modo ou de outro parecem um pouco sérios, como se algo tivesse que ser alcançado – o moksha, o nirvana, o reino de Deus. Mas Krishna é absolutamente sem propósito – o tocador de flauta que vive apenas para se divertir, para dançar com as garotas, divertindo-se, cantando. Nenhum lugar para ir, está tudo aqui, então por que se preocupar com o resultado? Tudo está disponível agora, por que não aproveitar isso?

Se divertir-se é a indicação de um homem perfeito, Krishna é o homem perfeito. Na Índia, nunca chamamos a vida dele de Krishna charitra, seu caráter, nunca a chamamos assim. Nós a chamamos de Krishna leela, a sua diversão. Não é um caráter, não tem um propósito; é absolutamente despropositado.

É como uma criança pequena. Você não pode perguntar: “O que você está fazendo? Você não pode perguntar: “Qual é o significado disso?” Ela está se divertindo apenas correndo atrás das borboletas. O que ela vai atingir apenas pulando ao sol? A que fim esse esforço levará? A nenhum outro lugar! Ela não vai a lugar algum. Nós a chamamos de infantil e nos consideramos maduros, mas eu lhe digo que, quando você estiver realmente maduro, vai voltar a ser criança. Então, sua vida voltará a ser divertida. Você vai apreciá-la, cada pedacinho dela, você não vai ser tão sério. Um riso profundo vai se espalhar por toda sua vida. Será mais como uma dança e menos como um negócio; vai ser mais como cantar, cantarolar no banheiro, menos como fazer contas no escritório. Não vai ser matemática, vai ser apenas diversão.

“A habilidade dele não mudou.
Mas o prêmio deixa-o dividido.
Ele se preocupa,
Pensa mais em ganhar do que em atirar.
E a necessidade de vencer exaure suas forças.”

Se você parece tão impotente, tão sem forças, indefeso, a culpa é toda sua. Ninguém está exaurindo suas forças. Você tem infinitas fontes de poder, inesgotáveis, mas você parece esgotado, como se a qualquer momento fosse cair, sem que lhe reste nenhuma energia.

Para onde estão indo todas essas energias? Você está criando um conflito dentro de si mesmo – a sua habilidade é a mesma.

“A habilidade dele não mudou. Mas o prêmio deixa-o dividido. Ele se preocupa...”

Eu ouvi uma história. Aconteceu numa aldeia... Um homem pobre, filho de um mendigo, era jovem e saudável – tão jovem e tão saudável que, quando o elefante do rei passava pela aldeia, ele simplesmente agarrava o rabo do elefante e o animal não era capaz de se mover.

Às vezes era muito embaraçoso para o rei, porque ele ficava sentado sobre o elefante e todo o mercado se reunia e as pessoas riam. E tudo por causa do filho de um mendigo.

O rei pediu ao seu primeiro-ministro: “É preciso fazer alguma coisa. Isso é um insulto. Fiquei com receio de passar por aquela aldeia, e o menino às vezes visita outras aldeias também. Em qualquer lugar ele pode agarrar a cauda do elefante e ele não se moverá. Ele é tão forte, faça alguma coisa para esgotar sua energia.”

O primeiro-ministro disse: “Vou ter de consultar um sábio, porque eu não sei como esgotar sua energia. Não há nada para esgotar sua energia, porque ele é um mendigo. Se ele tivesse uma loja, sua energia poderia ser exaurida. Se ele estivesse trabalhando como escriturário num escritório, a energia seria descarregada. Se ele fosse professor numa escola primária, sua energia poderia ser esgotada. Mas ele não tem nada para fazer. Ele vive para se divertir, e as pessoas o adoram e lhe dão comida e leite, por isso nunca lhe falta comida. Ele está feliz, ele come e dorme. Por isso é difícil, mas eu vou.” 

Então ele foi procurar um velho sábio. O Sábio lhe disse: “Faça uma coisa. Vá e diga ao rapaz que você vai lhe dar um rúpia de ouro todos os dias se ele lhe prestar um pequeno serviço – e o serviço é muito simples. Ele tem que ir ao templo da aldeia e acender uma lamparina. Ele tem apenas de acender uma lamparina, isso é tudo. E você vai lhe dar uma rúpia de ouro todos os dias.

