"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 1/11


Masaharu Taniguchi


"Quando se expressam os ensinamentos de Buda por meio dos três carmas (*Obs: Três carmas = ações corporais, verbais e mentais) e se entrega à concentração mental, todo o Universo alcança o despertar." (Mestre zen-budista Dogen)

"Quando se conscientiza que a Imagem Verdadeira da Vida é harmônica e perfeita por si só, passa a atuar a força curativa da Grande Vida, e ocorre a cura metafísica." (A Verdade da Vida, vol. 1, "Introdução")

"Porque àquele que tem lhe será dado (ainda mais), e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o que tem lhe será tirado." (Mateus 13:12)

A Bíblia e as escrituras budistas são fonte de infinita inspiração. Observando-as superficialmente, parece que elas são cheias de sofismas e máximas. Porém, se as abrirmos com a chave da sabedoria divina, teremos revelações divinas que brotam fluentemente.

"Aquele que tem" significa aquele que conscientizou que já tem. Todo ser humano já possui provisão inesgotável. A isso se refere A Verdade da Vida, vol. 1, com a expressão "harmônica e perfeita por natureza". E o budismo se refere ao mesmo fato com a expressão "originariamente puro", "todos os seres possuem natureza búdica" ou "já está realizado como Buda, assim mesmo como é".

A expressão "todos os seres possuem natureza búdica" quer dizer que todos os seres humanos e todos os seres viventes possuem, sem exceção, natureza búdica. E essa natureza búdica é essencialmente pura, isenta de pecado, harmônica e perfeita. A isso se diz "harmônica e perfeita por natureza" na Seicho-No-Ie. Já que a natureza própria do ser humano é a harmônica e perfeita, não há como ele adoecer; ele já possui o infinito bem, já possui a infinita perfeição, já é dotado de infinita harmonia. Mas muitas pessoas não se conscientizam disso. Referindo-se a essas pessoas, a Bíblia diz "aquele que não tem". Mesmo possuindo, se a pessoa não se conscientiza disso, é como se não possuísse. O ser humano possui a Vida de Deus (Vida de Buda) e, portanto, já é harmônico e perfeito, sendo-lhe impossível adoecer. Porém, se ele não conscientiza que a possui, é como se não a possuísse. Alguém assim fica com a força vital diminuída ("àquele que não tem, até o que tem será tirado"). Ao contrário disso, quem sabe que a sua Vida é Vida de Deus e, portanto, harmônica e perfeita, terá a sua força vital ainda mais revigorada. Isto é, "àquele que tem lhe será dado ainda mais e terá em abundância".

"Se você, caro leitor, busca a saúde absoluta, precisa conhecer o segredo da saúde absoluta, que consiste em saber que você é absolutamente saudável. Acredite agora que a sua Vida é Vida de Deus, é absolutamente saudável. Acredite e aja como pessoa absolutamente saudável. Então você se tornará absolutamente saudável; se estiver doente, curar-se-á naturalmente. Os milagres de Jesus Cristo comprovam esta Verdade." (A Verdade da Vida, vol. 7)

"E eis que uma mulher, que durante doze anos vinha padecendo de  uma hemorragia, veio por trás dele e lhe tocou a orla da veste; porque dizia consigo mesma: Se eu apenas lhe tocar a veste, ficarei curada. E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem com ânimo, filha, a tua fé te salvou. E desde aquele instante a mulher ficou sã." (Mateus 5: 20-22)

Esse milagre extraordinário se efetivou devido, em primeiro lugar, à fé da paciente, como disse Jesus: "A tua fé te salvou". E essa fé se tornou uma força concreta e completou a cura divina devido ao poder da palavra: "Tem bom ânimo, filha".

Outrora, quando o dr. Kaishiro Manabe, catedrático do Hospital da Universidade Imperial, clinicava nesse Hospital, uma anciã do interior, atraída pela fama desse médico, foi buscar uma solução para a sua doença de difícil cura. O dr. Manabe examinou-a como de praxe e deu-lhe a receita, dizendo: "Tome isto, dividindo-o em dez dias, que a senhora ficará curada". Aproximadamente um mês depois, a anciã foi amavelmente a Tóquio agradecer ao catedrático: "Doutor, graças ao senhor, estou completamente curada". O dr. Manabe disse então: "Aquele remédio é muito eficaz, não é mesmo?". Ao que a anciã respondeu: "Sim, doutor, aquele papel que o senhor me deu, eu o piquei em dez pedaços e os tomei em dez dias. Realmente, foi muito eficaz", e agradeceu muito.

Essa anciã, em vez de tomar o remédio receitado, tomou o papel da receita e ficou curada. Realmente, "a sua fé a salvou". Mas o que despertou a sua fé foi o poder da palavra do catedrático: "Tome isto, que a senhora ficará curada". A receita ou a orla da veste serviram como meio para fortalecer a fé.

O ser humano se torna saudável pelo poder da palavra porque a essência do ser humano é a própria saúde. Mas a própria saúde, que está alojada por natureza no ser humano, não se manifesta para quem não se conscientiza disso. Esta é a verdade segundo a qual "aquele que não tem, até o que tem lhe será tirado". Tendo-se a convicção de saúde, essa convicção se manifesta externamente, promovendo a saúde. Esta é a Verdade segundo a qual "àquele que tem lhe será dado ainda mais".

Cristo disse: "Tem bom ânimo". Ter bom ânimo – essa é a atitude mental máxima e mais eficaz para curar a doença. Desejar a saúde com a mente cheia de preocupação e medo é o mesmo que colocar uma grande pedra sobre o gramado e desejar que a grama cresça.

A Vida do ser humano é harmônica e perfeita por natureza, mas, se essa perfeição não se manifesta, é porque está coberta de sujeira chamada ilusão mental. Entre as ilusões mentais, as que constituem maior sujeira são a preocupação e o temor. Muitas pessoas estão encurtando a sua vida terrena com a preocupação e o temor. Estes podem ser eliminados pelas palavras da Verdade. As palavras de Jesus Cristo e as palavras contidas nas publicações que falam da Verdade têm grande eficácia para eliminá-los. Existem inúmeros exemplos de pessoas que se curaram simplesmente lendo os livros da Ciência Cristã dos Estados Unidos ou os livros da coleção A Verdade da Vida. Isso ocorre porque esses livros pregam de diversos ângulos, utilizando eloquentemente o poder da palavra, a Verdade de que o ser humano é filho de Deus, e a doença não existe originariamente, e consequentemente é varrida a crença ilusória de que "a doença existe", desaparece o temor, some a preocupação e, assim como a lua cheia clareia quando desaparecem as nuvens, manifesta-se claramente a perfeição da Imagem Verdadeira (Jissô) do ser humano.

Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que era muito bom. (Gênesis 1:31)

Se a lua cheia clareia majestosamente após desaparecerem as nuvens, é porque ela existe. Se o ser humano torna-se saudável quando desperta da ilusão de temos e preocupação, é porque ele é originariamente saudável. O monge Saigyô diz em seus versos:

Não pense que a lua nasce
depois que a nuvem desaparece;
a Lua sempre no céu permanece.

Não é após a cura da doença que a saúde aparece; originariamente, a Imagem Verdadeira do ser humano é saudável; por isso, a saúde aparece quando se retira a ilusão. A função de todas as religiões consiste em fazer o ser humano conscientizar a sua saudável Imagem Verdadeira (Jissô), que é o próprio Deus, o próprio Buda.
Cont...


Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp.89-94

domingo, fevereiro 09, 2014

A Iluminação de Sakyamuni - 2/2

Masaharu Taniguchi


VIVIFICAÇÃO MÚTUA ENTRE OS SERES

Naturalmente, a vaca produz leite com a finalidade de amamentar o filhote; mas o fluxo de leite é tão abundante que acaba sobrando, mesmo que o bezerrinho mame até se fartar. Pode parecer que a vaca leiteira está sendo lesada pela pessoa que lhe tira o leite, mas não é assim. A vaca bem tratada pelo dono afeiçoa-se a ele e produz bastante leite. É desse modo que se manifesta a bênção de Deus, que jamais deixa de vivificar o ser humano. Sakyamuni compreendeu essa Verdade. A Vaca come capim para se manter viva. Isso é natural, e passou a encarar naturalmente como motivo de gratidão todos os acontecimentos naturais do mundo à sua volta. Sakyamuni pensava que este mundo era um lugar de cruéis matanças e saques entre os seres vivos, achando que a vaca tirava a vida dos capins para manter-se viva e produzir leite, e que o ser humano prejudicava a vaca roubando-lhe o leite. Quando, porém, a sua mente mudou, o mesmo mundo mudou de aparência totalmente.

“Os capins que vicejam nos campos brotaram pela graça de Deus; são concretização das bênçãos divinas que vivificam as vacas, as ovelhas e os respectivos filhotes e, por meio deles, beneficiam também os seres humanos” – esta foi a compreensão a que chegou Sakyamuni. Ele deixou de ver o mundo como um palco de matanças mútuas, e passou a vê-lo como um lugar onde todos vivificam uns aos outros. O que estou dizendo não é mera teoria. A teoria pode ser arranjada para justificar qualquer das posições opostas. O fato é que ocorreu uma mudança na postura mental de Sakyamuni. Consequentemente, ele passou a sentir a harmonia. Até então, pensava que a vaca e os capins estavam em conflito, mas compreendeu que, pelo contrário, eles se vivificavam mutuamente.

A vaca se alimenta de capins e, ao defecar, proporciona adubo ao solo, o que faz brotar novos capins. No processo respiratório, a vaca expele gás carbônico; os capins, pelo processo de fotossíntese, absorvem o gás carbônico e liberam oxigênio, beneficiando a vaca. É claro que, na época de Sakyamuni, as pessoas não conheciam tal processo biológico. A compreensão de que os seres vivos vivificam uns aos outros ocorreu-lhe de modo intuitivo. O capim não sente dor ao ser comido pela vaca, e as verduras também não sofrem ao serem comidas pelo ser humano. As verduras, que não são dotadas de meio de locomoção, podem disseminar suas sementes e ampliar as respectivas áreas em várias partes da Terra, graças ao fato de serem comidas pelo ser humano. 

