"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, junho 09, 2007

Um conto: A vida não é um problema

Certa vez, o Primeiro-Ministro de um grande rei morreu. Esse Primeiro-Ministro era uma pessoa muito rara, muito inteligente, quase um sábio; era esperto, sagaz, um grande diplomata. Seria muito difícil encontrar alguém que pudesse substituí-lo. Então, todo o reinado foi pesquisado. Todos os ministros foram enviados para procurar por três homens. Um desses três seria o escolhido pelo rei para ser o novo Primeiro-Ministro.

Durante meses a procura continuou. Todo o reinado foi vasculhado; todos os recantos e esquinas foram pesquisados. Então, três pessoas foram encontradas. Uma delas era um grande cientista, um grande matemático. Ele podia resolver qualquer problema de matemática, e a Matemática é realmente a única ciência positiva; todas as ciências são apenas ramos da matemática. Assim, ele se achava na base.
O outro era um grande filósofo, um grande criador de sistemas. Do nada ele podia criar tudo. A partir apenas de palavras, ele podia criar sistemas maravilhosos -- era milagre. Apenas os filósofos podem fazer isso. Eles não têm nada em suas mãos; são grandes mágicos. Criam Deus, criam a 'teoria da criação', criam tudo; e sem nada em suas mãos. São brilhantes artesãos de palavras, combinam as palavras de tal modo que lhe dão a sensação de substância. E isso sem nada!

O terceiro era um homem religioso, um homem de fé, de prece, de devoção. As pessoas que estavam procurando esses três homens devem ter sido muito sábias, porque encontraram os três.

Esses três homens representam as três dimensões da consciência. Elas são as únicas possibilidades: ciência, filosofia e religião -- formam a base. O homem de ciência interessa-se por experimentos: a menos que algo seja provado pelos experimentos, não está provado. Ele é empírico, experimental; sua verdade é a verdade do experimento.

O homem de filosofia é o homem da lógica, não dos experimentos; experimentar não é a questão. Apenas pela lógica ele prova e refuta. Ele é um homem puro, mais puro do que o cientista, porque o cientista tem de carregar seus experimentos, seu laboratório. Um homem de filosofia trabalha sem laboratório -- apenas com sua mente, com a lógica, com as matemáticas mentais. Todo o seu laboratório está em sua mente Ele pode provar e refutar apenas pelos argumentos lógicos. Ele pode resolver ou criar qualquer tipo de enigma.

O terceiro homem está na dimensão da religião. A vida não é problema para um homem religioso. Ela não existe para ser solucionada; existe para ser vivida.

O homem religioso é o homem da experiência; o cientista é o homem dos experimentos; e o filósofo é o homem dos pensamentos. O homem religioso é o homem da experiência: ele olha a vida como algo a ser vivido. Se existe alguma solução, ela virá pela experiência, virá pela vida. Nada pode ser decidido de antemão pela lógica porque a vida é maior do que a lógica. A lógica é apenas um bolha no vasto oceano da vida. Assim, a lógica não pode explicar tudo. Os experimentos podem ser feitos apenas quando você não participa, podem ser feitos apenas com objetos.

A vida não é um objeto; é o próprio cerne da subjetividade. Quando você faz experiências, é diferente. Quando você vive, unifica-se. Assim, o homem religioso diz: "A menos que você se unifique com a vida, nunca poderá reconhecê-la." Como poderá você conhecê-la do lado de fora? Você pode andar e rodear de um lado para o outro, mas nunca acertará no alvo. Assim, o homem de fé não se atém nem a experimentos nem a pensamentos, mas à experiência, à simplicidade, à confiança.

Os ministros pesquisaram e encontraram esses três homens que foram, então, chamados à capital para a decisão final. O rei disse: "Por três dias descansem e preparem-se. Na manhã do quarto dia o exame final será realizado. Um de vocês será escolhido e se tornará meu Primeiro-Ministro: aquele que provar ser o mais sábio."

Eles começaram a trabalhar cada um à sua própria maneira. Três dias não eram suficientes! O cientista teve de pensar em muitos experimentos e trabalhar neles. Quem sabe que tipo de exame seria? Assim, não pôde dormir por três dias, não havia tempo; além disso, teria toda a vida para dormir depois que fosse escolhido. Então, por que se preocupar em dormir? Ele não dormiu nem comeu nada -- não havia tempo o suficiente. Muitas coisas tinham de ser feitas antes do exame.

