"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, janeiro 22, 2013

"Deus", "Buda" e "Espírito" (2/2)

Masaharu Taniguchi


Muitos budistas pregam que o mundo da Essência é um mundo abstrato, vazio e indefinido. Se assim fosse, alcançar a iluminação seria identificar-se com o mundo abstrato, vazio e indefinido. Nesse caso, um iluminado seria uma pessoa abstraída, vazia e indefinida, com vida cotidiana sem base firme; ele não saberia como viver e se retiraria para um lugar ermo a fim de se isolar do mundo das ilusões. Muitos tendem a pensar que esse é o modo ideal de viver para quem alcançou a iluminação. É por isso que entre os budistas existem pessoas de tendência eremítica, segundo as quais a ideia de concretizar o paraíso na ilusória face da Terra é um apego desprezível. Para elas, o desejo de concretizar a felicidade no mundo terreno é um apego que deve ser repudiado.

A Seicho-No-Ie, entretanto, não diz que o mundo da Imagem Verdadeira é vazio e indefinido. Obviamente, não é possível vê-lo com os olhos carnais. O mundo perceptível aos sentidos é constituído de "retícula de tempo e espaço". Ele pode ser comparado a uma fotografia estampada num jornal: a imagem fotográfica é formada de pontilhados verticais e horizontais da retícula. Se não existisse a retícula, não existiria a imagem fotográfica. De modo semelhante, o mundo da Imagem Verdadeira, para se tornar visível como mundo terreno, precisa ser projetado através da "retícula de tempo e espaço". É por essa razão que não se pode ver fenomenicamente o mundo da Imagem Verdadeira em si, exatamente como ele é. A foto impressa de uma pessoa é pontilhada, bidimensional, plana e estática, enquanto que a pessoa concreta é tridimensional, tem volume, motilidade e é dinâmica. A pessoa e sua foto se identificam, mas são substancialmente diferentes. Da mesma forma, há grande diferença entre o mundo da Imagem Verdadeira e o mundo fenomênico, entre o homem-Imagem Verdadeira e o homem fenomênico, embora parecidos. Mas o fato de serem diferentes não significa que eles sejam alheios um ao outro. O segundo é uma espécie de fotografia do primeiro. O mundo fenomênico difere do mundo da Imagem Verdadeira porque sofre as limitações impostas pela "retícula de tempo e espaço", e é justamente por isso que se pode percebê-lo por meio dos cinco sentidos. Embora perceptível, o mundo fenomênico não é o mundo verdadeiro, assim como a foto de uma pessoa não é a pessoa em si. Entretanto, a pessoa está representada na foto com a limitação imposta pela retícula impressor planográfica. De modo análogo, o mundo da Imagem Verdadeira está representado no mundo fenomênico com as limitações impostas pela "retícula de tempo e espaço". Assim como é impossível imprimir uma foto sem usar a retícula, é impossível manifestar o mundo da Imagem Verdadeira no mundo fenomênico sem usar a "retícula de tempo e espaço".

Explicando melhor, o mundo fenomênico, que vemos com os olhos carnais, possui três dimensões (comprimento, largura e altura), enquanto que o mundo da Imagem Verdadeira possui infinitas dimensões. Mentalmente, podemos admitir um mundo que possua mais uma dimensão além da altura, da largura e do comprimento, mas não podemos representá-lo de modo perceptível aos cinco sentidos. E muito mais difícil ainda é representar um mundo de quinta ou sexta dimensão. Mas não poder representá-lo não significa que tal mundo não exista. Como já disse anteriormente, uma pessoa, ao ser representada em foto, perde muito de seus aspectos, tais como a espessura, a motilidade ou as sutis nuanças de cores que não aparecem nem em foto colorida. Também o mundo da Imagem Verdadeira, ao aparecer como existência tridimensional e perceptível aos sentidos, sujeita-se a limitações do tempo e do espaço, despojando-se de outras dimensões e de inúmeros aspectos complexos. Em outras palavras, o mundo fenomênico é aquele que ficou no "coador tridimensional", através do qual foram eliminadas as outras dimensões.

E como será o mundo infinitodimensional que não se submeteu ao "coador tridimensional", isto é, que não foi despojado das dimensões invisíveis? Ele não é um mundo amorfo, vazio e indefinido. É um paraíso infinitamente belo e majestoso, impossível de ser apreciado por nossos sentidos limitados pelas três dimensões. E nele há pessoas infinitamente belas e uma infinidade de seres belos em estado perfeito e harmonioso. Esse paraíso, que é o mundo da Imagem Verdadeira em seu estado natural e normal, não é perceptível aos cinco sentidos. Para se tornar perceptível, é preciso que dele sejam suprimidas a quarta, a quinta, a sexta, ...n dimensões, até a infinitésima dimensão, por meio da "retícula de tempo e espaço", mantendo-se apenas as primeira, segunda e terceira dimensões. Assim é que se manifesta o mundo fenomênico visível a nossos olhos. E este mundo, apesar de colorido, não retrata toda a beleza de matizes do mundo da Imagem Verdadeira, do mundo infinitodimensional; retrata apenas palidamente, dada a pobreza de recursos cromáticos existentes na Terra. Quem pratica a Meditação Shinsokan pode às vezes ter, pela clarividência, uma visão momentânea dessa beleza superior. Torna-se inclusive capaz de ver luzes diferentes da luz física, em forma de aura que envolve as pessoas ou as plantas. Todavia, essa beleza vista pela clarividência não traduz ainda a verdadeira beleza do infinitodimensional mundo da Imagem Verdadeira.

Em suma, quero dizer que o mundo da Imagem Verdadeira não é um mundo amorfo, indefinido e vazio. É um mundo tão maravilhoso que é impossível imaginá-lo e muito menos expressá-lo em palavras. É até preferível não dizer nada, pois a comparação com belezas do mundo fenomênico deturpa sua beleza. Para não reduzir a beleza infinita com adjetivos restritivos, diz-se que no mundo da Imagem Verdadeira não existe nada que seja limitado, definível, descritível. Na Matemática, grafam-se dois "nadas" (zeros) unidos (∞) para simbolizar o infinito. De modo análogo, dizemos "nada existe, nada existe" para simbolizar o infinitamente majestoso mundo da Imagem Verdadeira. Mas engana-se quem pensa que realmente nada existe nele, pois se trata de um mundo de suprema harmonia e perfeita ordem, constituído de Sabedoria infinita, Amor infinito e Vida infinita de Deus. Compreender isto é de fundamental importância. O mundo fenomênico ainda não está perfeito; está caminhando para a perfeição, refletindo cada vez mais perfeitamente o mundo da Imagem Verdadeira, e finalmente será um mundo sumamente harmonioso e infinitamente majestoso. É este o significado da frase "ser feita a vontade de Deus, assim na Terra como no Céu".

Quando a Seicho-No-Ie prega a "inexistência da matéria", alguns reagem dizendo que negar a matéria é negar todo e qualquer tipo de existência e que assim não é possível viver. Entretanto, a verdade é que, quando se pensa que este mundo e o homem são feitos de uma substância sólida e inflexível chamada matéria, a mente fica condicionada à matéria e perde a liberdade; consequentemente ficam tolhidos tanto o corpo como o ambiente e aumentam as dificuldades, os sofrimentos e as doenças. Quando, ao contrário, compreende-se que este é o mundo da luz constituído de Espírito divino, manifesta-se concretamente um mundo belo, repleto de luz.

A propósito, no começo do Gênesis consta: "No princípio (...) Deus disse: Haja luz, e houve luz". Isto significa que o Verbo (Deus), quando entra em vibração, transforma-se imediatamente em luz. O Verbo, entrando em vibração, concretiza-se infalivelmente. Esta Verdade é de suma importância. Como Deus é luz, onde Ele estiver, haverá infalivelmente luz. E como Deus é onipresente, no Universo há unicamente a luz. No Xintoísmo, essa luz que preenche o Universo é chamada "Grande Divindade que Ilumina o Universo" (Amaterasu), e no budismo Se chama Amida Buda, ou seja, "Buda de Luz Infinita". Na Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade, no capítulo "Sabedoria", consta: "A Sabedoria é Luz de Deus". "Luz" não se refere a nenhuma luz perceptível aos sentidos, mas à Sabedoria de Deus. Como não há palavra adequada para expressar a infinita Sabedoria divina, diz-se "luz". Quando a Sabedoria divina, que preenche o Universo, entra em vibração, torna-se luz que extingue a treva da ilusão. Referindo-se a isto, a sutra diz que "quando Deus Se revela, realizam-se o bem, a justiça, a misericórdia; por si se instala a harmonia, ajusta-se cada um em seu respectivo lugar e não há dissensões; não há quem lese o próximo, não há quem adoeça, não há quem sofra, não há quem seja miserável". Então surge o mundo unicamente de luz (bem), desaparecendo as cruéis lutas pela sobrevivência, a exploração dos fracos pelos fortes, as doenças, a feiura, a pobreza, etc.

Unicamente a Imagem Verdadeira (a luz, o bem) é existência verdadeira, sendo inexistente a ilusão (a treva, o mal) - esta visão extremamente positivista e otimista do mundo e da vida é a tônica da Seicho-No-Ie.

A respeito da "inexistência da ilusão", o sr. Kunitaro Yoshida fez ontem um excelente relato. Ele extraíra um rim porque estava praticamente deteriorado, sendo que o outro também estava afetado, mas não podia ser extraído. Felizmente, ele conheceu a Seicho-No-Ie e passou a praticar a Meditação Shinsokan. Durante essa prática, suas mãos postas se agitavam como se estivessem manifestando força curativa. Houve alguma melhora, mas custava a se curar. Percebeu então que a demora da cura se devia a uma ilusão (sentimento negativo) que existia em sua mente e, para eliminá-la, passou a ler fervorosamente o livro A Verdade da Vida. De repente, veio-lhe a iluminação: "A ilusão não existe! Ela é vazia!". Consequentemente, seu estado de saúde passou a melhorar rapidamente, cessando também a agitação de suas mãos durante a prática da Meditação Shinsokan.

É interessante que o sr. Yoshida tenha usado o termo "vazia", que exprime muito bem a "inexistência da ilusão". Até então, ele lutava contra a ilusão, procurando dominá-la, considerando-a existente: "Aqui existe uma ilusão, uma doença, uma dificuldade financeira...". Enquanto assim pensava, elas se apresentavam efetivamente e o atacavam como se fossem seus oponentes. Por mais que procurasse pensar que é filho de Deus e que a doença e a dificuldade financeira são inexistentes, a mente dele não conseguia transcendê-las. Esforçava-se para pensar que a ilusão não existe, mas sentia sua existência e não conseguia derrotá-la. Contudo, enquanto lia fervorosa e repetidamente o livro A Verdade da Vida, alcançou o despertar: compreendeu realmente que a ilusão não existe, que as doenças e as dificuldades financeiras não existem; que unicamente Deus existe. Compreendeu que ilusão, doença e dificuldade financeira são sinônimos de vazio. No vazio é possível colocar o que se quiser. Isso é uma tarefa muito fácil. Mas, num recipiente cheio de substância chamada ilusão, é difícil colocar nele a água do despertar, pois esta transborda. Por isso foi fácil para o sr. Yoshida despertar após perceber que a ilusão é o vazio. Consequentemente, ficou curado. Sua situação financeira também melhorou: embora estivesse desempregado, a pessoa que o sustenta foi promovida de cargo repentinamente, com seu ordenado aumentado em 25 ienes.

Como se vê, o erro está em pensar que a ilusão seja existência verdadeira. Por considerá-la existente é que surge a pergunta: "De onde veio a ilusão?". Ela não veio de lugar algum porque nunca existiu. Compreendendo realmente a sua inexistência, desaparece a pergunta "De onde ela veio?". Enquanto a pessoa fica perguntando de onde veio a ilusão, não adianta lhe explicar, pois está acreditando que a ilusão existe. A ilusão é como a treva: esta não vem de lugar algum; é simples ausência de luz. A doença também não é uma existência consistente, sendo simples ausência de Vida. Portanto, basta introduzir Vida. A Verdade é Vida. Logo, se dirigirmos intensamente ao enfermo palavras da Verdade tais como "Você é filho de Deus, é perfeito...", sua doença acabará desaparecendo.

O dr. Nakajima contou há pouco o caso de um indivíduo que durante dezoito anos fora evitado pelas pessoas ao seu redor devido ao mau cheiro que sua sinusite exalava, mas que foi curado assim que ouviu uma conferência da Seicho-No-Ie e percebeu: "Ah! Sou filho de Deus!". Esse homem passou então a curar os outros, pregando a cada um: "Você é filho de Deus!". Como vemos, até uma sinusite que durante dezoito anos parecia existir, era um vazio, uma ausência, pois desapareceu rapidamente quando se fez presente a Verdade da filiação divina. É indispensável saber que a causa das infelicidades é a ideia de que existem a ilusão, o pecado, a doença, a pobreza, etc.

