Dorothy Rieke
No que diz respeito a Deus, a Vida eterna, o homem habita naquela compreensão divina que a tudo governa, e não possui qualquer outra consciência. A Mente divina e eterna ignora o acaso ou a mudança. Por vezes, os Cientistas Cristãos aceitam a seguinte ideia: “Bem, é certo que não existe morte e por isso, continuamos a viver eternamente; mas Deus retira-nos deste estado ou nível de consciência e leva-nos para outro.” Esta noção implicaria que Deus tivesse conhecimento daquilo a que se chama morte ou “transição”. Se a aceitarmos, não poderemos, evidentemente, demonstrar a Vida eterna como Enoque, Elias e Jesus o fizeram. A Vida eterna não conhece a morte, nem a “transição”, nem a mudança. Por isso, podemos nos libertar da crença e do medo ridículo de que todos morreremos um dia.
Todos nós deveríamos afirmar em alta voz que “Deus, a minha Vida eterna, nada conhece sobre a morte.” Sendo a Sua imagem e semelhança, o homem não pode ter conhecimento de nada que se relacione com a morte. Deus conhece apenas o maravilhoso desdobramento do Bem, sem qualquer sugestão de declínio. Reconheçamos a nossa unidade com essa Vida eterna que desconhece totalmente a morte, essa Verdade eterna que ignora o mínimo erro e essa Mente divina que não admite o menor mal.
Mas se não passamos pela “transição”, como se processa então a nossa evolução? Estejamos alertas, pois esta questão é uma armadilha disfarçada. Nem sequer se imagina o número de Cientistas Cristãos que admitem voluntariamente a ideia de que um dia experimentarão um crescimento ou elevação através da morte. Frequentemente, estes se sentem um pouco culpados por reivindicarem o bem para eles mesmos e julgam que essa ideia é cientifica, aceitando mediante uma atitude tímida, apagada e confusa, que um dia evoluirão. Tornam-se um pouco mais confiantes, mais seguros e talvez até um pouco mais exuberantes quando cantam o seguinte verso do Hino 64 do Hinário da Ciência Cristã: “A senda do sentido à Alma vejo,” julgando com essa frase justificar a sua atitude.
Regressando à citação inicial, — Miscellany, pág.2 42 — como pode aquilo que é imortal progredir? Para onde se elevaria o homem? Como pode aquilo que já se encontra no ponto da perfeição — e não em vias de se aproximar desse mesmo ponto — elevar-se ainda mais? Apenas aceitando a crença de que o homem é mortal, é que podemos admitir alguma possibilidade de ascensão. O mortal espera, eventualmente, elevar-se até à imortalidade, mas este não é um enunciado científico. Devemos, pelo contrário, reivindicar agora a nossa imortalidade. Como poderemos então regozijarmo-nos na compreensão de que somos imortais e, ao mesmo tempo, esperar evoluir da mortalidade para a imortalidade? Recordemos que nunca deixamos o céu pela terra! Nunca nos tornamos mortais, nem nos materializamos, pois jamais nascemos na matéria.
A Sra. Eddy sublinha no livro Não e Sim : “Jesus veio anunciando a Verdade e dizendo não somente ‘o reino de Deus está no meio de vós.’ Logo não há pecado, pois o reino de Deus está em toda parte e é supremo, e segue-se que o reino humano não está em parte alguma, e deve ser irreal.” (pág. 35: 25-29). Logo a seguir, vem uma das mais significativas declarações acerca de nosso Mestre: “O ser consciente e verdadeiro de Jesus nunca deixou o céu pela terra. Permaneceu no alto para sempre, mesmo quando os mortais acreditavam que estava aqui. Uma vez falou de si próprio (João 3:13) como sendo “o Filho do homem que está no céu”, — palavras notáveis, inteiramente contrárias às opiniões populares sobre a natureza de Jesus.” Também nós somos os filhos de Deus, imortais, habitando para sempre no reino celestial de Deus. Não podemos decair desse único estado de existência, nem a ele nos elevarmos, pois nele vivemos agora; e é esse estado de existência que reivindicamos, compreendemos e com o qual nos regozijamos.
