"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, julho 14, 2007

A Árvore dos Desejos

O que vou postar, agora, trata-se de um assunto muito falado atualmente: a lei da atração. Esse post foi um e-mail que recebi de alguns amigos. Ele não é novo; faz um tempo que ele já estava correndo na net. Mas em homenagem à lei da atração, vou postá-lo. Apenas lembrem-se, pessoal, que o ensinamento da lei da atração não é o verdadeiro segredo. Existem coisas muito mais importantes do que obter todas as coisas materiais que se deseja. Mas, sobre isso, eu vou escrever mais tarde. Ao post, então!


No conceito Védico indiano, o Paraíso é composto por Árvores dos Desejos. Basta alguém sentar debaixo de uma delas e desejar qualquer coisa, que imediatamenteo desejo se realizará, sem intervalo de tempo entre o desejo e a realização.

Conta uma velha lenda que, certa vez um homem estava viajando e acidentalmente, sentou-se embaixo de uma dessas Árvores dos Desejos. Sem nada saber sobre isso, e dominado pelo cansaço, o homem pegou no sono, à sombra de sua frondosa copa.Quando despertou estava com muita fome, e então disse: - Estou com tanta fome! Ah, como eu desejaria conseguir alguma comida agora! E imediatamente apareceu um prato de comida à sua frente, vinda do nada, simplesmente uma deliciosa comida, flutuando no ar.

Ele estava tão faminto que não prestou atenção de onde viera a comida. Começou a comê-la assim que a viu. Somente depois que sua fome foi saciada é que voltou a olhar ao redor. Outro pensamento surgiu em sua mente: - Se ao menos eu conseguisse algo para beber...
Imediatamente apareceram excelentes sucos e vinhos. Bebendo e relaxando na brisa fresca, sob a sombra da árvore, o homem começou a pensar: - O que está acontecendo? O que está havendo? Estou sonhando ou existem espíritos ao meu redor que estão fazendo truques comigo?

E diversos espíritos apareceram.O homem começou a tremer e novamente um pensamento surgiu em sua mente: - Serão esses espíritos perigosos?... Logo os espíritos se tornaram nauseantes, ferozes e começaram a fazer gestos ameaçadores para ele. - Ai, meu Deus! Agora certamente eles vão me matar! E assim aconteceu...

Esta parábola tem apenas um significado: sua mente é a Árvore dos Desejos, e o que você pensa,mais cedo ou mais tarde, há de se realizar.Às vezes o intervalo entre o pensamento e o acontecimento é tão grande que nos esquecemos completamente que, de alguma maneira,desejamos o ocorrido. Mas, se olharmos profundamente, perceberemos que todos os nossos pensamentos, desejos, medos e receios estão criando nossas vidas.Eles criam nosso inferno ou nosso paraíso, criam nosso tormento ou nossa alegria.

Todos nós temos mentes "mágicas" capazes de manifestar externamente nossos desejos e pensamentos. Estamos fiando a trama de nossas vidas, tecendo o mundo dentro e fora de nós, sem ao menos termos consciência disso. Sua vida está em suas mãos.Você pode escolher transformá-la num inferno ou num paraíso. A responsabilidade é toda sua. Isso depende somente de você!




Que tal uma reflexão nesse momento?Você já havia percebido que muitas experiências e situações vivenciadas em sua vida tinham correlação com algo que você havia desejado ou imaginado? Infelizmente vivemos tão desatentos e preocupados com nossa rotina de afazeres, que provavelmente não conseguimos observar essa Lei de Ação e Reação agindo em nossas vidas...

Queremos ser felizes, prósperos e saudáveis, mas concentramos nossa atenção em todo tipo de medos e situações destrutivas. Temos medo da solidão, de contrairmos uma doença grave, de não podermos pagar nossas contas. O tempo todo pensamos e nos preocupamos com coisas que não queremos! Imaginamos acidentes, assaltos e cenas de violência, conosco ou nossos queridos e depois, quando essas coisas acontecem, nos sentimos desorientados, culpamos as pessoas,o destino, o karma e a falta de sorte.

Achamos a vida injusta e cruel, quando tudo o que ela está fazendo, é devolvendo o mal criado por nossas intenções, crenças e expectativas negativas!Cada um cria sua própria realidade, à partir do que pensa e imagina, fala e deseja. Esses são poderosos comandos que acionam o PODER CO-CRIADOR de nossa mente. Devemos entender que a função da mente não é avaliar se esses comandos são positivos ou negativos. Ela apenas os executará automaticamente, pois essa é a função dela. E o tempo para sua manifestação, dependerá da intensidade e freqüência com que ela recebe esses comandos. Um dos motivos pelo qual estamos nete mundo é para desenvolver a capacidade de nos tornarmos Co-criadores Conscientes. Somos aprendizes! E para isso precisamos aprender os segredos deste maravilhoso instrumento que é a mente. Nela reside o Poder Magnético da Atração e Manifestação, o mesmo Poder que criou o Universo e que nos torna semelhantes a Deus. Nosso destino é nos tornarmos como Ele, seres Perfeitos e Criadores.

Quando o Poder de nossa mente não é dirigido pela vontade amorosa e iluminada pela consciência, ele é comandado por nosso subconsciente, por obscuras forças na forma de mecanismos sabotadores e torturadores, falsas crenças, conceitos e valores distorcidos sobre a vida, sobre nós, sobre nossos merecimentos. Assim, se não acreditarmos que merecemos uma vida plena de amor e de suprimentos, saúde e bem estar, nenhuma força do universo poderá nos ajudar!

Ninguém está acima da Lei de Causa e Efeito e esta lei divina decreta que nós temos o livre arbítrio. Escolher tornar-se um Co-criador consciente depende só de você. Mas, na prática, por onde começar? É necessário trilhar o caminho do autoconhecimento, e expandir a consciência de si. Comece observando, por exemplo, o quanto você é dominado pela crença do “não merecimento!” Saiba que os sentimentos de culpa são responsáveis por esse tipo de crença, pelas preocupações e imaginações daquilo que não queremos, como forma de nos punir e torturar. Então faça as pazes com você mesmo.

Perdoe todos os seus erros e falhas do passado. Ame-se. Aceite-se. Respeite-se. Valorize-se.Proteja-se dos pensamentos negativos e controle o uso da sua imaginação. Acredite-se merecedor de todas as coisas boas deste mundo. Visualize-se pleno de saúde e bem estar, rodeado de fartura e de amor. Espere por essas coisas. Agradeça à Vida como se já as tivesse recebido. Aprenda sobre a força das “afirmações” e vigie muito bem as suas palavras, que têm uma força tremenda. São elas que ajudam a atrair e a manifestar nossos desejos no mundo físico. São o “abracadabra” da fortuna e do infortúnio!

Ouse explorar as profundas dimensões de sua mente. E torne-se capaz de transformar sua vida, superar dificuldades e limitações mudar sua sorte, vencer problemas gigantescos, curar qualquer doença, atrair relacionamentos satisfatórios, prosperidade e abundância para a sua vida! Lembre-se: você está sentado sobre a sua Árvore do Desejo e pode começar a viver no paraíso...Agora!
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Texto: Osho (parábola)

sábado, julho 07, 2007

O samurai e o mestre zen


Certo dia, um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, veio ver um Mestre Zen. Embora fosse muito famoso, ao olhar o Mestre, sua beleza e o encanto daquele momento, o samurai sentiu-se repentinamente inferior. Ele então disse ao Mestre:
- Por que estou me sentindo inferior? Apenas um momento atrás, tudo estava bem. Quando aqui entrei, subitamente me senti inferior e jamais me sentira assim antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei medo algum. Por que estou me sentindo assustado agora?
O Mestre falou:
- "Espere. Quando todos tiverem partido, responderei. Durante todo o dia, pessoas chegavam para ver o Mestre, e o samurai estava ficando mais e mais cansado de esperar. Ao anoitecer, quando o quarto estava vazio, o samurai perguntou novamente: - "Agora você pode me responder por que me sinto inferior?"
O Mestre o levou para fora. Era uma noite de lua cheia e a lua estava justamente surgindo no horizonte. Ele disse:
- Olhe para estas duas árvores, a árvore alta e a árvore pequena ao seu lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minha janela durante anos e nunca houve problema algum. A árvore menor jamais disse à maior "Por que me sinto inferior diante de você?" Esta árvore é pequena e aquela é grande - este é o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso.
O samurai então argumentou: - Isto se dá porque elas não podem se comparar.
E o Mestre replicou:
- Então não precisa me perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não importa, você é você mesmo.
Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos rico se este canto desaparecer. Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma unidade orgânica, ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na Natureza, tamanha não é diferença. Tudo é expressão igual de vida.

sábado, junho 30, 2007

AMOR - Uma lição pra nunca mais esquecer


A única coisa que Deus nos pede é: "ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo". Deus só pede isso a nós. Existem milhares de religiões e seitas espalhadas por todo o mundo -- cada uma delas com seus textos/escrituras sagradas, códigos de ética, moral e conduta --, mas Cristo veio e disse apenas isto: "Eu deixo um novo mandamento: amem a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo."

Em todas essas várias religiões, você encontrará os mais diversos tipos de ensinamentos... você irá se deparar com muitos caminhos distintos que, se seguidos e praticados ao mesmo tempo, poderá levar um homem à loucura. Cada religião, cada seita ou filosofia têm seus ensinamentos constituídos/formados de dois aspectos. Os ensinamentos de todas elas são formados pela mesma fórmula: um ensinamento profundo, que está intimamente ligado à Essência (Verdade, Deus) e um ensinamento que dita como deve ser a conduta/comportamento do seguidor ou praticante (trata-se da forma externa.) Assim, a fórmula é: um ensinamento profundo + um ensinamento superficial.

O primeiro aspecto do ensinamento é aquele que está ligado diretamente à Essência, à Verdade... é a parte em que Deus está totalmente presente. Esse primeiro aspecto é a ponte que permite a ligação entre Deus e o homem, pois ele foi concebido sob inspiração divina. Toda religião possui ensinamentos constituídos sob essa inspiração, sob esse momento de íntima comunhão com Deus. Através desse primeiro aspecto Deus flui e alcança o homem.

O segundo aspecto é o que deixa tudo perigoso e complicado. Ele é a forma como as religiões, seitas e filosofias se apresentam ao homem; é a exteriorização/somatização do primeiro aspecto. Ele é composto de muitos princípios éticos e morais e, por isso, sua exteriorização está subordinada à cultura de onde se encontra cada religião ou seita. Dentro do segundo aspecto, você encontrará muitas diferenças, muitas discordâncias, devido ao lugar e ao tempo em que a religião foi concebida. Então, cada uma delas possui seu próprio código, sua maneira de conduzir o homem a Deus. É por isso que, se alguém vai atrás da Verdade buscando-a em vários lugares, a pessoa poderá acabar se perdendo no caminho. Encontrará muitas decepções, a menos que ela saiba filtrar muito bem o que está sendo ensinado em cada um desses lugares.

Aquele que se entrega a um caminho específico, e segue confiando, com o coração totalmente aberto, possui mais chances de encontrar Deus do que aquele que O busca em vários lugares. Ele possui mais chances porque, em primeiro lugar, ele está em paz com o mundo. Ele é capaz de confiar e se entregar ao caminho que escolheu seguir... confiando que Deus estará esperando por ele em algum lugar de sua jornada. Assim, ele está mais próximo de Deus, do que o homem que O procura em todos os lugares.

Quem busca, em todo lugar, encontrar a Deus não confia no mundo... ele não pode estar em paz. Ele vive desconfiando da vida, como se houvesse uma conspiração feita para garantir que ele se perca dEle. Quem dá desconfiança, fatalmente receberá desconfiança de volta. Como pode alguém encontrar o Amor, se ele o busca no caminho da desconfiança? Não, ele não pode. Ele terá primeiro que resolver esse relacionamento dele com o mundo. Ele precisa se tornar mais hamornizado com a vida. E uma vez feito isso, ele poderá relaxar, confiar, e se entregar a um caminho.

E um dos caminhos mais simples foi o deixado por Jesus Cristo. Jesus disse: "ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo." O bom de ser cristão é ter que cumprir apenas esse mandamento e ver toda a sua vida se tornar perfeita. Outras religiões pedirão que você faça jejuns, não coma carne, pedirá que você faça alguns sacrifícios e oferendas... um monte de coisas. Mas os cristão só tem que seguir esse simples mandamento deixado por Cristo. Aquele que seguir e interiorizar esse mandamento alcança a iluminação. É como diz Cristo: "nasceremos de novo... morreremos para o mundo e nasceremos no espírito."

