Masaharu Taniguchi
Os adamantinos se reuniram todos (Mahavairocana Sutra ou Sutra do Grande Sol)
Voltemos ao Palácio Diamantino e vasto, protegido por Buda. Ali "reuniram-se todos os adamantinos", além de inúmeros bodisatvas. Mahavairocana-Buda no centro, seu assento leonino formado de diversos bodisatvas, e em seu redor uma infinidade de adamantinos brilhando como as estrelas. Imaginem essa cena majestosa. Assim é o mundo da Imagem Verdadeira.
"Diamantino" é símbolo da sabedoria de Buda. Como a sabedoria de Buda é infinita, o número de diamantes também é infinito. E os adamantinos, que são possuidores desses diamantes e expressões da sabedoria de Buda, também existem em número incontável. Eles têm a figura de um lutador robusto, de fisionomia valente, a parte superior do corpo nua, segurando uma espada de sabedoria como que protegendo Buda. Toda a vista do mundo da Imagem Verdadeira, inclusive os bodisatvas e adamantinos, tudo é expressão do poder sábio, versátil e misterioso de Buda.
O dia búdico, que transcende os três tempos, e a igualdade entre o corpo, a palavra e o pensamento são a porta de entrada para a Verdade (Sutra do Grande Sol)
A referida reunião ocorreu num momento que transcende o tempo do mundo fenomênico. É por isso que está escrito "O dia de Buda, que transcende os três tempos" (passado, presente e futuro). Não uma determinada hora, mas agora, aqui, é o dia de Buda. É o agora eterno.
No primeiro volume do Dainichi Kyosho (Interpretação da Mahavairocana Sutra), de autoria de Ichigyo, consta:
Esse dia do Jissô (Imagem Verdadeira) é claro e eterno, puro e calmo como o firmamento, e nele não há diferença entre o tempo curto e longo.
Se mudarmos a visão agora, aqui e já, podemos entrar instantaneamente no vasto palácio do mundo da Imagem Verdadeira mostrado por Maitreya. O problema é como mudar a visão. Para isso, é necessária a concordância dos três carmas, isto é, carma corporal, verbal e mental. A isso, o esoterismo Shingon chama de "adequação dos três mistérios". Nós costumamos pensar em corpo, palavra e pensamento, separando-os em três elementos, mas, na verdade, no espírito de Buda, o corpo, a palavra e o pensamento constituem um só elemento, no mesmo tempo e no mesmo lugar. Por isso, a mencionada sutra diz "igualdade entre o corpo, a palavra e o pensamento". Mentalmente, nós separamos em corpo, palavra e pensamento aquilo que é originariamente um só elemento, e depois os reunimos mentalmente em um só elemento. Isto é, praticamos com o corpo a vontade de Buda, pronunciamos com a boca as palavras da Verdade e afirmamos em pensamento as palavras de Buda. Quando, dessa forma, os três elementos se tornam um só elemento, as vibrações mentais da misericórdia de Buda se concretizam em nós, e este corpo, assim mesmo como é, torna-se um com Buda, isto é, realizamo-nos como Buda.
Buda Vairocana, pelo seu poder de amor, entra em estado leonino de concentração mental e manifesta o seu corpo magnífico (Sutra do Grande Sol)
Este trecho refere-se ao momento em que Buda-Vairocana entrou em estado leonino de concentração mental e manifestou o seu majestoso corpo da Imagem Verdadeira conscientizado internamente. Sobre esse fato, a interpretação da Sutra do Grande Sol, diz:
Vairocana manifesta o seu corpo protetor em cada um dos infinitos mundos de todo o Universo. E em cada um de seus corpos existem dez terras búdicas, uma infinidade de bodisatvas e uma multidão de adamantinos; e o poder polivalente e a bela fisionomia de todas essas multidões também são infinitos, tanto que preenchem todo o Universo tal como óleo de sésamo, sem deixar espaço vazio.
O corpo protetor búdico (corpo expediente, que é manifestação das ondas mentais de amor com que Buda protege a humanidade) é infinito em tamanho e quantidade, aparecendo em todas as partes, mas ele não é visível às pessoas de estado mental diferente. Buda se encontra agora, aqui e em todas as partes. A Avatamsaka Sutra também diz: "sem sair de seu lugar, subiu ao pico da montanha Shumisen".
Certa feita, o bodisatva Jogaishô (aquele que elimina obstáculos) quis saber o tamanho de Buda e pediu ao Mahamaudgalyayana para medi-lo. Essa passagem consta no primeiro volume do Dainichi Kyôsho: Mahamaudgalyayana subiu até o Jobongu, que fica na última camada de Shozenten (mundo celeste onde não há olfato, nem gustação, havendo apenas visão, audição, tato e percepção mental), e olhou para Buda, mas este continuava diante dos seus olhos, do mesmo jeito. A sua postura, a sua voz de pregação e outros detalhes continuavam exatamente iguais, sem alteração alguma. Mahamaudgalyayana usou todo o seu poder sobrenatural e foi bem longe, até outras terras búdicas, mas Buda continuava diante de seus olhos, do mesmo modo. Por mais longe que fosse, não foi possível medir o corpo de Buda, porque ele é infinito. Então, o bodisatva Jogaishô foi ele mesmo observar: atravessou mundos tão numerosos quanto os grãos de areia do rio Ganges, mas, cada vez que ele parava para olhar, via Buda fazendo pregação do mesmo jeito, diante de seus olhos. Ainda atravessou todo o Universo e foi até onde seu poder sobrenatural possibilitasse, mas Buda continuava do mesmo jeito diante dele. Isso mostra que Buda-Vairocana é a Vida central do Universo, e, como tal, identifica-se com Deus do cristianismo, que é onipresente. Não devemos pensar que Buda seja um ser antagônico a Deus apenas por causa da denominação diferente.
Assim, manifesta energeticamente o seu corpo imensurável e majestoso, no qual a palavra e a mente são iguais. Mas a palavra ou a mente não surge do corpo de Buda-Vairocana. Este pode aparecer e desaparecer em todo e qualquer lugar ilimitadamente. (Sutra do Grande Sol)
Aqui diz que Buda-Vairocana manifesta o seu corpo majestoso, sem limite e indestrutível, e isso é devido à ação ilimitada e grandiosa da unidade e da igualdade entre o corpo, a palavra e a mente. As suas palavras e o seu pensamento não são produzidos pelo corpo, como acontece com o homem, que pronuncia as palavras com a boca e produz os pensamentos por meio de vibração dos neurônios. Onde está presente o corpo de Buda-Vairocana existem, ao mesmo tempo, as suas palavras e o seu pensamento. O corpo, as palavras e o pensamento de Buda preenchem o Universo de modo uno e igual, sem limitação.
Cont...
Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 200-206
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