Um dos relatos que deveríamos ter sempre presente no pensamento é o da transfiguração de Jesus: levando consigo a Pedro, Tiago e João, Jesus subiu a um alto monte e aí foi transfigurado na presença daqueles: “o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. Então disse Pedro a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui.” (Mateus 17: 2-5). Fazendo eco das palavras de Pedro, afirmemos também: “Senhor, bom é estarmos aqui.” E onde estamos nós? Estamos igualmente no cimo do monte da compreensão divina; vimos a Jesus, Moisés e Elias e na Ciência, vimos o homem perfeito: jamais nascido e incapaz de morrer, mas sempre semelhante ao filho de Deus; podemos igualmente escutar a voz de Deus, falando conosco como falava aos discípulos daquele tempo: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo.” (Mateus 3:18). A luz da verdade revelou-nos que esta declaração é válida não somente para Jesus, mas também para Moisés, para Elias e para todos os filhos de Deus. Permanecendo no cimo do monte com Pedro, Moisés, Elias e Jesus, é bem menos difícil ver o nosso próximo, sem exceção, como o filho bem-amado de Deus, perfeito e imortal. Tomemos agora a decisão de permanecer no cimo do monte da compreensão e revelação divinas. Não renunciemos nunca à nossa resolução de ver o nosso próximo e todo o universo nesse mesmo local, em companhia dos imortais Moisés, Elias e Jesus. Veremos então o universo e conheceremos o homem como Deus os vê: imortais e perfeitos. Não será essa a forma de trazer a imortalidade à luz?
Todos os dias, eu me coloco as questões que vou agora enunciar e em seguida responder. Quando nelas meditarem, respondam como se fossem jurados num tribunal, obrigados sob juramento a dizer a verdade:
Quando é que foram para a Rússia? Quanto tempo viveram sob as leis e os regulamentos russos? Quantas injustiças e afrontas sofreram durante esse tempo? Que tipo de impostos e multas suplementares foram obrigados a pagar na Rússia? Quantos dias infelizes, repletos de desânimo e de medo aí passaram? Quando é que decidirão abandoná-la?
Não é evidente por si mesmo que, se alguém nunca esteve na Rússia não pode aí ter sofrido, tal como não se pode abandonar um local onde nunca se esteve? Respondamos então agora às seguintes questões com o mesmo parecer positivo e com a mesma certeza científica:
Quando é que entraram no reino da matéria, ou por outras palavras, quando é que nasceram? Quanto tempo viveram sob o controle das leis e regulamentos materiais? Com que frequência transgrediram as 1eis materiais? Quantas dores e sofrimentos sofreram na matéria? Quantos dias infelizes, cheios de medo e de desalento, viveram no reino da matéria? Quando pensam “apanhar um comboio”, por exemplo, e efetuar a “transição” ou morrer na matéria? Quando pensam “apanhar um avião”, por exemplo, e elevarem-se acima da matéria?
Desta forma, não vos parece lógico que, nunca tendo vivido na matéria, seja impossível nela pecar ou sofrer? O homem não pode estar agitado, atormentado ou preocupado na matéria; não pode morrer na matéria ou efetuar a “transição”, tal como não se pode elevar acima de algo de onde nunca foi oriundo.
Tenho um apreço especial por este pequeno exercício mental, pois torna-se assim bem mais fácil compreender que, visto eu nunca ter entrado na Rússia, não posso aí ser penalizada ou mesmo daí sair. Da mesma forma, é igualmente mais fácil compreender que, nunca tendo nascido na matéria ou na mortalidade, não podemos ser nela castigados, tal como não a podemos abandonar.