Este é o maior e o mais simples mandamento já deixado para o homem, em toda a história humana: ame! Se cumprires isso, não precisa de mais nada.

Às vezes fazemos muitas coisas pela força da cultura e do hábito... mas Deus não exige e nem se preocupa se comemos carne ou não, se somos gordinhos ou não, se fomos feios, altos, se andamos com roupas de igrejas... isso são coisas só para o exterior.

Deus vê o que temos lá no fundo do coração. Podemos encontrar pessoas, por aí, que cumprem todos os preceitos perfeitamente... pessoas que são exemplos impecáveis, mas que possuem um coração podre cheio de embustes, falsidades, hipocrisias. O que tudo isso adianta para essas pessoas?

Cristo diz que nem mesmo um copo de água que damos com amor será esquecido no dia de nos aprensentarmos face-a-face com Deus. A única coisa que será cobrada de nós é se amamos o suficiente todas as pessoas e situações que passaram pelas nossas vidas. Quando o homem se encontra já no fim de sua vida, ele sabe que tudo será tirado dele -- e ele não sabe apenas intelectualmente. Ele realmente SABE, porque a morte está tão próxima dele, que ele começa a sentí-la... e a sentir todos os efeitos que acontecerão após sua morte acontecer --, ele sabe que tudo será tirado dele e que não sobrará mais nada. A única coisa que valerá a pena será se ele olhar para sua vida e disser "não importa o que os outros fizeram a mim, não importa se as pessoas não me retribuiram, nem fizeram a sua parte... eu amei!" No fim das contas, o que valerá é isso.

Amar significa abdicar de si mesmo, deixar o ego pra trás... deixar o orgulho. Olhe para Cristo: quem mais tinha que ter o ego cheio, quem mais tinha que ter orgulho não seria Jesus Cristo? Ele foi o mestre dos mestres, foi o próprio Deus encarnado... e ele foi orgulhoso? foi egocêntrico? exigiu louvores para si? É claro que não. Ele tinha tudo para ser o orgulho em pessoa... ele tinha o poder... mas ele não queria nada disso. Ele queria apenas amar. Ele não veio apenas para dar a mensagem, mas pra dar o exemplo.

Cristo era mestre e senhor e veio pra servir... não pra ser servido. Ele veio para andar com o povão... pra andar com os pecadores e lavar os seus pés.

Que tipo de deus hindú faz isso? Que tipo de deus egípcio saiu de seu panteão e veio servir aos humanos? Que tipo de deus grego, nórdico, xintô, ou espírito foi capaz de tão grande ato de amor?

Cristo amou verdadeiramente. Ele veio, serviu, amou, fazia o bem a todos. Espalhava suas curas e pedia que ninguém comentasse que era ele que havia feito. Jesus Cristo fazia o bem a todos. Depois ele foi humilhado, sofreu muito e no fim perdoou a todos. Isso é que é doação total... ele foi humilde até o fim.

Ele mesmo diz "vem e segue-me". Ele não queria que as pessoas simplesmente fossem atrás dele, mas que fizessem as mesmas coisas que ele fazia. Ele queria que as pessoas seguissem o exemplo que fossem santas... que soubessem amar.

Ele diz, no Sermão da Montanha, "sede perfeitos assim como o vosso pai celeste é perfeito". Jesus nos disse que podemos ser como Deus (o que é diferente de sermos o próprio Deus!), porque realmente nós fomos criados para sermos perfeitos... para sermos "a imagem e a semelhança do Criador".

E qual é o pai que não gostaria que seus filhos seguissem o seu exemplo? Deus é nosso Pai... ele quer que sejamos como Ele, mas Ele não nos obriga a nada... ele tenta nos ensinar pelo exemplo. Tudo isso só prova que Deus não nos condena, somos nós mesmos que escolhemos viver sem Deus. Ninguém pode culpar a Deus por estar ou se sentir abandonado, porque mesmo que a pessoa esteja na merda ela poderá ter a certeza de que pelo menos uma pessoa no mundo a ama: Deus. E só isso é motivo suficiente para alguém se sentir feliz e se amar.

Primeiro é preciso aprender a se amar. A primeira coisa a ser feita é mudar o interior: você precisa se amar... se dar mais valor. Se você pensar que ninguém no mundo te ama, você não conseguirá se amar... e, consequentemente, não conseguirá amar ao próximo.

"Como dizer, Senhor, 'te amo' sem mesmo vê-lO? E ser incapaz de amar ao outro que está ao lado e se pode ver? O que não ama, não conhece a Deus... porque Deus é Amor."

Como você pode amar a Deus, que é invisível, se não é capaz de amar ao próximo que está bem ao seu lado e que você pode ver e conviver todo dia? E como você poderá amar ao próximo, se você não se ama? Se você não amar ao próximo, não vai encontrar Deus.

Saber que Deus te ama é o começo de tudo. É aqui que se inicia uma vida de completa auto-aceitação, amor próprio, e de felicidade. Saber que Deus te ama é o que permite a sua vida decolar e alçar vôo. Deus te ama... te ama muito, e te ama incondicionalmente. Deus lhe aceita exatamente do jeito que você é agora, com todos os seus defeitos, com todo o passado que você guarda para si, com todas as suas imperfeições e falhas... Deus está sempre aberto a você, não importa a situação em que você se encontre.

Por isso, se a vida te machuca, não ache que você não tem valor. Você tem, sim, muito valor. E se Deus te aceita, quem é você para não se aceitar? Deus te ama... então porque você mesmo não se ama? Quem é você para isso? Esqueça todas as crenças ruins, todos os motivos que você deixou entrar na sua cabeça e que não deixam que você se ame. Se Deus te ama, você está inteiramente livre para se amar e se sentir amado... isso é algo que deve estar acima de tudo.

A partir do momento em que você reconhecer o seu próprio valor, que você se amar... você vai passar a dar valor nas outras coisas, nas outras pessoas. Você vai começar a amar as pessoas da mesma forma como a ti mesmo... da mesma forma como você dá valor a si mesmo, você vai passar a amar aos outros. E você vai perceber o quanto é simples chegar a Deus... vai perceber o quanto é simples não apenas ser um iluminado, mas um 'portador da luz' que leva a luz para todo o mundo aonde você for. Não basta ser iluminado. Deus quer que levemos a luz aos outros, que amemos aos outros... é simples assim.

Assim, você tem que aceitar a si mesmo, abrir seu coração, você tem que aceitar se amar... mudar o seu interior. precisa lavar tudo de ruim dentro de você. Deixe seu passado realmente PASSAR por você. Não retenha nada. Sinta-se como uma nova criatura a cada segundo que passa... você realmente é novo, TODO NOVO, a cada segundo.

Deus não quer saber o que você fez, Ele só quer te AMAR agora. Ele não está no passado, não está no futuro, nem está no presente. Só você está no PRESENTE. Por tanto, se você aceitar o Espírito Santo, você irá renascer. Deixa o passado pra trás e deixa o futuro pra frente. E se alguém te magoar, não perca um segundo sequer para amar essa pessoa. Aprendemos muito até com quem nos faz mal. Assim, é só vivendo nesse momento pra você aceitar a si mesmo como você já é agora.

Isso tudo é o mínimo que podemos fazer. Cristo nos amou tanto que resumiu tudo. Ele disse que do jeito que a humanidade estava, ela ia acabar destruindo-se a si própria. Não tem como reduzir o ensinamento mais do que Cristo reduziu.

Antes de Cristo, não havia todo esse papo todo sobre o amor. Amar ao próximo era piegas, fora de moda... até hoje é muito fora de moda. As pessoas só querem saber do que é seu, "o que é meu, é meu"... é o ego. As pessoas continuam achando que tudo deve girar em torno delas, querem ser o centro de tudo... querem ser os senhores da vida. E o pior... senhores da vida dos outros. Querem ser servidas, querem ser o máximo, mas não enxergam que elas precisam se doar. Você só consegue amor dando amor. Você só consegue fazer o mundo girar em torno de você, quando você aceita girar em torno do mundo... girar em torno das pessoas. Você só consegue ser o centro quando você deixa de querer ser o centro, pois é aí que você passa a conviver com todos. E todos irão te conhecer... todos irão olhar pra você e dizer "aquela pessoa é importante pra mim, aquela pessoa é o meu centro." E, no entanto, as pessoas que querem ser o centro estão correndo atrás do próprio rabo para tentar agarrá-lo, mas elas nunca conseguem.

Pessoas assim não irão querer conviver com os outros. Elas julgam os outros inferiores demais para conviver com elas... indignas demais... feias demais... burras demais. E elas acabam achando que só elas mesmas podem ser dignas de algo; é puro ego.

Como alguém irá reconhecer nelas o centro de algo, se elas se fecham em si mesmas? Por isso Cristo diz "aquele que quiser perder a sua vida, encontra-la-á." Lao-Tsé também diz: "O sábio não se preocupa com a sua salvação, e por isso a encontra." (...)

(...) São Francisco foi um homem muito egoísta durante toda sua vida. Ele só queria saber de cumprir as satisfações do próprio ego. Gastava toda a sua fortuna consigo mesmo, enquanto ele via pessoas morrerem de fome bem ali, do lado dele. Pra que ele iria se preocupar com elas? Ele estava muito bem, não tinha nada com o que se preocupar.
Mas se ele tivesse continuado a ser assim, ele teria morrido e ninguém no mundo teria ficado sabendo quem foi Francisco de Assis. Ninguém iria reconhecê-lo, a não ser como um homem rico que morava na esquina e não estava nem aí pra ninguém, apenas para si mesmo. Se ele vivesse querendo ser sempre o maioral, ele nunca seria o centro de nada.

Mas São Francisco teve uma revelação e ele, o homem que era torto, deixou de ser torto. Passou a usar sua riqueza para ajudar aos outros. Pra si mesmo, não quis nada. Passou a viver como mendigo na rua, mas passou a conviver com as pessoas... passou a se doar. E, paradoxalmente, foi assim que São Francisco começou a se tornar o centro da vida de muitas pessoas, e muita coisa girava em torno dele. E hoje em dia, até quem não é cristão sabe quem foi São Francisco de Assis.

A sua ordem monástica é uma das maiores dentro da igreja católica e seus pensamentos influenciam milhares de pessoas no mundo todo. Foi simplesmente amando que São Francisco tornou-se algo na vida, pois Deus conseguiu cumprir nele todas as suas vontades. A vontade de Deus é perfeita, Ele possui o conhecimento de tudo... não tem porque nós O julgarmos. Nós podemos pedir muitas coisas, sim... Mas Deus sabe o que realmente é bom, ou não, para nós.

São Francisco fez o mínimo que ele podeira ter feito e por isso se tornou o máximo, pois Deus cumpriu nele toda sua vontade. Isso só foi possível porque São Francisco abriu seu coração a Deus e permitiu que Ele entrasse.

Você precisa se abrir para Deus, também. Precisa se colocar disponível para Ele, porque Deus só pode entrar num recipiente que esteja vazio. Ele não vai competir com um ego para habitar o seu ser. Ou você se esvazia do seu ego, ou você nunca terá espaço dentro de você pra que Deus possa habitar. Deus nunca irá fazer morada dentro de você, se o seu coração já estiver cheio das coisas do mundo. Se você estiver cheio de si mesmo... enfim.

Como você pode pedir a iluminação do Espírito Santo, se a única coisa que importa pra você é o seu próprio espírito? Como você pode pedir que a vontade de Deus se cumpra, se a única coisa que te importa é a sua própria vontade?... Como você pode tentar ser o centro das atenções, se Deus é sempre o centro de tudo? Pra você ficar no centro, você precisa deixar que Deus entre em você...

E Deus está sempre aqui pra nós. Ele nunca nos dá as costas, mesmo se estivermos com as nossas voltadas para Ele. Mesmo quando estamos nos perdendo, Deus está sempre vindo atrás... Ele vem atrás!!!!!!! Deus não se contenta unicamente em nos aceitar apenas quando resolvemos ir até Ele. Ele está sempre vindo atrás e dizendo "ei, venha aqui... venha para mim, deixe-me entrar!" Sua humildade e amor está acima de tudo.

