"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, dezembro 31, 2008

O seu melhor ano

Allen White


Leitor,

estou lhe garantindo a experiência de seu melhor ano. Isto porque a Verdade já é verdadeira — já está visivelmente presente e é um Fato imutavelmente estabelecido. Cada pontinho da Existência infinita é um ponto de Perfeição. Ciente disso, seus estudos, orações e contemplações meditativas não serão feitos com o propósito de melhorar, mudar, curar, obter ou atingir algo. A Perfeição (Deus) já é Tudo.

Você já deve ter notado que apenas ficar afirmando que Deus é Tudo não é o bastante para imunizá-lo frente às batalhas e tempestades da vida. A mera repetição destas palavras não tem revelado visivelmente a nulidade da existência humana. Mais se faz necessário.

Como ser humano, você não poderá viver uma vida gloriosa, radiante e triunfante, livre de discórdia e doença. Proclame para si próprio, exatamente agora, que sua Identidade já é o Deus que é Tudo. Os chamados milagres começarão a surgir. Assumindo esta Verdade, real e confiantemente poderá dizer: Eu Sou Tudo, Eu Sou todo Poder, Eu Sou Onipresença, Eu Sou Infinidade, Eu Sou Perfeição, Eu Sou Verdade, Eu Sou Substância, Eu Sou Luz, etc. Isto não será uma elevação da identidade humana para a Divina; antes, será a eliminação da humana pelo reconhecimento da Divina como sendo tudo que há.

Sem flutuações, permaneça em e como esta Verdade. Contemple diariamente a Verdade de sua Identidade. “Já faço assim”, pode você estar pensando. Muitos dizem isto, mas, depois da contemplação matinal, acabam entrando em flutuações e vacilações. Suas conversas, ao longo do dia, expõem o fato de que eles realmente parecem acreditar que suas identidades são humanas. Portanto, persista diariamente na “Eu-Sou-Contemplação”, até deixar de se identificar com alguém de cor branca ou negra, de sexo masculino ou feminino. Continue até parar de identificar seu Eu Eterno com uma data de nascimento ou data de morte futura. Continue até compreender, sem nenhuma sombra de dúvida, que você não é senão a presença visível de cada Verdade que veio ouvindo ou lendo. Sim, Amado, persista, até todos os vestígios de humanidade visivelmente serem derrubados, revelando mais e mais o Esplendor Consumado de sua Identidade “EU SOU”.

Você, agora, chegou ao seu ponto de rompimento. Até parece que você e eu havíamos assumido um compromisso com nossos olhos de aceitar os seus informes conforme aquilo que está ou não acontecendo num dado momento. É um acordo que você deve quebrar. Muitas vezes, temos aparentemente trocado a Verdade pela ficção. Toda esperança e prece por uma vida melhor ignoram a Existência inabalável como única manifestação. Toda esperança e prece por uma vida melhor se baseiam nos olhos testemunhando um mundo oscilante. Amado, você não pode continuar desse jeito! Diante de uma escolha entre o que parece ser, de acordo com os sentidos, e o que é, de acordo com a totalidade de Deus, escolha sempre Deus. Faça isto! Permaneça nesta escolha! Não permita oscilações. E repentinamente uma nova visão lhe será aberta, testemunhando a Perfeição exatamente onde a imperfeição parecia estar presente. Se você sabe que Deus é verdadeiramente Tudo, descobrirá ser isto é bem fácil. Se apenas tem repetido as palavras, sem nenhuma percepção de que são a Verdade, isto lhe será difícil; e, caberá a você a tarefa de, em preces contínuas, descobrir a real natureza de Deus.

Meu amado, após assim ter feito, poderá ir ao seu mundo e proclamar que tudo e todos SÃO a Perfeição Evidenciada. Poderá olhar para seu mundo e declarar que é o Paraíso. Poderá olhar para cada aparência de carência e declarar a presença da Abundância Infinita. Poderá olhar para si mesmo, e para o próximo, marido, esposa e filho, declarando secretamente que todos são Deus. Cada dia estará evidenciando mais e mais de sua Divindade, e você irá desfrutar o seu melhor ano.


domingo, dezembro 28, 2008

Prece de estabilidade

Allen White

Não importa qual seja o desafio que lhe apareça: não esmoreça! Seja qual for a aparência, ela é pura ilusão, pois Deus continua sendo Tudo. Acaso alguma dor se lhe mostra insuportável? Impossibilitando-o de se firmar na totalidade de Deus? Está sendo tentado a aceitar as aparências? Então, ofereço-lhe minha...

Prece de Estabilidade

“Eu, de mim mesmo, não consigo
resistir à tentação de acreditar
em outra presença ou poder.
Entretanto, entrego à
Presença de Deus, que está em mim e
COMO O MEU SER,
a função de reconhecer, com certeza inabalável,
que a Perfeição é
o único Poder e
a única Evidência”.

Não repita estas palavras de modo decorado! Use-as como sugestão para sua prece; em seguida, permaneça em escuta silenciosa. Na quietude da Prece Silenciosa, descobrirá que

VOCÊ NÃO POSSUI MENTE ALGUMA QUE ACREDITE EM OUTRA PRESENÇA OU PODER, ALÉM DA “EU-SOU-PRESENÇA” QUE É TUDO, A “EU-SOU-PRESENÇA” QUE É VOCÊ.

Preces desse tipo o farão permanecer alerta, ativo e estabelecido no fato de que nada, além de Deus, está acontecendo. Ore dessa maneira tão freqüentemente quanto julgue necessário.

sábado, dezembro 20, 2008

A arte de estar com o outro



"A pessoa que não é capaz de estar com os outros,
de relacionar-se,
achará muito difícil relacionar-se consigo mesma,
porque a arte de relacionar-se é a mesma.
Seja relacionar-se com os outros ou consigo mesmo,
não faz muita diferença: é a mesma arte.

Essas artes têm que ser aprendidas juntas,
simultaneamente;
elas são inseparáveis.

Esteja com as pessoas,
não inconscientemente,
mas bem conscientemente.
Relacione-se com as pessoas
como se você estivesse cantando uma canção,
como se você estivesse tocando numa flauta;
cada pessoa precisa ser pensada como um instrumento musical.
Respeite-as, ame-as e adore-as,
porque cada pessoa é uma face oculta do divino.

