- Rav Yehuda Berg -
PARTE QUATRO: O JOGO, O NOSSO ADVERSÁRIO E A ARTE DA TRANSFORMAÇÃO ESPIRITUAL
O JOGO MAIS ANTIGO
Imagine 22 pessoas reunidas num campo de futebol. Todas são dotadas de um talento atlético extraordinário, no nível de Pelé, Garrincha, Rivelino e Didi. Recebem todo o equipamento necessário para jogar futebol: a bola, chuteiras, uniformes, as traves. Tem até torcida.
Mas suponha que lhes falte um ingrediente vital — as regras do jogo. Essas 22 pessoas nunca ouviram falar de futebol e não têm absolutamente a mínima idéia do que seja. O que aconteceria se fosse dito a todos esses jogadores que jogassem um jogo chamado futebol, e não lhes fosse permitido deixar o campo até serem tão capazes quanto campeões de uma Copa do Mundo?
Imagine o caos! Brigas. Discussões. Frustração. Desistências. Alguns jogadores talvez façam suas próprias regras. Embora dotados com os atributos de craques do futebol, só o que conseguem produzir é um pandemônio.
De acordo com a Cabala, não importa quanto talento possuímos. Sem as regras do jogo, o resultado é o caos. O que nos leva a um jogo bem mais antigo que o futebol, e bem mais misterioso. O livro de regras deste jogo tão desafiante foi registrado num antigo manuscrito cabalístico há cerca de 2.000 anos. O livro se chama o Zohar, e ele contém todos os segredos espirituais que dirigem o Jogo da Vida.
Segundo a sabedoria do Zohar, cada um de nós é um Pelé em potencial no jogo da vida. Cada um de nós nasce neste mundo com um enorme talento. Mas para a maioria de nós, esse talento acaba não sendo aproveitado — porque temos jogado o jogo sem saber como ele deve realmente ser conduzido.
A Cabala definitivamente nos dá regras, mas sem impor constrangimentos para nossa experiência diária do mundo. Em vez disso, ela apresenta um conjunto de leis espirituais universais que nos liberam e nos dão poder, em corpo e em alma. Essas leis são os 14 Princípios Espirituais que estão sendo apresentados ao longo deste livro.
Antes de podermos começar a entender os princípios espirituais da Cabala num nível mais profundo, contudo, temos que superar um obstáculo. Aquelas pessoas talentosas no campo de futebol agora têm um livro de regras, mas suponha que tivessem os olhos vendados antes de entrarem em campo. Apesar de saberem as regras, não podem enxergar. E assim, permanece o caos!
De acordo com a Cabala, cada um de nós vem a este mundo com uma venda nos olhos. Antes de podermos continuar aprendendo as regras do jogo da vida e de podermos verdadeiramente agir a seu respeito, temos que retirar a venda dos olhos e descobrir uma coisa especialmente importante — Quem é o nosso adversário?
CONTRA-INTELIGÊNCIA
Por que a natureza humana parece ser tão orientada em direção a um comportamento autodestrutivo? Por que nos ocupamos de atividades que sabemos serem ruins para nós, mesmo quando não queremos? Por que deixamos de fazer o que é bom para nós em troca
do que é prejudicial? Por que a ambição é mais tentadora e divertida do que a generosidade? Por que é tão fácil ficarmos viciados em todas as coisas prejudiciais? Por que é tão difícil desenvolver bons hábitos?
Raiva, medo, inveja, preguiça — todos os nossos traços de comportamento negativos e destrutivos — são como a força da gravidade. Não importa o quanto nos esforcemos para pular três metros de altura, não conseguimos. A negatividade constantemente nos puxa para baixo, não importa o quanto estejamos comprometidos em nos libertar. Faz parte de nossa natureza.
Mas viemos a este mundo para mudar nossa natureza! Este é o acordo que foi fechado no Mundo Infinito. Nós, o Receptor, não receberíamos mais a plenitude verdadeira e duradoura a não ser que removêssemos o Pão da Vergonha, a não ser que antes transformássemos a nossa natureza reativa em proativa. Mas esta tarefa é extremamente difícil. A bem dizer é quase impossível. Por que a natureza humana tende tanto para o lado negativo?
O ADVERSÁRIO
A mudança verdadeira é tão difícil porque, como em qualquer jogo, enfrentamos um adversário no jogo da Criação, um adversário que tenta constantemente influenciar e controlar o nosso comportamento.
Aprendemos que, devido ao Pão da Vergonha, o Receptor queria merecer a Luz e ser a causa de sua própria plenitude. Uma maneira de obter uma compreensão ainda mais profunda do Pão da Vergonha é considerar qual é o objetivo de um jogo.