Cristo diz "Eis que eu vou a porta e bato... se me abrirem, eu entrarei, cearemos juntos, farei morada... e seremos um só." Em verdade, toda a existência está gritando a Deus a todo momento. Se você prestar atenção, ao olhar para uma árvore, irá perceber que ela está gritando "Deus está em mim!! Deus existe em mim!!" a todo momento. A existência inteira estão cantando à Deus a todo instante. Isso tudo é muito lindo... porque não deixar Deus tomar conta de nossas vidas?

Deus cumpre sempre com sua parte. A porta que vai até Ele está toda aberta, e Deus fica gritando à você, de lá de dentro, que entre pela porta. Ele está lá chamando-lhe para entrar. Deus não fica quieto só esperando. Ele faz muito a parte dele. Mas Ele não pode invadir a nossa parte; ele não pdoe chegar e nos forçar a entrar. Deus nunca vai arrombar nossa porta e invadir a casa, porque isso violaria a liberdade que Ele próprio nos concedeu. Por isso, sempre temos que fazer a nossa parte.

Às vezes, temos a sensação de que Deus não está no mundo porque não vemos sua ação. Ele nunca vai agir, se você não deixar. Deus não força suas criaturas... apenas pede a brecha. Somos nós quem devemos agir; nós é que cuidamos de nossos canais. Quando cuidamos bem de nossos canais, eles ficam limpos e as bençãos de Deus podem fluir. Mas se deixarmos o canal sujo com um monte de coisas que nós mesmos criamos -- como ressentimentos, dúvidas quanto a Deus, mágoas passadas --, tudo isso entope o canal. E Deus continua indo atrás, continua enviando bençãos. Mas como nós mesmos entupimos o canal, nós mesmos impedimos que as bençãos de Deus nos alcancem.

Nós sempre somos os responsáveis por tudo o que nos acontece. Não adianta querer culpar Deus ou o diabo. Nós somos os únicos capazes de fazer de nossa vida o que queremos pra ela. Nem Deus, nem o diabo podem nos obrigar a nada.

Tudo isso que foi dito até aqui, é apenas o começo... apenas a ponta do iceberg. O mais importante de tudo, é vivenciarmos tudo isso.

Quando passamos a vivenciar tudo isso, muitas promessas começam a ser cumpridas. As promessas de Deus, todos os desígnios eternos nos são revelados. Aí você vai começar a mergulhar no Espírito e ver tudo o que tem por debaixo. Todos os mistérios, tudo nos é revelados por Deus... e tudo vem de graça por causa de sua infinita misericórdia. Deus tem o prazer de nos revelar tudo... tudo o que nos é possível compreender. Mas, antes de tudo isso, precisamos cumprir com o básico primeiro: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Somente assim nos tornaremos aptos a compreender as coisas maiores que Deus deseja nos mostrar.

Lembre-se, cumpra o básico. Faça o que Jesus pediu. Ele não veio aqui dizer o que disse se não houvesse um bom motivo para isso. As pessoas de sua época podem não ter entendido o porquê de Jesus ter dito isso, mas quem seguiu o conselho dele tornou-se iluminado e passou a ser um com Deus. Não é preciso querer entender o porquê, basta fazer o que Jesus disse. "Bem aventurados os que não viram e creram."

Cumpra o básico, ame os outros sem esperar se receberá amor em troca. Se eles não te retribuírem, pelo menos tenha a consciência limpa de ter feito a sua parte. Você encontrará muitas pessoas no mundo e nem todas aceitarão o amor. Nem todas vão aceitar essa interação que você tentar estabelecer. Você vai tentar isso muitas vezes e não vai conseguir, mas o importante é você ter a consciência limpa de ter tentado. Muitas pessoas cometerão erros e você também cometerá. E muitas vezes você irá pedir desculpas, mas não vão te desculpar, isso é fatal.

Mas pelo menos a sua parte você terá feito... você terá cumprido com o papel do amor. Você não pode obrigar que uma pessoa aceite o seu amor (nem mesmo Deus nos obriga aceitar), e mesmo assim você estará amando aquela pessoa: primeiro, cumprindo com a sua parte; segundo, respeitando a decisão dela.

É só assim que você terá a consciência livre para dizer "eu amei". Isso é o que realmente importa. É para isso que estamos aqui.

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*A autoria deste texto não é minha.

*O autor quis permanecer anônimo.

sábado, junho 09, 2007

Um conto: A vida não é um problema

Certa vez, o Primeiro-Ministro de um grande rei morreu. Esse Primeiro-Ministro era uma pessoa muito rara, muito inteligente, quase um sábio; era esperto, sagaz, um grande diplomata. Seria muito difícil encontrar alguém que pudesse substituí-lo. Então, todo o reinado foi pesquisado. Todos os ministros foram enviados para procurar por três homens. Um desses três seria o escolhido pelo rei para ser o novo Primeiro-Ministro.

Durante meses a procura continuou. Todo o reinado foi vasculhado; todos os recantos e esquinas foram pesquisados. Então, três pessoas foram encontradas. Uma delas era um grande cientista, um grande matemático. Ele podia resolver qualquer problema de matemática, e a Matemática é realmente a única ciência positiva; todas as ciências são apenas ramos da matemática. Assim, ele se achava na base.
O outro era um grande filósofo, um grande criador de sistemas. Do nada ele podia criar tudo. A partir apenas de palavras, ele podia criar sistemas maravilhosos -- era milagre. Apenas os filósofos podem fazer isso. Eles não têm nada em suas mãos; são grandes mágicos. Criam Deus, criam a 'teoria da criação', criam tudo; e sem nada em suas mãos. São brilhantes artesãos de palavras, combinam as palavras de tal modo que lhe dão a sensação de substância. E isso sem nada!

O terceiro era um homem religioso, um homem de fé, de prece, de devoção. As pessoas que estavam procurando esses três homens devem ter sido muito sábias, porque encontraram os três.

Esses três homens representam as três dimensões da consciência. Elas são as únicas possibilidades: ciência, filosofia e religião -- formam a base. O homem de ciência interessa-se por experimentos: a menos que algo seja provado pelos experimentos, não está provado. Ele é empírico, experimental; sua verdade é a verdade do experimento.

O homem de filosofia é o homem da lógica, não dos experimentos; experimentar não é a questão. Apenas pela lógica ele prova e refuta. Ele é um homem puro, mais puro do que o cientista, porque o cientista tem de carregar seus experimentos, seu laboratório. Um homem de filosofia trabalha sem laboratório -- apenas com sua mente, com a lógica, com as matemáticas mentais. Todo o seu laboratório está em sua mente Ele pode provar e refutar apenas pelos argumentos lógicos. Ele pode resolver ou criar qualquer tipo de enigma.

O terceiro homem está na dimensão da religião. A vida não é problema para um homem religioso. Ela não existe para ser solucionada; existe para ser vivida.

O homem religioso é o homem da experiência; o cientista é o homem dos experimentos; e o filósofo é o homem dos pensamentos. O homem religioso é o homem da experiência: ele olha a vida como algo a ser vivido. Se existe alguma solução, ela virá pela experiência, virá pela vida. Nada pode ser decidido de antemão pela lógica porque a vida é maior do que a lógica. A lógica é apenas um bolha no vasto oceano da vida. Assim, a lógica não pode explicar tudo. Os experimentos podem ser feitos apenas quando você não participa, podem ser feitos apenas com objetos.

A vida não é um objeto; é o próprio cerne da subjetividade. Quando você faz experiências, é diferente. Quando você vive, unifica-se. Assim, o homem religioso diz: "A menos que você se unifique com a vida, nunca poderá reconhecê-la." Como poderá você conhecê-la do lado de fora? Você pode andar e rodear de um lado para o outro, mas nunca acertará no alvo. Assim, o homem de fé não se atém nem a experimentos nem a pensamentos, mas à experiência, à simplicidade, à confiança.

Os ministros pesquisaram e encontraram esses três homens que foram, então, chamados à capital para a decisão final. O rei disse: "Por três dias descansem e preparem-se. Na manhã do quarto dia o exame final será realizado. Um de vocês será escolhido e se tornará meu Primeiro-Ministro: aquele que provar ser o mais sábio."

Eles começaram a trabalhar cada um à sua própria maneira. Três dias não eram suficientes! O cientista teve de pensar em muitos experimentos e trabalhar neles. Quem sabe que tipo de exame seria? Assim, não pôde dormir por três dias, não havia tempo; além disso, teria toda a vida para dormir depois que fosse escolhido. Então, por que se preocupar em dormir? Ele não dormiu nem comeu nada -- não havia tempo o suficiente. Muitas coisas tinham de ser feitas antes do exame.

O filósofo começou a pensar; muitos problemas tinham de ser resolvidos: "Quem sabe que tipo de problema será apresentado?". Apenas o homem religioso continuou à vontade. Ele comeu e comeu bem. Apenas um homem religioso pode comer bem porque a comida é uma oferenda, é algo sagrado. Ele dormiu bem. Ele orava, sentava-se no jardim, passeava, olhava as árvores e era grato à Deus; porque, para um homem religioso, não existe nenhum futuro, nenhum exame final. Todo o momento é o exame final, então como preparar-se para ele? Se algo está no futuro você pode se preparar. Mas se algo está aqui, agora, como pode se preparar para isso? Você tem de enfrentar a situação. E não existe nenhum futuro.

Algumas vezes o cientista dizia: "O que você está fazendo? perdendo tempo -- comendo, dormindo, rezando. Você pode fazer suas preces depois." Mas o homem religioso ria e não respondia nada, ele não era um homem de argumentos.

O filósofo dizia: "Você fica dormindo, sentado lá fora no jardim, olhando para as árvores. Isso não irá ajudá-lo. O exame não é uma brincadeira infantil. Você tem de se preparar para ele." Então o religioso ria. Ele acreditava mais no riso do que na lógica.

Na manhã do quarto dia, a caminho do palácio para o exame final, o cientista não estava nem mesmo em condições de andar. Estava tão cansado por causa de seus experimentos que era como se toda a vida estivesse se esvaindo. Ele estava morto de cansaço, como se a qualquer momento pudesse cair e dormir. Seus olhos estavam sonolentos e sua mente pertubada. Estava quase louco!

E o filósofo? Não, não estava cansado, mas sentia-se mais incerto que nunca. Ele havia pensado, pensado; discutido, discutido; e nenhum argumento chegava a qualquer conclusão. Ele estava confuso, perturbado, num caos. No dia em que chegara poderia ter respondido a muitas questões, mas agora não. Até mesmo suas respostas certas tinham se tornado incertas. Quanto mais você pensa, mais a filosofia se torna inútil. Apenas os tolos podem acreditar em certezas. Quanto mais você pensa, mais inteligente fica, melhor vê que todos os pensamentos são apenas palavras, sem nenhuma substância. Muitas vezes ele quis voltar atrás porque isso não seria de nenhuma serventia. Ele não se sentia em boas condições. Mas o cientista lhe disse: "Venha! Vamos tentar! O que você irá perder? Se nós vencermos, tudo bem. Vamos tentar, não seja tão desanimado."

Apenas o homem religioso caminha feliz, cantando. Ele podia ouvir os passarinhos nas árvores, podia ver o sol surgindo, podia ver os raios do sol nas gotas de orvalho. A vida toda era um milagre! Ele não estava preocupado porque não haveria nenhum exame. Ele iria e encararia a situação. Iria simplesmente para ver o que ia acontecer. Ele não estava esperando por nada, não tinha expectativas; estava saudável, jovem, vivo -- e isso é tudo. Só desse modo é que uma pessoa pode se aproximar de Deus; não com fórmulas prontas, não com teorias prontas, não com montanhas de trabalhos de pesquisa experimental, não com títulos e títulos de doutoramento. Não, isso não auxilia. As pessoas devem ir para o templo assim: cantando e dançando.

Se você estiver alerta, poderá responder a qualquer coisa que vier, porque a resposta virá por meio da vida, virá por meio do coração e o coração está preparado quando você está cantando, quando você está dançando... quando você está celebrando.

E eles chegaram. O Rei havia arquitetado algo muito especial. Eles foram levados a uma sala onde havia sido montada uma fechadura, um enigma matemático. Havia muitas figuras na fechadura, mas não havia nenhuma chave. Aquelas figuras tinham de ser dispostas de um certo modo. O segredo estava nisso, mas a pessoa teria de procurar e encontrá-lo. Se aquelas figuras fossem dispostas de um determinado modo, a porta se abriria.

