- "O que é Buddha?"
Bashô disse:
- "Esta Mente é Buddha."
(...)
O koan está dizendo que tudo é Buda. Quando Bashô disse que "esta é a Mente de Buda", a palavra 'mente' foi escrita com a inicial maiúscula. Assim, "Mente" seria a mente de toda a existência.
Tenho um exemplo idiota para tentar elucidar esse koan: É como se a existência fosse toda feita de água (até os peixes seriam feitos de água!). E aí, um peixe perguntaria ao outro: "O que é a água?"
Assim, não há como responder essa pergunta. A pergunta é a própria existência perguntando por si mesma... é buda perguntando por buda. Mas só existe uma Mente, que é a Mente Absoluta. Então, qual é o Buda que aquele Buda está perguntando quer ver? Percebem a incoerência? Essa pergunta nunca vai poder ser respondida, porque só existe Buda: não há ninguém para observar e ninguém para ser observado.
Bashô deveria ter dado um tapa na cara do discípulo dele. Talvez o ato do tapa o deixaria mais próximo de compreender a realidade. O tapa seria mais proveitoso pro discípulo do que a resposta que o mestre deu à ele.
É por isso que todos esses koans são irraciocináveis. Você tem que vivê-los diretamente. Os discípulos fazem perguntas, perguntas que não podem ser respondidas... porque aquele quem está perguntando está inserido dentro do mistério. Ou seja, nós estamos do lado de dentro do mistério -- o nosso ser faz parte do mistério --, e mesmo assim tentamos solucionar esse mistério. Por isso é paradoxal; é impossível nós resolvermos. Nós somos apenas uma pequena parte do Todo. Não é possível resolver a Matrix do lado de dentro da Matrix.
Assim, fica fácil olharmos para os koans e simplesmente os aceitarmos. Um koan deve ser aceito; ele não deve ser explorado. Ou você vai diretamente nele -- porque, é somente assim que alguém poderá compreender realmente --, ou podemos pegar um desvio (perguntas, raciocínios, etc.) e errarmos o caminho.
Outro Koan:
Um viajante que estava tentando descobrir a Verdade veio até um mestre Zen, e perguntou-lhe: "O que é o Zen?"
O mestre disse: "O Zen é aquela árvore."
O viajante: "A árvore? Como assim? Você não poderia dizer de uma forma mais clara e racional o que é o Zen? Assim eu nunca vou entender"
O mestre Zen ficou em silêncio, e o discípulo ficou esperando uma resposta. Mas ele percebia que o mestre não estava sequer pensando numa maneira de explicar o Zen. Então disse ao mestre: "E então? você não vai me dizer? Afinal, o que é o Zen?"
O Mestre, todo humildezinho, num tom de voz tímido e baixo (como se não conhecesse nenhuma outra forma de explicação), apontou novamente para a árvore e disse: "O zen é a árvore".
A Árvore também é um koan. Se alguém aí conseguir aceitar a árvore, terá compreendido o que é o Zen.
3 comentários:
nossa que idiota!
Aceitar a arvore? isso significa oque? aceitar a Vida? ou aceitar a Unidade de todas as coisas? e por consiguinte o descondicionamento da dualidade(Equivoco da Razão)
Bahh sei lah... não entendi
Aceitar a árvore signfica ver a árvore como ela realmente é. Entre nossa visão e a árvore existe uma tela de pensamentos se interpondo e dizendo para nós o que a árvore é. A informação desses pensamentos é falsa, porque ela limita a árvore. Se não houver pensamentos, a árvore deixa de ser a árvore que conhecemos para se tornar uma árvore que a nós é impossível conhecer. Conhecemos (ou pensamos que conhecemos) a árvore, porque temos um conceito finito - a nossa idéia. Se abandonarmos nossos pensamentos, nossas idéias, poderemos olhar e ver a mesma árvore que sempre vimos, só que desta vez o entendimento sobre a árvore será diferente. Olharemos para ela e veremos que "não sabemos o que é aquilo". A árvore deixa de ser uma árvore e torna-se um mistério. A percepção muda.
Na verdade, isso que vale para a árvore vale também para qualquer coisa, para pessoas, coisas e fatos. E é por isso que se diz que Deus está presente em tudo, pode ser encontrado em todas as coisas. Qualquer objeto é uma porta para se entrar no Zen, em Deus. Qualquer coisa pode se tornar uma desculpa para entrarmos nele. É por isso que os mestres Zen valem-se de coisas aparentemente absurdas para nos apontar o Zen. "Entre no zen por meio da árvore"... ou por meio do rio, da pedra, do barco... qualquer coisa serve.
De fato, quando há essa aceitação, há um descondicionamento. Para vermos o infinito precisamos nos descondicionar do que nos faz ver tudo de forma finita.
Onde está o Zen? Onde está Deus?
Gasshô!
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