O primeiro-ministro disse: “Mas como isso vai ajudar? Isso pode torna-lo ainda mais entusiasmado. Ele vai ter uma rúpia e vai se sentir cheio de energia. Ele nem mesmo se preocupará em pedir esmolas.”

O sábio disse: “Não se preocupe, basta fazer o que eu digo.”

Isso foi feito, e na semana seguinte, quando o rei passou, o menino tentou, mas não conseguiu, não conseguiu parar o elefante. Ele foi arrastado por ele.

O que aconteceu? Surgiu a preocupação, surgiu a ansiedade. Ele tinha que lembrar, durante 24 horas por dia ele tinha que lembrar que tinha de ir ao templo, todas as noites, e acender a lamparina. Isso se tornou uma preocupação, que dividiu todo o seu ser. Mesmo durante o sono, ele começou a sonhar que era noite: “O que você está fazendo? Vá e acenda a lamparina e pegue a sua rúpia.”

Então ele começou a guardar as rúpias de ouro – agora são sete, agora oito. Então começou a calcular que, dali a certo tempo, ele teria cem rúpias de ouro – e que essa quantia ia aumentar para duzentas. Entrou a matemática, acabou a diversão.  E ele tinha apenas uma pequena coisa a fazer, acender uma lamparina. Apenas um único minuto, nem mesmo um minuto, apenas uma coisa momentânea – mas tornou-se uma preocupação. E isso exauriu toda a sua energia.  

Se você está esgotado não é de admirar que a sua vida não esteja divertida. Você tem tantos templos e tantas lamparinas para acender, tantos cálculos na sua vida, que ela não pode ser um divertimento.

A habilidade dele não mudou – a habilidade é a mesma, mas o arqueiro, quando está atirando para se divertir, tem toda a sua habilidade disponível. A habilidade ele não mudou. Mas o prêmio o dividiu. Ele se preocupa. Surgiu a ansiedade, surgiu o nervosismo. Ele pensa mais em ganhar, agora não está preocupado em disparar a flecha. Agora a questão é como ganhar, e não como disparar a flecha. Ele passou do início ao fim. Agora o meio não é importante, o fim é importante, e sempre que o fim é importante a energia fica dividida, porque tudo o que pode ser feito é para ser feito com o meio, não com o fim. Os fins não estão em suas mãos.

No Gita, Krishna diz a Arjuna: "Não se preocupe com o fim, com o resultado. Basta fazer tudo o que é para ser feito aqui e agora e deixe o resultado para Mim, para a existência. Não pergunte o que vai acontecer, você simplesmente faz tudo o que é para ser feito. Fique preocupado com o meio e não pense no fim. Não seja orientado para os resultados."

Essa situação é bela e vale a pena considerar as frases de Chuang Tzu, porque Arjuna era um arqueiro, o maior arqueiro que a Índia já produziu. Ele foi o arqueiro perfeito.

Mas o fim entrou em sua mente. Ele nunca tinha se preocupado, nunca tinha acontecido antes. Sua arte com o arco era perfeita, sua habilidade era total, absoluta, mas, vendo aquele grande cerco de Kurukshetra, dois exércitos se defrontando, ele ficou preocupado. Qual era a preocupação? Era que ele tinha amigos em ambos os lados. Era um assunto de família, uma guerra entre primos e irmãos, então todo mundo estava ligado. Aqueles que estavam do outro lado também tinham parentesco com os deste lado. Todas essas famílias e parentes estavam divididos, e estavam uns contra os outros – era uma guerra rara, uma guerra familiar.

Krishna estava lutando ao lado de Arjuna, mas seu exército estava lutando do outro lado. Krishna dissera: "Vocês me amam tanto assim que terão que dividir meio a meio. Um lado pode ter a mim, e o outro lado pode ter os meus exércitos."

Duryodhana, o líder do outro lado, era tolo. Ele pensou: O que vou fazer com Krishna sozinho – e seu exército é tão grande. Então ele disse: "Eu vou escolher o seu exército."

Então, Krishna estava com Arjuna e Arjuna estava feliz, porque um Krishna é mais do que o mundo inteiro. O que podem fazer os exércitos – pessoas inconscientes, adormecidas? Um homem desperto vale muito mais.

