"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, julho 31, 2012

O "Eu" que está infinitamente acima de tudo!

Dárcio Dezolt


A Verdade sobre o Ser que somos – Deus – precisa ser defendida com vigor e com contemplações. Isto por haver uma “crença hipnótica” na forma de imagens falsas que negam a Verdade. E elas negam a Verdade também com supostas “imagens excelentes”, diante das quais muitos incautos se deixam levar! Não se deixe “mesmerizar” por supostos bons acontecimentos das “aparências”, pois eles são ILUSÓRIOS tanto quanto os supostos maus acontecimentos.

A Verdade está infinitamente acima dos “bons acontecimentos”, e nossa condição real e gloriosa nesta Verdade é algo além de qualquer imaginação da suposta mente humana! “Sois DEUSES”, confirmou Jesus; entretanto esse tipo de revelação pouco efeito tem quando lido ou ouvido pela mente humana! Ela não dispõe de recursos para discernir o Fato revelado! Para ela, é preferível ver “imagens fenomênicas” retratando coisas ou condições por ela consideradas desejáveis, agradáveis, ou algo parecido! MENTE HUMANA NÃO CAPTA A SUA GLÓRIOSA POSIÇÃO EM SER UM COM DEUS!

Use suas meditações para experienciar seu “Eu” que é DEUS, sem levar em conta um suposto “eu humano” em má situação ou em ótima situação! Aparências são “miragens”; não se alegre nem se entristeça em função de irrealidades! Seu “Eu” é o único “Eu” em existência: não nasce, não cresce, não envelhece, não adoece e não morre! Não tire sua atenção deste Eu-Luz para se alegrar ou  se entristecer com mutáveis “aparências” deste mundo: todas elas são a ILUSÃO, enquanto VOCÊ, permanentemente, é o “EU” QUE DEUS É!


segunda-feira, julho 30, 2012

Não há oásis no deserto

Dárcio Dezolt


Enquanto a Evidência da Perfeição Absoluta é única, sem dividir espaço para “manifestações outras”, para o ilusório conceito coletivo estamos vivenciando um mundo em três dimensões, imperfeito e mutável. Não pode haver duas “evidências” contrárias coexistindo no mesmo lugar! E, exatamente por isso, a palavra “ilusão” passou a ser empregada, ou seja, a Verdade é uma, mas, é vista em seu lugar o que não tem realidade. O mesmo se dá quanto à palavra “miragem”, que ilustra o processo ilusório quando um andarilho no deserto, alucinado pela sede e calor, imagina ver um “oásis” onde unicamente existe areia.

Estas palavras requerem atitudes radicais, da parte de quem estuda a Verdade. Afirmar, apenas,  que “tal situação” é ilusão, ou miragem, não nos basta! Precisamos conscientemente reverter a aceitação, “de oásis” para a de “areia”, ou ficaríamos somente trocando nomes sem resultado algum! Esta “reversão” é, na verdade, a “troca de referencial” efetuada conscientemente. Sempre devemos partir da Verdade, ou seja, a partir da “areia” e jamais de “oásis”. Muitos não entendem isto, e levam às meditações a crença de que, de alguma forma, há, mesmo, algum “oásis no deserto”; além disso, há muitos que, ao terminarem as meditações, acreditam “estar voltando ao deserto com oásis”. Por isso, o mais importante, antes de meditar, é saber a fundo em que consiste esta prática contemplativa, no que diz respeito ao “estudo do Absoluto”. 

Seja qual for a aceitação do andarilho, esteja ele aceitando ver “oásis” ou ver “areia”, a EVIDÊNCIA REAL seria unicamente a “areia se evidenciando”. Que diz a revelação absoluta? Seja qual for a aceitação da mente humana, esteja ela aceitando ver “bem” ou ver “mal”, seria unicamente a PERFEIÇÃO DIVINA SE EVIDENCIANDO!

Assim como “não há oásis no deserto”, também “não há mundo material na Realidade”. Estar “Desperto” é estar consciente de que, assim como o oásis é areia, o ser humano é Deus – desde que a “troca de referencial” seja entendida e posta em prática! Jamais areia se tornou oásis nem jamais oásis voltou a ser areia! Unicamente a “alucinação” sumiu! Desaparecendo a “mente que vê matéria”, restará o que sempre É! DEUS SENDO TUDO!


sexta-feira, julho 27, 2012

Exponha-se ao Sol da Verdade!

 Dárcio Dezolt


A pessoa que deseja se submeter ao bronzeamento não ficará apenas lendo de que forma ele acontece! Isto porque este saber lhe serviria apenas como instrução, uma vez que o bronzeamento somente se dará quando ela se expuser à fonte solar ou artificial, de modo a se entregar a ela para que o efeito desejado possa aparecer. Ficar lendo páginas e mais páginas sobre bronzeamento ou "técnicas de bronzeamento" sem se expor à fonte solar, equivale a um buscador desejoso de conhecer a Verdade ficar meramente lendo obras e mais obras sobre “iluminação espiritual” sem se expor, prioritariamente, à ação da Realidade divina.

Por mais que o intelecto se sature de princípios espirituais, sem haver a “exposição a Deus”, a pessoa apenas acumulará instruções e teorias sobre a Verdade. Jesus disse: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus!” Não disse que teorias ou tratados sobre espiritualidade fossem buscados antes de tudo! As instruções são valiosas unicamente quando seguidas! São mapas do tesouro e não o tesouro! Ache tempo para ficar “exposto ao Sol da Verdade”, assim como os interessados em se bronzear acham tempo para se exporem ao Sol! A ação da Verdade se dá naturalmente, assim como acontece com a radiação solar; portanto, sua parte é “achar tempo de exposição”, quando, então, “o Pai em VOCÊ fará as obras”.

Aquele que ficar exposto ao Sol permanentemente, dentro das técnicas ideais de bronzeamento, estará sempre bronzeado! Da mesma forma, aquele que ficar habitualmente exposto ao “Sol da Verdade”, estará sempre consciente de que já é iluminado!


quinta-feira, julho 26, 2012

Como Deus nos supre

  Dárcio Dezolt


Quando Cristo disse para “trabalharmos pela comida que não perece”, estava sinalizando o caminho à nossa herança divina. Que é o “Adão expulso do paraíso", tendo de conseguir tudo com "o suor do rosto?” É o ser humano desconhecedor de sua natureza divina! Crendo ser uma identidade material, luta ele o tempo todo para garantir a própria subsistência! Que é “trabalhar pela comida que não perece?” Cristo disse também: “Eu sou o Pão da Vida!” Quando passarmos a nos dedicar à Autodescoberta, ou seja, à percepção interna de que o Cristo é nossa real identidade, encontraremos nosso “elo” com o Pai, que, na verdade, é o nosso “elo” com o Infinito, com a nossa “herança celestial”, com o nosso “suprimento perfeito”. Isto é “trabalhar pela comida que não perece!”.

Humanamente falando, podemos classificar as nossas ações em duas categorias: a) ações geradas pela atividade da mente humana; b) ações que refletem a atividade do Cristo na "aparência humana". As do primeiro tipo podem ser bem ou mal-sucedidas; as do segundo tipo, por serem oriundas de uma percepção divina, sempre são bem-sucedidas, podendo, às vezes, não serem bem compreendidas a princípio, mas, com o decorrer dos fatos, os resultados acabam falando por si mesmos. Assim, a “vida pela Graça” não é vivermos de “braços cruzados”, acreditando que um Deus distante nos suprirá! É uma vida ativa, mas, uma atividade decorrente de uma compreensão interior de nossa identidade divina! Una com Deus! As pessoas, muitas vezes, preferem ensinamentos superficiais, que nada exigem em termos de práticas meditativas ou contemplativas! E, por fugirem da interiorização, acabam sendo iludidas pelos falsos profetas!

O Reino de Deus está “dentro” de cada um! Em nosso interior está o “Pão da Vida”, o Cristo de nosso próprio ser! Se nos dedicarmos à percepção de Sua Presença como o Ser absoluto que somos, perceberemos, também, o fato eterno de nossa inseparabilidade com o Pai! Assim, com a UNIDADE discernida internamente, o fluxo de Substância divina também será discernido! Seremos inspirados a agir corretamente, ou seremos automaticamente colocados em atividade, pelas exigências espontâneas do dia-a-dia. E todas as nossas necessidades aparecerão supridas também visivelmente, aqui “na terra” como “no céu”, ou seja, teremos a prova visível da Presença do Cristo em nós!


terça-feira, julho 24, 2012

Ilusão é nada! Só existe a Realidade!

Ranjit Maharaj


Pergunta: Quando considero minha verdadeira natureza e fico no "EU SOU", invade-me um sentimento de amor sem causa. Esse sentimento é correto ou ainda é uma ilusão?

