"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, setembro 30, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 4/11

- Don Miguel Ruiz -


 O SEGUNDO COMPROMISSO

Não leve nada para o lado pessoal

Os três compromissos seguintes na verdade se originam do primeiro. O segundo compromisso é: não leve nada para  o lado  pessoal.

O que quer que aconteça com você, não tome como pessoal. Usando o exemplo já mencionado, se o vejo na rua e digo: "Você é um estúpido", sem conhecê-lo, não estou falando de você, estou falando de mim. Se você levar para o lado pessoal, talvez acredite que é estúpido. Talvez possa dizer para si mesmo: "Como ele sabe? Será clarividente ou todos percebem que sou estúpido?".

Você leva tudo para o lado pessoal porque concorda com o que está sendo dito. Assim que concorda, o veneno passa através de você e o prende no sonho do inferno. O que causa a sua própria captura é o que chamamos de importância pessoal. Importância pessoal, ou levar as coisas para o lado pessoal, é a expressão máxima do egoísmo porque cometemos a presunção de achar que tudo é sobre "nós". Durante o período de nossa educação, ou domesticação, aprendemos a levar tudo para o lado pessoal. Achamos que somos responsáveis por tudo. Eu, eu, eu e sempre eu!

Nada do que os outros fazem é motivado por você. É por causa deles mesmos. Todas as pessoas vivem em seu próprio sonho, em sua própria mente; estão num mundo completamente diferente do que aquele no qual vivemos. Quando levamos algo para o lado pessoal, presumimos que os outros sabem o que está em nosso mundo e tentamos impor nosso mundo ao deles.

Mesmo quando uma situação parece pessoal, mesmo que os outros o insultem diretamente, não tem nada a ver com você. O que eles dizem, o que fazem e as opiniões que emitem estão de acordo com os  compromissos que as pessoas possuem em suas mentes. O ponto de vista deles provém de toda a programação que receberam durante a domesticação.

Se alguém emite uma opinião e diz "Nossa, como você engordou!", não a leve para o lado pessoal, porque a verdade é que essa pessoa está lidando com os próprios sentimentos, crenças e opiniões. Aquela pessoa tenta envenená-lo, e, se você levar isso para o lado pessoal, então estará aceitando esse veneno, que se torna o seu. Levar as coisas para o lado pessoal torna você presa fácil para esses predadores, os feiticeiros de palavras. Eles conseguem captar sua atenção com uma pequena opinião e injetam todo o veneno que desejam; como você levou para o lado pessoal, aceita tudo.

Você aceita o lixo emocional deles, que passa a ser o seu. Se você não levar para o lado pessoal, estará imune, mesmo no meio do inferno. Imunidade ao veneno no meio do inferno é a dádiva desse compromisso.

Quando você leva as coisas para o lado pessoal, sente-se ofendido e sua reação é defender suas crenças e criar conflitos. Você faz uma tempestade num copo de água, porque tem a necessidade de estar certo e tornar todos os outros errados. Você também tenta estar certo, fornecendo suas próprias opiniões. Da mesma forma, o que quer que sinta e faça é apenas uma projeção de seu sonho pessoal, um reflexo dos próprios compromissos. O que você diz, o que faz e as opiniões que emite estão de acordo com os compromissos que firmou - e esses compromissos nada têm a ver comigo.

Não é importante para mim o que você pensa sobre mim, então não levo para o lado pessoal. Não levo para o lado pessoal quando as pessoas dizem: "Miguel, você é o máximo", e não levo para o lado pessoal quando eles dizem: "Miguel, você é péssimo". Sei que, quando estiverem felizes, vão me dizer: "Miguel, você é um anjo". Mas quando estão zangados, devem me dizer: "Você é nojento. Como pode dizer uma coisa dessas?". De qualquer forma, não me afeta porque sei o que sou. Não tenho a necessidade de ser aceito. Não tenho a necessidade de ter alguém dizendo: "Nossa, como você é bom" ou "Como ousa dizer uma coisa dessas?".

Não levo as coisas para o lado pessoal. O que quer que você pense, como quer que se sinta, sei que é problema seu, e não meu. É a forma como você vê o mundo. Não se trata de nada pessoal, pois você está lidando consigo mesmo, não comigo. Os outros vão ter outra opinião, de acordo com seu próprio sistema de crenças; portanto, nada do que pensem sobre mim corresponde a mim, mas a eles.

Você pode me dizer: “Miguel, o que esta dizendo me magoa”. Mas não é o que estou dizendo que o está magoando; é que você possui ferida que eu toco com o que digo. Você está magoando a si mesmo. Não existe forma de eu levar para o lado pessoal. Não porque eu não acredite em você ou não confie em você, mas porque sei que enxerga o mundo com olhos diferentes, os seus olhos. Você cria uma imagem ou um filme em sua mente, e nessa imagem você é o diretor, o produtor e o protagonista. Todos os outros são coadjuvantes. É o seu filme.

A forma como você vê esse filme é resultado dos compromissos que firmou com a vida. Seu ponto de vista é estritamente pessoal. Não é a verdade de ninguém, e sim a sua. Então, se você ficar bravo comigo, sei que está lidando consigo mesmo. Sou uma desculpa para você se irritar. E você fica bravo porque está lidando com o medo. Se não está com medo, não existe motivo para se irritar comigo. Se você não tem medo, não há motivo para me odiar. Se você não tem medo, não há motivo para sentir ciúme ou tristeza.

Se você vive sem medo, se ama, não existe lugar para essas emoções. Se não sentir nenhuma dessas emoções, é lógico e normal que se sinta bem. Quando se sente bem, tudo ao seu redor está bem. Quando tudo ao seu redor está ótimo, qualquer coisa o faz feliz. Você está amando tudo ao redor porque está amando a si mesmo. Porque gosta da maneira como você é. Porque está contente consigo mesmo. Porque está contente com sua vida. Você está contente com o filme que está produzindo, contente com seus compromissos de vida. Você está em paz e sente-se feliz. Vive nesse estado de graça, no qual tudo é maravilhoso e tudo é tão bonito. Nesse estado de graça, você está produzindo amor o tempo todo com tudo o que percebe.

O que quer que as pessoas façam, sintam, pensem ou digam, não leve para o lado pessoal. Se eles disserem como você é maravilhoso, não o estão dizendo por sua causa. Você sabe que é maravilhoso. Não é necessário acreditar quando as pessoas dizem que você é maravilhoso. Não leve nada para o lado pessoal. Mesmo se alguém pegou uma arma e deu um tiro em sua cabeça, não foi nada pessoal. Até nessa situação extrema.

A opinião que você faz de si mesmo pode não ser verdadeira; portanto, não há necessidade de levar para o lado pessoal tudo o que escuta em sua própria mente. A mente possui a capacidade de falar consigo mesma, mas também tem a capacidade de ouvir informações de outros reinos. Algumas vezes você escuta uma voz em sua mente e pode ficar imaginando de onde ela vem. A voz pode ter vindo de outra realidade na qual os seres humanos são muito semelhantes à mente humana. Os toltecas chamam esses seres de Aliados. Na Europa, África e Índia são chamados de Deuses.

Nossa mente também existe no nível dos Deuses. Nossa mente vive nessa realidade e pode percebê-la. A mente vê com os olhos e percebe essa realidade física em estado de vigília. Mas a mente também vê e percebe sem os olhos, embora a razão raramente se dê conta dessa percepção. A mente vive em mais de uma dimensão. Existem ocasiões em que você tem ideias que não se originaram em sua mente, mas as está percebendo com sua mente. Você tem o direito de acreditar ou não acreditar nessas vozes e o direito de não levar para o lado pessoal o que elas dizem. Temos a opção de acreditar ou deixar de acreditar nas vozes que escutamos no interior de nossas mentes, assim como temos uma opção ao decidir no que acreditar e concordar no sonho do planeta.

A mente também pode falar e escutar. A mente é dividida da mesma forma que o seu corpo é dividido. Assim como você pode dizer: "Penso numa das mãos e posso sacudir e sentir minha outra mão", a mente também pode dizer o mesmo para si. Parte da mente está falando e outra parte está escutando. Torna-se um grande problema quando milhares de partes de sua mente estão falando ao mesmo tempo. Chamamos isso de mitote, lembra?