O Rei colocou-os dentro da sala e disse: "Este é um enigma matemático, um dos maiores já conhecidos. Agora vocês terão de encontrar o segredo. Não existe nenhuma chave. Se vocês puderem encontrar o segredo, a resposta para este quebra-cabeça matemático, a fechadura se abrirá. E o primeiro a sair desta sala será o escolhido. Agora, podem começar." Ele fechou a porta e foi-se embora.

Imediatamente o cientista começou a trabalhar sobre o papel: muitos experimentos, muitos cálculos, muitos problemas. Ele olhou, observou as figuras no cadeado. Não havia tempo a perder, era uma questão de vida ou morte. O filósofo fechou seus olhos e começou a pensar em termos matemáticos sobre o que fazer, como decifrar o enigma. O enigma era totalmente novo.

Este é o problema: com a mente, se algo é velho, a resposta pode ser encontrada; mas se algo é absolutamente novo, como resolvê-lo por meio da mente? A mente é muito eficiente com o velho, com o conhecido, com o rotineiro, mas é totalmente incapaz diante do desconhecido.

O homem religioso nem se aproximou da fechadura. Que poderia ele fazer? Ele não sabia matemática, não conhceia nenhuma ciência experimental. O que poderia fazer? Ele apenas se sentou num canto. Cantou um pouco, orou a Deus, fechou seus olhos. Os outros dois pensaram: "Ele não é um concorrente. De certo modo, isso é até bom porque a escolha terá de ser decidida entre nós dois." Então, de repente os dois perceberam que ele havia deixado a sala. Ele não estava lá. A porta estava aberta!

O rei veio e disse: "O que vocês estão esperando! acabou! o terceiro homem já saiu!"

Mas eles perguntaram: "Como? Mas ele não fez nada!"

Então quiseram saber do homem religioso: "Como?"

Ele disse: "Eu estava apenas sentado. Comecei a rezar e então um voz interior me disse: 'Que tolo! Vá até lá e olhe. A porta não está fechada.' Então fui até a porta. Ela não estava fechada. Não havia nenhum problema para ser resolvido. Então eu saí."

(...) A vida não é um problema. Se você estiver tentando resolvê-la, não a compreenderá. A porta está aberta, nunca esteve fechada. Não há como tentar destrancá-la; e por ela já estar aberta, ela não pode ser aberta. Se a porta estivesse fechada, os cientistas encontrariam a solução; se houvesse algo para ser decifrado/solucionado, a ciência o faria mais dia, menos dia... seria apenas uma questão de tempo. Se a porta estivesse fechada, os filósofos encontrariam um sistema pelo qual ela pudesse ser aberta. Mas a porta não está fechada. Assim, só a fé pode abrí-la -- sem qualquer solução, sem qualquer resposta pré-fabricada. A vida não é um enigma para ser resolvido, é um mistério para ser vivido. É um profundo mistério confiar e permitir a si mesmo a entrada. Nem mesmo um passo... Empurre a porta e saia.


APENAS UM PASSO!


"Osho,
Apenas um passo!"





“Digambara,

Sim, na verdade nem mesmo um… Porque nós não vamos a lugar algum. Nós já estamos em Deus! Eu digo ‘apenas um passo’ só para consolá-lo, porque se não houver passo para dar você vai ficar confuso. Então eu reduzi ao mínimo - apenas um passo - de modo que alguma coisa permanecesse para você fazer, pois você só entende a linguagem do fazer. Você é um fazedor! Se eu disser, ‘Nada precisa ser feito, nem mesmo um simples passo tem que ser dado’, você se sentirá perdido num jogo de cara ou coroa.

A verdade é que nem mesmo um simples passo é necessário. Sentado silenciosamente, nada fazendo, a primavera chega e a grama cresce por si mesma. Mas isto pode não ser simples. A sua mente fazedora pode simplesmente ignorar isto ou pode pensar que tudo isto é tolice. Como você pode alcançar Deus sem fazer coisa alguma? Sim, um atalho a mente pode entender; é por isto que eu digo ‘um simples passo’. Isto é o mais curto, não pode ser reduzido a menos que isto.

Um simples passo! Isto é apenas para que você compreenda que o fazer é não-essencial. Para se alcançar o ser, o fazer é absolutamente não-essencial. Quando você concordar e se convencer de que apenas um passo é necessário, eu irei sussurar em seu ouvido, ‘Nem mesmo um – você já está lá!’

Rabiya, uma grande mística Sufi, estava passando. Ela costumava passar naquela rua todos os dias quando ia para o mercado onde anunciava em alta voz a verdade que ela havia alcançado. E por muitos dias ela esteve observando um místico muito conhecido, Hasan, que se sentava do lado de fora da mesquita e rezava, ‘Deus, abra a porta! Por favor, abra a porta! Deixe-me entrar!’

Mas, naquele dia, Rabiya não conseguiu tolerar aquilo. Hasan estava chorando, as lágrimas estavam rolando, e ele gritava repetidas vezes, ‘Abra as portas! Deixe-me entrar! Por que você não me escuta? Por que você não atende às minhas preces?’

Todos os dias ela ria; sempre que ela ouvia Hasan, ela ria. Mas, hoje, aquilo estava demais. As lágrimas... E Hasan estava chorando de verdade, um choro que vinha de seu coração. Ela foi até ele, sacudiu-o e disse, ‘Pare com toda esta tolice! A porta está aberta – na verdade você já está dentro!’

Hasan olhou para Rabiya e aquele foi um momento de revelação. Ao olhar dentro dos olhos de Rabiya, ele se curvou e tocou-lhe os pés, dizendo, ‘Você chegou na hora certa, senão eu iria continuar pedindo por toda a minha vida! Por anos eu tenho feito isto. Onde você estava antes? Eu sei que você passa por esta rua todos os dias. Você já devia ter visto o meu choro e minha prece.’

Rabiya disse, ‘Sim, mas a verdade somente pode ser dita no momento certo, no espaço certo, no contexto certo. Eu estava esperando pelo momento certo e maduro. Se eu lhe tivesse dito ontem, você teria ficado irritado, teria ficado com raiva. Você poderia ter reagido antagonicamente; você poderia me responder, ‘Você perturbou a minha prece!’ E não é correto perturbar a prece de ninguém. Mesmo a um rei não é permitido perturbar a prece de um mendigo. Mesmo se um criminoso, um assassino, estiver orando, nos paises muçulmanos, a polícia tem que esperar até que ele termine a prece. Somente depois ele pode ser preso. A prece não deve ser perturbada.

Rabiya disse, ‘Eu queria lhe dizer para deixar de ser tolo, que a porta está aberta, e que, na verdade, você já está dentro! Mas eu tive que esperar pelo momento certo.’

Digambara, eu digo ‘apenas um passo’ e mesmo isto parece ser inacreditável para você, daí o seu questionamento.

Você diz: "Osho, apenas um passo! "

Nem mesmo um, Digambara. Mas o momento certo ainda não chegou, pelo menos para você. Quando ele chegar, eu irei sussurrar em seus ouvidos, ‘Você já está dentro. Nem mesmo um simples passo é necessário’ porque nós não estamos indo para fora. Os passos são necessários para ir para o lado de fora. Eles não são necessários para ir para dentro.

É como um homem sonhando e no seu sonho ele vai para muito longe. E ele terá uma grande jornada para voltar para casa. Ele está em sua casa, dormindo, mas em seu sonho ele pode estar em Timbuctoo. É preciso apenas sacudi-lo.

Assim como Rabiya sacudiu Hasan, um dia eu irei sacudi-lo Digambara. É preciso apenas lhe jogar uma água fria, uma água gelada, e com o choque você vai abrir os olhos. Você acha que irá me perguntar, ‘Como eu volto para casa, pois estou em Timbuctoo?’ Não, você não irá perguntar, pois você vai poder ver que já está em casa, que você apenas estava dormindo e tinha sonhado com Timbuctoo. Você nunca foi lá.

Você nunca esteve fora de Deus! Você não consegue, é impossível, porque somente Deus existe. Para onde nós podemos ir? Não existe lugar onde Deus não esteja. Nós estamos sempre nele e ele está sempre em nós. Mas isto precisa de um despertar.

Nem mesmo um passo. Isto é apenas para trazê-lo mais próximo da verdade. Aos poucos você tem que ser persuadido. Mil passos são reduzidos para um passo e depois eu tirarei também aquele passo de você. Mas para isto é preciso um momento certo. A Verdade última somente pode ser dita numa situação certa e madura.

E esse momento também chegará. Simplesmente esteja pronto para recebê-lo e acolhê-lo...” (OSHO - The Book of the Books - Volume I - Discourse n. 6 – pergunta n° 6)


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*Palestras sobre O Dhammapada, de Gautama, o Buda -- tradução: Sw.Bodhi Champak

domingo, maio 13, 2007

O MANÁ ESCONDIDO (Joel S. Goldsmith)

Joel S. Goldsmith


Nova dimensão nos pertence: não mais buscamos o mundo, mas habitamos o centro de nosso próprio ser, onde contemplamos a glória de Deus e aguardamos que o mundo venha a nós.

“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido.”(Apocalipse 2:17)

“Quem tem ouvidos”—aquele que tem ouvidos espirituais, que consegue ouvir o inaudível — permita-lhe que ouça. Permita-lhe ouvir o que diz o Espírito, não o que eu digo, não o que diz o livro, não o que você gostaria de dizer, mas o que diz o Espírito: “Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido”.

Toda a mensagem de O CAMINHO INFINITO se resume na expressão “maná escondido”. Maná escondido! Como isto é parecido com a frase de Jesus: “A minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá” – não saúde física ou riqueza material, um lar, um automóvel, não algo dado pelo mundo, mas a Minha paz! A Minha paz é algo que o mundo não reconheceria, mesmo estando cara a cara com ela; tampouco a perceberia, mesmo estando a experienciá-la. Minha paz! A paz que é sentida não por estar o corpo saudável, ou a carteira cheia de dinheiro; não por estar o lar feliz, próspero e jubiloso. Não, não, não! A Minha paz é uma paz sentida interiormente, alheia às condições externas, mas que acaba fazendo com que todas estas últimas se alterem.

Eis o mistério escondido. A paz, aquela que o mundo lhe dá, chega a você pelas circunstâncias e condições externas. Se dispuser de mais saúde ou riqueza, de uma casa mais ampla, de férias prolongadas, isso tudo poderá lhe sugerir um estado de paz que será temporário. O bem vindo de fora, e que hoje você desfruta, talvez amanhã venha a ser-lhe tomado. Mas a Minha paz é diferente. A Minha paz é uma atividade de recebimento e de fluxo que se dá em seu próprio âmago; assim, jamais depende de algo: é autogerada e autossustida. A Minha paz aflora de um manancial oculto internamente, trazendo com ela o bem que jamais o abandonará.

Em outras palavras, a paz conscientizada interiormente sempre estabelecerá a harmonia de seu mundo exterior. Este é o “maná escondido”; este é o alimento citado por Cristo, quando disse: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”. Este é o alimento oculto, o alimento espiritual. Quando ele disse: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”, referia-se àquele pão espiritual, àquela substância e suprimento espirituais—não a alimentos ou circunstâncias exteriores.

O mundo está em busca de paz, harmonia, integridade e satisfação: mas, está buscando onde julga ser capaz de conseguir, ou seja, externamente, no mundo lá fora. Existe a possibilidade de se desfrutar paz, prosperidade e satisfação vindas de fora, enquanto durar aquela condição específica; entretanto, a satisfação obtida externamente geralmente é perdida, e a pessoa acaba quase sempre indo à cata de “brinquedos novos”.

A vida se transforma totalmente, tão logo você assimile firmemente a grandiosa Verdade de que “a palavra que sai da boca de Deus” é a substância da vida, e passar a compreender o sentido profundo das seguintes passagens da Bíblia:


- "Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis." (João 4:32)

- "Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva." (João 4:10.14.)

- "Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido." (Apocalipse 2:17.)


Tão logo passe a observar que o que é exterior e palpável é mero produto do que é invisível, você deixará de avaliar seu suprimento em função de quantas maçãs, pêssegos ou moedas é possuidor, mas sim em função de quantos contatos com Deus foram feitos.