Tendo-nos tornado obedientes às duas primeiras recomendações do nosso texto inicial — nomeadamente, a de reivindicar a nossa imortalidade e a de a compreendermos — é agora mais fácil ser obediente à terceira recomendação: a de praticarmos a Ciência Cristã “a partir do ponto da perfeição”. De que modo foi científica a Sra. Eddy ao praticar a Ciência unicamente a partir do ponto de perfeição! Conforme já foi citado antes, ela declara: “A Ciência Cristã é absoluta; ela não está aquém nem além do ponto da perfeição, mas encontra-se exatamente nesse ponto e é a partir daí que deve ser praticada.” (My. pág. 242: 5-7). É espantosa a forma como a Sra. Eddy inclui nessa importante declaração a reivindicação da imortalidade e a argumentação a partir do ponto da perfeição. A bem dizer, as duas ideias andam a par e passo; é por ser o homem imortal, que se justifica a sua perfeição e é igualmente a sua imortalidade que lhe confere o direito de reivindicar, argumentar e testemunhar unicamente a perfeição. Por outro lado, como o homem reivindica a sua perfeição e procura viver “a vida que se aproxima do bem supremo”, reconhece a sua própria identidade verdadeira e, como consequência, compreende a sua imortalidade.
Como diz o nosso livro texto, numa das suas maravilhosas afirmações: “A Ciência do ser fornece a regra da perfeição e traz a imortalidade à luz.” (pág. 336: 27-28). Vamos agora tentar demonstrar a regra da perfeição que a Ciência nos fornece e assim experimentar a recompensa total de uma maior inspiração e iluminação da nossa imortalidade. Suponhamos que eu vos colocasse a todos no banco das testemunhas; em seguida, pedisse que respondessem somente de acordo com a mais absoluta verdade a vosso respeito. O vosso testemunho deveria então ser o testemunho que Deus fornece a respeito de cada um de vós. Recordo-vos agora, antes de dar início aos vossos testemunhos, que apenas pratica a Ciência Cristã quem declara a verdade absoluta; lembro-vos igualmente, que ao declarar os fatos científicos a vosso respeito, estareis a obedecer à ordem de nossa líder; e recordo-vos ainda que, ao testemunhar dessa forma, trareis a imortalidade à luz na vossa própria existência, bem como na de outros.
Sentem-se algo constrangidos, algo culpados ou hipócritas ao reivindicar a total perfeição para vós mesmos? Pois não recuem um passo na argumentação que visa a perfeição. Recordem-se que não estão em vias de alcançar a perfeição, nem aquém da mesma, mas estão agora mesmo no ponto exato dessa perfeição. De novo, na página 242 de Miscellany a Sra. Eddy chama a nossa atenção para o fato de que devemos tomar uma posição radical a favor da perfeição, ao afirmar: “A menos que se compreenda perfeitamente o fato de se ser um filho de Deus, e como tal, perfeito, não existe Princípio algum a demonstrar, nem qualquer regra que o permita fazer.” (8-10). Compreendendo que não somos desonestos ao testemunhar dessa forma e que não há qualquer hipocrisia ao declarar a verdade a respeito do homem imortal de Deus, nem sequer admitiremos a hipótese de responder de outra forma. Avancemos então para a questão seguinte:
1ª Questão – Tomaram plena consciência de que a vossa resposta deve ser absoluta, sem quaisquer compromissos ou restrições? Entenderam agora que tipo de testemunho devem apresentar?