O mitote pode ser comparado a um grande supermercado onde milhares de pessoas estão falando e negociando ao mesmo tempo. Cada uma tem pensamentos e sentimentos diferentes; cada uma tem um ponto de vista diferente. A programação da mente, todos os compromissos que assumimos, não são necessariamente compatíveis uns com os outros. Cada compromisso comporta-se como um ser humano separado; possui sua própria personalidade e sua própria voz. Existem compromissos conflitantes que vão contra outros compromissos e continuam até se tornar uma grande guerra na mente. O mitote é o motivo pelo qual os humanos mal sabem o que querem, como querem ou quando querem. Não concordam consigo mesmos porque existem partes da mente que desejam uma coisa e outras partes que desejam exatamente o oposto.

Algumas partes da mente possuem objeções a certos pensamentos e ações, e outra parte suporta as ações de pensamentos conflitantes. Todos esses pequenos seres criam conflito interior porque estão vivos e cada um possui uma voz. Apenas fazendo um inventário de nossos compromissos é que poderemos descobrir quais os conflitos na mente e, mais tarde, ordenar o caos do mitote.

Não leve nada para o lado pessoal, porque ao fazer isso você sofre por nada. Os seres humanos são viciados em sofrer de várias formas diferentes, e apoiam uns aos outros quando se trata de manter esse  vício. Os seres humanos concordam em ajudar uns aos outros a sofrer. Se você tem necessidade de sofrer, vai encontrar facilmente quem o faça sofrer. Da mesma forma, se está com pessoas que precisam sofrer, algo em você faz com que produza esse sofrimento para elas. É como se elas tivessem um cartaz nas costas dizendo: "Por favor, me chute". Estão pedindo uma justificativa para o próprio sofrimento. O vício de sofrer não passa de um compromisso reafirmado todos os dias.

Aonde quer que vá, encontrará pessoas mentindo para você. E, quando sua consciência aumenta, vai reparar que você também mente para si mesmo. Não espere que as pessoas lhe digam a verdade, porque também mentem para si mesmas. Você precisa confiar em si mesmo e escolher acreditar ou não no que alguém lhe diz.

Quando realmente enxergamos outras pessoas como elas são - sem levar para o lado pessoal -, nunca poderemos ser feridos pelo que os outros digam ou façam. Mesmo que os outros mintam para você, não há problema. Estão mentindo porque têm medo. Têm medo de que você descubra que eles não são perfeitos. É doloroso retirar a máscara social. Se os outros dizem uma coisa e fazem outra, você estará mentindo para si mesmo se não prestar atenção nos atos deles. Se for verdadeiro consigo mesmo, irá poupar um bocado de dor emocional. Dizer a si mesmo a verdade pode magoar, mas você não precisa ficar ligado a essa dor. A cura é iniciada e torna-se apenas uma questão de tempo para que as coisas melhorem para você.

Se alguém não o está tratando com amor e respeito, é benéfico que se afaste de você. Se essa pessoa não se afastar, você vai permanecer anos a fio sofrendo com ela. Afastar-se pode magoar por um instante, mas seu coração irá curar-se disso. Então você pode escolher o que realmente deseja. Irá descobrir que não precisa confiar nos outros tanto quanto precisa confiar em si mesmo para fazer as escolhas corretas.

Quando você torna um hábito forte não levar as coisas para o lado pessoal evita muitos aborrecimentos em sua vida. Sua raiva, inveja e ciúme irão desaparecer, e até mesmo a tristeza irá dissolver-se quando você aprender a não levar as coisas para o lado pessoal.

Se você tomar esse segundo compromisso um hábito, irá descobrir que nada pode te colocar de volta no inferno. Uma grande quantidade de liberdade fica acessível quando você deixa de levar as coisas para o lado pessoal. Você se torna imune à magia negra, e nenhum encantamento pode afetá-lo, não importa quão poderoso seja. Todo mundo pode mexericar a seu respeito, mas se você não levar para o lado pessoal, estará imune. Alguém pode enviar veneno emocional intencionalmente, mas se você não levar para o lado pessoal, estará imune. Quando não aceita a dor emocional, ela se torna pior para quem a enviou, mas não atinge você.

Pode perceber como esse compromisso é importante? Não levar nada para o lado pessoal ajuda a quebrar muitos hábitos e rotinas que o prendem ao sonho do inferno e causam sofrimento desnecessário. Apenas praticando esse segundo compromisso você pode começar a quebrar dúzias de pequenos outros compromissos que lhe causam sofrimento. E se pratica os primeiros dois compromissos, irá quebrar setenta e cinco por cento dos pequenos compromissos que o mantinham ligado ao inferno.

Escreva o compromisso num papel e coloque na geladeira para lembrar você todo o tempo: Não leve nada para o lado pessoal.

Enquanto você se acostuma à prática de não levar as coisas para o lado pessoal, não vai precisar colocar sua confiança no que os outros dizem ou fazem. Só precisará confiar em si mesmo para fazer escolhas responsáveis. Você nunca é responsável pela ação dos outros; só é responsável por si próprio. Ao compreender verdadeiramente isso recusando-se a levar as coisas para o lado pessoal, você mal pode ser atingido pelos comentários descuidados ou ações dos outros.

Se você mantém esse compromisso, pode viajar ao redor do mundo com o coração completamente aberto e ninguém será capaz de lhe fazer mal. Pode dizer "eu amo você" sem medo de ser ridículo ou rejeitado. Você aprende a pedir o que precisa. Pode dizer sim ou não - qualquer que seja sua escolha - sem culpa ou autojulgamento. Você pode escolher sempre seguir seu coração. Então estará no meio do inferno e será capaz de experimentar paz e felicidade. Você pode permanecer em seu estado de graça e o inferno não será capaz de afetá-lo.


quinta-feira, setembro 24, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 3/11

- Don Miguel Ruiz - 


O PRIMEIRO COMPROMISSO

Seja impecável com sua palavra

O primeiro compromisso é o mais importante e também o mais difícil de cumprir. É tão importante que apenas com esse primeiro compromisso você será capaz de transcender ao nível de existência que chamo de céu na Terra

O primeiro compromisso é ser impecável com sua palavra. 

Parece simples, mas é extremamente poderoso. Por que sua palavra? A palavra é o poder que você tem de criar. Sua palavra é o dom que vem diretamente de Deus. O Livro do Gênesis, na Bíblia, falando da criação do universo, diz: "No início havia o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus". Mediante a palavra você expressa seu poder criativo. É por meio da palavra que você manifesta tudo. Independentemente de qual língua você fale, sua intenção se manifesta por intermédio da palavra. O que você sonha, o que você sente e o que você realmente é será manifestado mediante a palavra

A palavra não é apenas um som ou um símbolo escrito. 

A palavra é força; é o poder que você possui de expressar-se e comunicar-se, de pensar, e, portanto, de criar os eventos em sua vida. Você pode falar. Que outro animal no planeta pode falar? A palavra é a mais poderosa ferramenta que você possui como ser humano; é a ferramenta da magia. Porém, como uma espada de dois gumes, sua palavra pode criar o sonho mais belo ou destruir tudo ao seu redor. Uma das lâminas é o mau uso da palavra, que cria um verdadeiro inferno. A outra lâmina é a impecabilidade da palavra, que apenas cria beleza, amor e o céu na Terra. Dependendo de como é usada, a palavra pode libertar você ou pode escravizá-lo mais do que imagina. Toda a magia que você possui está baseada em sua palavra: Sua palavra é magia pura, e o mau uso dela e magia negra

A palavra é tão poderosa que uma única pode mudar ou destruir as vidas de milhões de pessoas. Alguns anos atrás, um homem, na Alemanha, pelo uso da palavra, manipulou todo um país formado de pessoas inteligentes. Ele as conduziu a uma guerra mundial usando apenas o poder de sua palavra. Convenceu os outros a cometerem os piores atos de violência. Ativou ou o medo das pessoas com a palavra e, como uma grande explosão em cadeia, aconteceram assassinatos e guerra pelo mundo inteiro. Pelo mundo afora, seres humanos destruíram outros seres humanos porque tinham medo uns dos outros. A palavra de Hitler, baseada em crenças e compromissos gerados pelo medo, será lembrada por muitos séculos. A mente humana é como um terreno fértil onde sementes estão sendo plantadas continuamente. As sementes são opiniões, ideias e conceitos. Você planta uma semente, e a mente humana é tão fértil! O único problema é que, frequentemente, também é fértil para as sementes do medo. A mente do ser humano é fértil, mas apenas para as sementes para as quais é preparada. O que é importante é saber para que tipo de semente nossa mente é fértil, e então prepará-la para receber as sementes do amor.

