"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, agosto 20, 2008

O Verbo feito carne - 01

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Joel S. Goldsmith


Há pouquíssimas citações ou passagens de sabedoria espiritual nas escrituras que não têm um duplo sentido, o literal e o intuitivo, espiritual ou místico. Muitas palavras e afirmações na Bíblia parecem contraditórias, embora eu duvide que haja uma contradição verdadeira na Bíblia inteira. Pode parecer que haja contradições, se as informações são interpretadas a partir do conceito que uma pessoa tem da palavra ou mesmo a partir da definição que o dicionário registra, mas eu não encontrei nenhuma.

Provavelmente, a palavra mais controvertida da Escritura é a palavra “carne”, porque, na bíblia, ela é empregada de dois modos completamente diferentes. O primeiro modo é “Espírito”, que é a substância original, é uma forma. É a idéia. E quando ela vem à nossa consciência, é o Verbo feito carne. Quando ele se torna visível, é a carne que definha, a carne com a qual podemos ter prazer hoje. Mas não vamos nos prender à forma amanhã. Vamos mudar nosso conceito de ser, de corpo ou provisão todo dia. Isaías disse: “Toda carne é erva” (Isaías 40:6). Jesus disse: “A carne para nada aproveita” (João 6:63). No primeiro capítulo de João, diz-se: “E o Verbo se fez carne” (João 1:14).

“O Verbo se fez carne” pode ser considerado como uma das principais premissas do ensinamento do Mestre, tal como é uma premissa maior no ensinamento do Caminho Infinito. A palavra de Deus dentro de nós torna-se visível ou tangível como expressão: O Verbo torna-se o filho de Deus. Nesse sentido, a carne deve ser considerada como significando forma espiritual, atividade e realidade. “O Verbo se fez carne e habita em nós”: Deus se tornou visível como o homem. Deus-Pai tornou-se visível como o filho, mas ninguém jamais verá esse homem com seus olhos. Esse homem só pode ser visto no ápice da consciência espiritual.


A PALAVRA INVISÍVEL TORNA-SE TANGÍVEL

Os médiuns espirituais apresentam a cura no momento em que notam o homem espiritual: o Verbo feito carne. Até esse momento de percepção, a meditação ou o tratamento estão apenas nos conduzindo para onde o Verbo torna-se carne como homem espiritual.

Uma pessoa pode empenhar-se em meditações saudáveis desde a manhã até à noite, mas se a meditação não culmina num momento de distensão – liberdade, alegria e paz – não adianta esperar a cura ou a restauração da harmonia daquela meditação, porque não são os pensamentos de uma pessoa que realizam a cura. Eles apenas conduzem a um estado de consciência acima da percepção humana da vida, em que, num momento de plena consciência, é como se alguma coisa reluzisse diante dos olhos e dissesse: “Havendo eu sido cego, agora vejo” (João 9:25). E, naturalmente, ele pode não ter visto ou ouvido alguma coisa e, no entanto, sabem, concebe e pressente.

Quando uma pessoa afirma a verdade na sua consciência, pondera-a e finalmente pára de ponderar e apenas senta-se quietamente com a atenção em expectativa de que algo se revela a partir do seu interior, aquele momento de iluminação vem – um clarão, uma liberação, uma sensação de paz – e é como se a pessoa fosse libertada de seu próprio corpo. Há uma sensação de leveza, um sentimento de alegria, um sentimento de realização. É naquele momento que ele se torna ciente da Realidade, o Deus invisível torna-se tangível, mesmo que ele não possa vê-Lo ou ouvi-Lo.

Depois disso a febre pode baixar, o tumor pode ser removido, o suprimento pode ser mostrado, um trabalho pode ser oferecido ou um novo lar pode ser encontrado. Todos são os resultados na experiência humana, do Verbo invisível que se torna tangível como um sentimento invisível. Primeiro vem o Verbo invisível, Deus, o Próprio Infinito Invisível, que sabemos que está aqui e agora preenchendo todo o espaço dentro e fora de nós. Então, segue-se a percepção consciente daquele Verbo que se evidencia em captar um instantâneo do Divino e finalmente aqui fora, naquilo que chamamos de cura ou mudança na aparência. Mas nenhuma aparência pode mudar a menos que algo tenha ocorrido na consciência.

