Masaharu Taniguchi
A LEI DA MATÉRIA TAMBÉM É A LEI DE DEUS?
Além das que foram citadas acima, existe uma outra visão do mundo; aquela que reconhece Deus como origem única do Universo, mas admite um mundo dualístico onde se confrontam a lei da matéria e a Lei do Amor, explicando que tanto uma como a outra são Leis de Deus, já que foi Ele quem criou o mundo da matéria e o mundo da mente. Mas, se analisarmos os acontecimentos desta vida segundo essa visão do mundo, chegaremos à conclusão de que frequentemente a “Lei do Amor” é vencida pela “lei da matéria”.
Por exemplo: Existem casos como o daquela pessoa que, por ter praticado um ato de amor, lançando-se às águas geladas do rio para salvar uma criança prestes a se afogar, pegou pneumonia e acabou morrendo. Ou casos de pessoas que, por terem tratado de um tuberculoso, ficaram contaminadas e acabaram morrendo primeiro. Podemos concluir que, em tais casos, a lei da matéria prevaleceu à Lei do Amor. Se a “lei da matéria” fosse realmente lei da natureza estabelecida por Deus, a conclusão lógica seria que “obedecer à lei da matéria é obedecer à lei de Deus”. Se assim fosse, quem não salva uma criança prestes a se afogar na água gelada estaria vivendo de acordo com a Lei de Deus. Quem não cuida de pessoas tuberculosas estaria vivendo de acordo com as Leis de Deus. Mas, que seria deste mundo, se isso fosse verdade, e se as pessoas procedessem assim? Seria um mundo absurdo, frio e cruel, onde a “Lei do Amor” seria totalmente desprezada; onde o destino das pessoas seria determinado unicamente pela lei da matéria; e onde a vitória caberia aos indivíduos desumanos e astuciosos que se aproveitam da lei da matéria. Seria, enfim, um mundo oposto ao mundo paradisíaco, ao mundo ideal.
A Verdade é que, enquanto houver a crença errônea de que “a lei da matéria” também faz parte da “Lei de Deus”, não será possível fazer prevalecer neste mundo a “Lei do Amor”. Para fazer prevalecer neste mundo a “Lei do Amor”, é preciso compreender e assimilar a visão do mundo da Seicho-No-Ie, que é a seguinte:
“A matéria não é existência real. Portanto, a lei da matéria também não é existência real. A matéria é, na verdade, projeção da mente. E a chamada ‘lei da matéria’ é, em última análise, a ‘lei da concretização dos pensamentos’. Assim, é perfeitamente possível alterar as reações químicas da matéria através da mudança de atitudes mentais. Por exemplo: quem mantém arraigada em sua mente a ideia de que ficará resfriado se entrar na água gelada, realmente ficará resfriado ao fazer isso. Mas quem não tem essa ideia arraigada na mente, não ficará resfriado mesmo que se lance na água gelada. Quem acredita realmente que o contato com os bacilos da tuberculose resulta inevitavelmente em contágio, contrairá a doença ao se expor a esses bacilos. Mas quem não mantém essa crença não ficará tuberculoso, mesmo em contato com os bacilos da tuberculose. Se ocorrem, às vezes, casos de adoecimento ou morte em consequência de um ato de amor altruístico, isso não é devido a uma Lei de Deus chamada ‘lei da matéria’, mas sim à Lei da concretização dos pensamentos.”
Enquanto mantivermos uma atitude mental ambígua, acreditando que “tanto a Lei do Amor como a lei da matéria são Leis de Deus”, não alcançaremos a verdadeira compreensão do que seja a “lei do Amor” e a “Lei de Deus”. E dificilmente surgirá a firme determinação de partirmos para um ato de amor ignorando a lei da matéria. Somente quando assimilarmos a “visão do mundo”, tal como a da Seicho-No-Ie, e passarmos a ter a firme convicção de que um ato de bondade e altruísmo nunca nos leva ao adoecimento ou à morte, tornamo-nos capazes de nos dedicarmos aos nossos semelhantes com amor e altruísmo, sem receio de coisa alguma.