Krishna tornou-se de grande ajuda quando Arjuna ficou confuso e sua mente, dividida. No Gita dizem que, ao olhar para esses dois exércitos, ele ficou perplexo. E estas são as palavras que ele falou a Krishna: "Minha energia está esgotada. Sinto-me nervoso, impotente, não tenho mais forças" – e ele era um homem de habilidade perfeita, um arqueiro perfeito.

O seu arco é conhecido como gandiva. Ele disse: "O gandiva parece muito pesado para mim. Fiquei impotente, meu corpo está dormente, e eu não consigo pensar e não consigo ver. Tudo ficou confuso, porque são todos meus parentes e vou ter que matá-los. Qual será o resultado? Carnificina, tantas pessoas mortas, e o que vou ganhar com isso? Um reino sem valor? Eu não estou interessado em lutar, o preço é alto demais. Eu gostaria de fugir e me tornar um sannyasin, um renunciante, para ir para a floresta e meditar. Isto não é para mim. Minha energia está esgotada."

Krishna disse a ele: "Não pense no resultado. Não está em suas mãos. E não pense que você é o realizador, porque, se você for o realizador, então o fim está em suas mãos. O realizador é sempre o divino, e você é apenas um instrumento. Preocupe-se com o aqui e o agora, com o meio, e deixe o fim para mim. Eu lhe digo, Arjuna, que essas pessoas já estão mortas, elas estão fadadas a morrer. Você não vai matá-las. Você é apenas o instrumento para revelar-lhes o fato de que elas já foram assassinadas, já estão mortas. Até onde eu posso ver, vejo-as mortas. Elas chegaram ao ponto em que a morte acontece – você é apenas um instrumento."

O sânscrito tem uma palavra bonita, não há equivalente em inglês ou em português: é nimitta. Nimitta significa que você não é o realizador, você não é a causa, nem mesmo uma das causas, você é apenas o nimitta. Você é só como um carteiro – o carteiro é o nimitta. Ele chega e entrega uma carta para você. Se a carta contém insultos, você não se zanga com ele. Você não diz: "Por que você me trouxe esta carta?" O carteiro não está preocupado, ele é o nimitta. Ele não escreveu a carta, ele não fez nada, não está preocupado com ela. Ele apenas cumpriu o seu dever. Você não vai ficar zangado com ele. Você não vai dizer: "Por que você trouxe esta carta para mim?"

Krishna disse a Arjuna: "Você é como um carteiro, você tem que entregar a morte para elas. Você não é o assassino; a morte vem do divino. Elas já a obtiveram., portanto, não se preocupe. Se você não for matá-las, outra pessoa fará isso." Se este carteiro não fizer isso, então alguém mais vai entregar a carta. Não é uma questão de saber se você vai estar lá ou não, ou se está de férias ou doente, e a carta não será entregue. Um carteiro substituto fará isso. Mas a carta tem de ser entregue. Portanto, não se incomode, não fique preocupado desnecessariamente; você é apenas um instrumento. Esteja preocupado com o meio, não pense no fim, porque, se você pensar no fim, a sua habilidade está perdida, você fica dividido.

E essas foram as palavras de Krishna: "É por isso que você está se sentindo tão esgotado, Arjuna. Sua energia não foi a lugar nenhum. Tornou-se uma consciência – então você está dividido. Você está lutando consigo mesmo. Uma parte diz vá em frente, outra parte diz que isso não é bom. Sua integridade se perdeu. E sempre que a totalidade se perde, você se sente impotente."

Um homem tão poderoso como Arjuna diz: "Eu não posso carregar este gandiva, este arco é muito pesado para mim. Fiquei nervoso. Eu sinto medo, um medo profundo, uma ansiedade cresceu em mim. Eu não posso lutar."

A habilidade é a mesma, nada mudou, mas a mente está dividida. Sempre que você está dividido você fica sem forças, quando você fica indiviso você é poderoso. Os desejos dividem você, a meditação não o divide. Os desejos o levam para o futuro, a meditação traz você para o presente.

Lembre-se disto como uma conclusão: não se mova para o futuro. Sempre que você sentir a sua mente indo para o futuro, volte para o presente imediatamente. Não tente completar o salto. Imediatamente, no momento em que você pensar, no momento em que se der conta de que a mente foi para o futuro, para o desejo, volte ao presente. Fique à vontade.