Portanto seja bem cuidadoso,
bem atento.
Lembre-se do que você está dizendo;
lembre-se do que você está fazendo.
Pequenas coisas bastam para destruir relacionamentos,
e pequenas coisas tornam relacionamentos tão belos.
Às vezes basta um sorriso,
e o coração do outro se abre para você;
às vezes basta um olhar errado em seus olhos,
e o outro se fecha -
é um fenômeno delicado.

Pense nisso como uma arte:
assim como o pintor é muito vigilante
do que ele está fazendo na tela,
cada simples traço irá fazer muita diferença.
Um pintor verdadeiro pode mudar toda a pintura
apenas com um simples traço.

A vida tem que ser aprendida como uma arte:
muito cuidadosamente,
bem deliberadamente.

Assim, o relacionamento com os outros
precisa se tornar um espelho:
veja o que você está fazendo,
como você está fazendo isso e o que está acontecendo.
Que está acontecendo ao outro?
Você está tornando a vida dele mais miserável?
Você está provocando sofrimento nele?
Você está criando um inferno para ele?
Então retire-se.
Mude suas maneiras.
Embeleze a vida ao seu redor.

Deixe que cada pessoa sinta
que o encontro com você é uma dádiva:
apenas por estar com você algo começa a fluir, a crescer,
algumas canções começam a surgir no coração,
algumas flores começam a se abrir.

E quando você estiver sozinho,
então sente-se totalmente em silêncio,
absolutamente em silêncio,
e observe a si mesmo.

Assim como o pássaro tem duas asas,
deixe amor e meditação serem suas duas asas.
Crie uma sincronicidade entre eles,
assim eles não estarão de maneira alguma
em conflito um com o outro,
mas cuidando um do outro,
alimentando um ao outro,
auxiliando um ao outro.
Esse vai ser o seu caminho:
a síntese entre amor e meditação."

- OSHO -
(The Rainbow Bridge - #24)

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Paradoxos



- "Grande pecado é você
afirmar que é pecador."




"Sem identificar seus pecados,
jamais deles se libertará."







- "De olhos fechados verás
que é impossível ver."


"Cerra teus olhos ávidos por ver,
e só assim verás."







- "Dá generosamente
se queres ter em abundância."



"Se deres assim, sem medidas,
aonde chegarás?"






- "Pára de andar
e longe chegarás."


"Mas não fiques
aí onde estás".






- "Sem que tenhamos
a bênção da solidão,
inacessível nos é a Presença."



"É comungando com
o mundo e servindo aos
outros que à Presença
podemos chegar."





- "Aquieta-te,
e só então realizarás tudo."


"Move-te.
Não te entregues à inação."




domingo, dezembro 14, 2008

A verdadeira reconciliação

Masaharu Taniguchi

Em uma conferência em Kyoto, encontrei a anciã Kyu Baba, da província de Okayama, de quem falei em meu outro livro entitulado “A Cartilha da Vida”. Como citei naquele artigo, com uma simples mudança mental, essa senhora conseguira curar-se de um tumor, do tamanho de uma tigelinha que aparecera na axila. Após cumprimentá-la, perguntei:

- A senhora veio aqui especialmente para esta conferência?

- Não - respondeu ela, - estou fazendo uma espécie de peregrinação, ouvindo as palestras de vários professores em diversas localidades.

- Então é como se a senhora estivesse fazendo uma viagem de turismo, não é? – disse eu, brincando, e ambos demos uma boa risada.

Depois conversamos por algum tempo, e então a senhora Baba contou-me um caso de parto sem dor:

- A minha nora estava prestes a dar à luz pela primeira vez, mas, como não sentia dores, não sabia se tinha chegado a hora ou não. Assim mesmo, pediu-me para chamar a parteira. A parteira veio, mas quando viu que a parturiente não estava sentindo praticamente nenhuma dor, disse: “Ainda levará mais de uma hora. Voltarei mais tarde”, e se foi. Logo depois, minha nora quis se levantar e fazer a cama, mas eu lhe disse: “Não precisa levantar. Fique recostada, assim mesmo. Vamos conversar um pouco”. E eu me sentei na beira da cama e ficamos, as duas, conversando. E brincando, eu lhe falei: “Você diz que tem a impressão de que o nenê está para nascer, mas será que você sabe mesmo como nasce uma criancinha?” Se de cima, se de baixo, se da boca ou do umbigo?”. Minha nora achou tanta graça no que eu disse, que começou a rir. E foi assim que o trabalho de parto começou, de repente, e quando nos demos conta, o nenê tinha nascido. Foi um parto provocado pelo riso. Como estava ausente a parteira, ficamos um pouco atrapalhadas. Segurando o bebê, sem cortar-lhe o cordão umbilical, mandei chamar urgentemente a parteira.

Ao lembrar dessa história, sorrio sem querer devido ao aspecto humorístico. Mas, analisando esse episódio, vemos que ele contém uma valiosa lição. Ele nos faz compreender que o normal é que todo parto seja assim, fácil e indolor, e que isso é sempre possível quando a parturiente mantém de forma correta o seu estado espiritual. Reconciliada com todas as coisas do universo, qualquer mulher pode ter um parto sem dor, como este.

Na “Revelação Divina da Grande Harmonia” está escrito: “Reconciliai-vos com todas as coisas do céu e da terra”. Mas isso não quer dizer que devemos nos reconciliar com as “coisas falsas”. Reconciliar-se com a “falsidade” ou “coisas falsas” nada mais é que condescender, tolerar. A idéia de que o parto é doloroso não passa de um erro, ou seja, “idéia falsa” e aceitá-la submissamente não é “reconciliar”; é apenas “condescender”. E na medida dessa condescendência, o trabalho de parto vem acompanhado de dor. Reconciliar-se realmente com todas as coisas, abandonando o pensamento errôneo, significa reconciliar-se com o Jisso (aspecto verdadeiro e perfeito) do parto, ou seja, compreender a verdade de que o homem é filho de Deus, e que portanto não é possível haver dor no seu nascimento. Reconhecer o Jisso de todas as coisas, e plenamente acreditar nele – isto, sim, é reconciliar-se de verdade. Não é admitir a existência real de aspectos maus e aceitá-los por condescendência, mas saber que os aspectos maus são inexistentes, e acreditar apenas no aspecto bom e saudável de todas as pessoas e coisas.

