"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, agosto 23, 2012

A iluminação de Ramana Maharshi



Sri Ramana Maharshi nasceu em 30 de dezembro de 1879 em Tiruchuzhi, uma cidade na província Tamil Nadu, ao sul da Índia. Seus pais lhe deram o nome de Venkataraman. Nada havia de anormal no rapaz. Possuía um corpo forte, se destacando no futebol, artes marciais, natação, entre outros esportes. O garoto não manifestava nenhum interesse em espiritualidade, meditação ou religião. Entretanto, aos seus 16 anos de idade, em julho de 1896, ocorreu uma experiência que transformou a sua vida para sempre. Ele mesmo a descreve:

"Cerca de seis semanas antes de eu deixar Madurai de vez, aconteceu a grande mudança em minha vida. Eu estava sozinho numa sala do primeiro andar da casa de meu tio. Raramente ficava doente, e naquele dia minha saúde era perfeita, mas um repentino temor da morte apossou-se de mim. Não tentei encontrar qualquer explicação ou razão para aquele temor. Sentia apenas que ia morrer, e comecei a pensar no que devia fazer. Não me ocorreu consultar um médico, ou os mais velhos, ou os amigos. Percebia que teria de enfrentar o problema sozinho, resolvendo-o de pronto, ali mesmo."

Eu me acomodei no chão, em puro prazer, ouvindo-o. Minha melancolia se dissolveu por completo assim que comecei a me concentrar nele. Reconhecia sua voz, seu jeito delicado de se mover, sua fala pausada e seu refinado humor. Aquilo tudo parecia sagrado, pelo simples fato de estarmos ali naquele momento.

"O choque produzido pelo temor da morte fez com que minha mente se voltasse para dentro, e eu disse, sem chegar na verdade a articular as palavras: 'A morte chegou. Que significa ela? O que estará morrendo? Este corpo morre'. E imediatamente dramatizei a ocorrência da morte. Deitei-me com os membros distendidos como se a rigidez da morte já tivesse tomado conta de mim e imitei um cadáver. A fim de emprestar maior realismo à investigação, suspendi a respiração e mantive os lábios bem apertados, de modo que nenhum som escapasse." Eu o ouvia fascinado, sem respirar, com medo de perder alguma de suas palavras.

"Pois bem", pensei, "este corpo está morto. Será cremado e reduzido a cinzas. Mas com a morte deste corpo estarei morto? Serei eu este corpo? Ele está silencioso e inerte, mas sinto toda a força de minha personalidade e até mesmo ouço a voz do Eu dentro de mim, totalmente apartada do corpo, de modo que sou Espírito transcendendo ao corpo. O corpo morre, mas o Espírito que o transcende é imune à morte. Isso quer dizer que sou um Espírito Imortal."

Não se tratava de pensamentos imprecisos, eles coriscavam dentro de mim tão vividamente como a verdade que eu percebia diretamente, prescindindo quase de um processo de raciocínio. Eu era uma coisa muito real, a única coisa real no estado em que me encontrava, e toda atividade consciente ligada ao meu corpo estava centralizada nesse Eu. Daquele momento em diante, o Eu passou a atrair toda a minha atenção, com poderoso fascínio. O temor da morte desaparecera para sempre.

Dali por diante, a absorção no Eu prosseguiu sem dissolução de continuidade. Outros pensamentos poderiam ir e vir, como as diferentes notas de uma melodia, mas o Eu continuava como a nota sruti, fundamental, subjacente, que se mistura com todas as demais notas. Ainda que o corpo estivesse ocupado em falar, ler ou qualquer outra coisa, eu continuava sempre centralizado no Eu. Anteriormente àquela crise eu não tinha uma percepção clara do meu Eu, e não me sentia atraído conscientemente por Ele. Não sentia qualquer interesse perceptível ou direto por Ele, muito menos qualquer inclinação para manter-me Nele em caráter permanente."

Neste momento sua individualidade dissolveu-se no Eu Real, e aquele jovem indiano que nada tinha de promissor transforma-se em um dos maiores Sábios que a Índia já conheceu. Na terminologia espiritual, ele havia “Realizado o Eu”, ou “Alcançado a Iluminação/Libertação”; o que normalmente surge apenas como resultado de anos de intensa prática espiritual (sadhana), para o jovem Sábio surgiu espontaneamente, sem nenhuma prática ou desejo prévios.