Todo bem que porventura lhe surgir na vida será conseqüência da atividade da Verdade em sua consciência. Em outras palavras, se a sua consciência de amanhã for idêntica à de hoje, não fique na expectativa de que surgirão amanhã frutos diferentes daqueles que você possui hoje. Para o amanhã lhe trazer uma condição renovada é preciso que hoje, em sua consciência, alguma atividade diferente esteja acontecendo. Se pretende colher frutos espirituais em sua vida, terá de “deixar suas redes”, eliminando de si mesmo quaisquer galhos que o estejam prendendo àqueles já mortos. Você não entrará na presença de Deus levando junto os seus fardos. Não irá a Ele levando algum desejo de que Deus faça, seja, ou consiga alguma coisa para você... mas terá de purificar todos os seus anseios humanos, pela conscientização da Graça divina. Deverá abrir mão do passado e do futuro; deverá abandonar todo o desejo por alguma pessoa, lugar, coisa, circunstância ou condição, abandonar inclusive a espera pelo paraíso.

A presença de Deus está em seu interior, e precisa ser percebida conscientemente; mas, esta conscientização somente se realizará para aquele que estiver buscando Deus com este objetivo exclusivo e único: a busca de Deus em Si. Todo aquele que vinha buscando a Deus e perdeu o rumo, perdeu-o por ter buscado a Deus por algum outro motivo: por uma cura, por suprimento, por um lar, por felicidade, ou por outra coisa qualquer. Deus não pode ser alcançado dessa maneira. Deus pode ser alcançado somente de um modo: pela completa renúncia a tudo, excetuando o desejo único de se abrir à “Graça que é a sua suficiência”. Pense no que representa ter a Graça divina. Pense no que representa ter a paz do Cristo, a Minha paz que o Cristo lhe pode dar; não a paz do mundo, não a saúde ou o dinheiro, não a posição, lugar ou poder: unicamente a paz espiritual. Pense no significado de você somente desejar a Minha paz, a paz do Cristo, sem o mínimo pensamento sobre o que ela irá fazer ou conseguir para você!

Isto somente lhe ocorrerá à medida que conscientizar esta paz no interior de sua própria consciência. Abra mão de tudo, dizendo: “Não quero viver de pão, somente, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Assim, logo em seguida ocorrerá o “milagre”.

Ao se despojar das dependências materiais e humanas, palavras como “você”, “ele” ou “ela” tenderão a diminuir e quase sumir de seu vocabulário. Não ficará pensando mais com tanta freqüência sobre um “você”, um “ele” ou “ela” de quem, até então, vinha esperando tanto. A cada necessidade que surgir em sua vida, seu primeiro pensamento será voltar-se ao Cristo. Do Cristo, e através do Cristo, todo bem lhe haverá de chegar: não por algum “você”, “ele” ou “ela”, mas única e exclusivamente pelo Cristo.

É bem verdade que o Cristo aparecerá na forma de algum veículo humano. Talvez ocorra de seu bem lhe chegar através de mim, ou de meu bem me chegar através de você; entretanto, nem ele virá de você para mim, nem ele irá de mim para você. Jamais eu iria esperá-lo de você, nem você esperá-lo de mim. Eu contaria somente com o Cristo de meu próprio ser, e este Cristo apareceria como você. Por sua vez, também você iria esperar a mensagem da Verdade somente do Cristo de seu próprio ser, que poderia, hoje, estar-lhe vindo pela minha pessoa, e, amanhã, por alguma outra; mas, nesta ou naquela condição, continuaria sempre sendo o Cristo de seu próprio ser, revelando-Se a você.

Quanto menos personalizar seu bem e os canais pelos quais ele lhe chega, permitindo o aparecimento do Cristo na forma que se lhe fizer necessária a cada momento, mais comprovará esse mecanismo em sua vida. Tão logo passar a conscientizar o Cristo como a origem e a fonte de seu bem, contemplando-O continuamente, assim Ele Se manifestará.

Talvez, em algum momento, você fosse levado a pensar: “Será que mereço este bem? Serei digno dele? Terei a compreensão necessária para recebê-lo? Terei tempo necessário para estudar, ler e orar o necessário para obtê-lo?” Gostaria que soubesse o seguinte: o seu bem não depende de coisa alguma que você pudesse estar a fazer: ele é a pura atividade do Cristo em sua consciência, ao qual você se mantém aberto.

Nada pode paralisar a mão de Deus, nem mesmo seus supostos pecados de omissão ou comissão. Nada que faça ou que tenha deixado de fazer irá barrar o fluir divino. Este fluxo independe da quantidade de leitura espiritual que tenha feito, de idas à igreja, ou de estudo e meditação. Estes são apenas fatores auxiliares na abertura de sua consciência. E este é o único objetivo de todos eles. Deus não está jamais esperando sentado, até você se tornar bondoso ou espiritualizado, ou até terminar de ler centenas de páginas sobre a Verdade, ou meditar por determinado número de horas.

O Cristo é a realidade de seu ser agora. Ele está à espera, mas é você que deverá deixá-Lo entrar: primeiramente, exterminando a crença de que Ele seja algo externo ao seu ser; em segundo lugar, permitindo o Seu fluir, através da sua conscientização de sua onipresença.

Se você acreditar, por um segundo que seja, que seu bem depende de algo que possa humanamente fazer ou deixar de fazer, estará se excluindo do fluxo divino. Deus em Si está fluindo infinitamente, e a única barreira à totalidade de Sua expressão é proporcional à sua crença de que o bem divino é dependente daquilo que você faz ou deixa de fazer. Qualquer que seja a atividade espiritual de que faça parte, saiba que o objetivo dela não é o de receber o bem de Deus, mas o de ensiná-lo como abrir sua consciência ao Seu influxo.

Jamais creia que possa provocar ou impedir o fluir divino. Ele já está pleno e completo no interior de seu próprio ser, aguardando seu reconhecimento de sua plenitude no Cristo. Embora escarlates possam ser seus pecados, você é alvo como a neve. Apenas não recaia, não volte a pecar: não retorne à crença de um senso separatista de Deus, Não volte a buscar seu bem no exterior, pois, uma vez aprendido que o reino de Deus está em seu interior, e que deve permitir seu fluir de dentro para fora, se retornar à tentativa de novamente buscá-lo no exterior, isto lhe causará uma sensação de separatividade mais profunda ainda, nunca antes sentida. Não faça isso! Não retroceda! “Vai-te, e não peques mais.” Não retroceda para não se prejudicar, caso alguém não esteja agindo conforme sua expectativa, isto é, perdoando-o, dando-lhe cooperação ou reconhecendo as suas virtudes. Não retroceda àquilo! Solte-o! Conceda-lhe perdão! Deixe-o ir! Você está a sós com seu Deus. Você está a sós em seu Ser-divino.

Há períodos em que você se vê diante de alguma aparência de conflito, desarmonia, dor, escassez ou limitação: em tais casos, costuma ser tentado a fazer esforços mentais, empenhando-se em vigorosas mentalizações, afirmações e negações, na esperança de achar harmonia e paz. Inverta agora esse mecanismo! Sempre que surgir alguma aparência de discórdia, relaxe. Não faça o mínimo esforço mental! Lembre-se: o seu bem não lhe virá “pela força ou pelo poder, mas pelo suave Espírito”. O seu bem não lhe virá pelas suas lutas e esforços mentais, mas sim das profundezas do seu ser, na quietude, no silêncio e na confiança.

Você não tentará obter uma cura. Irá aquietar-se e deixar que venha a “pequenina voz suave”. Deixará que o Espírito desça sobre você. Fique descansado, exatamente agora, em meio a qualquer doença, carência, discórdia ou desarmonia que porventura o estiver perturbando. Repouse! Relaxe!

“Minha Graça é a tua suficiência... Eu nunca o deixarei nem o abandonarei.” Para que lutar como se necessitasse de se agarrar a Mim? Como se tivesse de buscar-Me? Ou de procurar-Me? Eu estou em seu próprio íntimo, “mais próximo que seu fôlego, mais perto que suas mãos e pés.”

Se você sabe dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais Eu, seu Pai celestial, não saberei fazê-lo? Não se esforce para consegui-las. Eu as darei a você.Eu lhe darei água. Não desça balde em poços à procura dela. Eu lhe darei água. Quanto a você, fique quieto, deixe que Eu o alimente... deixe que Eu sacie sua sede. Deixe que Eu, em seu âmago, seja a influência curadora. O Cristo curador.

Não tente fazer de sua mente ou pensamentos o Cristo curador. “Os meus pensamentos não são os teus pensamentos, nem os meus caminhos são os teus caminhos.” Por que não abre mão de seus pensamentos nem deixa de lado os seus caminhos? Deixe que os Meus pensamentos assumam o comando. Permaneça repousado dando ouvidos a Mim. – a pequenina Voz suave do centro de seu ser. Eu nunca o deixarei nem o abandonarei. Mesmo “no vale da sombra da morte”, Eu ali estarei. Você jamais conhecerá a morte; jamais morrerá. Por quê? Porque Eu lhe darei água viva que salta para a Vida eterna.

Assim, se permanecer ouvindo a Minha Voz suave, se em Meus braços eternos relaxar, se em Mim repousar, se deixar que Eu o alimente, mantenha e sustente cada palavra que de Minha boca proceder, jamais você morrerá.

Eu nunca conheci um justo a mendigar pão. Que é um justo? Aquele que repousa em unidade comigo. Relaxe, pois, na contemplação do Meu amor, de Minha presença. O Meu espírito está junto a você; a Minha presença segue à sua frente.

“Na casa do Pai há muitas moradas; vou preparar-vos lugar.” Por certo que vou. Sendo assim, deixe de se preocupar. Pare, pare, pare de temer; pare de duvidar. Pare de tanto insistir com declarações, afirmações e negações. Deixe ir tudo! Repouse em Mim, repouse em Meus braços. Eu, seu Pai celestial, sei que necessita destas coisas, e é do Meu agrado a você concedê-las—não querendo que você se esforce por elas; não querendo que dê “tratamentos espirituais” para consegui-las; mas, é do Meu agrado a você concedê-las, pela Graça. Não pela força, não pelo poder, mas por Meu Espírito. Tudo lhe é possível realizar através de Mim, o Cristo de seu próprio ser.

Deixe que o Cristo seja o canal pelo qual você é alimentado, vestido, abrigado, confortado, protegido, curado, sustentado e mantido. Sempre que surgir em seu horizonte alguma aparência de discórdia, relaxe mais, repouse mais, permaneça ainda mais em paz, certo da presença divina em seu interior. Confie em seu Eu, confie no Cristo do centro de seu próprio ser.

Creia na existência de uma Presença cuja função única é abençoá-lo, bendizê-lo e ser instrumento da Graça de Deus. Confie nEla. “Não deposite sua confiança em príncipes”—creia somente em Deus. Não viva mais de pão, ao menos não somente de pão, mas de toda palavra, de cada promessa bíblica, que deverá ser cumprida em você. “Para onde tu fores, irei também eu” ... Eu darei ao vencedor o maná escondido.”

Este “maná” está escondido dentro de você. O mundo não consegue vê-lo; o senso comum não consegue conhecê-lo; os seres humanos não conseguem compreendê-lo. Ele está escondido do mundo. Escondido onde? Nas profundezas de seu próprio ser!


Retire sua atenção de homens e mulheres do mundo. Retire sua fé e dependência a pessoas do mundo, das circunstâncias e condições do mundo; e, em sua lembrança, fique somente com este conhecimento: profundamente, em seu interior, existe alimento que o mundo desconhece; há mananciais de água e maná escondidos, tudo já incorporado interiormente ao seu próprio ser.

domingo, abril 08, 2007

Hsin-Hsin-Ming

Agora vou deixar aqui um texto muito antigo e preciosíssimo, decorrente da sabedoria Zen. 'Hsin-hsin-ming' é um texto antigo, escrito na China antiga, quando o Zen ainda era chamado 'Chan" (A palavra japonesa "Zen" é uma adaptação da palavra chinesa "Chan"). Ele é uma das mais fortes demonstrações da ligação do Pensamento Zen com a filosofia Taoísta.

O termo "Hsin" significa coração, mas o seu sentido é o de Mente -- uma mente pura, essencial e profunda... que nada tem a ver com o intelecto. É uma sabedoria que é transmitida diretamente ao coração. A compreensão dessa sabedoria não decorre das limitações do intelecto, mas transcende a ele. Hsin-hsin-ming é uma revelação que brota espontaneamente do interior de toda vida... diretamente de Deus.



