- Masaharu Taniguchi -
ESTADO MENTAL INABALÁVEL
O apego abre brechas na mente
Há mulheres que são seduzidas pelos homens, porque elas tinham em suas mentes o desejo de serem seduzidas. Foram movidas pelo desejo passional, pela ilusão, que abre na mente da pessoa uma brecha por onde entra o demônio.
Reiko, a personagem do romance Ueru Tamashii (Alma faminta) publicado no jornal Nippon Keizai, foi seduzida pelo jovem Tachibana. Nesse romance, também, aparentemente, o rapaz seduziu a mulher, no entanto, consta que Reiko, casada sem amor com um homem bem mais velho, vivia insatisfeita com o casamento e sentia o desejo de ser seduzida.
Nas questões amorosas entre homem e mulher, nem sempre a culpa recai apenas no lado masculino. Na mente da mulher há uma brecha, o sentimento que busca satisfação sexual, e isso seduz o homem. Sempre o demônio penetra por uma brecha chamada desejo passional, que é um sentimento de apego.
Escrevi outrora a história de Cristo em forma de drama teatral e descrevi a cena em que Satanás tenta Jesus, do seguinte modo: "O homem bom apega-se ao bem, e nessa brecha entra Satanás. O homem mau apega-se aos desejos egoísticos, e nessa brecha entra Satanás". (A Verdade da Vida, vol. 31)
Todo tipo de apego abre uma brecha para a entrada de Satanás. Se quisermos eliminar da nossa vida qualquer brecha, devemos abandonar todo e qualquer apego.
Quando nos desligamos totalmente do mundo dominado pelo tempo e pelo espaço, ou seja, do mundo fenomênico, entramos num mundo onde não existe tempo nem espaço, e desaparecem todas as brechas.
A brecha existe quando estamos no mundo de tempo e espaço, mas, se estamos no mundo sem tempo e sem espaço, já não existe brecha alguma. Devemos anular o ego e ficarmos com a mente totalmente despreocupada, mas isso não significa que devemos agir como indolentes ou idiotas. Significa não segurarmos nada, voltarmos ao nosso estado natural. Devemos estar prontos para o que der e vier, mas sem assumirmos a postura de defesa ou de ataque, a exemplo do que fez o famoso espadachim Musashi Miyamoto. Ele assumia sempre uma postura livre, que lhe dava a possibilidade de se movimentar para todas as direções a qualquer momento, não deixando brecha alguma para o inimigo.
Apegar-se ao bem, achando que está correto; apegar-se a uma religião; apegar-se ao nada, ao saber que tudo vem do nada; apegar-se aos bens materiais; apegar-se ao amor conjugal, porque é necessário que haja amor entre homem e mulher – se desse modo ficar apegado a algo do mundo fenomênico, você estará abrindo uma brecha. Para fechar essa brecha é preciso que abandone tudo. Contudo, caso se apegue a essa necessidade de abandonar, abrirá imediatamente uma brecha. É importante abandonar sem abandonar, segurar sem segurar.
Em geral, as religiões procuram, essencialmente, fazer com que os fiéis se desliguem de tudo que está manifestado no espaço tridimensional, para que, assim, revelem a natureza totalmente livre da Vida.
Conquistar a total liberdade, desligando-se até da necessidade de abandonar os apegos
Se nos apegarmos até à necessidade de abandonar os apegos, abriremos uma brecha para o apego e alguém nos dirá "Se abandonou tudo, faça o que eu lhe disser", podendo assim abandonarmos até a nossa dignidade.
Precisamos, portanto, nos desligarmos até da necessidade de abandonar os apegos. Se, desse modo, voltarmos ao nada absoluto, onde até o nada inexiste, não haverá nenhuma brecha em nossa vida e, vivendo normalmente como se nada tivéssemos abandonado, levaremos uma vida sem qualquer falha nem descuido.
Por isso, o verdadeiro modo de viver preconizado pela Seicho-No-Ie não é diferente da vida de outras pessoas. Quando abandonamos até a necessidade de abandonar, continuamos vivendo normalmente uma vida sem qualquer brecha.
Religião que faz o fiel saltar, sem titubear, de um penhasco
Antes da Segunda Guerra Mundial, havia um espiritualista chamado Kunbi Watanabe que fundou a religião Tenge. A sede central dessa entidade religiosa estava situada na região de Yokohama e administrava a Tenge Yoko, uma rede de revendas de calçados de sola de borracha. Um adepto da Seicho-No-Ie, proprietário de uma loja revendedora desses calçados, contou-me que os ensinamentos dessa religião eram admiráveis.