Você vai fracassar várias e várias vezes. Muitas e muitas vezes você não vai conseguir, porque este se tornou um hábito arraigado, mas mais cedo ou mais tarde, cada vez mais, você vai ficar à vontade. Então a vida fica divertida, vira um brincadeira. E então você fica tão cheio de energia que ela transborda de você – uma enxurrada de vitalidade. E essa enxurrada é felicidade.

Sem forças, esgotado, você não pode estar em êxtase. Como pode dançar? Para dançar, você vai precisar de uma energia infinita. Exaurido, como você pode cantar? Cantar é sempre um transbordamento. Morto como você está, como pode orar? Somente quando você está totalmente vivo um agradecimento brota do seu coração, uma gratidão. Essa gratidão é a oração.

Basta por hoje.



quinta-feira, novembro 09, 2017

O Instante Atômico (OSHO)

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“Quando um arqueiro atira por diversão
Ele está de posse de toda a sua habilidade.
Se atira para ganhar uma fivela de bronze
Já fica nervoso.
Se atira por um prêmio em ouro
Fica cego
Ou vê dois alvos – ele fica louco.
Sua habilidade não mudou.
Mas o prêmio deixa-o dividido.
Ele se preocupa,
Pensa mais em ganhar do que em atirar.
E a necessidade de vencer exaure suas forças.”
(Chuang Tzu)


Se a mente está cheia de sonhos, você não pode ver com clareza. Se o coração está cheio de desejos, você não pode sentir direito. Desejos, sonhos e esperanças – o futuro perturba você e, seja qual for, ele está no presente. Quando você está dividido, o desejo leva você para o futuro, e a vida é aqui e agora. A realidade é aqui e agora, e o desejo leva você para o futuro. Então você não está mais aqui. Você vê, mas ainda assim não vê; você ouve, mas ainda assim não ouve; você sente, mas o sentimento é vago, não pode ser profundo, não pode ser penetrante. É assim que a verdade se perde.

As pessoas continuam perguntando onde encontrar o divino, onde encontrar a verdade. Não é uma questão de encontrar o divino ou a verdade. O divino sempre esteve aqui, nunca foi a outro lugar, não pode ir. Ele está onde você está, mas você não está presente, sua mente está em outro lugar. Seus olhos estão cheios de sonhos, seu coração está cheio de desejos. Você avança para o futuro, e o futuro é uma ilusão. Ou você volta para o passado, e o passado já está morto.

O passado não existe mais e o futuro ainda vai acontecer. Entre esses dois está o momento presente. Este momento é muito breve, tão breve quanto possível, é atômico, não é possível dividi-lo – ele é indivisível. Este momento passa num piscar de olhos. Se o desejo entra em cena, você perdeu o momento; se existe um sonho, você está perdendo o momento. 

A religião como um todo não consiste em levar você a algum lugar, mas em trazê-lo de volta para o aqui e agora, trazê-lo de volta para o todo, de volta para onde você sempre esteve. Mas a cabeça já foi embora, para muito longe. Essa cabeça tem de ser trazida de volta. Portanto, não se deve procurar Deus em algum lugar – é por isso que você está sentindo falta dele, porque você o está procurando num lugar. Ele está aqui esperando você.

Uma vez aconteceu de Mulá Nasruddin chegar em casa totalmente bêbado, cambaleando. Ele bateu à porta da sua própria casa, bateu uma, duas vezes. Já era meia-noite e meia. A esposa veio abrir e Nasruddin lhe perguntou: “Você pode me dizer, minha senhora, onde mora o Mulá Nasruddin?” 

A esposa disse: “Isso já é demais! Você é o Mulá Nasruddin!”

O Mulá Nasruddin respondeu: “Tudo bem, eu sei disso, mas a senhora não respondeu à minha pergunta. Onde ele mora?”

A situação é essa. Embriagado de desejos, cambaleando, você bate à sua porta e pergunta onde é a sua casa. Você está na verdade perguntando quem você é. Esse é o seu lar, e você nunca o deixou, é impossível deixa-lo. Não é algo fora de você que vai sair e ir embora. É o seu interior, é o seu próprio ser. 

Perguntar onde está Deus é tolice, porque você não pode perder Deus. Ele é o seu interior, seu íntimo, sua essência. É a sua existência: você o respira, você vive nele e não pode ser de outra maneira. a única coisa que aconteceu é que você ficou tão embriagado que não consegue reconhecer o seu próprio rosto. E a menos que você volte a ficar sóbrio, vai continuar procurando e continuar não se reconhecendo.