As frutas, quando ficam maduras, tornam-se saborosas e ostentam um aspecto atraente: adquirem cores vistosas, tais como vermelho, amarelo, alaranjado, etc., para chamar a atenção dos seres que delas se alimentam. Em outras palavras, elas “se enfeitam” com cores chamativas, como se anunciassem: “Vejam como somos apetitosas. Sirvam-se à vontade”. Enquanto não estão maduras e suas sementes ainda não podem germinar, as frutas têm sabor amargo, azedo, etc., ou estão cobertas de espinhos, e são verdes como as folhas, para ficarem escondidas. Somente quando ficam maduras e prontas para ser consumidas, elas adquirem belo colorido. Se nenhum pássaro ou animal aparecer para comer as frutas de uma árvore frutífera, esta terá problemas. As frutas maduras acabarão caindo no chão e apodrecendo; as sementes ficarão depositadas, às centenas, no chão debaixo da árvore; os brotos germinados não conseguirão desenvolver-se normalmente porque, além de estarem muito juntos, não receberão suficiente luz solar nem o sereno da noite por ficarem próximos ao tronco da árvore. É preciso que as frutas sejam comidas pelos pássaros e pelos animais frutívoros, para que as sementes se espalhem em terras distantes, possibilitando a disseminação da planta.

Tomemos, por exemplo, um pé de caqui. Se suas frutas amadurecerem e apodrecerem, as sementes irão cair no mesmo lugar, e o pé de caqui não poderá proliferar, mesmo que o queira. As plantas não podem se locomover e, por isso, precisam da ajuda de pássaros e animais, que “transportam” as sementes para diversos lugares. Em compensação, esses pássaros animais alimentam-se da polpa das frutas. Desse modo, tanto as plantas quanto os pássaros e animais se beneficiam.

Quando compreendemos isso, percebemos que este mundo, que parecia ser um lugar onde os seres vivos agridem e destroem uns aos outros, é um mundo de vivificação mútua, onde todos se beneficiam, cada qual suprindo o que falta no outro. Alcançando o despertar, passamos a ver o mundo abençoado, onde todos os seres vivificam uns aos outros. Compreendemos que em todos os seres estão manifestados a Vida, a misericórdia e o amor de Deus e é por isso que todos os seres se amam e se vivificam mutuamente. O mundo, que parecia um lugar de agressões e matanças mútuas, era, na verdade, um mundo maravilhoso, repleto de Vida infinita, amor infinito e sabedoria infinita de Deus.

Mesmo os seres que nos parecem hostis, na verdade, eles funcionam como um esmeril para polir a nossa alma e desenvolver a nossa espiritualidade, sendo, portanto, manifestação do amor de Deus, da misericórdia de Buda. Todos os seres existentes no céu e na terra amam e vivificam uns aos outros; não apenas os que se amam, mas também os que aparentemente são hostis. Este é o mundo onde todos se amam mutuamente e todos se harmonizam. Foi isto o que Sakyamuni compreendeu. Então, o mundo à sua volta, apesar de permanecer o mesmo quanto à forma, transformou-se totalmente para ele. E, contemplando a estrela da manhã no dia 8 de dezembro, expressou o seu despertar espiritual dizendo: “Seres animados e inanimados, todos alcançaram o despertar. Montes, rios, ervas, árvores, terra, tudo está realizado como Buda”. Compreendeu que “seres animados” (todos os seres vivos) e “seres inanimados” (todas as coisas existentes) – tudo é Buda; que montes, rios, ervas, árvores, tudo é manifestação de Buda; que tudo e todos se vivificam e se reverenciam mutuamente. Até então, pensava que este mundo era horrível como o inferno, mas compreendeu que estava equivocado. Assim, Sakyamuni despertou para a Verdade vertical.

MUDANDO A MENTE, MUDA O MUNDO

Mudando a visão de vida, tudo muda. Ninguém mata ninguém; todos são Vidas que se vivificam mutuamente. Se bem que, por exemplo, o capim do pasto desaparece temporária e superficialmente quando cortado pelo homem ou devorado pela vaca. Mas, se isso é realizado de modo adequado, mais tarde o capim cresce mais viçoso do que antes. Hortaliças que não são consumidas pelo ser humano vão-se definhando até chegar ao ponto de se confundirem com ervas daninhas, enquanto aquelas que são consumidas pelos humanos têm as espécies preservadas e vão sendo melhoradas a cada ano que passa. O arroz vem recebendo melhoramentos justamente porque é colhido pelos humanos todos os anos, e essa planta, que naturalmente seria mais frágil, graças aos melhoramentos recebidos, tem novas variedades mais evoluídas. Também as árvores precisam receber todos os anos uma intervenção chamada poda, que consiste em cortar alguns galhos e folhas, para que cresça vigorosamente. Como há quem faça a poda, as árvores crescem altas e vigorosas. Este é um mundo de vivificação mútua. 

Há argumentadores afirmando que cortar árvores para construir nossas casas ou colher hortaliças para alimentação também significa matar esses seres vivos, sendo, portanto, atos condenáveis, e que isso constitui um mundo de matança mútua. Mas esse era o pensamento da época em que Sakyamuni ainda não havia atingido a iluminação. Corretamente falando, o indivíduo em si “não existe”; o que existe verdadeiramente é a Ideia, que permite a manifestação do indivíduo. Isso pode ser mais facilmente compreendido através da filosofia da Seicho-No-Ie, segundo a qual “essencialmente o corpo carnal não existe”. Compreendendo que essencialmente não existe aquilo que chamamos de indivíduo, entendemos que a hortaliça não existe como vida individual; logo, não acontece de ela ser sacrificada e devorada. Hortaliça existe como Ideia, e a Ideia de hortaliça, eternamente indestrutível, não é sacrificada nem destruída; pelo contrário, é vivificada, e no ano seguinte manifesta-se de forma ainda melhor – ou seja, é vivificada de modo ainda mais intenso. Da mesma forma, as árvores crescem  quando algumas delas são podadas. Naturalmente, a poda não deve ser feita de modo indiscriminado. Manifestando-se a sabedoria de Deus em nossos atos, conseguiremos agir dentro do regulamento, assim como um jardineiro que realiza o trabalho de poda adequadamente, e, então, as demais árvores acabarão crescendo bem melhor.

Existem insetos considerados pragas que atacam as plantas, mas, na realidade, eles não são insetos nocivos. Por exemplo, as taturanas são consideradas pragas, mas elas não são pragas, mesmo que elas comam verduras ou folhas de árvore. Taturanas são larvas de borboleta. Que fazem as borboletas? Auxiliam na polinização. Elas visitam as flores e vão disseminando o pólen, mediando, dessa forma, o “casamento” das plantas e auxiliando na reprodução delas. Sendo assim, as taturanas não devem ser odiadas como pragas. Elas são dignas de serem amadas, pois não benfeitoras dos vegetais. Existe muitas espécies de vegetais que seriam extintas sem a existência de taturanas. Portanto, elas são, em vez de praga que faz mal às ervas e árvores, insetos úteis que auxiliam na reprodução dos vegetais. 

Teríamos nós, algum dia, agradecido a taturanas? Pelo contrário, pensamos: “Que atrevimento dessa taturana, comendo esta folha!”. Se elas comem as partes importantes da planta, é porque nelas está refletida a nossa mente carente de sentimento de gratidão, nossa mente egoísta. Se neste mundo não existisse mais nenhuma taturana, seria o mesmo que ficar sem nenhuma borboleta; e, sem borboleta, as plantas não poderiam desenvolver-se como agora. A única inconveniência das taturanas seria o fato de elas comerem os botões que estão para se abrir em flor ou brotos prestes a crescer vigorosamente, provocando assim uma situação de desarmonia. Portanto, o mal não está nas taturanas em si, nem no fato de elas comerem as plantas. Elas não são, originalmente, uma praga. O mal está na manifestação de uma situação desarmônica. Um mundo em que as taturanas comem as partes da planta que os jardineiros vão podar, e, mais tarde, tornando-se borboletas, atuam como transportadoras de pólen – assim é o mundo da verdadeira harmonia. 

Há realmente um mundo tão harmonioso? Na realidade, esse mundo verdadeiramente harmonioso existe, mas, devido à nossa mente em desavença, mente que odeia, mente irada, ele não se manifesta externamente, permanecendo invisível aos olhos carnais. Se plantas e taturanas parecem lutar entre si, é porque se encontra em ilusão a mente das pessoas; e, dependendo do grau de distorção dessa lente (“mente em ilusão”), aparecem como se estivessem em conflito os que não estão em conflito algum, ou aparece uma cena em que um invade a área do outro, tal como se observa numa foto com duas imagens sobrepostas, quando na verdade não está ocorrendo nenhuma invasão. Se eu confeccionasse duas lentes de prisma, uma para o olho direito e outra para o esquerdo, e as colocasse na armação dos óculos e olhasse para os senhores ouvintes através dessas lentes, às vezes eu veria como se os senhores estivessem dando cabeçadas uns nos outros – fato que não está acontecendo na realidade. Da mesma forma, quando vemos através de lentes de ilusão, enxergamos como se as pessoas estivessem brigando, por causa da distorção da lente mental. Isso acontece porque a mente está em ilusão. Quando a mente humana deixar de cair em ilusão e entrar em estado de verdadeira harmonia, os insetos nocivos deixarão de existir. As taturanas continuarão a existir, mas elas surgirão para devorar folhas secas, brotos que deveriam ser podados ou mudas de qualidade inferior que necessitam ser eliminadas. 