O filósofo começou a pensar; muitos problemas tinham de ser resolvidos: "Quem sabe que tipo de problema será apresentado?". Apenas o homem religioso continuou à vontade. Ele comeu e comeu bem. Apenas um homem religioso pode comer bem porque a comida é uma oferenda, é algo sagrado. Ele dormiu bem. Ele orava, sentava-se no jardim, passeava, olhava as árvores e era grato à Deus; porque, para um homem religioso, não existe nenhum futuro, nenhum exame final. Todo o momento é o exame final, então como preparar-se para ele? Se algo está no futuro você pode se preparar. Mas se algo está aqui, agora, como pode se preparar para isso? Você tem de enfrentar a situação. E não existe nenhum futuro.

Algumas vezes o cientista dizia: "O que você está fazendo? perdendo tempo -- comendo, dormindo, rezando. Você pode fazer suas preces depois." Mas o homem religioso ria e não respondia nada, ele não era um homem de argumentos.

O filósofo dizia: "Você fica dormindo, sentado lá fora no jardim, olhando para as árvores. Isso não irá ajudá-lo. O exame não é uma brincadeira infantil. Você tem de se preparar para ele." Então o religioso ria. Ele acreditava mais no riso do que na lógica.

Na manhã do quarto dia, a caminho do palácio para o exame final, o cientista não estava nem mesmo em condições de andar. Estava tão cansado por causa de seus experimentos que era como se toda a vida estivesse se esvaindo. Ele estava morto de cansaço, como se a qualquer momento pudesse cair e dormir. Seus olhos estavam sonolentos e sua mente pertubada. Estava quase louco!

E o filósofo? Não, não estava cansado, mas sentia-se mais incerto que nunca. Ele havia pensado, pensado; discutido, discutido; e nenhum argumento chegava a qualquer conclusão. Ele estava confuso, perturbado, num caos. No dia em que chegara poderia ter respondido a muitas questões, mas agora não. Até mesmo suas respostas certas tinham se tornado incertas. Quanto mais você pensa, mais a filosofia se torna inútil. Apenas os tolos podem acreditar em certezas. Quanto mais você pensa, mais inteligente fica, melhor vê que todos os pensamentos são apenas palavras, sem nenhuma substância. Muitas vezes ele quis voltar atrás porque isso não seria de nenhuma serventia. Ele não se sentia em boas condições. Mas o cientista lhe disse: "Venha! Vamos tentar! O que você irá perder? Se nós vencermos, tudo bem. Vamos tentar, não seja tão desanimado."

Apenas o homem religioso caminha feliz, cantando. Ele podia ouvir os passarinhos nas árvores, podia ver o sol surgindo, podia ver os raios do sol nas gotas de orvalho. A vida toda era um milagre! Ele não estava preocupado porque não haveria nenhum exame. Ele iria e encararia a situação. Iria simplesmente para ver o que ia acontecer. Ele não estava esperando por nada, não tinha expectativas; estava saudável, jovem, vivo -- e isso é tudo. Só desse modo é que uma pessoa pode se aproximar de Deus; não com fórmulas prontas, não com teorias prontas, não com montanhas de trabalhos de pesquisa experimental, não com títulos e títulos de doutoramento. Não, isso não auxilia. As pessoas devem ir para o templo assim: cantando e dançando.

Se você estiver alerta, poderá responder a qualquer coisa que vier, porque a resposta virá por meio da vida, virá por meio do coração e o coração está preparado quando você está cantando, quando você está dançando... quando você está celebrando.

E eles chegaram. O Rei havia arquitetado algo muito especial. Eles foram levados a uma sala onde havia sido montada uma fechadura, um enigma matemático. Havia muitas figuras na fechadura, mas não havia nenhuma chave. Aquelas figuras tinham de ser dispostas de um certo modo. O segredo estava nisso, mas a pessoa teria de procurar e encontrá-lo. Se aquelas figuras fossem dispostas de um determinado modo, a porta se abriria.

O Rei colocou-os dentro da sala e disse: "Este é um enigma matemático, um dos maiores já conhecidos. Agora vocês terão de encontrar o segredo. Não existe nenhuma chave. Se vocês puderem encontrar o segredo, a resposta para este quebra-cabeça matemático, a fechadura se abrirá. E o primeiro a sair desta sala será o escolhido. Agora, podem começar." Ele fechou a porta e foi-se embora.

Imediatamente o cientista começou a trabalhar sobre o papel: muitos experimentos, muitos cálculos, muitos problemas. Ele olhou, observou as figuras no cadeado. Não havia tempo a perder, era uma questão de vida ou morte. O filósofo fechou seus olhos e começou a pensar em termos matemáticos sobre o que fazer, como decifrar o enigma. O enigma era totalmente novo.