Tao, Zen, Yoga, Sufismo, Hassidismo, estes são, todos eles, métodos para trazer você de volta, para torna-lo sóbrio de novo, para destruir a sua embriaguez. Por que você está tão bêbado? O que o leva a ficar tão bêbado? Por que os seus olhos estão tão sonolentos? Por que você não está alerta? Qual é a causa de tudo isso? A causa é que você deseja.

Tente entender a natureza do desejo. O desejo é alcóolico, o desejo é a maior droga que existe. A maconha não é nada, o LSD não é nada. O desejo é o maior de todos os LSD – o suprassumo das drogas.

Qual é a natureza do desejo? Quando você deseja, o que acontece? Quando você deseja, você cria uma ilusão na mente; quando você deseja, já se afastou do aqui e agora. Agora você não está mais aqui; você está ausente, porque a mente está criando um sonho. Essa ausência é a sua embriaguez.

O fato é esse, mas só depois que você o conhece, só então. Você sempre ouve Buda ou Jesus ou Zaratustra dizendo: "Pare de desejar e você será feliz". Mas você não consegue deixar de desejar, você não consegue entender como pode ser feliz abandonando o desejo, porque você só provou até hoje do desejo. Ele pode ser venenoso, mas tem sido seu único alimento. Você tem bebido de fontes envenenadas e, quando alguém diz: "Largue isso", você pensa: "Mas eu vou morrer de sede". Você não sabe que existem fontes límpidas, e não sabe que existem árvores com frutas raras. Você olha apenas através do seu desejo, então não pode ver os frutos, árvores e as mais cristalinas nascentes. O tempo todo, apenas o que os seus desejos permitem entra em você. Seus desejos são como um vigia na porta do seu ser. Eles só permitem aquilo que os atrai. Mude esse vigia, caso contrário você se deparará somente com o descontentamento.

Fique no presente. Neste exato momento, as portas do céu estão abertas. Não há necessidade nem mesmo de bater, porque você não está fora do céu, você está dentro. Basta ficar atento e olhar ao redor, sem ter olhos cheios de desejo, e você dará uma sonora gargalhada. Você vai rir da piada toda, do que vem acontecendo. É como um homem sonhando à noite.

Isso aconteceu uma vez: um homem estava muito perturbado – as noites eram simplesmente pesadelos contínuos. Sua noite toda era uma luta. Era tão doloroso que ele sempre estava com medo de ir dormir. Ele tinha sonhos muito ruins, violentos. A natureza dos sonhos era tal que , no momento de adormecer, ele começava a ver milhares de leões, dragões, tigres, crocodilos, milhares deles embaixo de sua pequena cama.  Assim, ele não podia dormir porque a qualquer momento eles poderiam atacar. Ele foi tratado pelos médicos, mas nada ajudou. Foi analisado por psicólogos, psiquiatras, mas ninguém conseguiu ter sucesso. Então um dia ele saiu de casa rindo.

Os vizinhos, então, perguntaram: “O que aconteceu? Você está rindo? Nós não vemos você rir há anos. O que aconteceu com os seus pesadelos?”

O homem disse: “Eu contei ao meu cunhado e ele me curou.”

Os vizinhos perguntaram: “O seu cunhado é um grande psicólogo, psicanalista, ou algo assim? Como ele conseguiu cura-lo?”

O homem disse: “Ele é carpinteiro. Ele simplesmente cortou as pernas da minha cama. Agora não há mais espaço embaixo dela, então eu dormi pela primeira vez!”

Você cria um espaço – e o desejo é a maneira de criar esse espaço. Quanto maior for o desejo, maior é o espaço criado. Porque, se o desejo deve ser satisfeito em um ano, então você tem espaço de um ano. Você pode se mover nele, mas vai encontrar muitos répteis, muitos dragões. Esse espaço que é criado pelo desejo, você chama de tempo. Se não há desejo, não há necessidade de tempo.

Só um único instante existe – nem mesmo dois instantes, porque o segundo instante é necessário apenas para o desejo, não é necessário para sua existência. A existência é completamente preenchida, totalmente, num só instante.

Lembre-se: se você acha que o tempo é algo exterior a você, está enganando a si mesmo. O tempo não é algo fora de você. 