Um sacerdote budista da seita Shinshu me confessou que ouvia zumbido insuportável na cabeça desde que fora atingido por uma bola de beisebol. Eu lhe disse o seguinte: "O senhor acredita em Buda, cuja luz é infinita, universal e onipresente. Ora, se a luz de Buda é onipresente, deve estar inclusive dentro de sua cabeça". Ele fez cara de quem entendeu, mas parece que não entendeu bem, pois mais tarde escreveu o seguinte em uma revista: "A luz onipresente de Buda não é algo como os raios X, que atravessam tecidos materiais". Ele pensa que a caixa craniana é existência verdadeira, que a matéria é existência verdadeira e que só os raios materiais são capazes de atravessá-la. Por isso contestou minhas palavras, escrevendo que "a luz búdica é a luz que salva a mente, e não a que atravessa tecidos materiais". Mas a verdade é que a matéria não é existência verdadeira. Tudo que se manifesta no mundo material é projeção da mente. Se surge uma avaria no cérebro, que é projeção da mente, é sinal de que há uma avaria na mente, uma ilusão na mente. E, se a luz búdica é a luz que ilumina a mente, certamente deve iluminar a ilusão da mente. Consequentemente, a avaria do cérebro (que é projeção da mente) deve desaparecer também. Como aquele sacerdote não compreende que a ilusão mental e a doença são uma coisa só e as considera separadas, acaba expondo o argumento disparatado de que "a luz búdica não se destina a atravessar corpos materiais porque não é raios X".

Conforme já disse, a matéria é "inexistente", é "vazia". O que existe de modo verdadeiro é unicamente a luz infinita e universal de Deus, de Buda. Ela preenche não só a nossa cabeça, mas todos os cantos do céu e da terra. Se o sacerdote budista tivesse compreendido isso, concluiria com certeza que a única existência verdadeira é a luz de Buda (Deus), quando lhe disse: "A luz infinita e onipresente de Buda está também dentro de sua cabeça". Mas, infelizmente, ele pensa que "a matéria é existência verdadeira" e que a mente existe separada da matéria. Por não compreender que a matéria é projeção da mente, afirma que a luz búdica só pode iluminar a mente, deixando de lado a matéria. Ele contrapõe o mundo material ao mundo mental, considerando-os duas existências independentes, razão pela qual não entende que a ilusão mental e a doença são uma coisa só.

Devido a frequentes curas que ocorrem na Seicho-No-Ie, muitos a julgam uma religião que cura males físicos. Estão enganados, pois a Seicho-No-Ie cura a mente; faz as pessoas compreenderem que o mundo é constituído unicamente de luz (bem), que não existe doença em parte alguma e que somente existe o paraíso. É essa conscientização que se projeta de forma tridimensional no mundo presente, realizando-se aqui o paraíso terrestre. Tanto o paraíso presente como o póstumo são projeções da mente.

O paraíso budista, que se diz criado por Buda "a uma distância de um trilhão de terras a oeste", é ainda um paraíso fenomênico, pois fica a oeste, não sendo o paraíso absoluto do mundo da Imagem Verdadeira. Dizem também que ele foi criado há dez ciclos (um ciclo corresponde ao tempo que uma rocha leva para ser desgastada pelo roçar da veste de um anjo que vem bailar sobre ela uma vez a cada 500 anos). Isto significa que tal paraíso não existia até há dez ciclos. Há uma teoria de que esse paraíso está sujeito à destruição porque teve início, e há uma outra segundo a qual ele jamais será destruído porque está sustentado pela força infinita de Buda. Seja como for, o "Paraíso do Oeste" é um paraíso fenomênico manifestado provisoriamente por Buda como recurso para salvar os homens.

Não digo que o "Paraíso do Oeste" não exista. Existir, ele existe, mas é um paraíso que foi manifestado pelo poder búdico há dez ciclos. Sendo um mundo manifestado, é um tipo de mundo fenomênico. Logo, é regido pela "lei mental da manifestação dos fenômenos", isto é, pela lei da atração dos semelhantes. Por conseguinte, a pessoa pode alcançar ou não esse paraíso, dependendo da frequência das vibrações de sua mente. Quem alcança o "Paraíso do Oeste" é aquele cuja mente sintoniza com Buda. E, para estabelecer essa sintonia, ora-se: "Retorno ao seio de Buda". Se a pessoa passa a orar não só da boca pra fora, mas com sinceridade e devoção, é porque, na verdade, Buda (ou Deus) desperta nela essa devoção a fim de salvá-la. Portanto, quando alguém ora com devoção, sintoniza com Buda (ou Deus) e se torna um com Ele. E, sendo um com Ele, é natural que vá ao paraíso (ou céu). O estranho é dizer que só se pode ir ao paraíso após a morte e que no mundo presente a pessoa deve sofrer com doenças e problemas mundanais, mesmo estando sintonizada e identificada com Buda (ou Deus). Já que o mundo fenomênico é projeção da mente, o ambiente e a situação da pessoa devem transformar-se em paraíso, assim que a frequência de sua mente sintonizar com Buda (ou Deus). Se isso não ocorre, é sinal de que a mente dessa pessoa não está sintonizada com Buda. Logo, é duvidoso que uma pessoa assim vá ao paraíso após a morte carnal.

