"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, dezembro 31, 2012

O exercício da GRATIDÃO como prática complementar da Meditação

Masaharu Taniguchi
 

Se alguém pensa que a Meditação Shinsokan se trata apenas de uma concentração espiritual para conseguir experiências espirituais profundamente misteriosas, poderá enganar-se. Sendo a Meditação Shinsokan a contemplação da Imagem Verdadeira, onde Deus está em nós e nós em Deus, se limitarmo-nos apenas à meditação e não praticarmos atos de gratidão acabaremos destruindo a nós mesmos, pois cairemos no convencimento de já ter conseguido compreender a Verdade, tornando-nos arrogantes, ingratos e impudicos. Torna-se necessário, então, o exercício da gratidão como prática complementar da Meditação Shinsokan.

O exercício da gratidão é uma prática espiritual que consiste em procurar não esquecer o sentimento de gratidão, em todos os momentos da vida cotidiana. Os sentimentos opostos à gratidão são o descontentamento, a insatisfação, o ressentimento, a inveja, a raiva, etc. Eles desarmonizam o pensamento do homem, e serão também desarmoniosos os acontecimentos que advirão desse pensamento. A desarmonia dos acontecimentos, por sua vez, gera mais sentimentos maléficos como o descontentamento, a insatisfação, a raiva, etc., os quais constituem o carma desencadeador de outros acontecimentos infelizes, e estes aceleram a velocidade de transmigração do carma.

Dessa maneira, mesmo que pratiquemos dedicadamente a Meditação Shinsokan, que é uma forma de transcender a transmigração do carma e fundir-se na Imagem Verdadeira, se não houver a prática dos atos de gratidão em nosso cotidiano e mantivermos os sentimentos de descontentamento, insatisfação, raiva, inveja, etc., estaremos apagando o sentimento de fusão com o mundo harmonioso da Imagem Verdadeira conseguido através da Meditação Shinsokan.

Em contraposião à Meditação Shinsokan, que é a prática espiritual para contemplar a Imagem Verdadeira e transcender a imagem falsa, a insatisfação é a ação do carma que, encobrindo a Imagem Verdadeira, faz com que fiquemos presos à imagem falsa. Sendo ambos totalmente opostos, possuem o poder de anular o efeito um do outro. Por isso, para conseguir de modo perfeito a eficácia da Meditação Shinsokan, é importante não esquecer de praticar o oposto da insatisfação e da reclamação: o exercício da gratidão no cotidiano. O sentimento de insatisfação desencadeia infelicidades que geram mais insatisfações, e faz com que o carma transmigre sem parar. Ao contrário, a prática da gratidão cria sentimento de gratidão, ou seja, de "harmonia", mesmo diante do mais infeliz dos acontecimentos. Como consequência desse "sentimento de harmonia", manifesta-se o "mundo de harmonia" no mundo exterior, impedindo que seja mantido o "mundo infeliz" de até então, gerado pela "insatisfação". Desse modo, a gratidão torna-se uma prática complementar para interromper a "transmigração do carma".

É por isso que a maioria das religiões recorre a artifícios para retirar a insatisfação dos homens e suscitar-lhes o sentimento de gratidão. Na seita Shin ou na Ittoen o sentimento de gratidão é despertado fazendo-se o adepto considerar o homem como um mortal cheio de pecado, o pior ser do mundo. Se perguntamos aos seus seguidores por que se sentem gratos sendo os piores seres do mundo, respondem: "Somos tão pecaminosos, e no entanto recebemos graças até demais de Deus; por isso sentimo-nos gratos". No caso da seita Shin, dizem-se tão pecaminosos que não há meio de se salvarem com sua própria força; mas acreditam que podem ser salvos e acolhidos num lugar tão maravilhoso como a "Terra Pura" (Paraíso) graças a força de Amitabha, e por isso sentem-se gratos. Essa gratidão assemelha-se mais a um expediente e encerra elemento desonesto. Eles se julgam pecadores, maus, e avaliando a si mesmos honestamente obteriam nota zero, dois ou três, mas recebem nota cem de um outro ser e por isso sentem-se gratos. Não se sentem gratos pelo próprio valor, mas pela nota ou pelo prêmio que outros lhe dão, o que significa que, se não lhes derem nota ou prêmio superior ao que realmente merecem, não se sentirão gratos. Essa é uma gratidão que depende dos outros, pois não se é grato pelo próprio valor. É portanto uma gratidão vazia e falsa. Mas, como é melhor sentir gratidão do que sentir-se insatisfeito, os religiosos criaram artifícios de interpretação como meios para fazer nascer nas pessoas o sentimento da gratidão.

A missão da religião é fazer os homens conscientizarem sua Natureza Divina. Para isso, ela faz com que sintam gratidão porque esse sentimento conduz à paz infinita, e através desse sentimento pacífico é facilitada a conscientização da sua própria Imagem Verdadeira, fazendo surgir o mundo iluminado no mundo exterior e trazendo à tona a força infinita do interior.

Existem duas maneiras de fazer com que as pessoas despertem o sentimento de gratidão: a da religião hinayana, que faz com que as pessoas sintam gratidão por qualquer tipo de tratamento que receberem, partindo da conscientização de que possuem a maldade infinita; e a da religião mahayana, que as faz sentir uma gratidão incomparável, pela conscientização de ser Deus a sua verdadeira natureza e por reconhecerem que possuem virtude infinita.

No budismo há a escola Jodo (Terra Pura), que diz: "Nós somos maus, cheios de pecado, mas podemos ser acolhidos na Terra pura como graça de uma força alheia. Que felicidade!"; e há a escola Shoodo (Caminho Sagrado), que diz: "Sendo todos originariamente filhos de Buda, se reconhecerem o seu verdadeiro valor serão salvos. Ser ou não ser salvo, depende de si próprio. Se o Buda Daitsutishô (Buda que pregou os ensinamentos contidos na Sutra do Lótus, num passado infinitamente remoto) não despertou para a Verdade durante um tempo infinitamente longo é porque ele próprio não despertou". Assim se atribui valor absoluto a si próprio.

Também o cristianismo fala de "gratidão relativa" que Paulo sentiu pelo fato de ter sido salvo apesar de ser pecador; entretanto quando fala de Cristo não se refere à gratidão relativa, mas sim à gratidão absoluta. Ou seja, a consciência de que ele próprio é filho de Deus. Quando Jesus disse: "A qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra", não quis dizer que o homem não teria o direito de reclamar quando espancado, porque é um pecador, comparando relativamente o ser humano com o pecado. Ele disse com tanta espontaneidade "A qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra" baseando-ne na consciência de que, por mais que se modifique a forma, a verdadeira natureza do homem é Deus onipotente, é uma existência de "valor absoluto"; portanto, mesmo sendo surrado, não o está, mesmo sendo roubado, não o está.

Como vimos, há várias categorias de gratidão e, mesmo que se diga "sinto-me grato", a avaliação desse sentimento dependerá do grau de desenvolvimento espiritual de cada um. Há a gratidão da pessoa que, ao encontrar dinheiro na rua, sente-se grata a Deus por Ele satisfazer seus desejos e protegida por tal Deus. Há também a gratidão pela cura, obtida através da fé, de uma doença que o médico não conseguiu curar. Há ainda pessoas que acreditavam que por serem pecadoras não escapariam do inferno, mas quando souberam que existe um buda chamado Amitabha que as leva ao paraíso sentiram-se tão gratas como um preso que recebe anistia. Há ainda a gratidão daquelas que varriam a calçada humildemente, conforme recomenda a Ittoen, quando alguém lhes ofereceu a refeição matinal; esse gesto as deixa agradecidas, bem como o fato de descobrirem que há um Deus que não as abandona se forem humildes.

Mas em minha opinião tais sentimentos de gratidão não podem ser considerados autênticos, no sentido religioso. Não há dúvida de que 'encontrar dinheiro na rua', 'curar-se da doença', 'poder ir para o Paraíso' ou 'conseguir a sobrevivência ao se tornar humilde' são fatos dignos de gratidão, mas não significam a verdadeira gratidão religiosa, e sim gratidão calculista. Em outras palavras, é a gratidão que se sente por ter recebido algo de fora. Com esse tipo de gratidão a pessoa ainda não poderá transcender realmente o carma, pois se não continuar recebendo coisas de fora não sentirá mais gratidão.

A gratidão religiosa não é apenas agradecer ao fato de receber algo de fora. O estímulo a essa gratidão é apenas um meio para conduzir as pessoas à verdadeira gratidão religiosa, mas você não deve ficar estacionado nesse estágio. A gratidão que nos vem espontaneamente de dentro quando temos a consciência de que nós próprios somos Deus, nós próprios somos Buda, essa é a gratidão no sentido religioso. Mesmo a gratidão pelo fato de ter cohecido a Seicho-No-Ie não será verdadeira se não evoluir até esse nível. Aliás, isso não se refere somente a Seicho-No-Ie. O sentimento de gratidão proveniente da verdadeira fé precisa fundamentar-se na consciência de que nós próprios somos Deus, de que nós próprios somos Buda. Sentir-se grato 'por estar sendo perdoado e salvo, apesar de ser tão mau', não passa de fé covarde e desonesta, pois significa desejar obter nota cem quando na verdade só vale dez. Não podemos dizer que tal desonestidade seja fé verdadeira.

No caso da seita Ittoen, enquanto a pessoa mantiver o pensamento simplista de que conseguiu a alimentação para o dia porque foi humilde fazendo a faxina do banheiro, não conhecerá o verdadeiro valor da Imagem Verdadeira. O viver religioso verdadeiro consiste em conscientizar-se: "Eu sou Deus". Mesmo o modo de viver da seita Ittoen, no caso do sr. Tenko Nishida, está baseado na conscientização: "Eu venci o mundo", confome consta em sua obra Zange no Seikatsu (Vida de Penitência). Portanto, seria errôneo pensar que já alcançou a vida cheia de gratidão só pelo fato de dormir sobre a serragem ou lascas de madeira, ou por fazer limpeza de banheiros, imitando apenas superficialmente o sr. Tenko, sem se conscientizar: "Eu venci o mundo", ou "Eu sou o maior do mundo".

Há pessoas que, ao ouvirem falar na "vida de penitência" da Ittoen, acham que se trata de vida de autodepreciação, que consiste em considerar-se culpado; mas de modo algum é assim. Conscientizar "eu sou um com Deus (na Ittoen diz-se 'luz'), não há ninguém tão grandioso quanto eu" - isto é a vida segundo a Ittoen. Como essa conscientização de "grandiosidade" baseia-se na convicção da "grandiosidade" de que a sua substância é Deus, a pessoa sente que existe (independentemente da grandiosidade exterior constituída de status, comendas, mansão magnífica, roupas luxuosas) algo originariamente puro, por mais que as forças externas tentem maculá-la, não se macula; por mais que tentem aniquilá-la, não podem ser aniquilada, tal é a sua superioridade. É alicerçado nessa grandiosa conscientização que o sr. Tenko ora apregoa a humildade, dizendo que não há ninguém tão mau quanto ele, ora afirma arrogantemente que, se lhe for atribuído o cargo de primeiro-ministro, não terá dficuldade de administrar o país porque possui grande versatilidade. Também por isso afirma que, se não for através do modo de viver da Ittoen, não se pode salvar a humanidade; que não existe ninguém tão grandioso como ele, e que, por esse motivo, toda a humanidade deve segui-lo. Por isso, para os olhos de pessoas pouco perspicazes, pode parecer que a vida da Ittoen seja a vida em que, dizendo-se "eu sou mau", limpando o banheitro e procurando comida no lixo, não haverá dificuldade econômica. São muitas as pessoas que frequentam a seita Ittoen assimilando apenas a parte que trata da ausência de dificuldade econômica visível. Mas a verdadeira vida sem dificuldade econômica da Ittoen é baseada na conscientização da frase "Como sou um com a Vida perene, sou na realidade imortal e livre de dificuldades econômicas". Por isso, o sr. Tenko diz: "Sem o espírito preparado para morrer a qualquer momento, não há a vida da Ittoen". Essa convicção de estar preparado para morrer a qualquer momento nasce da conscientização de ser, na essência, imortal. No que se refere a essa conscientização, a Ittoen e a Seicho-No-Ie pensam de modo idêntico.