Vamos tomar o exemplo de Hitler: ele enviou todas aquelas sementes de medo e elas germinaram e conseguiram provocar destruição em massa. Percebendo o enorme poder da palavra, precisamos compreender que tipo de poder sai de nossas bocas. Um temor ou dúvida plantados em nossas mentes pode gerar um drama infinito de eventos. A palavra é como um encantamento, e os seres humanos usam a palavra como feiticeiros, colocando impensadamente encantamentos uns nos outros.

Cada ser humano é um mágico, e podemos colocar alguém sob encantamento com nossas palavras ou libertar alguém de um encantamento. Lançamos encantamentos a todo instante com nossas opiniões. Um exemplo: vejo um amigo e lhe dou uma opinião que acabou de passar por minha mente. Digo: "Hum... estou vendo no seu rosto aquela cor de uma pessoa que vai ter câncer". Se ele me ouvir e concordar, irá desenvolver câncer em menos de um ano. Esse é o poder da palavra. 

Durante nossa domesticação, nossos pais e irmãos deram suas opiniões sobre nós sem ao menos pensar. Acreditamos nessas opiniões e vivemos com medo dessas opiniões, como não ser bom em natação, ou no esporte, ou em escrever. Alguém dá sua opinião e diz: "Veja, aquela menina é feia!” A menina escuta, acredita que é feia e cresce com a ideia de que é feia. Não importa quão bonita ela seja: enquanto mantiver esse compromisso consigo mesma, irá acreditar que é feia. Esse é o encantamento que a atinge.

Ao captar nossa atenção, a palavra pode entrar em nossa mente e alterar todo um conceito para melhor ou para pior. Outro exemplo: você acredita que é estúpido, e por ter acreditado nisso até onde vai sua lembrança. Esse compromisso pode ser capcioso, levando você a fazer muitas coisas para provar que é estúpido. Você pode dizer a si mesmo: "Gostaria de ser esperto, mas devo ser estúpido ou não teria feito aquilo". A mente vai em centenas de direções diferente e poderíamos passar dias tendo a atenção atraída apenas por aquela crença, em sua própria estupidez. 

Então, um dia alguém prende sua atenção e, usando a palavra, diz que você não é estúpido. Você acredita no que aquela pessoa está dizendo e faz um novo compromisso. Como resultado disso, você não se sente nem age mais como estúpido. Um encantamento inteiro é quebrado apenas pelos poderes de uma palavra. De forma análoga, se você acredita ser estúpido e alguém prende sua atenção e diz: "É verdade, você é a pessoa mais estúpida que eu já conheci", o acordo será reforçado e vai se tornar ainda mais forte. 

Agora vamos examinar o significado da palavra impecabilidade.  Impecabilidade quer dizer "sem   pecado". Impecável vem do latim peccatu, que   significa "pecado". O prefixo im é igual a "sem"; portanto, impecável é "sem pecado". As religiões falam sobre pecado e pecadores, mas vamos compreender o que realmente significa pecar.

Um pecado é uma coisa que você faz e que vai contra você mesmo. Tudo o que sente, em que acredita ou diz que vai contra você mesmo é um pecado. Você vai contra si mesmo quando se julga ou se culpa por alguma coisa. Estar sem pecado significa exatamente o oposto. Ser impecável é não ir contra a sua natureza. Quando você é impecável assume a responsabilidade por seus atos, mas não julga nem culpa a si mesmo. 

Desse ponto de vista, todo o conceito de pecado muda de alguma coisa "moral" ou "religiosa" para algo pertencente ao senso comum. O pecado começa com a rejeição de você mesmo. Auto rejeição é o maior de todos os pecados que você pode cometer. Em termos religiosos, a auto rejeição é um "pecado mortal", que leva à morte. Impecabilidade, por outro lado, leva à vida.

Ser impecável com sua palavra é não usá-la contra você mesmo. Se eu o vir na rua e o chamar de estúpido, parece que estou usando a palavra contra você. Na realidade, estou usando minha palavra contra mim mesmo, pois você vai me odiar por isso, e o seu ódio não é bom para mim. Portanto, se eu ficar zangado e com minha palavra mandar todo o veneno emocional para você, estou usando minha palavra contra mim. 

Se amo a mim mesmo, irei expressar esse amor em minha interação com você, e então serei impecável com a palavra, porque aquela ação irá produzir uma reação análoga. Se eu amo você, então você irá me amar. Se eu insultá-lo, você irá me insultar. Se eu demonstrar gratidão por você, você terá gratidão por mim. Se eu for egoísta com você, você será egoísta comigo. Se eu usar a palavra para colocar um encantamento em você, você irá colocar um encantamento em mim. 

Ser impecável com a própria palavra é o emprego correto de sua energia; significa usar sua energia na direção da verdade e do amor por você. Se você fizer um compromisso com você mesmo de ser impecável com sua palavra, com apenas essa intenção a verdade irá se manifestar por seu intermédio e limpar todo o veneno emocional que existe em seu interior. Mas firmar esse compromisso é difícil porque aprendemos a fazer exatamente o oposto. Temos aprendido a mentir como hábito de comunicação com os outros, e, mais importante, conosco. Não somos impecáveis com a palavra. 

O poder da palavra é usado de forma completamente errada no inferno. Usamos a palavra para amaldiçoar, culpar, encontrar remorso, destruir. Claro, podemos usar no sentido correto, mas não com muita frequência.

Na maior parte do tempo usamos a palavra para espalhar nosso veneno pessoal - para expressar raiva, ciúme, inveja e ódio. A palavra é magia pura - o presente mais poderoso que temos como seres humanos - e a usamos contra nós mesmos. Planejamos vingança. Criamos o caos no mundo. Usamos a palavra para criar ódio entre raças diferentes, entre pessoas diferentes, entre famílias, entre nações. Fazemos mau uso da palavra com muita frequência, e esse mau uso é nossa forma de criar e perpetuar o sonho do inferno. O mau uso da palavra é como empurramos uns aos outros para baixo e nos mantemos em estado de medo e dúvida. Como a palavra é a mágica que os seres humanos possuem e o mau uso da palavra é magia negra, estamos o tempo todo usando magia negra sem saber que nossa palavra produz magia.

Havia uma mulher, por exemplo, que era inteligente e tinha um ótimo coração. Ela possuía uma filha a quem adorava e amava muito. Uma noite ela voltou para casa depois de um dia no trabalho, cansada, cheia de tensão emocional e com uma terrível dor de cabeça. Ela queria paz e sossego, mas sua filha estava cantando e pulando alegremente. A filha estava inconsciente de como a mãe se sentia, encontrava-se em seu próprio mundo, em seu próprio sonho. A menina sentia-se maravilhosa, saltava e cantava cada vez mais alto, expressando sua alegria e seu amor. Cantava tão alto que piorava a dor de cabeça de sua mãe, e num determinado momento a mãe perdeu o controle. Irritada, olhou para a menina e disse: "Cale a boca! Você tem uma voz horrível. Não pode ficar quieta?". 

A verdade é que, naquele momento, a tolerância da mãe para qualquer coisa era nula. Mas a filha acreditou no que a mãe disse, e naquele instante fez um compromisso consigo mesma. Depois disso, não cantou mais, porque acreditava  que a própria voz era feia e iria incomodar qualquer um que a ouvisse. Mostrou-se tímida na escola e, quando lhe pediam que cantasse, ela recusava. Até mesmo falar com os outros tornou-se difícil para ela. Tudo mudou nessa menina por causa do novo compromisso: ela acreditava que devia suprimir suas emoções para ser aceita e amada. 