Em qualquer competição atlética, o objetivo é vencer. Pode ser um grande time ou mesmo uma pequena equipe da terceira divisão do interior. Se você perguntar a qualquer jogador o que eles estão tentando realizar, ele dirá que é ganhar o jogo. Mas será que o objetivo é esse mesmo?
Suponha que um cabalista evocasse uma fórmula mágica que permitisse ao seu time vencer absolutamente todos os jogos. Não importa o que acontecesse, você ganharia sempre. Jogo após jogo. Uma temporada atrás da outra. O resultado seria sempre predeterminado, e sempre haveria a mesma vitória garantida.
Como seria isto, na verdade? Você rapidamente descobriria que o jogo havia se tornado extremamente chato. O incentivo estaria perdido.
Será, então, que podemos realmente dizer que o objetivo final é ganhar? O que realmente queremos de um jogo é o risco, o desafio, e até mesmo a possibilidade de perder. Mais do que ganhar, é o teste de nossa habilidade que faz tudo valer a pena.
É o conceito de perder que dá definição, existência e sentido ao conceito de vencer. Nós "tínhamos tudo" no Mundo Infinito. Exceto uma coisa: a capacidade de adquirir, de merecer, e de ser a causa da plenitude que a Luz nos concedia. Assim, rejeitamos a Luz para nos tornarmos como a Luz — para nos tornarmos os criadores de nossa própria plenitude.
Queríamos a oportunidade de jogar por nós mesmos o jogo da Criação, de arriscar perder, temporada após temporada, vida após vida, em troca desta chance única de ganhar tudo e trazer o troféu para casa. Só então poderíamos ter a possibilidade de conhecer sentimentos genuínos de realização e felicidade. Só então poderíamos verdadeiramente maximizar o nosso poder de ser proativos. Se não nos testássemos até o nível mais alto possível, a semente proativa divina dentro de nós jamais floresceria completamente.
Como atletas olímpicos espirituais, devemos nos treinar mental e espiritualmente para que a parte divina de nossa natureza possa se desenvolver e se manifestar. Este treinamento satisfaz a nossa necessidade de merecer e de criar a Luz em nossa vida, e erradicar o Pão da Vergonha.
A FIRMA
Um homem constrói a partir do nada uma firma que se torna uma corporação multimilionária. Depois de dirigir a firma durante 25 anos, ele decide se demitir de seu cargo de diretor executivo. Ele passará a ser presidente do conselho, um cargo mais honorário do que prático.
Vendo que sua filha é abençoada com talentos iguais aos seus, o homem outorga a ela a propriedade de 50 por cento do negócio, e também o cargo que lhe pertencia. No entanto, a promoção causa um problema para a jovem. O sangue, o suor e as lágrimas de seu pai — e não o seu próprio — construíram a companhia, e apesar de o pai ter dado a companhia a ela por amor, admiração e respeito, a jovem sente como se tivesse recebido uma esmola.
A filha obviamente adoraria ter a propriedade de metade da empresa e o cargo de diretora executiva, mas, sob as condições corretas. Ela então concebe um plano. A companhia emprega milhares de pessoas e, por isso, na verdade ninguém sabe quem ela é. Ela decide pedir um emprego no setor de estoque. Trabalha duro durante vários meses. Depois de algum tempo, ganha uma promoção. Mais tarde, ganha outra. Continua trabalhando extremamente duro ao longo dos anos, e através de incontáveis horas de esforço, determinação, e com a cabeça para os negócios que herdou, ela aprende todos os aspectos operacionais, à medida que sobe a escada do sucesso. Enfim, ela trilha o seu caminho até o topo da firma e se torna presidente e diretora executiva.
Qual a diferença entre ter herdado a propriedade do negócio e ter subido todos os postos? A diferença é que, na sua própria cabeça, a filha não tinha merecido de fato a propriedade até ter labutado seu próprio caminho até o topo, vindo de baixo.
A filha sabia que uma vez que tivesse alcançado a liderança através de suas próprias ações, poderia desfrutar de tudo que seu pai tinha pretendido para ela. Além disso, só através desse processo o objetivo do pai estaria realizado por completo.
É importante entender que em nenhum momento durante a subida da filha pela escada da corporação o pai poderia ter interferido. Se a sua filha tivesse sentido qualquer dor ou revés, ou mesmo se tivesse sido despedida, o pai teria que se manter fora do caminho e permitir que ela resolvesse as coisas por si própria, não importando o quanto isto pudesse ser doloroso.
Mas o pai tinha confiança em sua filha. Afinal, ele a criou e sabia que ela era abençoada com as mesmas características que ele próprio possuía. Sabia que uma vez que tivesse trilhado seu caminho até o topo pelo próprio mérito, ela chegaria a verdadeiramente conhecer e apreciar o maravilhoso sentimento de realização e plenitude de ser proprietário da companhia.