Entre as pessoas que se dizem gratas por ter conhecido a Seicho-No-Ie e por passar a frequentá-la, há as que agradecem somente o fato de ter melhorado economicamente ou ter-se curado de doença de difícil cura através da literatura Seicho-No-Ie. Mas tais pessoas ainda não conheceram a verdadeira gratidão religiosa: estão agradecendo apenas o benefício de ordem utilitária, externa, o que significa que sua gratidão é ainda uma gratidão utilitarista, e não atingiram a gratidão religiosa. A gratidão religiosa deve ser aquele sentimento de júbilo que brota de dentro e vai enchendo a alma, decorrente da conscientização suprema de que a sua essência é Deus, é Buda, independemente da aparência exterior. Se não houver essa conscientização, quando alguém se torna humilde imitando a Ittoen, apega-se à humildade; quando está em situação superior, apega-se à posição superior. Assim, sente-se culpado ao viajar no vagão de segunda classe, como aconteceu com certo milionário, ou tem sentimento de culpa se não dormir ao relento no meio das lascas de madeira, como um mendigo, conforme aconteceu com outra pessoa. Em suma, se a gratidão não for aquela que emerge do coração pela conscientização de que a sua substância é Deus, pode-se perder o sossego espiritual tanto no estado positivo (abundância em demasia) como no estado negativo (carência em demasia) do ambiente material. Se a paz de espírito é influenciada pelo estado positivo ou negativo do ambiente material, isso significa que o espírito da pessoa está sendo conduzido pela "coisa de fora" que é a aparência. Se isso acontece, não se pode dizer que a pessoa apreendeu o valor da Imagem Verdadeira, seja na seita Ittoen ou em outra religião. O verdadeiro "valor da Imagem Verdadeira" está no fato de a sua própria Imagem Verdadeira ser Deus. Portanto mesmo que a pessoa seja rica demais ou pobre demais, seu sentimento de gratidão não se altera por causa disso.

O sr. Masao Takahashi, da seita Konko, que vive como se tivesse somado e dividido por dois os ensinamentos desta seita e o modo de viver da seita Ittoen, diz o seguinte: "No momento em que percebi que eu era um indivíduo mau, sem nenhuma qualidade, sem direito de reclamar por pior que fosse o tratamento que me dessem, deixei de ter motivos para me queixar; abriu-se um mundo imenso onde antes parecia um beco sem saída; o meu coração se encheu de luz e começou a nascer abundantemente a força vital". Ouvindo essa confissão, temos a impressão de que o fato de pensar "eu sou mau, eu não tenho nenhuma qualidade" constitui uma ótima fonte de paz e origem da força vital, mas não é bem assim. Na realidade, quase todos os indivíduos que se vêem em condições semelhantes à de mendigos, tornam-se pessoas, que, considerando-se realmente sem valor e sem qualidade, perdem a coragem de se reerguer. Se, por trás do pensamento "eu sou mau", não houver a conscientização de que existe em seu interior a Vida de Deus, realmente venerável, presente em todo o Universo, e não nascer a sensação real de estar sendo vivificado pelo Universo, de nada adiantará.

O sr. Masao Takahashi, porém, lembrando-se da época em que não havia atingido o modo de viver e o estado de espírito atual, confessava que era uma pessoa realmente má. Todavia, segundo as palavras de um adepto da seita Konko que o conhecia naquela época, o sr. Takahashi, embora dissesse de si que não era mau, nã era absolutamente uma pessoa má quando visto pelos outros. O que o sr. Masao tinha era um senso de autocrítica mais severo do que os outros, que o fazia refletir profundamente, à luz do ensinamento, sobre os defeitos que passam despercebidos às demais pessoas, e admitir que era "irremediavelmente mau". Desse modo, mesmo naquela época, as pessoas reverenciavam ocultamente o sr. Masao Takahashi como possuidor de elevadas virtudes, quase um deus vivo.

Todavia, se o sr. Takahashi se tornou paradoxalmente mais respeitável ao reconhecer "eu é que sou mau", isso não se deve simplesmente à conscientização de sua maldade. Ele percebeu que, à luz da Verdade, ou seja, comparado ao "eu identificado com a Verdade", isto é o "eu verdadeiro", ele "era mau". Aquele que pensa "eu sou mau" sem conscientizar que aloja em seu interior o caminho (a Vida) que traspassa todo o Universo, atrofia-se e degenera-se. Mas aquele que pensa "o eu atual é mau" consciente de que há e seu interior a Vida que preenche todo o Universo progride cada vez mais. Esse "eu" da frase "o eu atual é mau" não é "eu verdadeiro" e sim o "eu falso". E o julgamento que se faz desse "eu falso", desmascarando-o diante do "eu verdadeiro", é que constitui a autocrítica "eu sou mau". Nisto está a prova de que a luz do "eu verdadeiro" está resplandecendo. Pensar irrefletidamente "eu sou bom" é convencimento e significa o fim do progresso. Mas ficar somente se condenando - "eu sou mau, eu sou mau" - sem descobrir dentro de si a luz do "eu verdadeiro" que resplandece também fará com que a pessoa se atrofie, e impedirá o seu progresso.

Quando dizemos "eu sou bom", referimo-nos à nossa natureza real, ou seja, ao "eu" que é um com o Universo, que é filho de Deus; e quando dizemos "eu sou mau", referimo-nos ao "eu falso", isto é, ao eu fenomênico. Assim, se nos referimos a nossa natureza real, somos possuidores de virtude infinita, à qual nenhum elogio será exagerado; e se nos referimos ao eu fenomênico, somos seres insuficientes que, por mais insultados e censurados como "irremediavelmente maus", nunca estaremos sendo criticados demais.

Os iniciadores de religião costumam pregar os seus ensinamentos colocando o "eu verdadeiro infinitamente bom" em contraposição ao "eu falso infinitamente mau"; por isso, se não compreendermos bem, poderemos incorrer ou na autonegação depreciativa, considerando-nos "maus até em nossa natureza real", ou no convencimento de que o próprio "eu falso" é o ser mais grandioso do mundo. É nesse momento que surge a Seicho-No-Ie para diferenciar claramente o "eu verdadeiro" do "eu falso".

Como todas as religiões, a seita Konko valoriza muito o sentimento de gratidão; porém, não considera verdadeira a gratidão que não é fundamentada na conscientização do "eu verdadeiro", que é um com o Universo. A gratidão que provém da fé interesseira, ou seja, que existe pelo fato de ter recebido graça material, não é a gratidão pregada pelo fundador da seita Konko. Em sua doutrina, ele diz: "Deixe a desconfiança e descortine o largo caminho Verdade. O seu corpo vive dentro da virtude divina". O que significa: se observar a sua Imagem Verdadeira, perceberá que a virtude divina preenche tanto o Universo como o eu são um só corpo. A seita Konko, habitualmente pregada em suas igrejas, é uma fé que valoriza a graça recebida mas, chegando nesse ponto, é exatamente igual à Seicho-No-Ie.

Segundo consta, o fundador da seita Konko ensina: "Quando for arrancar um nabo, agradeça ao nabo; quando for sentar-se num toco de árvore, agradeça ao toco de árvore". À primeira vista, parece que ele recomenda agradecer pela utilidade material do nabo ou do toco de árvore, dizendo-lhes "obrigado". Mas não é isso. A pessoa que tem clara consciência de que o eu é um com a Vida do Universo, seja ao arrancar o nabo seja ao sentar-se no toco de árvore, reconhece no interior deles a Vida que, tendo a mesma origem na Vida do Universo, é também a sua, e não pode deixar de sentir gratidão.

Sakyamuni dosse na Sutra Mahapari-nirvana que "todos os seres, sem nenhuma exceção, possuem natureza búdica". Pois bem, o sentimento de gratidão que nasce em nós ao reconhecermos em todos os seres a referida natureza búdica, impelindo-nos a reverenciá-los, é que é o sentimento de gratidão no sentido religioso. Se não sentirmos gratidão diante da nossa Imagem Verdadeira, diante da Imagem Verdadeira do Universo e todas as coisas, nossa fé não poderá ser considerada verdadeira e inabalável. Se nos sentimos gratos pelos resultados utilitários no nível fenomênico, essa gratidão está repousada no nível instável, inconsistente como bolha, e não podemos dizer que é a verdadeira gratidão religiosa inabalável.

Mesmo o sr. Masao Takahashi, que após repetir "eu sou mau, eu sou mau" teve ampliado o seu mundo e o seu coração tornou-se mais generoso, diz, elogiando o fundador da seita Konko: "Ele sentiu gratidão a si próprio, passou a reverenciar a si próprio, e denominou a si mesmo 'Grande Deus Vido Konko'. Como ele sente gratidão a si próprio, sente-a também em relação a todo o Universo. Ao ver a montanha, sente gratidão à montanha; ao ver as pessoas, sente gratidão às pessoas; ao ver a esposa, sente gratidão à esposa; ao ver os pais, sente gratidão aos pais. Por isso, o mestre deu à sua esposa o título divino de 'Isshi Taijin', e a cada um dos filhos também deu nomes divinos, fazendo o mesmo com as pessoas que vêm ao templo".

Em resumo, a gratidão verdadeiramente religiosa é alcançada quando a pessoa adquire consciência de que a sua Imagem Verdadeira é "filha de Deus", e, estando ela manifestada, reconhece a Imagem Verdadeira (a natureza búdica) de todas as coisas do Universo, não podendo deixar de juntar as mãos em reverência a si próprio e a todas as coisas do Universo. Somente quando a pessoa atinge este ponto é que se torna possível experimentar a gratidão absoluta que está acima de considerações relativistas, tais como a de se sentir agradecido por estar agraciado de tantas bençãos não obstante ser uma pessoa sem valor.

Na Seicho-No-Ie não se oferecem títulos divinos aos adeptos, mas proporciona-se a cada um deles a valiosa conscientização de que são "filhos de Deus", de que a sua natureza real é Deus. A partir disso desenvolve-se a gratidão em nível mais elevado e também o mundo fenomênico enche-se de gratidão, a doença se cura e a sorte melhora espontaneamente. "Como ele sente gratidão a si mesmo, sente-a também em relação a todo Universo" - ao preencher o cotidiano com esse espírito de gratidão, estará vivificando no dia-a-dia a Imagem Verdadeira livre da influência do mundo exterior. Por isso, o exercício da gratidão é a mais importante prática complementar da Meditação Shinsokan.

