"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, setembro 05, 2011

"Ética de Valor Eterno" da Imagem Verdadeira 3/3


Masaharu Taniguchi


O FATOR UNIVERSAL DO “BEM”

Uma vez estabelecido que a liberdade pessoal constitui a base da moral, passemos para a seguinte questão: De que modo o homem, que é dono de plena liberdade, distingue o Bem e o mal? Afinal, o que é Bem, e o que é mal? Todos nós aprendemos, desde criança, que é preciso distinguir o Bem do mal. Portanto, todos nós deveríamos saber o que é Bem e o que é mal. No entanto, ao perguntarmos a um adulto “Qual é o fator que determina se um pensamento ou um ato de uma pessoa seja classificado como Bem (ou como mal)?”, ele não sabe como responder.

Quando se conhece a ética da Seicho-No-Ie, é muito fácil saber o que é Bem e o que é mal, pois, segundo ela, o Bem não é algo determinado por regras de conduta preestabelecidas; o Bem se fundamenta no princípio de que Deus é o único Bem: onde se manifesta Deus, manifesta-se o Bem; e onde não se manifesta Deus, não existe o Bem.

Deus é o criador de todos os seres e de todas as coisas. Em outras palavras, através da manifestação de Deus, todos os seres e todas as coisas passaram a existir. Portanto, todos os seres e todas as coisas são unos com Deus: Deus é o Pai, e todas as criaturas do mundo são filhos gerados por Ele. Todas as criaturas são, pois, partes da Vida de Deus e estão ligadas umas à outras através de Deus. Aparentemente, cada indivíduo é um ser distinto dos outros. Mas, na verdade, “eu” e “os outros” somos “uma só Vida” originada de Deus. Para amarmos realmente a Deus, precisamos amar também todos os seres e todas as coisas nascidas de Deus. A esse respeito, lemos no evangelho de São Mateus, capítulo 22, versículos 34 a 40, as seguintes palavras de Jesus Cristo: “... e um deles, doutor da lei, tentando-o, perguntou-lhe: Mestre, qual é o grande mandamento? Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu espírito. Este é o primeiro e máximo mandamento. E o segundo é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”

Também o apóstolo Paulo, em sua epístola aos Romanos (capítulo 13, versículos 8 e 9), diz o seguinte: “A ninguém deveis coisa alguma, a não ser o amor mútuo; porque aquele que ama o próximo, cumpriu a lei. Porque (estes mandamentos): não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não cobiçarás, e se há algum outro mandamento, todos se resumem nesta palavra: Amarás o seu próximo como a ti mesmo”.

E, na epístola aos Gálatas (capítulo 5, versículos 13 a 14), ele diz: “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; convém somente que não façais desta liberdade um pretexto para viver segundo a carne; mas servi-vos uns aos outros pela caridade do Espírito. Porque toda a lei se encerra nesta palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Realmente, todos os princípios morais estão contidos no Amor. Como acabamos de ver, Jesus Cristo disse: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. A Seicho-No-Ie também ensinam que devemos amar o nosso próximo. Só que, em vez de dizer “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, diz: “Amarás o teu próximo, porque tu e o teu próximo são na verdade um só ser”. Não é suficiente “amarmos o próximo como a nós mesmos”, considerando o outro como um elemento distinto de nós; devemos ter a compreensão de que “eu e meu próximo somos uma só Vida”. Todas as pessoas são extensões da Grande Vida (Deus). Portanto, “nós” e “os outros” somos um, embora pareçamos ser distintos. Na verdade, “nós” estamos nos outros, e “os outros” estão em nós. Por isso, “amar a nós mesmos” implica, necessariamente, amar também “os outros”. O apóstolo João disse, em sua Primeira Epístola: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus. E todo aquele que ama é nascido de Deus, e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. (Primeira Espístola de João – cap. 4, versículos 7 e 8).

“Deus é amor” – Dentre todas as definições a respeito de Deus, até hoje feitas, esta é a mais apropriada. Se nos perguntarem “por que devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos?”, devemos responder assim: “Porque, sendo Deus o Pai de todos nós, consequentemente “eu” e “os outros”, somos uma só vida”. Deus é a própria Essência da unidade de todos os seres. Portanto, viver com a consciência de que “eu e o outro somos um” é viver segundo a Vontade de Deus, é manifestar Deus neste mundo. “Manifestar Deus em nossa vida” consiste, num sentido um tanto impreciso, em amar o próximo como amamos a nós mesmos; porém, dizendo de modo mais preciso, consiste em amar o próximo considerando que ele é nós próprios. “Manifestar Deus” ou viver uma vida de valor eterno nada mais é do que “viver o amor”.