A LIBERDADE PESSOAL CONSTITUI A BASE DA MORAL
Que seria do homem se fosse verdade que “mesmo uma vida dedicada à manifestação de amor altruístico resulta numa vida prática desafortunada, quando as circunstâncias materiais são adversas”? Que seria dele se fosse verdade que “quando a vida dedicada ao amor altruístico se choca com a lei da matéria, esta vence a Lei do Amor, e, consequentemente, a pessoa é derrotada, humilhada e aniquilada”? Se isso fosse verdade, o homem seria apenas um fantoche controlado pela implacável força material, e não poderia alcançar a verdadeira liberdade.
Se não houvesse a “verdadeira liberdade de ação”, não poderia haver “atos humanos” espontâneos. Se os atos humanos fossem atos mecânicos em vez de resultados da vontade própria, esses atos não seriam nem bons nem perversos. Se fosse verdade que “mantendo-se a bondade na mente mas sem manifestá-la exteriormente atinge-se o objetivo do Bem”, ou seja, se a liberdade pessoal significasse apenas liberdade interior (liberdade de pensamento) e não liberdade exterior (liberdade de atos) – então seria impossível existir uma verdadeira moral que abrangesse tanto o universo interior como o universo exterior do indivíduo. A liberdade e o Bem não passariam, então, de “sonho”.
Se a liberdade do homem fosse apenas interior, ele não poderia concretizar o “Bem”, não poderia manifestar o “Bem” na vida prática. Mas o fato é que nós, seres humanos, procuramos manifestar concretamente o Bem na vida prática, através das palavras e dos atos. Nossa alma busca alguma forma de Bem, e não consegue ficar indiferente a valores como “bondade”, “humanitarismo”, “amor, “misericórdia”, etc. Isto porque, no âmago do nosso ser, existe a consciência básica de que somos livres tanto no nosso mundo interior como no mundo exterior (isto é, temos liberdade tanto de pensamento como de palavras e atos) e somos capazes de concretizar o “Bem”.
“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e presida aos peixes do mar, e às aves do céu, e aos animais selváticos, e a toda a terra, e a todos os répteis que se movem sobre a terra. E criou Deus o homem à Sua imagem” (Gênesis, 1:26-27). Esta é a descrição da verdadeira identidade do homem, feita sob inspiração pelo autor do livro do Gênesis. Nós, seres humanos, somos feitos à imagem de Deus e dEle recebemos o poder de presidir a todas as coisas. É claro, portanto, que também nos foi dada a liberdade de controlar perfeitamente o mundo que nos cerca. Mas, enquanto admitirmos o confronto entre o nosso mundo interior e o mundo exterior, e acreditarmos que “o ser humano está em constante luta com o iníquo mundo material para impor o Bem”, seremos levados a admitir também que o ser humano não possui a verdadeira liberdade que abranja tanto o seu mundo interior como o mundo exterior. E, não tendo essa liberdade, o homem não poderá concretizar o verdadeiro Bem. O Bem prevalecerá apenas no plano ideal, e, na vida prática, estará sujeito à humilhação e à derrota.
Para fazermos prevalecer o valor e a autoridade do Bem tanto no nosso mundo interior como no mundo exterior, devemos ter como base a seguinte tese da Seicho-No-Ie: A liberdade de pensamento é, ao mesmo tempo, liberdade de ação. O que foi criado na mente, infalivelmente se concretiza no mundo material. Na verdade, o mundo mental e o mundo exterior (mundo material) são duas faces de um só mundo – ou, mais explicitamente, o mundo exterior é projeção do mundo mental. Sem a compreensão desta “visão do mundo” da Seicho-No-Ie, é impossível entender o fundamento da moral, que é a liberdade do homem, tanto no seu mundo interior como no mundo exterior.
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