"O exercício da gratidão é também a prática da bondade. O pensamento de que dedicando-se aos outros a força vital diminui não passa de supertição. Há um adepto da Seicho-No-Ie que sofre de deslocamento da retina, que na oftalmologia é considerado de cura muito difícil, e quando lê as letras do livro sagrado A Verdade da Vida para si mesmo não consegue ir além de uma página e meia, tamanha é a dor que sente no fundo dos olhos e na região occipital. Porém, o espantoso é que, quando lê para os outros com a intenção de curar-lhes a doença, fica momentaneamente curado de seu mal ocular e não sente dor nos olhos nem cansaço algum após a leitura, mesmo tendo lido seguidamente quarenta a cinquenta páginas.

É muito bom ler A Verdade da Vida para seu próprio despertar,mas melhor ainda será ler para o despertar de outrem. Quando se pratica em benefício dos outros, manifesta-se a força vital infinita que transcende o 'eu' e os 'outros'; atinge-se a compreensão infinita de que 'eu' e os 'outros' somos um só corpo. Se ainda há manifestação de doença é porque sentimentos egoístas se misturam à ação. Se a pessoa ficar pensando em salvar o outro só depois de curar a sua própria doença, não haverá oportunidade para isso. Enquanto ela estiver salvando os outros a sua doença está curada. Se dedicar-me eternamente a salvar os outros, não haverá doença eternamente.


(Do livro A Verdade da Vida, vol. 08; pgs. 185 a 199)

 

sábado, dezembro 29, 2012

A Divindade revelada pelo Silêncio

Dárcio Dezolt
 
 
Exatamente onde você agora está, está Deus consciente de ser você. Exatamente onde você agora está, está o Reino de Deus sendo o que é a  Realidade permanente. Este cenário paradisíaco jamais é tocado por nada! É o que a Biblia cita com sendo "o que era, o que é, e o que há de vir".

Nenhum estudo e nenhuma meditação mudarão o que é a Verdade! Quanto menos você acreditar que já não é Deus, mais de Deus sendo você irá discernir. Quanto mais da natureza de Deus você aceitar ser a sua atual natureza, mais irá discernir que "Deus é você" são um.

"Prática do Silêncio" é a "Prática da Verdade" que já É! O reconhecimento de que "tudo" é unicamente "Deus sendo", Deus Se evidenciando, Deus simplesmente sendo Deus! O Silêncio, portanto, revela o Universo infinito Se manifestando sozinho, de modo pleno, perfeito e permanente; o Silêncio revela a Divindade sendo o seu Eu; o Silêncio traduz na prática a recomendação bíblica: "Aquieta-te, e sabe: Eu Sou Deus!"
 
 
 

terça-feira, dezembro 25, 2012

Por que Meditar?

Deina
 
 
 
1 - Meditar para descobrir o ser maravilhoso que vive em sua interioridade.

2 - Meditar para sentir o amor, a serenidade e a alegria interior. 
 
3 - Meditar para estar em harmonia consigo mesmo, com os outros e poder assim abraçar o universo.

4 - Meditar para alinhar seus chacras e construir seu eixo de junção.

5 - Meditar para poder voar rumo à Fonte, a sua essência divina…

6 - Meditar para fazer pulsar em seu ser a vibração pura do espírito.

7 - Meditar para ativar seu corpo de energia e penetrar na consciência cósmica.

8 - Meditar para estar em comunhão com as celestes figuras que velam sobre você.

9 - Meditar para encontrar seu ser de luz e sua verdadeira natureza espiritual.

10 - Meditar para viver a iluminação, iluminar-se para poder iluminar o mundo…
 
Namastê!
 
 

sábado, dezembro 22, 2012

Orar é Atestar a Perfeição Já Presente!

 Dárcio Dezolt
 
“Por isso, vos digo: tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido e ser-vos-á dado” (Marcos 11; 24) 
  

Antes de qualquer outra coisa, quando contemplamos a Verdade partimos da aceitação incondicional de que DEUS É TUDO! O Universo da Realidade divina está consumado, e NELE, realmente,  “tudo está feito” (Apoc. 21: 6).

Estando “tudo feito”, que sentido tem a oração? Toda oração correta é nosso atestado/constatação de que as obras de Deus são permanentes, e perfeitas sempre! Se formos dar crédito aos “sentidos humanos”,  esta Verdade gloriosa parecerá utópica ou mero “sonho” de visionário! A suposta “mente humana” unicamente capta “miragens”, em que se alternam cenas agradáveis e cenas desagradáveis. Orar é estarmos conscientes da natureza ilusória de AMBAS, dos quadros bons e dos quadros maus, para nos vermos livres para “contemplar” o permanente, o “tudo que já está feito”, a Verdade imutável!
 
Se isto for logo percebido, desaparecerá a tendência comum de se acreditar que “oração é petição”, ou no sentido de que Deus nos ouça para “corrigir” uma situação maligna, ou no sentido de que nos conservemos “esperançosos” de que nosso pedido “seja ouvido”. DEUS não muda; e não há, em Deus, nenhuma situação que requeira mudança, cura ou melhoria! Desse modo, partir de DEUS COMO TUDO, contemplando a Verdade de que TUDO ESTÁ FEITO, discernindo a Existência acima das “miragens do bem e do mal”, nisto consiste a oração verdadeira! Este é o sentido das palavras de Jesus, ao  dizer: “Tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido e ser-vos-á dado”.  Sempre nos esteve sendo dado, e isto é constatável mediante o nosso integral reconhecimento.

Assim como jamais esteve faltando “parte da montanha” em dias de neblina, jamais está nos faltando algo em “dias das aparências”! Estar certo da “presença da montanha incólume”, apesar do nevoeiro, é “atestar a verdade sobre ela”. Quando você compreender que “as aparências” são meramente  “aparências”, como era a  aparência de “montanha incompleta”, nunca mais orará para que “elas se tornem completas”; saberá que  ILUSÃO não afeta a REALIDADE. Saberá, em vista disso, que  ORAR É ATESTAR AS OBRAS PERFEITAS DE DEUS!

Em vez de “orar para Deus consertar a montanha”, contemple-a INTEIRA no âmago da “neblina”; assim estará crendo que “já a recebeu”. Em vez de “orar para Deus consertar sua saúde”, contemple-a INTEIRA no âmago da “aparência”; assim estará crendo que “já a recebeu”.  Este é o mecanismo da prece verdadeira! Empregue-o  frente a quaisquer que possam ser as “aparências” de imperfeição!
 
ORAR É NÃO SE DEIXAR ARRASTAR PELAS APARÊNCIAS; É ATESTAR A PERFEIÇÃO PERMANENTE E JÁ PRESENTE DE TUDO QUANTO DEUS FAZ!
 
 

quarta-feira, dezembro 19, 2012

O Salmo do Bom Pastor - 4/4

Joel S. Goldsmith
 
 
O SALMO DO BOM PASTOR
(A confiança de Davi na Graça de Deus)
 
"O Senhor é meu Pastor: nada me faltará!
Em verdes prados faz-me repousar.
Ele me conduz a águas refrescantes;
reconforta minh'alma;
e guia-me pelo caminho da retidão,
por amor de Seu nome.
Ainda que eu andasse por um vale tenebroso,
não temeria mal algum,
porque Ele está comigo!
Seu bordão e sua vara me confortam.
Ele prepara uma mesa perante mim,
à vista de meus adversários.
Unge com óleo a minha cabeça;
e meu cálice transborda!
Certamente que o amor e a graça
me seguirão todos os dias de minha vida
e habitarei na casa do Senhor para sempre!"


ENTRE NO SILÊNCIO
 
Silêncio é poder. Silêncio é atividade sanadora na consciência individual. O silêncio é o princípio creativo de toda existência.
 
Neste silêncio vocês se tornam receptivos à VOZ INTERNA, a Voz do Ser Interior. E quando a Verdade Se expressar ao ouvido que escuta, vocês terão consciência da Influência Sanadora, com todos os sinais de que vai acompanhada.
 
A receptividade que vocês tenham ao Reino de Deus interno; aquilo que vocês tiverem em consciência de Deus, de percepção d'Ele, de conhecimento d'Ele, constitui a atmosfera sanadora.
 
Até este momento a tarefa do estudante consistiu em conseguir a harmonia de sua experiência, através de declarações ou afirmações da Verdade; leitura ou citação da Verdade. D'ora avante ele terá de elevar sua consciência até o ponto em que, contínua e conscientemente poderá  escutar a Verdade em seu íntimo. Terá de aprender a real natureza do Silêncio, do sossego e da quietude.
 
É fácil compreender porque os sábios da antigüidade ensinaram:  "Aquieta-te e sabe que eu sou Deus". Esta quietude proclama a Presença de Deus, "mais perto do que a respiração; mais próxima do que os pés e mãos". Isso mostra que nem o homem, nem as circunstâncias têm poder sobre as coisas que dizem respeito a vocês, pois o que se chama de EU, dentro década pessoa, é Deus, é poder, é Presença. Agora também sabemos porque nunca poderemos ser Deus: é que Deus está inseparavelmente ligado a nosso próprio ser. Tudo isto, só o silêncio no-lo revelar.
 
Recordem sempre:não são os seus conceitos da verdade nem o que sobre ela tenham lido, que formam o poder restaurador da Harmonia de suas vidas. Não: só o que lhes for revelado em “Sossego e confiança” porque essa revelação é Deus, que Se expressa como restaurador de harmonia em sua vida. Não são os pensamentos que vocês possam conceber senão as idéias que lhes são reveladas no íntimo de seu ser – que constituem orientação e sabedoria. 
 
Deus reina em seus corpos e em seus assuntos e circunstâncias externas através da consciência da Verdade que vocês cultivam pela receptividade interna – e não os pensamentos acerca da Verdade que vocês declaram intelectualmente.
 
A atividade da Verdade, na consciência de vocês, é a Luz que dissipa as trevas do sentido humano. Não basta o que vocês pensam acerca da Verdade: é preciso que a própria Verdade lhes ensine. Não é o que vocês afirmam à Mente Divina o que importa. Mas o que Ele revela a vocês. Isto é o que se chama Silêncio. Isto é o que se chama Poder.
 
Em quietude e confiança, em sossego e Silêncio, o Amor revela a sua Presença consoladora e nos assegura: “Por baixo estão os braços eternos”, sustentando-nos e apoiando-nos, mesmo em tempos de provas e tribulações.
 
O título do Salmo 22 ou 23 é: “A confiança de Davi na Graça de Deus”. Vocês também podem sentir esta serena confiança, ao ler: “O Senhor é o meu Pastor. Nada me faltará”. Aqui não há petição nem súplica. Sobretudo, não há dúvida ou temor. Já que o Senhor é o Pastor de cada um de nós, que nos poderá faltar?
 
“Em verdes prados faz-me repousar. Ele me conduz a águas refrescantes (A paz que sobrepassa todo humano entendimento me envolve quando tomo consciência de que não posso escapar ao meu bem, já que Deus não só me proporciona verdes prados como também me faz neles repousar. Deus não apenas me dá águas refrescantes, senão que também a elas me conduz). 
 
"Ele reconforta minh'alma". "Embora minh'alma se tenha tornado vermelha de pecados e inquieta por enfermidades", Ele m'a conforta, guiando-me pelo caminho da retidão, por amor de Seu Nome, (e embora eu seja ainda acossado por desejos, Ele me aparta do pecado e leva-me ao caminho da retidão, liberando-me da enfermidade para o estado de saúde.)
 