Sempre que escutamos uma opinião e acreditamos nela, fazemos um compromisso que se torna parte do nosso sistema de crenças.

Quantas vezes fazemos isso com nossos próprios filhos? Damos a eles esse tipo de opinião, e nossos filhos carregarão essa magia negra por anos e anos a fio. As pessoas que nos amam fazem magia negra conosco, mas não se dão conta. Por isso precisamos perdoá-las; não sabem o que fizeram. 

Outro exemplo: você acorda de manhã sentindo-se muito feliz. Sente-se tão bem que permanece por uma ou duas horas em frente ao espelho, embelezando-se. Bem, um de seus melhores amigos diz: "O que aconteceu com você? Está horrível!. Olhe só esse vestido que está usando; é ridículo". Pronto, isso é o suficiente para colocar você a caminho do inferno. Talvez seu amigo só tenha dito isso para magoar você. E conseguiu. Emitiu a opinião com todo o poder da palavra dele como apoio. Se você aceita a opinião, ela se torna um compromisso e você coloca todo o seu poder nessa opinião. Essa opinião se torna magia negra

Esses tipos de encantamento são difíceis de quebrar. A única coisa que pode quebrar um encantamento é fazer novo compromisso baseado na verdade. A verdade é a parte mais importante de ser impecável com sua palavra. De um lado do fio da espada estão as mentiras, que cria magia negra, e do outro está a verdade, que possui o poder de quebrar o encantamento da magia negra. Apenas a verdade pode nos libertar. Observando as reações diárias dos seres humanos, imagine quantas vezes atiramos encantamentos uns nos outros com nossa palavra. Com o tempo, essa interação se torna a pior forma de magia negra, e a chamamos de mexerico ou fofoca.

Fofocar é praticar magia negra em seu pior aspecto, porque é puro veneno. Aprendemos como fofocar firmando um compromisso. Quando éramos crianças, escutávamos os adultos ao nosso redor mexericando o tempo todo, dando abertamente suas opiniões sobre outras pessoas. Eles chegavam até a emitir opiniões sobre pessoas que não conheciam. O veneno emocional era transferido com as opiniões e aprendíamos que essa era uma forma normal de comunicar-se. 

Mexericar tornou-se a forma principal de comunicação na sociedade humana. Tornou-se a forma de nos aproximar uns dos outros, porque nos faz sentir melhor ao ver que outros se sentem tão mal quanto nós. Existe uma antiga expressão que diz: “A miséria gosta de companhia”, e as pessoas que sofrem no inferno não querem ficar sozinhas. O medo e o sofrimento são uma parte importante no drama do planeta; são a maneira de o sonho do planeta nos manter abaixados.

Fazendo a analogia da mente humana com o computador, as fofocas poderiam ser comparadas aos vírus. Um vírus de computador é um programa escrito na mesma linguagem que todos os outros códigos de programas, porém carrega uma intenção danosa. Esse código é introduzido no interior do programa do seu computador quando você menos espera, e sem o seu conhecimento. Depois que esse código foi introduzido, seu computador não funciona direito, ou simplesmente não funciona porque os códigos se confundem tanto com as mensagens conflitantes que param de produzir os resultados esperados. 

As fofocas humanas funcionam exatamente da mesma forma. Por exemplo, você está começando uma nova aula com um professor, e aguarda isso há muito tempo. No primeiro dia de aula, você se encontra com alguém que já cursou aquela matéria, que lhe diz : "Ah, aquele professor é um sujeito pernóstico. Ele não faz ideia sobre o que está falando e, cuidado já ouvi dizer que é tarado!". Você imediatamente se impressiona com aquelas palavras e com o código emocional da pessoa quando disse isso, mas não está consciente das motivações dela para lhe dizer aquilo. Essa pessoa poderia estar irritada por não ter conseguido passar na prova, ou simplesmente está fazendo uma suposição baseada em medo e preconceito; mas como você aprendeu a ingerir informações como uma criança, alguma parte do seu ser acredita na fofoca e você vai assistir à aula. 

Enquanto o professor fala, você sente o veneno se formando em seu espírito e não percebe que está vendo o professor através dos olhos da pessoa que fez a fofoca. Então você começa a falar para as outras pessoas na classe da mesma forma: "ele é um pernóstico e tarado". Você odeia a aula, e logo decide desistir. Culpa o professor, mas a verdadeira culpada é a fofoca. Toda essa confusão pode ser causada por um único vírus de computador. Um pequeno trecho de desinformação pode interromper a comunicação entre pessoas, infectando cada indivíduo, que passa a contagiar outros. Imagine que cada vez que os outros fofocam com você, inserem um vírus de computador em sua mente, fazendo com que pense menos claramente. Depois imagine que, num esforço para limpar a própria confusão e conseguir alívio do veneno, você fofoca e espalha esses vírus para mais alguém. 

Agora, imagine esse padrão caminhando numa corrente infinita entre todos os seres humanos da Terra. O resultado é um mundo cheio de pessoas que podem apenas receber informações através dos circuitos entupidos com um vírus contagioso e venenoso. Uma vez mais, esse vírus venenoso é o que os toltecas chamam de mitote, o caos de milhares de vozes diferentes, todas tentando falar ao mesmo tempo na mente. 

Ainda pior são os feiticeiros ou "hackers de computador", os que intencionalmente espalham o vírus. Recorde a época quando você ou algum conhecido seu estava zangado com outra pessoa e desejava se vingar. Para buscar a vingança, você disse alguma coisa para/sobre a pessoa com a intenção de espalhar veneno e fazer com que essa pessoa se sentisse mal consigo mesma. Quando crianças, fazemos isso sem pensar, mas quando crescemos nos tornamos muito mais calculistas em nossos esforços para rebaixar outra pessoa. Então mentimos para nós mesmos e dizemos que essa pessoa recebeu um castigo justo para seus malfeitos. 

Quando enxergamos o mundo através de um vírus de computador, é fácil justificar o comportamento mais cruel. O que deixamos de perceber é que o mau uso de nossa palavra está nos enterrando cada vez mais no sonho do inferno.

Por anos a fio recebemos fofocas e opiniões do outros, mas também da forma como usamos a palavra conosco. Falamos conosco constantemente a maior parte do tempo dizendo coisas como: "Puxa, estou gordo. Estou feio. Estou ficando velho, estou perdendo os cabelos. Sou estúpido, nunca entendo nada. Jamais serei bom o suficiente, e nunca serei perfeito". Está vendo como usamos nossa palavra contra nós mesmos? Precisamos começar a compreender o que a palavra é e o que a palavra faz. Se você compreender o primeiro compromisso - Ser impecável com sua palavra -, você começa a perceber todas as mudanças que podem acontecer em sua vida. Primeiro, na forma como você lida consigo mesmo, e, depois, na forma como lida com outras pessoas, especialmente aquelas a quem ama mais. 

Considere quantas vezes você mexericou sobre a pessoa que ama para conquistar o apoio de outros para o seu ponto de vista. Quantas vezes você capturou a atenção dos outros e espalhou veneno sobre quem mais ama, a fim de tornar sua posição correta? Sua opinião não é nada além do seu ponto de vista. Não é necessariamente verdadeira. Sua opinião deriva de suas crenças, do seu próprio ego e do seu próprio sonho. Criamos todo esse veneno e o espalhamos aos outros, de forma que possamos imaginar certos em nosso ponto de vista.

Se adotarmos o primeiro acordo e nos tornarmos impecáveis em relação a nossa palavra, qualquer veneno emocional será limpo de nossa mente e de toda a comunicação em nossos relacionamentos pessoais, incluindo nosso animal de estimação, cão ou gato. 

A impecabilidade no mundo também irá conferir imunidade em relação a alguém colocando um encantamento em você. Você apenas receberá a ideia negativa se sua mente for um terreno fértil para essa ideia. Quando você se torna impecável em relação a sua palavra, sua mente não mais se constitui em terreno fértil para as palavras que formam a magia negra. Ao invés disso, é um terreno fértil para palavras que vêm do amor. Você pode medir a impecabilidade de sua palavra pelo seu nível de amor próprio

Quanto você ama a si mesmo e como se sente consigo são diretamente proporcionais à qualidade e integridade de sua palavra. Quando você é impecável com suas palavras, sente-se bem, feliz e em paz. 