Mesmo que alguém esteja doente e nos fale de seus sofrimentos, devemos refutar essas queixas, dizendo: “Coragem! Isso não é nada!”. Esta é a atitude da verdadeira reconciliação.

Não devemos concordar com as queixas, dizendo: “Realmente, você está abatido e emagreceu muito. O pulso também está rápido demais. Não é sem razão que está sofrendo”. Concordar com as queixas de uma pessoa doente pode parecer uma atitude bondosa condizente com o “espírito de reconciliação”, mas isto é apenas “falsa reconciliação” ou “condescendência” em relação ao “falso aspecto”, ao “fenomênico”. É preciso saber distinguir bem a condescendência (falsa reconciliação) e a verdadeira reconciliação.

Lembro-me de um caso que ocorreu no tempo e que realizávamos grandes conferências no Auditório Público de Nagoya. Numa dessas ocasiões, eu havia jantado no 3º andar e descansava um pouco até o início da reunião noturna, que se aproximava, quando surgiu um ancião de muletas, arrastando as pernas que quase não dobravam. Ele aproximou-se e logo começou a me falar:

- Professor, uma vez eu fui levado até a Sede Central. Naquela época, eu não conseguia me mexer nem um pouco. Estive de cama durante vinte anos, devido à paralisia, conseqüência de um derrame. Mas, mesmo assim, quando cheguei à Sede Central, o professor me disse: “Na verdade, a doença não existe. O senhor é filho de Deus, e é perfeitamente capaz de andar”. Essas palavras penetraram em mim de tal forma, que comecei a andar de repente. Mas o meu acompanhante ficou com pena de mim e me carregou à saída, e depois disso não andei mais. Então, depois, eu pensei comigo mesmo: “Assim não pode ser”. E comecei a me esforçar de várias maneiras, mas não conseguia me levantar. Só agora é que melhorei o suficiente para conseguir andar de muletas”.

Dizendo assim, o ancião andava ainda como que arrastando o seu corpo. Então, eu lhe falei:

- O senhor não é doente. E não devia usar essas muletas tão pesadas. É mais fácil andar sem elas!

A essa altura, havia se formado uma pequena multidão ao nosso redor. E diante dela, falei ao ancião:

- Jogue fora essas muletas!

- Se eu fizer isso, vou cair – respondeu o ancião.

- Não há perigo! Garanto-lhe que é mais fácil se não tiver que carregar essas muletas tão pesadas! – afirmei energeticamente, e finalmente ele jogou fora as muletas.

- Vamos, caminhe! Você consegue andar!

Quando falei, o ancião, que até então se agarrava às muletas como se não conseguisse manter-se em pé sem elas, começou a andar. O público aplaudiu. Estimulado pelos aplausos, o ancião andava como um bebê que estivesse iniciando seus passos, pelo chão de concreto do hall bastante amplo do 3º andar. Se caísse, a queda seria dolorosa, mas mesmo assim ele andava, satisfeito.

Como se aproximasse o início da reunião noturna, deixei-o ali, e o público permaneceu ao seu redor , admirado com o fato de aquele senhor ter abandonado as muletas e caminhado sozinho.

Considerar “inexistente” a doença manifestada no corpo pode parecer uma atitude contrária à “reconciliação com todas as coisas”, pois aparentemente estamos em conflito com a realidade. Todavia, isso é apenas o aspecto fenomênico da questão. Na verdade, ao afirmarmos que “não há doença”, estamos tomando a atitude de “verdadeira reconciliação”, pois estamos nos reconciliando com o Jisso (aspecto verdadeiro) do homem. No seu Jisso, todo homem é saudável e capaz de se movimentar livremente. Aceitar naturalmente esse “aspecto verdadeiro” sadio e normal é que é a reconciliação.

No caso relatado, o ancião conta que, quando visitou a Sede Central e ouviu (de mim) a afirmação de que “a doença não existe” e que na verdade era capaz de andar, de repente ele começou a andar, mas tornou a ficar paralítico quando o seu acompanhante carregou-o às costas. Podemos explicar isso da seguinte forma: o ancião conseguiu andar quando reconheceu o seu Jisso sadio e normal, mas perdeu novamente a capacidade de se locomover quando, sugestionado pela compaixão do seu acompanhante, voltou a ver apenas o seu “falso aspecto” (aspecto fenomênico, imperfeito) e deixou que seu Jisso ficasse encoberto. Em outras palavras, primeiro ele havia conseguido a “verdadeira reconciliação”, mas depois caiu na “falsa reconciliação”, isto é, acabou “condescendendo com o seu aspecto fenomênico imperfeito”.

Pode parecer um ato de bondade ouvir as queixas de alguém que se diz doente e concordar: “É, você está mesmo doente. O seu aspecto não é nada bom”. Contudo, isso equivale a aumentar a “ilusão” que encobre o Jisso e fazer com que a pessoa condescenda com a aparência fenomênica chamada doença. Conseqüentemente, essa pessoa vai piorar, em vez de melhorar. O mesmo pode-se dizer com relação à educação infantil. Se, ao vermos uma criança levar um tombo, dissermos: “Oh! Coitadinha!” e acorremos em seu auxílio imediatamente, ela não tomará a iniciativa de se levantar sozinha. E a repetição do fato fará com que a criança perca o espírito de independência.

Pelo que foi explicado acima, podemos compreender que “olhar apenas o aspecto fenomênico e condescender com suas imperfeições” não é um ato de verdadeira bondade. Ser realmente bondoso com o próximo significa ajudá-lo a exteriorizar a perfeição do seu Jisso, sem considerar os defeitos aparentes. Condescender com o “aspecto fenomênico imperfeito” das pessoas não é ser verdadeiramente bondoso. Essa reconciliação é apenas superficial, e por isso é um ato imbuído de bondade sem profundidade.


segunda-feira, dezembro 08, 2008

Somos atores do "teatro da vida"

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Masaharu Taniguchi

O ser humano é filho de Deus, e, no que concerne à Imagem Verdadeira, não adoece, não comete pecados nem é fadado a morrer.

Mas as pessoas deste mundo são sujeitas à morte, adoecem, praticam maus atos e, como conseqüência, sofrem e se angustiam. Tudo isso é falso aspecto, não passa de sombra.

