"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

domingo, outubro 25, 2015

Reverenciar a Vida - 1/3

- Masaharu Taniguchi -


Na Seicho-No-Ie, alcançam-se graças milagrosas pela leitura do livro A Verdade da Vida. Porém, isso é uma espécie de "efeito colateral". O objetivo principal da Seicho-No-Ie não é a obtenção de graças milagrosas, mas sim o despertar espiritual. Em outras palavras, a Seicho-No-Ie visa despertar a humanidade para a Imagem Verdadeira (aspecto e natureza originais) da Vida. Por essa razão, falamos constantemente acerca da Imagem Verdadeira. Uma vez explicado "o que é Imagem Verdadeira", torna-se fácil compreender os ensinamentos da Seicho-No-Ie.

O termo "Imagem Verdadeira" parece simples; mas segundo o Zen budismo, "Imagem Verdadeira não é algo que se transmite por meio da palavra escrita ou falada, e sim pela comunicação direta de mente para mente". Por isso, considerava-se muito difícil explicar "o que é Imagem Verdadeira". Nesta palestra, tentarei explicar, em curto espaço de tempo o que é "Imagem Verdadeira". Portanto, talvez alguns consigam entender, e outros não. Aqueles que assimilam os ensinamentos da Seicho-No-Ie alcançam muitas graças milagrosas, e isto se deve ao fato de que a Seicho-No-Ie prega a Verdade de tal modo, que as pessoas conseguem compreender facilmente "o que é Imagem Verdadeira". 

Devido à maneira simples e compreensível com que a Seicho-No-Ie explica a Imagem Verdadeira, até as pessoas que levam uma vida agitada no mundo atual conseguem alcançar facilmente o despertar espiritual. Então, como reflexo de nos tornarmos conscientes da plena liberdade da Vida, resultante desse despertar espiritual, passam a ocorrer na vida dessa pessoas fatos que, considerados com base no senso comum, parecem fenômenos estranhos ou milagrosos. Esses fenômenos são, por assim dizer, "efeitos colaterais" do despertar espiritual. Isto é, embora o objetivo da Seicho-No-Ie seja "despertar as pessoas para a Imagem Verdadeira" e não a realização de milagres, estes acontecem naturalmente como consequência do despertar.

Como é do conhecimento da maioria, não iniciei a Seicho-No-Ie com  a intenção de fundar uma seita religiosa. Nos princípios de 1930, publiquei pela primeira vez uma revista de cultura moral denominada Seicho-No-Ie, movido pelo ideal de divulgar à humanidade a Verdade que eu alcançara pelo despertar espiritual. Ao redigir artigos para essa revista, não tinha em mente promover cura de doenças, melhora da situação, lucro financeiro, obtenção de bom emprego, etc. Porém, à medida que a revista ia sendo difundida, aumentava o número de leitores que afirmavam ter recebido graças milagrosas. Assim, em dezembro de 1934 foi fundada uma sociedade anônima denominada Sociedade para a Difusão do Pensamento Iluminador com a finalidade de organizar os artigos publicados na revista Seicho-No-Ie e formar a coleção  A Verdade da Vida. Como foi possível iniciar tal empreendimento? No início, não passava de uma pequena empresa, com um capital de 250.000 ienes. Sua fundação foi possível graças à união de muitas pessoas que investiram dinheiro com o intuito de publicar exclusivamente obras de minha autoria. Essas pessoas tinham a certeza de que poderiam manter a empresa, mesmo sem publicar obras de nenhum outro autor. Creio que somente esse fato é suficiente para comprovar que as palavras da Verdade contidas da revista Seicho-No-Ie tinham o grande poder de movimentar pessoas.

Mas, afinal, o que é a Seicho-No-Ie e por que ela movimenta as pessoas de tal maneira? A Seicho-No-Ie não tem forma concreta. Na parte inicial do volume 1 de A Verdade da Vida constam "As Sete Declarações Iluminadoras". A primeira delas é a seguinte: "Declaramos transcender todo sectarismo religioso e, reverenciando a Vida, viver em fiel obediência à Lei da Vida".

Esta é a primeira declaração da Seicho-No-Ie, feita logo no início, antes mesmo de se tornar uma sociedade religiosa, como se apresenta agora. Talvez vocês pensem que a Seicho-No-Ie seja uma seita religiosa. Mas a declaração de que transcendemos todo sectarismo religioso já constava na contracapa do primeiro número da revista Seicho-No-Ie, de aspecto modesto, publicado em 1930. Desde o princípio manifestei publicamente o meu propósito de "transcender todo sectarismo religioso e, reverenciando a Vida, viver em fiel obediência à Lei da Vida", e até hoje venho mantendo essa mesma postura. 