Há pessoas que têm medo de bactéria, mas há bactérias muito úteis. Missô (condimento à base de soja, usado pelos japoneses como tempero) e nuka-missô (pasta de farelo de arroz usada para fazer conserva de verduras e legumes) e bebidas fermentadas são produzidos pela ação de bactérias. Dentro dos nossos intestinos vive grande número de bactérias, sendo algumas de grande utilidade, que ajudam na fermentação do alimento ingerido no movimento peristáltico intestinal. Em condições naturais, bactérias nocivas não conseguem penetrar em nossos intestinos. Se existe bactérias nocivas em nosso corpo, isso é materialização do nosso sentimento. Mesmo sendo bactérias, sua vida tem origem na única Grande Vida. As rodas dentadas, fabricadas por um único artífice, que formam a engrenagem de um relógio, ajudam-se mutuamente, mesmo que aparentemente uma esteja dando dentada nas outras. Na realidade, cooperam-se mutualmente, contribuindo para o cumprimento da missão de vida do relógio. Esta é a Imagem Verdadeira.

CASO VERÍDICO DO DESPERTAR ESPIRITUAL DE UM ADEPTO

Há um caso interessante relacionado a isso.  No momento, não consigo me lembrar do nome da pessoa, mas hoje esse adepto realiza reuniões da Seicho-No-Ie numa localidade da região de Tanba. Ele se sentiu desgostoso de continuar vivendo, tal como Sakyamuni antes da iluminação. Pensou em matar-se e tentou suicídio por três vezes, mas falhou em todas as tentativas. Decidiu que, desta vez, iria suicidar-se de verdade, mas, já que iria morrer, desejou, antes, assistir a um show musical apresentado em Takarazuka, e depois escolheria uma linda paisagem como lugar para o suicídio.

Foi para Takarazuka, assistiu ao show e, cansado, saiu do teatro. Teve vontade de comer bananas e as comprou numa frutaria, cujo dono embrulhou-as num jornal. Mastigando a banana, ele abriu esse jornal e começou a lê-lo, quando deparou com a propaganda do livro A Verdade da Vida. “A Verdade da Vida?”, pensou. Parece que alguém que está pensando em morrer torna-se sensível à palavra “vida”. Ele ponderou que não seria mal conhecer a essência da vida antes de morrer. “Vou comprar esse livro e ler; onde estará à venda?”, pensou. Na época, as propagandas dos livros da Seicho-No-Ie vinham com lista de Regionais e postos de venda. Ele procurou e viu que havia um posto de venda em Kobe. “Fui uma vez a Kobe. Antes de morrer, quero rever aquela cidade portuária e comprar lá o livro A Verdade da Vida”, resolveu. A loja Misawa, em frente à loja de departamentos Daimaru, em Kobe, vendia produtos na vanguarda da moda, e era na época o posto de venda de A Verdade da Vida. “Vou ler esse livro antes de me matar” – com esse pensamento, foi até lá, comprou o livro e o leu. Ao ler A Verdade da Vida, ele mudou seu modo de pensar, tal como Sakyamuni no instante em que despertou para a Verdade.

Sakyamuni pensava que este era um mundo repleto de desgraças, em que os seres viviam matando-se uns aos outros, mas descobriu que, na realidade, não é um mundo de matanças, mas sim um mundo em que os seres se vivificam mutuamente. Entendeu que às vezes, superficialmente, pode parecer que se matam uns aos outros, mas, na verdade, este é um mundo de vivificação recíproca; na essência da Vida, os seres vivificam-se mutuamente. Ou seja, compreendeu que este é um mundo digno de gratidão, em que “Seres animados e inanimados, todos, já são Buda”.

Essa pessoa abandonou a ideia de se matar, voltou para a terra natal e foi dedicar-se à lavoura. Até então, achava maçante o trabalho na lavoura, mas, agora, trabalhava com alegria. Era início de primavera e ele estava revolvendo a terra com enxada. Ali, sapos que acabavam de sair da hibernação pulavam para fora da terra, mas nenhum deles se machucava. Antes, quando revolvia a terra no início de primavera, ele acabava mutilando os sapos escondidos debaixo da terra, decepando-lhes as patas ou machucando-lhes a cabeça. Mas, segundo ele, após compreender que este é o “mundo de vivificação mútua”, deixou de machucar esses bichos. “Ah, bati com a enxada na cabeça do sapo”, pensava às vezes e olhava para o sapo, mas ele saía inteiro, pulando contente e agradecendo. Realmente, este é o mundo de vivificação mútua. 

Antes, ele pensava que a enxada do agricultor e os sapos eram inimigos, mas não é essa a Imagem Verdadeira. É que a sua mente, apegada à ilusão, via o mundo através de uma lente tão distorcida como um prisma, e por isso parecia que o gume da enxada e a cabeça do sapo se chocavam, provocando o corte. Quando ele retirou a lente da ilusão e viu a Imagem Verdadeira com a mente sem distorção, mudou o mundo que se desenrola ao seu redor. E percebeu: “Eu pensava que o agricultor é ‘mutilador de sapos’, mas, na realidade, é vivificador de sapos”. Quando abrimos os olhos para a Imagem Verdadeira, não há outro mundo senão aquele em que todos se vivificam mutuamente. Quando chega o inverno, o sapo vai hibernar debaixo da terra, e, quando chega a primavera e a temperatura começa a se elevar, ele sente o desejo de sair para a superfície. Mas, para sair com a própria força, ele precisa despender grande esforço, já que esteve hibernando durante todo o inverno sem se alimentar e tem muita fome. Quando o agricultor chega e retira a terra que o encobria, o sapo pode sair para a superfície com toda a facilidade. Para este, é uma grande ajuda o lavrador revolver e retirar a terra que o encobria. Assim, todos os seres se vivificam mutuamente. Essa pessoa, que compreendeu que o mundo verdadeiro é aquele e que todos os seres se vivificam mutuamente, hoje promove reuniões da Associação da Fraternidade.

Imagino que tenha sido esse o estado espiritual de Sakyamuni quando atingiu a iluminação, despertando para a realidade do mundo da vivificação mútua entre todos os seres. Quando despertamos para a Verdade, compreendemos que tudo é governado pela sabedoria de Buda, protegido pelo amor de Buda, e vivificado pela Vida de Buda. Montanhas, rios, ervas, árvores, animais, insetos, peixes, moluscos, todos são manifestações de Buda. É um mundo de auxílio mútuo, de reverência mútua. Até então Sakyamuni considerava que este mundo era manifestação do inferno, mas compreendeu que na verdade, para sua surpresa, ele é um paraíso.
Cont...

Do livro “A Verdade da Vida, vol. 39”, pp. 46-58

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

A Iluminação de Sakyamuni - 1/2

Masaharu Taniguchi


ATÉ ABRAÇAR A VIDA RELIGIOSA

Sakyamuni abandonou o palácio e buscou a vida religiosa para encontrar o caminho da extinção dos quatro sofrimentos: nascimento, envelhecimento, doença e morte. “Sofrimento do nascimento” são os sofrimentos pelos quais o homem passa por ter nascido e estar vivendo. São as dificuldades financeiras e outros problemas da vida. Não só os sofrimentos da vida humana, mas também todos os sofrimentos pelos quais passam durante a vida todos os seres vivos. 

Isso Sakyamuni percebeu quando passeava pelo jardim e viu um corvo – que na realidade era um ente celestial metamorfoseado – descer ao solo e alimentar-se de um verme. Vendo tal cena, Sakyamuni sentiu: “Como é doloroso viver!”. E desejou não viver mais num mundo de luta pela sobrevivência, onde uma ave não sobrevive sem devorar vermes; onde os vermes, devorados pelas aves, não podem sobreviver; enfim, num mundo tão cruel em que não há como viver sem que um devore o outro, tirando-lhe a vida. Supôs que devia existir um mundo diferente, onde reinasse a harmonia. Ele desejou sair à procura de um mundo em que todos se vivificam e se ajudam mutuamente. Achou que, no palácio onde vivia, não encontraria um mundo assim, de colaboração mútua. Mesmo diante de um saboroso banquete, certamente Sakyamuni considerava que muitos seres vivos eram sacrificados até que esses pratos ficassem prontos e fossem servidos. Ao ver um prato preparado com verduras e legumes, indagava quantas minhocas e quantos sapos foram mortos durante o cultivo dessas hortaliças, e, na hora do preparo, quantos insetos foram levados pela água e morreram na lavagem. E lá estava na mesa o resultado dessas lamentáveis matanças. Vivemos dependendo de tantos sacrifícios dolorosos. O próprio Sakyamuni não cometia nenhum morticínio, mas, considerando que não se manteria vivo se não comesse esses alimentos, ele achava que indiretamente estava cometendo matanças. Desde então, o desejo de fugir desse mundo cruel onde reinavam matanças não mais saiu do pensamento de Sakyamuni.

Antes disso, quando do seu nascimento, um fisiognomonista (profeta/vidente) dissera ao rei: “O príncipe tem fisionomia de Buda. Se ele se tornar rei, será um grande rei, que proporcionará verdadeira e permanente paz ao mundo. Porém, provavelmente ele não será rei e abandonará o palácio para abraçar a vida religiosa e tornar-se um Buda”. Por isso, o rei tomara todas as providências para que o príncipe não abandonasse o palácio; mandou decorar os aposentos com requintes de beleza, para que ele não visse nada que fosse mau ou feio, mas visse apenas a beleza, ouvisse apenas músicas maravilhosas, ingerisse somente alimentos saborosos, e pensasse que este mundo é belo e constituído somente de prazeres. E, quando Sakyamuni – Príncipe Siddhartha na época – passeava pelo jardim, estava sempre acompanhado de guardas. O passeio era feito num jardim impecavelmente limpo e sob segurança máxima, proibindo a entrada, no jardim, de qualquer pessoa do povo de aparência desagradável.

Apesar de todas essas precauções, o ente celestial metamorfoseado em corvo desceu diante do príncipe. Não houve como impedir, e ele acabou percebendo que existia um mundo cruel em que os seres se matavam e se devoravam mutuamente. Desde então, o príncipe vivia um tanto melancólico.

O rei, preocupado, achou que, se não proporcionasse mais diversão ao príncipe, este poderia abandonar o palácio. Tornou ainda mais belos os aposentos, vestiu lindas mulheres com roupas deslumbrantes, e promovia todas as noites banquetes com apresentações de danças e músicas. Mas o príncipe não se divertia. E disse novamente “Quero passear pelo jardim”. Certamente pensou que lá havia um mundo diferente, desconhecido, cujo segredo ele desejava descobrir.