Este é o problema: com a mente, se algo é velho, a resposta pode ser encontrada; mas se algo é absolutamente novo, como resolvê-lo por meio da mente? A mente é muito eficiente com o velho, com o conhecido, com o rotineiro, mas é totalmente incapaz diante do desconhecido.

O homem religioso nem se aproximou da fechadura. Que poderia ele fazer? Ele não sabia matemática, não conhceia nenhuma ciência experimental. O que poderia fazer? Ele apenas se sentou num canto. Cantou um pouco, orou a Deus, fechou seus olhos. Os outros dois pensaram: "Ele não é um concorrente. De certo modo, isso é até bom porque a escolha terá de ser decidida entre nós dois." Então, de repente os dois perceberam que ele havia deixado a sala. Ele não estava lá. A porta estava aberta!

O rei veio e disse: "O que vocês estão esperando! acabou! o terceiro homem já saiu!"

Mas eles perguntaram: "Como? Mas ele não fez nada!"

Então quiseram saber do homem religioso: "Como?"

Ele disse: "Eu estava apenas sentado. Comecei a rezar e então um voz interior me disse: 'Que tolo! Vá até lá e olhe. A porta não está fechada.' Então fui até a porta. Ela não estava fechada. Não havia nenhum problema para ser resolvido. Então eu saí."

(...) A vida não é um problema. Se você estiver tentando resolvê-la, não a compreenderá. A porta está aberta, nunca esteve fechada. Não há como tentar destrancá-la; e por ela já estar aberta, ela não pode ser aberta. Se a porta estivesse fechada, os cientistas encontrariam a solução; se houvesse algo para ser decifrado/solucionado, a ciência o faria mais dia, menos dia... seria apenas uma questão de tempo. Se a porta estivesse fechada, os filósofos encontrariam um sistema pelo qual ela pudesse ser aberta. Mas a porta não está fechada. Assim, só a fé pode abrí-la -- sem qualquer solução, sem qualquer resposta pré-fabricada. A vida não é um enigma para ser resolvido, é um mistério para ser vivido. É um profundo mistério confiar e permitir a si mesmo a entrada. Nem mesmo um passo... Empurre a porta e saia.


3 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal esse conto... nháá... foi vc mesmo quem escreveu?? está de parabéns! Não tem mais nada a comentar, a não ser talvez que os três poderiam sair se soubessem trabalhar juntos... o reinado teria 3 primeiros-ministros... hahaha... e por que não?? Não seria maravilhoso um mundo em que todos pudessesm andar juntos, compartilhando o que há de melhor em cada um?? Bom... Mas se a porta já está aberta, é tudo apenas questão de tempo. "Realmente, sozinhos chegamos mais rápido, mas, certamente, juntos chegamos mais longe."

Bom fim de semana e até mais!!

H K Merton disse...

Tenho a mesma dúvida: Esse texto é de sua autoria? Se for, meus parabéns! Gostei em especial da parte final:

"A vida não é um problema. Se você estiver tentando resolvê-la, não a compreenderá. A porta está aberta, nunca esteve fechada. Não há como tentar destrancá-la; e por ela já estar aberta, ela não pode ser aberta. Se a porta estivesse fechada, os cientistas encontrariam a solução; se houvesse algo para ser decifrado/solucionado, a ciência o faria mais dia, menos dia... seria apenas uma questão de tempo. Se a porta estivesse fechada, os filósofos encontrariam um sistema pelo qual ela pudesse ser aberta. Mas a porta não está fechada. Assim, só a fé pode abrí-la -- sem qualquer solução, sem qualquer resposta pré-fabricada. A vida não é um enigma para ser resolvido, é um mistério para ser vivido. É um profundo mistério confiar e permitir a si mesmo a entrada. Nem mesmo um passo... Empurre a porta e saia".

Principalmente porque diz que tem que abrir a porta. Sempre interpretei suas mensagens como querendo dizer que não precisamos fazer nada porque tudo já está pronto, e desse modo, meio que estaríamos "no mundo a passeio". Gostei. Gostei muito disso. Definitivamente, gostei.

Anônimo disse...

Oi, Gugu!!!

Tbém qro saber se o texto é teu...adorei.
A gente tem que abrir a porta mesmo, dar a cara a tapa...deixar de ser platéia e ser a estrela da nossa vida.
A vida é mesmo um mistério a ser vivido. E aproveitado em cada segundo. Tem respostas que a gente nunca encontrará.
Sabe, amiguinho...já me conscientizei disso, que tem coisas que nunca irei descobrir...e, quer saber? Tô feliz assim, isso me deu paz.

Abraços , paz, luz e amor pra vc!!!!!!!