Nesta história, a filha é uma metáfora para nós — o Receptor — e o pai é uma metáfora para a Luz. O Receptor precisa expressar sua natureza proativa herdada para remover o Pão da Vergonha. Para sermos proativos, temos que primeiro ser reativos. E para sermos reativos, precisamos do desafio. Para fazer com que essa transformação de reativo para proativo seja significativa, válida e completa, precisamos de um adversário poderoso para nos testar.
Quem é o nosso adversário?
BATALHA INTERNA
Há dois mil anos, o Zohar revelou o nosso adversário. O Zohar identificou inclusive as diversas técnicas, armas e estratégias que ele utiliza. Ele é a causa invisível do caos no mundo físico e no espírito humano. É dele a voz que sussurra: "Coma o bolo agora. Recomece a dieta na segunda-feira.” É ele quem estimula sentimentos de desespero, de pessimismo, de medo, de ansiedade, de dúvidas e de incerteza. Ele fomenta também o excesso de confiança, a brutalidade, a ambição, o ciúme, a inveja, a raiva e a vingança. O adversário é a voz que diz: "Vá e faça!" embora nós saibamos que não deveríamos. O adversário é a voz que diz "Não se importe com isto!" embora saibamos que deveríamos nos importar.
E o pior de tudo: Mesmo quando queremos aplicar a Resistência em nossa vida e parar o comportamento reativo, nosso adversário sagazmente nos convence a não fazê-lo.
Por exemplo:
• Você faz uma promessa de começar a comer comidas saudáveis — mas no momento em que vê uma guloseima, o adversário o convence a adiar por mais um dia.
• Você faz uma promessa de começar a comer comidas saudáveis — mas no momento em que vê uma guloseima, o adversário o convence a adiar por mais um dia.
• Você promete passar mais tempo fazendo coisas boas com a sua família — mas alguma coisa o compele a ter uma jornada semanal de 60 horas de trabalho.
• Você está dirigindo e um transeunte precisa de algum tipo de ajuda. Seu pensamento inicial é parar e ajudar — mas o seu adversário o convence de que outra pessoa provavelmente ajudará. Você continua indo apressado para o seu encontro marcado para a hora do almoço, enquanto o adversário passa o resto do dia tecendo racionalizações para a sua falta de generosidade.
• Você se propõe a economizar um pouquinho de dinheiro todo mês e a se fiscalizar para ser mais responsável — mas a cada mês o adversário o convence a gastar tudo futilmente, oferecendo à sua mente justificativas para cada despesa.
• Você entra numa loja de comida natural e gasta um monte de dinheiro em todos os tipos de vitaminas, realmente se comprometendo a fazer um regime diário de nutrientes. Seis meses depois, as garrafas estão cheias até o meio em sua prateleira. No ano seguinte a mesma coisa acontece quando você se vê novamente na loja de comida natural. Desta vez você se promete que vai ser diferente — mas não é.
• Você é convidado para uma importante festividade familiar. Você sabe que a coisa certa a se fazer é estar presente, mas uma voz crepita dentro de você, conjurando uma desculpa esfarrapada. Em vez de ir, você fica em casa e assiste a um vídeo.
• Um amigo próximo confia em você, compartilhando um segredo pessoal. Você promete ao seu amigo (e a si mesmo) não contar para ninguém. Poucos dias depois, o adversário cutuca as palavras para fora da sua boca enquanto você está fofocando com alguma outra pessoa. Você de fato vê a si mesmo dando com a língua nos dentes, apesar de saber, enquanto as palavras escorregam para fora de sua boca, que não devia estar fazendo isto.
• Um amigo querido se muda para uma casa mais bonita que a sua, ou veste uma roupa nova ou tem um carro novo e atraente. Você diz a si mesmo que deve ficar feliz por seu amigo, mas o rosto pavoroso da inveja começa a despontar, e você não consegue controlar o seu ardor dentro de si, ainda que queira. O ressentimento e a felicidade pela outra pessoa lutam pelo controle de suas emoções.
O ADVERSÁRIO
Ao longo da história, religiões, filósofos e poetas deram nomes ao adversário, nomes que incluem Lúcifer, Belzebu, o Capeta, Mr. Hyde, a Má Inclinação, o Lado Escuro, Darth Vader, o Senhor das Trevas, a Besta, e a Bruxa Malvada do Oeste!
Não importa o nome que você escolher, os antigos cabalistas dizem que o adversário é real, muito real. Apesar de você não conseguir ver esse adversário com os seus olhos, ele é tão real quanto os átomos invisíveis no ar e tão ubíquo quanto a força invisível da gravidade. Então, esteja avisado. O adversário está observando você neste exato instante, enquanto você lê estas palavras. Seu verdadeiro nome, conforme é revelado pelos antigos sábios da Cabala, é ____ . Em português, isto se traduz como "o Satan" — pronunciando a letra "n" no final.