“Ah, sim, sou realmente perfeito, embora esse não pareça ser bem o caso”; “sim, sou um dos melhores Cientistas Cristãos do mundo, mas nem sempre sou capaz de o demonstrar”; “sim, eu sei que sou realmente perfeito, mas tenho ainda que o demonstrar”; “sem dúvida, sou o filho imortal de Deus, e por isso, perfeito, mas desejava compreender e experimentar melhor esse fato”; “sou um dos homens mais honestos do mundo, mas ninguém pensa desse modo a meu respeito”; “a minha família é perfeita, mas temos uma vizinhança terrível.” “Eu sou perfeito, mas quanto a alguns membros da Igreja…” e etc., etc., etc. Já repararam que cada vez que se associa a palavra “mas” a uma declaração da verdade, o que se segue é uma afirmação que compromete essa verdade? E o que sucede com a nossa demonstração da verdade, se afirmamos: “Sim, sou o filho perfeito de Deus, mas desejava poder assemelhar-me mais a Ele”? Não estaremos assim a fechar a porta à tão desejada manifestação da perfeição? Nos meus próprios esforços para manter uma argumentação unicamente a partir do ponto da perfeição, encontrei um grande auxílio num artigo publicado no Christian Science Jounal. Quando o artigo foi publicado, foi de tal forma bem acolhido pelos leitores, que quando escrevi para Boston na tentativa de obter uma cópia suplementar da referida publicação, responderam-me que esta já tinha esgotado. Era evidente que eu não havia sido a única a apreciar a leitura positiva e absoluta que esse artigo apresentava de fundo. O seu título era: “Aceitar a demonstração”, e foi escrito por Margaret Morrison, sendo publicado no Journal de Fevereiro de 1947. Nesse artigo, a Sra. Morrison salienta que a verdadeira demonstração é espiritual e mental, o que corresponde àquilo que estivemos desenvolvendo neste estudo. Toda manifestação que possa ocorrer na nossa experiência humana, como resultado da demonstração da Verdade, é um acréscimo. Em outras palavras, o regozijo por um Deus perfeito, um universo perfeito e um homem perfeito é demonstração! A atividade certa que surge no nosso caminho, a cura de um problema físico, a descoberta de uma casa onde morar e a manifestação de suprimento são as “coisas” que nos são “acrescentadas”. É maravilhosa esta forma de chamar a atenção para o fato de que, se rendermos testemunho fiel àquilo que é de fato verdadeiro, deixamos a porta aberta a essas coisas que nos são “acrescentadas”.
Assim, se acrescentarmos à nossa demonstração da verdade a adversativa mas, seguida de um pensamento negativo, fecharemos a porta às coisas “acrescentadas”. É evidente que essas coisas “acrescentadas”, que “descem do Pai das luzes” tornam mais agradável a nossa existência; então, porque não deixar a porta de entrada aberta para que essas coisas possam afluir em abundância na nossa vida cotidiana, testemunhando com firmeza unicamente a Verdade, sem nenhuma outra concessão do tipo “se…”, “mas…” ou “talvez”…?!
A tentativa de encontrar o testemunho da matéria é outra forma de fechar a porta a essas coisas que do alto nos são dadas. Se alguém afirma que Deus é a saúde do seu rosto, que esta se revela em beleza e que é o reflexo perfeito de um Deus perfeito e em seguida procura ver no espelho se a Verdade curou a sua palidez, então essa pessoa não tem certamente o seu olhar fixo unicamente no Espírito; esse alguém está prestes a demonstrar antes uma dualidade, tentando utilizar o Espírito para curar a matéria, observando a carne para concluir se esta foi curada.
Aquele que argumenta com firmeza “a partir do ponto de vista da perfeição”, reivindica a seu respeito todas as verdades maravilhosas, gloriosas e espirituais; em seguida, ele faz face à realidade que lhe diz respeito e verifica que as verdades se transformaram em realidades agora que compreende ser a imagem e semelhança perfeita, pura e santa de Deus pode erguer o seu rosto sem mácula. Não existe outra solução; não existe matéria na qual possa ocorrer uma manifestação; não existe mente mortal para dar conta de uma determinada situação; não existe sentido material para testemunhar a aparência do homem. Regozijemo-nos agora com estas verdades, não através de uma débil tentativa de a aplicarmos, mas sim através da sua demonstração.
FIM
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