Você pode transcender o sonho do inferno apenas firmando o compromisso de ser impecável com sua palavra. Neste instante estou plantando essa semente em sua cabeça. Se ela vai ou não crescer, depende de quão fértil sua mente é para as sementes do amor. Cabe a você firmar esse compromisso com você mesmo: "Sou impecável com minha palavra". Cuide dessa semente e, à medida que ela germinar em sua mente, irá gerar mais sementes de amor para substituir as sementes de ódio. Esse primeiro compromisso irá mudar o tipo de sementes que brotam de sua mente.

Ser impecável com a própria palavra. Este é o primeiro compromisso que você deve fazer se quiser ser livre, se quiser ser feliz, se quiser transcender o nível de existência que é o inferno. Use a palavra para espalhar o amor. Use magia branca, começando com você mesmo. Diga a si próprio quão maravilhoso você é, como é grande. Diga a si mesmo como gosta de você. Use a palavra para quebrar todos os pequenos compromissos que o fazem sofrer. 

É possível. É possível porque eu fiz isso, e não sou melhor do que você. Não, somos exatamente a mesma coisa. Temos o mesmo tipo de cérebro e o mesmo tipo de corpo; somos humanos. Se eu fui capaz de quebrar esses compromissos e criar novos compromissos, então você pode fazer a mesma coisa. Se posso ser impecável com a minha palavra, por que você não pode? Apenas esse único compromisso pode mudar toda a sua vida. A impecabilidade da palavra pode levar à liberdade pessoal ao sucesso e à abundância; pode facilmente dissolver todo o medo e transformá-lo em alegria e amor. Imagine só o que você pode criar com a impecabilidade da palavra. Com a impecabilidade da palavra, você pode transcender o sonho do medo e viver uma vida diferente. Pode viver no céu no meio de milhares de pessoas que vivem no inferno, porque você é imune a esse inferno. Você pode atingir o reino do céu apenas com este compromisso: seja impecável com sua palavra.


sábado, setembro 19, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 2/11


- Don Miguel Ruiz -

A DOMESTICAÇÃO E O SONHO DO PLANETA

O que você está vendo e ouvindo neste momento não passa de um sonho. Você está sonhando neste momento. 

Está sonhando com o cérebro acordado. 

Sonhar é a principal função da mente, e os sonhos da mente duram vinte e quatro horas por dia. Sonhamos quando o cérebro está acordado e também sonhamos quando o cérebro está adormecido. A diferença é que quando o cérebro está acordado, existe uma moldura material que nos faz perceber as coisas de forma linear. Quando vamos dormir, não temos essa moldura, e o sonho possui a tendência de mudar constantemente.  

Os seres humanos não estão sonhando o tempo todo. Antes que nascêssemos, houveram aqueles que anteriormente a nós criaram um grande sonho externo que denominamos sonho da sociedade ou sonho do planeta. O sonho do planeta é um sonho coletivo de bilhões de sonhos pessoais menores, que, juntos, formam o sonho da família, o sonho da comunidade, o sonho de uma cidade, o sonho de um país, e, finalmente, o sonho de toda a humanidade. O sonho do planeta  inclui todas as regras da sociedade, suas crenças, suas leis, suas religiões, suas diferentes culturas e formas de ser seus governantes, escolas, eventos sociais e feriados. Nascemos com a capacidade de aprender como sonhar, e os seres humanos que viveram antes de nós nos ensinaram sonhar da forma que a sociedade sonha

O sonho exterior também é um sonho adormecido. A diferença é que quando o cérebro está acordado, existe uma moldura material que nos faz perceber as coisas de forma linear. Quando vamos dormir, não temos essa moldura, e o sonho possui a tendência de mudar constantemente. O sonho exterior possui tantas regras que, quando um novo ser humano nasce, captamos a atenção da criança e apresentamos as regras à mente dela. O sonho exterior usa papai e mamãe, as escolas e a religião para nos ensinar a sonhar. 

A atenção é a capacidade que possuímos de discriminar e nos focalizar apenas no que desejamos perceber. Podemos perceber milhões de coisas ao mesmo tempo, mas, usando nossa atenção, podemos segurar qualquer delas no primeiro plano de nossa mente. Os adultos ao redor de nós capturam nossa atenção e colocam informações em nossas mentes mediante a repetição. Essa é a forma pela qual aprendemos tudo o que sabemos. 

Utilizando nossa atenção, aprendemos uma realidade inteira, um sonho inteiro. Aprendemos como nos comportar em sociedade, em que acreditar e em que não acreditar, o que é bom e o que é mau, o que é bonito e o que é feio, o que é certo e o que é errado. Tudo já estava lá - todo esse conhecimento, todas as regras e conceitos sobre como comportar-se no mundo.

Quando você estava na escola, sentava-se numa cadeira pequena e colocava sua atenção no que o professor estava ensinando. Quando você ia à igreja, colocava sua atenção naquilo que o padre ou o pastor dizia. É a mesma dinâmica com pais e mães, irmãos e irmãs: todos tentam capturar sua atenção. Aprendemos também a capturar as atenções de outros seres humanos e desenvolvemos certa "necessidade" de atenção que pode se tomar extremamente competitiva. As crianças competem para ter a atenção dos pais dos professores, dos amigos. "Olhe para mim! Veja o que estou fazendo! Ei, eu estou aqui." A necessidade de atenção se toma muito forte e continua pela vida adulta. O sonho exterior captura nossa atenção e nos ensina em que acreditar, começando com a linguagem que utilizamos. A linguagem é o código para o entendimento e a comunicação entre os seres humanos. Cada letra, cada palavra em cada linguagem é um acordo. Chamamos a isso de página de um livro; a palavra página é um acordo que entendemos. Uma vez que se compreenda o código, nossa atenção é capturada e a energia é transferida de uma pessoa para outra. 

Não foi sua escolha falar português. Você não escolheu sua religião e valores morais - eles já existiam antes de você nascer. Nunca tivemos a oportunidade de escolher em que acreditar ou não acreditar. Nunca escolhemos nem ao menos o menor desses acordos. Não escolhemos ao menos nosso próprio nome. 

Quando crianças, não tivemos oportunidade de escolher nossas crenças, mas concordamos com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta por intermédio de outros seres humanos. A única maneira de armazenar informações é por acordo. O sonho exterior pode captar nossa atenção, mas se não concordarmos, não armazenamos essa informação. Assim que concordamos, acreditamos, e isso é chamado de fé. Ter fé é acreditar incondicionalmente. 

Foi assim que aprendemos quando crianças. Crianças acreditam em tudo o que os adultos dizem. Concordamos com eles, e nossa fé é tão forte que o sistema de fé controla todo o nosso sonho de vida. Não escolhemos essas crenças, e poderíamos nos ter rebelado contra elas, mas não tivemos força suficiente para realizar essa rebelião. O resultado é ceder às crenças com nosso consentimento. 

Chamo esse processo de a domesticação de seres humanos.

E por intermédio dessa domesticação aprendemos como viver e como sonhar. Na domesticação de seres humanos, a informação do sonho exterior é conduzida para o sonho interior, criando nosso sistema de crenças. Primeiro a criança aprende o nome das pessoas e das coisas: mamãe, papai, leite, garrafa. Dia a dia, em casa, na escola, na igreja e na televisão, nos dizem como viver, que tipo de comportamento é aceitável. O sonho exterior nos ensina a ser um ser humano. Temos um conceito completo sobre o que é uma "mulher" e o que é um "homem". Também aprendemos a julgar: julgamos a nós mesmos, julgamos as outras pessoas, julgamos os vizinhos. 

As crianças são domesticadas da mesma forma que domesticamos um cão, um gato ou qualquer outro animal. Para ensinar um cachorro precisamos punir e dar recompensas a ele. Treinamos nossos filhos, aos quais amamos tanto, da mesma forma que treinamos qualquer animal doméstico: com um sistema de castigos e recompensas. Dizem-nos: "Você é um bom menino" ou "Você é uma boa menina" quando fazemos o que mamãe e papai querem que a gente faça. Quando isso não acontece, somos "meninos maus" ou "meninas más". 