Eu próprio considerava a revista Seicho-No-Ie como sendo de cultura moral e esperava que o público a acolhesse como tal. Porém, para minha surpresa, muitas pessoas alcançaram graças milagrosas por meio de sua leitura, razão pela qual ela não podia ser classificada como mera revista de cultura moral, de filosofia ou de literatura; assim, o público passou a considerá-la revista de cunho religioso., E, como se tratava de algo inédito, consideraram a Seicho-No-Ie como uma nova religião, e muitas pessoas tornaram-se devotas. Diante desse desenrolar dos acontecimentos, sinto-me, ao mesmo tempo, agradecido e um tanto constrangido.

A Seicho-No-Ie, coerente com a declaração de "transcender todo o sectarismo religioso", reverencia a essência de todas as crenças religiosas, ou seja, a Verdade comum a todas as religiões. Em última análise, todas as religiões que se mantêm até hoje, apesar das vicissitudes pelas quais passaram ao longo dos anos, pregam, em "linguagem religiosa" peculiar, a mesma Verdade preconizada pela Seicho-No-Ie. Excetuam-se, é lógico, certas seitas que pregam inverdades e, quando desmascaradas, acabaram se arruinando. Todas as religiões conduzem à mesma Verdade que a Seicho-No-Ie prega, quando se busca a sua essÊncia, sem se ater a expressões e atitudes sectárias que elas ostentem.

Mas, afinal, em que consiste a Verdade pregada pela Seicho-No-Ie? Para compreendê-la é fundamental entender o que significa "reverenciar a Vida", que consta no item 1 das Sete Declarações Iluminadoras. No budismo existe o termo Muryo-ju, que significa Vida infinita (muryo = infinita; ju = Vida). Jesus Cristo também ensinou que a Vida é eterna e exortou os homens a reverenciá-la, dizendo: "Aquele que crê em mim, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida." (João, 6:47-48).

O que é Vida? Certamente, vocês todos têm consciência de estarem vivos. Sim, vocês estão vivos. Estão vivos porque têm Vida. Mas a Vida não está no corpo carnal em si. Suponhamos que se decepe um membro de um ser vivo e que nele se busque a Vida. Naturalmente, não a encontrará. Decepando-se sucessivamente outros membros e o tronco e analisando-os, também não se constatará em nenhuma dessas partes a presença da Vida. Pode ser que se constate a presença da "vida celular", mas ela não é Vida organizada que mantém vivo o ser. A primeira declaração da Seicho-No-Ie é no sentido de reverenciar a Vida, essa Força invisível e misteriosa que nos mantém vivos, e isso corresponde a "reverenciar muryo-ju" na linguagem do budismo, e a reverenciar o "pão da Vida", na linguagem do cristianismo. 

A palavra Vida, devido à sua ambiguidade, tem sido usada com diversos significados segundo o ponto de vista de vários filósofos e religiosos, e isso tem causado interpretações errôneas. Afinal, o que é essa energia misteriosa chamada Vida, que nos mantém vivos? Segundo Schopenhauer, e a "vontade irracional". Essa vontade seria a vida, que se empenha numa feroz luta pela existência. De acordo com essa teoria, pela "vontade irracional" incoerente e contraditória, uma vida luta contra a outra, a vida da espécie se confronta com a vida individual, a vida mais forte persegue, domina e acaba tragando a vida mais fraca – e por sim ela própria se extingue. A maioria das pessoas pensa da mesma forma. Também na Teoria da Evolução, de Darwin, a vida é tratada como algo sujeito à lei da selva, na qual os mais fortes devoram os mais fracos. Se nos propusermos a reverenciar a Vida partindo de tal ideia, teríamos que nos sujeitar à lei da selva.

Porém, a Vida que reverenciamos não é a vida manifestada no plano fenomênico, à qual se referem Schopenhauer, Darwin e muitos outros. Na Seicho-No-Ie, chamamos de "vida fenomênica" à Vida manifestada no plano fenomênico. Afirmamos que a vida fenomênica é apenas "manifestação da Vida" e não a Vida em si, que existe verdadeiramente. À Vida que existe verdadeiramente, chamamos de Imagem Verdadeira da Vida. Mesmo aqueles que são considerados grandes pensadores confundem a vida fenomênica com a Vida da Imagem Verdadeira. A vida verdadeira (A Imagem Verdadeira da Vida) existe por trás da vida fenomênica, mantendo-se intacta mesmo quando a vida fenomênica se extingue, e plena de harmonia mesmo quando a vida fenomênica se empenha na luta pela existência. Essa Vida é aquilo que, na linguagem do budismo, se chama "natureza búdica do ser"; na linguagem do cristianismo, poderia se chamar "natureza divina" ou "Cristo eterno" e, na linguagem do xintoísmo, é chamado de Kakurimi (Ser oculto, ou Ser invisível), como se pode constatar do Kojiki (Livro de Mitologia Japonesa). É o "Deus invisível" de que fala a doutrina cristã. A Seicho-No-Ie ensina a reverenciar esse Deus absoluto, invisível, e prega que, essencialmente, todas as religiões veneram o Deus único e verdadeiro.

Continua...


Do livro: "A Verdade da Vida, vol. 33", pp. 13-19

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