A vida fenomênica é como um teatro. No palco, desenrolam-se várias cenas: espadachins lutando, vigaristas, uma jovem doente, um ancião moribundo etc. Os atores desempenham bem os respectivos papéis. Quando a peça termina e as cortinas se fecham, os atores felicitam uns aos outros trocando palavras como: “Ufa! Que bom que hoje também deu tudo certo. Agora podemos ir para casa, tomar um banho reconfortante e dormir. Boa noite a todos”. E todos se retiram andando normalmente. No palco já não se encontram nem doentes, nem mortos, nem pecadores.

Esta vida é um grande “teatro”, cujos atores são todos maravilhosos filhos de Deus. Doentes, vigaristas etc., que surgem no “palco da vida”, não passam de papéis que os filhos de Deus interpretam.

No “palco da vida”, atuamos conforme o enredo criado por nós próprios. No teatro real, todos os atores escalados para uma peça recebem o script e atuam conforme o enredo escrito pelo autor. Mas, no “teatro da vida”, cada pessoa cria na mente, a seu critério, o papel que vai interpretar. Em outras palavras, cada qual determina o seu papel e a sua fala. Alguns pensam: “Sou doentio, tenho constituição fraca”, e assim, passam a interpretar esse papel nesta vida. É algo bastante simples. Outros pensam: “Sou um indivíduo mau, imprestável. Tenho de roubar para sobreviver”, e passam a viver conforme esse pensamento. Em resumo, as pessoas passam a vida interpretando o papel que elas próprias atribuíram para si.

Na verdade, todos somos filhos de Deus, livres da doença e da morte, e, por sermos dotados de capacidade infinita, temos grande habilidade. Somos todos “excelentes atores” e interpretamos com perfeição os nossos papéis no “teatro da vida”.

Identificamo-nos perfeitamente com nossos respectivos personagens e nem imaginamos estar representando. Cada um age de acordo com sua mente, e os outros não pensam que ele está interpretando um papel. Aliás, nem a própria pessoa percebe que está representando no “palco da vida”. Assim, leva uma vida cheia de aflições, adoece, sofre, se definha e, por fim, morre.

Mas, embora pareça ter morrido, na verdade não morreu. O “teatro da vida” não terminou, mas a pessoa, após representar a cena da “morte”, se retira do palco, sabendo que permanece vivo. Posteriormente, surge em um novo “palco da vida” condizente com sua preferência, representando outro papel. Em suma, o ser humano, sendo filho de Deus, é perfeito e imortal.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Siga a sua natureza


"Veja o falso como falso,
o verdadeiro como verdadeiro.
Olhe para o seu coração.
Siga a sua natureza."
(Buda)



"Esta é uma das mais belas declarações: 'Olhe para o seu coração. Siga a sua natureza'.

Buda não está dizendo 'siga as escrituras'. Ele não está dizendo 'siga-me'. Ele não está dizendo 'siga certas regras de conduta'. Ele não está ensinando a você qualquer moralidade. Ele não está tentando criar um certo caráter em você, porque todo caráter é uma bela cela de uma prisão. Ele não está dando a você um certo caminho para viver. Ao invés disso, ele está lhe dando coragem para seguir a sua própria natureza. Ele quer que você seja corajoso o bastante para ouvir o seu próprio coração e seguir de acordo com ele.

'Siga a sua natureza' quer dizer: flua com você mesmo. Você é a escritura... e escondido lá no fundo de você ainda está uma pequena voz. Se você se tornar silencioso, você será guiado por ela.

O Mestre tem apenas que tornar você consciente de seu Mestre interior. Aí a sua função estará completa. Aí ele poderá deixar você consigo mesmo, ele poderá mandar você de volta para você mesmo. A proposta de um Mestre não é escravizar um discípulo, a proposta de um Mestre é libertá-lo, é lhe dar total liberdade. E essa é a única possibilidade de se atingir a liberdade total: 'Siga a sua natureza'.

Por 'natureza', Buda quer dizer Dhamma. Assim como é da natureza da água fluir para baixo e é da natureza do fogo se expandir para o alto, assim existe uma certa natureza escondida dentro de você. Se todos os condicionamentos que foram impostos a você pela sociedade forem removidos, de repente você irá descobrir a sua natureza.

A sua natureza é tornar-se Deus. Ais Dhammo sanantano - essa é a lei eterna e inesgotável: sua natureza é tornar-se Deus.

O homem é um Deus em potencial, um bodhisattva. O significado do homem é tornar-se Deus. Menos do que isso não irá satisfazer você, menos do que isso não terá utilidade. Você pode ter todo o dinheiro do mundo, todo o poder, todo o prestígio possível, e ainda assim você permanecerá vazio.A não ser que a sua natureza divina floresça, abra os seus botões, a não ser que você se torne um lótus, mil pétalas de lótus, a não ser que a sua divindade seja revelada a você, você nunca estará satisfeito.Ao homem religioso comum é dito para que permaneça satisfeito e contente, em qualquer que seja a situação. Os chamados santos religiosos seguem ensinando às pessoas: 'fique satisfeito'. A satisfação é um de seus ensinamentos fundamentais. Esse não é o caminho dos verdadeiros Mestres.

O Mestre verdadeiro cria o descontentamento em você, um tal descontentamento que nada neste mundo poderá satisfazê-lo. Ele cria um tal anseio em você, que a não ser que você alcance o máximo, você irá permanecer sem fogo, sem chama. Ele cria dor em seu coração, ele cria angústia...porque a vida está escorregando a todo momento, e cada momento que se foi, se foi para sempre, e você ainda não alcançou Deus e mais um dia já se passou.

Ele cria um tal anseio profundo em você, uma tal dor em seu coração! Ele cria lágrimas em seus olhos, porque somente através desse divino descontentamento, você irá se mover, você dará o salto quântico, o salto maior em direção ao desconhecido. Somente através desse divino descontentamento é que você reunirá todas as suas energias e se arriscará, indo até a aventura maior que é descobrir quem você é.

Siga a sua própria natureza. A sua natureza é a consciência. Mas os padres disseram a você: siga certas regras de conduta, os Dez Mandamentos, siga certos princípios, não a sua natureza. Os padres têm muito medo da sua natureza, porque se você seguir a sua natureza você irá sair de seu controle, você não será mais um escravo. Você não irá mais às igrejas, aos templos e aos mosteiros, e você não irá mais ouvir seus estúpidos padres, políticos, os chamados líderes. Eu digo que eles são os 'chamados líderes' porque o que na verdade está acontecendo é que pessoas cegas estão guiando pessoas cegas.

