- Joel S. Goldsmith -
Desde aquele período da Criação referido no segundo capitulo de Gênesis, vem o homem vivendo sob a influência de dois poderes aparentes, vem ele flutuando entre o bem e o mal, experimentando muitas vezes mais a influência do mal que a do bem.
No entanto, quando compreende a ideia da unicidade do Poder, e percebe que não há poder do bem nem do mal, já não é fascinado pelo bem nem pelo mal da experiência humana, e deixa de identificar-se com as sensações provocadas por um ou por outro.
Pouco a pouco ele aprende a encarar o mal friamente, sem emoção, e sem atribuí-lo a ninguém e, poder-se-ia dizer, quase sem comiseração. Reconhece a natureza das aparências e as aceita como tais, isto é, como ilusórias.
Isto nem sempre é fácil. Todavia, é menos difícil identificar a aparência do mal que a do bem. Fácil ou difícil, porém, o homem precisa tomar e manter uma atitude interna que lhes permita estar sempre cônscio de que se o bem não provier de Deus, será transitório, e nada lhe adiantará deleitar-se com ele.
É óbvio que, se por um lado esta atitude tira muitos dos aspectos agradáveis da vida humana, por outro nos poupa de muitas de suas misérias, substituindo as emoções negativas pela convicção interna de que, por detrás do cenário visível, existe uma realidade espiritual que a qualquer momento poderá revelar-se totalmente.
Quando nos pedem ajuda, nossa primeira reação é o desejo de mudar a aparência do mal em aparência do bem. Entretanto, se quisermos viver espiritualmente, precisamos nos compenetrar de que o objetivo do ministério espiritual não é mudar doença em saúde. A saúde é temporária, e a que temos hoje poderá converter-se em doença amanhã, na próxima semana ou no próximo ano.
A finalidade do ministério espiritual não é condenar publicamente o mal e tentar fazer o bem. Seu objetivo é, antes de mais nada, ensinar-nos a desprezar as aparências boas ou más e manter-nos atentos ao Caminho do Meio, compenetrados de que precisamente onde parece encontrar-se o bem e o mal, o que existe é a realidade do Espírito.
A má aparência de hoje poderá converter-se em boa aparência amanhã e, como bem sabemos, toda boa aparência pode logo tornar-se má. Um dia de paz na terra pode ser apenas a pausa momentânea que precede outra guerra; a saúde perfeita de hoje não passa de uma condição temporária que os micróbios ou o envelhecimento poderão mudar.
Vistos humanamente, estamos como que num carrossel, sempre a rodar, rodar, rodar. Estamos sempre a oscilar como um pêndulo, entre a doença e a saúde, entre a pobreza e a riqueza, entre a guerra e a paz, para trás e para frente, sem chegarmos à parte alguma.
Mas no Meu Reino não há pares de opostos. Meu Reino é um reino espiritual, onde nada é tocado por influências contraditórias. Meu Reino é dirigido e protegido pelo Divino Princípio, ou Deus, que a tudo mantém e sustenta. No Meu reino não há trevas.
Esta declaração parece dar a entender que as trevas sejam alguma coisa má. No entanto, quando alcançamos esta percepção, teremos chegado à estatura espiritual do Salmista, que disse: "as trevas e a luz são a mesma para Ti".
Trevas e luz são uma coisa só. Aos olhos de Deus não há diferença entre elas: há somente Espírito, uma Luz que não tem semelhança alguma com o que conhecemos como luz.
Luz, em sentido espiritual, é Consciência Iluminada, não por uma luz, mas pela Sabedoria.
A expressão "Eu era cego, e agora vejo" não se refere à cegueira ou falta de visão física. É um modo figurado de declarar que estávamos na ignorância mas agora alcançamos a Sabedoria. Frequentemente se representa a ignorância por trevas e a sabedoria por luz, mas, na realidade, não há trevas nem luz para aqueles que vivem acima dos opostos.
Requerem-se meses, e às vezes anos de experiência espiritual para se compreender que no Meu reino trevas e luz são a mesma coisa, e que neste Reino não procuramos mudar as trevas em luz, ou livrar-nos das trevas para obtermos a luz. Trevas e luz são uma coisa só.
Alcançar esta concepção representa grande salto para qualquer pesquisador, mas para o ignorante da sabedoria espiritual e não treinado em metafísica e misticismo, é salto, ainda maior - um salto quase impossível! – conceber ou aceitar a ideia que doença e saúde são a mesma coisa. Na realidade, não passam dos extremos opostos da mesma vara.
Quando individualmente podemos afirmar com convicção que pelo que me toca, trevas, ou luz, dá tudo no mesmo. Não estou tentado livrar-me de uma para obter a outra: estou procurando compreender somente a Sabedoria espiritual, a Verdade espiritual, a divina Presença – então é que começamos a compreender a natureza espiritual deste Universo.
Sempre que tentamos livrar-nos de algo ou procuramos conseguir algo, abandonamos o mundo espiritual em troca do mundo das concepções humanas.
Nem doença nem saúde exercem qualquer papel na vida espiritual: tudo o que existe na vida espiritual é Deus, o Espírito, infinita e eternamente manifesto como ser individual incorpóreo.
O ser incorpóreo não pode ser conhecido por meio dos sentidos da vista, da audição, do gosto, do tato ou do olfato. Pode ser experimentado somente em nossa consciência interna, mas quando compreendemos e percebemos diretamente que trevas e luz são a mesma coisa. E o que é essa coisa? Tudo o que percebemos através dos sentidos – doença e pobreza hoje, ou saúde e riqueza amanhã -, é ilusão. Não veremos a Realidade enquanto não contemplarmos o ser espiritual, incorpóreo, através de nosso sentido espiritual.
Olhemos para este mundo e perguntemos a nós mesmos: O que lhe tem aproveitado todas as guerras? Se a resposta for: "Nada!", será porque estarmos começando a alcançar a meta espiritual. Em correlação com esta pergunta, deverá ocorrer-nos uma outra: "O que tem aproveitado ao mundo todos os dias em que não tem havido guerra?". E a resposta deverá ser: "Nada".
Espiritualmente, o que estamos buscando não é a guerra nem a paz. É o governo de Deus, o governo espiritual, o governo divino. E onde atuará esse governo? Em nossa consciência. É onde ele tem que ser conscientizado.
Não importa quantas soluções se oferecem aos problemas do mundo de hoje, porque amanhã eles aparecerão sob novas formas ainda mais graves. Este vai-e-vem só acabará quando percebermos a natureza do poder espiritual e compreendermos que este nada tem a ver com as boas condições em que nos sintamos hoje e nem com as más condições em que estejamos amanhã.
A manifestação desse poder, em nós, está relacionada com a compreensão que tenhamos de que não devemos mudar as condições da matéria, mas compreender que o Espírito é onipresente; que não devemos tentar converter doença em saúde ou guerra em paz: o que devemos fazer é buscar o governo de Deus, a revelação e compreensão íntima de Deus como nossa consciência.
Isto muda completamente nossa maneira de viver. Sob a velha maneira de viver, o melhor que podíamos esperar era substituir alguma coisa má por outra boa, ou tornar positiva alguma condição negativa; e mesmo assim estava sempre presente o medo de que a coisa boa ou a condição positiva alcançada não fosse permanente: estávamos sempre lutando por aqueles momentos de saúde, paz e harmonia.
A revelação e compreensão da Unicidade de Poder ajuda-nos a alcançar aquele nível de consciência em que já não procuramos converter o estado negativo em positivo.
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