Também o sr. Yoshitaka Nomura, já falecido, que procedia de uma família zen-budista e foi preletor da Seicho-No-Ie havia recebido os ensinamentos do mestre Kunbi Watanabe e me contou diversos casos a respeito da força espiritual dele. O sr. Nomura me disse que ficou surpreso com as obras milagrosas realizadas pelo mestre Watanabe. Eu jamais presenciei isso, mas ele realizava proezas como a de fazer o chá de uma chavena pegar fogo só com um Kiai (*Nota: Kiai é um som que se emite no auge da concentração da força mental). Aliás, tais proezas não merecem tanta admiração, pois um mágico faz isso, mas a essência de seus ensinamentos se resumia em abandonar tudo, assim como prega o budismo, o cristianismo, a Seicho-No-Ie.
Certo dia, uma jovem adepta caminhava por uma estrada das montanhas com o mestre Kunbi Watanabe. Conversavam sobre os ensinamentos, e ele perguntou à jovem:
– É preciso abandonar tudo, senão não conseguirá encontrar o caminho da Verdade. Você consegue abandonar tudo?
– Sim, abandono tudo – respondeu a jovem.
Um dos lados da estrada por onde caminhavam era um precipício muito profundo e, nesse momento, o mestre Kunbi ordenou à jovem que pulasse do penhasco. Se não conseguisse pular, significaria que não havia abandonado tudo. Se a pessoa realmente tivesse abandonado tudo para seguir o mestre, deveria pular ao receber essa ordem. Se vacilasse, ainda não teria anulado o ego. Essa jovem, de cerca de 20 anos, pulou realmente do penhasco, mas algo a agarrou suavemente. Foi um galho de árvore onde seu vestido ficou enganchado, e ela se salvou.
Não é preciso temer nada. Se você abandonar tudo, surgirá algo que o resguardará do perigo. O próprio Universo, a própria Existência, o protegerá. Para segurar algo é preciso de força, mas, para soltar, não. E, além disso, ao soltar, pode contar com a ajuda da força de Deus, e não há situação mais cômoda.
Estado mental que adentra subitamente na terra búdica
A Verdade religiosa é extremamente simples e, ao mesmo tempo, muito severa. Quando abandonamos tudo, devemos pular realmente de um penhasco como fez essa jovem. Mesmo que alguém diga que abandonou tudo, se estiver segurando algo, estará mentindo. Se entrar na água para nadar, os pés não deverão estar pisando na areia.
O caminho da Seicho-No-Ie é muito agradável, não temos necessidade de sofrer para nos aprimorarmos espiritualmente, porque não seguramos nada na mente. Abandonamos tudo e afirmamos: "Não existem matéria, corpo carnal nem fenômenos". Isso equivale ao preceito que norteava a conduta do samurai: "O caminho de um samurai é a morte". A afirmação "Não existem matéria, corpo carnal nem fenômenos" significa que devemos abandonar tudo que considerávamos existente. Se conscientizarmos que o corpo carnal não existe, não pensaremos em ter mais saúde nem em ser curados de doença. Simplesmente saltaremos rumo à nossa missão. Saltar não significa pular realmente do penhasco. Significa deixar para trás o penhasco chamado corpo carnal e posses materiais. Para que as pessoas possam dar esse salto, pregamos que "Não existem matéria, corpo carnal nem fenômenos".
No âmbito da nossa convicção, a afirmação "Não existem matéria, corpo carnal nem fenômenos" significa transcender todas as coisas do mundo fenomênico. Jogamos o nosso corpo, as nossas posses, todas as coisas fenomênicas no fundo do vale. É um estado mental vazio, onde nada existe. Alcançando esse estado de espírito, será impossível existir a doença. Mesmo que ela pareça existir, não existe de verdade. Se o corpo físico não existe, será impossível existir doença.
Entretanto, pessoas doentes desejam que alguém cure suas doenças e pedem: "Se vou me curar pulando do penhasco, pularei, mas, por favor, curem-me". Quem diz "Eu pularei, por isso, curem-me" não está pulando de verdade. Está ainda apegado ao corpo carnal e, na verdade, não quer pular e diz "Fingirei que pulei para que eu possa ser curado". Com tal estado mental a pessoa não abandonou o corpo carnal, e será difícil obter a cura.
Dar um salto, abandonando tudo
Pessoas que dizem "Não me curei na Seicho-No-Ie apesar de ter lido A Verdade da Vida" ainda não deram o salto decisivo. Não atingiram o despertar "Não existem matéria, corpo carnal, nem este fenômeno!!".
É um grande erro pensar que a afirmação "Não existem corpo carnal nem matéria" seja apenas uma filosofia de vida da Seicho-No-Ie e que nada tem a ver com a sua vida. Se alguém dessa forma dissociar a filosofia de vida da vida prática, estará fazendo o mesmo que os budistas de até agora, ou seja, afirmando "Compreendi intelectualmente a filosofia budista, mas não me curei da doença". Quem procura a Seicho-No-Ie não deve se limitar a isso. Compreender que não existe matéria nem corpo é abandonar tudo e dar um salto decisivo. Quando você assim transcender totalmente os fenômenos, entrará no mundo onde não há tempo nem espaço, e sua Vida se fundirá integralmente com Deus. Nessa hora, alcançará o despertar espiritual e conquistará a total liberdade. E é muito natural que a doença desapareça quando a Vida desfruta de liberdade absoluta. Se ainda persistem a doença, o sofrimento e as preocupações, significa que você não deu o salto e continua agarrado ao que não existe.