Se você ouvir à sua própria natureza, você não irá ouvi-los mais. Se você conhecer a sua própria voz interior, você se tornará livre. Então, a sua voz interior tem que ser esmagada, destruída, completamente destruída, ou pelo menos distorcida de tal maneira que mesmo se você ouvi-la, você não poderá entendê-la. E eles têm sido bem sucedidos. A não ser que você lute arduamente contra eles, não haverá possibilidade de sucesso. A exploração deles é tão velha, a opressão deles é tão antiga, as estratégias deles são tão espertas... e eles têm um poder infinito em suas mãos. E quem é você individualmente contra eles?

Mas se você for para dentro, se você ouvir o seu coração, você irá alcançar um tal poder que nenhum poder na Terra poderá escravizá-lo de novo.

Siga a sua natureza. Mas como seguir a sua natureza, se você não sabe o que ela é? E não lhe é permitido saber o que ela é! Você recebeu instruções precisas sobre o que fazer: o que comer, quando levantar-se de manhã, quando ir para a cama...Você recebeu instruções precisas. Aquelas instruções, se seguidas, fazem de você um escravo. Se não seguidas, fazem de você um criminoso. Se seguidas, você se torna um santo, mas um escravo. As pessoas irão adorá-lo, respeitá-lo, mas todo esse respeito é um entendimento mútuo: 'Se você seguir as nossas instruções, nós respeitaremos você. Se você não seguir, você irá para a prisão.'

Ou você se tornará espiritualmente um escravo ou fisicamente um prisioneiro: essas são as duas alternativas que a sociedade dá a você. E isso nunca permite a você se tornar consciente de que existe dentro de você uma fonte de infinita orientação e direcionamento. E é de lá que Deus fala.

Deus ainda fala, ele não parou de falar. Ele não é parcial. Não é que ele tenha falado a Maomé e a Moisés e que ele não fala a você. Ele está falando a você tanto quanto ele falou para Maomé. A única diferença é que Maomé estava pronto para ouvi-lo e você não está pronto para ouvi-lo. Maomé estava disponível e você não está disponível.

Tornar-se disponível à sua própria natureza interior é o que eu chamo de meditação.

Lembre-se dessas duas palavras. O caráter é uma invenção dos políticos e dos padres, é uma conspiração contra você. A consciência é a sua natureza. Sim, o homem de consciência tem um certo caráter, mas esse caráter segue a sua natureza. Não lhe foi imposto por alguém, esse caráter é a sua própria decisão. E ele não está preso a esse caráter, ele está totalmente livre para mudá-lo a qualquer momento. As circunstâncias mudam, a sua consciência lhe dá diferentes direções e ele muda o seu caráter.

O homem de caráter, o 'chamado homem de caráter', está preso. Mesmo se as circunstâncias mudarem ele segue repetindo o mesmo caráter, mesmo que não seja mais relevante, mesmo que não seja mais adequado. O contexto no qual ele tinha um significado desapareceu, mas ele segue repetindo as mesmas tolices. Ele é como um papagaio. Ele é uma máquina: ele não responde, ele simplesmente reage.

Um homem de consciência responde e suas respostas são espontâneas. Ele é como um espelho. Ele reflete tudo aquilo que se confronta com ele. E a partir dessa espontaneidade, a partir dessa consciência, um novo tipo de ação surge. Essa ação nunca cria qualquer escravidão, qualquer carma. Essa ação liberta você. Você alcança a liberdade se você ouvir a sua natureza.

Mas esse simples conselho parece ser muito difícil para as pessoas. Ele deveria ser a coisa mais simples do mundo. Cada criança nasce seguindo sua natureza, mas na medida em que você cresce, pouco a pouco você vai perdendo o contato com ela. Você é forçado a perder o contato com ela. O contato pode ser recuperado, ele pode ser redescoberto. Anos mais tarde, quando você tiver se tornado uma pessoa culta, preso dentro de um certo caráter, completamente cego para com seu coração e sua natureza, você começa a formular muitas perguntas.

Outro dia, o Prem Vijen perguntou: Osho, o que você quer dizer quando você diz Vá para dentro?'

Uma declaração tão simples, 'Vá para dentro', e você me pergunta 'o que eu quero dizer com ela?' Você não consegue entender estas simples palavras, 'vá para dentro'? Eu sei que você conhece as palavras, mas ir para dentro tornou-se muito difícil porque você só aprendeu como ir para fora. Você só pode ir para fora, você só sabe como ir, se for para fora.A sua consciência está voltada para os outros, ela esqueceu o caminho para ela mesma. Você segue batendo na porta dos outros e sempre que é dito a você, 'vá para casa' você diz: ' Osho, o que você quer dizer com ir para casa?' Você só conhece as casas dos outros, você não conhece o seu próprio lar. E você está carregando esse lar dentro de você. Você foi forçado a ser extrovertido. Você tem que aprender de novo o caminho de ir para dentro.

Soren Kierkegaard disse: 'Religião significa ir para dentro', ir para a sua própria interioridade. Mas as simples palavras 'ir para dentro' tornaram-se tão difíceis de entender. A mente conhece apenas como ir para fora, e nela não há qualquer marcha a ré....

Eu estou ensinando a você aqui que a marcha a ré está aí, embutida, você apenas se esqueceu dela. Você sabe como ir para fora. Ninguém pergunta 'O que você quer dizer quando diz 'vá para fora'?'. Mas todo mundo quer perguntar 'O que você quer dizer quando diz 'vá para dentro'?'. Simples palavras!

Pensar é ir para fora e não pensar é ir para dentro. Pense e você já começou a se mover para fora de si mesmo. O pensamento é a maneira de levar você para longe. O pensamento é um projeto. Não-pensamento... e de repente você está dentro. Sem pensamento você não pode ir para fora, sem desejo você não pode ir para fora. Você precisa do combustível do desejo e do veículo do pensamento para ir para fora.

Sentando-se silenciosamente, nada fazendo... nem mesmo pensando, nem mesmo desejando... e onde você estará?

Ir para dentro não é verdadeiramente ir para dentro. É simplesmente parar de ir para fora... e de repente você encontra a si mesmo dentro.