Nas oportunidades em que fomos contra as regras, nos puniram; e quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. Fomos castigados muitas vezes por dia e recompensados muitas vezes por dia. Logo ficamos com receio de sofrer o castigo e também com receio de não ganharmos a recompensa. 

A recompensa é a atenção que conseguimos de nossos pais, ou de outras pessoas como irmãos, professores e amigos. Logo desenvolvemos necessidade de captar a atenção de outras pessoas para conseguir a recompensa. A recompensa provoca uma sensação boa, e continuamos fazendo o que os outros querem que a gente faça para obter a recompensa. Com medo de ser punidos e medo de não ganhar recompensa, começamos a fingir ser o que não somos apenas para agradar aos outros, só para ser suficientemente bons para outras pessoas. Tentamos agradar a mamãe e papai, tentamos agradar aos professores na escola, tentamos agradar à Igreja, e com isso começamos a representar. Fingimos ser o que não somos porque temos medo de ser rejeitados. O medo de sermos rejeitados torna-se o medo de não sermos suficientemente bons. Mais tarde, acabamos por nos tornar alguém que não somos. Tornamo-nos cópias das crenças de mamãe, das crenças de papai, das crenças da sociedade e das crenças religiosas. 

Todas as nossas tendências normais são perdidas no processo da domesticação. E quando somos grandes o suficiente para que nossa mente compreenda, aprendemos a palavra não. Os adultos dizem "Não faça isso, não faça aquilo". Nós nos rebelamos e dizemos "Não!". Rebelamo-nos porque estamos defendendo nossa liberdade. Queremos ser nós mesmos, mas somos fracos, e os adultos são grandes e fortes. Depois de um certo tempo, ficamos com medo porque sabemos que todas as vezes em que fizermos algo errado, seremos castigados. 

A domesticação é tão forte que num ponto determinado de nossa vida não precisamos mais que ninguém nos domestique. Não precisamos da mamãe ou do papai, da escola ou da Igreja para nos domesticar. Somos tão bem treinados que passamos a ser nosso próprio treinador. Somos um animal autodomesticado. Agora podemos domesticar a nós mesmos de acordo com a mesma crença no sistema que nos forneceram, usando as mesmas técnicas de punição e recompensa. Punimos a nós mesmos quando não seguimos as regras de acordo com nosso sistema de crenças; recompensamos a nós mesmos quando somos "bonzinhos" ou "boazinhas" o sistema de crenças é como o Livro da Lei que regula nossa mente. Sem questionar, o que estiver escrito no Livro da Lei é nossa verdade. Baseamos todos os nossos julgamentos segundo o Livro da Lei, mesmo que esses julgamentos e opiniões venham contra nossa própria natureza. Mesmo leis morais como os Dez Mandamentos são programadas em nossas mentes no processo de domesticação. Um a um, todos esses compromissos passam a constar no Livro da Lei, e esses compromissos regem nosso sonho. 

Existe algo em nossa mente que julga a tudo e a todos, incluindo o tempo, o cão, o gato... tudo. O Juiz interno usa o que está escrito no Livro da Lei para julgar o que fazemos e o que não fazemos, o que pensamos e o que deixamos de pensar, e também tudo o que sentimos e deixamos de sentir. Tudo vive sob a tirania desse Juiz. Todas as vezes que fazemos alguma coisa que vai contra o Livro da Lei, o Juiz diz que somos culpados, que precisamos ser punidos e que deveríamos nos envergonhar. Isso acontece muitas vezes por dia, dia após dia, ao longo de todos os anos em que vivermos. 

Existe outra parte de nós que recebe os julgamentos, e essa parte chama-se: a Vítima. A Vítima carrega a culpa, a responsabilidade e a vergonha. É a parte de nós que diz: "Coitado de mim, não sou bom o suficiente, não sou inteligente o suficiente, não sou atraente, não sou digno de amor, pobre de mim". O grande Juiz concorda e diz: "Sim, você não é bom o suficiente". E tudo isso é baseado num sistema de crenças que não chegamos a escolher. Essas crenças são tão fortes que mesmo anos mais tarde, depois que fomos expostos a novos conceitos e tentamos tomar nossas próprias decisões, descobrimos que essas crenças ainda controlam nossas vidas. 

O que quer que vá contra o Livro da Lei irá fazer você experimentar uma sensação estranha no plexo solar, que é chamada medo. Quebrar as regras do Livro da Lei abre seus ferimentos emocionais, e sua reação cria veneno emocional. Porque tudo que está no Livro da lei tem de ser verdade, qualquer coisa que desafie aquilo em que você acredita irá produzir uma sensação de insegurança. Mesmo que o Livro da Lei esteja errado, ele faz com que você se sinta seguro

É por isso que precisamos de um bocado de coragem para desafiar nossas próprias crenças. Ainda que saibamos não haver escolhido nenhuma dessas crenças, também é verdade que terminamos por concordar com todas elas. A concordância é tão forte que mesmo que a gente entenda o conceito de que não são nossas verdades, sentimos a culpa e a vergonha que ocorrem se formos contra essas regras. Assim como o governo possui o Livro de leis que regula o sonho da sociedade, o nosso sistema de crenças possui o Livro da lei que regulamenta nosso sonho pessoal. Todas essas leis existem em nossa mente, acreditamos nelas, e o Juiz dentro de nós baseia tudo nessas regras. O Juiz decreta e a Vítima sofre a culpa e o castigo. 

Mas quem disse que existe justiça nesse sonho? A verdadeira justiça é pagar uma vez apenas por cada erro. A injustiça verdadeira é pagar mais de uma vez por cada erro. 

Quantas vezes pagamos por um erro? A resposta é: milhares de vezes. O ser humano é o único animal na Terra que paga milhares de vezes pelo mesmo erro. O resto dos animais paga apenas uma vez pelo erro cometido. Mas nós não. Temos uma memória poderosa. Cometemos um erro, julgamos a nós mesmos, descobrimos que somos culpados e castigamos a nós mesmos. Se a justiça existe, então foi o suficiente; não precisamos nos castigar outra vez. Mas cada vez que lembramos, julgamos a nós mesmos outra vez, nos declaramos culpados outra vez e punimos a nós mesmos outra vez, e outra, e outra ainda. Se tivermos uma esposa ou marido, ela ou ele também ajudarão a lembrar de nosso erro, de forma que nos julgamos, condenamos e castigamos ainda outras vezes. É justo isso? 

Quantas vezes fazemos nosso cônjuge, nossos filhos e nossos pais pagar pelo mesmo erro? A cada vez que lembramos um erro, culpamos a eles novamente e enviamos todo o veneno emocional produzido pela injustiça, depois fazemos com que eles paguem outra vez pelo mesmo erro. Isso é justiça? O Juiz na mente está errado porque o sistema de crenças, o Livro da Lei, está errado. Todo o sonho é baseado em leis falsas. Noventa e cinco por cento das crenças que temos armazenadas em nossas mentes não passam de mentiras, e sofremos porque acreditamos nessas mentiras. 

No sonho do planeta, é normal que os seres humanos sofram, vivam com medo e criem dramas emocionais. O sonho exterior não é agradável; é um sonho violento, um sonho de medo, um sonho de guerra, um sonho de injustiça. O sonho pessoal dos seres humanos pode variar, mas de forma global, geralmente é um pesadelo. Se observarmos a sociedade humana, encontramos um lugar muito difícil de viver porque é regido pelo medo. Através do mudo, vemos os seres humanos a sofrer, sentir raiva, vingar-se, viciar-se e provocar violência nas ruas, gerando uma tremenda quantidade de injustiça. Podem existir níveis diferentes em vários países ao redor do mundo, mas o medo controla nosso sonho exterior

Se compararmos o sonho da sociedade humana como a descrição do inferno fornecidas por quase todas as religiões do mundo, descobrimos que são a mesma coisa. As religiões dizem que o inferno é um local de punição, de medo, dor e sofrimento, um lugar onde o fogo queima a gente. O fogo é gerado por emoções que vem do medo. Sempre que sentimos raiva, ciúmes, inveja ou ódio, experimentamos um tipo de fogo queimando em nosso interior. Estamos vivendo um sonho do inferno.