Libertar-se do viver, envelhecer, adoecer e morrer
Sakyamuni fundou o budismo para libertar a humanidade dos quatro sofrimentos básicos: viver, envelhecer, adoecer e morrer. O objetivo das religiões, portanto, não é o de curar determinada doença ou livrar o fiel de algum sofrimento específico. É o de fazer o fiel adentrar no mundo onde não há o viver com sofrimento, o envelhecer, o adoecer e o morrer. Lança-o dentro do mundo onde não existe o sofrimento da vida, no mundo onde não existe envelhecimento, no mundo onde não existe doença nem morte. Tem o objetivo de fazer com que o fiel se lance dentro do mundo onde não existe velhice, estando no mundo onde há envelhecimento; de fazer com que o fiel se lance dentro do mundo onde não existe doença, estando no mundo onde há doenças!
Faz também com que o fiel que permanece no mundo do corpo carnal, no mundo onde existe tempo e espaço, tome consciência do seu eu espiritual que não se encontra neste mundo. Em consequência, no mundo do corpo carnal também ocorrem graças temporárias, ou seja, escurecem os cabelos grisalhos, desaparecem as rugas, ou acabam os sofrimentos da velhice. Entretanto, essas graças não são graças verdadeiras, tal como Bodhidharma disse categoricamente ao imperador da dinastia Liang: "Não existe graça alguma!"
Portanto, mesmo que as doenças se curem e os cabelos grisalhos fiquem pretos, as graças materiais não são eternas. São fenômenos temporários. Mesmo que uma pessoa de 70 anos rejuvenesça tendo os cabelos grisalhos totalmente escurecidos, ela não viverá eternamente no mundo fenomênico, sem envelhecer, pois acabará envelhecendo e morrendo.
Esses acontecimentos do mundo fenomênico são sombras da mente e, mesmo que aconteçam momentaneamente, não significam que a pessoa adentrou no mundo onde não há envelhecimento. É impossível não ocorrer envelhecimento no mundo onde existe o tempo. Não importa se os cabelos são grisalhos ou pretos, deve-se saltar para dentro do mundo da Imagem Verdadeira, sem se importar com as graças fenomênicas. Nessa hora, a pessoa alcançará um estado mental firme e inabalável, a verdadeira salvação. Seja qual for o estado fenomênico da pessoa, ela transcenderá a vida e a morte, os sucessos e os fracassos fenomênicos, e adentrará no mundo onde não existe tempo nem espaço, no mundo onde já está salva.
Transcendendo o tempo e o espaço
Esse é o objetivo das religiões, e é por isso que o budismo também ensina a seguir o caminho da Verdade abandonando naturalmente os vínculos de amor e os apegos mundanos. Tanto a religião Tenge fundada pelo mestre Kunbi Watanabe que deu ordem para saltar, quanto a religião Tenri que prega "Entregue tudo para Deus", são todas iguais. Levam os fieis a abandonar tudo o que existe no mundo do tempo e do espaço e a saltarem para o mundo onde não há tempo nem espaço. Aí vivenciarão verdadeiramente o estado de liberdade infinita, como experiências de suas próprias Vidas. Desse modo, viver ou morrer, tudo ocorrerá em total liberdade. Os ensinamentos que só são compreendidos intelectualmente não são religiosos. A religião faz com que a Vida da pessoa salte verdadeiramente para dentro do mundo que transcende o tempo e o espaço, e alcance um estado mental inabalável.
Existe abalo quando ainda permanecemos no mundo onde existe a abertura do espaço e a corrente do tempo. Nesse mundo temos incertezas, perturbações e inquietações mentais. Quando estamos no mundo onde não existe tempo nem espaço, permanecemos inabaláveis tendo ou não rugas do envelhecimento, ocorrendo ou não a morte do corpo carnal aqui, neste momento.
Aliás, nesse estado mental, não morreremos mesmo que nos matem. E, como ocorreu com Jesus que foi crucificado, a própria crucificação se transforma em ressurreição. Descobrimos aqui e agora o eu que parece morrer mas não morre e vive eternamente. Se chegarmos a esse ponto, não pensaremos mais nas graças fenomênicas tal como desejar a cura da doença, mas veremos que a doença não existe e transcenderemos o mundo da causalidade.
Quem diz "Se cometer tal pecado, sofrerá consequência" está se referindo ao mundo da causalidade que, na Seicho-No-Ie, é chamada de Verdade Horizontal. Quando transcendemos o mundo da Verdade horizontal e adentramos no mundo da Verdade vertical, alcançamos o estado mental em que conscientizamos que somos a própria Vida de Deus, que tem dentro da mão o tempo e o espaço, e também colocamos todo o Universo sobre a palma da nossa mão. Ocorre isso quando penetramos no mundo que transcende o tempo e o espaço.
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