E ele sempre dizia: “Tão logo se devociona ao Ser Supremo, a divina atividade automaticamente começa a agir”. Bhagavan Sri Ramana jamais fez demonstrações de poderes, nem sequer tinha interesse por eles. Sempre ensinou que tais poderes não são nada além de fúteis e nocivas distrações no caminho direto da autoconscientização. Ensinou que não há mistérios para serem desvendados, não há enigmas para serem decifrados, não há graus para serem atingidos. Tudo é simples e natural. Somos o que somos. Simplesmente somos o Ser.

Bhagavan Sri Ramana ensina que devemos importar-nos em apenas procurar nossa real identidade, a divina, pois somos divinos em essência. O homem ignora-se como o Ser Supremo e confunde essa sua natureza divina com o ego profano, com a mente pensante. Quando alguém diz “eu”, que é que se quer dizer? Quem é realmente esse “eu”? De onde ele surge? Se o homem deseja conhecer a Verdade Absoluta, ele primeiramente deverá adquirir o conhecimento básico de si mesmo, isto é, desse “eu” a que ele se refere constantemente.

Sri Ramana Maharshi abriu para a humanidade o eterno caminho da Verdade Suprema de forma nova, conveniente às condições de nossa época. Esse caminho direto tem por objetivo essencial ajudar a todos aqueles que querem vencer a poderosa ilusão do ego profano e da mente pensante, de maneira a permanecer no estado natural do Divino Ser. Ao codificar o caminho da autoconscientização, Sri Ramana criou, efetivamente, a solução para todos os que buscam o autoconhecimento. Até então, o acesso à sabedoria dos Mestres era exclusivo dos reclusos do silêncio. Ramana mostrou um caminho possível de ser trilhado livremente, conforme as condições da vida moderna.


(Ramana Maharshi ao lado de Paramahansa Yogananda)

4 comentários:

Anônimo disse...


As palavras de Meher Baba lançam uma luz sobre esta experiência de Ramana...


O amante e o Amado


Deus é amor. E o amor deve amar. E para se amar deve haver um amado. Mas como Deus é Existência infinita e eterna, não há ninguém para Ele amar além Dele mesmo. E para poder amar a Si mesmo ele deve imaginar-se como o amado a quem Ele como o amante imagina amar. A relação amado e amante implica separação. E a separação cria anseio e o anseio resulta em procura. E quanto mais ampla e intensa é a procura maior será a separação e mais terrível será o anseio. Quando o anseio é o mais intenso a separação está completa e a finalidade da separação, que tinha a finalidade de permitir que o amor pudesse experimentar a si mesmo como o amante e o amado, é cumprida; e a União é o que resulta. E quando a União é atingida, o Amante vem a saber que o tempo todo ele próprio era o Amado a quem ele amou e com quem desejou a União e que todas as situações impossíveis que Ele superou eram obstáculos que Ele mesmo colocou no caminho para Si mesmo. Atingir a União é tão incrivelmente difícil porque é impossível tornar-se o que você já é! A união não é nada além do conhecimento de si mesmo como o Sujeito Único.


Nisto consiste não apenas esta bela experiência de Ramana, como também, a vida de todos os seres: uma peça, divina na qual Deus é o amante, o amado, os coadjuvantes e também o enredo e o cenário...

Silvano

Templo disse...

Eu gostaria de fazer um comentário reescrevendo tudo o que Meher Baba disse, só que ficará muito mais curto:

Deus é amor. E o amor, por ser Quem é, já é completo em Si mesmo. Portanto, vive.


Namastê!!

Anônimo disse...

Iluminação...se um SER iluminado...È ter luz, exclarecer com um conhecimento...atravez das experiencias vividas...ou conhecimento....sobre meditação...SER um ser...iluminado...é ser consciente de si(seus limites) e dos outros...é saber que fazemos parte de uma mesma casa(terra) e de uma mesma familia(humanos)e que estamos todos unidos...por um grande SER(consciencia) que rege todas as coisas...naturais e sob-natural...Ser iluminado, ñ é ter conhecimento teologico...e nem atravez de estudos...ser iluminado é uma compre-enção...De vc...seu estado presente...é aceitar, oque vc é...natural...que seja mulher, homem e qualquer cor...raça ou condição financeira...e sob-natural...é saber que fazemos parte de UM unico SER...que flui atravez dos nossos pensamentos...e que somos esse SER...mais num estado limitado...porque encarnamos o SER...com a materia..trazendo...o sob-natural(SER) para o natural(corpo biologico)

Ricardo disse...

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