Se você considera o inferno um estado de espírito, então ele se encontra ao nosso redor. Os outros podem nos prevenir de que se não fizermos o que eles dizem que devemos fazer, iremos para o inferno. Contudo: más notícias! Já estamos no inferno, incluindo as pessoas que nos dizem isso. Nenhum ser humano pode condenar o outro ao inferno porque já estamos nele. É verdade que outros podem nos colocar num inferno ainda mais profundo. Mas apenas se nós permitimos que isso aconteça.

Cada ser humano possui seu sonho pessoal, e assim como o sonho da sociedade, geralmente é regido pelo medo.

Aprendemos a sonhar o inferno em nossa própria vida, em nosso sonho pessoal. Os mesmos medos se manifestam de formas diferentes para cada pessoa, claro, mas todos experimentamos a raiva, o ciúme, o ódio, a inveja e outras emoções negativas. Nosso sonho pessoal também pode se tornar um pesadelo constante, onde sofremos e vivemos em estado de medo. Porém, não temos necessidade de sonhar um pesadelo. É possível fabricar um sonho agradável

Toda a humanidade busca a verdade, a justiça e a beleza. 

Estamos numa busca eterna pela verdade porque apenas acreditamos nas mentiras que possuímos armazenadas na mente. Estamos procurando justiça porque no sistema de crenças que adotamos não existe justiça. Procuramos pela beleza porque, não importa quão bela é uma pessoa, não acreditamos que essa pessoa tenha beleza. Continuamos procurando sem parar, quando tudo já está em nosso interior. Não existe verdade a encontrar. Sempre que voltamos nossas cabeças, o que vemos é a verdade, mas com os compromissos e crenças que temos na mente, não temos olhos para enxergar essa verdade

Não enxergamos a verdade porque somos cegos. O que nos cega são as crenças falsas que temos em nossas mentes. Temos a necessidade de estar certos e de tornar os outros errados. Confiamos no que acreditamos, e nossas crenças nos predispõem ao sofrimento. É como se vivêssemos no meio de um nevoeiro que não permite enxergar um palmo além do nariz. Vivemos num nevoeiro que nem ao menos é real. Esse nevoeiro é um sonho seu sonho pessoal da vida - aquilo em que você acredita, todos os conceitos que possui sobre quem você é, todos os compromissos que assumiu com os outros com você mesmo e até com Deus. 

Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote. Sua mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo e ninguém entende o outro. Essa é a condição da mente humana - um grande mitote. Com esse grande mitote você não consegue enxergar o que realmente é. Na Índia, eles chamam o mitote de Maya, que significa “ilusão”. É a noção pessoal do “eu sou”. Tudo em que você acredita sobre si mesmo, sobre o mundo, todos os conceitos e programas que você tem na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver quem realmente somos; não conseguimos perceber que não somos livres. 

Por isso, os seres humanos resistem à vida. Estar vivo é o maior medo que os homens possuem. A morte não é o medo que temos; nosso maior medo é assumir o risco de estar vivo - o risco de estar vivo e expressar o que somos na realidade. Simplesmente sermos nós mesmos é o maior medo dos seres humanos. Aprendemos a viver nossa vida tentando satisfazer as exigências de outras pessoas. Aprendemos a viver pelos pontos de vista de outra pessoa, por causa do medo de não sermos aceitos e de não sermos bons o suficiente para outras pessoas. 

Durante o processo da domesticação, formamos uma imagem do que é a perfeição para tentarmos ser bons o suficiente. Criamos uma imagem de como devemos ser para sermos aceitos por todos. Especialmente tentamos agradar aos que nos amam, como mamãe e papai, irmãos e irmãs maiores, os sacerdotes e os professores. Tentando ser bons para eles, criamos uma imagem de perfeição, mas não nos encaixamos nessa imagem. Criamos essa imagem, mas essa imagem não é real. Nunca iremos ser perfeitos sob esse ponto de vista. Nunca! 

Não sendo perfeitos, rejeitamos a nós mesmos. E o nível de auto rejeição depende de quão efetivos foram os adultos ao quebrar nossa integridade. Depois da domesticação, não se trata mais de sermos bons o suficiente para outras pessoas. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos o que desejamos ser, ou melhor, o que acreditamos que desejamos ser. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos perfeitos. 

Sabemos que não somos quem deveríamos ser e, portanto, nos sentimos falsos, frustrados e desonestos. Tentamos nos esconder de nós mesmos, e fingimos ser quem não somos. O resultado é que nos sentimos autênticos e usamos máscaras sociais para evitar que os outros percebam isso. Temos medo de que alguém mais repare que não somos quem pretendemos ser. Julgamos igualmente os outros de acordo com nossa imagem de perfeição, e, normalmente, eles não correspondem às nossas expectativas. 

Desonramos a nós mesmos só para agradar a outras pessoas. Chegamos a fazer mal ao nosso corpo físico apenas para ser aceitos pelos outros. Você vê adolescentes tomando drogas apenas para evitar serem rejeitados por outros adolescentes. Eles não sabem que o problema é não aceitar a si mesmos. Rejeitam a si mesmos porque não são o que fingem ser. Desejam ser de uma certa forma, mas não são, e por isso carregam a vergonha e a culpa. Os seres humanos punem a si mesmos interminavelmente por não serem quem acreditam que devem ser. Tornam-se autodestrutivos, e usam também outras pessoas para fazerem mal a si mesmos. 

Mas ninguém nos pode fazer mal com tanta eficiência quanto nós mesmos, e o Juiz, a Vitima e o sonho social são responsáveis por isso. É verdade, encontramos pessoas que dizem que o marido ou a esposa, mãe ou pai as fazem sofrer, mas você sabe que nos prejudicamos muito mais do que isso. A forma como julgamos a nós mesmos é o pior juiz que jamais existiu. Se cometermos um erro na frente de outras pessoas, tentamos negar o erro e encobrir tudo. Assim que ficamos sozinhos, entretanto, o Juiz se torna forte, e a sensação de culpa assume proporções enormes; sentimo-nos estúpidos, ou maus, ou indignos.

Durante toda a sua vida ninguém fez você sofrer mais do que você mesmo. E o limite desse auto-sofrimento é exatamente o limite que você irá tolerar nos outros. Se alguém faz você sofrer um pouco mais do que você mesmo, provavelmente você se afastará dessa pessoa. Se alguém faz você sofrer menos do que você costuma fazer, você com certeza irá permanecer no relacionamento e tolerá-lo infindavelmente.

Se você se impõe sofrimentos grandes demais, pode até tolerar alguém que bate em você, humilha-o e o trata como sujeira. Por quê? Porque em seu sistema de crenças você diz: "Eu mereço. Essa pessoa está me fazendo um favor por estar comigo. Não sou digno de amor e respeito. Não sou bom o suficiente". 

Temos necessidade de ser aceitos e de ser amados por outros, mas   não podemos aceitar e amar a nós mesmos. Quanto mais gostarmos de nós mesmos, menos iremos experimentar o auto-sofrimento. O auto-sofrimento vem da auto-rejeição, e a auto-rejeição vem de ter uma imagem sobre o que significa ser perfeito e não atingir nunca esse ideal. Nossa imagem de perfeição é o motivo pelo qual rejeitamos a nós mesmos; é por isso que não aceitamos a nós mesmos da maneira que somos e não aceitamos os outros da forma que são.

Existem centenas de compromissos que você firmou consigo mesmo, com as outras pessoas, com seu sonho de vida, com Deus, com a sociedade, com seus pais, com seu cônjuge, com seus filhos. Contudo, os compromissos mais importantes são os que você fez consigo mesmo. Nesses compromissos você diz a si mesmo quem você é, como se sente, no que acredita e como se comportar. O resultado é o que você chama de sua personalidade. Nesses compromissos você diz: "Isso é o que sou. Isso é aquilo em que eu acredito. Posso fazer certas coisas, mas outras coisas não. Essa é a realidade, aquela é a fantasia; isso é possível, aquilo é impossível". 