Maharaj: É o êxtase do Ser. Você sente a presença do "EU SOU". Você se esquece de tudo, dos conceitos e da ilusão. É um estado não-condicional. Essa felicidade aparece quando você se esquece do objeto, mas na felicidade ainda há um pequeno toque do eu. Afinal, é ainda um conceito. Quando você se cansa do mundo externo, você quer ficar só, para estar consigo mesmo. É a vivência de um estado mais elevado, mas ainda faz parte da mente. O Ser não sente prazer nem desprazer, sem o eu, sem o "EU SOU". O completo esquecimento da ilusão significa que nada é, nada existe. Ela ainda está aí, mas para você ela não tem realidade. É a isso que se chama de Constatação (Realização), ou Auto-Conhecimento. É a constatação do Ser sem o eu.

Se alguém o chama, você diz "Estou aqui", mas antes de dizer "Estou aqui", você estava. A ilusão não pode colar mais alguma coisa na Realidade. Não pode colar algo extraordinário na Realidade, porque a Realidade está na própria base de tudo que existe. Tudo que existe, tudo que você vê, os objetos da sua percepção, tudo se deve à Realidade. A ignorância e o conhecimento não existem. Não existem. Então, como é que você poderá expressá-los?

Quando você objetifica algo significa que está sentindo alguma coisa. Tão logo sinta alguma coisa, você se afasta de Si, do Ser. Você sente amor, que é melhor que estar na ignorância, mas, afinal de contas, isso ainda é um estado, e um estado é sempre condicionado. O não-condicionado não tem estados. É a experiência da inexistência da ilusão. Tão logo você sinta a mínima existência, isso é ignorância. Isso é muito sutil. Ignorância e conhecimento ambos são sutis. É difícil entender, mas, se você realmente averiguar, chegará a esse estado. Isso é, e sempre foi, mas você não sabe; essa é a dificuldade. Não há um único ponto em que a Realidade não esteja. Você vivencia a existência através dos objetos, mas tudo isso não é nada. É onipresente, mas você não pode vê-la. Por quê? Porque você é a própria Realidade. Então como pode você se ver? Para ver seu rosto, você precisa de um espelho.

A verdadeira felicidade está dentro de você e não fora. No sono profundo, você é feliz. Esquece-se do mundo. Portanto, a felicidade jaz no esquecimento do mundo. Deixe o mundo ser como é; não o destrua, mas saiba que ele não é. Faça tudo quanto tenha que fazer, mas fique desapegado com a compreensão de que seja lá o que for que você sinta, perceba e alcance é ilusão; não existe, e a sua mente precisa aceitar isso.

Os santos dizem: "Já que tudo é nada, como poderá você ser afetado por este nada, como o nada poderá atingi-lo?" Então, o que fazer? A mente não passa de conhecimento. As pessoas diferenciam a mente do conhecimento, mas isso não é correto. Não há nada no mundo. É ilusão. Só a Realidade existe, e, quando você entender que a ilusão é realmente ilusão, como poderá ela afetá-lo? Como poderá você sequer sentir que ela o afeta? A pétala de lótus origina-se da água; fica em cima d'água, mas não é tocada pela água. Se você verte água sobre ela, a água escorre; a flor não se molha.

Quando você compreende que nada permanece, já não se trata mais do amor. A felicidade do Ser que você sente é ainda o prazer do conhecimento. Primeiro você precisa se conscientizar e depois se tornar a própria Realidade, porque você é Ela. Portanto, não faz mal algum viver na ilusão, no mundo, mas ele não existe, você não é atingido. O lótus permanece na água, mas nem liga para ela.

É assim que você deve vivenciar sua verdadeira natureza. Digo "vivenciar", mas aí essa palavra já não existe, porque ela está além do espaço, além do zero. E as palavras não podem entrar aí; param aí. No Bhagavad Gita, o Senhor Krishna diz: "Para onde as palavras retornam está o meu estado". Ainda assim, ele era rei e reinava, mas sabia que nada existe. Você não sabe que nada pode atingi-lo. Quando sentir que nada o atinge, você estará fora da ilusão. Esse é o ponto culminante da filosofia e você pode chegar lá. Lá, lá não há Mestre nem discípulo, pois ambos são um só. Não existe dualidade. Existe somente a Unidade e nada fica fora dela. Portanto, fique na ilusão, mas por compreensão.

Dois amigos queriam pregar uma peça num outro amigo. Um começou a insultar o outro, mas o outro ria do insulto. O terceiro ficou perturbado e disse: "Como podes rir quando ele está te insultando?". Ele ria porque tinha a chave do jogo, mas o terceiro rapaz não entendia. Do mesmo modo, uma pessoa Realizada, embora viva no mundo, compreende que tudo isto é nada e o que quer que esteja acontecendo, nada está acontecendo. Portanto, ela não é atingida. As pessoas andam sempre com medo do que acontece ou vai acontecer. Temem o que as pessoas vão dizer. Pensam: "O que é que vou fazer? O que vai acontecer comigo?" Lutam ou desfrutam. Todos esses cativeiros se devem à mente.

Aquele que está fora do círculo entende que tudo é nada. Não existe; é apenas ignorância. Diz-se que só quem mergulha fundo no oceano é que pode encontrar a pérola. Quem fica na superfície é levado pela corrente do prazer e do sofrimento. Você deve mergulhar fundo até as profundezas do ilimitado, porque é lá que você está. Nunca pare no limitado. O ouro não liga para as formas que ele assume nos ornamentos; pode ser a forma de um cachorro ou de um deus, ele não se preocupa com a forma. Da mesma maneira, seja indiferente com as coisas, porque elas não existem.

Nada pode atingi-lo. Você é intocado. A mente deve chegar ao ponto de uma compreensão completa da ilusão. Ali jaz o seu estado. Nada permanece para quem compreendeu. Não há mais perda ou ganho. Não pergunte se você pode atingir a Realidade, porque você é a Realidade, então por que dizer: "Será que eu posso?" Primeiro saia do círculo. Largue tudo, uma coisa após outra, e entre fundo em seu Ser. Depois volte e esteja em tudo.

O que você descreveu é um bom estado, não há dúvidas, mas vá um pouco mais adiante. Quando a mente aceita que tudo é ilusão, somente ilusão, então você está no seu Ser. O corpo e a mente são ilusões; você devia ficar contente de saber isso. Desvencilhe-se da identificação com eles. A única coisa que o Mestre faz é dar o seu verdadeiro valor ao Poder que está em você, ao qual você nem presta atenção. Ele não faz nada mais. Era uma pedra, e o Mestre revela a própria natureza dela, que é diamante. Ele faz de você a pedra mais preciosa.

Eu sou onipresente, todo-poderoso, sou o Criador de tudo que existe. Quando você está na base de tudo, você está em tudo. É por isso que nem um assassino pode ser considerado mal. O que quer que esteja acontecendo, é "ordem minha". Seja o senhor, não o escravo! Você é o senhor.

Pergunta: Eu gostaria de saber por que algumas pessoas Realizadas reencarnam a fim de ajudar os outros a acordar?

Maharaj: Ninguém vem, ninguém vai. Quem lhe contou isso? Você leu livros e repete. Diz-se que o maior homem é aquele que morre desconhecido. Rama e Krishna foram heróis secundários. O homem realizado vive em silêncio e morre em silêncio. Depois, o pensamento dele funciona numa outra pessoa; mas que eles voltam é bobagem. Veja "A Doutrina do Renascimento".

Ninguém vem, ninguém vai. É tudo um sonho. Num sonho você pode se tornar um grande Mestre, mas, quando acorda, você volta ao seu estado normal. Quem foi lá e quem voltou? Não aconteceu nada. O conceito de um grande Mestre passou por você e você virou aquele "grande Mestre", mas, quando acorda, você percebe: "Nossa, tudo isso é absurdo! Como posso eu ser um grande Mestre? Não sei nada!" Mesmo assim, no sonho você dava palestras e falava com facilidade sobre todas essas coisas, mas, quando chega o despertar, todo conhecimento se esvai. Era um sonho.

De onde ele veio e aonde desapareceu? Quando nada existe, tudo são apenas crenças e conceitos da mente. O suposto sábio que diz "Eu sou a reencarnação de Deus" não o conhece, não conhece a Realidade. Ao contrário, é escravo do seu ego, da ilusão. Quando o próprio conhecimento não tem entidade, não vêm à baila todas essas coisas.

Aquele que compreende, livra-se de tudo. Uma pessoa assim parece comum, mas seu coração é bem diferente. Se ficar do lado de fora, como você poderá entender? Para se tornar o dono da casa, você precisar entrar nela. Da mesma maneira, você precisa penetrar o seu próprio Ser para tornar-se o dono. Mas aí o "eu" não permanece "eu". Não mais se trata de Mestre ou discípulo. O pensamento em um Mestre pode inspirar quem quer que assuma um corpo porque ele e o Sábio são unos. Penetre o coração do Realizado e você não permanecerá como "Você", porque só ele é. É por isso que se diz que aqueles que ensinam são reencarnações de Deus. O Mestre passa o ensinamento a todos, mas não o valoriza, porque sabe que o conhecimento é a maior ignorância. Portanto não se deixe tocar por nada.