Talvez também desta vez foram tomadas todas as precauções, cuidando para que ninguém, a não ser acompanhantes e guardas, estivessem no jardim; mas, também desta vez, o ser celestial metamorfoseado apareceu repentinamente diante do príncipe. E agora, em vez de corvo, estava disfarçado de homem muito idoso. Este, com o corpo magérrimo, só pele e osso, e o rosto feio e cheio de rugas, andava curvado, com muita dificuldade, agarrado a uma bengala. Até então, o príncipe só havia visto pessoas jovens e bonitas, e não sabia que o que estava diante era um homem idoso. E perguntou ao criado:

– “Que é isso?”. O criado respondeu: – “É um velho”.
– “E onde vive esse animal tão feio?”.
– “Ele não é um animal. Todas as pessoas quando envelhecem, acabam tornando-se desse jeito”.
 – “Todas as pessoas ficam assim?”.
– “Sim, Príncipe, todo ser humano, com o passar dos anos, acaba tornando-se velho.”

Ouvindo a resposta do criado, o príncipe ficou bastante chocado.

 – “Então, com o passar dos anos, todo homem torna-se desse jeito? Isso é triste demais.” – pensou. “Não haverá um meio de o ser humano evitar que a sua pele fique enrugada e o corpo todo encurvado, e manter-se sempre jovem, forte e bonito? É pavoroso que todo ser humano envelheça e tome esse aspecto. Não teria um meio de evitar que isso aconteça?" – esta passou a ser a preocupação do príncipe. E ele foi-se tornando ainda mais melancólico.

O palácio todo ficou em alvoroço. Se a melancolia persistisse, o príncipe poderia abandonar o palácio, como fora previsto anos atrás. Por isso pensaram que deveriam diverti-lo a qualquer custo. No seu aposento foram reunidas lindas mulheres, escolhidas a dedo, de todo o país; serviram banquetes deliciosos, apresentaram danças, tocaram harpas, enfim, apresentaram-lhe tudo quanto era diversão deste mundo; mas o príncipe não ficava feliz. Olhando para as belas mulheres, ele se lembrava de que elas também envelheceriam e tornar-se-iam feias como aquele velho que vira no jardim, e sua tristeza aprofundava-se ainda mais. Pensava num meio para evitar que o ser humano envelhecesse, e a tristeza e a melancolia aumentavam cada vez mais. Preocupado, o rei tentava consolar o filho, mas este manifestou o desejo de novamente passear ao ar livre.

O príncipe, então, saiu para passear num jardim impecavelmente limpo, sem uma só sujeira, sob severa guarda. Mas, apesar de todos os cuidados que foram tomados, encontrou caído no caminho um homem com aparência de leproso, coberto de chagas e todo extenuado. O príncipe nunca tinha visto um ser vivo com essa aparência. Seu corpo meio decomposto secretava pus sanguinolento. Vendo-o, indagou:
– “O que é aquilo?”.
 – “Aquilo se chama doente”.
– “E onde vive esse tal de doente?”.
– “Todo homem um dia torna-se doente” – respondeu o acompanhante.
O príncipe, que até então só conhecia seres humanos jovens de bela aparência, ficou profundamente triste ao saber que o homem não só envelhecia, mas também se tornava um disforme doente.
– “Que acontece depois de ficar doente?”.
– “Meu príncipe, todo ser humano acaba morrendo ao fim de uma doença.”

Calaram fundo no coração do príncipe as palavras todo ser humano”.

– “Então, todo ser humano envelhece, adoece e morre. E, enquanto vivo, permanece num mundo em que seus habitantes devoram-se uns aos outros, engalfinham-se, lutam uns contra os outros. Para que o ser humano nasce num mundo assim? Por mais bela que possa parecer uma pessoa, tal aparência é falsa. Acontecem matanças por trás dessa aparência de beleza. Matam-se, e o vencedor consome a carne, o sangue, os nutrientes do vencido para os dispor dentro do próprio organismo, e é esse corpo que as pessoas veem como belo físico. É uma falsidade o que vemos como beleza física. Esse é o homem, o mundo dos homens, um mundo miserável. E aquele que com muita dificuldade consegue sobreviver, acaba envelhecendo, fica com a pele toda enrugada, o corpo encurvado e, consumido pela doença, acaba morrendo. É inútil viver num mundo assim. Não haverá um meio de fugir deste mundo e viver num mundo eterno, onde não se envelhece, em que não há lutas e matanças?”. Toda vez que pensava assim, o coração do príncipe tornava-se ainda mais melancólico.

FINALMENTE, ABANDONA O PALÁCIO

O rei, cada vez mais preocupado, e desejando consolar o filho, rodeou-o de mulheres ainda mais belas, mas este não conseguia ver a beleza das moças como beleza pura e simples. Parecia ver a desgraça, a luta repugnante, a lamentável tragédia por trás da bonita forma delas. 

Porém, chegara a hora de finalmente partir e abraçar a vida religiosa. Por uma força sobrenatural dos entes celestiais, as belas moças que tocavam instrumentos musicais repentinamente caíram em sono profundo, como que anestesiadas. E que cena horrorosa elas apresentavam! Sua pele, que parecia linda, agora estava flácida, e babavam de boca aberta como um demente. “É esta a verdadeira natureza do ser humano. O que parecia beleza é uma falsidade. Debaixo dessa pele, existem repugnantes músculos encharcados de sangue. Debaixo deles, há vísceras contendo horrendos materiais fecais e outras imundícies...” – pensou o príncipe.

Finalmente, o príncipe tomou a decisão. Aproveitou que todos os seguranças estavam adormecidos, e abandonou o palácio. Inicialmente, procurou os ascetas brâmanes Arada Kalama e Udraka Ramaputra para, sob suas orientações, realizar vários tipos de ascetismo, na busca do caminho para solucionar os quatro sofrimentos: nascimento, envelhecimento, doença e morte. “O homem veio matando variados seres vivos para se alimentar; vive infligindo sofrimentos aos semelhantes e demais seres vivos. Portanto, sem passar por sofrimento, não poderá purificar os carmas negativos que veio acumulando” – imagino que seja este o pensamento que ocorre naturalmente a qualquer pessoa. Mas nenhum dos ascetas pôde indicar para Siddhartha o caminho para purificar verdadeiramente a alma. Ele, então, agradeceu-lhes e partiu. 

Chegou à floresta de Uruvela, onde praticou ascetismo durante seis anos, quase sem se alimentar. Procurou viver de modo a tirar o menos possível a vida de outros seres vivos, a apropriar-se de coisas alheias o menos possível, e a causar transtorno aos outros o menos possível. Mas não havia outra forma de viver senão tirando algo dos outros. Comer verdura significava matar a verdura, e isso era lastimável. Mas, se não comesse nada, estaria matando a si próprio. Também ele era um ser vivo, e tirar a própria vida também seria cometer pecado de matar. Não podia morrer nem viver. Siddhartha mal se mantinha vivo, comendo o mínimo, passando fome e sofrendo. Tornou-se pele e osso, em estado deplorável, mas não conseguiu o caminho da solução. Mortificou-se durante seis anos praticando ascese e, no final, não encontrando o caminho para o despertar, percebeu que “ascetismo não leva à iluminação”. Então, saiu do bosque do ascetismo e desceu ao sopé da montanha, onde corre um pequeno rio chamado Nairanjana, e ali se banhou, purificando-se da crosta de sujeira que se acumulara em seu corpo durante os seis anos de ascese.

Às vezes, vemos em templos budistas uma imagem de Sakyamuni praticando rigorosa ascese e ficamos impressionados com seu corpo definhado e sua expressão de sofrimento. Dizem que esse era o aspecto de Sakyamuni quando ele desceu do monte, na madrugada do dia 8 de dezembro, e foi banhar-se no rio Nairanjana. Ele estava na margem desse rio, quando uma jovem brâmane aproximou-se e lhe ofereceu um prato de papa de arroz cozido com leite. Até esse momento, Sakyamuni considerava pecaminoso consumir alimentos como aquele. Ele pensava: “Os cereais também estão vivos, e comê-los significa tirar-lhes a vida. O leite de vaca é alimento dos bezerrinhos; ao toma-lo, o ser humano está roubando o alimento deles. A vida do homem neste mundo consiste em obter alimentos para si roubando e matando outros seres vivos”. Ele vivia atormentado por esse pensamento. Mas naquele instante, por alguma razão, ele conseguiu comer, sem nenhum sentimento de culpa, a papa de arroz cozido com leite, que lhe foi oferecida pela jovem brâmane, e o seu coração se encheu de gratidão.

MUDANÇA DE VISÃO

Percebemos, nesse episódio, a mudança repentina da postura mental de Sakyamuni. Naquele instante, ele viu um mundo diferente daquele que enxergara até então. Do ponto de vista físico, ele comeu um alimento material, feito de arroz e leite. Mas a sua mente não se ateve à matéria, e ele aceitou, com profunda gratidão, o nutriente espiritual contido no alimento oferecido: o amor e a bondade da jovem brâmane. Antes, quando ele observava o mundo à sua volta sob o ponto de vista material, parecia-lhe que o ser humano saqueava e matava outros seres para obter sustento para si próprio. Naquele momento, diante dele não havia matança nem saque. Com o coração repleto de gratidão, pensou: “Essa jovem brâmane, desejando vivificar-me, veio-me oferecer espontaneamente um prato de papa de arroz cozido com leite, sem que eu o pedisse. Eu próprio não produzi cereais nem fabriquei o leite. No entanto, o grande amor de Deus, que abençoa e vivifica todos os seres e coisas do Universo, chegou até mim por meio de várias pessoas e manifestou-se sob a forma deste prato de comida. Louvado seja Deus!”. Alcançando o despertar espiritual, Sakyamuni percebeu que este mundo, que antes lhe parecia um palco de matanças mútuas dos seres vivos, era, na verdade, um mundo onde todos os seres vivificam uns aos outros.
Cont...