Um único compromisso não representa tanto problema, porém temos muitos compromissos que nos fazem sofrer, que nos fazem fracassar na vida. Se você quer viver uma vida de alegria e realização, é preciso encontrar a coragem de quebrar esses compromissos baseados no medo e reclamar seu poder pessoal. Os compromissos que vêm do medo exigem que gastemos um bocado de energia, mas os compromissos que derivam do amor nos ajudam a conservar a energia, e ainda ganhar energia extra. 

Cada um de nós nasce com uma determinada quantidade de poder pessoal, que podemos reconstruir a cada dia depois que descansarmos.

Infelizmente gastamos todo o nosso poder pessoal em primeiro lugar para criar esses compromissos, e depois para mantê-los. Nosso poder pessoal é dissipado por todos os compromissos que criamos, e o resultado é que nos sentimos sem poder. Temos poder suficiente para sobreviver a cada dia, porque a maior parte é usada para manter os compromissos que nos atrelam ao sonho do planeta. Como podemos mudar todo o sonho de nossa vida quando não temos poder para mudar nem sequer o menor compromisso? 

Se conseguirmos perceber que são os compromissos que nos regulam a vida, e não gostamos do sonho de nossa vida, precisamos alterar os compromissos. Quando, finalmente, estivermos prontos para mudar esses compromissos, existem quatro acordos poderosos que nos ajudarão a quebrar aqueles acordos que vêm do medo e drenam nossa energia

A cada vez que se quebra um acordo, todo o poder que você usou para criá-lo retorna a você. Se você adotar esses quatro novos acordos, eles irão criar poder pessoal suficiente para alterar todo o seu sistema antigo de compromissos. 

Você   precisa   de   muita   força   de   vontade   para   adotar   os   Quatro Compromissos - mas se você conseguir começar a viver sua vida com esses compromissos, a transformação em sua vida será impressionante. Você verá o inferno desaparecer perante seus olhos. Ao invés de viver um sonho de inferno, você estará criando um novo sonho - seu sonho pessoal do céu.


segunda-feira, setembro 14, 2020

Os Quatro Compromissos: a Sabedoria Tolteca - 1/11


- Don Miguel Ruiz -


Os Toltecas

Milhares de anos atrás, os toltecas eram conhecidos no sul do México como"homens e mulheres de sabedoria". Antropólogos falam dos toltecas como uma nação ou raça, mas, na verdade, os toltecas eram cientistas e artistas que formavam uma sociedade para explorar e conservar a sabedoria espiritual e as práticas dos antigos. Encontraram-se como mestres (nagual) e estudantes em Teothuacan, a cidade antiga das pirâmides próxima à Cidade do México conhecida como o lugar onde o "Homem se Torna Deus"

Ao longo dos milênios, os nagual foram forçados a esconder a sabedoria ancestral e a manter sua existência na obscuridade. As conquistas europeias, combinadas com o mau uso do poder pessoal por alguns poucos aprendizes, tornou necessário ocultar o conhecimento dos que não estavam preparados para usá-lo com sabedoria, ou que pretendiam usá-lo apenas para ganhos pessoais. 

Felizmente, a sabedoria esotérica tolteca estava incorporada e foi transmitida através de gerações de diferentes linhagens de nagual. Embora tenham permanecido envoltas em segredo por centenas de anos as antigas profecias prediziam a vinda de uma era em que seria necessário retornar a sabedoria ao povo. Agora Don Miguel Ruiz, um nagual da linhagem dos Cavaleiros da Águia, foi indicado para compartilhar a sabedoria dos toltecas. Essa sabedoria se ergue da mesma unidade essencial de verdade de todas as tradições esotéricas ao redor do mundo. Embora não seja uma religião, honra todos os mestres espirituais que já ensinaram aqui na Terra. Por envolver o espírito, é descrita com maior precisão como forma de vida, caracterizada pela pronta acessibilidade da felicidade e do amor.


INTRODUÇÃO

O Espelho Enevoado

Três mil anos atrás, havia um ser humano, como eu e você, que vivia perto de uma cidade cercada de montanhas. O ser humano estudava para tornar-se xamã, para aprender a sabedoria de seus ancestrais, mas não concordava completamente com tudo aquilo que aprendia. Em seu coração, sentia que existia algo mais. 

Um dia, enquanto dormia numa caverna, sonhou que viu o próprio corpo dormindo. Saiu da caverna numa noite de lua nova. O céu estava claro, e ele enxergou milhares de estrelas. Então algo aconteceu dentro dele que transformou sua vida para sempre. 

Olhou para suas mãos, sentiu seu corpo e escutou sua própria voz dizendo: "Sou feito de luz; sou feito de estrelas". Olhou novamente para as estrelas e percebeu que não eram as estrelas que criavam a luz; mas, antes, a luz que criava as estrelas. "Tudo é feito de luz", acrescentou ele, "e o espaço no meio não é vazio." E ele soube tudo o que existe num ser vivo, e que a luz é a mensageira da vida, porque está viva e contém todas as informações. 

Então compreendeu que embora fosse feito de estrelas, ele não era essas estrelas. "Sou o que existe entre as estrelas", pensou. Então chamou as estrelas de tonal, e a luz entre as estrelas de nagual, e soube que o que criava a harmonia e espaço entre os dois é a Vida ou Intenção. Sem a Vida, o tonal e o nagual  não poderiam existir. A Vida é a força do absoluto, do supremo, do Criador que cria tudo.

Foi isso o que ele descobriu: tudo o que existe é uma manifestação do ser que denominamos Deus. Tudo é Deus. E ele chegou à conclusão de que a percepção humana é apenas a luz que percebe a luz. Também viu que  a matéria é um espelho - tudo é um espelho que reflete a luz e cria imagens dessa luz - e o mundo da ilusão, o Sonho, é apenas fumaça que não permite que enxerguemos quem realmente somos. "O verdadeiro nós é puro amor, pura luz", disse ele. 

Essa compreensão mudou sua vida. Uma vez que ele soube quem realmente era, olhou ao redor para os outros seres humanos e para o restante da natureza e ficou surpreso com o que viu. Viu a ele mesmo em tudo - em cada ser humano, em cada animal, em cada árvore, na água, na chuva, nas nuvens, na terra. E viu que a Vida misturava o tonal e o nagual de formas diferentes para criar bilhões de manifestações da Vida. Naqueles poucos momentos ele compreendeu tudo. Ficou muito excitado, e seu coração encheu-se de paz. Mal podia esperar para contar ao seu povo o que descobrira. Mas não havia palavras para explicar. Tentou falar com os outros mas eles não conseguiam entender. Eles perceberam que o homem havia mudado, que algo bonito se irradiava dos olhos e da voz dele. Repararam que ele não julgava mais as coisas e as pessoas. Ele não era mais como os outros. 

Ele entendia os outros muito bem, mas ninguém conseguia entendê-lo. Acreditavam que ele fosse a encarnação viva de Deus, e ele sorriu quando escutou isso, e lhes disse: "É verdade. Sou Deus. Mas vocês também são Deus. Somos o mesmo, vocês e eu. Somos imagens de luz. Somos Deus". Mesmo assim, as pessoas não o entenderam. 

Havia descoberto que era um espelho para as outras pessoas, um espelho no qual podia observar a si mesmo. "Todo mundo é um espelho", disse ele. Viu a si mesmo em todos, mas ninguém o viu como eles mesmos. 

Então compreendeu que todos estavam sonhando, mas sem consciência, sem saber o que realmente eram. Não podiam enxergá-lo como eles mesmos porque havia uma parede de nevoeiro entre os espelhos. E essa parede era construída pela interpretação das imagens de luz - o Sonho dos seres humanos. 

Então ele percebeu que logo iria esquecer tudo o que aprendera. Queria lembrar-se de todas as visões que tivera; portanto, decidiu chamar a si mesmo de Espelho Enevoado, para que sempre soubesse que a matéria é um espelho e que a névoa do meio é o que nos impede de saber quem somos. Ele disse: "Sou o Espelho Enevoado, porque estou vendo a mim mesmo em todos vocês, mas nós não reconhecemos um ao outro por causa do nevoeiro entre nós. Esse nevoeiro é o Sonho, e o espelho é você, o sonhador".


"É fácil viver com os olhos fechados,entendendo errado tudo o que você vê... " - John Lennon