Hsin-hsin-ming (Canção do Coração)

"Não é difícil descobrir tua Mente Búdica.
Simplemesnte deixe de procurá-la.
Deixe de aceitar e rejeitar possíveis lugares
Onde pensas que ela possa estar.
E ela aparecerá diante de ti.

Cuidado! O menor sinal de preferência
Abrirá um abismo largo e profundo como o espaço entre o céu e a terra.

Se queres encontrar tua Mente Búdica
Não tenha opiniões sobre nada.
Opiniões produzem argumento
E a disputa é uma doença da mente.

Submerge nas profundezas.
A quietude é profunda. Não há nada profundo em águas razas.
A Mente Búdica é perfeita e engloba o universo.
Não tem carência de nada e nada tem em excesso.
Se pensas que podes escolher entre as suas partes,
Perderás de vista a sua verdadeira essência.

Não te apegues às aparências, às coisas opostas,
às coisas que existem como relativas.
Aceite-as com imparcialidade...
E não terás que perder tempo com escolhas sem sentido.

Os julgamentos e discriminações bloqueiam o fluxo e trazem as paixões.
Irritam a mente, que precisa de quietude e paz.
Se vais de encontro de isto a aquilo,
ou a quaisquer dos inumeráveis opostos,
Perderás de vista o todo, o Uno.
Seguindo um oposto estarás te extraviando,
para longe do centro de equilíbrio.
Como esperas alcançar o Uno?

Decidir o que é, é determinar o que não é.
Mas determinar o que não é pode te ocupar tanto,
que acaba se convertendo no que é.
Quanto mais falas e pensas, mais longe te encontras.
Deixa de falar e de pensar, e o encontrarás em todas as partes.

Se deixares todas as coisas voltarem à sua origem, está bem.
Mas se tu páras para pensar que esta é tua meta
E que é disto de que o teu sucesso depende,
E lutas e lutas, ao invés de simplesmente deixar ir,
Tu te perdes no Caminho, e não estarás praticando Zen.
No momento em que começas a discriminar e a preferir perdes o Caminho.
Buscar o real também é um falso ponto de vista
que deveria ser IGUALMENTE abandonado.
DEIXA PASSAR! Deixa de buscar e de escolher.
As decisões dão lugar às confusões,
e aonde pode chegar uma mente confusa?

Todos os pares de opostos vêm da Única Grande Mente Búdica.
Aceita os opostos com dócil resignação.
A Mente Búdica permanece calma e quieta,
Mantenha sua mente nela e nada poderá te perturbar.
O inofensivo e o danoso deixam de existir.
Os sujeitos, quando liberados de seus objetos, desaparecem
Tão certamente quanto os objetos,quando liberados de seus sujeitos, desaparecem também.
Cada um depende da existência do outro.
Entenda esta dualidade e verás que ambos provêm do Vazio do Absoluto.

A base de todo Ser contém os opostos.
Todas as coisas se originam do Uno.
Que perda de tempo escolher entre grosso e fino.
Já que a Grande Mente faz nascer todas as coisas,
Abrace-as todas e deixe morrer teus preconceitos.

Para realizar a Grande Mente não sejas vacilante nem ansioso.
Se tentar pegá-la, agarrarás o ar e cairás no caminho dos heréticos.
Onde está o Grande Tao?
Podes simplesmente deixar de querer possuí-lo?
E podes deixá-lo LIVRE e apenas confiar nEle?
Ele permanecerá ou se irá?
Ele está em toda a parte esperando por você...
Para unir a tua natureza com a Dele
E, assim, tu possas ficar livre de problemas, como Ele é.

Não canse tua mente te preocupando em saber o que é real e o que não é,
Sobre o que aceitar ou o que rejeitar.
Se queres conhecer o Uno,
deixe teus sentidos experimentarem o que vier.
Mas não seja influenciado e nem te envolvas no que vier.
O sábio age sem emoção e parece nem estar agindo.
O ignorante permite que suas emoções o envolvam.
O sábio compreende que todas as coisas são parte do Uno.
O ignorante vê diferencas em toda parte.

Todas as coisas são iguais em sua essência.
Assim, apegar-se a algumas e abandonar outras é viver no engano.
A mente não é juiz equânime de si mesma.
Tem preconceitos a favor ou contra si mesma.
E não pode ver nada objetivamente.

Bodhi (a Essência) está além de toda noção de bem e mal,
além dos pares de opostos.
Os devaneios são ilusões e as flores nunca florecem no céu.
São invenções da imaginação e não merecem ser considerados.
Ganho e perda, certo e errado, grosso e fino.
Deixa todos irem! Permanece atento.
Mantém abertos teus olhos.
Teus devaneios desaparecerão.
Se não fizeres julgamentos,
tudo será exatamente como deve ser.

Profunda é a sabedoria do Tathagata, Excelsa e além de todas as ilusões.
Este é o Uno a que todas as coisas retornam
desde que tu não as separe,
Mantendo algumas e afastando outras.
De qualquer modo, onde as deixaria?
Todas estão dentro do Uno. Não há fora.

O Supremo não tem modelo, dualidade, e nunca é parcial.
Confia nisto. Mantém viva a tua fé.
Quando abandonas todas as distinções nada sobra,
Exceto a Mente que é agora pura... que irradia sabedoria,e nunca se cansa.

Quando a Mente abandona as discriminações,
Os pensamentos e os sentimentos não podem sondar suas profundezas.
O estado é absoluto e livre. Não há nem eu, nem o outro.
Apenas te darás conta de que és parte do Uno.
Tudo está dentro e nada está fora.

Os sábios do mundo todo compreendem isto.
Este conhecimento está além do tempo, seja longo ou curto,
Este conhecimento é eterno. Nem é, e nem não o é.
O todo é aqui.
E o menor é igual ao maior.
O espaço nada pode confinar.
O maior é igual ao menor.
Não há limites, nem dentro nem fora.
O que é e o que não é são a mesma coisa,
Porque o que NÃO É é igual ao que É.
Se não despertares para esta verdade, não se preocupe.
Apenas creia que tua Mente Búdica não é dividida,
Que ela aceita tudo sem julgamento.
Não preste atenção a palavras, discursos, ou métodos bonitos.
O eterno não tem presente, passado ou futuro."

domingo, março 18, 2007

Por que palavras?

Um monge aproximou-se de seu mestre - que se encontrava em meditação no pátio do Templo à luz da lua - com uma grande dúvida:
"Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os Sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o Dharma está além dos termos, porque os termos são usados para defini-lo?"
O velho sábio respondeu: "As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta."
O monge replicou: "Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?"
"Poderia," confirmou o mestre, "e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a lua por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. O Dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio."
"Então," o monge perguntou, "por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?"
"Porque," completou o sábio, "da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na Verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário."
O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.

sábado, fevereiro 24, 2007

O que esta existência está fazendo aqui?

A Vida está, neste exato momento, bem aqui. É um triste infortúnio que ninguém esteja dando à ela a sua atenção. Isso é algo realmente triste. A vida nos fala tantas coisas, ela nos diz tantas coisas, que isso por si só já basta para fazer o homem alegrar-se com a sua existência e com a existência das demais coisas. Não importa o que seja: qualquer coisa que possa estar existindo, nesse exato momento, para alguém é o suficiente para que o homem regozije desta dádiva. Tudo é uma bênção, tudo é uma dádiva... tudo é um verdadeiro milagre.

O homem pode viver de maneira leve, aliviado de todas as pressões e preocupações das quais sua mente se ocupa habitualmente. Carregar estes fardos, além de ser muito desnecessário (e a maioria das pessoas não têm consciência disto), é deixar que o sentido da vida se perca e, assim, a vida se torna insuportável para qualquer um. Daí tantas pessoas miseráveis nesse mundo; é por isso que há tanta gente sofrendo e passando por problemas... Mesmo que muitas pessoas não aparentem sofrer ou terem problemas, por dentro elas estão sendo corroídas por uma série de sentimentos feios, mas elas usam máscaras e, assim, conseguem manter suas aparências para os outros. Todos querem passar ao próximo uma impressão de que tudo está perfeito, de que tudo em suas vida saiu conforme o planejado, de que são pessoas de sucesso. Assim, essas pessoas sentem que têm algo do qual possa se orgulhar. É uma maneira de se sentirem importantes... é uma forma que o ego tem de se afirmar. Eles, na verdade, só conhecem a frustração. Essa é a vida que todo o mundo está vivendo.

Mas mesmo isso pode se tornar algo belíssimo. Todas as experiências -- quais quer que elas sejam -- podem se tornar muito bonitas, agradáveis e gratificantes de serem vividas para quem tem olhos para olhar para a vida, para esta existência... esse é o alívio.

Olhe com atenção para as coisas! Pergunte-se por um momento: "O que é que toda esta existência está fazendo aqui?". Quando perguntar, tente colocar um pouco os conceitos e preconceitos de lado. Deixe sua religião de lado. Deixe, até mesmo, a questão de Deus um pouco de lado. Tente ver a relação que a existência possui diretamente com você. Não coloque conceitos, filosofias entre vocês... nem mesmo Deus. Apenas por um instante... Com certeza Deus não verá isto como um pecado seu. Ele não é assim tão mesquinho. Não é pecado o homem querer sondar sua própria existência. Deus não condenaria ninguém por conta disto.

Quando for perguntar, olhe para a existência de forma completa -- percebendo tudo o quanto puder -- e então "O que toda essa existência, inclusive eu, está fazendo aqui?" Veja que tudo isto não tem obrigação alguma de existir; e o mais impressionante de tudo é que todas estas coisas existem e permanecem existindo... Que milagre!!!

Olhe bem para a pergunta e procure separar bem toda a existência que você consegue perceber do "aqui" a que a pergunta se refere. Se você conseguir fazer isso, então vai perceber que esse "aqui" não é um lugar localizado no espaço... ele é um "aqui" transcendental. O segredo dessa pergunta está na palavra "aqui". Separe o "aqui" da existência que você questiona. E você terá a resposta; e você perceberá como, de repente, tudo vai parecer ficar mais leve. Quando ficar mais leve, você entenderá que sempre esteve carregando um fardo desnecessário com você, mas nunca percebeu porque você não conhecia a outra experiência -- você só pode perceber o fardo que carrega quando ele é retirado de você... somente por contraste isso é possível. Assim, por um instante, você vai tirar toneladas de cima de você... e o resto da experiência você confere por si mesmo. É desta forma que tudo se torna uma dádiva; é desta forma que tudo passa a ficar belo, de forma que a vida pode passar a ser deliciosamente desfrutada.

É que a existência é algo tão evidente, que ninguém mais dá atenção à ela. É incrível como as coisas mais óbvias são as que mais perdem sua importância. Isto está errado. A vida está aqui e é tremendamente bela... veja!

Jogar fora o fardo que se carrega não é nenhum pouco complexo. Colocá-lo de lado significa parar de querer estar no controle da situação. Veja: se você analisou bem a pergunta, você compreenderá que a vida existe independente de suas vontades, de seus esforços... ela segue sozinha. E você está tentando carregá-la, você não permite que ela seja livre e ande por conta própria. Esse é o fardo que torna a vida de tantas pessoas uma verdadeira miséria. A existência não depende de você para existir (um dia você morrerá, não estará mais aqui, e a existência vai continuar prosseguindo), e você segue agindo como se ela dependesse... querendo forçá-la, manipulá-la. Você não confia em ninguém que não seja em você -- nem mesmo em Deus; você não abre o seu coração e, assim, nada novo pode entrar em você. A existência é que carrega você, e você está tentando carregá-la... está querendo inverter a ordem das coisas. Vai sofrer, portanto, pois ela é algo muito maior do que você: por isto ela o está carregando nela. Querer inverter a ordem das coisas, sem pagar um preço por isto, é querer demais. Mas é apenas uma questão de escolha. Permita o acontecimento das coisas. Você não precisa se preocupar com o que vai acontecer quando você abandoná-la, quando você jogar tudo para o alto. Você não precisa se preocupar quem vai segurá-la para você, depois que tiver largado dela. O dono dela fará isso -- seja lá quem for ele.

Se você é o dono de um objeto muito importante para você, e este objeto está com um conhecido seu, então ele estará carregando para você. Mas seu conhecido também é tão importante para você quanto o seu objeto que ele está carregando. Será que você irá lá, sem-mais-nem-menos, e simplesmente tomará o objeto de volta para você? Ambos são muito importantes para você... você não poderá interferir. Mas, no momento em que seu conhecido decide largar o objeto e o joga para o alto... quem irá pegá-lo, agora, a não ser você, o dono? Você o pegará de volta, com certeza. Você é o dono!