Pergunta: Se tudo é ilusão, você mesmo é uma ilusão?

Maharaj: Ah, sim! Eu sou a maior ilusão! Tudo que digo de todo o coração e com tanta franqueza é tudo falso! Mas o falso "eu" pode fazer você alcançar esse ponto. O endereço da pessoa não é o objetivo. Quando você chega a casa, é graças ao endereço que lhe deram, o endereço é verdadeiro somente até o momento em que você entra na casa. Assim que você entra, desaparece o endereço. As palavras não passam de indicações; não têm nenhuma realidade em si mesmas. Se o "eu" permanece, eu também sou ilusão. Não permaneça como "eu". Essa é a mais alta compreensão da filosofia. O santo Tukaram dizia: "Vi a minha própria morte, e o que vi lá, a alegria que se revelou, isso eu conheço". Antes de tudo, você precisa morrer. "Você" significa ilusão.

Por isso, o que digo é falso, todavia verdadeiro, porque eu falo daquilo. O endereço é falso, mas, quando você atinge o objetivo, é a Realidade. Da mesma maneira, todas as escrituras e os livros filosóficos destinam-se apenas a indicar esse ponto, e, quando você o atinge, eles se tornam inexistentes, vazios. As palavras são falsas; só o sentido que elas comunicam é que é verdadeiro. Portanto, tudo é ilusão, mas, para compreender a ilusão, é preciso ilusão. Por exemplo, para tirar um espinho do dedo, você utiliza outro espinho; depois joga fora os dois. Mas, se você guardar o segundo espinho que utilizou para remover o primeiro, certamente você estará de novo preso. Para remover a ignorância, é preciso conhecimento, mas por fim ambos devem dissolver-se na Realidade. O seu Ser é sem ignorância nem conhecimento.

Portanto, o Mestre e o buscador são ilusões, porque ambos são um só. Se você guardar o segundo espinho, que significa conhecimento, nem que seja um espinho de ouro, você estará preso (pelo segundo espinho). O ego é a única ilusão, e ego é conhecimento. Conta-se que para apanhar um ladrão é preciso tornar-se um ladrão. Então você poderá dizer-lhe: "Cuidado, eu estou aqui e sei que você é ladrão; portanto, não poderá me roubar". Mas você não pode apanhar o ladrão porque ele tem quatros olhos e você só tem dois. Num relance, o ladrão percebe os objetos de valor e, se você não estiver atento, ele lhos rouba. A ilusão é como o ladrão, de modo que você precisa ser mais forte do que o ladrão. A sua mente precisa aceitar que tudo é ilusão, somente ilusão. Então você será o "maior dos maiorais".

O conhecimento é uma grande coisa, mas deve ser apenas um remédio. Quando a febre baixa graças ao remédio que você tomou, você deve parar de tomá-lo. Não prolongue o tratamento, senão você criará mais problemas. O conhecimento só é necessário para remover o mal da ignorância. O médico sempre prescreve uma dosagem limitada! Antes de tudo, compreenda que o "eu" é uma ilusão e o que "eu" diz é ilusão. O Mestre e o que ele diz também são ilusão, porque na Realidade, "eu" e "Ele" não existem mais. Vá fundo para dentro de si, tão fundo até você desaparecer. Caso contrário, veja o que acontece. Entra um bode em sua casa, e, para fazê-lo sair, você abre a porta. O bode sai, mas entra um camelo. O camelo é apenas como a ilusão. Portanto, fique fora da ilusão.


sábado, julho 21, 2012

O Ser que é o ator, o diretor e o cenário

Ramesh Balsekar


Embora pareça surpreendente, Maharaj era um ator soberbo. Seus traços tinham muita mobilidade e ele tinha olhos grandes e expressivos. Quando narrava um incidente ou discutia algum assunto seus traços respondiam espontaneamente a suas palavras e ações. Sua fala era muito articulada e quando falava ele fazia uso livre de gestos. Portanto, uma coisa era ouvir as fitas com as gravações de seus discursos e outra bem diferente escutar sua voz vibrante acompanhada das gesticulações apropriadas. Ele era um tremendo ator, uma estrela.

Certa manhã, dentre os ouvintes havia um ator europeu muito conhecido. Maharaj estava explicando como a imagem que temos de nós mesmos não é muito fiel. Ela fica mudando de tempos em tempos de acordo com as mudanças de circunstâncias. Ele percorreu por toda a gama de nosso tempo de vida, descrevendo a imagem que temos de nós mesmo quando crianças, não desejando nada além de mamar no peito; depois como um adolescente cheio de saúde e com ambições de conquistar o mundo, depois um homem apaixonado, seguindo para um provedor do sustento da família, com responsabilidades familiares e passando finalmente para um homem doente, que mal consegue abrir a boca incapaz até mesmo de controlar as funções de seu corpo. Qual é o verdadeiro você? Qual dessas diferentes imagens? Ele perguntava.

A narração de Maharaj era viva com ações e efeitos sonoros apropriados aos vários estágios da vida que ele descrevia. Era um puro drama! Escutávamo-nos com uma perplexa admiração e o ator profissional ficou espantado. “Nunca antes vi uma performance tão brilhante”, ele disse, embora ele não entendesse nenhuma palavra da língua que Maharaj falava de maneira tão efetiva. Ele ficou simplesmente encantado.    

Enquanto ele estava maravilhado, Maharaj, com um brilho malicioso em seus olhos disse-lhe: “Sou um bom ator, não sou?” E acrescentou: "Contudo, você entende realmente onde estou querendo chegar? Sei que você apreciou essa pequena performance minha. Mas o que você viu agora não é nem mesmo uma parte infinitesimal do que eu sou capaz de fazer. O universo inteiro é meu palco. Eu não apenas atuo, mas construo o palco e o equipamento, escrevo o roteiro e dirijo os atores. Sim, eu sou o ator atuando os papeis das milhões de pessoas, e tem mais, este show nunca termina! O roteiro está sendo escrito continuamente, novos papeis estão sendo criados, novos cenários estão sendo erguidos para muitas situações diferentes. Não sou um ator/diretor/produtor maravilhoso?"

A verdade, entretanto - ele adicionou - é que cada um de vocês pode dizer o mesmo sobre si mesmo. Mas é irônico, de fato, que embora você possa realmente sentir com uma profunda convicção que é assim, o show acaba para você! Você pode perceber que é apenas você que está atuando o papel de cada personagem no mundo? Ou você irá confinar-se ao pequeno papel que você designou para si mesmo e viverá e morrerá nesse insignificante papel?


quinta-feira, julho 19, 2012

O despertar da Percepção Consciencial

- Núcleo -


"Senhor, 
Do irreal conduz-nos ao Real, 
das trevas conduz-nos à Luz 
e da morte, à imortalidade.

Paz para o nosso corpo, 
paz para a nossa mente e 
paz para o nosso espírito."


Este texto se propõe a expor a teoria que fundamenta o desenvolvimento da "percepção consciencial" que conduz a um mergulho em nosso Ser Real, produzindo o chamado "despertar consciencial". Nela estão expostos conceitos espirituais sobre a divindade amplamente difundidos e aceitos tanto no Ocidente quanto no Oriente com as reflexões que eles nos suscitam.


O DESPERTAR CONSCIENCIAL

As Sagradas Escrituras definem Deus como o Ser onipotente e onipresente. Onipresente significa que está presente em tudo, inclusive em nós. Mas, quem tem percebido a Presença Divina em si mesmo? E por que a maioria das pessoas não percebe essa Presença?

Afirmar que Deus é onipresente é algo aceitável, mas, vivenciar essa realidade é uma experiência que transforma plenamente nossa visão da vida e do que somos!

Sendo Deus onipresente, qual nossa identidade? Quem ou o quê somos?

Os livros espirituais da Índia definem Deus como sendo: Sat (Ser/Verdade), Chit (Consciência/Alegria) e Ananda (Bem-Aventurança).

Estes livros revelam também que Deus é onipresente e que o homem é a divindade que assumiu um corpo para desempenhar um papel num cenário criado pela própria divindade. E ao fazê-lo se esqueceu de Sua real identidade.

Esse esquecimento acontece porque o homem se torna vítima da ilusão criada pelos sentidos da mente do personagem que assumiu e que o faz acreditar ser esta realidade apreendida, pela mente, a única existente. Essa percepção mental da realidade faz com que a representação divina se torne realística e por vezes dramática. Contudo, se nossa real identidade é a divindade, podemos readquirir a consciência do que somos. Essa "recordação" se torna possível com o conhecimento da verdade sobre nossa real identidade. É preciso uma percepção da realidade pela consciência do Ser e não pela mente do personagem.