Se o homem desaparecer da face da Terra haverá tempo? As árvores vão crescer, os rios fluirão, as nuvens ainda flutuarão no céu, mas, eu pergunto, haverá tempo?  Não haverá nenhum tempo. Haverá instantes, ou melhor, haverá um instante – e, quando um instante desaparece, outro passa a existir. Um desaparece, outro passa a existir. Mas não existe tempo como tal. Apenas o instante atômico existe.

As árvores não desejam nada, elas não desejam florescer; as flores virão naturalmente. Faz parte da natureza da árvore florescer. Mas a árvore não está sonhando, a árvore não está em movimento, ela não está pensando, não está desejando.

Se o homem não existir, não haverá tempo, apenas instantes eternos. Você cria o tempo com o desejo. Quanto maior o desejo, mais o tempo é necessário.

Mas por que o tempo é necessário? Você não pode estar aqui e agora sem tempo? Esse instante não é suficiente? Instante em que você está simplesmente sentado perto de mim, sem passado, sem futuro? Um instante que está entre o passado e o futuro, que é atômico, que é realmente como se fosse não existencial. Ele é tão pequeno que você não pode agarrá-lo; se fizer isso, já será passado. Se você pensar, estará no futuro. Você pode estar nele, mas não pode agarrá-lo. Quando você o agarra, ele já se foi; quando você pensa nele, ele não está presente.

Quando ele está presente, só uma coisa pode ser feita – você pode vivê-lo, isso é tudo. Ele é tão pequeno, estreito, que você só pode viver nele, mas ele é tão vital que dá vida a você.

Lembre-se, ele é exatamente como o átomo, tão pequeno que não pode ser visto. Ninguém viu o átomo ainda, nem mesmo os cientistas. Você só pode ver as consequências. Os cientistas foram capazes de explodi-lo – Hiroshima e Nagasaki foram as consequências. Vimos Hiroshima queimando, mais de cem mil pessoas atingidas – essa é a consequência. Mas ninguém viu o que aconteceu na explosão atômica. Ninguém viu o átomo com seus próprios olhos. Ainda não existem instrumentos que possam vê-lo.

O tempo é atômico, este instante também é atômico. Ninguém pode vê-lo, porque, quando você o vê, ele já passou. No tempo necessário para vê-lo, ele já passou – o rio fluiu, a seta se moveu. Ninguém jamais viu o tempo. Você continua usando a palavra “tempo”, mas, se alguém insistir numa definição, você vai ficar perdido.

Alguém pediu a Santo Agostinho: “Defina Deus. Que quer dizer quando usa a palavra Deus?”

Agostinho disse: “É exatamente como o tempo. Eu posso falar sobre ele, mas, se você insistir numa definição, vou ficar perdido.”

Você pode continuar perguntando às pessoas sobre o tempo. Elas vão olhar para o relógio e lhe dirão as horas. Mas se você realmente perguntar: “O que é o tempo?”, se você pedir uma definição, não vai adiantar consultar o relógio.

Você pode definir o tempo? Ninguém jamais o viu, não há como vê-lo. Quando você olhar, ele se foi; se você pensar, ele não está lá. Quando você não pensa, quando você não olha, quando você simplesmente é, ele está ali. Você o vive. E Santo Agostinho está certo: a divindade pode ser vivida, mas não pode ser vista. O tempo pode ser vivido, mas não pode ser visto. O tempo não é um problema filosófico, é existencial. A divindade também não é filosófica, é existencial. As pessoas a vivem, mas, se você insistir numa definição, elas vão permanecer em silêncio, não conseguem responder. E se você conseguir ficar neste momento, as portas para todos os mistérios estarão abertas. 

Então jogue fora todos os desejos, retire toda a poeira dos olhos, mergulhe e fique à vontade dentro de si, sem desejar coisa alguma, nem mesmo a divindade. Todo desejo é igual, seja por um carro luxuoso, um deus, ou uma mansão, não faz diferença. Desejo é desejo. Não deseje – apenas seja! Nem mesmo olhe – apenas seja! Não pense! Deixe que este momento aconteça, e fique nele, e de repente você tem tudo – porque a vida está presente. De repente tudo começa  a se derramar sobre você, e então este momento torna-se eterno e não há mais tempo. É sempre o agora. Ele nunca termina, nunca começa. Mas você está nele, não é um estranho.  Você entrou no todo, reconheceu quem você é.
Continua...