Prem Vijen, você não precisa ir para dentro porque se você for, você irá sempre para fora. Ir significa ir para fora. Pare de ir! Pare de ir a qualquer lugar! Você consegue sentar-se silenciosamente sem ir a qualquer lugar? Sim, fisicamente você pode sentar-se, isso não é muito difícil. Você pode aprender uma postura de yoga e você pode fazer de seu corpo quase uma estátua, mas o problema é: o que você está fazendo do lado de dentro? Desejos, pensamentos, memórias, imaginação, todos os tipos de projetos? Pare com eles também.

Como parar com eles? Simplesmente torne-se indiferente a eles, despreocupado. Mesmo que eles estejam ali, não dê atenção a eles. Mesmo que eles estejam ali, não lhes dê qualquer importância. Mesmo que eles estejam ali, deixe-os estar. Sente-se silenciosamente do lado de dentro, observando. Lembre-se dessa palavra: observando, testemunhando, simplesmente estando alerta.

E na medida em que esse observar cresce, se torna mais profundo, a mesma energia que estava se tornando desejos, pensamentos, memórias e imaginação, essa mesma energia é absorvida em nova profundidade. A mesma energia é usada por esse aprofundamento interno. E você saberá o que quero dizer quando digo 'Vá para dentro'.

Não comece a procurar nos dicionários ou na Enciclopédia Britânica. Não é uma questão de palavras. Palavras são simples para compreender. Quando eu digo 'Vá para dentro', é isso exatamente o que eu quero dizer: vá para dentro! Não comece a perguntar sobre as palavras. Escute a mensagem oculta, senão você irá perder o trem. O que eu quero dizer com 'perder o trem'?..........

Se você se tornar muito interessado em palavras, 'O que quer dizer com ir para dentro? O que isso quer dizer...?' Verbalmente, lingüisticamente, Vijen, você vai perder o trem. Não desperdice tempo com palavras!

E essa é particularmente uma nova espécie de doença que tem atingido os intelectuais do mundo. Pelo menos por cinqüenta anos, o mundo filosófico tem se tornado muitíssimo interessado em palavras e análises lingüísticas. Eles não perguntam mais o que é Deus. Eles não perguntam mais se Deus existe ou não. Os filósofos contemporâneos perguntam, 'O que quer dizer quando você usa a palavra Deus?' A questão não é se Deus existe ou não. A questão não é o que é Deus. A questão não é como se alcança Deus. Agora a questão tomou uma nova direção: 'O que você quer dizer quando você usa a palavra Deus?' O que você quer dizer quando você usa a palavra rosa? Essa questão é mais fácil. Você pode pegar o filósofo, forçá-lo a ir até o jardim e mostrar a ele a rosa. 'Isso é o que eu quero dizer quando eu uso a palavra rosa'. Mas isso não pode ser feito com a palavra Deus, isso não pode ser feito com a palavra meditação, isso não pode ser feito com as palavras 'vá para dentro'. Estes são fenômenos sutis. Não se torne um interessado em lingüística. Eu não estou aqui para ensinar análise lingüística a você.

Toda a minha abordagem é existencial. Se você realmente quer saber o que significa ir para dentro, então vá para dentro! E o caminho é: observe os seus pensamentos e não se identifique com eles. Simplesmente permaneça um observador, completamente indiferente, nem contra nem a favor. Não julgue, porque qualquer julgamento traz identificação. Não diga, 'Estes pensamentos são errados' e não diga, 'Estes pensamentos são bons'. Não faça comentários sobre os pensamentos. Deixe que eles passem como se eles fossem apenas a passagem do tráfego e você está de pé ali ao lado da rodovia despreocupado, olhando o tráfego. Não interessa o que está passando, um ônibus, um caminhão ou uma bicicleta. Se você puder observar o processo de pensamentos de sua mente com tal despreocupação, com tal desapego, não estará longe o dia em que todo o tráfego desaparece... porque o tráfego somente pode existir se você seguir dando energia para ele. Se você parar de dar energia para ele... E isso é o observar: parar de dar energia para isso, parar a energia que se move dentro do tráfego. É a sua energia que faz aqueles pensamentos se moverem. Quando a sua energia não os está alimentando, eles começam a cair, eles não conseguem se manter em pé por si mesmos.

E quando a rodovia da mente estiver completamente vazia, você está dentro. Isso é o que eu quero dizer, Vijen, quando eu digo 'Vá para dentro'. E isso é o que Buda quer dizer quando ele diz: 'Siga a sua natureza'."

OSHO - The Book of the Books - Volume I - Discourse n. 3
(tradução: Bodhi Champak)

terça-feira, dezembro 02, 2008

Da observação à não-mente

Pergunta - Osho, como o observar conduz à não-mente? Eu estou conseguindo cada vez mais observar o meu corpo, os meus pensamentos e sentimentos e isso é lindo. Mas os momentos sem pensamento são poucos e distantes entre si. Quando eu ouço você falando "meditação é testemunhar", eu sinto que eu entendo. Mas quando você fala sobre não-mente, isso não parece ser fácil, de jeito algum. Você poderia comentar?




R: "Prem Anubuddha, meditação abrange uma peregrinação muito longa. Quando eu digo 'meditação é testemunhar', isto é o começo da meditação. E quando eu digo 'meditação é não-mente', isto é o encerramento da peregrinação. Testemunhar é o começo e não-mente é a realização. Testemunhar é o método para alcançar a não-mente. Naturalmente você sente o testemunhar mais fácil, pois ele está próximo de você.

Mas testemunhar é como uma semente, existe um longo período de espera. Não apenas espera, mas confiança de que a semente vai brotar, que ela vai se tornar um arbusto, que um dia a primavera virá e o arbusto irá florescer. Não-mente é o último estágio do florescimento.

Semear as sementes, naturalmente é muito fácil, está em suas mãos. Mas fazer com que as flores apareçam está além de você. Você pode preparar todo o solo, mas as flores surgirão por elas mesmas; você não consegue forçá-las a aparecer. A primavera está além do seu alcance, mas ela vem, isso é absolutamente garantido; e se a preparação for perfeita...

É perfeitamente bom o jeito como você está indo. Testemunhar é o caminho e você está começando a sentir, uma vez ou outra, momentos sem pensamentos. Esses são vislumbres de não-mente. ...mas, só por uns momentos.