O processo do despertar se inicia com a distinção entre mente e consciência. A mente é apenas um instrumento do Ser real, enquanto a consciência integra e compõe sua natureza divina.

Portanto, há duas formas de percepção da realidade: Uma é realizada pela mente do personagem: a percepção mental. A outra é feita pela consciência do Ser. Por esta razão foi denominada "percepção consciencial".

A percepção mental da realidade é a condição padrão do ser humano, enquanto que a percepção consciencial é fruto de um despertar sobre nossa identidade real, sobre a realidade da essência e natureza divinas do ser humano.

A mente está ligada à matéria, aos cinco sentidos de percepção, pelos quais são captadas informações do mundo exterior. O processamento das informações resulta na concepção mental que fazemos da realidade. Nossa visão de mundo é assim a interpretação de dados captados pelos cinco sentidos e das inferências realizadas no âmbito mental.

Vivemos o universo do personagem que criamos e o identificamos como sendo nós mesmos! Essa identificação com o personagem que criamos é uma deturpada concepção sobre nossa real identidade, o maior equívoco e fator limitador da maioria dos seres humanos.

Para podemos vivenciar a natureza divina do Ser, que é nossa essência, precisamos nos abstrair da percepção mental da realidade. Isso ocorre no instante em que nos dissociamos do personagem que estamos vivendo e recriando cotidianamente. O foco de nossa consciência em seu estado normal está centrado na percepção da realidade pela mente do personagem. Isso nos causa um sentido de identificação como sendo a mente e o corpo nosso "eu" ou identidade real.

Contudo, mente e corpo são ambos instrumentos do que realmente somos. Quando nos interiorizamos, nossa consciência nos revela um nível de percepção supra-mental pelo qual percebemos quem somos e quem estamos sendo. Em níveis profundos de percepção consciencial podemos sentir que somos o Ser real, eterno, a consciência, que observa o que estamos sendo, um personagem, evanescente, a mente.

A mente se dirige ao exterior, aparente. Julga e reage ao que interpreta como sendo real. A inquietação é sua característica. A consciência apreende o interior, o real. Apenas observa e permanece equânime. A serenidade é sua natureza.

Estes são passos essenciais para o despertar da percepção consciencial. Eles fazem a consciência dissociar-se ou desfocalizar-se da mente, causando uma percepção distinta entre aquilo que está sendo percebido pela mente e a percepção da consciência, que observa a mente.

O despertar da consciência, que tem natureza espiritual, nos faculta a transcender a realidade aparente, vislumbrada pela mente, nos proporcionando uma percepção consciencial da realidade e o acesso à dimensões espirituais, não físicas, através de portais existentes entre elas e nos capacita vivenciá-las concretamente, tanto quanto vivenciamos a dimensão física.

Enfim, um ser desperto age usando o corpo e a mente, mas mantém a consciência de que está desempenhando um papel no teatro cósmico divino. É sempre um observador de seu próprio personagem em ação. Percebe o corpo, o fluxo dos pensamentos na mente, mas não se identifica com eles. Assim pode eliminar maus pensamentos da mente e más emoções. Desta forma torna-se senhor de si mesmo e passa a agir com consciência do que faz, colocando-se em sintonia com sua natureza divina. Sua vida passa então a refletir plenamente e em todos os sentidos esse nível de percepção da realidade.

Jesus disse: "Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse eu vo-lo teria dito." - João 14,2.

Essas são as bases para um efetivo e real despertar consciencial.



segunda-feira, julho 16, 2012

A natureza universal da Verdade e da ilusão


 JOEL S. GOLDSMITH


As escrituras hebraicas profetizavam que o Cristo seria crucificado. Como alguém poderia predizer a crucifixão de um homem dois mil anos antes daquilo acontecer? Não se conhece uma boa razão que explique tal evento; porém, esta profecia é encontrada nas escrituras hebraicas. Qual é o sentido dela? O primeiro, e o mais importante ponto a ser compreendido, é que esta profecia não se refere a um homem em particular, mas sim à crucifixão do Cristo, à crucifixão da Verdade.

Os hebreus sabiam, de amarga experiência, que a Verdade seria sempre crucificada quando aparecesse ao pensamento mortal. A Verdade nunca foi nem nunca será aceita pelo pensamento mortal. Onde quer que apareça, fará surgir a rejeição eclesiástica: “Isto não é ortodoxo; não está de acordo com o nosso ensinamento, não pode ser verdadeiro”. E a própria análise eclesiástica irá bradar: “Crucifique-o”; desse modo, seguramente poderia ser profetizado, com cem anos ou com dois mil anos de antecedência, que o Cristo seria crucificado, pois, onde quer que toque o pensamento mortal, o Cristo é vítima de crucificação.

O Cristo é a manifestação de Deus; portanto, o Cristo não é um homem. Para os seguidores do Hinduísmo, Krishna ocupa uma posição similar à de Jesus no mundo cristão. Há, inclusive, os que consideram Krishna apenas como homem, embora tivesse existido um homem chamado Krishna que deu ao mundo um ensinamento espiritual da mesma forma com que um homem chamado Jesus deu ao mundo o ensinamento do Cristo. O ensinamento de Krishna foi apresentado ao muito muitos mil anos antes do advento de Jesus, e, no entanto, somente Jesus veio sendo identificado como o Cristo, enquanto Krishna foi considerado como um ser físico. Tanto Krishna quanto Cristo tem o mesmo significado: a presença de Deus feito manifesto – o Verbo feito carne.

O pensamento mortal irá sempre crucificar a Verdade; assim, quando surge um indivíduo com esta visão da Verdade, com esta visão do Cristo, e que com Ele se identifica, pode-se saber que o caminho de sua crucifixão estará sendo preparado. Provavelmente ninguém captou a visão da Unidade tão claramente como Jesus; e, como ele se identificava com ela, a igreja da época achou que, com sua crucificação, se livraria da confusa Verdade que ele ensinava.

Eu não considero a crucificação ou as perseguições aos santos e místicos como acontecimentos necessários ao mundo. O ensinamento comumente aceito hoje, pelas igrejas ortodoxas, é o de que Jesus teve de morrer para que fôssemos salvos; entretanto, isso não passa de adaptação do antigo ensinamento dos hebreus, que considerava o sacrifício de animais inocentes como algo exigido por Deus. Tal ensinamento faz de Deus um tirano. Dessa forma, não sinto hoje que a crucificação ou perseguição façam parte de um plano de salvação do mundo; antes, pelo contrário, penso que aquilo ocorreu para as pessoas que equivocadamente se identificaram como um salvador pessoal, mais do que com o fato de ser, o ensinamento da Verdade, uma manifestação de que Deus, e de ser, cada mestre, somente uma transparência pela qual o como a qual ela estaria aparecendo.

Jesus veio ensinando: “Eu e o Pai somos um”… "Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma”….”o Pai, que está em mim, é quem faz as obras”…. "Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus”. Os Mestres que personalizarem a Verdade, sentindo-se os responsáveis pela mensagem, sempre sofrerão o peso das perseguições do mundo. O erro deles está na própria colocação como sendo profetas com uma mensagem pessoal. Jesus foi bem claro nesse ponto, ao declarar: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou”. Porém, apesar desta declaração tão clara do próprio Mestre, muitos não a interpretaram corretamente.


A UNIVERSALIDADE DA VERDADE

A Verdade é. A Verdade de toda mensagem sempre existiu e continuará existindo até a eternidade. Quando os Mestres captam um vislumbre espiritual dela, o que podem fazer é se tornarem uma transparência para que esta Verdade apareça no mundo. De fato, o mundo irá sempre querer se livrar dessa Verdade – querer crucificá-la – mas enquanto os mestres não identificarem a Verdade de suas mensagens como algo pessoal, enquanto não se colocarem como salvadores pessoais, não serão crucificados. Se a mensagem for verdadeira, o pensamento mortal desejará destruí-la, mas não destruirá a mensagem; tentará destruir a pessoa que tenha cometido o erro de acreditar que a Verdade tenha, de algum modo, alguma relação humanamente pessoal com ele.

Sejamos gratos por isso: a Verdade é santa e sagrada; a Verdade é onipresente e em todos os período da história do mundo surgirão aqueles que repetirão esta mensagem novamente. Ela nunca tem sua origem numa pessoa. A mensagem que Jesus ensinou é mais antiga que o próprio tempo... Nem é nova nem é original, sendo uma repetição daquilo que tem vindo através das épocas. De tempos em tempos ela chega a nós novamente. Jesus apresentou esta mesma Verdade universal numa linguagem compreensível e aceitável para o mundo ocidental, e é este o valor de seu ensinamento para nós.