Não cuide das aparências. Não busque as aparências para qualquer mudança. “Ainda em minha carne verei a Deus” (Jó 19:26). Bem aqui e agora na terra, podemos ver a Deus. Eu não quero dizer que vemos com os olhos físicos, mas podemos discernir ou ficar conscientes d’Ele. Isso é o que significa ver a Deus ou senti-Lo: ser tocado por Deus ou tocar na orla do manto.

Cada praticante espiritual recebe iluminação direta, se não de outra forma, pelo menos na cura da qual ele foi instrumento. Do contrário, a cura não poderia ter sido realizada. Não há ninguém na terra hoje que realize quaisquer obras maiores do que o Mestre, Jesus Cristo. Ele disse: “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma” (João 5:30). Tenho certeza de que não podemos fazer mais do que ele podia. O Pai dentro de nós faz a obra, mas só naquele momento de contato, de iluminação. Daí pra frente, depois que se conseguiu a iluminação, aquele fluxo continua sem esforço consciente. Mas deve ser renovado dia a dia. Todo dia é necessário penetrar no silêncio, em certas ocasiões, doze vezes, para sentir novamente o Impulso divino.

Depois que se está neste caminho há vários anos, não é necessário voltar e estabelecer aquele contato em cada meditação ou tratamento dado. Chega o tempo em que “vivemos e nos movemos e existimos em Deus” (Atos 17:28), e raramente estamos fora daquele estado de consciência. É só sob tensão de alguma grande emoção ou de alguma grande tragédia, dura experiência ou impacto, que a pessoa que vive deste modo há muitos anos pode estar temporariamente fora do reino de Deus. Isso pode acontecer e acontece mesmo para aqueles bem adiantados no caminho, mas eles têm pouca dificuldade de refazer seus contatos. Nos primeiros anos de nosso trabalho, contudo, isso não é assim. Fazemos contato e então parecemos perdê-lo por alguns dias na oportunidade e encontrá-lo novamente somente com esforço e luta.


A CARNE QUE ENFRAQUECE

A palavra “carne” é usada com um sentido realmente diferente da afirmação: “Toda a carne é erva”. Carne, nesse sentido, significa o que nós observamos através dos sentidos, o que vemos, ouvimos, saboreamos, tocamos ou cheiramos. Se estivermos num estado de consciência, no qual nossa manifestação é de pessoas, coisas ou circunstâncias, não poderemos entrar no reino de Deus, no domínio do Espírito.

A posse de um bilhão de dólares não tornará possível a uma pessoa herdar o reino de Deus, nem a crença de que a carne tem poder para nos dar prazer ou dor. Enquanto nossa fé e confiança estiverem nos bens materiais, nunca conheceremos a realidade das coisas; só conheceremos as formas aqui fora. Quando, porém, com estudo e meditação, nossos interesses começarem a transcender as pessoas, as coisas e as circunstâncias, estamos sendo levados para um reino mais elevado da consciência e nele, finalmente, O vemos tal como Ele é e ficamos satisfeitos com essa semelhança.

Isso também ocorre quando começamos a compreender por que é possível amar aos nossos semelhantes. Uma vez que ficamos cientes um do outro através desta visão mística interior, somos amigos. Na verdade, quando vemos a nós mesmos aqui fora, somos mortais, materiais e finitos. Nós somos a carne que definha como a erva, mas, quando nos observamos uns aos outros com visão espiritual, em nossa verdadeira identidade, somos os filhos de Deus. Quando despertamos deste sonho de materialidade, observamos as pessoas como elas são e ficamos satisfeitos com essa semelhança.

Quando você se apresenta a um mestre espiritual com um problema físico, monetário ou de relacionamento familiar, você é da terra. Seu mestre, vendo-o assim, nunca o ajudará a resolver seus problemas. Mas a capacidade de estar quieto, até que esse pequeno instantâneo venha de dentro, capacita o médium espiritual a vê-lo como você é, o que revela o Verbo feito carne, o que revela o filho de Deus.

Primeiro vem o Verbo, Deus, e Ele se faz carne. Ele se torna um estado de consciência, mas sem forma. Não é uma idéia e também não é uma coisa. Mas, então, com isso vem o pensamento a palavra falada, a palavra escrita, o dólar palpável, um peixe ou um pão. Esse tipo de carne - palavras, escritos e dólares - deve definhar como a erva. Mas a carne entendida como a consciência jamais morrerá. Primero é a compreensão de Deus como Substância. Depois, o Verbo, a Substância, torna-se carne. Ela se torna um estado de consciência. E o estado de consciência se manifesta como forma.



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