"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, outubro 19, 2009

Amai os vossos inimigos


Mary Baker Eddy


Quem é teu inimigo, para que devas amá-lo? Acaso é uma criatura ou alguma coisa fora da tua própria criação?

Porventura podes ver um inimigo a não ser que primeiro o concebas e depois contemples o objeto de tua própria concepção? O que é que te causa dano? Pode a altura, ou a profundidade ou qualquer outra criatura separar-te do Amor que é o bem onipresente, – que abençoa infinitamente a um e a todos?

Simplesmente considera como inimigo aquele que contamina, desfigura e destrona a imagem-Cristo que tu deverias refletir. Tudo aquilo que purifica, santifica e consagra a vida humana não é inimigo, por mais que soframos nesse processo. Escreve Shakespeare: “Doce é o fruto da adversidade.” Disse Jesus: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós …pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.”

A lei hebraica, com o imperativo “Não farás isto”, “Não farás aquilo”, com suas exigências e condenações, só pode ser cumprida por meio da bênção do evangelho. Então, “Bem-aventurados sois, pois a consciência do bem, da graça e da paz vem por meio da aflição corretamente compreendida, sendo santificada pela purificação que traz à carne, – ao orgulho, à ignorância acerca do próprio eu, à obstinação, ao egotismo, à justificação própria. Doces são, de fato, esses resultados do uso do divino cajado! Quão certo está o Pastor de Israel em fazer passar todo o Seu rebanho, sob Seu cajado, rumo ao Seu redil; enumerando assim cada uma das ovelhas e dando-lhes, por fim, um refúgio contra os elementos da terra.

“Amai os vossos inimigos” é idêntico a “Não tendes inimigos”. Qual é a relação entre essa conclusão e aqueles que te odiaram sem motivo? Simplesmente que aqueles desafortunados indivíduos são, virtualmente, teus melhores amigos. Antes de mais nada, e em última análise, eles estão te beneficiando de uma forma que vai muito além do conceito de bem que tu possas ter no momento.

Aqueles a quem chamamos de amigos parecem adoçar o cálice da vida e enchê-lo com o néctar dos deuses. Levamos esse cálice aos lábios, mas ele nos escapa das mãos e cai em fragmentos, diante de nossos olhos. Talvez, tendo saboreado seu vinho tentador, fiquemos embriagados; talvez nos entreguemos ao sonho letárgico, imbuídos de autossatisfação; ou então, voluntariamente ponhamos de lado, como insípido e indigno de ser humanamente almejado o conteúdo desse cálice de prazer humano egoísta, que perdeu o sabor.

E por que razão nós conseguimos continuar desfrutando desse conceito desvanecente, com suas deliciosas formas de amizade, com as quais os mortais aprendem a gratificar-se nos prazeres pessoais e se acostumam a uma paz traiçoeira? Porque esse conceito é o único e grande perigo na senda tortuosa que ruma para o alto. Uma noção equivocada sobre o que constitui a felicidade é mais desastrosa para o progresso humano do que tudo o que um inimigo ou uma inimizade possam impor à mente ou inocular em seus propósitos e realizações, para assim entravar as alegrias da vida e aumentar suas tristezas.

Não temos nenhum inimigo. Tudo aquilo que a inveja, o ódio e vingança – os mais desapiedados motivos que governam a mente mortal – tentarem fazer, não importa o que seja, cooperará “para o bem daqueles que amam a Deus”.

Por quê?

Porque Ele chamou os que são Seus, os armou, os equipou e lhes forneceu defesas inexpugnáveis. Esse Deus não permitirá que eles se percam; e se caírem, levantar-se-ão novamente, mais fortes do que antes da queda; Os bons não podem perder seu Deus, a ajuda à qual eles recorrem nas tribulações. Se entenderem mal as ordens divinas, corrigirão seu engano, darão contraordem, retrocederão sobre seus próprios passos e restaurarão as ordens dadas por Deus, com mais certeza de poder seguir adiante em segurança. Terão aprendido a melhor lição de sua vida, havendo travado batalha contra a tentação, o medo e as investidas do mal, visto que puseram sua força à prova e venceram; visto que sua força se aperfeiçoou na fraqueza e seu medo se autoimolou.

Esta destruição é uma quimicalização moral, na qual as coisas antigas passam e eis que se fazem novas. As tendências mundanas ou materiais dos afetos e propósitos humanos são dessa forma aniquilados; e esse é o advento da espiritualização. `céu baixa à terra, e os mortais finalmente aprendem a lição: “Não tenho inimigos”.

Mesmo na crença, tens um só inimigo (e esse não faz parte da realidade), que é o teu próprio eu – sua crença errônea de que tenhas inimigos, de que o mal seja real; de que na Ciência exista alguma coisa além do bem. Cedo ou tarde teu inimigo despertará de sua ilusão, para sofrer por sua má intenção; e descobrirá que ainda que essa má intenção não se leve a cabo, traz um castigo dez vez maior.