"Ainda que eu andasse por um vale tenebroso, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo. Seu bordão e Seu cajado me confortam". A confiança de Davi na graça de Deus é sustentada, mesmo quando ele percorre o tenebroso vale, pois nem ali ele sente temor, posto que o Senhor está com ele. Oh Senhor! Possa também eu repousar em confiança e destemer mesmo ao caminhar pelo vale tenebroso, na segurança de que sempre estás comigo!
 
Só conhecemos medo quando estamos sob a crença de que Deus nos abandonou em meio às discórdias e inarmonias. Jamais temeríamos, mesmo que nosso pecado fosse vermelho escarlate, ainda que estivéssemos sofrendo grave enfermidade, se chegássemos a experienciar a mesma confiança de Davi. Ele conservou essa confiança, mesmo sob sérias tribulações que chamou de "passar por um vale tenebroso". Por que? Porque sabia que Deus estava com ele. Deixemos, pois, que o Silêncio Bem Amado desça também sobre nós. Essa experiência depende de tomarmos consciência, com todo o nosso ser, de que "Deus está conosco".
 
"Seu bordão e Seu cajado me confortam". (A graça de Deus se manifesta sempre na forma de um bastão, cajado, alimento ou água, ao nível humano. Esta graça expressa como o meu bem, me conforta. Esta certeza da divina Presença, que sempre me sustenta e protege. . . dá-me consolo.)
 
"Preparas uma mesa perante mim, à vista de meus adversários. Unges com óleo a minha cabeça; meu cálice transborda". (A graça de Deus prevalece onde a carência e a limitação me ameaçam. Minh'alma se plenifica de inspiração. Meu coração transborda de gozo e reconhecimento. Esta evidência de abundância, através da Graça, me cumula, me satisfaz e meu coração canta de gozo em Sua Presença).
 
"Certamente que o amor e a graça me seguirão todos os dias de minha vida: e habitarei na casa do Senhor para sempre! (Notem o ânimo positivo e confiante de Davi ao cantar: "Certamente que o amor e a graça me seguirão". Como ele se sente seguro da eternidade da Graça de Deus, ao declarar que este amor e graça "me seguirão todos os dias de minha vida"!  Que bem-aventurada segurança que ele tem da Onipresença: "todos os dias de minha vida". E, por decorrência, habitarei nesta consciência de Deus para sempre).
 
"Porque as primeiras coisas passaram". "Eis que faço novas todas as coisas". "Havendo já sido cego, agora vejo", não "por espelho, obscuramente", senão "face a face". Sim, ainda em minha carne, vi a Deus. As montanhas se foram e não há mais horizonte, senão a luz do céu que faz ver todas as coisas em profundidade e clareza.
 
De há muito te venho buscando. Oh Jerusalém, somente agora meus peregrinos pés tocaram o terreno do céu. Não há mais lugares baldios. Diante de mim estão as terras férteis, tais como jamais sonhei. Oh! verdadeiramente "ali  não  haverá  noite".  Sua glória brilha como o sol de meio-dia. Não há necessidade de luz porque Deus é a luz ali.
 
Sento-me, para repousar. À sombra das árvores descanso e encontro minha paz, em Ti.  Em Tua Graça está a paz, oh Senhor' Estava fatigado no mundo mas em Ti encontrei descanso. Encontrava-me perdido no denso emaranhado das palavras; sentia can saco e temor ante a letra da Verdade, mas só em Teu espírito está a sombra, a água e o descanso.
 
Quão longe de Teu espírito andei vagando. Oh, Terno e Fiel Amigo, quão longe, quão longe! Quão profundamente havia eu mergulhado no labirinto de palavras: palavras, palavras! 
 
Mas agora regressei e em Teu Espírito encontro vida, paz, fortaleza. Teu Espírito é o Pão da Vida. Tendo-o achado, jamais sentirei fome. Teu Espírito é fonte de água viva. Bebendo-a, jamais sentirei sede!
 
Como cansado peregrino te vinha buscando. Agora o cansaço se desvaneceu. Teu Espírito me deu refúgio, em cuja refrescante sombra agora me ponho a repousar. Minh'alma se sente inundada de paz. Tua Presença me plenifica de paz. Teu amor me ofereceu um Festim espiritual. Sim: Teu Espírito é lugar de repouso; oásis no deserto da letra da Verdade.
 
Em Ti me isolarei do vozerio do mundo dos argumentos. Em Tua Consciência, as nauseabundas conversações dos homens calarão. Dividem as Tuas vestiduras, oh Senhor da Paz! Divergem e disputam sobre Tuas palavras, a ponto de elas se tornarem meras palavras e não mais a Tua Palavra.
    
Como mendigo de espírito,, venho buscando um novo céu e uma nova terra. Tu me fizeste herdeiro de tudo. Como, então, posso aproximar-te de Ti, senão em silêncio? Como posso honrar-Te, senão através da meditação de meu coração?
 
Não buscas louvores nem ação de graças, mas aceitas o coração compreensivo. Guardarei silêncio diante de Ti. Meu Espírito, minh'alma e meu Silêncio serão tua Morada. Teu Espírito plenificará minha meditação; encher-me-á de graça e assim me conservará. Oh! Terno e Fiel  Amigo: quão doce e afável é o lar que em Ti encontrei!
 
 

segunda-feira, dezembro 17, 2012

O Salmo do Bom Pastor - 3/4

Joel S. Goldsmith
 
 
O SALMO DO BOM PASTOR
(A confiança de Davi na Graça de Deus)
 
"O Senhor é meu Pastor: nada me faltará!
Em verdes prados faz-me repousar.
Ele me conduz a águas refrescantes;
reconforta minh'alma;
e guia-me pelo caminho da retidão,
por amor de Seu nome.
Ainda que eu andasse por um vale tenebroso,
não temeria mal algum,
porque Ele está comigo!
Seu bordão e sua vara me confortam.
Ele prepara uma mesa perante mim,
à vista de meus adversários.
Unge com óleo a minha cabeça;
meu cálice transborda!
Certamente que o amor e a graça
me seguirão todos os dias de minha vida
e habitarei na casa do Senhor para sempre!"
 
 
SE DESEJAMOS ORAR...

Ao acordarmos pela manhã, devemos reconhecer a presença e o poder de Deus, mantendo-O constantemente conosco, através de cada experiência, durante todo o dia.

Recordem estes passos da Bíblia: "Tu guardarás em completa paz aquele cujos pensamentos permanecem em Ti"; "Reconhece-O em todas as tuas atividades e Ele te proporcionará paz"; "Na quietude e confiança estará a vossa fortaleza"; "E habitarei na casa do Senhor para sempre". Lembrem o primeiro versículo do Salmo 90 (ou 91): "Aquele que habita no esconderijo secreto do Altíssimo". Este Salmo relata a seguir, as coisas horríveis que não chegariam à nossa morada, se esta estivesse ao abrigo do Altíssimo.

Eis neste primeiro verso, novamente, a condição de habitar nEle, como no Salmo do bom Pastor: "e habitarei na casa do Senhor para sempre".

Se vocês estão vivendo na consciência de Deus constantemente, poderão também dizer: "O Senhor é meu Pastor. Nada me faltará. Ele me faz repousar em verdes prados e me conduz a águas refrescantes"...

Mas se vocês NÃO estão habitando (e habitar não é entrar e sair depois de alguns momentos) na presença de Deus, certamente não poderão demonstrar as promessas que se encontram no resto dos salmos 22 e 90. Aqui de novo aparece o conceito ou idéia mais elevada da oração, que é o reconhecimento de Deus como onipresença  e  onipotência;  o  reconhecimento  de Deus como presença constante, sempre disponível; o reconhecimento de Deus como a Lei e a Luz de nosso ser, MAS sem o intento de obrigá-Lo a nada disso.

Eis, de fato, o mais elevado conceito de oração: este constante habitar, sabendo-se permanecer na presença de Deus.

Não mais necessitamos de perguntar: "Qual a oração que farei hoje?". Nada mais há a rezar quando dizemos: "e habitarei na casa do Senhor para sempre".

Outra constatação parecida se encontra no salmo 26: "O Senhor é minha luz e meu socorro". Temer o que, então? O Senhor é a fortaleza de minha vida. Quem pode causar-me temor? Se um exército acampasse contra mim, meu coração não temeria. E embora me declare guerra, terei confiança. Uma só coisa pedi ao Senhor; isto sim, eu reclamo: HABITAR na casa d'Ele para sempre!

Guardem a idéia de habitar, viver, morar. A idéia expressa por Paulo: "Em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser". Permanecer na consciência de Deus é a real oração. Não há mais elevada forma de prece porque, havendo alcançado esta percepção e constante sintonia (união consciente com Deus) vocês poderão voltar ao Salmo do bom Pastor, compreendendo por que não é preciso procurar Deus nem pedir-Lhe algo. Bastará constatar: 

"Por que tenho de procurá-Lo ou pedir-Lhe algo? 'O Senhor é meu Pastor. Nada me faltará'. Ele me faz repousar. Ele fez de mim Sua morada, como eu d'Ele fiz a minha."

Esta oração, esta compreensão da prece, é a que satisfaz todas as nossas necessidades. É o tipo de prece que nos assegura harmonia definitiva. Não há um Deus que esteja sentado, à espera de nossas preces corretas ou incorretas. Não existe um Deus que de repente resolva conceder-nos algo que nos vinha negando.

Como o Senhor é nosso pastor, é impossível que algo nos venha a faltar. Também é impossível que Deus nos prive de um bem merecido; que nos negue proteção e segurança. Mas existe um preço, uma condição, que encontramos, quer nos ensinamentos de Cristo, quer nos do Velho Testamento. Esse preço é: "Habitar no esconderijo secreto do Altíssimo"; viver constantemente na consciência de Deus. Essa é a resposta.

Uma corroboração deste ponto se encontra no capítulo 32 do 2.° livro de Crônicas: "Sede fortes e tende ânimo. Não temais nem desmaieis ante o rei da Assíria nem ante à multidão que o segue, porque maior é O que está conosco, do que o que está com ele".

O trecho não se assemelha às orações comuns; não está implorando por Deus nem Lhe pede nada. Há simplesmente uma declaração, uma constatação da verdade.

"Com ele está um braço de carne, mas conosco está o braço do Senhor  nosso Deus para ajudar-nos e para combater nossos combates".

Seguem-se as palavras mais maravilhosas de todas as Escrituras: "E o povo teve confiança nas palavras de Ezequias". Não tiveram confiança em suas armas e recursos bélicos: confiaram nas palavras de Ezequias. Que palavras eram essas? "Não temais, o braço de carne não vos pode ferir porque temos um Deus".

Só quando vivemos constantemente na segurança da presença de Deus é que podemos dizer, face a qualquer desafio: "Não temerei mal algum, ainda que eu caminhe por um vale tenebroso, porque Deus está comigo". Que importa a experiência a defrontar, se estou seguro de que Deus está comigo?

É importante estar sempre em guarda contra as sugestões negativas que nos chegam pelo temor de que "talvez o Senhor não esteja conosco". Em nossas experiências pessoais, muitas vezes chegamos a descrer de todos e até de Deus, por falta de conhecimento da Verdade. 

Porém, basta que nos voltemos em fé ao próprio íntimo, para não recear andar pelo vale tenebroso, das carências, das limitações. Não recear sequer a presença dos inimigos.