O Satan não é o demônio coberto de vermelho com dois chifres que segura um tridente maligno. Essas superstições serviram somente para esconder ainda mais o seu verdadeiro propósito e identidade. Seu nome é um código para o comportamento reativo, movido pelo ego, e ele é o derradeiro mestre da magia. Seu talento para enganar é mais bem resumido com uma frase do filme Os Suspeitos: O maior truque que o diabo já fez foi convencer a humanidade de que na verdade ele não existe!
O Satan nos enganou, nos fazendo acreditar que somos vítimas de forças externas e das ações de outras pessoas. Ele nos convenceu de que o nosso inimigo é alguma outra pessoa, e não a nossa própria natureza reativa. O tempo todo, ele se esconde nas sombras de nossas mentes, se ocultando nos recessos escuros de nosso ser de forma tal que nós nunca saibamos que ele existe. Ele infla os nossos egos, nos fazendo pensar que somos brilhantes e que temos controle de nossas vidas. Todas as dúvidas que você tem sobre a sua existência, são de criação dele.
E o que é mais importante, ele nos cega para a nossa própria natureza divina, de forma que nem mesmo reconhecemos nosso objetivo na vida. Pense nisto. Quantas pessoas você conhece que realmente olham para dentro a cada dia, tentando arrancar pela raiz as suas características reativas negativas? No entanto, este é o verdadeiro objetivo de nossa existência.
ALTERANDO O NOSSO DNA
Quando a força chamada Satan veio à existência, sua aparição acrescentou mais um elemento ao nosso Desejo de Receber. Foi como se o nosso DNA espiritual tivesse sido alterado, com o acréscimo de algumas letras a mais ao genoma humano. Essas letras genéticas adicionais são:
s. o. m. e. n. t. e. p. a. r. a. s. i. m. e. s. m. o.
A humanidade foi imbuída com um Desejo de Receber Somente para Si Mesmo. Este "gene egoísta" adicional vem do Satan. Esta é a única raiz e força motivadora por trás da natureza reativa da humanidade e de nosso comportamento individual impetuoso e irrefletido. É isto que torna tão difícil a transformação de intolerante para tolerante.
O Desejo de Receber simplesmente atrai e puxa energia. O Desejo de Receber pode atrair posses materiais e espirituais para nós mesmos apenas ou para o intuito de também compartilhar com os outros.
O Desejo de Receber Somente para Si Mesmo, entretanto, não deixa nem um bocado e nem uma porção para mais ninguém. Como um buraco negro no espaço, esse desejo consome tudo que está em seus arredores, a tal ponto que nem mesmo a própria Luz espiritual pode escapar do seu poder.
A DIFERENÇA ENTRE DESEJO DE RECEBER E DESEJO DE RECEBER SOMENTE PARA SI MESMO
Desejo de Receber é quando você vê a propriedade espiritual ou física de uma outra pessoa e o desejo pela mesma propriedade é despertado dentro de você. Mas, o Desejo de Receber Somente para Si Mesmo é quando você adquire uma propriedade material, como um carro ou uma nova roupa de um estilista, e ainda assim se sente mal e tem inveja de seu vizinho que comprou a mesma coisa, apesar de que isto não diminui de forma nenhuma a sua própria propriedade. Em outras palavras, ninguém mais deveria ter, só nós mesmos.
O Desejo de Receber Somente para Si Mesmo é manipulado e controlado pelo nosso adversário da seguinte maneira.
CAMPOS DE BATALHA
"Descobrimos que o Universo demonstra evidências de um Poder planejador ou controlador que tem algo em comum com nossas próprias mentes." (- Sir James Jeans, físico)
A batalha contra o nosso adversário vem sendo travada há muito tempo. Contudo, ela ocorre num terreno muito turvo e mal compreendido, que vem a ser a paisagem da mente humana. Mas antes de podermos realmente entender o que isto significa para nós, precisamos compreender o que é a mente, na verdade.
Suponha que um selvagem primitivo se aventure a sair da selva, sem ter nenhum conhecimento do mundo moderno. Ele encontra um rádio transistor tocando música, e olha para ele espantado, achando que a caixa é a fonte da música. Ele abre o rádio, e acidentalmente puxa o transistor, retirando-o. A música pára. Isto o convence de que o rádio é a fonte. Na verdade, ele pensa que matou a pobre criaturinha. Nós, é claro, sabemos que a fonte da música é na verdade alguma estação de rádio que transmite pelas ondas no ar, a uma distância de muitos quilômetros...
A Cabala ensina que os nossos pensamentos não se originam na matéria física do cérebro, assim como a música não se origina no objeto físico de um rádio. Em vez disto, o cérebro é como uma antena, uma estação receptora que capta um sinal e depois o retransmite para a mente consciente.
Durante a década de 1950, o brilhante neurocirurgião Wilder Penfield iniciou uma extensa pesquisa sobre o fenômeno da mente-cérebro. Seu objetivo era explicar como a consciência emergiu da matéria física do cérebro. Depois de 40 anos de estudo profundo, Penfield admitiu que havia fracassado. Em Mistério da Mente (Princeton University Press, 1975), um livro notável que detalha décadas de sua pesquisa, Penfield escreveu: "A mente parece agir independentemente do cérebro da mesma maneira como um programador age independentemente de seu computador, não importando o quanto ele possa depender da ação do computador para determinadas finalidades."
Mas quem — ou o que — é este programador?
GUERRA DE AUDIÊNCIA
De acordo com a Cabala, duas e estações de transmissão cósmicas — a Luz e o Satan — emitem sinais para os nossos cérebros. É uma batalha pela audiência da mente — uma batalha maior e bem mais importante do que as que são travadas pelas principais redes de comunicações!
Se pudéssemos aprender como distinguir quais pensamentos vêm da Luz e quais pensamentos têm origem no Satan, poderíamos recuperar o controle de nossas vidas.
Um bom ponto de partida é o seguinte:
Qualquer pensamento que seja alto e claro e que nos encoraje a reagir a uma situação é o Satan.
Qualquer pensamento que nos diga que nós somos os arquitetos de nosso próprio sucesso e que nós sabemos mais do que os outros, é mais uma vez a voz do Satan. A noção de que os nossos pensamentos são reações químicas no cérebro também é criação de nosso desonesto adversário.
Se um pensamento é dificilmente audível, uma voz fraca que emana dos recessos de nossas mentes, ele é a canção da Luz. Ou se há um súbito clarão de intuição, um impromptu de inspiração, a transmissão está se originando do plano do 99 por cento.
Essas duas freqüências nas ondas aéreas de nossas mentes se expressam da seguinte maneira:
• Os pensamentos do Satan se manifestam como nossas mentes racionais e lógicas e como nossos egos.
• O sinal da Luz se manifesta como intuição, sonhos e como uma voz fraca e quieta no fundo de nossas mentes.
Geralmente não estamos em contato com a nossa intuição. Como resultado, o Satan domina as ondas aéreas da mente, tocando seguidamente uma determinada música que é sucesso — a música chamada Reação!
O segredo para tomarmos controle de nossas vidas é cortar o sinal do Satan. Quando paramos os nossos impulsos reativos, literalmente desligamos sua transmissão.
Quando temos sucesso nisto, mesmo que por um momento, o sinal da Luz fica livre para preencher aquele espaço. Nossas vidas e nossas decisões passam a ter raiz na sabedoria infinita. Automaticamente, fazemos as escolhas corretas. Os pensamentos certos vêm para nossas mentes. As palavras per feitas são ditas. Emoções proativas aparecem. As melhores idéias imediatamente afloram. De repente enxergamos a sabedoria profunda num argumento oposto colocado por um colega, amigo ou parceiro. Mas para impedir que isto aconteça, o nosso adversário têm à sua disposição algumas estratégias aguçadas e alguns armamentos moderníssimos.
TÁTICA
O único objetivo do Satan é aguçar em nós o Desejo de Receber Somente para Si Mesmo para que nos desconectemos da Luz. Sua tática principal é simplesmente apertar o nosso botão reativo o dia inteiro. Quando esse botão é apertado, somos consumidos por pensamentos negativos, impulsos egoístas e desejos egocêntricos decorrentes do Desejo de Receber Somente para Si Mesmo.
Desta forma, perdemos o contato com a nossa essência, a nossa alma. Mais um pano é colocado em cima da lâmpada. A cortina entre o 1 por cento e o 99 por cento fica mais grossa. Há mais escuridão em nossas vidas. Dessa escuridão emerge o caos.
Mas quando proativamente reconstituímos a Resistência original — executada pelo Receptor no Mundo Infinito — ao nos recusarmos a reagir, puxamos uma alavanca de emergência que cancela o botão reativo que o Satan apertou. Essa alavanca ativa uma válvula interruptora que imediatamente corta as emoções reativas que inundam nossos corpos. Deixamos de ser reativos. Somos proativos. Fizemos contato com as nossas almas. E é neste instante que a Luz do outro lado da cortina ilumina as nossas vidas.
O QUE ESTÁ EM CIMA FICA EM BAIXO, O QUE ESTÁ EM BAIXO FICA EM CIMA
O cabalista Rabi Yehuda Ashlag, o místico do século XX, disse que as pessoas geralmente percebem os eventos como o oposto exato de seu verdadeiro estado de realidade, por causa de sua visão limitada da realidade.
Para ilustrar este ponto, ele ofereceu este experimento mental simples:
Imagine um homem que viveu em total isolamento desde o nascimento. Nunca observou uma criatura viva, seja humana ou animal, em toda a sua vida. Diante dele estão um hipopótamo recém-nascido e um bebê humano recém-nascido. Ele observa os dois. O bebê obviamente não é capaz de cuidar de si mesmo. Não consegue engatinhar, quanto mais andar, e precisa ser carregado de um lugar para o outro. Não é capaz de comunicar claramente as suas necessidades e nem de se alimentar sozinho. O bebê não percebe por completo as suas cercanias. Se irrompesse um fogo perto dele, por exemplo, nem perceberia o perigo. Basicamente, o recém-nascido está desamparado. O bebê hipopótamo, porém, imediatamente percebe o seu ambiente. Sabe fugir do fogo. Consegue se alimentar. Cinco minutos depois do nascimento, o hipopótamo recém- nascido consegue andar e nadar.
A que conclusão o nosso observador isolado chegaria? Provavelmente ele acharia que o hipopótamo é uma criatura mais avançada do que o bebê. Rav Ashlag ensinou que quanto mais avançada é uma criatura no começo do crescimento, menos desenvolvida ela será no final. Inversamente, quanto menos avançada é uma criatura no começo do seu desenvolvimento, mais avançada e evoluída ela será no final.
O mesmo princípio funciona em todas as áreas da vida. Oportunidades que parecem promissoras no início acabam se tornando um desastre, enquanto situações aparentemente sem esperança inesperadamente demonstram ser bênçãos disfarçadas. Julgamos mal as situações porque nos falta a capacidade de perceber tanto os efeitos em curto prazo quanto o resultado a longo alcance. Nós reagimos ao momento.
A Cabala ensina que com enorme freqüência o resultado final de qualquer processo na vida será o oposto exato da primeira impressão. Nosso adversário tenta reverter essa verdade espiritual incitando reações ao momento atual.
A ARMA DO TEMPO
A Cabala define o tempo como a distância entre a causa e o efeito. O tempo é a separação entre a ação e a reação. O tempo é o espaço entre a atividade e a repercussão, e o divisor entre o crime e a conseqüência. Mas o tempo causa destruição em nossas vidas. Ele cria a ilusão de caos quando, na verdade, existe uma ordem oculta. Nossos cinco sentidos nos impedem de ver através da ilusão do tempo.
Para nós, parece que o passado se foi e que o futuro ainda não chegou. No entanto, o passado e o presente estão sempre conosco. Dois mil anos depois de os antigos cabalistas terem revelado este conceito, Einstein fez asserções semelhantes. São unicamente os limites de nossa consciência que nos impedem de perceber o ontem — e o amanhã — neste exato instante!
Mas como o passado, o presente e o futuro podem todos existir ao mesmo tempo? Imagine um prédio de 30 andares. Estamos agora no 15° andar, que representa o momento presente. Os andares de 1 a 14 representam os incrementos de tempo que nos trouxeram até este momento. Os andares de 16 a 30 representam o futuro de nossas vidas. O que nós percebemos atualmente com os nossos cinco sentidos? Somente o 15° andar. Não podemos ver os andares de baixo e nem os andares de cima. Contudo, todos os andares — isto é, o passado, o presente e o futuro — existem como um todo unificado: o prédio de 30 andares inteiro. E se nós formos para fora do edifício e olharmos de longe, poderemos ver todos os 30 andares juntos!
Este é um belo conceito abstrato para manter a mente ocupada, mas qual é a lição para a nossa vida? O que nos importa se o tempo na verdade é unificado? Quem se importa com o fato de que o amanhã está aqui agora? Não podemos ver o amanhã e não podemos perceber o ontem, então que bem nos traz esta informação?
Boas perguntas, e há uma lição a ser aprendida.
TÁTICA DE IMPEDIMENTO
A ilusão do tempo cria uma distância entre a causa e o efeito. Há um espaço entre o comportamento e sua conseqüência. Existe uma separação entre as nossas ações e as suas repercussões. Esta distância impede que percebamos as conexões entre os eventos de nossas vidas. Podemos ter plantado uma semente negativa há 30 anos mas, até ela brotar, esquecemos a semente. Por fim, uma árvore (caos) apareceu "de repente", do nada. Só que nada acontece por acaso. Tudo pode ser seguido até encontrarmos alguma semente plantada em nosso passado. O tempo simplesmente nos faz esquecer a ação causadora original. O caos parece ser repentino porque o tempo separou a causa do efeito.
O TESTE DO TEMPO
Quando nos comportamos proativamente, o Satan usa o tempo contra nós para sabotar nossas realizações. Assim como o caos pode ser postergado, a Luz que nos é devida também pode ser postergada. Se pensamos ter sido proativos, mas ficamos nos perguntando quando receberemos a Luz, nosso adversário venceu mais um round.