Do livro “A Verdade da Vida, vol. 39”, pp. 37-46

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Liberdade da Vida - 2/2

Masaharu Taniguchi


Sendo assim, como a Seicho-No-Ie pode transcender os quatro sofrimentos? Não é nada difícil. É fato que há pessoas que vieram à Seicho-No-Ie e estão felizes porque se curaram de doenças. Outras, porque ganharam dinheiro. Outras, porque vem a elas tudo que desejam. Tais fatos são estados de liberdade da vida. Uma pessoa que estava com a mobilidade limitada pela doença se cura e passa a se movimentar livremente – isso é, sem dúvida, prova de que a Vida retomou a liberdade. Alguém recebe dinheiro justamente quando estava precisando dele, ou ganha castanhas quando sentia o desejo de comê-las, ou recebe de presente maçãs quando as desejava, ou chegam doces quando os desejava – podemos dizer que, em tais casos, manifestou-se a liberdade da Vida da pessoa. Sem dúvida, isso é um fato. 

Mas, se há pessoas que dão importância apenas a essas coisas materiais e vivem agradecendo apenas por isso, elas estão por demais inclinadas para o lado material, e não se pode dizer que vivem o verdadeiro estado de libertação. Quem pensa que ter liberdade é apenas receber graças materiais, um dia acaba tropeçando. Em suma, a verdadeira liberdade não é obtida por aqueles que se contentam em obter graças materiais no mundo limitado. O mundo fenomênico, material, que percebemos através dos cinco sentidos, é um mundo transitório. Sakyamuni disse: “Tudo é efêmero”. Todo fenômeno é passageiro e não tem outro destino senão desaparecer. Mesmo que a pessoa se cure da doença, um dia acabará morrendo. Mesmo que ganhe dinheiro, este poderá diminuir. Ainda que não diminua, um dia o corpo carnal chegará ao fim, e a pessoa terá de deixar seus bens e partir. Isso é um fato. Essa é uma verdade. Os fenômenos materiais que conhecemos através dos sentidos são todos transitórios. Se não conseguimos obter a verdadeira libertação, a verdadeira liberdade da Vida dentro dessa transitoriedade, não podemos dizer que experimentamos verdadeiramente a liberdade da Vida. Eis a verdadeira libertação religiosa, a salvação religiosa.

Religião não existe para as pessoas ganharem dinheiro, nem para curar doenças. Naturalmente, há casos em que as pessoas ganham dinheiro e também há casos em que as pessoas se curam de doenças. Bem entendido: há casos. Isso porque trata-se de fenômenos consequentes. O mundo fenomênico é manifestação das ondas mentais, que são passageiras. Quando produzimos ondas mentais positivas, estas se projetam na tela tridimensional do mundo fenomênico, em forma de corpo saudável ou de um lar feliz. Mas essas coisas também são transitórias e um dia deverão desaparecer. Se nos apegarmos a esses resultados benéficos, considerando-os perenes, perderemos a liberdade da Vida. Nós, vivendo neste transitório mundo fenomênico, devemos apreender o nosso Eu Verdadeiro, imperecível e verdadeiramente livre, que está por trás da imagem passageira, destrutível, fadada a desaparecer um dia. Somente quando apreendemos verdadeiramente esse Eu, conseguiremos experimentar realmente a liberdade permanente, em meio às coisas passageiras. Isso não pode ser conhecido por observador externo: trata-se de conscientização individual. Conscientizar a Vida eternamente imutável e indestrutível dentro da transitoriedade – isto é a verdadeira salvação, a libertação religiosa.

Na Seicho-No-Ie, encontramos a expressão “Viver o agora” em várias passagens da coleção “A Verdade da Vida”. Quando conseguirmos viver o “agora eterno”, viver o eterno instante do “agora”, teremos a real sensação de que não nos importamos de morrer fisicamente logo a seguir. É essa a verdadeira liberdade vivenciada pelas pessoas que vivem a vida eterna no instante do agora. Portanto, quem age como aquela mulher idosa que pediu “Mate-me agora” e, quando alguém ameaçou mata-la, pediu que lhe poupasse pelo menos a vida, não conhece a verdadeira liberdade da Vida. Obviamente, não existe aí a verdadeira libertação. A verdadeira liberdade deve consistir em experienciar a Vida eterna em cada momento, em cada instante. Nesse momento, conscientizamos que naturalmente, no estado presente, vivemos o infinito, a eternidade. 

O importante é o agora no estado presente. Alcançamos a verdadeira liberdade quando apreendemos o “naturalmente, no estado presente”. Esta expressão é difícil de explicar, mas, quando apreendermos esse “naturalmente, no estado presente”, estaremos reconciliados com tudo e com todos, unido a todos. E a Revelação Divina constante do início de A Verdade da Vida, Vol. 1, diz o seguinte: “Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra. Quando se efetivar a reconciliação com todas as coisas do céu e da terra, tudo será teu amigo. (...) A reconciliação verdadeira não é obtida nem pela tolerância nem pela condescendência mútua”. Tentar tolerar o outro, pensando “Vou-me reconciliar com ele, pois a reconciliação é o princípio fundamental do Universo” não é harmonizar-se verdadeiramente. Quando nos colocamos num ponto do Universo, isto é, num instante do tempo que corre desde o passado infinitamente remoto até o futuro sem fim, compreendemos que a Vida eterna vive agora em nós, que todas as vidas vivem dentro dessa correnteza eterna, e que estamos salvos agora, naturalmente, no estado presente. Quando compreendemos isso, todos os fatos e coisas se transformam em motivo de gratidão. É diferente de tolerar e condescender para tentar viver em harmonia com os outros.  Quando despertamos espiritualmente e sentimos “Sou grato, assim como estou. Aqui, agora, vive a Vida eterna. Graças! Muito obrigado!”, somente então, tudo e todos estão harmonizados verdadeiramente.

Quando Buda Sakyamuni alcançou o despertar e compreendeu que vive o agora eterno, a Vida eterna agora, e alcançou a verdadeira libertação, a liberdade da Vida, somente então o seu despertar manifestou-se como luz da misericórdia. 

Por exemplo: vejamos os dedos das mãos. Cada dedo está situado num determinado ponto da palma da mão e aparentemente existe independente de outros dedos, mas essa aparência é falsa. Situando-se separadamente no tempo e no espaço, todos os dedos estão, ao mesmo tempo, integrados na mão como um todo e ligados entre si como irmãos. Cada dedo é extensão de uma vida ou substância chamada “palma da mão”. Como podemos perceber por este exemplo dos dedos, o que vemos como “outros”, aparentemente distintos de nós, não são de forma alguma seres separados de nós; todos os seres viventes e nós constituímos um só ser. Quando compreendemos esta Imagem Verdadeira da unidade dos seres, surge em nós o sentimento de misericórdia ao próximo, e realizamos trabalho para a salvação dos semelhantes ou “ações de bodisatva”. Portanto, o trabalho de Buda Sakyamuni após despertar para a Verdade consistiu em propagar a toda humanidade esse despertar que alcançara. Eis a missão de um Buda.  

Segundo registros, em determinada ocasiões, ele ajudou as pessoas materialmente e deu remédios para doentes, mas o que Sakyamuni desejou proporcionar à humanidade foi que cada pessoa conseguisse atingir a verdadeira liberdade da Vida. Permitir às pessoas viver a Vida eterna em cada instante do “agora”, sem se apegar aos aspectos transitórios do “nascimento, velhice, doença e morte”, e fazer com que elas despertem para a Vida verdadeira, que é infinita e livre, e que existe agora em cada instante do viver – foi esse o maior desejo do grande e santo homem Buda Sakyamuni. E é nisso que se baseia toda a sua pregação. Segundo ele, a salvação das pessoas necessitadas nem sempre consiste na doação de bens materiais. Disse até que, nos anos em que uma região fosse castigada pela fome, os discípulos deveriam visitar a casa de camponeses pobres para fazer mendicância religiosa. Chegar à casa de um camponês que sofre de pobreza, má colheita e fome, e pedir uma tigela de comida, significa tirar ainda mais do pobre que está sofrendo.

Mas a liberdade que Sakyamuni desejou às pessoas não é a liberdade material. É a liberdade que faz brotar no coração da pessoa o sentimento de amor, ou seja, o desejo de dividir com o religioso o pouco da comida que tem. Esse sentimento de amor constitui a natureza búdica. A misericórdia constitui semente (natureza) de Buda. Sakyamuni disse que fazer mendicância religiosa entre os camponeses pobres na época da escassez, com o intuito de despertar neles essa natureza (semente) búdica, é que constitui, paradoxalmente, a verdadeira misericórdia. Naturalmente, trata-se de pregação-expediente, feita de acordo com o nível e a situação das pessoas. Ele pregou de variadas formas, de acordo com variadas situações. Em seus 40 anos de pregação, pregou de várias formas, e por isso o budismo de hoje está dividido em várias ramificações. Mas, em suma, o que pretendeu Buda Sakyamuni para as pessoas não foi a cura de doenças nem ganho de dinheiro. Foi a libertação, que transcende tais benefícios materiais. Esse foi o objetivo da salvação da humanidade empreendida por Buda. Naturalmente, algumas vezes ocorreram curas como consequência. 

Consta na sutra Agon-Kyô (Sutra Agama) que, certa vez, Sakyamuni visitou um discípulo e o encontrou doente, com febre. Então, disse-lhe que recitasse novamente as sete fórmulas para alcançar o despertar, que lhe tinha ensinado havia algum tempo. O discípulo obedeceu, recitando novamente as fórmulas, e imediatamente ficou curado. Considerar por isso que Sakyamuni era possuidor de poderes sobrenaturais não é totalmente errado. Mas, na realidade, esse monge estava doente porque havia se esquecido dos sete meios para alcançar o despertar. O mestre mandou que se relembrasse deles e os recitasse, e o discípulo ficou curado quando assim fez. Semelhante conselho é feito pela Seicho-No-Ie quando recomenda a leitura de “A Verdade da Vida”. Diante do conselho: “Recite, pronuncie novamente”, o discípulo recitou na hora; portanto, ensinamento devia estar na memória. Mas, como não estava à tona do consciente, o discípulo estava em ilusão e, consequentemente, havia adoecido.