Lembre-se de uma lei fundamental: aquilo que pode existir por um momento também pode se tornar eterno. Você não dispõe de dois momentos juntos, mas sempre de um momento. E se você puder transformar um momento em um estado de não pensamento, você está aprendendo o segredo. Então não haverá obstáculos, nenhuma razão para que você não possa mudar o segundo momento que também virá sozinho, com o mesmo potencial e a mesma capacidade.

Se você conhecer o segredo, você terá a chave mestra que poderá abrir qualquer momento para vislumbres de não-mente. Não-mente é o estágio final, quando a mente desaparece para sempre e o espaço sem pensamento se torna a sua realidade intrínseca. Se esses poucos vislumbres estão chegando, eles mostram que você está no caminho certo e que você está usando o método certo.

Mas não seja impaciente. A existência precisa de imensa paciência. Os mistérios maiores são abertos apenas para aqueles que têm imensa paciência.

Uma vez que um homem esteja em um estado de não-mente, nada pode desviá-lo de seu ser. Não há poder algum maior que o da não-mente. Nenhum mal pode ser feito a tal pessoa.

Nenhum apego, nenhuma cobiça, nenhuma inveja, nenhuma raiva, nada pode surgir nele. A não-mente é absolutamente um céu puro, sem qualquer nuvem.

Anubuddha, você diz, 'como o observar conduz à não-mente?'

Existe uma lei intrínseca: pensamentos não têm vida própria. Eles são parasitas; eles vivem na sua identificação com eles. Quando você diz, 'eu estou com raiva', você está despejando energia vital na raiva, porque você está ficando identificado com ela.

Mas quando você diz, 'eu estou observando a imagem da raiva na tela da mente dentro de mim', você não está mais dando qualquer vida, qualquer alimento, qualquer energia à raiva. Você será capaz de vê-la porque você não está identificado, a raiva é absolutamente impotente, não tem qualquer impacto sobre você, não muda você, não afeta você. Ela é absolutamente oca e morta. Ela passará e deixará o céu limpo e a tela da mente vazia.

Aos poucos você começa a livrar-se de seus pensamentos. Esse é todo o processo de testemunhar e observar. Em outras palavras, George Gurdjieff costumava chamar isso de não-identificação, você não está mais identificando-se com seus pensamentos. Você está simplesmente parado, desinteressado e distante, indiferente como se eles pudessem ser pensamentos de outra pessoa. Você quebrou a sua conexão com eles. Somente então você pode observá-los.

A observação necessita de uma certa distância. Se você está identificado, não existe distância, eles estão muito próximos.

É como se você estivesse colocando um espelho muito próximo de seus olhos: você não consegue ver o seu rosto. Uma certa distância é necessária; somente então você consegue ver o seu rosto no espelho.

Se os pensamentos estiverem muito próximos, você não consegue observá-los. Você se torna impressionado e influenciado pelos seus pensamentos: a raiva torna você raivoso, a ambição torna você ambicioso, a luxúria torna você luxurioso, porque não existe distância alguma. Eles estão tão próximos que você facilmente pensa que você e seus pensamentos são um.

A observação destrói essa ligação e cria uma separação. Quanto mais você observar, maior será a distância. Quanto maior a distância, menos energia seus pensamentos estarão levando de você. E eles não têm outra fonte de energia. Logo eles começarão a morrer, a desaparecer. Nesses momentos de desaparecimento, você terá os primeiros vislumbres de não-mente.

Isso é o que você está experienciando. Você diz: 'Eu estou conseguindo cada vez mais observar o meu corpo, os meus pensamentos e sentimentos e isso é lindo.' Isso é apenas o começo. E mesmo o começo é tremendamente lindo. Só por estar no caminho certo, mesmo sem dar um simples passo, isso já lhe traz uma imensa alegria, sem que haja qualquer motivo.

E uma vez que você começa a se mover no caminho certo, o seu êxtase, as suas belas experiências vão se tornar mais e mais profundas, mais e mais amplas, com novas nuances, novas flores, novas fragrâncias.

Você diz, 'Mas os momentos sem pensamento são poucos e distantes entre si.' Isso é uma grande conquista, porque as pessoas nem mesmo conhecem uma simples pausa. Os seus pensamentos estão sempre na hora do rush, pensamentos e mais pensamentos, pára-choques se chocando, numa seqüência contínua, esteja você acordado ou dormindo. O que você chama de sonhos, nada mais são do que pensamentos em forma de imagens... porque a mente inconsciente não conhece linguagem alfabética. Não há escolas nem institutos que ensinem a linguagem inconsciente.

Anubuddha, o que você está percebendo é uma grande indicação de que você está no caminho certo. O buscador sempre traz esse questionamento: se ele está se movendo no caminho certo ou não. Não há segurança, nem seguro, nem garantia. Todas as dimensões estão abertas; como você escolherá a direção certa?

Esses são os caminhos e o critério de como escolher: se você se move em algum caminho, usa alguma metodologia e isso lhe traz alegria, mais sensitividade, torna-o mais observador e lhe dá uma sensação de imenso bem estar, esse é o único critério de que você está indo no caminho certo. Se você estiver se tornando mais miserável, mais raivoso, mais egoísta, mais ambicioso, mais luxurioso, estas são as indicações de que você está se movendo num caminho errado.

No caminho certo, a sua felicidade irá crescer dia após dia e suas experiências de belas sensações irão tornar-se tremendamente psicodélicas, muito coloridas, com cores que você nunca viu no mundo, com fragrâncias que você nunca experimentou. Então você poderá seguir no caminho sem qualquer medo de que possa estar indo errado.

Essas experiências internas irão mantê-lo sempre no caminho certo. Basta lembrar-se de que se elas estiverem crescendo, isso significa que você está se movendo. Agora você tem apenas alguns poucos momentos de nenhum pensamento... Isso não é uma realização simples, isso é uma grande conquista porque as pessoas por todas as suas vidas não conhecem sequer um simples momento onde não haja pensamentos.

Na medida que você se tornar mais centrado, mais observador, essas pausas começarão a crescer e tornar-se-ão maiores. E se você continuar se movendo sem olhar para trás, sem se perder, se você continuar indo em frente, chegará um dia, e não está muito distante, quando você irá sentir pela primeira vez que as pausas se tornaram tão grandes que horas estarão passando e nem mesmo um simples pensamento surgirá. Você estará então tendo experiências maiores de não-mente.