Um indivíduo iluminado consegue transmitir a Verdade aos seus discípulos ou alunos imediatos, e por algum tempo ela começa a crescer e ser divulgada; mas, gradativamente, ela começa a perder sua força e significado original. Torna-se uma forma, um credo ou um sistema, pois alguém a organiza e isto selará o seu fim. A Verdade não pode sobreviver numa organização, pois, em todas elas existe uma cabeça, e no momento em que houver uma cabeça, deverá haver alguém à mão direita e alguém à mão esquerda. Daí começará a competição e o surgimento da confusão – dissensão e contenda. O indivíduo que captou a visão espiritual, aquele que redescobriu a Verdade universal, dá a ela a mais clara linguagem disponível no momento. Mas a interpretação daqueles que vêm depois é baseada nas suas diversas bagagens educacionais e regionais, com cada um entendendo a Verdade de uma forma inteiramente diferente. O resultado disso será que, após duas ou três gerações, ninguém mais concordará com o que era ou é o ensinamento.


A ILUMINAÇÃO DE GAUTAMA

Para alguns de vocês, a estória de Buda é uma antiga e bem conhecida estória. Mas, mesmo sendo já conhecida, ela parecerá sempre nova devido à sua beleza. Gautama era filho de um rei grandioso e rico e, conforme os registros sagrados, nasceu de uma virgem. Na noite de seu nascimento, uma estrela apareceu no firmamento, acompanhada de misteriosos sinais no céu.

O pai, reconhecendo o caráter e a natureza espiritual de seu filho, bem como a responsabilidade que logo cairia sobre seus ombros, cuidou para que Gautama fosse preparado para a posição que viria a ocupar. Assim, quando o jovem cresceu, possuía bastante instrução, sabedoria, e um corpo físico perfeitamente desenvolvido. Durante todo esse tempo, ele havia sido cuidadosamente resguardado do mundo exterior. Nunca tinha ido além do domínio extensivo do estado do pai, e, portanto, nada sabia de pecado, doença, pobreza e morte.

Já crescido, foi preciso que ele saísse desse reino de proteção para assumir as funções de príncipe. Uma parada foi planejada, porém o mestre de cerimônias não seguiu a rigor as instruções. A marcha havia sido planejada de forma que o jovem Gautama não pudesse ver nada que lhe chamasse a atenção para as coisas existentes no mundo. Mas, infelizmente, nesta viagem ele viu um homem sentado numa sarjeta pedindo esmolas. Quando quis saber o significado daquilo, explicaram a ele: “É porque ele é um mendigo, um homem pobre; esta é seu único jeito de conseguir alimento”. Gautama ficou atônito com o fato de existir uma anomalia como um homem pobre no rico reino de seu pai. Sua preocupação aumentou quando soube da existência de muito mais pobres que nada tinham para comer ou vestir. Em seu coração o jovem pensava em quão terrível era aquilo! A marcha prosseguiu e a cena seguinte mostrava um homem doente. Novamente Gautama perguntou sobre o que estava vendo, e explicaram a ele que o homem estava sofrendo por causa de uma doença. O jovem Gautama, olhando para o seu próprio corpo, respondeu: “Como pode ser isso? No corpo há somente força e vitalidade!” Mas lhe disseram que a maioria das pessoas sofria de um tipo qualquer de doença, e ele novamente pensou: “Que coisa terrível!”

O que foi testemunhado por Gautama, em seguida, foi a morte. Quando foi dito a ele que as pessoas todas morrem, que existia essa coisa chamada morte, ele ficou profundamente abalado. Para ele, aquilo parecia ser inacreditável.

À noite, voltando ao palácio, ele ainda sentido e confuso, ponderava profundamente sobre tudo que havia observado. E então, nasceu em sua consciência a ideia de que a pobreza, a doença e a morte não eram coisas certas, que deveria existir algum princípio capaz de eliminá-las e que caberia a ele procurar aquele princípio, aquela lei.

Gautama tinha uma esposa e uma criança; mas, no meio da noite, beijou sua família com um adeus, deixando-a e abandonando sua riqueza e seu palácio, para vestir uma roupa de mendigo e dar início à sua jornada no caminho religioso com o objetivo de encontrar a lei ou princípio que eliminasse o pecado, a doença, a morte, as carências e limitações da terra. Ele não saiu para ser um curador; ele não saiu para curar esta ou aquela pessoa; seu objetivo único era encontrar um PRINCÍPIO que pusesse fim ao pecado, à doença, à morte e às limitações terrenas. Persistiu nesta busca durante vinte e um anos de dificuldades e tentativas. Passou por todo os tipos de formas religiosas; estudou com muitos mestres e instrutores religiosos, mas nenhum deles pôde levá-lo ao princípio que buscava.

Finalmente um dia, após ter ele abandonado todos os mestres e ensinamentos religiosos, e decidido a buscar a Verdade por si, ele chegou à árvore Bodhi, a árvore do conhecimento, a árvore da sabedoria, e ali ele sentou-se e começou a meditar. Sua meditação durou um longo, longo tempo, mas, ao término daquele tempo, ele havia alcançado a iluminação total, e com ela veio-lhe esta grande sabedoria: Não existe pecado, doença, morte nem limitação – aquilo tudo é ilusão.

Este é o princípio que nos chegou muito antes de Buda, e que veio a ser por ele restabelecido: o princípio de que não somos curadores de pecado, doença ou morte, pois, inexistem o pecado, a doença e a morte: tudo que aparece como um mundo objetivo é um conceito de mundo, uma ilusão. Toda experiência humana conhecida através do testemunho dos sentidos é um mito, uma ilusão. Nosso falso conceito do universo constitui a ilusão.

Depois da partida de Buda, seus discípulos fizeram excelente trabalho de cura através de sua revelação. Entretanto, cerca de cinquenta anos mais tarde, eles a organizaram e começaram a introduzir formas cerimoniais – hinos, preces, e todos os demais rituais. O poder de cura foi perdido e o ensinamento de Buda foi dividido em correntes; e assim é que hoje há muitas e muitas seitas, todas elas cercadas de formas, preces, mantras – de tudo, menos da Verdade original, dada através da iluminação de Buda, de que todo erro é ilusão.


“O MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO”

No cumprimento de sua missão na terra, Jesus ensinou a mesma mensagem, de forma idêntica: “O meu reino não é deste mundo”. Em outras palavras, o reino da realidade não é “deste” mundo (fenomênico/físico/material). Este mundo é feito daquilo que não tem existência real. É feito de pecado, doença, morte, falta e limitação; é feito de um falso conceito de vida, um senso de separatividade de Deus.

Quando Pilatos disse ao Mestre: “Não sabes que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?” Jesus respondeu-lhe: “Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado”. Em outras palavras: fora do Pai não existe poder algum. E o que disse ele a todos os doentes? Ao coxo, ao enfermo? “Levanta-te, toma a tua cama, e anda. …Estenda a tua mão. …Ela não está morta, mas dorme”. Ele poderia ter dito: “Estas coisas são ilusão; não podem prendê-lo. Não existe outro poder além de Deus”. Jesus não empregava qualquer tratamento mágico diante daqueles sofrimentos, mas um simples “Levanta-te, toma a tua cama e anda. …Sê limpo. …Lázaro, vem para fora.” Para ele, todo erro era ilusão.

Assim, também este ensinamento, como tem se mostrado nestes textos, diz que todo testemunho dos sentidos é pura crença; não é lei. Se está estabelecido na terminologia de Buda que todo pecado, doença ou morte é ilusão – maya –, ou se está nas palavras mais frequentemente usadas em O Caminho Infinito, de que tudo aquilo que vemos, ouvimos, provamos, tocamos ou cheiramos não é realidade, mas que consiste de conceitos mortais, o mais importante não está no palavreado em si. O que realmente importa é a mensagem – aquela antiga mensagem da realidade de Deus e da irrealidade do testemunho dos sentidos.


AS CRENÇAS UNIVERSAIS DECORREM DO SENSO DE SEPARAÇÃO DE DEUS

As perguntas frequentemente são do tipo: “Como pode tudo isso ter começado?”. Nas Escrituras encontramos duas estórias que falam sobre como tudo começou, mas elas não dizem, ao menos para os não-iniciados, o que tornou possível ter este começo. A primeira delas é a de Adão e Eva.

Adão estava no Jardim do Éden. Estava lá completamente só e, naquela solidão, podia dizer com substância: “Eu e o Pai somos um, e esta unidade constitui a minha plenitude, a harmonia e a totalidade do meu ser. Nada pode ser-me acrescentado e nada pode ser-me tirado. Tudo que é do Pai é meu porque eu e o Pai somos um, e este Um está no paraíso, em harmonia”.