Tratava-se apenas de uma tática de atraso enganadora para nos incitar a reagir com dúvida e descrença. Se aplicamos a Resistência em uma situação e o nosso adversário joga um pouco de tempo no processo, a Luz espiritual devida pode não reluzir imediatamente. Considere o atraso como um teste adicional para garantir que nossa resposta proativa foi genuína e profunda. Se nós reagimos ao atraso, perdemos.
Assim sendo, o tempo é também definido como a distância entre boas ações e os seus dividendos. O tempo é o espaço entre a Resistência e a recompensa.
MANIPULANDO O TEMPO
O Satan também usa o tempo de outras maneiras. Entre essas maneiras, incluem-se os conceitos de "ontem", "hoje" e "amanhã.”
• Ontem: Com muita freqüência, nos apegamos ao passado. Somos prisioneiros de sentimentos de remorso, vingança, ressentimento e de outras emoções destrutivas enraizadas em nosso passado. Nós acolhemos esses sentimentos e permitimos que eles atrapalhem nossas vidas no presente.
• Hoje: Muitos de nós acham tentador fugir dos desafios e pressões do momento presente.
Por isso procrastinamos e adiamos as coisas. Criamos falsas esperanças a respeito do futuro e vivemos negando nossa situação atual.
• Amanhã: Somos tomados pela ansiedade sobre como será. Ficamos amedrontados com o futuro desconhecido, apavorados com o amanhã. Não temos certeza de quais decisões devemos tomar ou quais serão os resultados de nossas escolhas. O medo e o temor nos consomem.
Todos esses sentimentos são reações — por termos permitido que o tempo controlasse as nossas vidas.
A ARMA DA COMPLACÊNCIA
Espiritualidade, de acordo com a Cabala, não é escalar uma montanha para comungar com Deus e com a natureza, meditando às margens de um rio cristalino enquanto os pássaros cantam a beleza do mundo. Isto é bom para uma cena poética, mas não é o propósito de nossas vidas. Assim como também não é o propósito de nossas vidas nos afastarmos do mundo físico, nos isolando no topo de uma montanha para contemplar a magnificência da natureza. De acordo com a Cabala, essas não são maneiras efetivas de alcançar crescimento espiritual.
O nosso caminho foi, por assim dizer, um descer da montanha, para penetrar no mundo do caos, das dificuldades, do tumulto e da aflição, com a finalidade de confrontar os gatilhos que acionam reações. Cada gatilho nos dá a oportunidade de transformar o nosso comportamento reativo e de remover o Pão da Vergonha. Transformação. É assim que reconstruímos o quebra-cabeça da Criação. Como diz um antigo provérbio: "Mares serenos não fazem bons marinheiros."
Na verdade, nossos traços positivos não nos fazem ganhar nenhum ponto na vida. Nossas características admiráveis e nossos talentos especiais não servem para nenhum propósito prático no que diz respeito ao estímulo de novos níveis de satisfação e Luz em nossas vidas. Esses traços já se encontram num estado proativo. Pelo contrário, são as nossas características e traços negativos que nos dão a oportunidade de efetuar uma verdadeira transformação de caráter.
Viemos a este mundo para criar mudança positiva dentro de nós mesmos e no universo ao nosso redor. A mudança positiva irá encontrar resistência, conflito e obstáculos. Devemos abraçar essas situações difíceis. Um homem pode viver numa cidade pequena, numa casa modesta com uma cerca de estacas brancas e um belo jardim do qual ele cuida o dia inteiro. É uma vida boa, uma vida tranqüila. Com a idade de 95 anos ele falece pacificamente durante o sono. Superficialmente, parece ser uma existência ideal. Mas será que era esse mesmo o seu objetivo neste planeta? Houve qualquer mudança interna na vida deste homem? Será que ele é um ser espiritual diferente, mais desenvolvido, na idade de 95 anos do que quando tinha 35 ou 65?
Algumas pessoas vivem 70 anos como se fosse um dia. Algumas pessoas vivem um dia como se fossem 70 anos. A cerca de estacas brancas, a aposentadoria precoce, o estilo de vida simples — tudo isto leva à complacência. Podem ser armas do nosso adversário. Nosso adversário irá instilar complacência dentro de nós para nos impedir de fazer mudanças internas. Então, quando é tarde demais, percebemos que a vida foi vazia e sem sentido.
Ainda pior, algumas pessoas vão para seus túmulos sem perceber que sua existência foi vazia. Lembre-se sempre que nossas características positivas não acendem o interruptor de Luz. A Luz só se acende quando identificamos, arrancamos e transformamos as nossas características reativas negativas. É o nível de mudança em nossas naturezas que determina a medida de nossa plenitude.