E assim acontece quando se decide/escolhe jogar o fardo de querer carregar a existência para o alto. O dono dela vai pegá-la... e vai carregá-la consigo. Então não há nada com o que se preocupar.

Querer estar no controle das coisas é o fardo que todo mundo está carregando. Isto não significa que, quando você deixar a vida prosseguir sozinha, agirá como um animal irracional ou fará coisas sem sentido. A questão toda consiste em observar a vida com consciência e isso também pode ser feito enquanto você toma decisões, enquanto você raciocina. Não é que você será jogado nas mãos do destino, pois você permanecerá fazendo as escolhas que sempre fez -- a vida é feita de escolhas. O fato é que, quando você conseguir realmente realizar a entrega, até mesmo nas questões que você decidir, a visão de que tudo anda sozinho estará presente. Você será um observador em se tratando de qualquer coisa. Assim, toda a questão aponta para este "algo" Transcendental.

Não é preciso ter medo. Páre de arranjar desculpas para ter medo. A mente humana é esperta e é fácil conseguir arranjar desculpas para justificar o medo de abandonar o suposto poder, que ela acha que tem. É preciso confiança... é preciso coragem. A coragem é necessária para fazer a entrega; e a confiança também é necessária na entrega, para confiar que o dono da vida passará a carregar e cuidar das coisas que você tinha tanto medo de abandonar. Coragem e confiança devem andar juntas.

Assim, pare de se preocupar com as coisas. A existência segue sozinha. Não tente carregá-la. Não seja tão egoísta; pare de confiar somente em si mesmo, e em mais ninguém. Isso é doentio; isso é uma neurose; isso faz você e os outros sofrerem. "Confiança apenas em si mesmo, e dúvida quanto a tudo o mais" é o próprio conceito de egoísmo/ego.

Por que você a está carregando? Está pensando que será muito peso para Deus, para a existência? Não se preocupe. Tudo está acontecendo. Deixe Deus tomar conta de tudo. Permita que as coisas aconteçam... entregue-se... aceite... e ame! Viva a vida.


sexta-feira, fevereiro 09, 2007

A GOTA E O OCEANO

Este texto foi retirado do livro de Thomas Merton, e transmite com muita lucidez informações claras e preciosas à respeito da filosofia Zen. É interessante como o escritor compara o Zen às principais religiões de hoje e vai , ao mesmo tempo, relacionando a temática espiritual com fatos históricos que ocorreram ao longo do tempo. A pedido de um amigo meu -- e por força de vontade minha, também -- vou disponibilizá-lo aqui no Busca Espiritual. Vale muito a pena! Bom proveito... A Viagem Interior é só sua.
Começando:

“O gosto do Zen despertado no Ocidente é, em parte, a sadia reação de pessoas exasperadas com a herança de quatro séculos de cartesianismo: a deificação de conceitos, a idolatria pela consciência refletiva, a fuga da realidade para ater-se ao verbalismo, à matemática e à racionalização. Descartes fez do espelho em que o eu se encontra um fetiche. O Zen o despeça pondo-o em frangalhos.” (Thomas Merton).


Neste instante milhões de seres nascem, milhões morrem. Caem as folhas. As ondas chocam contra as rochas. Bilhões de acontecimentos simultâneos. Efervescência. Mas as limitações dos veículos através dos quais a consciência se expressa dá aos homens a impressão linear dos acontecimentos. Cada um deles é único, instantâneo, e deixa da sua breve passagem um traço como o registro de uma partícula atômica numa câmara de gás. Essa trajetória é o resultado de uma série de encontros. Reflete a marca de uma presença. Tudo está interpenetrado. Reflete a marca de uma presença. Tudo como gotas de um mesmo Oceano.
No poema hindu Bhagavad Gitã, seu personagem central, Arjuna, suplica a Krishna (emanação corporificada sob forma humana do Absoluto) que lhe revele a verdadeira face da Realidade. E então viu:


“Assim como as chamas destruidoras do Tempo,
Contemplo teus dentes poderosos, eretos,
Alinhados nas mandíbulas escancaradas.
Ninguém encontrará abrigo ou misericórdia,
Ó Senhor Supremo de todos os mundos!
Todos, amigos, inimigos, desconhecidos, nós mesmos,
A multidão que passa como um rio,
Vão sendo tragadas por tua imensa boca.”


A visão de Arjuna revela a Realidade tal como é. Nua, sem proteções psicológicas e embelezamentos. É a forma Zen pondo em frangalhos o espelho onde o “eu” se reflete.


Tailândia. Bangkok. Dia 10 de dezembro. 1968. 14 horas. Calor. Num quarto um homem liga um ventilador. Choque? Colapso? Um corpo cai junto com o ventilador. Lá fora, o rio, os barcos continuam a passar rumo ao mercado. Nas lojas, peixes coloridos dão voltas dentro dos aquários aguardando os fregueses. Galos de briga se engalfinham num ringue. A multidão de apostadores grita. Ventilador trabalhando, cortando a carne do homem morto caído no chão. Sangue jorrando.


No final da vida de Thomas Merton, os acontecimentos chocam-se como ondas conflitantes que se fragmentam em milhares de gotículas. Nos mosteiros budistas monges recitam sutras. Outros meditam. Cochilam. Alguém bate à porta do quarto. Ventilador trabalhando. Batidas. Ventilador girando. Porta arrombada. Ventilador desligado. Polícia. Médicos. Padres chegando. Corpo lavado. Corpo vestido. Hábito de monge. Recitação lenta do rosário. O saltério. Murmúrio das preces. As cigarras cantando na tarde que cai. Um caixão envernizado aguarda no aeroporto. Acontecimentos. Caixões com soldados norte-americanos vindos do Vietnã. Misturado a eles um monge ruma ao Leste. O Oceano Pacífico lá embaixo reflete a lua. Os pilotos tomam café e contemplam os mostradores iluminados no painel de instrumentos. Bocejos. Thomas Merton voltando para casa. Acontecimentos. Simples acontecimentos. Oceano. Um novo dia começa a surgir. As ondas voltando para trás. Há 2600 anos um homem sentado sob uma árvore atinge a plena iluminação: o Nirvana. Uma gota transforma-se em Oceano. O Buda, o iluminado, o plenamente desperto, o Príncipe Sidartha Gautama, que tinha abandonado todos os reinos terrenos “via” a configuração do Eterno. Paz suprema. Sente as limitações da palavra para transmitir essa vivência de planos de consciência que o homem comum nem sonha. Tem então a visão simultânea dos acontecimentos. Diante de si a existência é como um lago onde se encontram bilhões de sementes de lótus, que na grande maioria estão no fundo, mergulhadas na lama, apodrecendo silenciosamente para que a vida possa nascer. Outras começam a germinar e procuram vencer a água escura em busca de algo que não vêem, mas que apesar disso as atraem. Poucas se aproximam da superfície das águas. Pouquíssimas romperam a linha divisória e em pleno ar, expostas ao sol, começam a entreabrir as pétalas. Cada uma delas é um ser num estágio diferente de desenvolvimento. Recebendo da luz do sol uma mensagem diferente, apropriada à sua natureza.


As ondas vão indo para frente. Há aproximadamente 2000 anos, um homem morre na cruz. Falava dos pobres de espírito, dos puros de coração. Dos simples, dos mansos. Dos autênticos que verão em si o Senhor. O reino de Deus tem muitas mansões. “Aprendei a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam sabeis que está próximo o verão”. As suas palavras foram registradas na letra fria dos textos. Foram repetidas por muitos. Mas poucos as “compreendem”. Pois compreender é viver em si a experiência. E aquele que vive no verbalismo está escravo dele. É preciso sentir as folhas brotando para termos a consciência de “verão” que se aproxima.

Em todas as religiões encontra-se, mais ou menos mergulhado, um apelo (que chamaríamos Zen) para o abandono do superficial e a busca do essencial.


Thomas Merton sentia-se atraído pelo Budismo e pelas religiões asiáticas, pois sentia a necessidade de um encontro com as raízes que estão além do mero verbalismo. Essas religiões não se julgam exclusivas, nem detentoras da Verdade. São acessíveis e tolerantes em seus conceitos demonstrando uma abertura de consciência que se encontra no Cristianismo primitivo, mas que por força de injunções políticas e sociais foi sendo amortecida na interpretação ao pé da letra dos textos bíblicos. Nada é pior do que a estrutura burocrática, temporal, visando resultados concretos para asfixiar a verdadeira espiritualidade. Merton era um místico e como tal falava uma linguagem que está acima das limitações temporais. Profundamente lúcido tinha a convicção que a maioria dos homens não vive. Movimenta-se apenas. Choca-se ao sabor dos acontecimentos. Nas “Reflexões de um espectador culpado” afirma:


"A sociedade massificada se compõe em realidade de indivíduos que, se entregues a si mesmos, sabem que são zero, e que ajuntados uns aos outros numa multidão de zeros, têm a impressão de adquirir realidade e poder.”


A triste realidade é que poucos sentem o Absoluto, Deus, ou o nome que queiram dar. A existência humana transformou-se numa simples rotina na qual os acontecimentos nos impelem a pensar e agir mecanicamente. O diálogo transformou-se em zumbido de máquinas cada qual girando no seu eixo (o “eu”, engrenado a outras máquinas visando a quê? Agitação. Futilidade. Mediocridade. Imbecilização em massa. Docilidade para que poucos tirem proveito de muitos. Thomas Merton era um crítico mordaz da civilização de desperdício que cultuamos como um moderno Deus. Assim pensava sobre os padrões de vida norte-americanos. A sua atração pelo Zen foi imediata, pois o Zen valoriza a natureza, a humildade, a espontaneidade, a volta a uma autenticidade perdida. A poesia foi fortemente influenciada por essa Escola no Japão. E Merton era um poeta. O Hai-kai, poema sintético com 17 sílabas, dá em leves toques o âmago da experiência do autor. É uma jóia de síntese. Merton, o autêntico, o homem que procurou em toda sua vida ser aquilo que era em essência, em inúmeros trechos de sua enorme bagagem literária revela o mesmo estilo direto de descrição da realidade. Vejam como banais acontecimentos são transfigurados por um tratamento Zen:


“Aurora escura.
Debaixo de algumas nuvens altas,
lastros de vermelho matizado.
Um desenho de roupas estendidas,
de grampos para suspender roupas no varal,
de vultos nebulosos.
Abstração. Não há como captá-lo.
Deixe ficar.”

Ou esta outra que é um verdadeiro hai-kai em sua estrutura psicológica:


“Tarde tranqüila.
Colinas azuladas.
Lírios balançam ao vento.
Este dia jamais voltará.”

O padre Luís, como Merton era chamado pelos trapistas, possuía a visão Zen da realidade que nos cerca. Suas fotografias, seus desenhos, são uma comprovação do mesmo ângulo estético que caracterizam a pintura chinesa e japonesa influenciadas pelo Zen. A valorização do vazio, das coisas insignificantes ao homem apressado que não olha os musgos, os velhos muros descascados, os galhos secos, os objetos marcados pelo uso. A solidão de uma floresta. A plenitude do deserto. Participação. É preciso a todos os momentos cultivar o silêncio como planta tenra, para que possamos encontrar a solidão no meio do mundo. Cada objeto, cada ser, cada instante é um mistério pleno de significação. Debaixo da superfície das coisas está a base última onde elas se encontram. Cada uma delas é um caminho aberto para o encontro com aquele que as sustém em sua grandeza infinita. O encontro é um ato de silêncio. Pois não há participação sem silêncio. Silêncio da fonte que brota no deserto. Do lótus que desabrocha. Da lágrima que escorre. Tudo se resume, então, segundo o Zen, na busca desse silêncio no meio de um Universo de ruídos. A atitude deve ser a da observação pura dos que se sentam e contemplam sem procurar se envolver com os acontecimentos. O Zazen, que é o sentar de acordo com certas regras, é em suma o Zen. Sem ele não é possível atingir o que não se atinge quando vivemos mecanicamente. O simples ato de sentar, que muitos vêem como uma força de meditação budista, é de imenso valor para homens que nunca conseguiram parar no meio dos acontecimentos e são envolvidos por eles, O sentar é a parada em pleno movimento. A inação na ação. A leveza do gesto, o reflexo automático de um lutador de judô, ou de um mestre de espada. A flexibilidade do bambu, a agilidade de um gato. O toque ligeiro de um pintor numa tela de seda deixando o registro de sua passagem para toda a eternidade. É, em suma, plena atenção. Viver o aqui e o agora em plenitude. O mesmo ocorre conosco. É necessário despertar para a grandeza que somos. ACORDAR! MAS COMO É DIFÍCIL. A existência humana transforma-se numa simples rotina de fatos que nos impelem a pensar, agir mecanicamente. Em todas as épocas, os textos de uma tradição verdadeiramente religiosa, que está acima da pura religião maquinal da maioria dos homens-máquinas, chama a atenção da necessidade do homem despertar para a Realidade.
No Katha Upanishad está dito:

"Este é o caminho. Esta é a mente suprema.
Ele está oculto em todas as pessoas.
Por essa razão, não brilha!
Mas é visto pelos grandes videntes.
LEVANTA-TE! DESPERTA!
A senda é estreita como um fio de navalha.”