"Preparas uma mesa perante mim, à vista de meus inimigos. Ainda que eu andasse por um vale tenebroso, não temeria mal algum porque Deus está comigo".

Se vocês querem alcançar o mais elevado conceito de oração, devem deixar de orar no sentido comum das palavras. Façam de suas orações uma contínua realização da presença e do poder de Deus, em todos os caminhos. Saibam, durante as vinte e quatro horas do dia, que Deus está guiando e dirigindo cada um de seus pensamentos, palavras e ações.  Vivam na constante lembrança e presença do querido Pai.
 
Cont...
 

sábado, dezembro 15, 2012

O Salmo do Bom Pastor - 2/4

Joel S. Goldsmith
 

O SALMO DO BOM PASTOR
(A confiança de Davi na Graça de Deus)
 
"O Senhor é meu Pastor: nada me faltará!
Em verdes prados faz-me repousar.
Ele me conduz a águas refrescantes;
reconforta minh'alma;
e guia-me pelo caminho da retidão,
por amor de Seu nome.
Ainda que eu andasse por um vale tenebroso,
não temeria mal algum,
porque Ele está comigo!
Seu bordão e sua vara me confortam.
Ele prepara uma mesa perante mim,
à vista de meus adversários.
Unge com óleo a minha cabeça;
meu cálice transborda!
Certamente que o amor e a graça
me seguirão todos os dias de minha vida
e habitarei na casa do Senhor para sempre!"


INTERPRETAÇÃO PRÁTICA DO SALMO DO BOM PASTOR
                      
Medite sobre o Salmo do bom Pastor. É uma forma de oração que se harmoniza, da maneira mais bela, com a idéia que as atuais Escolas da Verdade têm acerca da prece.
 
"O  SENHOR  É  O  MEU  PASTOR. NADA ME FALTARÁ". - Essa declaração não leva pedido de coisa alguma a Deus. Não ensina a procurar Deus para  suplicar-Lhe algo. Não há, sequer, a expectativa de um bem determinado procedente de Deus. Há, sim, uma positiva declaração de que "O Senhor é o meu Pastor", do que, naturalmente se infere que "Nada me faltará".
 
Pense nesta forma de oração. "O Senhor é o meu Pastor. Nada me faltará". Não há busca de Deus nem intento de a Ele chegar. Não há petição antiquada nem afirmação em novo estilo. Apenas encerra o reconhecimento de que Deus É. E já que Deus é o MEU Pastor, meu Pastor individual, meu guia, meu protetor, meu guardião, Aquele que me sustem e supre - logicamente "Nada me faltará". Não há qualquer dúvida: há confiança, há segurança de que "Nada me faltará".
 
Não há busca de provisão. Não se deseja demonstrar abundância. Há, só, a tranqüila e a clara segurança de que "Nada me faltará". Compreenda: nesta convicção é totalmente impossível necessitar-se de algo!
 
“EM VERDES PRADOS FAZ-ME REPOUSAR. ELE ME CONDUZ A ÁGUAS REFRESCANTES". De novo, aqui, não há busca de Deus, de forma alguma Não é dito: Ele me prove de verdes prados, senão que (notem bem) "Ele me faz repousar" neles. Não se trata de escolher se se quer ou não repousar em verdes prados e tampouco se fala de castigar-nos por nossos pecados, expulsando-nos dos verdes prados. Simplesmente: "Em verdes prados faz-me repousar".
 
Você deve sentir uma espécie de alívio ao compreender que a responsabilidade de se dirigir, de se manter ou de encontrar o correto modo de orar, não depende mais de você.
 
"O SENHOR É O MEU PASTOR. NADA ME FALTARÁ. EM VERDES PRADOS FAZ-ME REPOUSAR. ELE ME CONDUZ A ÁGUAS REFRESCANTES E RECONFORTA MINH'ALMA; GUIA-ME PELO CAMINHO DA RETIDÃO, POR AMOR DE SEU NOME".
 
Observe que, do princípio ao fim, não há intenção de ganhar o favor de Deus ou buscar-Lhe a bondade. Não há qualquer intento de alcançá-lo. Há, só, uma constante e confiada segurança.
 
"AINDA QUE EU ANDASSE POR UM VALE TENEBROSO, NÃO TEMERIA MAL ALGUM, PORQUE ELE ESTÁ COMIGO". Eis, verdadeiramente, um milagre de oração. Em meio às provas e tribulações, enfermidades sérias, problemas familiares, escassez, limitação, perda de fortuna, pode parecer que estamos separados de Deus e, de algum modo, desassistidos por Ele. Em decorrência, somos levados a buscá-lo de novo, e aqui está uma conclusão equivocada!      
 
"Ainda que eu andasse por um vale tenebroso, não temeria mal algum, porque Ele está comigo". Embora atravessasse um vale tenebroso - diz o salmista - nada haveria a temer. Isto não é verdade em relação ao ser humano em geral: eles apalpam esse vale... ou a escassez e limitação ou qualquer outra coisa errada...  e começam a temer. Por que temem? Por uma só razão: falta-lhes a suficiente percepção de que Deus está com eles.
 
Embora o Salmo seja antigo, eis, nele, um  conceito inteiramente novo  de oração. Não se está  reclamando  a  companhia  de Deus na travessia do  vale  tenebroso; nem sequer se está procurando alcançá-lo. Nem estamos procurando calar nossos temores, já que a companhia de Deus não nos evitou essa tenebrosa travessia. Mas pelo menos, embora sejamos obrigados a percorrê-lo, esta declaração nos diz que Ele nos acompanhará nessa travessia: "Ele está comigo".
 
Se você tão-só tomasse esta declaração e a compreendesse!...  nada  mais  lhe faria frente: nem vale atual cheio de trevas, nem prova particular alguma que o desafiasse porque V. teria a consciência bem segura de que, em qualquer circunstância, Deus estaria EM E com VOCÊ, na travessia da prova. 
 
No livro "Interpretação Espiritual das Escrituras" você encontrará a história de José e seus irmãos. José, o filho mimado, o favorito de seu pai. José esperava andar pelo vale da vida com muita facilidade, calma e tranqüilamente, sem provas nem tribulações, talvez sem grandes vitórias também. Para que vitórias se ele era o beneficiado da grande fortuna do pai, em quem tinha assegurado favoritismo? Mas por maldade  e  ciúmes  de  seus irmãos, José foi lançado em um poço e depois foi tirado de lá para ser assassinado ou vendido como escravo (isto era considerado pior do que a morte).
 
Vendido como escravo, José foi parar no Egito, onde passou da escravidão a uma posição honrosa, como responsável da casa do governador. Estava já quase satisfeito consigo mesmo porque percebe que Deus está com ele. Porém, repentinamente é levado à prisão. Alegou inocência mas, embora inocente, está preso e, segundo as aparências, novamente sem a presença de Deus, ainda mais que ficou vários anos na masmorra.
 
Todavia, Deus uma vez mais revela que o não abandonou: José decifra o sonho do Faraó e, tirado da prisão, torna-se o governador virtual do Egito.
 
Então seus irmãos vieram para o Egito. Eram eles que o haviam jogado no poço, que o haviam vendido como escravo e provocado todos os problemas. Agora vinham em busca de favores. Necessitavam de alimento e José o tinha armazenado "nos tempos das vacas gordas". 
 
Gentilmente lhes proveu alimento. Quando os irmãos procuram desculpar-se por suas ações e exprimir seu arrependimento, José, à semelhança de Davi, expressa estes pensamentos: "Não fostes vós que me fizestes isso: Deus o fez. Foi Ele que me enviou antes de vós ao Egito".
 
Estas palavras  de  José  encerram  um elevado conceito de oração. É uma prece que bem vale recordar. Não é o demônio; não é a mente carnal; não é o oposto a Deus que traz ao homem as discórdias e enfermidades. É o próprio Deus que acompanha o homem em suas provas e tentações para conduzi-lo a alguma vitória maior, em lugar de abandoná-lo a si mesmo para ser apenas um ser humano com saúde e fortuna, sem nada realizar de expressivo em seus setenta ou mais anos de vida, neste plano.
 
Em geral o homem realiza muito pouco das coisas essenciais que lhe cabe, como missão na Terra. Limita-se a ganhar a vida e sustentar uma família. No que se refere a uma contribuição real para manifestar a glória de Deus, ao fim e ao cabo de uma vida as pessoas geralmente mostram muito pouco.
 
Saibam disto: trazemos uma ordem de produzir frutos espirituais, que revelem a obra de Deus, que glorifiquem a obra de Deus. Se vamos contentar-nos em permanecer na Terra em boa saúde, acumulando bens, então estamos bem longe de nosso verdadeiro destino.
 
 José reconheceu o que um dia também vocês reconhecerão: a inveja, os ciúmes, a maldade, o ódio, a infecção, o contágio, as depressões,transformações, governos cambiantes - não podem trazer-lhes discórdias nem falta de harmonia. Só Deus pode levá-los a compreender a verdadeira identidade, o homem interno, de um ou de outro modo. Ainda que vocês tenham de passar, simbolicamente, pelo fogo ardente (companheiros de Daniel), ou atravessar o deserto de quarenta anos (Moisés), ou ficar na cruz com Jesus (seja qual for sua prova ou tribulação - e na Bíblia as há de todo tipo), saibam que Deus os acompanha sempre em cada experiência.
 
Se Deus não estivesse na cruz, acompanhando Jesus, não teria havido ressurreição nem ascensão. Só o poder de Deus, na consciência de Jesus, lhe conferiu impulso para a ressurreição.
 
Se não houvesse Deus na travessia de quarenta anos pelo deserto, com Moisés, não teria havido a entrada na Terra Prometida e nem libertação para os hebreus.
 
Se Deus não houvesse estado com José, ele jamais passaria de escravo a virtual governador do Egito, que era, então, um grande país.
 
Qualquer seja o problema que vocês estejam a enfrentar, procurem tomar consciência disto: vocês não o estão defrontando sozinhos. Mesmo que se trate de um vale tenebroso, não há temer mal algum porque Deus está com vocês. Considerem este alto conceito de oração.
 
"SEU BORDÃO E SEU CAJADO ME CONFORTAM" - Seja o que for que lhes constitua o simbólico vale tenebroso, há um cajado que lhes serve de apoio para se conservarem de fronte erguida, a caminhar em linha reta. Há certa forma de disciplina. Há certo ensinamento. Há certo modo de ajuda espiritual que nos ilumina e fortalece. compreendam isto e alcancem uma total convicção desta verdade. Só assim poderão agir confiantemente.
 
Elias quase esqueceu isto quando foi alimentado pelo corvo no deserto, e pela viúva, e encontrou tortas cozidas sobre as pedras. Quase olvidou que era a presença de Deus que lhe proporcionava estas coisas. Só isso - tudo o que era necessário para que ele atravessasse o seu vale tenebroso com êxito e finalmente chegasse àquele lugar em que Deus lhe mostra que havia reservado uma congregação de sete mil homens que não haviam dobrado seus joelhos a Baal.
 
 Para vocês há também uma congregação de sete mil. Para vocês também há uma missão espiritual, um destino espiritual na Terra e uma prova ou teste particular. É possível que vocês estejam passando pela tribulação ou uma série delas, mas estejam seguros que elas constituem uma ponte que os leva à demonstração final: algo que nunca viria sem esse teste ou prova particular.
 