A ARMA DO ESPAÇO
E o que dizer de todas as pessoas que na verdade parecem ter sucesso com o comportamento reativo, egoísta? Bem, a palavra chave é parecer. Nossas ações em uma área da vida parecem não ter nenhuma relação com as conseqüências em outras áreas. Isto cria uma sensacional ilusão de espaço e de separação, e o Satan toma plena vantagem disto. Se você é um tubarão nos negócios, o Satan tem o poder de redirecionar o caos para a sua vida familiar. Se você engana seu companheiro, o Satan pode dirigir o retorno para os seus negócios.
Durante 99% do tempo, nossas vontades e desejos são implantados pelo Satan. Inversamente, quando a Luz gerada por nosso comportamento proativo nos negócios se materializa em nossa vida pessoal, o Satan nos manterá preocupados com os negócios.
Quando a Luz não se materializa como lucros maiores, assumimos que o nosso comportamento proativo não está funcionando. Não iremos notar que de repente nossos filhos estão sentindo uma ligação espiritual maior conosco. O Satan limita nossa visão e concentra a nossa atenção em situações que alimentam os nossos egos, e deixamos então de apreciar e de receber a riqueza que a vida nos oferece.
A ARMA DO DISFARCE
Uma das armas mais potentes do Satan é a capacidade de nos confundir. Nos sentimos tristes e desorientados, zangados e invejosos, e nunca sabemos quem é o nosso verdadeiro adversário.
Em meio a todas as fusões e aquisições de empresas, tomadas de poder, das grandes negociatas, das construções de riquezas, das promoções, mudanças de emprego, brigas conjugais, divórcios, ações legais, operações de ponte de safena, dos atos de calúnia, das intrigas, más línguas, racionalizações, justificativas, e de colocar a culpa nos outros, nós achamos que os adversários são os nossos vizinhos e amigos, que nos sentimos compelidos a superar com nossos carros, casas, roupas e férias. Ou achamos que o adversário é o nosso competidor nos negócios. Ou a pessoa no emprego que recebe todo o crédito pelo nosso trabalho. Ou talvez o adversário seja todo este mundo podre, todo o sistema corrompido que nos deixou na mão e nos tratou mal. Talvez por isso nossas vidas sejam tão miseráveis.
Mas não é assim. O Satan é um mestre da magia. Um mestre dos disfarces. O Satan projeta a si mesmo nas outras pessoas, de forma que você reconheça todas as suas falhas nos outros e veja o inimigo como a outra pessoa. Na realidade, você está jogando contra o Satan e nem sabe disso. Você chega até mesmo a duvidar da existência dele neste exato instante, enquanto lê um livro de Cabala que o identifica claramente!
Quando alguém lhe traz prejuízo e você reage, você perde. E o que é ainda mais extraordinário, de acordo com a Cabala você mereceu ser prejudicado por aquela pessoa por causa de algum ato negativo que cometeu anteriormente em alguma área de sua vida. É um comportamento proativo de importância crítica lembrar desta difícil verdade da próxima vez que a vida gongar em cima da sua cabeça: Sendo assim, o Sexto Princípio Cabalístico afirma: Nunca — mas nunca mesmo — coloque a culpa em outras pessoas ou em eventos externos.
DESMASCARANDO O NOSSO VERDADEIRO ADVERSÁRIO
Eis aqui uma técnica muito poderosa e prática para ajudá-lo a pôr esta regra em ação. Toda vez que alguém fizer alguma coisa realmente desagradável com você, imagine poder realmente ver o Satan sussurrando no ouvido da pessoa, causando todo o comportamento negativo. Veja a pessoa na sua frente como um fantoche indefeso, sob completa influência do Satan. Reconheça nele o culpado. Imagine-o rindo de vocês dois, enquanto tenta atiçar as chamas de ódio e de conflito entre vocês.
Como você se sente agora? Isto deve ajudar a aliviar as suas emoções reativas em relação a esta pessoa, colocando-o num estado mental melhor para o verdadeiro trabalho espiritual que começa quando você olha para dentro. E então você poderá ver que o Satan estava sussurrando no seu ouvido também. Todos os seus sentimentos negativos estavam sendo provocados por suas sugestões. Ele estava ajudando você a projetar todas as suas características negativas na outra pessoa o tempo todo. O fato é que você só pôde reconhecer e reagir às características negativas dos outros porque também as possui.
Como você se sente agora? Isto deve ajudar a aliviar as suas emoções reativas em relação a esta pessoa, colocando-o num estado mental melhor para o verdadeiro trabalho espiritual que começa quando você olha para dentro. E então você poderá ver que o Satan estava sussurrando no seu ouvido também. Todos os seus sentimentos negativos estavam sendo provocados por suas sugestões. Ele estava ajudando você a projetar todas as suas características negativas na outra pessoa o tempo todo. O fato é que você só pôde reconhecer e reagir às características negativas dos outros porque também as possui.
Um comentário:
Maravilhoso seu trabalho 👏👏👏👏
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