A despeito de Adão estar no Éden, ou paraíso, conforme a estória, ele se sentia só, com falta de uma companhia. Estando no Éden, no paraíso ou na harmonia, ele possuía compreensão suficiente para saber que não poderia conseguir nada separado dele mesmo. Assim está registrado que Eva foi formada do seu interior, de uma de suas costelas. Observe que Eva não foi uma experiência externa a Adão. Não se esqueça disso. Eva foi tirada da costela de Adão, do interior de Adão, da costela da compreensão, do sólido conhecimento ou compreensão de Adão. Foi uma experiência inteiramente interna, e ela apareceu a ele não subjetivamente, mas objetivamente como Eva.

Ao ler o conto cuidadosamente, verá que mesmo quando os dois existiam, um Adão e uma Eva, eles continuavam no Éden, pois Adão e Eva ainda estavam unos com Deus. Porém, o desejo passou a fazer parte do quadro, e foi quando a confusão começou. O desejo, não fazendo parte da unidade ou da plenitude, nos separaria da infinitude de nosso ser assim que, em vez de extrairmos do interior, começássemos a pensar em extrair do exterior; começássemos a pensar na criação externa muito mais do que na interna, ou na obtenção interior. No caso de Adão e Eva, a obtenção começou a ser no exterior, com a criação de Caim e Abel, quando foi desenvolvido um senso de separatividade, um senso de estar apartado da infinita fonte do Ser, da totalidade e plenitude do Ser.

Com aquele senso de separação, nascido da crença no bem e no mal, surgiu um conceito de universo objetivo, que poderia prover o bem do lado de fora. Este senso de separação é o pecado original referido nas Escrituras, e é também o que deu origem a todos os pecados, doenças e pobreza da existência mortal.

Um conto similar de separatividade é o da parábola do filho pródigo. Aqui, novamente, encontramos o Pai uno com o filho, com tudo que é do Pai pertencendo a ele, enquanto aquela unidade perdurar. Mas, como no caso de Adão e Eva, também o filho pródigo teve o anseio de querer algo fora da infinitude do Todo, buscando uma independência com a consequente separatividade. O filho pródigo colocou-se como entidade separada, uma entidade separada e apartada de seu pai, não mais buscando no interior da família de seu pai – na infinitude do seu próprio ser espiritual – mas pretendendo buscar no exterior. Naturalmente, todos sabemos como terminou aquela intenção: no chiqueiro. Sua plenitude não pôde ser encontrada, até que ele retornasse à casa do Pai – até que novamente se tornasse consciente de sua unidade com o Pai e estivesse desejoso de saber que já possuía tudo, uma vez que tudo que pertencesse ao Pai era dele.

Desses dois claros exemplos, que nos são dados pelas Escrituras, podemos notar que o desencadeamento da existência mortal teve, como início, aquele mesmo clamor universal ou crença numa entidade ou egoidade separada ou apartada de Deus, e irá permanecer em nossa experiência até que retornemos ao Pai-consciência, reconhecendo que tudo que é do Pai é nosso. Somente então veremos que todo bem deve vir do interior, e que nossa unidade com Deus constitui nossa unidade com todo ser e coisas espirituais. Deus, sendo imortal e eterno, é também a imortalidade e eternidade do filho. Estes dois exemplos bíblicos servirão para trazer à nossa lembrança consciente o caminho espiritual que nos conduzirá, por fim, à vitória sobre o pecado, a doença e a morte.


LIDANDO COM AS CRENÇAS UNIVERSAIS

É verdade que temos, a todo momento, crenças universais a nos martelarem: a crença universal de idade, a crença universal de micróbios, a crença universal de morte. Porém, elas nos vêm aos pensamentos como crenças, sujeitas à nossa aceitação ou rejeição. Quem desconhece este estudo da Verdade desconhece esta escolha, e se torna vítima das crenças universais, vivendo à mercê delas sem que nada saiba ou possa fazer. Mas quem estuda a Verdade está sempre no controle; pode aceitar ou rejeitar as crenças universais, pensamentos ou sugestões que lhe vêm, podendo inclusive lidar com elas antes mesmo que surjam. Toda aparência como pecado, doença, falta ou limitação vem à nossa consciência como crenças ou sugestões, e nós podemos aceitá-las ou não, dependendo unicamente de nós mesmos.

Isso não quer dizer que se apenas dissermos: “Eu não gostei de você! Saia!”, bastará para darmos fim à crença. Não é assim tão simples! Deverá ser objeto de convicção, de uma real compreensão de que o Eu, a Consciência, governa, e controla este corpo, e que o corpo não pode receber ou se mostrar sensível às crenças do mundo. Deverá estar bem claro que existe somente um Poder, somente uma Causa: todo poder está na Causa e não há nenhum poder no efeito.

Deixe bem claro, em seu pensamento, que este senso de corpo, isto é, este conceito a que chamamos de corpo físico, não é, de si mesmo, uma entidade consciente. Assemelha-se a um carro nosso, um veículo em que viajamos e que segue na direção que nós determinamos. Este corpo também segue na direção em que determinarmos. Ninguém poderá fazer com que nosso corpo realize algo. Nós, nós próprios, governamos e controlamos sua ação.

Como já repeti várias vezes, este não é trabalho destinado a homem preguiçoso. É um trabalho que requer esforço constante e consciente. Seguir o caminho espiritual não é permanecer sentado deixando que um Deus misterioso faça algum favor especial. Nossa vida é determinada pela nossa própria consciência, pelo nosso próprio conhecimento da Verdade do ser, e pelo desejo nosso de rejeitar, tão rápido quanto nos venham, as sugestões deste miasma mental chamado “mente humana”, “mente carnal” ou “mente humana universal”.

Ao falarmos sobre o aspecto mais esotérico ou espiritual deste mundo, vemo-nos na possibilidade de realmente “caminhar nas nuvens”; porém, quando descemos à aplicação prática em nossa experiência, será preciso sairmos um pouco das nuvens para compreendermos a natureza daquilo com que estamos lidando. Em nossa existência “neste mundo”, estamos lidando com crenças universais. Elas são mais antigas do que o tempo, a começar da crença de que nós nascemos, e que vai direto à crença de que morremos. Certamente, em algum período de nossa experiência, precisamos despertar conscientemente para esse fato e darmos início à rejeição destas crenças do mundo.


sexta-feira, julho 13, 2012

Eu sou para sempre um Efeito de Deus


"Nada Real pode ser ameaçado. 
Nada irreal existe. 
Nisso está a Paz de Deus." - UCEM


"Pai, fui criado em Tua Mente, um pensamento Santo que nunca deixou o seu lar. Sou para sempre o Teu Efeito e Tu és para todo o sempre a minha Causa. Tal como me criaste permaneci. Onde me estabeleceste eu ainda habito. E todos os Teus atributos habitam em mim, pois é Tua vontade ter um Filho tão semelhante à sua Causa, que vem a ser impossível distinguir a Causa do Efeito. Que eu tenha o conhecimento de que sou um Efeito de Deus e assim tenho o poder de criar como Tu crias. E é assim na Terra como no Céu. Sigo o Teu plano aqui e, no final, sei que reunirás os Teus efeitos no Céu tranquilo do Teu Amor, onde a terra desaparecerá e todos os pensamentos separados unir-se-ão em glória como o Filho de Deus." 

Hoje, contemplemos a terra desaparecer. Primeiro transformada e em seguida perdoada, desvanecendo-se inteiramente na santa Vontade de Deus. 

 - Um Curso em Milagres, lição nº 326


terça-feira, julho 10, 2012

O homem está consciente de ser Deus!

 Dárcio Dezolt


Se lidarmos com pessoas hipnotizadas, o que para nós for verdade óbvia, para elas será algo obscuro, profundo, oculto, ou mesmo irreal. Assim acontece com os chamados ateus, ou mesmo com aqueles que dizem ter muita fé em Deus, mas que se recusam a aceitar, consciente ou inconscientemente, que Deus é a totalidade de todo Ser individual. Se dissermos ao hipnotizado: "Você está sob transe hipnótico", evidentemente, ele não o admitirá, enquanto o efeito perdurar!

Numa experiência de hipnose, o hipnotizador fez um rapaz acreditar estar se casando com sua noiva adorada que, no palco, era só um outro rapaz, vestido normalmente, mas que, em sua mente sob hipnose, era a moça vestida de noiva e já diante do padre. Desse modo, ele participou daquela "cerimônia de seu casamento", e, tão logo se viu "casado", o hipnotizador o tirou do transe, dizendo a ele sobre "a cerimônia" da qual teria participado. Então o rapaz negou completamente ter feito no palco aquele papel ridículo de "noivo se casando", e somente se viu obrigado a aceitar o fato após lhe terem mostrado a gravação em vídeo de todo o acontecimento.

Quando experienciamos a Verdade absoluta, a ilusória mente humana desaparece, não de existência, pois jamais existiu verdadeiramente, mas desaparece de qualquer "aceitação" que pudesse estar associada como "nossa aceitaçao". A Consciência Iluminada é consciente de SER quem SOMOS, e, unicamente a Verdade é levada em conta. "E quando 'não estivermos' experienciando a Verdade?" - alguém poderia indagar. Aqui está o sutil detalhe deste "estudo da Verdade absoluta": NÃO EXISTE ALGUÉM QUE NÃO ESTEJA EXPERIENCIANDO A VERDADE QUE É TUDO! Um "quadro hipnótico" jamais ocupa a VERDADE presente, onde ele aparenta existir! Por isso, desconsiderando tudo que não for DEUS EXPERIENCIANDO A SI MESMO COMO VERDADE ONIPRESENTE, sem qualquer esforço para "escaparmos" da ILUSÃO, ou para "anularmos" mente humana, simplesmente reconhecemos que A VERDADE INFINITA, QUE É CONSCIENCIA ILUMINADA, É A VERDADE QUE SOMOS, E É A CONSCIÊNCIA DA VERDADE QUE TEMOS! Este "reconhecimento" é nossa INCLUSÃO CONSCIENTE na Verdade Eterna, da qual jamais saímos verdadeiramente!

Há pessoas que, lendo esse tipo de texto, dizem que "fazem o reconhecimento, mas continuam sem ter a Experiência de Deus"; o reconhecimento não é a Experiência; a Experiência é DEUS sendo todas aquelas pessoas! Mas, então, para quê é dito que precisamos fazer o reconhecimento? Para a Consciência iluminada ser reconhecida como JÁ SENDO A NOSSA, independentemente de haver ou não "alguém" a reconhecer este Fato permanente! Enquanto o reconhecimento não for feito, atuará ilusoriamente a "mente humana" com seus hipnóticos efeitos, que levam em conta o tempo e o espaço de sua invenção! Quando reconhecemos que a Consciência ILUMINADA é a única que sempre temos - e que somos -, isto se assemelha ao "fim do transe hipnótico" causado pelo "estalar de dedos" do hipnotizador! E então a VERDADE sempre presente, mas que parecia ausente pela FALSA PRESENÇA do cenário gerado hipnoticamente, resplandece! 

Por isso, uma coisa sempre deve estar bem clara quando meditamos: DEUS ESTÁ EXPERIENCIANDO A SI MESMO COMO O SER QUE SOMOS!  ESTE É O FATO PERMANENTE! Assim como o rapaz hipnotizado que, iludido pela "sugestão", acreditava estar se casando (sem que nada daquilo houvesse ocorrido realmente), e de repente se viu "sem noção alguma da ilusão" por o "transe" ter sido anulado", VOCÊ TAMBÉM SE VÊ SENDO DEUS, SENDO A LUZ INFINITA, quando a ILUSÃO é anulada! E ela se anula quando VOCÊ aceita que a ILUSÃO em nada afeta a Experiência de DEUS em ser DEUS como o Ser que VOCE É! Apareçam ou desapareçam, "sugestões hipnóticas" são NADAS! Muda o Sol, se nuvens aparecem ou desaparecem no céu? Não. O Sol é o mesmo sempre, esteja ou não "obscurecido" por nuvens! 

Assim como o Sol está consciente de ser O SOL, o Homem está consciente de ser DEUS! Isto porque DEUS está consciente de ser o Homem! E é esta aceitação incondicional o que nos faz focar única e exclusivamente o que é PERMANENTE: DEUS SENDO TUDO! INCLUSIVE VOCÊ!


sábado, julho 07, 2012

A visão de Moisés



Na história bíblica, o homem foi expulso do Jardim do Éden porque comeu do fruto da árvore do conhecimento. Ao comer do fruto, Adão (homem) afastou-se do mundo da Criação de Deus, em que desfrutava ilimitada abundância e liberdade. O próprio processo de "conhecer" implica na perda/afastamento da liberdade.

Na Consciência do Ser, tudo já existe pronto, tudo está consumado, já é! Não é que a Bíblia diz: "Está feito!", e diz ainda: "As obras de Deus são permanentes", de modo que nada pode ser acrescentado ou retirado. A Criação de Deus está absolutamente pronta, completa, inalterável, irretocável. Essas passagens revelam e expressam como as coisas são no reino da Consciência do Ser, Deus. Em Deus, tudo já é.

Assim, segundo a mitologia bíblica, o homem ao ser criado vivia no paraíso, na Consciência do Ser. E tudo quanto era necessário estava prontamente disponível, nada precisando o homem fazer senão viver "pela Graça de Deus". Mas então um dia ele "conheceu"... E o "conhecer" o expulsou/afastou do mundo ilimitado de Deus. Por exemplo: Você vê uma árvore no bosque, ela existe. Essa árvore só existe porque ela primeiro existe na Consciência do Ser, em Deus, do contrário ela não poderia se tornar visível no cenário humano. Na Consciência do Ser, a árvore já existe, está pronta, você tem acesso imediato a ela. Para existir a árvore, não é preciso que antes ela seja uma semente. Nem é necessário que a semente seja plantada no solo, seja regada e receba sol e chuva para poder crescer e se tornar uma árvore. Na Consciência do Ser, não há essa linearidade. O acesso à "árvore" é imediato, ela já está pronta.

Mas Adão quis "conhecer", e quando "conheceu", ele caiu na percepção mental. Quando comeu do fruto e passou a "conhecer", imediatamente ele soube que, para que ele visse a árvore, uma semente primeiro teria de ser plantada. Veja como isso o afastou do Éden, e como ele perdeu sua liberdade. O próprio processo de "conhecer" o expulsou do Jardim. Então, que assim seja. "Seja-te feito conforme tu creres". Desde então, para que ele tivesse acesso à árvore, ele teria que pegar o caminho da "semente", da "semeação", "regadura", "água", "luz", "crescimento", para somente então ter acesso àquela árvore. Assim é para quem percebe a vida com a percepção mental. A percepção consciencial quebra a linearidade/continuidade e nos permite o acesso imediato ao que quer que seja. O mundo da Consciência é não-linear, descontínuo, desconexo, quântico. Não há conhecimento na Consciência, há percepção. Perceba: o conhecimento está na mente: para a árvore vir a ser, primeiro deve vir a semente. Na consciência você não "conhece" nada, você vê de modo reto/direto/imediato. Há a "percepção" da árvore.

Quando Moisés subiu a montanha e teve a visão/revelação de Deus... a Bíblia diz que ele conversou com Deus. Assim conta a Bíblia: Moisés avistou uma caverna e nela entrou (pois ele tinha saído atrás de uma de suas ovelhas que se perdeu do rebanho, e acabou indo parar nessa caverna). Logo no começo, ao entrar, ele ouviu uma voz, que disse: "Moisés, retira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que está pisando é solo sagrado".

Ninguém ouve a voz de Deus e está ao mesmo tempo no mundo. Ao ouvir a voz de Deus, Moisés não estava mais no mundo dos personagens, ou seja, ele não estava percebendo com a "visão" que vê o mundo dos personagens (a percepção mental). Pois a percepção mental não é capaz de ouvir Deus falar "retira de teus pés as tuas sandálias". Moisés já havia passado para o outro mundo - o da Consciência. Somente assim ele pôde ouvir a Voz vinda do Alto. Ele já estava percebendo consciencialmente... Toda a visão de Moisés ocorreu no âmbito da Consciência do Ser, e não no do mundo dos personagens.

Assim, Moisés entrou. Ele ouviu: "retira dos teus pé as tuas sandálias, porque o lugar em que estás é solo sagrado".

A Consciência é o solo sagrado. Nenhum solo sagrado pode ser profanado. Ninguém pisa em "solo sagrado" a não ser com os pés descalços, a não ser despido de tudo o que é impuro. As "sandálias" representam tudo que é de natureza contrária ao solo sagrado - e esse é o motivo pelo qual elas não podem pisá-lo e tocá-lo. No âmbito da Consciência do Ser tudo está pronto, completo, já formado. Se tentarmos entrar levando conosco os nossos "conhecimentos", os nossos "julgamentos", e tudo o mais que combine/importe em natureza mental, não teremos permissão para "pisar" o Solo. Antes de entrar, devemos retirar as nossas sandálias.

Moisés entrou. No centro da caverna havia uma sarça - uma árvore envolvida por um fogo ardente muito puro - que queimava mas as chamas não consumiam o tronco e os galhos. Moisés se aproximou e perguntou: "Quem és tu". Ao que a figura de árvore em chamas respondeu: "EU SOU AQUELE QUE SOU".

Moisés não poderia ter obtido uma outra resposta, porque a Consciência é o âmbito onde "tudo é". No âmbito da Consciência do Ser, a Consciência é a montanha. No âmbito da Consciência do Ser, a Consciência é a árvore. No âmbito da Consciência do ser, a Consciência é o homem. A Consciência do Ser é tudo. Deus é tudo. O homem só "é" no âmbito da Consciência do Ser. O homem em si mesmo não "é" - Deus é o homem. A árvore em si mesma não "é" - Deus é a árvore. A árvore está existindo... Mas a árvore não é a árvore... porque é inapropriado dizer que a árvore "é". Deus é a árvore, porque somente Deus "É". Então a árvore é o que? A resposta: ela não é, absolutamente. Mas podemos tomá-la como sendo uma idéia "d'Aquele que É". Mas a árvore não é a árvore. Da mesma forma, nós não somos. Deus é o nosso ser. Só Deus é existência, só Deus "É". Eis porque a Consciência do Ser revelou-se à Abraão como sendo "EU SOU AQUELE QUE SOU". O verbo "é" só pode ser (apropriadamente) empregado quando no âmbito da Consciência do Ser, pois fora dela nada "é".

A Bíblia também diz que o Senhor se entretinha com Moisés face a face, assim como um homem fala com o seu amigo. Então, Moisés, NUMA OUTRA PASSAGEM diz: "Senhor, mostra-me a tua face/glória". Ao que Deus lhe respondeu: "Vou fazer passar diante de ti todo o Meu esplendor, e pronunciarei diante de ti o nome de Javé. Mas não poderá ver a Minha glória/face, pois homem algum poderia Me ver e continuar a viver".

O esplendor da Consciência do Ser é imenso. Extrapola todos os limites da mente. Por isso, por mais que queira e peça, a mente não pode "ver a face do Senhor". Se o esplendor total de Deus penetrasse na mente, que é limitada, esta simplesmente "não continuaria a viver".

Assim, é importante ser percebido que toda experiência ocorrida com Moisés não se deu no âmbito do mundo dos personagens. Para Moisés falar com Deus, teve primeiro que acessar a percepção consciêncial.

Jesus também disse aos Judeus: "Antes que Abraão fosse, EU SOU". Para dizer isso com autoridade, da forma como ele fazia, era necessário estar plenamente consciente do Ser que é tudo. Os judeus racionalizaram: "como pode você dizer ter visto nosso pai, Abraão, se ainda não tem nem 50 anos de idade?". Eles usaram a lógica, a razão, o conhecimento. Eles perguntaram como pôde Jesus afirmar existir  numa época que ainda sequer havia nascido. Mas essa pergunta está errada. A própria pergunta lhes impedirá de ter a resposta, porque ela não poderá levá-los a lugar algum. A pergunta dos judeus é fruto do conhecimento. Impossível para eles será ver a árvore sem primeiro ter visto a semente. Mas para a Consciência do Ser, a árvore já existe. E, da mesma forma, do ponto de vista da Consciência do Ser, Jesus poderia perfeitamente existir em qualquer época que ainda não houvesse nascido. Deus não segue lógicas mundanas. "A sabedoria de Deus é loucura para os homens". Jesus entendia perfeitamente bem o que estava dizendo - Ele era (é) antes de Abraão existir.

Após tudo o que foi exposto, quero chegar, agora, ao que considero o "clímax" deste texto: fazer com que o leitor "perceba" que, desde sempre, ele percebe. Ele já percebe.

A Consciência do Ser é infinita! É ilimitada, e está além de tudo! Ela engloba e abrange tudo, não sobrando nada "de fora", ou "ao lado". "Eu sou Deus, e ao lado de mim não há outro". O que quer que tenha existido, exista ou venha a existir; e o que quer que já tenha ocorrido, ocorra e venha ainda ocorrer, JÁ EXISTE NA CONSCIÊNCIA DO SER. Como diz o texto do capítulo 21 de Apocalipse: "está feito." Esse é o segredo. É compreender que, na realidade consciêncial, tudo, QUALQUER COISA, já está disponível e feito/pronto. Observe com atenção! Deus revelou que "está feito"! Tudo já está feito, não há o que esperar. Cristo está vivo hoje, agora, no presente! Perceba!

Se você compreendeu a explicação da "árvore e da semente", também poderá compreender isto agora: O fato de que "você já está percebendo consciencialmente" já existe na Consciência do SER. Até mesmo isso tem que estar pronto! - porque Deus vai além inclusive disso. Quer perceber que você já está em Deus? Então perceba que até mesmo o fato de "você já estar em Deus" é algo que já está feito, consumado em Deus. Então você fará a "passagem", fará o "acesso" ao plano da Consciência.

Você já tem acesso ao Cristo, já está desperto, e está consciente de estar desperto. Todas essas coisas - o "ter acesso ao Cristo", o "estar desperto" e "estar consciente de estar desperto" - já estão feitas (!), consumadas e completas na Consciência do Ser. O seu acesso é imediato, exatamente como no exemplo da árvore - a árvore está pronta, sem ser necessário passar pelo processo de "semente". Você é Cristo agora, é Buda agora! Não tente chegar a realização disso pela via do conhecimento. Não julgue que primeiro precisará despertar ou se iluminar. Corte o processo lógico-linear/contínuo, que é inerente à mente, e vá direto ao ser desperto, iluminado e búdico que você é. Você já percebe consciencialmente. Não é necessário tentar; só há a necessidade compreender (perceber) isso. Você já percebe o Cristo. Perceba/veja/realize o fato! É assim que você o "acessa". Quantos ainda esperam a vinda do Cristo Vivo! E no entanto ele está aqui e agora, já, no eterno agora.

Assim, não tente perceber o que está sendo dito. Apenas perceba. "Perceba", aqui, não está sendo dito no sentido de realizar alguma ação ou esforço para "conseguir". Mas no sentido de "apenas perceba", sem realizar esforço ou ação para adentrar num processo de "vir a perceber". Compreenda que você já percebe, que você já é consciente - e então apenas perceba, apenas seja consciente. O que deve ser compreendido é: Quem faz você perceber é a própria Consciência do Ser; porque até mesmo isso já existe, ou seja, "está feito", "realizado", "pronto" e "consumado". "Eu de mim mesmo nada posso, o Pai em mim é quem realiza as obras". Você apenas vive pela Graça. Basta isso.

O Deus que habita em mim reconhece, reverencia e agradece o Deus que habita em você.

Namastê.



"Eu Sou Aquele que Sou"

terça-feira, julho 03, 2012

Entre duas percepções

(O que você vê? Uma jovem moça ou uma velha? As possibilidades de ver uma ou outra estão dentro da sua consciência)

Dárcio Dezolt


Aparentemente falando, há uma humanidade dotada de olhos carnais, que “percebe” a chamada existência terrena como existência verdadeira. Esta suposta existência se altera a cada segundo, mostrando-se ora como imagens boas, ora como imagens más. Assim o mundo também aparentava ser para Buda, antes dele ter tido a revelação da Verdade. Não se conformava em ver doenças, sofrimentos e mortes, ou cenas desamorosas como, por exemplo, a de uma cobra engolindo um sapo vivo para poder subsistir! Em vista disso, abandonou tudo para ir em busca de uma solução que, intuitivamente, acreditava ter que existir. E como lhe veio esta solução? Não como ele supunha, na forma de se melhorar este mundo: veio-lhe na forma de uma revelação gloriosa: “ESTE MUNDO É ILUSÓRIO! JÁ ESTOU NO REINO ILUMINADO E PERFEITO!

Há tempos, uma pessoa falou comigo, dizendo: “Olhe, eu não aguento mais tantos problemas! Já nem sei o que fazer!” Eu disse a ela: “Entre em meditação, e então visualize 'este mundo' sendo dinamitado, explodindo, sumindo! Acabou-se! Adeus, mundo com problemas!” Meses depois, ela voltou a ligar-me, e disse: “Lembra-se do que me falou? Para eu meditar e acreditar que o mundo sumiu?” Disse a ela: “Lembro-me sim, por quê? Fez como eu disse?” E ela me respondeu: “Não, eu não fiz, mas havia contado para uma amiga minha o que você me havia falado, ela fez e deu certo para ela!”.

A maioria não crê que NÃO EXISTE MUNDO MATERIAL! Basta verificarmos o tanto que se fala sobre “fim de mundo”, “profecias de final dos tempos”, etc. A Seicho-no-Ie também revela: O MUNDO FENOMÊNICO NÃO EXISTE! EXISTE UNICAMENTE DEUS! POR MAIS QUE O FENÔMENO PAREÇA EXISTIR, ELE NÃO EXISTE! Para quê tanta repetição? Porque aparentemente vemo-nos diante de “duas percepções”: a percepção da suposta “mente humana”, e a percepção espiritual, mediante a Mente de Cristo que temos. Como anular esta dualidade? Reconhecendo que DUALIDADE NÃO EXISTE! Unicamente a Consciência iluminada atua, aqui e agora, discernindo em SI MESMA toda a Realidade eterna! Por isso as “contemplações” são radicais e absolutas! Não há “duas percepções”, mas unicamente DEUS percebendo a SI MESMO como TUDO! E Deus, onde VOCÊ está, é VOCÊ!



(moça jovem)


(velha)