Mesmo que entendamos perfeitamente o teor dos livros da Verdade, devemos relê-los em voz alta, para que entre em ação a força da palavra (vibração). Assim é a força do mantra Shingon, do Odaimoku, do Namu-Amida-Butsu, da transcrição manual de sutra, enfim, o poder da palavra. Pelo poder da palavra se desperta o Buda de nosso interior. Por isso, não devemos pensar que não há necessidade de novas recitações porque já atingimos o despertar espiritual, ou que não há necessidade de releitura porque já compreendemos a Verdade. Devemos constantemente recitar Namu-Amida-Butsu, recitar o Odaimoku,  ler livros sagrado e Sutras Sagradas. Assim procedendo, a Verdade – que estava esquecida (se bem que é impossível esquecê-la por completo) e escondida no fundo do subconsciente – submerge vivamente pela força da palavra. Com isso são eliminadas todas as impurezas mentais, e acabam acontecendo curas como a do discípulo citado na sutra Agon-Kyô. 

Mas o corpo físico é algo transitório, uma imagem projetada no mundo fenomênico. É semelhante a um filme: por mais saudável que seja o lutador projetado na tela do cinema, ele inevitavelmente acaba desaparecendo. Por mais saudável que se apresente o nosso corpo, ele não passa de uma imagem passageira. Por isso mesmo, consta na Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade que “por mais saudável que esteja um lutador, desde que ele veja o corpo como seu Eu, ele é um elemento perecível e não é verdadeiramente saudável”. É verdade que na Seicho-No-Ie, dizemos que doenças são curadas e que vem a nós o que desejamos; mas, se nos apegarmos a tais fatos, acabaremos caindo no fundo do poço da ilusão.

Esta manhã recebi carta de um adepto, cujo teor diz o seguinte: “Enviei-lhe uma carta com um pedido de cura à distância, mas recebi de outra pessoa, e não do mestre Taniguchi, uma resposta fria dizendo que ‘A Seicho-No-Ie não é médico e, por isso, não faz tratamentos de doença. Sentimos muito, mas pedimos compreensão.’”. Mas isso é óbvio, pois a Seicho-No-Ie não é médico e, por isso, não cura doenças. A referida carta está escrita em tom raivoso e diz mais o seguinte: “Eu pedi cura à distância. Para começar, quem iria pedir cura à distância a um médico? Justamente por ser Seicho-No-Ie que solicitei esse tipo de cura”. Ele pensa equivocadamente que a Seicho-No-Ie é uma clínica de cura espiritual ou algo parecido. Mas a Seicho-No-Ie não é lugar onde se pratica cura espiritual. Ela recomenda: torne a recitar o meio para alcançar o despertar, repita-o em voz audível, repita-o mentalmente e conquiste a verdadeira liberdade da Vida, para assimilar a vida eterna no instante do Agora. Isto é o fundamental. Fazendo o que é fundamental, manifesta-se a saúde no transitório mundo fenomênico, e também a difícil situação financeira é solucionada de modo natural, manifestando-se a abundância. Isso é uma consequência natural, pois, quando a nossa mente alcança a liberdade, esta se projeta na tela de tempo e espaço em forma de benefícios materiais. 

Porém, aquela carta diz: “Seicho-No-Ie é falsa? Consta em A Verdade da Vida dois ou três exemplos de doentes que se curaram quando pediram oração ao mestre Taniguchi. Causa-me estranheza que, quando solicitei cura à distância, respondeu-me outra pessoa em seu lugar, afirmando que a Seicho-No-Ie não é médico. Serão mesmo verdadeiros os inúmeros exemplos de cura constantes no livro A verdade da Vida?, etc., etc.”. Enfim, consta uma série de palavras insultuosas.  

De fato, há pessoas que me enviaram carta pedindo cura à distância e que realmente se curaram. Mas as pessoas que obtiveram a cura têm estado de espírito condizente com a cura. Jesus também disse: “Tua fé te curou”. Se alguém tenta ligar um aparelho de rádio de má qualidade ou quebrado e não consegue ouvir nada, a culpa não é do locutor ou da emissora. Por isso, é um erro dizer “Não ouço o locutor falando; e a emissora é um embuste”. Aquele que, dessa forma, critica os outros e alimenta ódio contra o próximo não alcançou nenhuma liberdade de espírito; ele tem unicamente ilusão mental e sentimento de apego, que são como aparelho de rádio avariado. Enquanto tal vibração de ilusão se manifestar no mundo fenomênico, não pode aparecer outra coisa senão doenças e dificuldades. Peço que tais pessoas abram e leiam as primeiras páginas do volume 1 da coleção A Verdade da Vida, onde consta solenemente: “Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra”. Prosseguindo, na sutra está escrito claramente: “Não havendo a reconciliação com todas as coisas do Universo, mesmo que Deus queira te auxiliar, as vibrações mentais de discórdia não te permitem captar as ondas da salvação de Deus”. 

Porém, o missivista citado anteriormente segura firme na mente apenas a doença e fica ressentido por não ser curado. Está muito enganado, se pensa que com tal atitude mental será curado e se foi com essa intenção que abraçou a Seicho-No-Ie. Infelizmente, ele não compreendeu realmente o que a Seicho-No-Ie prega. Por isso digo: “Antes de mais nada, leia A Verdade da Vida. Releia-a muitas vezes, até compreender a fundo a Verdade”. Seja oito ou dez vezes, lendo e relendo atentamente, acabará por compreender a Verdade e, de acordo com o grau dessa compreensão, acabarão desaparecendo, por si, tanto a doença quanto todas as infelicidades fenomênicas. Já que o mundo fenomênico é projeção de ondas que se modificam a todo instante, é preciso produzir ondas positivas por meio da compreensão da Verdade.

Certa vez, recebi a visita de uma senhora que é fervorosa leitora da coleção A Verdade da Vida.  Segundo me disse, ela sofria de tuberculose, doença cardíaca, neuralgia intercostal e muitas outras doenças. Ela relatou que leu e releu a coleção cerca de oito vezes. Para ler, costumava sentar-se em posição ereta diante do oratório da família, e o seguinte episódio aconteceu quando lia o volume 3 da coleção (Sagrado Espírito/Testemunhos – hoje, volumes 5 e 6). Inexplicavelmente, ela puxou para si a oferenda de doces que estava no oratório e, sem se dar por isso, começou a belisca-los. Acontece que um dos familiares havia passado raticida nos doces, para evitar que surgissem ratos na sala de oferendas onde fica o oratório. Sem saber disso, ela continuou beliscando-os. Como fez isso concentrada na leitura, não percebeu o odor característico do veneno, e acabou comendo todos os doces da oferenda. Então começou a sentir fortes dores, e os familiares resolveram chamar o médico. Mas essa senhora já era possuidora de inabalável fé religiosa. Pensou: “Minha vida é Vida que recebi de Deus. Se Deus deseja que eu continue vivendo, Ele me fará viver. Se for Sua vontade eu morrer agora, morrerei feliz”. Ela estava com o sentimento de entrega total a Deus. Quando o médico chegou, ela já se encontrava inconsciente.

Certamente, o médico tomou providências adequadas, e, dali a pouco, ela foi voltando a si. Ouviu então, vinda do céu, uma melodia indizivelmente sublime, semelhante a músicas apresentadas no Palácio Imperial e em templos xintoístas, que subitamente se transformou no Canto Evocativo de Deus que entoamos na Meditação Shinsokan. Ficou ouvindo extasiada e, novamente, foi voltando a si. E pensou “Minha vida eu a recebi de Deus. É Deus Quem me vivifica. Se eu devo morrer, Ele me levará”. Estava, assim, calma, com o sentimento de entrega total a Deus. Tal estado espiritual constitui a verdadeira libertação. “Eu sou um com Deus, vivendo ou morrendo estou sempre junto a Deus; eu vivo no fluxo da Grande Vida” – esta, sim é a verdadeira libertação.

Curar-se de doença ou ganhar dinheiro não constitui a verdadeira felicidade. “Encontro-me no fluxo da Grande Vida, e tanto o viver quanto o morrer são providenciados por Deus. Se minha presença neste mundo ainda for necessária, Deus permitirá que eu viva” – entregando-se totalmente a Deus com tal pensamento, essa senhora pôde se levantar no dia seguinte. No terceiro dia, já haviam desaparecido todos os sintomas de intoxicação, e, ao mesmo tempo, fora curada da tuberculose que tanto a atormentava. Não só a tuberculose, mas também a doença cardíaca, a neuralgia intercostal e todas as outras doenças haviam desaparecido. 

Quer dizer, essa senhora abandonou totalmente o seu eu no instante em que teve tontura e caiu por intoxicação. Ou seja, tornou-se uma com a Grande Vida e alcançou a verdadeira liberdade, e, consequentemente, foi curada de todas as doenças. Também a nossa saúde física deve ser manifestação do nosso verdadeiro despertar espiritual no mundo fenomênico. Aquele que se esquece do Eu verdadeiro e se encontra no estágio espiritual de procurar ajuda dos outros, está em nível bem inferior ao do estado espiritual dessa senhora. Em tal estado espiritual, não é possível adquirir a saúde verdadeira, nem há como alcançar a verdadeira liberdade da vida.
Cont...

Do livro “A Verdade da Vida, volume 39”, pp.  24-36

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Liberdade da Vida - 1/2

Masaharu Taniguchi


Há muito tempo, uma mulher idosa visitou um templo no meio da madrugada e ficou orando: "Sendo meu filho e minha nora afeiçoados demais um ao outro, sinto-me tão só, que desejo morrer. Por favor, mate-me". Nisso, apareceu um assaltante que disse: "Vou mata-la. Passe o seu dinheiro", e ela saiu correndo, gritando "Por favor, poupe pelo menos a minha vida!". Imagino que "salvar pelo menos a vida" seja o desejo comum a todas as pessoas. Mas, quando consideramos o que seja essa vida (força vital), acho que o seu sentido difere de indivíduo para indivíduo. A "vida" que a mulher idosa suplicou ao assaltante que poupasse, a vida eterna que muitas pessoas santas desejam alcançar através da ascese, e a vida comum de pessoas que sobrevivem parcamente, diferem quanto ao seu conteúdo, apesar de usarem o mesmo termo "vida". Mas qual será o ponto de vista comum entre essas "vidas"? Eu penso que seja a "liberdade".