O QUE SIGNIFICA A FRASE “DEUS É AMOR”
“Deus é Amor” – Assim disse o apóstolo João.

O escrito japonês Takeo Arishima disse: “O amor impele-nos a querer a pessoa amada inteiramente para nós”. Isto quer dizer que o amor faz-nos sentir que somos “um só ser” com a pessoa amada, ou, em outras palavras, faz-nos ver a pessoa amada como “extensão” de nós mesmos.

Mas vejamos o que quer dizer “Deus é Amor”. Deus é a origem de tudo. Portanto, Ele vê todas as Suas criaturas como extensão de Si mesmo – eis o significado da expressão “Deus é Amor”. Se uma pessoa diz “eu amo meu filho”, isso significa que ela vê o filho como “extensão” de si mesma. A mãe que ama seu filhinho, não sente repugnância em receber, de boca para boca, a comida que ele já mastigou. Isto porque ela vê seu filhinho como parte de si mesma. As sensações de repulsa, desprezo, etc. ocorrem quando a pessoa vê o outro como um ser separado dela. Todos nós temos sempre uma pequena quantidade de saliva dentro da boca, mas nunca sentimos nojo dessa saliva, pois achamos que ela é parte de nós mesmos. Agora, vamos ver o que acontece quando cuspimos essa saliva: a partir do momento em que a lançamos fora do nosso corpo, ela passa a nos parecer repugnante, e jamais teríamos coragem de colocá-la novamente na boca. A sensação de repugnância surge como resultado da sensação de que aquilo que está fora de nós não faz parte de nós. Citemos mais um exemplo: Todos nós temos acumulada dentro dos nossos intestinos alguma quantidade de fezes, mas nunca sentimos nojo delas. Sabemos que as fezes estão dentro de nossos intestinos, mas essa ideia não nos repugna. É que, enquanto as fezes estão dentro dos nossos intestinos, consideramo-las como parte de nós. Porém, depois que as expelimos, já não as consideramos parte de nós, e achamo-las repugnantes.

Como podemos ver pelos exemplos citados, tudo aquilo que consideramos “parte de nós” ou “extensão de nós” não nos provoca sensação de repugnância. No livro Palavras de Sabedoria, de minha autoria, existe a seguinte frase: “O belo existe onde há a manifestação da Vida”. Alguns estilos de obras artísticas não nos parecem belos à primeira vista. Mas, observando-os atentamente, começamos a captar o belo que nelas existe. Isto porque descobrimos a Vida que está manifestada nelas e sentimos que essa Vida é a mesma “Vida” que existe em nós. Em outras palavras, sentimos o “belo”, porque nos identificamos com a obra. Do ponto de vista da Seicho-No-Ie, o “belo” e o “amor” são, em sua essência, a mesma coisa, pois ambos são manifestações da Vida. E captamos o “belo” e o “amor” em todos os seres e todas as coisas, quando compreendemos que neles está manifestada a mesma “Vida” que existe em nós.


“AMAR A DEUS” É SENTIRMO-NOS UNOS COM DEUS

“Deus é Amor”. A sensação de amor é a identidade entre “eu” e o “outro”. O contrário do amor é a ausência dessa identidade, é a discriminação. Discriminar é repelir tudo e todos, pensando: “Isso não é parte de mim”, “ele não é parte de mim”, etc. Quando nós, membros da Seicho-No-Ie, dizemos que “o homem é uno com Deus”, algumas pessoas contestam dizendo: “Como pode o homem, mortal e tão insignificante, ser filho de Deus? Que presunção afirmar que o homem é uno com Deus! Deus é nosso Senhor, e nós, seres humanos, não passamos de seus humildes servos”. Elas nos criticam, dizendo que somos muito irreverentes, porque afirmamos que “todos nós somos unos com Deus”. Muitas dessas pessoas que nos criticam são cristãs. Por isso, quero lembrar-lhes as seguintes palavras de Cristo: “... Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e o máximo mandamento” (Mateus 22: 37-38).

Nessa frase, a palavra “Senhor” deve ser entendida como sinônimo de “Altíssimo”, e não como o de “amo” (em relação a servo). Portanto, o trecho da Bíblia acima citado significa o seguinte: “Amarás o Deus Altíssimo de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e o máximo mandamento.”

Então, o que significa “amar a Deus”? Como já foi explicado anteriormente, “amar” alguém é reconhecer a nossa unidade com essa pessoa. “Amar o cônjuge” é reconhecer a nossa unidade com o cônjuge; “amar o filho” é reconhecer a nossa unidade com o filho; “amar o próximo” é reconhecer a nossa unidade com o próximo. “Amar a Deus” é, pois, reconhecer a nossa unidade com Deus. E isto é fundamental. Quando temos a compreensão básica de que “somos um com Deus” (ou seja, quando realmente amamos a Deus), é-nos fácil e natural o cumprimento dos mandamentos específicos, tais como “não matarás”, “não furtarás”, “não cometerás adultério”, “não dirás falso testemunho”, etc. Não é possível amar realmente a Deus, sem termos a consciência da nossa unidade com Ele, da mesma forma que é impossível amarmos realmente o nosso filho sem termos a consciência de que “ele é meu filho verdadeiro; portanto, ele e eu somos unos”. Se pensássemos: “essa criança não é parte de mim; não há vínculo vital entre mim e ela”, não poderíamos amá-la tão profundamente como quando temos a consciência da unidade acima referida. Mesmo que nos esforcemos para isso. Para amarmos realmente a Deus, é imprescindível termos a compreensão fundamental de que “somos unos com Deus”.

Existem muitas pessoas que pensam que a relação entre Deus e o homem é a de “Senhor e criado”, e esforçam-se para amá-Lo, por temerem ser repreendidas ou castigadas se não o amarem. Mesmo que essas pessoas pratiquem atos que pareçam ser a manifestação do amor a Deus, isso é apenas simulação, e não a expressão do Amor verdadeiro. Só podemos amar verdadeira e plenamente a Deus, quando alcançamos a compreensão fundamental de que “Somos filhos de Deus, a nossa Vida é uma com a Vida de Deus. Somos, por assim dizer, o próprio Deus manifestando-Se neste mundo fenomênico”. Aquele que se esforça para amar a Deus sem ter essa compreensão fundamental é comparável a um padrasto (ou uma madrasta) que se esforça para amar o enteado, sem se sentir uno com ele. Seu esforço será em vão, e o seu amor apenas uma encenação.

Com base no que foi explicado acima, podemos concluir que o “Bem fundamental” a que devemos visar consiste na conscientização da nossa unidade com Deus. Tomando emprestada a forma de expressão que Jesus costumava usar, podemos dizer: “Reconhecerás o fato de que tu és uno com Deus. Este é o primeiro e máximo mandamento. Reconhece em primeiro lugar este Bem fundamental, e todas as coisas boas ser-te-ão dadas de acréscimo”. Reconhecer a nossa unidade com Deus não é, de modo algum, uma ofensa a Deus. Pelo contrário, não reconhecer isso é que ofenderia a Deus, pois seria o mesmo que não O amar verdadeiramente.

Na parte inicial deste capítulo, escrevi que “Em síntese, a verdadeira finalidade do ser humano nesta vida consiste em manifestar neste mundo a Vida de Deus, ou seja, em viver de modo a manifestar Deus neste mundo”. Mas, para manifestarmos neste mundo a Vida de Deus, precisamos, antes de mais nada, compreender que “somos originariamente unos com Deus”. Se não tivermos a consciência de que “somos unos com Deus”, não poderemos manifestar neste mundo a Vida de Deus, ou seja, não conseguiremos viver de modo a manifestar Deus neste mundo. Somente os seres divinos (os que são unos com Deus) podem manifestar a Vida de Deus neste mundo. Se não fôssemos originariamente seres divinos, não poderíamos manifestar a Vida de Deus neste mundo, por mais que nos esforçássemos.

Como todos sabem, Deus é Bem. Chegamos, pois, à conclusão de que, se existisse uma pessoa que não fosse um “ser divino”, ela jamais poderia alcançar o Bem, por mais que tentasse. Mas, felizmente, o ser humano é originariamente filho de Deus. Podemos dizer que, em sua essência, o ser humano é o próprio Deus. Portanto, quando ele vive a vida do “homem real”, isto é, vive de acordo com a sua verdadeira natureza de filho de Deus, está manifestando Deus neste mundo.


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 13", pgs. 80 à 88)


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