O absoluto está oculto em todos. Se está oculto é porque inconscientemente não permitimos que ele surja. O homem fechado, o egoísta enrolado em torno de um “eu” ilusório, é como um casulo que ainda não sonha que poderá ser borboleta. E como casulo geralmente morrerá, perdendo a oportunidade da transfiguração. A regra dos monges de São Bento é totalmente autêntica quando no prólogo chama atenção para que:

“(...) abramos os olhos à luz deífica e, de ouvidos atentos, escutemos a exortação que todos os dias, em altos brados, nos dirige a voz divina por estas palavras: se hoje ouvirdes a sua voz, não queiras endurecer vossos corações. E ainda: Quem tiver ouvidos para ouvir, escute o que o Espírito diz às Igrejas. E que lhes diz? Vinde, filhos, e ouvi-me. Ensinar-vos-ei o temor do Senhor. Correi enquanto tendes o lume da vida, não vos atalhem às trevas da morte.”


A luz existe. Ela não tem culpa se os homens continuam de olhos fechados. A abertura dos mesmos depende do esforço de cada um. Façam um exemplo real. Fechem os olhos. Sintam a escuridão. Imaginem o que será o mundo de um cego de nascença que nunca tenha sentido a diversidade das formas e cores. Abram os olhos e vejam como se estivessem vendo pela primeira vez. O mesmo poderá ser feito com todos os outros sentidos. Todos eles são portas de comunicação com o Absoluto. Depende somente do uso que deles fazemos, mecânico ou desperto, para que tenhamos a consciência da luz deífica da exortação que em “Altos brados” a voz divina nos apela. Sintam a importância do Aqui-e-Agora, do instante mágico onde o tempo e espaço se fundem numa presença sensível na advertência: “correis enquanto tendes o lume da vida...”. A maioria dos homens infelizmente passam pela vida como mortos. O Zen-budismo procura despertar o homem o mais rápido possível, usando para isso métodos pouco convencionais, pois nada é mais urgente, mais vital, do que esse despertar. É difícil dizer o que seja antes do acontecimento. Tão difícil como transmitir em palavras a experiência da água fresca escorrendo numa garganta sequiosa. É a mesma razão que levou Merton em “A Vida Silenciosa” a exclamar:

“A realidade significada pelo conceito é um mistério. Pois concretamente, na terra ninguém sabe com precisão o que seja “buscar a Deus” enquanto não tenha se colocado em marcha para achá-Lo”.


Só aqueles que sentiram essa Realidade (não importa o nome) podem falar dela por experiência direta. Os outros são apenas seguidores, copiadores, repetidores em bilionésima mão do que não sentem.


O zen busca a verdade por trás das formas, a luz por trás das sombras. Não é uma religião fechada como Merton bem sente. É sim a Verdadeira Religião que está presente em todos os caminhos que levam o homem ao encontro consigo mesmo. Essa religião é o retorno simbólico do filho pródigo ao lar paterno de onde nunca se afastou. É a consciência da inexistência de qualquer problema na configuração de acontecimentos que nos envolvem. É o peru preso no círculo de giz ganhando a consciência da dimensão da liberdade. É a consciência da inexistência dos muros que antes nos isolavam e que desapareceram por completo. Tudo se resuma no desaparecimento do problema. Analisemos a palavra “problema”. É um conjunto de sons que expressa um estado psicológico descrito em outros idiomas por sons diversos. O som não nos interessa, mas aquilo que representa. Vivemos obcecados por essa palavra. Analisando-a friamente veremos como ela existe no nosso cotidiano. Essa verdadeira fixação na existência de problemas, a consideração de que tudo em si é um problema priva o homem de sua liberdade inata de Ser. Um problema é uma configuração de acontecimentos instantâneos. A cada instante a configuração muda, pois novos eventos são incluídos ou sobrepassados. Entretanto, a grande maioria das pessoas não vê as configurações dentro de um contexto mais amplo no qual estão harmoniosamente inseridas. Por exemplo, quando observamos uma coisa do ponto de vista das partículas subatômicas que as compõem, ela se esvanece. Some-se como fumaça. O aspecto concreto da realidade transmuta-se a resta somente uma “mancha”, verdadeira nuvem de acontecimentos em mutação constante. As “leis” que se aplicam são o princípios da indeterminação de Heinsenberg, a física de Einstein, as m atemáticas não-euclidianas. Há uma total modificação do “cotidiano”. O mesmo ocorre, os “problemas” são outros, quando a coisa é observada do nível molcular. À medida que mudamos de escala de observação criamos novos problemas e novas leis. Sente-se que o “problema” cessa de existir quando é visto numa configuração acima da anterior, então aparece unido numa estrutura maior e cessa de existir.
Compreendendo isso, o Zen trata os problemas de uma forma direta. A própria palavra Buda é um problema para muita gente que se rotula Budista. Da mesma forma a palavra Cristo para os Cristãos. Ou a palavra Deus para os deístas. Deixem de lado o rótulo que nos separa, que não diz nada, e mergulhem na raiz que nos une. Certa vez, um discípulo ardoroso perguntou a seu mestre sobre o Buda e recebeu como resposta:

“Limpa primeiramente a tua boca desta palavra!”

É preciso que limpemos a boca e a mente de puros conceitos, sons sem significação para que possamos encontrar aquilo que não se encontra nas palavras. Aquilo que tem levado os homens a se debaterem uns contra os outros em discussões sem sentido. Thomas Merton possuía raro senso de humor, que é uma característica Zen. Assim descrevia ele o choque entre o intelectualismo e verbalismo:

“Pontífices! Pontífices! Somos todos pontífices fazendo arengas uns para os outros, agitando nossos báculos uns para os outros, dogmatizando e ameaçando com anátemas!”


O Zen é muitas vezes rude na sem-cerimônia com que trata as coisas “sagradas”. Um monge cansado de meditar em silêncio, a fim de alcançar o Buda, procura o instrutor Ummon desesperado com seu fracasso. A resposta é seca: “Ele está no estrume”. É a única forma para acabar com as arengas. Para muitos, falar desta forma “desrespeitosa” de um homem perfeito que alcançou a suprema iluminação, de uma flor da raça humana, pode parecer uma profanação. São, entretanto, recursos usados para despertar o homem. Para produzir a visão do que está além da forma verbal. Enquanto o homem não se libertar dessas “prisões”, jamais poderá encontrar o que não se encontra quando se procura. A própria idéia da meta, do alvo, já é um impedimento ao encontro. A “procura” é um ato de plena humildade, de abertura, de libertação de tensões acumuladas no consciente e no inconsciente. Os conceitos mais tradicionais têm de ser revistos sob uma luz da compreensão profunda. Pecado, virtude, moral, castidade, bem, mal são muitas vezes gaiolas que escravizam o homem.
Mestre Taisen Deshimaru escreveu um livro chamado Vrai Zen. É um instrutor que vai direto ao ponto. Conta ele a seguinte história a respeito do “problema” da castidade:
“No tempo de Buda, viviam dois monges, modelos de todas as regras. Dois exemplos de virtude. Cabeças imaculadamente raspadas, mantos sempre bem cuidados. Cumpriam todas as duzentas e tantas normas prescritas pela disciplina. Certo dia, quando um deles procurava a cidade para esmolar, vê-se diante de uma bela monja e não resiste à atração. O desejo reprimido o inflama. A tranqüilidade da floresta, o calor do dia, o perfume das flores falavam mais alto do que todas as regras. E o monge cedeu. Pela força, submete a jovem. O outro, que vinha logo atrás, a tudo presencia, oculto pela folhagem, e sente-se tomado pela mesma paixão. E procede exatamente como o primeiro. Depois afastam-se juntos, contritos, olhando o chão, como manda a regra, mas sentindo-se arrasados pela ação cometida. A jovem desesperada procura a morte no rio. Os monges torturados pelo remorso vão à presença do virtuoso Upali, encarregado pela Disciplina da Ordem monástica. Fazem a plena confissão dos crimes e são expulsos da comunidade. Seguem então pelos caminhos da floresta cada vez mais mergulhados em seus problemas, até que diante deles surge Vimalakirti, o discípulo iluminado de Buda. É todo compaixão e sabedoria. Uma verdadeira estrela irradiando serenidade por todos por todos os quadrantes. Ouve a trágica notícia e aconselha-os: “A vossa falta é a de ainda pensar no fato passado. Não o façam reviver pensando nele. Concentrai-vos no Presente e renascei a cada instante! Continuai no caminho que escolhestes. Concentrai vossos esforços para que possais atingir a Verdade. Os monges seguiram o conselho e dentro em pouco tornaram-se seres perfeitos. Se nada tivesse ocorrido, se os “acontecimentos” momentaneamente formados não os tivessem levado à ação cometida, continuariam sem dúvida presos às idéias das regras, da virtude, e permaneceriam adormecidos no conceito da virtude. Na palavra. Pois virtude é muitas vezes apenas um conforto para não agir. O crime, o pecado fizeram com que atingissem pela dor à Sabedoria. As cadeias de ouro ou de ferro são, em última análise, apenas cadeias."

Thomas Merton, o autêntico, tinha a plena consciência da relatividade dos padrões de julgamento. Sentia, como ninguém, as aves de rapina que estão no título de seu livro, e como vivemos nos alimentando da sua putrefação, adorando a morte quando a vida eterna é nosso Ser. Ocultando sob palavras de Cristo, Buda, Tao, e tantas outras, o mistério vivo. Desesperava-se com o pieguismo. É autêntico quando explode na sua revolta contra o formalismo:

“Em certos momentos, vemos um raio do Zen no meio da Igreja! Deveria, na realidade, haver muito mais. Mas nós o frustramos, raciocinando demasiadamente sobre tudo que há.”

Na sua vocação monástica, viu no monge um homem desperto ao mundo, mas ao mesmo tempo preservando o fogo vivo da vida interior. Sentiu o perigo de uma Igreja voltada apenas para aspectos sociais, políticos, econômicos. Constituído de monges homens comuns, cotidianos, impelidos como a massa anônima da humanidade-manada. Também não admitia o homem que se isolasse numa torre de marfim, quando à sua volta o sofrimento e o ranger de dentes cada vez mais se avolumavam. Vai além, ao anunciar:

"Temos de ter a humildade para, em primeiro lugar, tomar consciência de nós mesmos como parte da natureza. Negá-la resulta apenas em loucura e crueldade. Pode-se, sem dúvida alguma, ser parte da natureza sem ser o amante de Lady Chatterley”.

Como é imensamente difícil ser natural novamente! Redescobrir a Verdade, a autenticidade que existe no centro do Ser. Atingir o puro despojamento, a pobreza, a humildade, que nos permitem a humanização. É um desaparecimento, um vazio-pleno. Uma vivência. Um fato extraordinariamente significativo são as últimas palavras proferidas por Thomas Merton numa conferência feita no encontro de religiosos de Bangkok. Terminada a enunciação do tema “Monaquismo e Marxismo” despediu-se dizendo:

“And now I will disappear.”
(*E agora desaparecerei).

O resto é conhecido. Calor. Num quarto um homem liga um ventilador... Choque? Colapso? Um corpo cai. Acontecimentos. Sangue. Gotas. Gotas. Gotas... Uma gota torna-se o Oceano.
(Escrito por Murillo Nunes de Azevedo)
Prefácio do livro "O Zen e as aves de Rapina", de Thomas Merton.
Para saber mais sobre quem foi Thomas Merton, veja no link: http://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Merton