Este é o caminho da cruz. Mas é também o caminho da coroa do triunfo. Notem que a vitória vem muito depois da crucifixão. Primeiramente vêm as crucificações (e muitas delas). Por tal razão, a pessoa que está entrando no caminho espiritual deve compreender que "Não vim trazer a paz, mas uma espada... para separar famílias", para acabar com tudo o que lhes anestesie de excessivo conforto, tranqüilidade e segurança.
 
Não pode haver progresso espiritual enquanto vocês não tenham vencido o mundo; enquanto estiverem fazendo uso da Verdade apenas para aumentar seus recursos humanos e bens; para assegurar uma boa renda semanal; para remodelar suas casas; para adquirir um carro de último tipo. Enquanto estiverem nisso, vocês não terão sequer apalpado o caminho espiritual.
 
Em cada caso, na história dos profetas hebreus, vocês notarão que a missão deles não era pessoal; não se referia unicamente a bens humanos nem acrescentar recursos materiais: era sempre uma missão espiritual.
 
O mesmo se aplica a vocês. Vocês têm uma missão espiritual, tenham ou não consciência dela, neste momento. Todos têm uma missão espiritual e todos, algum dia, a encontrarão.
 
Uma vez que vocês tenham ingressado no caminho espiritual, é impossível retornar Vocês poderão tentar o retorno, ocasionalmente, mas notarão que tudo os leva e força a prosseguir a caminhada, já que "Tu estás comigo".
 
"Ainda que eu andasse por um vale tenebroso, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo". Então é dito: "PREPARAS UMA MESA PERANTE MIM, À VISTA DE MEUS ADVERSÁRIOS. UNGES COM ÓLEO A MINHA CABEÇA; MEU CÁLICE TRANSBORDA".
 
De novo, aqui, encontramos a simples declaração daquilo que é: "Preparas uma mesa perante mim". Não há qualquer desejo de que isto se realize, nenhuma petição, nem busca de Deus: simplesmente uma declaração, uma constatação. Eis uma oração elevada.
 
"Preparas uma mesa perante mim, à vista de meus adversários. Unges com óleo a minha cabeça; meu cálice transborda".
 
E o arremate: "CERTAMENTE QUE O AMOR E A GRAÇA ME SEGUIRÃO TODOS OS DIAS DE MINHA VIDA: E HABITAREI NA CASA DO SENHOR PARA SEMPRE!"
   
Notem com que assegurada confiança é dito: "certamente que o amor e a graça. . ."
   
Eis aqui outro pensamento importante: "todos os dias da minha vida".
   
Dado que Deus atua hoje, não pode deixar de agir amanhã e sempre. Tomem consciência disto para alcançarem um dos mais elevados conceitos de oração. Procurem reconhecer que, em qualquer momento de suas experiências, vocês podem comprovar a eficácia da oração (isto é, serem sanados por meios espirituais). Procurem reconhecer que em qualquer circunstância da vida vocês podem ter uma evidência do poder e da presença de Deus. Certamente... quando chegarem a este reconhecimento, a esta vivência, nunca mais terão motivos de preocupação, porque tão-só esta evidência da divina Presença será suficiente para fazê-los dizer: "Certamente que o amor e a graça me seguirão todos os dias de minha vida". Vejam bem: todos os dias.
  
Como pode Deus estar com você hoje e não amanhã? Como pode Deus manifestar-se ou exprimir-Se um dia e no dia seguinte não?     Foi difícil, aos hebreus, aprender esta lição. Quando insistiam em guardar maná para o dia seguinte, e para o outro, e o outro seguinte, Moisés tinha derecordar-lhes que esse maná caía do céu pela Graça de Deus. Por que, então, se preocupavam de que não lhes caísse mais no dia seguinte e no outro? Por que deixaria Deus de suprir-lhes a necessidade, enquanto ela existisse?
   
Será possível que Deus nos retenha Suas bênçãos enquanto delas necessitamos? Será possível que a ajuda de Deus seja de tal modo limitada, que possa ser retirada antes de completar sua missão? Há alguma razão para duvidarmos d'Ele? Haverá necessidade de aplicarmos nossos recursos humanos para suprir uma deficiência divina na solução de nossos problemas?
   
Meditem sobre o espírito ou a mensagem do Salmo do bom Pastor. Em nenhum sentido ele nos leva a nos esforçar para alcançar Deus, nem a buscar-Lhe qualquer coisa. Melhor que isso; ele nos leva a permanecer em completa e perfeita confiança: "certamente que o amor e a graça me seguirão todos os dias de minha vida".
 
E então conclui: "e habitarei na casa do Senhor para sempre". "Morarei" na consciência de Deus "para sempre".
 
Aqui não há tratamento. Há só uma declaração: "e morarei" na consciência do Senhor, "na casa do Senhor para sempre".
 
Sirva-nos ela de modelo. Você  já tomou a decisão e já declarou: "Habitarei na casa doSenhor" (na  consciência  de  Deus) "para sempre"?
 
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quinta-feira, dezembro 13, 2012

O Salmo do Bom Pastor - 1/4

 Joel S. Goldsmith


O SALMO DO BOM PASTOR
(A confiança de Davi na Graça de Deus)


"O Senhor é meu Pastor: nada me faltará!
Em verdes prados faz-me repousar.
Ele me conduz a águas refrescantes;
reconforta minh'alma;
e guia-me pelo caminho da retidão,
por amor de Seu nome.
Ainda que eu andasse por um vale tenebroso,
não temeria mal algum,
porque Ele está comigo!
Seu bordão e sua vara me confortam.
Ele prepara uma mesa perante mim,
à vista de meus adversários.
Unge com óleo a minha cabeça;
meu cálice transborda!
Certamente que o amor e a graça
me seguirão todos os dias de minha vida
e habitarei na casa do Senhor para sempre!"


O PODER DO SALMO DO BOM PASTOR - MEDITAÇÃO SOBRE A PRECE

Só através da compreensão da prece, é que a atividade do Reino de Deus, Sua Harmonia e Totalidade, se convertem em experiência individual. Se a oração, tal como é geralmente entendida, fosse realmente oração, o mundo já estaria livre do pecado, da enfermidade, da morte, das guerras, da fome e da sede. Tudo isto e outras limitações humanas já teriam desaparecido da face da Terra, nos milhares de anos que ela tem sido ensinada e praticada. 

As escrituras nos dizem que se oramos e não recebemos resposta é porque oramos mal. A julgar por este preceito, há milhares de anos a humanidade vem orando equivocadamente. Cabe, então, perguntar: presentemente sabemos algo mais sobre a oração?
    
O desabrochar de um entendimento mais claro da oração tem sido lento. Até agora o progresso mais expressivo se deu na esfera dos problemas individuais. Quanto ao grande problema de trazer paz à Terra e boa vontade aos homens. . . ainda não foi resolvido.
    
Incumbe-nos, pois, dedicar todo o tempo que nos seja possível ao estudo da oração e à meditação sobre este tema. . ., até que cheguemos a conceitos mais elevados e profundos sobre ela.
    
Os resultados obtidos em nossa experiência é que nos dirão se estamos ou não, chegando a conclusões efetivas. O certo é que, ao fazer vibrar uma nota mais elevada na oração, teremos melhor saúde, prosperidade, desfechos mais seguros na ação diária e um maior grau de harmonia em nosso viver.

Quase sempre a oração tem consistido em palavras, declarações, repetições e citações. Mas a oração, em si, é sem palavras. Ela nada tem a ver com o sentido das palavras, seja uma petição, afirmação, negação ou qualquer outro gênero de palavras ou pensamentos. A rigor, a prece consiste em ALGO de que tomamos consciência, no silêncio; é a palavra de Deus revelada à nossa consciência.
    
Em outras palavras, a oração não é o que vimos conhecendo e praticando, mas um ESTADO DE RECEPTIVIDADE. De fato, a palavra de Deus não é o que nós exprimimos, senão o que Deus expressa em nosso íntimo.

Uma forma de meditação é refletir tranquilamente acerca de alguma ideia a respeito de Deus, pensando nela e até lendo-a em voz alta, durante um curto período de tempo. Depois nos pomos internamente receptivos e deixamos que a meditação nos venha de Deus. Melhor dito: é o Divino interno que vai meditar sobre a ideia. O humano apenas procura tomar consciência dos frutos dela.
    
No Preâmbulo de uma antiga edição da Bíblia, lemos: "Acaso o Reino de Deus se converteu em meras palavras ou sílabas? Por que devemos ficar limitados ao sentido literal, se somos livres?"
    
O Reino de Deus pode ser expresso em palavras ou em sílabas? Não! O Reino de Deus está dentro de vós e deve ser manifestado à vossa consciência. Ele deve tornar-Se presente, proclamando-Se, evidenciando-Se, fazendo-Se ouvir. Logo, o Reino de Deus não está nas palavras humanas nem em suas sílabas.
    
Frequentemente as preocupações nos acompanham aos momentos de prece. Ficamos, então, a refletir: como resolver este ou aquele problema? Como devo orar para intuir uma solução? Posso receber uma compreensão mais elevada de como orar?
    
Se isto está acontecendo com você, medite sobre o alcance desta frase já citada: "Acaso o Reino de Deus se converteu em meras palavras ou sílabas? Por que devemos ficar limitados ao sentido literal, se somos livres?" As Escrituras ensinam que somos livres; que somos filhos de Deus e, se filhos, também herdeiros; como herdeiros, co-herdeiros com o Cristo.
    
Nós JÁ somos livres. Se não o fôssemos, nem o divino poder nos libertaria. Não precisamos de lutar por nossa liberdade porque já somos livres. A síntese da verdade é, precisamente, trazer à luz esta percepção ou revelação de nossa atual liberdade. Ante qual quer problema que nos esteja a desafiar, deveríamos ter presente que as soluções não estão nas palavras nem em declarações de verdade. O que resolve, isto sim, é predispormos ao aquietamento e, por algum tempo permanecer em estado de receptividade, deixando que Deus nos revele o Seu plano: Seu plano, não o nosso.
    
Encontramos esta mensagem na tradução de Smith, das Escrituras, Salmo 19: "Os céus narram a glória de Deus e o firmamento revela a obra de Suas mãos. Um dia fala ao outro dia e uma noite declara sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem palavras. Não se escutam vozes e, no entanto, suas vozes atravessam a Terra e até os confins do mundo se ouvem suas palavras".
    
Os últimos quatro versos referem ao primeiro: "Os céus narram a glória de Deus". Depois explicam a natureza dessa narrativa: "Não há linguagem nem palavras". E isto é verdadeiro. Os céus não se expressam em palavras ou discursos. Não obstante, estão declarando e proclamando a glória de Deus.

"O firmamento revela a obra de Suas mãos". E após nos esclarece a índole da revelação: "Não se escutam suas vozes". É claro que o firmamento não fala, tal como entendemos o falar. Apesar disso revela a obra de Suas mãos.
    
"No entanto, suas vozes atravessam a Terra", isto é, as vozes dos céus, do firmamento, do dia e da noite se manifestam sem discursos, sem sílabas, sem palavras. Sua voz se manifesta e se converte em testemunho.
    
De modo idêntico, nossa inteira experiência demonstra a glória de Deus. Nossa experiência total, nossa vida inteira, nossos corpos, estão continuamente  mostrando a obra de Suas mãos.
    