A essência da vida consiste na liberdade. Aquela idosa não desejava viver no mesmo mundo em que o filho e a nora eram por demais afeiçoados um ao outro; ela se sentia muito solitária e por isso desejou a morte. Esse desejo de morrer é um estado mental de quem busca a liberdade. Isto porque ela estava presa ao filho pelo sentimento de apego. Sentia como se o filho tivesse sido roubado pela nora. Ela desejava amá-lo livremente, monopolizá-lo, mas essa liberdade de amar e monopolizar fora tolhida pela existência da nora "que lhe tomara o filho" e não podia ser satisfeita. O que ela estava tendo era o oposto de liberdade. Assim, desejou obter, de alguma forma, a verdadeira libertação que deve existir em algum lugar, livrando-se do apego, e para isso poderia até morrer.

Imagino que tenha sido com tal pensamento que ela foi impelida a ir ao templo para orar, na hora mais escura da noite. Mas, quando surgiu o assaltante e ameaçou-lhe tirar a vida, ela deve ter pensado: "Se perder a vida, terei liberdade? Poderei amar livremente o meu filho?", e chegou à conclusão de que a resposta era negativa. Ela estaria de novo perdendo a liberdade, e provavelmente por isso gritou: "Por favor, poupe pelo menos a minha vida!".

Há pessoas que, ao adoecerem, recorrem à religião e oram a Deus ou a Buda: "Por favor, conceda-me a cura desta doença". Também nesse caso, a motivação é o desejo de obter liberdade. Por que doença é um mal? Porque ela tira a liberdade do corpo. Há ainda a questão da dor, mas a essência da dor também é a falta de liberdade. Ou seja, quando a vida flui sem impedimento, a dor não aparece. Mas, em situação oposta, quando a vida é impedida de fluir livremente, esse estado se reflete em nosso sentido em forma de dor. Portanto, podemos considerar que o desejo de se livrar da dor de uma doença, em suma, é desejo de obter liberdade.

Existem também pessoas que oram a Deus ou Buda: "Permita que eu ganhe dinheiro". Isso também vem do desejo de obter liberdade. Tendo dinheiro, pode-se comprar o que quiser, ir aonde quiser, assistir a peças teatrais, shows, concertos, ir dançar, comer coisas deliciosas. Enfim, podemos dizer que o desejo de ganhar dinheiro, de obter bens, surge do desejo humano de alcançar a liberdade. Podemos dizer o mesmo do desejo de ter um lar harmonioso ou melhorar o país em que vivemos. Melhorando a situação do país, as pessoas se tornam mais livre. O homem deseja viver sem ser amarrado por ninguém, deseja que surja naturalmente um mundo bom, onde toda a humanidade possa realizar naturalmente o que deseja, em estado de harmonia. Esse desejo é o de busca de liberdade. Esse anseio de liberdade manifesta-se como movimento social, movimento revolucionário, várias formas de atividades beneficentes, movimentos políticos, educacionais ou religiosos. Tudo isso é movido pelo desejo de obter liberdade.

Qual a essência da vida do ser humano? É a liberdade. Assim sendo, podemos considerar que se aloja, no interior do ser humano, o anseio de exteriorizar a liberdade nele existente.

Pois bem, ao fato de o homem alcançar a liberdade se diz, em termos budistas, "desatar-se", isto é, soltar-se das amarras. Este é o estado de quem alcançou a liberdade ou atingiu a suprema sabedoria de Buda. Buda é aquele que manifestou realmente a liberdade inerente à Vida.

A essência da Vida que se aloja em nós é a própria liberdade, e ela está a todo momento tentando manifestar-se externamente. Mas neste mundo fenomênico, existem empecilhos tais como matéria, corpo carnal e várias condições materiais que não nos permitem alcançar tão facilmente a liberdade. Quanto mais libertação procuramos, mais ficamos presos à matéria, como se estivéssemos aprisionados numa armadilha que mais se fecha quanto mais nos debatemos; e assim não conseguimos manifestar a liberdade inerente à Vida. Naturalmente, as inúmeras invenções da ciência - tais como avião, trem, navio, automóvel, eletricidade, rádio e muitas outras invenções - são uma espécie de libertação que o homem conseguiu através de grande e árduo trabalho, para a manifestação da sua natureza livre. Por exemplo, antigamente, as pessoas levavam de 15 a 20 dias a pé para percorrerem a distância entre Tóquio e Osaka, mas, hoje, é possível cobrir com facilidade a mesma distância em poucas horas; tal fato revela que se manifestou boa parte dessa liberdade inerente à Vida. Quando essa viagem é feita de avião, consegue-se ainda mais alto grau de liberdade do que viajando de trem ou de navio. Podemos dizer, em suma, que a conquista do mundo natural pela ciência possibilitou a manifestação progressiva na liberdade inerente à Vida do homem.

Porém, por mais notável e constante que seja o progresso da ciência, existe um limite no grau de conquista da liberdade, isto é, o inevitável limite físico. Ainda que os nossos desejos ou pensamentos possam ser transmitidos na mesma hora para receptores que estão a milhares de quilômetros de distância, por meio de telégrafo sem fio ou rádio, sempre há limitações nas condições físicas. Por mais que conquistemos a Natureza por meio de invenções científicas, ainda há muitas coisas que não podemos conquistar. como vemos, os desejos humanos são ilimitados.

Naturalmente, com o avanço das descobertas científicas, da Farmacologia e da Medicina, o homem descobriu formar de satisfazer até certo ponto os seus desejos e encontrou meios de curar muitas doenças. Assim, o homem vem conquistando a liberdade até certo ponto. A Humanidade pode orgulhar-se disso como resultado conseguido através do seu esforço. Porém, a liberdade ainda não foi totalmente alcançada. Apesar do avanço da Medicina, são poucos os remédios com particular eficácia contra doenças. Muitos doentes não se curam através da Medicina. Quando o paciente chega a falecer, o médico emite um atestado de óbito relatando que o paciente sofria de tal doença, esteve sob os cuidados dele (médico) mas não se curou, atestando, assim, que a Medicina não é capaz de curar todas as doenças. A Medicina progrediu, mas ainda não é capaz de permitir ao homem manifestar plenamente a liberdade inerente à Vida. Existem ainda muitos outros esforços humanos a considerar, mas há limite na liberdade que se ontem através da conquista do mundo fenomênico exterior por meios materiais, não sendo possível proporcionar a liberdade total.

No mundo da matéria, a liberdade da Vida não é assegurada em lugar nenhum. E uma vez que a liberdade inerente à Vida é a essência da Vida humana, não teremos total paz de espírito enquanto não conseguirmos manifestar plenamente essa liberdade; não sentiremos uma grande serenidade que nos permita dizer "Estou completamente satisfeito".

Sendo assim, surge a questão: como devemos proceder para alcançar a inata liberdade da Vida, adquirindo assim profunda consciência de estarmos totalmente livres e com isso manifestar plenamente a liberdade da Vida? Todos os esforços materiais até então empenhados foram para manifestar a liberdade da Vida, mas eles não conseguiram resolver a questão por completo. Dessa forma, não se consegue realizar a liberdade da Vida por meios materiais. Precisamos, então, encontrar um novo caminho, superior ao material, para manifestar essa liberdade.

Foi nesse sentido que inúmeros gênios da religião vieram, desde a Antiguidade, buscando o caminho para alcançar a Vida verdadeira. No passado, Sakyamuni se esforçou arduamente para libertar a humanidade dos "quatro sofrimentos": nascimento, velhice, doença e morte. Esses quatro sofrimentos também restringem a nossa liberdade.  O primeiro deles, o do nascimento, refere-se ao sofrimento por termos nascido, por estarmos vivendo, por lutarmos pela sobrevivência, por enfrentarmos conflitos, etc. O segundo é o da velhice: ao envelhecermos, mesmo que tenhamos o ânimo de jovem, o corpo físico não nos obedece. Isso também é restrição da liberdade. A doença também restringe a liberdade. Ainda que pensemos "Quero continuar vigoroso e empenhar-me nos meus negócios, levar avante minha missão, amar meus filhos e viver feliz com a família", tornamo-nos impotentes diante da doença. Este é o sofrimento pela via da doença. Finalmente, chega a morte. Esta também constitui grande ameaça à liberdade da Vida. Uma pessoa em estado agonizante, cuja triste liberdade se restringe a uns poucos movimentos dos membros e dos lábios, mas, quando vem a morte, perde até essa parca liberdade em um só instante. Eis a diabólica ação chamada morte. Tememos a morte, debatemo-nos em vão, mas acabamos sucumbindo diante dela - eis o sofrimento causado pela morte.

Como vencer esses quatro inimigos - nascimento, velhice, doença e morte - que restringem a nossa liberdade? Essa foi a busca empenhada por Sakyamuni. E acabou por descobrir esse caminho.

O caminho da Verdade pregado pela Seicho-No-Ie é exatamente o mesmo que Buda descobriu há três mil anos. A Verdade é sempre nova e possui caráter eterno. Se não possui caráter eterno, a Verdade não é o Caminho. Vamos retornar ao budismo primitivo e rever como Sakyamuni atingiu a liberdade da Vida, como despertou para o Caminho para se libertar dos quatro sofrimentos e se realizou como Buda, ou seja, como alcançou o estado em que se libertou de todas as restrições. É esse caminho que me proponho a estudar, com os leitores, a fim de eu próprio atingir ao máximo o estado de liberdade, juntamente com todos os senhores. Eis no que consiste o movimento da Seicho-No-Ie.

O budismo é um excelente ensinamento. E há inúmeras ramificações do budismo. Na época em que seus fundadores viviam, a Verdade que pregavam tinham vida, por isso, eles eram alvo de respeito e admiração das pessoas, tanto que fundaram ramificações. Mas, após o desaparecimento desses fundadores, que eram gênios da religião, poucos deles tiveram sucessores à altura, e o que temos hoje como consequência é o budismo sectário. As religiões e os templos budistas de hoje, em sua maioria, são mantidos por donativos de seus fieis, e têm como ofício a realização de cerimônias fúnebres, recitando sutras diante de cadáveres, e se esquecem de doutrinar as pessoas vivas.

