O DOM SUPREMO
(Henry Drummond)
Estou quase acabando este longuíssimo sermão. Mas, antes, quero fazer uma proposta: quanto de vocês querem juntar-se a mim, para ler este trecho da carta aos coríntios, pelo menos uma vez por semana? Quem quiser, que o faça durante os próximos três meses. Um homem assim o fez, e mudou completamente sua vida. Ou então vocês podem começar por ler esta epístola uma vez por dia, principalmente os versos que descrevem a maneira de agir que combina com o Amor: “O Amor é paciente, é benigno, o Amor não arde em ciúmes.” Coloquem estes ingredientes na vida de vocês. A partir daí, tudo o que fizerem passará a ser Eterno. Vale a pena dedicar um pouco de tempo para aprender a arte de Amar.
Nenhum homem se torna santo enquanto dorme; é necessário rezar, meditar. Da mesma maneira, qualquer melhora, em qualquer sentido, requer preparação e cuidados. Exijam de si mesmos: viver uma vida plena e correta. Se vocês olharem para trás, perceberão que os melhores e mais importantes momentos da vida foram aqueles onde estava presente o Espírito do Amor.
Quando olhamos nosso passado – e não nos detemos nos prazeres transitórios da vida -, notamos que os momentos marcantes de nossa existência são aqueles em que vivíamos o amor; ou que, escondidos, fizemos algo de bom para alguém. Coisas às vezes tolas demais para serem contadas, mas que, por frações de segundo, nos fizeram sentir como se estivéssemos mergulhados na Eternidade.
Eu já vi quase todas as belas coisas que Deus criou. Já gozei quase todos os prazeres que um homem pode gozar. Mesmo assim, ao olhar meu passado, sobram apenas quatro ou cinco momentos - geralmente muito curtos - em que pude fazer uma pobre imitação do Amor de Deus. São esses momentos que justificam minha vida. Todo o resto é passageiro. Qualquer outro bem ou virtude é apenas uma ilusão. Esses pequenos atos de Amor que ninguém reparou, que ninguém conheceu, justificam minha vida. Porque o amor permanece.
Mateus nos dá uma descrição clássica do Juízo Final: o Filho do Homem senta-se em um trono, e separa, como um pastor, os cabritos das ovelhas. Nesse momento, a grande pergunta do ser humano não será: “Como eu vivi?” Será, isto sim: “Como amei?” O teste final de toda busca da Salvação, será o Amor. Não será levado em conta o que fizemos, em que acreditamos, o que conseguimos. Nada disso nos será cobrado. O que nos será cobrado: nossa maneira de amar o próximo. Os erros que cometemos nem sequer serão lembrados. Seremos julgados pelo bem que deixamos de fazer. Pois manter o Amor trancado dentro de si é ir contra o Espírito de Deus, é a prova de que nunca O conhecemos, de que Ele nos amou em vão, de que Seu Filho morreu inutilmente. Deixar de Amar significa dizer que Deus jamais inspirou nossos pensamentos, nossas vidas, e que nunca chegamos perto Dele o suficiente para sermos tocados por seu exuberante Amor. Significa que “eu vivi por mim mesmo, pensei por mim mesmo, por mim mesmo, e ninguém mais - como se Jesus jamais tivesse vivido, como se Ele jamais tivesse morrido.”
É diante de Deus que as nações do mundo serão reunidas. É na presença de todos os outros homens que seremos julgados. E cada homem julgará a si mesmo. Ali estarão presentes aqueles que encontramos e ajudamos. Ali também vão estar aqueles que desprezamos e negamos. Não há necessidade de chamar qualquer Testemunha, pois nossa própria vida se encarregará de mostrar, na frente de todos, o que fizemos. Nenhuma outra acusação - além da falta de Amor - será proferida. Não se enganem; as palavras que neste Dia ouviremos não virão da teologia, não virão dos santos, não virão das igrejas. Virão dos famintos e dos pobres. Não virão dos credos e das doutrinas. Virão dos desnudos e dos desabrigados. Não virão das Bíblias e dos livros de orações. Virão dos copos de água que damos ou deixamos de dar.
- Quem é Cristo?
É aquele que alimentou os pobres, vestiu os nus, e visitou os doentes.
- Onde está Cristo?
“Todo aquele que receber uma criancinha destas em seu nome, também me recebe.”
- E quem está com Cristo?
Aquele que ama.
Quando o rapaz acabou de falar, o sol já havia se posto. As pessoas se levantaram, em silêncio, e foram para as suas casas. Nunca mais, pelo resto de suas vidas, esqueceriam aquele dia. Haviam sido tocadas pelo Dom Supremo, e desejaram, naquele instante, que aquela tarde fosse lembrada por muito tempo. “Embora não possa ser lembrada para sempre”, pensou um deles, consigo mesmo. Porque, como bem havia dito o rapaz, só o Amor permanece.
FIM
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