Se neste momento os nossos corpos e a nossa saúde não parecem estar mostrando divina harmonia, é simplesmente porque vivemos na crença de que a saúde nos pertence; os corpos nos pertencem; os poderes nos pertencem - em vez de tomarmos consciência de que tudo o que nos diz respeito (o corpo, os bens, o lar etc.) É UMA DEMONSTRAÇÃO DE DEUS; É DEUS A MANIFESTAR SUA BELEZA, SUA NATUREZA E SEU CARÁTER.
    
Do momento em que saímos da crença de que temos saúde (e toda posse pode ser ganha ou perdida); do momento em que renunciamos a idéia de que temos saúde que pode ser melhorada, e compreendemos que a única saúde que há em todo o universo é a saúde de Deus (manifestando-se como condição natural de harmonia em todos os corpos e seres) - então chegamos a compreender a verdade ensinada no Salmo 19: "Os céus narram a glória de Deus" e o fazem sem palavras nem discursos.
    
"O firmamento revela a obra de Suas mãos" e o faz sem palavras nem discursos. 
    
"Um dia fala a outro dia" como discursos eloquentes a comunicar a harmonia de Deus.
    
"Uma noite declara sabedoria a outra noite" e o faz sem discursos ou outras formas de comunicar ideias. Fá-lo como atividade reveladora da glória de Deus.
    
Agora, tudo o que somos e tudo o que esperamos ser, é Deus a manifestar-Se como saúde nossa, como força nossa e tudo o que de melhor possa existir em nossa experiência.
 
Renunciemos, pois, de imediato, à crença de que nossa saúde ou riqueza dependam de certas fórmulas ou orações jeitosas, pois o Reino de Deus não se expressa em palavras nem em sílabas O Reino de Deus JÁ está estabelecido dentro de nós. Abandone a crença de que a saúde, a riqueza, ou o lar seja algo fora da atividade de Deus. 

Uma vez que V. tenha tomado consciência de que é a atividade de Deus que mantém a harmonia de seu ser, começará a vislumbrar uma nova luz em sua compreensão da prece.

Cont...

domingo, dezembro 09, 2012

Vida terrena: encenação ilusória na mente

Dárcio Dezolt


Quem estiver num teatro, verá o elenco todo numa “encenação de ficção”; todos os atores e atrizes estariam “deixando de lado” a vida pessoal e verdadeira, em termos humanos, para ficarem voltados unicamente à FICÇÃO e, desse modo, fazerem dela uma pretensa “realidade”. Se a peça teatral fosse, por exemplo, a “Vida de Chopin”, e se alguém durante a encenação subisse ao palco e dissesse ao ator: “Você não é o Chopin”, este ator teria de “deixar a crença de ser Chopin” momentaneamente, e concordar com aquele que fez a afirmação! Até ali, ele “era Chopin”, em sua aceitação!

Uma diretora teatral chamada “Mente Humana” fez com que você assumisse um papel em seu Teatro da Vida Terrena. Neste papel, você vive na Terra, tem pai e mãe, sendo, portanto, nascido, etc. De repente, durante a encenação, chega alguém e lhe diz: “Você não é da Terra; você não tem pais humanos, você não nasce, não muda e não morre; e não apenas você, todo o “elenco” é uma “unidade perfeita” fora deste Teatro! 

VOCÊ, tal como o “Chopin da encenação”, terá momentaneamente de acatar a Verdade e concordar com quem lhe fez as afirmações! Este momento será o “momento do seu DESPERTAR”, o seu discernimento legítimo de "Quem" eternamente VOCÊ é: o CRISTO! Dá-se a isto o nome de “renascimento”, ou “retorno consciente à Casa do Pai”. Assim como o ator nunca foi “Chopin”, VOCÊ NUNCA FOI SER HUMANO! Nesse sentido, confirmou Jesus: “São deuses todos aqueles a quem a Palavra de Deus é dirigida”. E esta Palavra é dirigida a VOCÊ!


sexta-feira, dezembro 07, 2012

Contemplação

Dárcio Dezolt


Se nossas orações deixassem
de ser feitas no sentido de que
fôssemos ser atendidos...

Se percebêssemos que
somente é atendida
a Vontade de Deus,
e que,
por estarmos
em Unidade com Ele,
é igualmente a nossa Vontade,
saberíamos que,
sem que nada fizéssemos,
esta Vontade única é sempre
perfeitamente atendida...
e descobriríamos que
aquilo que chamávamos
de "oração" era,
na verdade,
mera intenção descabida do ser humano
de interferir na Ação consumada
de Sua Obra Perfeita.

A esta "descoberta",
poderíamos dar o nome o nome de
"contemplação”.
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quarta-feira, dezembro 05, 2012

Entenda o Referencial Absoluto

Dárcio Dezolt


A Verdade revelada é sempre a mesma: a Realidade Eterna não é vista pelos sentidos humanos e, em contrapartida, tudo o que é discernido com tais sentidos é “maya”, uma ilusão coletiva.

Estes pontos explicam o motivo pelo qual repetimos sempre ser esta a premissa básica deste estudo: DEUS É TUDO, TUDO É DEUS. Quem não partir da Verdade, estará partindo de “coisa nenhuma”, semelhante a alguém que, sonhando e desejoso de se ver onde já está, continua avaliando sua existência pelas imagens sonhadas!

“Vós, deste mundo, não sois” – disse Jesus. Não disse que “iríamos ao Reino de Deus”, pois ninguém está fora dele! Que encobre esta visão da Verdade? Uma ilusão! E, enquanto a palavra “ilusão” for traduzida como sinônimo de “alguma coisa”, a pessoa continuará iludida pelo “nada”, apenas achando que “estuda a Verdade”.

O “Referencial Absoluto” é a visão do Universo a partir do ponto de vista da Verdade, ou do ponto de vista de Deus. Como Deus vê o Universo? Com Espírito e matéria? Deus nos vê como seres nascidos em mundo material? Ou como seres ignorantes em evolução? Não! Deus nada disso vê, pois, se visse, o “visto” teria de estar sendo o próprio Deus, que é TUDO!

Quando partimos do referencial iluminado, deixamos destemidamente o referencial ilusório de “sombras mutáveis”. A Realidade é concreta! Muita gente, quando ouve que a Realidade é espiritual, faz ideia de algo abstrato, nebuloso, vago, insubstancial; entretanto, o contrário é verdadeiro: é a ILUSÃO que não tem substância! ILUSÃO É NADA! Assuma o Referencial Absoluto, livre-se das impressões falsas supostamente colhidas pelos sentidos humanos e se compenetre da Presença perfeita e substancial do Universo em que vivemos! Sua própria Presença é a Presença infinitodimensional do seu Eu divino, manifesto como identidade específica!

Veja-se “precedente à ilusão”, ou seja, veja-se como VOCÊ É “desde antes” que a ilusão de massa aparentasse existir! Use este artifício! Contemple-se “às vésperas da ilusão”; desse modo, ficará sem “ilusão” para enganá-lo. Quem partir da ilusão para depois tentar sair dela, estará se iludindo ainda mais! Parafraseando Jesus, diga a si mesmo: “Antes que a ilusão existisse, Eu Sou” – eis seu ponto de partida! Este é o “Referencial absoluto”. Ele nada requer de VOCÊ, a não ser que VOCÊ simplesmente SEJA VOCÊ!


sexta-feira, novembro 30, 2012

O Buda interior


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"Reverenciada seja a Perfeição da Sabedoria, o Adorável, o Sagrado!

Avalokita, o Senhor Sagrado e Bodhisatva,  moveu-se nos cursos profundos da sabedoria, rumo ao mundo-além.

Daquelas alturas, Ele olhou para baixo e viu cinco agregados.

E Ele viu que, em si próprios, os agregados eram vazios."



Osho


Eu saúdo o seu Buda interior. Você pode não estar ciente, você pode até mesmo jamais ter sonhado com isso – que você é um Buda, e que ninguém pode ser outra coisa a não ser isso. A natureza búdica (o estado de Buda) é o núcleo essencial do seu ser, e isso não é algo para advir no futuro, mas algo que já aconteceu. É a tua própria fonte. É a origem e é também o objetivo. É a partir de nossa natureza búdica que todos nós nos movemos, e é também para ela que todos nós rumamos. Essa única palavra “natureza búdica” contém tudo – o ciclo completo da vida, do alfa ao ômega.

Mas você está dormindo, você não sabe quem você é. Não que você tenha que se tornar um Buda, mas apenas reconhecer que Ele habita em ti, reconhecer a necessidade se voltar para a sua própria origem. A fim de fazer isso você terá de olhar para dentro de si mesmo. Uma confrontação consigo mesmo irá revelar a sua natureza búdica. O dia vem quando você vê a si mesmo, e quando a existência inteira se torna iluminada. Não é que uma pessoa se torne iluminada – como pode uma pessoa se iluminar? A própria ideia ou pensamento de ser uma pessoa faz parte da mente não iluminada. Não é que eu tenha me tornado iluminado. O “eu” precisa ser descartado antes que se possa conseguir a iluminação. Assim, como poderia eu ter atingido a iluminação? Parece absurdo. No dia em que me tornei iluminado, toda a existência tornou-se iluminada. Desde aquele instante jamais pude ver outra coisa a não ser Budas – nas mais variadas formas, com milhares de nomes distintos, às vezes com mil e um problemas, mas ainda assim todos Budas.

Assim, eu saúdo o seu Buda interior. 

Sinto-me imensamente feliz e satisfeito de ver tantos Budas reunidos aqui. O próprio fato de suas vindas até mim significa o início do reconhecimento. O respeito e o amor em seu coração por mim significam o respeito e o amor para com a sua própria natureza búdica. Confiar em mim não significa confiar em alguma coisa extrínseca a você, a confiança em mim significa a confiança em seu próprio ser. Ao confiar em mim, você vai aprender a confiar em si mesmo. Ao se aproximar de mim, você estará se aproximando de si mesmo. Apenas um reconhecimento necessita ser alcançado. O diamante está aí – você apenas deve ter se esquecido, ou talvez você não tenha se lembrado desde o início. 

Existe um famoso ditado de Emerson: “O homem é Deus em ruínas”. Eu concordo e eu discordo. Esse insight comporta uma dose da verdade – o homem não é o que ele deveria ser. Esse insight está um pouco desordenado, de pernas para o ar. O homem não é Deus em ruínas, o homem é Deus sendo edificado. O homem é um Buda germinando e desabrochando. O botão está ali, ele pode florescer a qualquer momento: apenas uma porção de esforço, um pouco de ajuda... E não será a ajuda que irá causar o fenômeno – ele já está lá! O seu esforço irá apenas revelá-lo a você, ajudando-o a descobrir aquilo que já está lá, oculto. A verdade é eterna.

Ouça com atenção estes sutras porque eles são os mais importantes escritos dentre toda a grande literatura Budista.