Tempos atrás, o Ministério da Cultura do Japão disse que não poderia aceitar o pedido de registro da Seicho-No-Ie como pessoa jurídica enquanto não definisse se ela é uma entidade doutrinária ou religiosa, pois, sem essa definição, não poderiam determinar o departamento competente para registrá-la. A religião tem por dever a doutrinação, e, desde que se propõe a isso, deve pregar aprofundando-se até à origem da Vida; portanto, é natural que uma entidade religiosa seja entidade doutrinária. Mas, na época, disseram que a entidade doutrinária deveria ser separada de uma entidade religiosa. Isso porque era período de transição e, segundo o critério de classificação, a religião tratava das cerimônias fúnebres, e as entidades doutrinárias não pregavam sua doutrina a fundo, a ponto de atingir a origem da Vida (Deus).

Com certeza, os grandes religiosos do passado, tanto Sakyamuni quanto os fundadores das ramificações, pregaram para as pessoas vivas da época, com toda paixão, o meio de ativar a vivência e de estimular verdadeiramente a liberdade da Vida. Eles não levavam uma vida mecânica nos templos como aqueles que apenas recitam sutras diante de defuntos, para garantir o sustento de suas vidas. Foi nos períodos posteriores que a religião e as atividades doutrinárias foram separadas, chegando ao atual estado de degeneração.

Uma vez que esse período de esquecimento do trabalho doutrinário pela religião veio durando longo tempo, é forçoso que surja novamente em algum lugar um ensinamento que pregue o caminho da Verdade encontrado por Sakyamuni, que conduza a humanidade à libertação dos quatro sofrimentos - nascimento, velhice, doença e morte -, promovendo a verdadeira libertação da Vida, e que não seja uma simples filosofia teórica, mas uma Verdade viva aplicada na vida concreta. Enquanto o grande voto de Buda de salvar a humanidade continuar pulsando em algum ponto do planeta, deve surgir em algum lugar um movimento vívido para realizar esse voto.

Em suma, o budismo não é mera filosofia nem algo apático que se sustenta recitando sutras diante de almas desencarnadas. O homem sofre restrição de quatro sofrimentos, ou seja, nascimento, velhice, doença e morte. Libertá-lo completamente dessas restrições, para que ele possa viver verdadeiramente livre, experienciando na própria vida essa liberdade - assim deve ser o verdadeiro budismo. E a Seicho-No-Ie é uma das manifestações, nos tempos atuais, da ação do voto salvador de Buda.

Cont...
Do livro "A Verdade da Vida, vol. 39", pp. 15-24

sábado, fevereiro 01, 2014

A Verdade da Vida (Budismo) - Introdução



Amigos leitores,

Estamos dando início a um estudo sobre o Budismo à luz dos ensinamentos da Seicho-No-Ie. Os textos que serão apresentados estão contidos no livro "A Verdade da Vida, volume 39". Este livro é um dos mais importantes de toda a obra literária da Seicho-No-Ie, talvez o mais importante. É o livro que mostra (pra valer!) a Verdade que está contida nos ensinamentos da Seicho-No-Ie. Trata-se da doutrina original, do ensinamento máximo, supremo, último. E que revela a verdadeira extensão e profundidade do despertar espiritual conscientizado por Masaharu Taniguchi.

Além de um profundo entendimento da vida  e também conhecimento sobre religiões/filosofias, espiritualidade, ciência, etc. , Masaharu Taniguchi tem o dom literário (e oratório) de colocar em palavras simples e fáceis de entender assuntos que são realmente difíceis e complexos. Através do emprego eficiente das palavras, ele consegue fazer a mágica de clarificar o que por natureza não pode ser dito por palavras. Tal é o seu dom, genialidade e talento. Suas explanações têm a maestria e o poder de conduzir suavemente a nossa compreensão rumo à Verdade profunda e indizível.

Este é um livro que definitivamente não pode faltar no cabedal de textos deste blog. É um verdadeiro tratado sobre os ensinamentos do budismo mahayana (grande veículo). O estudo e abordagem são tão profundos, que os textos deverão ser postados na íntegra, em sequência. Eu gostaria de publicar os textos intercalando-os com ensinamentos de outras linhas/instrutores, contudo fazer isso não seria proveitoso. A cada texto, o autor vai cada vez mais longe na análise do budismo, o estudo e as explanações vão sendo cada vez mais aprofundados em grande peso. De modo que cada capítulo do livro se apoia (pressupõe a leitura) das exposições feitas em capítulos anteriores. Assim, não há como publicá-los aleatoriamente, conforme já foi feito com textos de outros livros. Esta será uma série longa, e a minha estimativa é que deverá ser dividida em 26 partes, aproximadamente. Portanto, teremos aqui um bom tempo de Seicho-No-Ie pela frente. (rsss)

Saiba, leitor, que, se você estiver dando conta de acompanhar (e entender) esta série de textos, estará na verdade acompanhando (e apreendendo) a doutrina mais elevada. Estará em contato com o que há de mais alto nos ensinamentos da Seicho-No-Ie.

Daremos início a esta série a partir da próxima postagem. Por ora, ficaremos com as palavras contidas no prefácio do livro "A Verdade da Vida" (volumes 11 e 39), escritas por Masaharu Taniguchi:

"Todas as escrituras religiosas, desde que contenham Vida, foram indubitavelmente escritas sob inspiração. E o que foi escrito sob inspiração pode ser bem interpretado somente sob inspiração. Um grande erudito que possui apenas conhecimentos linguísticos e não tem inspiração não consegue apreender verdadeiramente a Vida contida nas escrituras. A Seicho-No-Ie elucida sob inspiração a essência não só do budismo, do cristianismo e do xintoísmo, como também de quaisquer escrituras sagradas." (volume 11)

"As religiões do mundo precisam tornar-se uma só. Se as religiões continuarem a se confrontar, os seres humanos não terão outra alternativa senão viver em conflito uns contra os outros. A paz do mundo será alcançada somente quando a humanidade despertar para a Verdade de que 'todos os seres humanos se originaram de uma única fonte chamada Deus' e compreender que todos são um e que, portanto, na verdade não conflitam entre si. O princípio básico da salvação de todos os seres humanos deve ser um só. Já que a origem da vida de todas as pessoas é uma só, é óbvio que o princípio de sua salvação também deve ser um só.

No evangelho de João, Cristo disse: 'A verdade vos libertará'. No budismo, se diz que Buda é aquele que alcançou a libertação. Em suma, religião deve ser aquela que liberta a humanidade. Por que o homem pode ser salvo? É porque ele traz em seu interior "Deus, que já está salvo". Certas correntes do budismo pregam que 'os mortais comuns podem alcançar o paraíso'. Estes parecem mortais comuns, mas trazem dentro de si o ser livre e desimpedido desde o princípio, isto é, a natureza búdica. É por isso que, compreendendo esta Verdade, os mortais e comuns na aparência podem tornar-se budas.

Deus (ou Ser originariamente livre, isto é, a natureza búdica) está presente no interior de cada indivíduo e, ao mesmo tempo, no exterior, em cima, embaixo e em todos os lugares como Ser universal, envolvendo toda a humanidade como um todo.

É esta fé – em que se acredita na Natureza Divina ou Natureza búdica do interior transcendente – que se torna o elo de amor que une toda a humanidade em uma só unidade harmônica. Neste volume procurarei esclarecer que o budismo e o cristianismo podem e devem unir-se com base em uma só Verdade. E, com isso, ressuscitar e tornar possíveis os milagres religiosos da época de Jesus e Sakyamuni, e, ao mesmo tempo, com base nesta Verdade, abrir efetivamente o caminho para a eterna paz da humanidade e também para a felicidade e a saúde duradouras dos seres humanos." (Volume 39)


quinta-feira, janeiro 30, 2014

O Ser, o Eu, a Essência



"Quem sou Eu? O personagem que representamos é como a onda. O Ser que representa a existência de todos os personagens é o Oceano. Assim como no mar o Oceano está aparecendo como cada "onda", neste universo o Ser "aparece como" cada personagem. A essência, a real identidade dos personagens é o Ser. Este Ser é "Quem Sou", é "Quem Somos". Vinde a Mim, ó ondas do mar! Eu sou a Fonte! Aquele que vem a Mim, e bebe das águas de Quem Sou, encontra descanso e é saciado. Meu fardo é leve e o Meu jugo é suave. Estou mais perto do que a tua respiração e mais próximo do que teus pés e tuas mãos. Assim como a onda existe e se move no Oceano, "Em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser" (Atos 17:28). No silêncio e na quietude é que Me encontrarás. Por que temer, se Eu estou aqui?"

...


Há um Ser Real, Oceânico...
Deus é este Oceano de Luz, infinito e eterno. 
De Suas profundezas Deus emerge à superfície de Si mesmo como Ondas do Oceano...
O Ser oceânico, infinito e eterno, é Quem somos!
Quando imergimos nas profundezas, nos percebemos em Unidade com Deus.
Quando emergimos à superfície, aparecemos como Ondas do Oceano de Luz.
Assim, há apenas um Oceano de Luz e Ondas neste Oceano.
Na superfície sou uma Onda e nas profundezas, Oceano.
Quando emerjo Me percebo apenas como a Onda.
Quando imerjo Me percebo como o vasto Oceano.
Vi cada um de nós como essa Unidade oceânica e muitas Ondas.
Sei que esta é a nossa essência e Realidade, é Quem somos.
Saibam que vocês são todos Ondas de um Oceano de Luz.
É o que percebo, o que desfruto e o que aqui compartilho. 

(Núcleo)
...

*Em agradecimento e homenagem ao amigo Celso Maria que, desfrutando da infinitude e das bênçãos do Silêncio, amorosamente elaborou o vídeo acima para compartilhar com o mundo uma mensagem repleta de Consciência e luz. Namastê!