A conquista maior será quando você estiver cercado por não-mente vinte e quatro horas por dia.Isso não quer dizer que você não possa usar a sua mente. Essa é uma mentira usada por aqueles que nada sabem da não-mente. Não-mente não significa que você não possa usar a mente; ela simplesmente significa que a mente não pode usar você.

Não-mente não significa que a mente está destruída. Não-mente significa apenas que a mente foi colocada de lado. Você pode acioná-la a qualquer momento em que você precisar se comunicar com o mundo. Ela será sua serviçal. Neste exato momento, ela é a sua patroa. Mesmo quando você está sentado só, ela segue com seu blá-blá-blá, e você nada consegue fazer, você está totalmente impotente.

Não-mente simplesmente significa que a mente foi colocada em seu devido lugar. Como uma serviçal, ela é um grande instrumento; como uma patroa, ela é muito inconveniente. Ela é perigosa. Ela destruirá toda a sua vida.

A mente é apenas um meio para quando você quiser se comunicar com os outros. Mas quando você estiver só, não há necessidade da mente. Assim, sempre que você quiser usá-la, você poderá.

E lembre-se de uma coisa mais: quando a mente permanece silenciosa por horas, ela se torna mais fresca, jovem, mais criativa, mais sensitiva, rejuvenescida através do descanso.

Em geral, a mente das pessoas tem início por volta dos três ou quatro anos de idade, e a partir daí, ela vai continuando por setenta, oitenta anos sem férias. Naturalmente ela não consegue ser muito criativa. Ela está completamente cansada, cheia de lixo. Milhões de pessoas no mundo vivem sem qualquer criatividade. Criatividade é uma das experiências mais felizes. Mas as mentes estão tão cansadas... elas não estão num estado de energia transbordante.

Um homem de não-mente mantém a mente em descanso, cheia de energia, imensamente sensitiva, pronta para entrar em ação no momento em que for ordenada. Não é uma coincidência entre as pessoas que têm experienciado não-mente, que suas palavras começam a ter uma magia em si mesmas. Quando elas usam suas mentes, há um carisma e uma força magnética. Há uma tremenda espontaneidade e o frescor de gotas de orvalho de uma manhã antes do sol nascer. E a mente é o meio de expressão e criatividade mais evoluído da natureza.

Assim, o homem de meditação, ou em outras palavras, o homem de não-mente, muda até a sua prosa, em poesia. Sem qualquer esforço, suas palavras se tornam tão cheias de autoridade, que elas não precisam de qualquer argumentação. Elas se tornam seus próprios argumentos.A força que elas carregam se tornam uma evidência da verdade. Não há necessidade alguma de qualquer outro apoio da lógica ou das escrituras. As palavras de um homem de não-mente carregam uma certeza intrínseca a respeito de si mesmas. Se você estiver pronto para receber e ouvir, sentirá isso em seu coração: a verdade auto evidente.

Veja ao longo das eras: Gautama Buda nunca foi contestado por quaisquer de seus discípulos, nem Mahavira, nem Moisés, nem Jesus. Havia algo em suas palavras, em sua presença que o convencia. Sem qualquer esforço de convertê-lo, você era convertido. Nenhum dos grandes mestres foram missionários, eles nunca tentaram converter ninguém, mas eles converteram milhões.

Isso é um milagre, mas o milagre consiste numa mente descansada, numa mente que está sempre cheia de energia e que é usada somente de vez em quando.

Quando eu falo com vocês, eu tenho que usar a mente. Quando eu estou sentado em meu quarto por quase todo o dia, esqueço tudo a respeito de mente. Eu sou apenas um silêncio puro... e enquanto isso a mente está descansando. Os únicos momentos em que eu uso a mente, é quando eu falo com vocês. Quando eu estou só, eu fico completamente só, e não há necessidade de usar a mente.

Anubhudda, você diz, 'Quando eu ouço você falando 'meditação é testemunhar', eu sinto que eu entendo. Mas quando você fala sobre não-mente, isso não parece ser fácil, de jeito algum.'

Como isso pode parecer fácil? Considere que essa é a sua possibilidade futura. Você já começou a meditação; ela pode estar nos estágios iniciais, mas você já tem uma certa experiência nisso, o que faz com que você me entenda. E se você pode entender meditação, então não se preocupe com mais nada.

A meditação com certeza leva à não-mente, assim como todo rio se move em direção ao mar, sem qualquer mapa, sem qualquer guia. Todo rio, sem exceção, finalmente alcança o oceano. Toda meditação, sem exceção, finalmente alcança o estado de não-mente.

Mas naturalmente, quando o Ganges está no Himalaia, perambulando entre montanhas e vales, ele não tem qualquer idéia sobre o que é o oceano, ele não consegue conceber a existência do oceano. Mas ele está se movendo em direção ao oceano, porque a água tem a capacidade intrínseca de sempre procurar pelo plano mais baixo. E o oceano está no plano mais baixo... Assim, os rios nascem nos picos do Himalaia e começam imediatamente a se moverem em direção a espaços mais baixos e finalmente eles acabam encontrando o oceano.

Exatamente o oposto é o processo da meditação: ele se move para cima, para os picos mais altos e o pico mais alto é a não-mente. Não-mente é uma palavra simples, mas ela significa exatamente iluminação, liberação, liberdade de todas as escravidões, experiência de imortalidade.

Essas são palavras grandiosas e eu não quero que você fique assustado, por isso eu uso uma palavra simples, não-mente. Você conhece a mente... e você consegue conceber um estado em que essa mente esteja sem funcionamento.

Uma vez que esta mente esteja sem funcionamento, você se torna parte da mente do cosmos, da mente universal. Quando você é parte da mente universal, a sua mente individual funciona como uma bela serviçal. Ela terá reconhecido a mestra e ela trará novidades da mente universal para aqueles que ainda estão presos à mente individual.

Quando eu estou falando para vocês, é na verdade o universo que está me usando. As minhas palavras não são minhas palavras, elas pertencem à verdade universal. Esse é o poder, o carisma e a magia delas."

OSHO - Satyam, Shivam, Sundram - Discourse 7 - question 1
(tradução: Bodhi Champak)