Mas eu gostaria começar a partir do verdadeiro ponto inicial. Para entendermos este sutra, é necessário que comecemos corretamente. Apenas usando o correto ponto de partida é que os ensinos do Budismo nos serão proveitosos: estabeleça desde já em seu coração o fato de que você é um Buda. Eu sei que isso pode parecer presunçoso, pode parecer ser bastante teórico e hipotético; você ainda não pode confiar nisso totalmente. Isso é natural, eu compreendo. Apenas permita que a compreensão deste fato esteja aí como uma semente. Em torno desse fato muitas coisas vão começar a acontecer, e somente em torno deste fato é que você será capaz de compreender este sutra. Este sutra é imensamente poderoso – ele bastante pequeno, condensado, da mesma forma que uma semente. Mas se houver o solo apropriado, ou seja, se houver na sua mente o fato exato de que você é um Buda – de que você é um Buda desabrochando, de que você é potencialmente capaz de tornar-se um – e de que nada está faltando, de que tudo está absolutamente pronto, então tudo o que será necessário é colocar as coisas na ordem correta; apenas um pouco mais de estado de alerta se fará necessário, apenas um pouco mais de consciência se fará necessário... O tesouro já está aí; você tem de trazer uma pequena lâmpada para dentro de sua casa. Uma vez que a escuridão desapareça, você não será mais um mendigo, você vai ser um Buda, você será um soberano, um imperador. Este reino inteiro já é seu, tudo é somente uma questão de pedir; você apenas tem de reivindicá-lo.

Mas você nunca será capaz de reivindicá-lo se acreditar é um mendigo. Você não será capaz de protestar por ele; você não será sequer capaz de sonhar com a possibilidade reclamá-lo para si enquanto estiver acreditando que é um mendigo. Essa ideia de que você é um mendigo, de que você é ignorante e pecador, tem sido tão amplamente proclamada em cima de todos os púlpitos ao longo das eras, que isso se tornou uma hipnose profunda em você. Esta hipnose tem de ser quebrada. Para quebrá-la eu começo com: Eu saúdo o Buda em seu interior.

Para mim todos vocês são Budas. Todos os seus esforços a fim de se iluminarem serão ridículos se vocês não forem capazes de aceitar esse fato básico. Isso tem de estar o tempo todo subentendido, é necessário que se torne um entendimento implícito – que você é um Buda!  Esse é o ponto de partida correto a ser adotado, do contrário você se extraviará. Esse é o começo certo! Parta dessa visão e não fique preocupado que isso possa criar algum tipo de ego – o de que “eu sou um Buda”. Não se preocupe, porque todo o processo do Sutra do Coração vai deixar claro para você que o ego é a única coisa que não existe – a única coisa que não existe! Tudo o mais é real. 

Neste mundo existiram sábios que disseram que o mundo é ilusório e que a alma é existencial – o “eu” é verdadeiro ao passo que todo o restante é ilusório, maya. Buda diz exatamente o adverso: ele diz que apenas o “eu” é irreal, tudo o mais é real. E eu concordo com Buda mais do que com qualquer outro ponto de vista. A percepção de Buda é muito penetrante, é a mais aguda e intensa. Ninguém jamais penetrou esses reinos, profundidades e alturas da realidade.

Mas parta dessa visão, comece com essa ideia e ela criará um clima em torno de você. Deixe-a ser declarada a todas as células de seu corpo e a cada pensamento de sua mente; deixe que isso seja declarado em todos os cantos e recantos de sua existência: “EU SOU UM BUDA!”. E não se preocupe com o “eu”. Nós daremos conta dele.

O estado de buda e o “eu” não podem existir ao mesmo tempo. Quando o estado de buda se revela o “eu” desaparece, assim como a escuridão desaparece quando você se aproxima com a luz.

(...)

Este sutra pode ocasionar uma revolução em você.

A primeira coisa a se fazer é iniciar com a pergunta: “Quem sou eu?”. E prossiga indagando. Não pare de investigar. Muitas respostas virão, a mente dirá: “Você é um corpo! Que absurdo! Não há necessidade de perguntar, você já sabe disso”, ou até mesmo “você é a alma, o espírito, a consciência suprema”... Lembre-se, você deve parar apenas quando nenhuma resposta estiver vindo, jamais antes. Enquanto vir alguma resposta dizendo “você é isso, você é aquilo”, saiba bem que a mente o está suprindo com respostas. Quando você chegar ao ponto de indagar “Quem sou eu?” e nenhuma resposta estiver vindo de qualquer lugar, então há silêncio absoluto. A sua pergunta ressoa em si mesmo: “Quem sou eu?”, e há um silêncio e nenhuma resposta surge de lugar algum. Você está absolutamente presente, absolutamente silencioso, e não há sequer uma única vibração. “Quem sou Eu?” – e apenas o silêncio. Então um milagre acontece: de repente você não pode sequer formular a pergunta. A pergunta final tornou-se absurda. As respostas  tornaram-se absurdas e por isso as perguntas também se tornam absurdas. Primeiro desaparecem as respostas e depois desaparecem as perguntas – porque uma somente pode existir ao mesmo tempo que a outra. Elas são como os dois lados de uma moeda – se um lado for retirado o outro não pode ser mantido. Primeiro as respostas desaparecem, depois desaparecem as perguntas. E com o desaparecimento da pergunta e da resposta, você chega à realização: você é transcendental! Então você sabe, e no entanto você não pode dizer; você sabe, mas não consegue articular sobre isso. A partir de seu próprio ser você sabe Quem você é, mas isso não pode ser verbalizado. E esse conhecimento é vívido, existencial; não se trata de um conhecimento emprestado retirado das escrituras. É um conhecimento seu, e não dos outros. Ele surgiu em você.

E com esse surgimento, você é um Buda. Então você começa a rir, porque você veio a saber que você tem sido um Buda desde o princípio de todos os tempos; você apenas não tinha notado esse fato tão profundamente. Você esteve correndo em voltas, para lá e para cá, do lado de fora de seu ser. Mas agora você está em casa.

(...)

Reverenciada seja a Perfeição da Sabedoria, O Adorável, o Sagrado!
Avalokita, o Senhor Sagrado e Bodhisatva, moveu-se nos cursos profundos da sabedoria, para o mundo-além.
Daquelas alturas, Ele olhou para baixo e viu cinco agregados.
E Ele viu que em si próprios, os agregados eram vazios.

Quando você olha daquelas alturas, a partir daquele referencial... Por exemplo, eu disse que estava saudando o seu Buda interior. Essa visão ocorre daquele referencial: essa de que eu vejo todos vocês como Budas. E a outra visão é a de que vocês são apenas cascos vazios. 

Aquilo que você pensa que é nada mais é do que uma couraça vazia. Uma pessoa pensa que é um homem, isso nada mais é do que uma ideia vazia. A Consciência não é masculina nem feminina. Outra pessoa pensa ter um corpo extremamente belo, ela é bonita, forte, isso e aquilo – tudo isso são ideias vazias, todas elas são o ego te enganando. Uma pessoa pensa que conhece/sabe o bastante – algo totalmente insignificante. O  mecanismo dela apenas tem acumulado memória e ela está sendo enganada por suas próprias memórias. Todas essas coisas são vazias.

Assim, quando vejo do ponto de vista transcendental, vejo todos vocês como Budas; por outro lado, eu os vejo como couraças vazias.

Buda disse que a existência do homem consiste na acumulação de cinco elementos, de cinco skandhas (amontoados/agregados), todos eles vazios. E devido à combinação dos cinco, surge um subproduto chamado ego, o self. É exatamente como o funcionamento de um relógio-tique-taque. Você sabe que o tique-taque está vindo dali. Você pode abrir o relógio e separar todas as partes na tentativa de descobrir de onde exatamente está vindo o ruído. Mas você não conseguirá encontrá-lo em lugar algum. O som do tique-taque é um subproduto que surge da combinação de algumas peças. Umas poucas peças funcionando juntas estavam produzindo o ruído.

O seu “eu” nada mais é que isso: cinco elementos combinados e funcionando juntos, produzindo o ruído chamado “eu”. Mas esse “eu” é vazio, não existe nada nele. Tente encontrar ali qualquer coisa substancial e você não conseguirá. 

Essa é uma das percepções mais profundas de Buda: que a vida é vazia – esta vida como a conhecemos é vazia. Mas a vida é plena também, mas nós não sabemos nada sobre isso. A partir deste vazio você tem de se mover em direção a uma plenitude, mas essa plenitude é inconcebível para você neste momento – porque do atual referencial em que você se encontra, essa plenitude parecerá ser vazia. A partir de onde você está olhando, a plenitude parece ser um vazio – um rei parecerá ser um mendigo, um homem de conhecimento e sabedoria parecerá ser tolo e ignorante. 

Uma pequena história:

Certa vez um homem santo aceitou um discípulo, e disse-lhe: “Seria muito bom se você pudesse escrever registrando tudo o que você entende sobre a vida religiosa e sobre o que trouxe você à ela.”

O discípulo foi embora e começou a escrever. Um ano depois ele voltou ao mestre e disse: “Eu trabalhei muito duro nisso, e aqui estão as principais razões da minha busca.”

O mestre leu os registros, que comportavam milhares de palavras, e então disse ao jovem aluno: “seu trabalho está admiravelmente embasado e fundamentado, mas está um pouco longo demais. Tente diminuir um pouco.” Assim, o novato foi embora e depois de cinco anos voltou com apenas cem páginas.

O mestre sorriu e, depois de ter lido os papeis, disse: “Agora você está realmente se aproximando do centro da questão. Seus pensamentos têm clareza e força, mas ainda está um pouco longo... tente reduzir mais.”

O novato foi embora triste, pois ele tinha trabalhado duro para alcançar a essência. Mas depois de dez anos ele voltou e, curvando-se perante o mestre, ofereceu-lhe apenas cinco páginas, e disse: “Esse é o núcleo da minha fé, o âmago da minha vida, e peço sua bênçãos por ter me conduzido até ele.”

O mestre leu bem devagar e com cuidado: “É realmente maravilhoso”, disse ele, “toda essa simplicidade e beleza... mas ainda não está perfeito. Tente chegar a uma clarificação final." 

E quando o mestre tinha chegado aos seus últimos tempos e estava se preparando para o seu fim, seu aluno veio a ele novamente e, de joelhos dobrados diante dele para receber suas bênçãos, entregou-lhe uma folha de papel em que nada estava escrito.

Em seguida o mestre colocou as mãos sobre a cabeça de seu amigo e disse: “Agora... agora você entendeu.”

Se você está imerso no referencial mundano, ao tentar compreender o transcendental, ele terá uma aparência de NADA para você. E se você estiver imerso no referencial transcendental, ao olhar para o mundano, ele também terá a MESMA aparência de nada para você. Olhando daqui onde estou, tudo o que você tem é vazio; e olhando a partir do lugar onde você está, o que eu tenho é vazio, nada.

Buda parece vazio – apenas o puro nada – para você. Por causa de suas ideias, por causa de seus apegos, por causa de sua possessividade sobre as coisas, Buda parece vazio. Buda é pleno, completo: você é vazio. E a visão dele é absoluta, e sua visão é apenas relativa. 

O Sutra diz:

Reverenciada seja a Perfeição da Sabedoria, O Adorável, o Sagrado!
Avalokita, o Senhor Sagrado e Bodhisatva, moveu-se nos cursos profundos da sabedoria, para o mundo-além.
Daquelas alturas, Ele olhou para baixo e viu cinco agregados.
E Ele viu que em si próprios, os agregados eram vazios.

O vazio é a chave do Budismo – shunyata. Medite sobre este sutra – medite com amor, com simpatia, não com a lógica e a razão. Se você lidar com este sutra com a lógica e a razão, acabará por matar o seu espírito.  Não raciocine, e não tente dissecá-lo. Tente compreender os sutras como eles são, e não traga a sua mente – sua mente será uma interferência.

Se você puder lidar com este sutra sem a interferência da mente, uma grande claridade ocorrerá a você.

Osho - The Heart Sutra