Ao tecer estas considerações, referi-me ao Buda-expediente revelado provisoriamente como recurso para salvar as pessoas, e não ao Buda absoluto, que é a própria Verdade, a luz misericordiosa que preenche o Universo. Quando sintonizamos com o Buda absoluto e onipresente, o paraíso deve surgir aqui e agora.

O budismo prega a "inexistência da matéria". Ora, se a matéria é inexistente, se o corpo carnal é inexistente, não existe período anterior nem o posterior à morte carnal. A morte não constitui um marco divisório. Concluindo, quem não se tornou um com Buda e não está no paraíso aqui e agora, não estará no paraíso após a morte física.

O budismo prega também a "inexistência do eu", o que é deveras interessante. Se o "eu" não existe, o que é que irá ao paraíso após a morte carnal? Esta é uma questão importante. Se a matéria (o corpo carnal) não existe, não existe também a divisa entre o mundo presente e o póstumo; consequentemente, perde o sentido a frase "ir ao paraíso após a morte". Além disso, se o "eu" não existe, não há "eu" que deva ir ao paraíso. Conclusão: segundo o budismo, não existem o eu, nem morte nem o "ir ao paraíso após a morte".

Para compreender melhor essa colocação, é preciso que a mente dê um giro de 360º. É preciso abandonar a teimosia com que, até agora, considerava-se existente o "eu que não existe". Em outras palavras, é preciso proceder à "substituição do eu", abandonando o "velho eu". Até agora, pensava-se que o pequeno consciente enclausurado no envoltório material fosse o "eu", mas isso não é existência verdadeira. Nossa Essência genuína, nosso Eu genuíno, é um com o Buda absoluto que cobre todo o Universo, é um com Deus universal e onipresente. O Eu verdadeiro é a luz infinita, o amor infinito ou a Verdade absoluta de que está repleto o mundo da Essência. Quando se reconhece isto, compreende-se o verdadeiro sentido de "ir ao paraíso", o verdadeiro significado da estranha afirmação de que "vai-se ao paraíso após a morte", quando, na verdade, não existe nem o "eu" que deva ir ao paraíso, nem o corpo carnal que deva morrer. Na verdade, somos um com Buda, agora e aqui onde estamos; já estamos no paraíso. Se parece que estamos no mundo fenomênico, é porque, apesar de estarmos no mundo da Essência (Jissô), projetamos a ilusória imagem do mundo fenomênico e do corpo carnal pelo poder da mente. Portanto, somos um com Buda, mesmo ainda tendo o corpo carnal.

É por isso que, ao chamarmos por Buda (Deus), sentimo-nos um com Ele. Quando compreendemos esta Verdade, nosso corpo e tudo que existe ao nosso redor passam a refletir fielmente o Eu perfeito, impecável e harmonioso - que é um com Deus, que é um com Buda, de luz infinita, e que é um com a sabedoria infinita -, pois o mundo fenomênico é projeção de nossa mente. Nesse momento, então, este mundo se torna realmente um paraíso.

E quando chegar o momento de trocar a tela material onde estamos projetando a vida criada pela mente, por uma outra tela (espiritual) onde também projetaremos as imagens criadas pela mente, (isto é, quando morrer o corpo carnal), se nossa mente estiver concebendo o mundo só de luz e emitindo apenas vibrações de luz, será igualmente projetado na futura tela um mundo só de luz. Portanto, quem está manifestando o paraíso na vida presente, manifestará o paraíso espiritual quando desencarnar. Este é o significado de "ir ao paraíso após a morte".

Creio que agora ficou bem clara a razão por que o homem, que na Essência é um com Deus, às vezes não projeta o paraíso em sua vida tanto no mundo terreno como no espiritual, e por que o mesmo homem, que na verdade não nasce nem morre, parece nascer e morrer. Na Sutra da Majestosa Vida Eterna, traduzida por Hokken, lê-se: "Buda não vem de lugar algum e não vai para lugar algum; não nasce nem morre; não está no passado, nem no presente nem no futuro". Nós também não viemos de lugar algum, não vamos para lugar algum, transcendemos o passado, o presente e o futuro, e somos, aqui e agora, um com Buda. Fazer as pessoas conscientizarem esta Verdade é a missão da Seicho-No-Ie.

 
(Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 21", pp. 28-42)
 
 

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