O amor é o cumprimento da lei: é graça, misericórdia, justiça. Eu costumava pensar que bastava cumprir as leis de nosso país; que, se um homem apontasse uma arma para meu coração, e se eu, atirando primeiro, pudesse matá-lo e salvar minha própria vida, estaria agindo corretamente. Eu também achava que, se desse aulas gratuitas aos alunos que não podiam pagar, assistindo-os depois financeiramente e, se após o término do curso, não cessasse de ensinar os que se desviassem do caminho, mas os acompanhasse, com preceito e mais preceito; que, se meu ensino os houvesse curado e lhes mostrado o caminho seguro da salvação, – eu haveria cumprido todo o meu dever para com os alunos.

O amor não proporciona justiça humana, mas sim misericórdia divina. Se nossa vida estivesse sob ataque, e só pudéssemos salvá-la em conformidade com o direito comum, tirando a vida de outra pessoa, acaso preferiríamos sacrificar a nossa própria? Temos de amar nossos inimigos em todas as manifestações pelas quais e nas quais amamos nossos amigos; precisamos até mesmo tentar não expor suas falhas, mas sim fazer-lhes o bem sempre que ocorra uma oportunidade. Proporcionar justiça humana àqueles que nos perseguem e nos caluniam, seria não deixar a Deus a prerrogativa de repreendê-los, e não bendizer os que nos maldizem. Se não tivermos nenhuma oportunidade especial de fazer o bem aos nossos inimigos, podemos incluí-los em nossos esforços gerais para beneficiar a raça humana. Como posso fazer muito de bom, de forma generalizada, àqueles que me odeiam, eu nisso me empenho com sinceridade e cuidado especiais – já que eles não me deixam nenhuma outra possibilidade, embora para tanto eu tenha lutado chorando. Quando batem numa face, ofereço a outra; tenho só duas para dar.

Eu teria prazer em tomar pela mão aqueles que não me amam e dizer-lhes: “Eu vos amo, e não vos causaria dano conscientemente.” Por essa razão, com esse sentimento, digo aos outros: Não odieis ninguém; pois o ódio é um foco de infecção que propaga seu vírus e termina matando. Se lhe damos consentimento, ele nos domina, trazendo ao que o abriga um sofrimento após outro, ao longo do tempo e depois da tumba. Se foste profundamente injuriado, perdoa e esquece; Deus conferirá a recompensa por essa injustiça e punirá, com mais severidade do que te seria possível, aquele que se esforçou por ofender-te. Nunca pagues o mal com o mal; e, acima de tudo, não imagines que cometeram alguma injustiça contra ti, quando nenhuma injustiça foi cometida.

O presente é nosso; o futuro, repleto de eventos. Todo homem, toda mulher deve ser hoje uma lei para si mesmo ou para si mesma – uma lei de lealdade ao Sermão do Monte, proferido por Jesus. Os meios de pecar, secreta e impunemente, aumentaram de tal forma que, a menos que vigiemos e permaneçamos firmes no Amor, a tentação de pecar se nos multiplica por cem. A mente mortal neste período trabalha em silêncio tanto em prol do bem quanto do mal, da maneira mais incompreendida; daí a necessidade de vigiar; e o perigo de ceder à tentação proveniente de causas que não existiam em períodos anteriores da história humana. A ação e os efeitos dessa assim-chamada mente humana, em seus argumentos silenciosos, estão ainda por ser postos a descoberto e tratados de forma drástica pela justiça divina.

Na Ciência Cristã, a lei do Amor alegra o coração; e o Amor é Vida e Verdade. Tudo aquilo que manifeste qualquer outra coisa, em seus efeitos sobre a humanidade, evidentemente não é Amor. Devemos medir nosso amor a Deus pelo nosso amor ao homem; e nosso senso da Ciência será medido segundo nossa obediência a Deus, – cumprindo a lei do Amor, fazendo o bem a todos; transmitindo, na medida em que os refletimos, a Verdade, a Vida e o Amor, a todos os que se encontram no âmbito de nosso pensamento.

A única justiça da qual no momento me sinto capaz, é misericórdia e caridade para com todos – tão somente até onde cada um e todos me permitam expressar esses sentimentos, tomando o cuidado de não intrometer-me em assuntos que não me competem.

A falsidade, a ingratidão, o mau juízo, e a dura retribuição do bem com o mal – ou seja, as verdadeiras injustiças (se é que a injustiça pode ser verdadeira) que suportei nas mãos dos outros – elaboraram para mim, felizmente, a lei de amar meus inimigos. Neste momento, insto com todos os Cientistas Cristãos a que ponderem seriamente essa lei. Jesus disse: “Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam.”



Nenhum comentário: