"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, março 27, 2015

A Verdade é totalmente aqui e agora (Osho)

- OSHO -


Toda a ignorância da mente consiste em não estar no presente. A mente está sempre em movimento: indo para o futuro ou para o passado. A mente nunca está no aqui e agora. Ela não pode estar. A própria natureza da mente é tal que  ela não pode ficar no presente, porque a mente tem de pensar, e no momento presente não há possibilidade de pensar. Você tem que ser, você tem que ouvir, você tem que estar presente, mas  você não pode pensar.

O momento presente é tão estreito que não há espaço para pensar. Você pode estar nele, mas os pensamentos não podem. Como você pode pensar? Se você pensar, isso significa que já é passado, o momento já passou. Ou você pode pensar se não chegou ainda, se está no futuro.

Para pensar, é preciso espaço, porque o pensamento é como uma caminhada – um passeio da mente, uma viagem. É preciso espaço. Você pode caminhar para o futuro, você pode caminhar para o passado, mas como andar no presente? O presente está tão perto... na verdade não está nem perto – o presente é você. Passado e futuro são partes do tempo, o presente é você, que não faz parte do tempo. Não é um tempo: não é de modo algum parte do tempo, não pertence ao tempo. O presente é você, o passado e o futuro estão fora de você.

A mente não pode existir no presente. Se você conseguir estar aqui, totalmente presente, a mente desaparecerá. A mente pode desejar, pode sonhar, sonhar mil e um pensamentos. Ela pode mover-se para o fim do mundo, e pode mover-se para o próprio começo do mundo, mas não pode estar no aqui e agora – isso é impossível para ela. Toda a ignorância consiste em não saber disso. E então você se preocupa com o passado, o qual não existe mais – isso é absolutamente estúpido. Você não pode fazer nada quanto ao passado. Como você pode fazer alguma coisa quanto ao passado que não existe mais? Nada pode ser feito, já passou; mas você se preocupa com isso, e ao se preocupar você desperdiça a si mesmo.

Ou você pensa no futuro, e sonha e deseja. Ele não pode chegar. Tudo o que chega é sempre o presente, e o presente é absolutamente diferente dos seus desejos, dos seus sonhos. É por isso que tudo o que você deseja, sonha, imagina, planeja e se preocupa, nunca acontece. Mas desgasta você. Você continua se deteriorando. Você continua morrendo. Suas energias continuam andando num deserto, não atingindo nenhum objetivo, simplesmente se dissipando. E então a morte bate à sua porta. E lembre-se: a morte nunca bate no passado, e a morte nunca bate no futuro, a morte bate no momento presente.

Você não pode dizer para a morte: "Amanha!". A morte bate no presente. A vida também bate no presente. Deus também bate no presente. Tudo o que existe sempre bate no presente, e tudo o que não existe sempre bate no passado ou no futuro. 

Sua mente é uma entidade falsa, pois nunca bate no presente. Que esse seja o critério para a realidade: tudo o que existe está sempre aqui e agora, e tudo o que não existe nunca faz parte do presente. Largue tudo o que nunca bate no agora. E se você se mover no agora, uma nova dimensão se abre: a dimensão da eternidade.

Passado e futuro movem-se numa linha horizontal. Assim como A se move para B, B para C, C para D, numa linha. A eternidade move-se verticalmente: A move-se mais profundamente em A, mais alto em A, não se move para B; A continua se movendo mais profundamente e para cima, em ambos os sentidos. É vertical. O momento presente move-se verticalmente, o tempo se move horizontalmente. O tempo e o presente nunca se encontram. E você é o presente – todo o seu ser move-se verticalmente. A profundidade está aberta para você, a altura está em aberto, mas você está se movendo horizontalmente com a mente. É assim que você perde Deus.

As pessoas vêm a mim e perguntam como encontrar Deus, como ver, como perceber. Isso não é o que importa. A questão é: como você o está perdendo? Porque ele está aqui e agora batendo à sua porta. Não pode ser de outra forma! Se ele é real, ele tem que estar aqui e agora. Apenas a irrealidade não está aqui e agora. Deus já está na sua porta, mas você não está presente. Você nunca está em casa. Você continua vagando em milhões de palavras, mas você nunca está em casa. Lá você nunca é encontrado, e Deus vai ao seu encontro lá, a realidade rodeia você lá. A verdadeira questão não é como você deveria encontrar com Deus, a verdadeira questão é que você deveria estar em casa, de modo que, quando Deus batesse ele encontrasse você lá. Não é uma questão de você encontrá-lo, é uma questão de ele encontrar você.

Portanto, é uma meditação real. Um homem de entendimento não se preocupa com Deus ou com esse tipo de assunto, porque ele não é um filósofo. Ele simplesmente se empenha em ficar em casa, ele para de preocupar-se em pensar no passado e no futuro, e se estabelece firmemente no aqui e agora, e não sai deste momento. Quando você fica neste momento, a porte se abre. Este momento é a porta!

As pessoas estão realmente dormindo, em todo o planeta, em todos os lugares. Essa é a natureza do sono: você nunca está no aqui e agora, porque, se estiver no aqui e agora, você vai ficar acordado! O sono significa que você está no passado, significa que você está no futuro. A mente é o sono, a mente é uma hipnose profunda – porque qualquer coisa feita durante o sono não vai ser de muita ajuda, pois qualquer coisa feita no sono faz parte do próprio sonho. Sua mente, como ela é, está dormindo. Mas você não consegue sentir como ela está dormindo porque você parece bem acordado, com os olhos abertos. Mas você já viu alguma coisa? Você parece acordado e com ouvidos abertos, mas você já ouviu alguma coisa?

Você está me ouvindo e você diz: "Sim!". Mas você está me ouvindo ou está ouvindo a sua mente aí dentro? A sua mente está sempre comentando. Eu estou aqui, falando com você, mas você não está me ouvindo. Sua mente comenta o tempo todo. Ela diz: "Sim, ele está certo, eu concordo", ou diz "eu não concordo, isso é absolutamente falso"; sua mente está lá, sempre comentando. Através desse comentário, desse nevoeiro mental, eu não posso entrar em sintonia com você. O entendimento vem quando você não está interpretando, quando você simplesmente ouve.

Numa pequena escola, a professora percebeu que um menino não estava escutando. Ele era muito preguiçoso e irrequieto, inquieto. Então ela perguntou: "Por que? Você está com alguma dificuldade? Não está conseguindo me ouvir?"

O menino disse: "A audição está boa, escutar é que é o problema".

Ele fez uma distinção muito sutil. Ele disse: "A audição está boa, eu estou ouvindo você, mas escutar é que é o problema", porque escutar é mais do que ouvir. Escutar é ouvir com plena consciência. Só ouvir é bom, os sons estão todos em torno de você; você ouve, mas não está escutando. Você tem que ouvi-los porque os sons vão continuar batendo no seu tímpano, você tem que ouvir. Mas você não está lá para escutar, porque escutar significa uma atenção profunda – não um comentário interior constante. Não é dizer "sim" ou "não", não é concordar ou discordar; porque se você estiver concordando e discordando, estará realmente me escutando neste momento?

No momento em que você estiver concordando, aquilo que eu disse terá se tornado passado; quando você discorda, o momento já passou. E no momento em que você acenar com a cabeça interiormente, dizendo não ou sim, você estará deixando escapar – isso é uma coisa constante dentro de você.

Você não consegue escutar. E quanto mais conhecimento você tiver, mais difícil fica escutar. Ouvir significa atenção inocente, você simplesmente escuta. Não há necessidade de estar em concordância ou discordância. Não estou em busca da sua concordância ou discordância. Eu não estou tentando de forma alguma convencê-lo.

O que você faz quando um pássaro começa a gritar numa árvore? Você comenta, interpreta? Sim, então você também diz: "Que incômodo!". Você não consegue ouvir nem mesmo um pássaro. Quando o vento está soprando através das árvores e há o farfalhar, você escuta? Às vezes, talvez, quando você é pego de surpresa. Mas então você também comenta: "Sim, lindo!";

Agora observe: sempre que você comenta, você adormece. A mente interferiu, e com a mente o passado e o futuro entraram em cena. A linha vertical é perdida – e você se torna horizontal. No momento em que a mente interfere, você se torna horizontal. Você perde a eternidade.

Simplesmente escute. Não há necessidade de dizer sim ou não. Não há necessidade de se convencer ou não. Simplesmente escute, e a verdade será revelada a você – ou a inverdade! Se alguém está falando bobagem, e você simplesmente escutar, o absurdo será revelado a você – sem qualquer comentário da mente. Se alguém estiver falando a verdade, ela será revelada a você. A verdade ou a inverdade não é um acordo ou desacordo da sua mente, é um sentimento. Quando você está em harmonia total, você sente, e você simplesmente sente que é verdade ou não é verdade – e a coisa termina aí! Sem você ter que se preocupar mais com isso, sem pensar sobre isso. O que o pensar pode fazer?

Se você foi criado de uma certa forma, se você é cristão, ou hindu ou muçulmano, e eu estiver dizendo algo que por acaso esteja de acordo com a sua educação/cultura, você vai concordar dizendo "sim". Se por acaso não estiver, você vai dizer que "não". Você está aqui, ou é apenas a sua cultura? E sua educação é apenas acidental.

A mente não consegue encontrar o que é verdadeiro, a mente não consegue encontrar o que é inverdade. A mente pode raciocinar sobre isso, mas todo o raciocínio é baseado no condicionamento. Se você é hindu, você raciocina de uma maneira; se você é muçulmano, raciocina de uma maneira diferente. E todo tipo de condicionamento é passível de ser racionalizado. Não se trata de fato de raciocínio, mas de racionalização.

O Mulá Nasrudin ficou muito idoso; ele fez 100 anos. Um repórter foi vê-lo porque ele era o cidadão mais velho daquela região. O repórter disse: "Nasrudin, há algumas perguntas que eu gostaria de fazer. Uma delas é: você acha que vai conseguir viver mais 100 anos?"

Nasrudin disse: "Claro, porque cem anos atrás eu não era tão forte quanto sou agora". Cem anos antes ele era uma criança recém-nascida, por isso ele disse: "Cem anos atrás eu não era tão forte quanto sou agora, e se aquela criancinha indefesa, fraca, conseguiu sobreviver durante cem anos, por que eu não conseguirei?"

Isso é a racionalização. Parece lógico, mas falta alguma coisa. É a realização de um desejo. Você gostaria de sobreviver por mais tempo, então você cria uma lógica em torno disso: você acredita na imortalidade da alma. Você foi criado numa cultura que diz que a alma é eterna. Se alguém diz: "Sim, a alma é eterna", você concorda, e diz: "Sim, isso está certo". Mas isso não está certo – ou errado. Você diz "sim" porque é um condicionamento arraigado em você. Esteja aberto à verdade e descubra por si mesmo, sem depender da educação que lhe foi incutida pela sociedade. Então você realmente saberá. Há outros: metade do mundo – hindus, budistas, jainistas – acredita que a alma é eterna, e também que existem muitos renascimentos. E metade do mundo – cristãos, muçulmanos, judeus – acreditam que a alma não é eterna e não existem renascimentos, apenas uma vida e depois a alma se dissolve no final.

Metade do mundo acredita nisso, a outra metade acredita naquilo, e todos têm seus próprio argumentos, todos têm as suas próprias racionalizações. Tudo em que você quiser acreditar, você vai acreditar; mas no fundo seu desejo será a causa da sua crença, não a razão. A mente parece racional, mas não é. É um processo de racionalização: tudo o que você quiser acreditar, a mente dirá que "sim". E de onde vem esse querer? Ele vem da sua educação.

Escutar é um assunto totalmente diferente, que tem uma qualidade totalmente diferente. Quando você escuta, você não pode ser hindu, nem muçulmano, nem jainista, nem cristão. Quando você escuta, você não pode ser teísta ou ateu. Quando você escuta, você não pode fazê-lo através da pele dos seus "ismos" ou escrituras – você tem que colocar todos eles de lado, você tem simplesmente que ouvir.

Eu não estou pedindo para você concordar, não tenha medo! Basta escutar sem se incomodar em demonstrar concordância ou discordância, e então o correto raciocínio acontece.

Se a verdade está ali, de repente você é atraído – todo o seu ser é puxado como que por um ímã. Você derrete e se funde, e seu coração sente "Isso é verdade" sem nenhuma razão, sem nenhum argumento, sem nenhuma lógica. É por isso que as religiões dizem que a razão não é o caminho para o divino. Elas dizem que é a fé, dizem que é a confiança.

E o que é confiança? É uma crença? Não, porque a crença pertence à mente. Confiar é um rapport. Você simplesmente coloca de lado todas as suas medidas de defesa, sua armadura, você se torna vulnerável. Você escuta algo, e você escuta tão totalmente que o sentimento surge em você dizendo se é verdade ou não. Se não é verdade, você sente isso. Por que isso acontece? Se é verdade, você sente isso. Por que isso acontece?

Isso acontece porque a verdade reside em você. Quando você está totalmente no "não pensamento", a sua verdade interior sempre pode sentir a verdade – isso porque o igual sempre sente o igual: ele se encaixa. De repente, tudo se encaixa, tudo cai num padrão e o caos se torna um cosmos. As palavras caem em linha... e uma poesia surge. Então tudo simplesmente se encaixa.

Se você está em rapport, e a verdade surge, seu ser interior simplesmente concorda com ela, mas não é uma concordância da mente que te leva embora para o passado (ou futuro). Você sente uma sintonização, você se torna uno. Isso é confiar. Se algo está errado, isso simplesmente se esvai de você: você nem pensa outra vez, você nunca olha para isso uma segunda vez – não há sentido nisso. Você nunca diz: "Isto não é verdade", aquilo simplesmente não se encaixa – você segue em frente! Se se encaixa, torna-se a sua casa. Se não se encaixa, você segue adiante.

Por meio do escutar vem a confiança. Mas, para escutar é preciso ouvir com mais atenção. E você está dormindo – como você pode estar atento? Mas, mesmo dormindo, um fragmento de atenção permanece flutuando em você. Você pode estar numa prisão, mas as possibilidades sempre existem – você pode sair. Pode haver dificuldades, mas não é impossível, porque se sabe que prisioneiros têm escapado de lá. Um Buda escapa, um Mahavira, um Jesus escapa – eles também estavam presos como você. Prisioneiros escaparam antes. Resta em algum lugar uma porta, uma possibilidade, você simplesmente tem que procurá-la.

Se não for possível, se não houver nenhuma possibilidade, então não há nenhum problema. O problema surge porque a possibilidade existe – você está um pouco alerta. Se você estivesse absolutamente adormecido, então não haveria nenhum problema. Se você estivesse em coma, então não haveria nenhum problema. Mas você não está em coma, você está dormindo, mas não totalmente. Uma lacuna, uma brecha existe. Você tem que encontrar dentro de si mesmo essa possibilidade de ficar atento.

Às vezes você fica atento. Se alguém vem bater em você, a atenção vem. Se você estiver em perigo, passando por uma floresta à noite e estiver escuro, você anda com uma qualidade diferente de atenção. Você está acordado, o pensar não está presente. Você está em plena harmonia com a situação, com tudo o que está acontecendo. Se uma folha faz barulho, você fica totalmente alerta. Você é exatamente como uma lebre ou um cervo – que está sempre acordado. Sua audição está maior, seus olhos estão bem abertos, você está sentindo o que está acontecendo ao seu redor, porque o perigo existe. Em perigo o seu sono é menor, a sua consciência é maior. Se alguém encosta um punhal no seu coração e está prestes a cravá-lo, nesse momento não há pensamento. O passado desaparece, o futuro desaparece, você está no aqui e agora.

Então lembre-se: encontre a atenção, deixe que ela se torne uma continuidade em você 24 horas por dia, em tudo o que você faz. Coma, mas tente ficar atento: coma com consciência. Caminhe, mas caminhe com consciência. Ame, mas ame plenamente consciente. Experimente!

Aqui, me ouvindo, fique alerta. Sempre que você sentir que caiu novamente no sono, traga-se de volta: basta se sacudir um pouco e se trazer de volta. Ao andar na rua, se você sentir que está andando dormindo, agite-se um pouco, leve um pouco de vibração a todo o seu corpo. Fique alerta. Esse estado de alerta permanecerá por alguns instantes, e mais uma vez você irá perdê-lo, porque você tem vivido dormindo há tanto tempo que se tornou um hábito.

Isso não vai se tornar total em apenas um dia, mas, mesmo se um raio for pego, você vai sentir uma satisfação profunda – porque a qualidade é a mesma se você atingir um raio ou a totalidade do sol. Se você provar uma gota d'água do oceano ou todo o oceano, o gosto salgado é o mesmo – e o gosto se torna o seu satori, o seu vislumbre. Então você provará da verdade, e finalmente você saberá.


segunda-feira, março 23, 2015

O Sublime Vazio

- OSHO -


Subhuti era um dos discípulos de Buda. 
Ele era capaz de entender o poder do vazio – o ponto de vista de que nada existe, exceto em sua relação de subjetividade e objetividade. 
Um dia, quando Subhuti estava sentado debaixo de uma árvore, num espírito de sublime vazio, flores começaram a cair em torno dele.
"Estamos louvando você pelo seu discurso sobre o vazio", os deuses lhe sussurraram.
"Mas eu não falei do vazio", disse Subhuti.
"Você não falou do vazio, nós não ouvimos o vazio", responderam os deuses. 
Esse é o verdadeiro vazio.
E flores se derramaram sobre Subhuti como chuva.
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Sim, isso acontece. Não é uma metáfora, é um fato, portanto não encare essa história metaforicamente. É literalmente verdade... porque toda a existência se sente feliz, exultante, extasiada, quando ao menos uma alma individual atinge o supremo.

Nós fazemos parte do todo. E o todo não é indiferente a você, não pode ser. Como a mãe pode ficar indiferente ao filho – ao seu próprio filho? É impossível. Quando o filho cresce, a mãe também cresce com ele. Quando o filho é feliz, a mãe também fica feliz com ele. Quando o filho dança, algo dança dentro dela também. Quando o filho está doente, a mãe fica doente. Quando o filho é infeliz, a mãe é infeliz... porque eles não são dois, eles são um só. O coração deles estão em sintonia.

O todo é como sua mãe. O todo não é indiferente a você. Que esta verdade penetre o mais profundamente possível em seu coração, porque até mesmo essa consciência – de que o todo se sente feliz com você – irá transformá-lo. Depois disso você não será mais um alienado, depois disso você não será mais um estrangeiro aqui. Depois disso você não será mais um andarilho sem-teto, depois disso isto aqui será um lar. E o todo cria você como mãe, ele cuida de você, ama você. Por isso, é natural que, quando alguém se torna um buda, quando alguém atinge o ápice, toda a existência dance, toda a existência cante, toda a existência celebre. É literalmente verdade. Não é uma metáfora; caso contrário, você não vai entender o principal.

Flores se derramam, e então continuam a se derramar – elas nunca param. As flores que se derramaram sobre Buda ainda estão se derramando. As flores que se derramaram sobre Subhuti ainda estão se derramando. Você não pode vê-las, não porque elas não estejam se derramando, mas porque você não é capaz de vê-las. A existência continua celebrando infinitamente todos os budas que aconteceram, todos os budas que estão acontecendo e todos os budas vão acontecer – porque, para a existência, passado, presente e futuro não existem. É uma continuidade, é a eternidade. Só o agora existe, o infinito agora.

Elas ainda estão se derramando, mas você não pode vê-las. A menos que elas se derramem sobre você, você não poderá vê-las, e depois que as vir se derramando sobre você, você vai ver que elas se derramam sobre cada buda, sobre cada alma iluminada.

A primeira coisa: a existência se importa com o que acontece com você. A existência está continuamente rezando para que o ápice aconteça a você. Na verdade, você não é nada a não ser uma mão estendida pelo todo para chegar ao ápice. Você é nada mais do que uma onda provinda do todo para tocar a Lua. Você é nada mais do que uma flor se abrindo, de modo que o todo se encha de perfume através de você.

Se você conseguir se soltar, aquelas flores podem se derramar esta manhã, neste momento. Os deuses estão sempre prontos, as mãos deles estão sempre cheias de flores. Eles simplesmente observam e esperam. Sempre que alguém se torna um Subhuti, vazio, sempre que alguém está ausente, de repente as flores começam a se derramar.

Este é um dos fatos básicos. Sem ele, não há possibilidade de confiança; sem ele não há possibilidade de um dia você chegar à verdade. A menos que o todo ajude, não há nenhuma possibilidade de você chegar – como poderia chegar? E, normalmente, nossa mente pensa exatamente o oposto. Pensamos no todo como o inimigo, não como o amigo, nunca como a mãe. Pensamos no todo como se o todo estivesse tentando nos destruir. Nós olhamos para o todo através da porta da morte, não através da porta do nascimento. É como se o todo estivesse contra você, brigando com você, não permitindo que você alcance suas metas e objetivos, não permitindo que você se realize. Por isso você vive constantemente em guerra com ele. E quanto mais você luta, mais seu equívoco se revela verdadeiro – porque, se você lutar, sua própria luta é refletida pelo todo.

O todo apoia você, lembre-se. Mesmo quando você luta, o todo apoia você; mesmo quando você luta e está errado, o todo apoia você. Essa é uma segunda verdade que precisa ser muito bem compreendida. Se você não compreender, vai ficar muito difícil prosseguir. Mesmo se você lutar contra o todo, o todo o apoia – porque o todo não pode fazer nada a não ser apoiar. Se você errar, ainda assim o todo cuida de você. Mesmo se você errar, o todo segue com você. Se um filho erra, a mãe ainda assim se importa com ele. Se um filho vira ladrão e fica doente, a mãe ainda assim vai se importar com ele, Ela não pode dar veneno para o filho. Se o filho estiver completamente errado, perdido, a mãe ainda vai rezar por ele. Esse é o significado da história de Jesus sobre os dois irmãos.

Um irmão foi embora – não só foi embora, mas se desencaminhou, desperdiçou sua parte da herança e tornou-se um mendigo, um jogador, um bêbado. O outro irmão permaneceu ao lado do pai, ajudou nos negócios, trabalhou na fazenda e nas plantações, aumentou o patrimônio, ajudou em todos os sentidos, servindo ao pai com rendição de espírito. E, de repente, chegou a notícia de que o outro irmão tinha se tornado um mendigo, que estava pedindo esmola nas ruas, e todo o coração do pai começou a se condoer por esse filho, e todas as suas orações eram para ele. Ele se esqueceu completamente do filho que estava perto, lembrava-se apenas do que estava distante. Em seus sonhos à noite, o outro estava presente, mas não o que estava do lado e trabalhava para ele, que era bom em todos os sentidos.

E então, um dia, o filho mendigo voltou e o pai deu uma grande festa. O filho bom estava voltando para casa, da fazenda, e alguém lhe disse: "Olhe a injustiça de seu pai! Você o ama, você se importa com ele e o ajuda, e você permaneceu com ele, foi absolutamente bom, de boa índole, nunca fez nada contra a vontade dele, mas ele nunca deu uma festa para você. O cordeiro mais gordo foi abatido para o seu irmão que se desencaminhou. Ele chegou maltrapilho, e toda a casa está comemorando!". O filho, o bom filho, se sentiu muito mal, isso era um absurdo! Ele voltou para casa com raiva. E falou para o pai: "O que você está fazendo? Nunca houve uma festa para mim, e eu vivo para servi-lo! O que seu outro filho fez por você? Apenas desperdiçou sua herança, apostou tudo no jogo, e agora voltou para casa como um mendigo".

O pai disse: "Sim, como você já está tão perto e é tão bom e tão feliz, eu não preciso me preocupar com você. Mas aquele que se perdeu, minhas orações o acompanham e meu amor o acompanha."

Jesus costumava contar essa história para os discípulos, porque, como ele disse, Deus pode esquecer os santos, não há necessidade de se lembrar deles, mas não pode se esquecer dos pecadores. Se ele é pai... e eu disse que ele não é um pai, ele é uma mãe... O pai não é um fenômeno tão profundo quanto a mãe. É por isso que os hindus o chamam de mãe – Deus é mãe, é maternidade. Jesus disse que, sempre que acontece de um pastor estar voltando para casa e uma ovelha se perder, ele deixa todas as outras ovelhas no pasto e sai à procura da ovelha perdida. E quando a ovelha perdida é encontrada, ele a carrega nos ombros e se alegra, e volta para casa muito feliz, porque aquela que estava perdida foi encontrada.

Sempre que isso acontece – todos nós somos ovelhas perdidas –, sempre que uma ovelha é reencontrada, o pastor se alegra. Flores começam a se derramar.

Divindades, deuses, não são pessoa no Oriente; são forças naturais. Tudo foi personificado apenas para dar um coração àquela força, a batida de um coração – apenas para torná-la mais afetiva. Por isso, hindus, budistas, eles converteram todas as forças naturais em deuses, e estão certos! Quando Subhuti atingiu o vazio, os deuses começaram a derramar flores. E o significado é muito bonito: o Sol é um deus para os hindus e os budistas, o céu é um deus; cada árvore tem seu próprio deus, a sua própria divindade. O ar é um deus; a terra é um deus. Tudo tem coração – esse é o sentido. Tudo sente – esse é o sentido. Nada é indiferente a você – esse é o sentido. Quando você atinge a iluminação, tudo celebra. Então o Sol brilha de uma maneira diferente; a qualidade é outra.

Para aqueles que são ignorantes, tudo permanece a mesma coisa. O Sol brilha da mesma maneira, porque a mudança de qualidade é muito sutil, e só aquele que está vazio pode sentir. Não é algo grosseiro, o ego não pode sentir. O grosseiro é o campo do ego. O sutil só pode ser sentido quando não existe ego, porque é tão sutil que, se você estiver presente, vai deixar escapar. Mesmo a sua presença será perturbação suficiente.

Quando se está totalmente vazio, a qualidade do Sol muda instantaneamente. Ele tem uma poesia de boas-vindas com relação a isso. Seu calor não é só calor, torna-se um amor – um calor amoroso. O ar é diferente, ele fica um pouco mais perto de você, toca você com mais sentimento, como se tivesse mãos. O toque é totalmente diferente; o toque passa a ter uma sensibilidade através ao redor de você. A árvore vai florir, mas não da mesma maneira. Agora, as flores brotam da árvore como se estivessem saltando.

Dizem que, sempre que Buda caminha pela floresta, as árvores começam a florescer, mesmo quando não é a estação delas. Tem que ser assim! O homem pode se enganar no reconhecimento de um Buda, mas como as árvores podem se enganar? O homem tem mente e pode errar, mas como as árvores podem errar? Elas não têm mente, e quando um Buda passa pela floresta elas começam a desabrochar. É natural, tem que ser assim! Não é um milagre. Mas você pode não conseguir ver as flores, porque essas flores não são físicas. Essas flores são os sentimentos das árvores. Quando Buda passa, a árvore estremece de uma forma diferente, pulsa de uma forma diferente, não da mesma forma. Esse é o significado. O todo se preocupa com você, o todo é sua mãe.

Agora tente entender essa parábola. Ela é uma das melhores.

"Subhuti era um dos discípulos de Buda..."

Buda tinha milhares de discípulos. Subhuti era apenas um deles. Não havia nada de especial nele. Na verdade, ninguém sabe muito sobre Subhuti, essa é a única história sobre ele. Havia grandes discípulos bem conhecidos, famosos – grandes eruditos, príncipes. Eles tinham grandes reinos e, quando os deixaram e renunciaram e se tornaram discípulos de Buda, eles já tinham fama. Mas as flores não se derramaram sobre eles. As flores escolheram esse Subhuti, que era apenas mais um discípulo, não havia nada de especial nele.

Só então as flores se derramam; caso contrário, você também pode se sentir especial perto de um buda – e você pode se enganar! Você pode se sentir egoísta por estar perto de um buda, pode criar uma hierarquia. Você pode dizer: "Eu não sou um discípulo comum, sou alguém especial. Estou ao lado do Buda. Os outros são apenas gente comum, uma multidão, mas eu não faço parte da multidão, eu tenho um nome, uma identidade própria. Mesmo antes de me aproximar do Buda eu era alguém" – e você continua sendo alguém.

Sariputta procurou o Buda. Quando chegou, ele estava com seus próprios quinhentos discípulos. Ele era um mestre – claro que um mestre ignorante, sem saber nada, e ainda sentido que sabia porque era um grande estudioso. Ele sabia todas as escrituras. Nasceu brâmane e era muito talentoso, um gênio. Desde a mais tenra infância era conhecido por sua excelente memória – conseguia memorizar qualquer coisa. Só precisava ler a escritura uma vez, depois disso já a memorizava. Era conhecido em todo o país; quando procurou o Buda, ele já era alguém. Esse fato de ser alguém se tornou uma barreira.

Esses deuses parecem muito irracionais – eles escolheram um discípulo, Subhuti, que era apenas um na multidão, não tinha nada de especial. Esses deuses parecem loucos! Eles deveriam ter escolhido Sariputta, ele era o homem mais indicado para ser escolhido. Mas eles não o escolheram. Eles não escolheram Ananda, primo-irmão de Buda, que foi como a sombra de Buda durante quarenta anos – nesses quarenta anos, nem por um só instante ele ficou longe de Buda. Ele dormia no mesmo quarto, sempre acompanhava Buda, estava continuamente ao lado dele. Era a pessoa mais bem conhecida. Todas as histórias que Buda contava, ele as contava primeiro a Ananda. Ele dizia: "Ananda, aconteceu desta maneira... Ananda, uma vez aconteceu...". Ananda, Ananda e Ananda – ele continuava repetindo o nome dele. Mas esses deuses são loucos, eles escolheram Subhuti, um joão-ninguém.

Lembre-se, apenas os joões-ninguém são escolhidos – porque se você é alguém neste mundo, você não é ninguém no outro. Se aqui você é um joão-ninguém, você se torna alguém no outro mundo. Os valores são diferentes. Aqui, as coisas mais grosseiras são valorizadas; lá, as coisas sutis são valorizadas. E o mais sutil, o mais sutil de tudo, é não-ser. Subhuti viveu no meio da multidão – ninguém sequer sabia seu nome – e, quando chegou a notícia de que as flores estavam se derramando sobre Subhuti, todo mundo perguntou: "Quem é esse Subhuti? Nós nunca ouvimos falar dele. Será que aconteceu por acidente? Porventura os deuses escolheram mal?". Porque havia muitos que eram superiores na hierarquia. Subhuti devia ser o último. 

Essa é a única história sobre Subhuti. Entenda bem. 

Quando você estiver perto de um grande mestre, seja um joão-ninguém. Os deuses são loucos, eles só vão escolher você quando você não for ninguém. E se você tentar ser alguém, quanto mais você conseguir, mais vai se perder. Isso é o que estamos fazendo no mundo e isso também é o que começamos a fazer quando estamos perto de um buda. Você almeja riquezas. Por quê? Porque com riquezas você se torna alguém. Você almeja prestígio e poder. Por quê? Porque com poder e prestígio você não é uma pessoa comum. Você almeja aprender, estudar, ter conhecimento. Por quê? Porque com o conhecimento você tem algo do que se orgulhar.

Mas os deuses não vão escolher você desse jeito. Eles têm sua própria maneira de escolher. Se você está se vangloriando demais, não há necessidade de os deuses derramarem flores sobre você – você está derramando flores sobre si mesmo! Não há necessidade. Quando você parar de se sentir orgulhoso por alguma coisa, de repente toda a existência começa a se sentir orgulhosa de você. Jesus diz: "Aqueles que são os primeiros neste mundo serão os últimos no reino do meu Pai, os últimos serão os primeiros".

Aconteceu de um homem muito rico morrer e no mesmo dia um mendigo da cidade também morrer. O nome do mendigo era Lázaro. O homem rico foi diretamente para o inferno, e Lázaro foi diretamente para o céu. O homem rico olhou para cima e viu Lázaro sentado perto de Deus; então gritou para o céu: "Parece que houve um engano. Eu deveria estar aí e esse mendigo Lázaro deveria estar aqui".

Deus sorriu e disse: "Aqueles que são os últimos serão os primeiros, e aqueles que estão em primeiro deverão ser os últimos. Você já usufruiu o primeiro lugar por tempo suficiente, agora vamos deixar Lázaro se divertir um pouco".

E o homem rico estava se sentindo muito quente – é claro que no inferno ninguém tem ar-condicionado, o calor é abrasante. Ele estava sentindo muita sede e não havia água. Assim, gritou novamente e disse: "Deus, por favor, pelo menos mande Lázaro trazer um pouco de água, estou com muita sede".

E Deus disse: "Lázaro ficou com sede muitas vezes, moribundo na sua porta, e você nunca lhe deu nada. Ele estava morrendo de fome à sua porta e havia banquetes todos os dias, e muitos eram convidados, mas ele sempre era escorraçado por seus servos, porque os convidados estavam chegando, convidados poderosos, políticos, diplomatas, homens ricos, e um mendigo ali ia parecer estranho. Seus servos o afugentavam e ele tinha fome, e as pessoas que eram convidadas não estavam com fome. Você nunca olhou para Lázaro. Agora é impossível".

E dizem que Lázaro riu.

Essa se tornou uma história profunda para muitos e muitos místicos cristãos meditarem sobre ela. Ela se tornou assim como um koan zen, e nos mosteiros os místicos cristãos sempre perguntam porque Lázaro riu.

Ele riu do absurdo das coisas. Ele nunca soube como alguém como Lázaro, um leproso, um mendigo, um dia poderia entrar no céu. Ele não podia acreditar que isso iria acontecer um dia. E não podia acreditar na outra coisa também – que um homem rico, o mais rico da cidade, pudesse ir para o inferno. Ele riu.

E Lázaro ainda ri. Ele vai rir quando você morrer também: se você for alguém ele vai rir, porque você vai ser mandado embora. Se você não é ninguém, apenas alguém comum, ele vai rir, porque você vai ser recebido.

Neste mundo, como existem egos, todas as avaliações pertencem ao ego. No outro mundo, na outra dimensão, a avaliação pertence aos destituídos de ego. Por isso a ênfase de Buda no não-eu, anatta. Ele disse: "Não acredite nem mesmo em 'Eu sou uma alma', porque isso também pode se tornar um ego sutil. Não diga 'aham brahmasmi – Eu sou brahman, eu sou o supremo'. Não diga nem isso, porque o 'eu' é muito traiçoeiro. Ele pode enganá-lo. Ele o enganou por muitas e muitas vidas. Pode enganar você. Basta dizer: 'Eu não sou' e permanecer nesse estado de não ser; permaneça nesse nada – torne-se vazio de si mesmo".

A pessoa tem que se desvencilhar do eu. Depois que o eu é deixado para trás, nada fica faltando.Você começa a transbordar e as flores começam a se derramar sobre você.

"Subhuti era um dos discípulos de Buda..."

Lembre-se... um dos.

"Ele era capaz de entender o poder do vazio..."

Ele era apenas um entre muitos, é por isso que era capaz de compreender o poder do vazio. Ninguém falava sobre esse discípulo, ninguém sabia a respeito dele. Ele caminhava com o Buda, ele seguia Buda em muitos e muitos caminhos em suas viagens. Ninguém nem sabia que ele estava lá; se ele tivesse morrido ninguém teria se dado conta. Se ele tivesse ido embora ninguém saberia, porque ninguém se deu conta que Subhuti estava lá. Ele sabia – pouco a pouco, sendo um joão-ninguém, ele conheceu o poder do vazio.

Qual é o significado disso? ...porque quanto mais ele se tornava uma pessoa sem importância, mais ele sentia que Buda estava se aproximando dele. Ninguém mais estava consciente disso, mas Buda estava. Todo mundo se perguntava por que as flores se derramaram sobre ele, mas isso não foi uma surpresa para Buda. Quando lhe relataram que havia algo acontecendo a Subhuti, Buda disse: "Eu esperava. A qualquer momento ia acontecer, porque ele se apagou/se anulou muito, qualquer dia iria acontecer. Isso não me surpreende".

"Ele era capaz de entender o poder do vazio..."

... ficando vazio! Você não conhece o poder do vazio. Você não sabe o poder que tem ao estar totalmente ausente de si. Você só conhece a pobreza do ego.

Mas tente entender. com o ego você já se sentiu realmente poderoso? Com o ego você sempre se sente impotente. É por isso que o ego diz: "Torne o seu império um pouco maior para que você possa se sentir poderoso. Não, esta casa não vai ser suficiente, é preciso uma casa maior; não, esse tanto de fama não vai ser suficiente, um pouco mais".

O ego sempre pede mais. Por quê? Se ele é poderoso, por que continua pedindo mais? O próprio anseio por mais revela/mostra que o ego se sente impotente. Você tem um milhão de rúpias e você é impotente. O ego diz: "Não, um milhão não vai ser suficiente, tenha dez milhões de rúpias". E eu digo a você – com dez milhões de rúpias você será dez vezes mais impotente, isso é tudo. E então, o ego vai dizer: "Não, isso não vai ser suficiente...".

Nada vai ser suficiente para o ego. Tudo só prova que você é impotente, não tem poder nenhum. Quanto mais poder você adquire, mais impotente você se sente, em contraste. Quanto mais rico você se torna, mais pobre se sente. Quanto mais saúde tiver, mais medo da morte; quanto mais jovem, mais irá sentir que a velhice está chegando perto. O oposto está virando a esquina e, se você tiver um pouco de compreensão, o contrário vai alcança-lo – vai estar diante do seu nariz. Quanto mais belo você for, mais vai sentir a sua feiura interior.

O ego nunca se sente poderoso. Ele só sonha com poder, pensa em poder, contempla o poder – mas esses são simplesmente sonhos e nada mais. E sonhos existem apenas para esconder a impotência que está dentro de você. Mas os sonhos não podem esconder a realidade. Faça o que fizer, aqui ou ali, para se evadir, a realidade sempre vai vir e destruir todos os sonhos.

O ego é a coisa mais impotente do mundo. Mas ninguém percebe isso, porque ele continua pedindo mais, ele nunca dá a você espaço para olhar a situação. Antes que você tome consciência, ele empurra você cada vez mais em direção a algum lugar. O objetivo está sempre em algum lugar perto do horizonte. E é tão perto que você pensa: "à noite eu vou chegar".

A noite nunca chega; o horizonte permanece sempre à mesma distância. O horizonte é uma ilusão, todos os objetivos do ego são apenas ilusões. Mas eles dão esperança, e você continua sentindo: "um dia desses eu vou me tornar poderoso". Neste momento você continua impotente, sem poder, inferior, mas, no futuro, em suas esperanças, nos sonhos, você se torna poderoso. Você já deve ter percebido que, muitas vezes, basta se sentar na sua cadeira e você já começou a sonhar acordado: você se torna o imperador do mundo todo ou o presidente dos Estados Unidos, e imediatamente você começa a apreciar isso. Todo mundo olha para você, você se sente o centro de todas as atenções. Mesmo esse sonho lhe traz alegria, o inebria. Se sonhar desse jeito, você vai avançar num caminho diferente.

É isso o que está acontecendo com todo mundo: seu poder permanece nos sonhos, você permanece impotente. A verdade é exatamente o oposto: quando você não busca, a coisa vem; quando você não pede, lhe é dado; quando você não almeja, acontece; quando você não busca o horizonte, de repente, percebe que ele sempre foi seu – só que você nunca o viveu. Ele está lá dentro, e você procura fora. Está dentro de você, e você vive sem. Você o carrega: o poder mais supremo, o próprio divino, está em você. E você fica procurando daqui e dali, como um mendigo.

"Ele era capaz de entender o poder do vazio..."

Basta ficar vazio e você vai entender – não há outra forma de entendimento. Seja o que for que você queira entender, faça isso, porque essa é a única maneira. Tente ser um homem comum, um joão-ninguém, sem nome, sem identidade, sem nada a reclamar, sem poder para impor sobre os outros, sem nenhum esforço para dominar, sem nenhum desejo de possuir, sendo apenas uma "não entidade". Experimente – e veja como você se torna poderoso, cheio de energia transbordante, tão poderoso que você pode compartilhar seu poder, tão feliz que você pode dá-lo para muitos, para milhões. E quanto mais você dá, mais rico você fica. Quanto mais você compartilha, mais ele cresce. Você se torna uma inundação.

"Ele era capaz de compreender o poder do vazio..."  – apenas sendo um joão-ninguém.

"O ponto de vista de que nada existe, exceto na sua relação de subjetividade e objetividade"

Esta é uma das meditações mais profundas que Buda descobriu. Ele diz que tudo existe numa relação, é uma relatividade; não é uma coisa substancial, absoluta.

Por exemplo: você é pobre, eu sou rico. É uma coisa substancial ou somente algo relativo? Eu posso ser pobre em relação a outra pessoa, e você pode ser rico em relação a outra pessoa. Até mesmo um mendigo pode ser rico em relação a outro mendigo, há mendigos ricos e mendigos pobres. Um homem rico, em comparação com um homem ainda mais rico, é um homem pobre. Você é pobre – a sua miséria é existencial ou apenas um relacionamento? É um fenômeno relativo. Se não há ninguém com que se relacionar, quem você vai ser? Um homem pobre ou um homem rico?

Pense... de repente toda a humanidade desaparece e você é deixado sozinho sobre a Terra: o que você vai ser? Pobre ou rico? Você vai ser simplesmente você – nem rico, nem pobre –, porque com quem se comparar? Não há um Bill Gates com quem se comparar, não há um mendigo com quem se comparar. Você será bonito ou feio se estiver sozinho? Você não será nenhum dos dois, vai ser simplesmente você. Com nada com que se comparar, como você pode ser feio ou bonito? É assim com a beleza e a feiura, a riqueza e a pobreza, e com todas as coisas. Você será sábio ou um tolo? Louco ou sábio? Nenhum dos dois!

Então Buda disse que todas essas coisas existem numa relação. Elas não são existenciais porque são relativas. E vivemos muito preocupados com essas coisas que não existem. Você vive muito preocupado em saber se é feio. Você vive muito preocupado em saber se é bonito. A preocupação é criada por algo que não existe.

A coisa relativa não existe. É apenas uma relação, como se tivesse feito um desenho no céu, ou uma flor de vento. Até mesmo uma bolha na água é mais substancial do que as relatividades. Quem é você quando está sozinho? Ninguém. A condição de ser alguém vem da relação com outra pessoa/objeto.

Isso significa que ser simplesmente ninguém é estar na natureza, ser simplesmente ninguém é estar na existência.

E você está sozinho, lembre-se. A sociedade só existe fora de você. Lá no fundo você está sozinho. Feche os olhos e veja se você é bonito ou feio; ambos os conceitos vão desaparecer, porque por dentro não há beleza, não há feiura. Feche os olhos e contemple quem você é. Alguém respeitado ou não respeitado? Moral ou imoral? Jovem ou velho? Negro ou branco? Um senhor ou um escravo? Um mestre ou um discípulo? Quem é você? Feche os olhos e na sua solidão todo conceito vai abaixo. Você não pode ser coisa nenhuma. Então surge o vazio. Todos os conceitos são anulados, apenas a sua existência permanece.

Essa é uma das meditações mais profundas que Buda descobriu: Ser ninguém. E isso não tem que ser forçado. Você não deve pensar que não é ninguém, você tem que perceber, caso contrário a sua condição de ser ninguém ficará muito pesada. Você não tem que pensar que você não é ninguém, você tem que simplesmente perceber que todas as coisas que você pensa que é são relativas. E a verdade é absoluta, não é relativa. A verdade não é relativa: ela não depende de nada, ela simplesmente é.

Assim, encontre a verdade dentro de você e não se preocupe com relacionamentos. Eles diferem, interpretações diferem. E, se as interpretações mudam, você muda. Algo está na moda – se você usa, você é moderno, admirado. Então uma coisa sai de moda – se você usa, você está ultrapassado, não é respeitado. Cinquenta anos antes, aquilo estava na moda e você teria sido moderno. Cinquenta anos depois, pode voltar a ficar na moda e, então, mais uma vez, você vai ser moderno. Agora você está ultrapassado. Mas quem é você – modas passageiras, conceitos passageiros, relatividades?

Um dos meus amigos era comunista, mas um homem muito rico – e ele nunca percebeu a contradição. Ele era um burguês, bem alimentado, nunca trabalhou com as próprias mãos. ele tinha muitos servos, pertencia a uma antiga família real. E então ele foi para a Rússia em 1940. Quando voltou para a Índia, ele me disse: "Onde quer que eu fosse, começava a me sentir culpado, porque sempre que apertava a mão de alguém, eu podia sentir imediatamente que o outro sentia que as minhas mãos não tinham os calos de trabalhador. Elas não eram mão de um proletário, eram mãos de um burguês: macias, delicadas. E imediatamente o rosto da outra pessoa mudava, e ela soltava minha mão como se eu fosse um intocável". Ele me disse: "Na Índia, sempre que eu aperto as mãos de alguém, minhas mãos são admiradas. Elas são bonitas, delicadas, artísticas. Na Rússia, eu me senti tão culpado por minhas mãos que até comecei a pensar numa maneira de acabar com a suavidade delas, para que ninguém olhasse para mim como se eu abusasse das pessoas – um burguês, um homem rico"... Porque lá, o trabalho tornou-se um valor. Se você for um proletário na Rússia soviética, você é alguém; mas se for um homem rico, você é um pecador. Tudo é apenas um conceito relativo.

Na Índia temos bhikus, swamis, sannyasins respeitados. E o mesmo também ocorria na China – antes de Mao. O homem que renunciava ao mundo era o mais respeitado e a sociedade o valorizava. Ele era o apogeu da humanidade. E então o comunismo se instaurou na China e milhares de mosteiros foram completamente destruídos, e todos os monges, homens respeitados do passado, tornaram-se pecadores. Eles tinham que trabalhar. Só podia comer quem trabalhasse, e mendicância era exploração. Ela foi proibida por lei; agora ninguém mais pode esmolar.

Se Buda tivesse nascido na China atual, teria sido muito difícil para ele. Ninguém permitiria que ele pedisse esmolas, ele seria considerado um explorador. Mesmo se Marx tivesse nascido na China ou na Rússia, ele teria enfrentado dificuldades, porque em toda a sua vida ele nunca fez outra coisa senão ler na biblioteca do Museu Britânico. Ele não era um proletário, não era um trabalhador – e seu amigo e colaborador, Friedrich Engels, era um homem muito rico. Eles são reverenciados como deuses pelos adeptos do comunismo. Mas se Frierich Engels fosse visitar a Rússia soviética, estaria em dificuldades. Ele nunca trabalhou, viveu do trabalho dos outros, e ajudou Marx; sem a ajuda dele, Marx não poderia ter escrito O Capital ou o Manifesto Comunista. Mas, na Rússia soviética, ele estaria encrencado, a moda é outra. Os conceitos mudaram. Lembre-se disto: o que muda é relativo, e o que permanece imutável é absoluto – e seu ser é absoluto, não é parte da relatividade.

"... o ponto de vista de que nada existe, exceto na sua relação de subjetividade e objetividade"

Se você entender bem esse ponto de vista, contemplá-lo, meditar sobre ele, de repente ficará iluminado por dentro e verá que tudo é vazio.

"Um dia, quando Subhuti estava sentado debaixo de uma árvore, num espírito de sublime vazio..."

Lembre-se das palavras "sublime vazio", porque às vezes você também se sente vazio, mas esse vazio não é sublime. Às vezes você também se sente vazio, mas não é um vazio extasiante – uma depressão, um vazio negativo, não um vazio positivo. Essa distinção tem que ser lembrada.

Um vazio negativo significa que você está se sentindo um fracasso, não significa que você está compreendendo. Você tentou conquistar algo no mundo e não conseguiu. Você se sente vazio, porque a coisa que desejava você não conseguiu; a mulher que você queria você não conseguiu ter – você se sente vazio. O homem de quem você estava atrás escapou, você se sente vazia. O sucesso dos seus sonhos não aconteceu, você se sente vazio. Esse vazio é negativo. É uma tristeza, uma depressão, um estado de espírito de frustração. Se você está se sentindo vazio dessa forma, lembre-se, as flores não vão se derramar sobre você. Seu vazio não é real, não é positivo. Você ainda está buscando coisas, é por isso que está se sentindo vazio. Você ainda está buscando o ego, você queria ser alguém e não conseguiu. É um fracasso, não um entendimento.

Então, lembre-se, se você renunciar ao mundo por meio de um fracasso, isso não é renúncia, não é sannyas, não é verdade. Se você renunciar ao mundo por meio de um entendimento, isso é totalmente diferente. Você não renuncia a ele como se fosse um esforço triste, com frustração por dentro, se sentindo um completo fracasso. Você não faz isso como um suicídio, lembre-se. Se o seu sannyas for um suicídio, então as flores não vão se derramar sobre você. Então você está desistindo, porque...

Você já deve ter ouvido a fábula de Esopo. Uma raposa estava passando e viu uvas, mas a videira ficava no alto de uma árvore. Ela tentou e tentou e pulou, mas estavam fora do seu alcance. Então ela foi embora, dizendo: "Essas uvas não valem a pena, ainda não estão doces e maduras. Estão azedas". Ela não conseguiu alcançá-las.

É muito difícil para o ego perceber: "Eu sou um fracasso". Em vez de reconhecer que "eu falhei, elas estavam fora do meu alcance", o ego vai dizer: "Elas não valiam a pena...".

Muitos sannyasins são como essa raposa de Esopo. Eles renunciaram ao mundo não porque entenderam a futilidade dele, mas porque eram fracassados e o mundo estava além do seu alcance – e eles ainda estão cheios de rancor e de reclamações. Você vai até esses assim chamado "santos", e eles ainda são contra o mundo, dizendo: "O dinheiro é sujo! E o que é uma mulher bonita? Nada além de ossos e sangue!". A quem eles estão tentando convencer? Estão tentando se convencer de que as uvas estão azedas e amargas.

Por que falar sobre as mulheres, se você deixou este mundo? Por que falar sobre dinheiro se você não se preocupa com ele? Mas no fundo ainda existe uma preocupação. Você ainda não consegue aceitar o fracasso, o entendimento ainda não aconteceu.

Sempre que você é contra alguma coisa, lembre-se, é porque o entendimento não aconteceu – porque no entendimento, a favor ou contra, ambos desaparecem. No entendimento, você não é hostil ao mundo. No entendimento, você não condena o mundo e as pessoas que vivem nele. Se você continua condenando, a sua condenação mostra que, em algum lugar, há uma ferida, e você ainda está com inveja – porque sem inveja não pode haver condenação. Você condena as pessoas porque, de alguma forma, em algum lugar, inconscientemente você sente que elas estão se divertindo e você não.

Você continua dizendo que este mundo é apenas um sonho, mas, se ele é realmente um sonho, então por que insistir que é um sonho? Ninguém insiste quando se trata de sonhos. Pela manhã você acorda e sabe que foi um sonho – ponto final. Você não vai ficar dizendo às pessoas que era tudo um sonho.

Lembre-se de um truque da mente: tentar convencer as pessoas sobre algo apenas para convencer a si mesmo, porque quando o outro se sente convencido você se sente bem. Se você sair por aí dizendo às pessoas que sexo é pecado e elas se convencerem disso, ou se elas não puderem refutar o que você está dizendo, você fica feliz. Você convenceu a si mesmo. olhando nos olhos dos outros, você está tentando encobrir o próprio fracasso.

O vazio negativo é inútil. Ele é simplesmente a ausência de alguma coisa. O vazio positivo é a presença de alguma coisa, não a falta; é por isso que o vazio positivo torna-se um poder. O vazio negativo torna-se um estado de espírito triste, deprimido – você simplesmente desaba, só isso. Sentindo-se um fracasso, sentindo-se deprimido, deparando-se em todos os lugares com uma muralha que você não consegue cruzar, e sentindo-se impotente, você denuncia, você condena.

Mas isso não é um crescimento, isso é uma regressão. E lá no fundo você não pode florescer, porque só a compreensão floresce, nunca a depressão. E, se você não puder florescer, a existência não vai derramar flores sobre você. A existência simplesmente responde ao que você é: seja o que você for, a existência lhe dará mais disso. Se muitas flores desabrocham no seu ser, um milhão de vezes mais vão se derramar sobre você. Se você tiver uma depressão profunda, a existência também o ajuda nisso – um milhão de vezes mais depressão você terá. Tudo o que você é vai bater à sua porta. Tudo o que você é vai ser dado a você numa quantidade cada vez maior.

Portanto, tenha cuidado e fique alerta. E, lembre-se, o vazio sublime é um fenômeno positivo. A pessoa não é um fracasso, simplesmente olha para a coisa e entende que os sonhos não podem ser realizados. Então, nunca se sente triste, ela se sente feliz, pois "Eu cheguei a esse entendimento de que os sonhos não podem ser realizados". Nunca se sente deprimida, sem esperança, sente-se simplesmente feliz e exultante, porque "Eu cheguei a um entendimento. Agora eu não vou tentar o impossível, agora não vou tentar algo inútil". E ela nunca diz que o objeto do desejo é errado; quando você está no vazio sublime, positivo, você diz que o desejo é errado, não o objeto do desejo – essa é a diferença. No vazio negativo, você diz que o objeto do desejo é errado, então altera o objeto. Se é a riqueza, o dinheiro, o poder, deixe isso de lado. Faça de deus, da libertação, do céu, o objeto – mude o objeto.

Se o vazio é perfeito e sublime e positivo, você não vê o objeto como algo errado. Você simplesmente vê que o desejo é fútil; os objetos são ok, mas o desejo é fútil. Então você não muda o seu desejo de um objeto para outro, você simplesmente abandona o próprio desejo.

Não desejando, você floresce. Desejando, você se torna cada vez mais paralisado e morto.

"Um dia, quando Subhuti estava sentado debaixo de uma árvore num espírito de sublime vazio..."

... Vazio mas feliz; vazio, mas preenchido; vazio, mas sem faltas; vazio, mas transbordante; vazio, mas à vontade, em casa.

"... flores começaram a cair em torno dele..."

Ele ficou surpreso, porque era um joão-ninguém. Ele nunca esperava. Se você esperar, as flores nunca vão se derramar; se você não esperar, elas se derramam – mas então você é surpreendido. Por quê? Subhuti deve ter pensado que tinha ocorrido algum erro. Derramaram-se sobre Subhuti, um ninguém, um zero à esquerda, e justo quando ele estava vazio? Nem pensando em Deus, nem sequer pensando em libertação, nem mesmo meditando – porque quando você está meditando, você não está vazio; ao invés disso, você está se empenhando em fazer algo e, portanto, está preenchido com o seu esforço. Subhuti deve ter ficado alerta e pensado que algo estava errado: "Os deuses enlouqueceram! Por que essas flores? E não é a estação delas". Ele deve ter olhado para a árvore e depois olhado para si mesmo novamente: "Em mim, as flores estão se derramando?". Ele não podia acreditar.

Lembre-se, sempre que o supremo acontecer a você, você vai se surpreender, porque nunca esperava. Você não estava esperando, não estava na expectativa. E aqueles que estão esperando, nutrindo esperanças e rezando e desejando – isso nunca acontece a eles, porque estão tensos demais. Eles nunca estão vazios, nunca relaxam.

O universo vem até você quando você está relaxado, porque nesse estado você está vulnerável, aberto – todas as portas se abrem. De qualquer lugar, Deus é bem-vindo. Mas você não está orando, não está pedindo a Deus para vir; você não está fazendo nada. Quando você não está fazendo nada, está apenas num espírito de sublime vazio, você se torna o templo e Ele vem.

"Num estado de sublime vazio, flores começaram a cair em torno dele..."

Ele olhou ao redor – o que está acontecendo?

"Estamos louvando você pelo seu discurso sobre o vazio", os deuses lhe sussurraram...

Ele não podia acreditar. Ele nunca esperava. Não podia acreditar que fosse digno, ou que fosse capaz, ou que tivesse se desenvolvido.

"Estamos louvando você pelo seu discurso sobre o vazio", os deuses lhe sussurraram...

Eles têm que sussurrar. Devem ter visto os olhos espantados desse Subhuti, tão surpreso! Eles disseram: "Nós estamos louvando você. Não fique tão surpreso nem tão assombrado. Fique tranquilo! Estamos apenas louvando você pelo seu discurso sobre o vazio".

"Mas eu não falei do vazio", disse Subhuti. 
"Você não falou do vazio, nós não ouvimos o vazio", responderam os deuses. 
Esse é o verdadeiro vazio.
E flores se derramaram sobre Subhuti como chuva.

Tente compreender. Eles disseram: "Nós estamos louvando você pelo seu discurso sobre o vazio", e ele não estava falando com ninguém, não havia ninguém. Ele não estava falando consigo mesmo, porque ele estava vazio, não dividido. Ele não estava falando absolutamente, ele estava simplesmente ali. Nada estava sendo feito por ele – nenhuma nuvem de pensamento estava passando pela mente dele, nenhum sentimento brotando em seu coração; ele estava simplesmente como se não existisse. Estava simplesmente vazio.

E os deuses disseram: "Estamos louvando o seu discurso sobre o vazio".
Então ele ficou mais surpreso ainda e disse: "O quê? Eu não falei do vazio, eu não disse nada!".
Eles disseram: "Você não falou e nós não ouvimos. Esse é o verdadeiro vazio".

Você não pode discursar sobre o vazio, você só pode ficar vazio – esse é o único discurso. Todo o resto pode ser falado, tudo pode se tornar um sermão, objeto de um sermão, todo o resto pode ser discutido, argumentado – mas não o vazio, porque o próprio esforço para dizer alguma coisa sobre ele o destrói. No momento em que você diz, ele não está mais lá. Basta uma única palavra e o vazio se perdeu. Mesmo uma única palavra pode preencher você, e o vazio desaparece. Não, nada pode ser dito sobre ele. Ninguém nunca disse nada sobre ele. Você só pode ficar vazio e esse é o discurso. Ser é o discurso.

O vazio nunca pode se tornar um objeto do pensamento, o não pensamento é a sua natureza. Então, os deuses disseram: "Você não disse nada e nós não ouvimos. Essa é a beleza disso! É por isso que estamos louvando você. Raramente acontece de alguém ficar simplesmente vazio. Esse é o verdadeiro vazio". E Subhuti não estava nem mesmo consciente de que estava vazio, porque se você está consciente algo estranho o invade: você fica dividido, você sofre uma cisão. Quando a pessoa está realmente vazia, não há nada mais do que vazio, nem mesmo a consciência do vazio. Nem mesmo a testemunha está lá. A pessoa está perfeitamente alerta, não está adormecida –, mas a testemunha não está lá. O vazio vai além do testemunho, porque, sempre que você testemunha algo, existe uma ligeira tensão interior, um esforço sutil, e nesse caso o vazio é uma coisa e você é outra coisa. Você o testemunha, você não está vazio; então o vazio é apenas um pensamento na mente.

As pessoas vêm a mim e dizem: "Eu experimentei um momento de vazio". E eu digo a elas: "Se você o experimentou então esqueça, porque quem experimenta o vazio? A pessoa que o experimenta já é uma barreira. Quem vai experimentá-lo?". O vazio não pode ser experimentado. Não é uma experiência, porque o experimentador não está presente: o experimentador e a experiência se tornaram uma coisa só. O vazio é um experimentar.

Permita-me cunhar esta palavra: o vazio é um experimentar, é um processo, indivisível. Ambos os polos desapareceram, ambas as margens desapareceram, e só existe o rio. Você não pode dizer "Eu experimentei", porque você não estava lá – como pode experimentar? E depois que você entra em cena, não pode torná-lo uma experiência do passado, você não pode dizer: "Eu experimentei". Senão torna-se uma lembrança do passado.

Não, o vazio nunca pode se tornar uma lembrança, porque o vazio não pode nunca deixar um rastro. Ele não pode deixar pegadas. Como o vazio pode se tornar uma lembrança do passado? Como você pode dizer "Eu experimentei"? É sempre no agora, é experimentando. Não é nem passado nem futuro, é sempre um processo contínuo. Quando você entra em cena você interfere. Você não pode sequer dizer: "Eu experimentei" – é por isso que Subhuti nem estava consciente do que estava acontecendo. Ele não estava lá. qualquer distinção entre ele e o universo não estava lá. Não há distinção, todos os limites tinham se dissolvido. O universo começou a se desvanecer nele, e ele se desvaneceu no universo, imergindo, fundindo-se, unindo-se. E os deuses disseram: "Esse é o verdadeiro vazio".

"E as flores se derramaram sobre Subhuti como chuva."

Essa última linha tem que ser entendida com muito, muito cuidado, porque, quando alguém diz que você está vazio, o ego pode imediatamente voltar – porque você se tornará consciente, e vai sentir que algo foi alcançado. De repente, os deuses vão torná-lo consciente de que você está vazio.

Mas Subhuti é raro, extraordinariamente raro. Mesmo que os deuses gritassem em torno dele, sussurrassem em seus ouvidos, e as flores se derramassem sobre ele como chuva, ele não se incomodou. Ele simplesmente ficou em silêncio. Eles disseram: "Você falou, você deu um discurso!". Ele escutou sem se voltar. Eles disseram: "Você não falou, nós não ouvimos. Esse é o verdadeiro vazio". Não havia nenhum ego dizendo: "A verdadeira felicidade me aconteceu. Agora eu me tornei iluminado" – caso contrário, ele teria perdido a chance no último instante. Imediatamente as flores teriam parado de se derramar sobre ele, se ele tivesse se voltado. Não, ele deve ter fechado os olhos e deve ter pensado: "Esses deuses estão loucos e estas flores são sonhos – não se incomode com isso".

O vazio era tão belo que agora nada poderia ser mais bonito do que isso. Ele simplesmente permaneceu no seu vazio sublime – é por isso que as flores se derramaram sobre Subhuti como chuva. Agora, elas não estavam caindo um pouco aqui e um pouco lá, agora elas estavam se derramando como chuva.

Essa é a única história sobre Subhuti, nada mais foi dito sobre ele. Em nenhum outro lugar ele é mencionado. Mas eu digo a você que as flores ainda estão se derramando. Subhuti não está mais sob nenhuma árvore – porque, quando uma pessoa se torna de fato totalmente vazia, ela se desvanece no universo. Mas o universo ainda celebra. As flores continuam se derramando.

Mas você só vai ser capaz de conhecê-las quando elas se derramarem sobre você. Quando Deus bate à sua porta, só então você sabe que é Deus, nunca antes. Todos os argumentos são fúteis, todos os discursos são em vão, a menos que Deus bata à sua porta. A menos que isso aconteça a você, nada pode se tornar uma convicção.

Eu falo sobre Subhuti porque isso aconteceu comigo, e não é uma metáfora  é literal. Eu já tinha lido sobre Subhuti antes, mas pensava que era uma metáfora bonita, poética. Eu nunca tive sequer uma ligeira noção de que isso realmente acontece. Eu nunca pensei que esse era um fenômeno real, uma coisa real que acontece. Mas agora eu digo que isso acontece. Aconteceu comigo, pode acontecer com você... mas um sublime vazio é necessário.

E nunca se confunda. Nunca pense que o seu vazio negativo poderá algum dia se converter em sublime. Seu vazio negativo é como a escuridão; o sublime vazio é como a luz, é como um Sol nascente. O vazio negativo é como a morte. O sublime vazio é como a vida, a vida eterna. É feliz.

Deixe que esse estado de espírito penetre em você cada vez mais fundo. Vá e sente-se sob as árvores. Basta se sentar e não fazer nada. Tudo para – quando você para, tudo para. O tempo não vai passar, como se de repente o mundo chegasse a um apogeu e não houvesse mais movimento. Mas não pense: "Agora estou vazio", caso contrário você vai se perder. E mesmo que os deuses comecem a derramar flores sobre você, não preste muita atenção.

E agora que você conhece a história, nem sequer pergunte por quê. Subhuti tinha que perguntar, mas você não precisa. Mesmo que eles sussurrem: "Ouvimos o verdadeiro vazio e o discuso sobre ele", não se preocupe, permaneça vazio, e as flores vão se derramar como chuva sobre você também.

Basta por hoje.


sexta-feira, março 20, 2015

Manifestando a Vida Infinita - 6/6

- Masaharu Taniguchi - 


Se você tiver uma doença que deva ser curada, sente-se como foi descrito anteriormente. Feche os olhos. Recite o Canto Evocativo e serenamente recite o Canto Contemplante da Realidade. Visualize o homem perfeito, a Imagem Verdadeira do homem. Pense no ser integral do homem - todas as células dos pés à cabeça - como sendo invariavelmente Realidade espiritual, pura e transparente como cristal, como sendo de uma pureza comparável à Essência do Espírito Universal, que é o limite máximo de pureza. Desse modo, espiritualize qualquer parte do corpo que possa estar adoecida. Se isso for feito, a área afetada começará a se curar. Medite que não há desarmonia em lugal algum, pois o corpo do homem é a Imagem Verdadeira, que é Deus e é perfeita. Medite que a maravilhosa e perfeita Imagem Espiritual verdadeira está permeando toda a área do corpo onde você deseja obter saúde. Enfoque os olhos mentais nesta Imagem Verdadeira e aniquile a ideia de existência de ponto doentio. Nosso corpo físico reflete nossos pensamentos na medida de nossa conscientização da Imagem Verdadeira. Portanto, o poder superior da Imagem Verdadeira será manifestado, seja qual for a parte do corpo afetada, se nos esforçarmos para espiritualizá-la. Da mesma maneira com que a escuridão é dissipada pela luz, todas as condições imperfeitas do corpo e todas as condições de doença desaparecerão por si mesmas. Essa é a maneira de meditar para tratar com as doenças próprias ou do nosso próximo.

O corpo físico não pode se aproximar da Imagem Verdadeira por meio de jejum ou outro método qualquer de autonegação. Não podemos espiritualizar a carne eliminando dela algo material. A espiritualização da carne só é possível pela espiritualização de nossos pensamentos, persistindo na ideia de que somos todos Realidade espiritual. Seremos capazes de espiritualizar todo o nosso ser na extensão em que nos tornarmos mais convictos do fato de que a Imagem Verdadeira é Espírito. Assim, enquanto nossos gostos não se modificarem naturalmente, enquanto os desejos por conforto material não se forem por si, podemos continuar dando ao corpo todo o conforto e beleza que ele possa desfrutar, sem privá-lo de algo que o torne mais completo. Não há necessidade alguma de nos privarmos das coisas boas pertencentes ao mundo exterior. As práticas de autoflagelação não são seguidas pela Seicho-no-Ie. Nós simplesmente acrescentamos bons pensamentos ao nosso mundo interior. Com este método, aumentamos o poder espiritual do interior e fazemos com que o homem fenomênico se torne um reflexo mais perfeito da Imagem Verdadeira, além de adquirirmos um domínio maior neste mundo da atualidade.

Qualquer região do corpo sofre uma modificação nas condições físicas, quando há uma mudança dos pensamentos que mantém aquela parte. Se alguma condição de doença aparecesse na carne, significaria que o nosso pensamento referente àquela área estaria doente. Se infundirmos a região com pensamentos da Verdade e a despertarmos, o corpo começará a melhorar, graças ao poder da Imagem Verdadeira existente no âmago da forma física. Quando o poder da Imagem Verdadeira é revelado, o corpo começa a se recuperar sob o estímulo deste poder da Imagem Original. O poder da Imagem Verdadeira é infinitamente superior ao poder do erro. Quando a mente é conscientizada de sua Imagem Verdadeira, é natural o aparecimento da saúde perfeita na carne. Se nós despertarmos profunda e nitidamente para a natureza verdadeira do ser, a vitalidade do corpo se tornará realmente pronunciada. As mudanças resultantes do desenrolar da Imagem Verdadeira sempre ocorrem para melhor. Isto porque a Imagem Verdadeira é Deus, e é infinitamente perfeita. Portanto, conhecer a Imagem Verdadeira, mesmo em pequena proporção, fará com que muitas coisas boas se materializem no mundo exterior.

Há pessoas que acreditam que o despertar para a Verdade significa abandonar o mundo exterior, mas na realidade, o despertar conduz à plenitude do mundo exterior. O desenrolar da sabedoria, vida, suprimento infinitos do Mundo Interior jamais poderia levar à diminuição dos mesmos no mundo exterior. Despertar para a Imagem Verdadeira implica uma manifestação ainda maior da infinitude no mundo externo. Quando as boas qualidades do Mundo Interior parecem estar diminuindo externamente, simplesmente quer dizer que as impressões daquilo que não constitui a Imagem Verdadeira, ou seja, os pensamentos da falsa existência, estão embaçando o espelho da mente e impossibilitando-o de refletir plenamente a Imagem Verdadeira. Tornamo-nos escravos do conceito materialista da natureza da vida, e prisioneiros de doenças, dificuldades e sofrimentos por causa da não manifestação da Imagem Verdadeira. A Imagem Verdadeira não perde sua vida, vitalidade e bondade infinita em nenhuma circunstância, mas, se a mente estiver nublada pelas nuvens ilusórias, a vida real da Imagem Verdadeira fica escondida do mundo fenomênico. Nessas ocasiões toda a iluminação parece ter sido perdida. Porém, apesar da aparência, a perfeição da Imagem Verdadeira não se perdeu. O que abandonou o sagrado trono da Imagem Verdadeira foi apenas o pensamento do homem. Faça com que o pensamento volte ao trono do Homem real, e descubra a si mesmo como filho de Deus, sentado naquele trono. Você redescobrirá sua perfeição e todos os atributos que sempre lhe pertenceram. No Mundo da Verdade - ao lado do Pai - todos os tesouros que nos foram dados pelo Pai permanecem firmemente a nós garantidos nas mãos do Pai. Como no caso do "filho pródigo", podemos temporariamente imaginar um mundo de ilusão e perder de vista a nossa Imagem Verdadeira - o original Homem Real -, mas isto não significa que os tesouros ilimitados que eram nossos se perderam. Se simplesmente retornarmos ao nosso lar, o Mundo da Imagem Verdadeira, recobraremos os recursos infinitos que possuímos. No Reino de Deus nada é perdido, nada desaparece.

Quando nossa conscientização é erguida ao nível da Imagem Verdadeira, a organização do corpo físico é purificada e traduz com maior fidelidade a estrutura da Imagem Verdadeira. A Imagem Verdadeira passa a se refletir na carne, e quando isso ocorre, há somente boa saúde. Onde a Imagem Verdadeira aparece na forma não pode existir doença. Para realizarmos a Imagem Verdadeira original, devemos simplesmente ficar sentados, mergulhados de tal forma na Meditação Shinsokan, que possamos assim reconhecer a fusão de nosso ser com a Imagem Verdadeira, em completa união. Quando formos capazes de ver todos os fenômenos como eles são em sua imagem mais elevada, perfeita e verdadeira, nossa saúde e tudo que se relaciona conosco começará a assumir a aparência perfeita, e seremos capazes de ver todas as coisas como elas realmente são, como reflexos da Imagem Espiritual Verdadeira, em vez de enxergarmos alguma forma imperfeita. Atingindo esse estado em que reconhecemos todas as coisas em suas aparências perfeitas criadas por Deus, poderemos dizer que conhecemos a Verdade. Uma conscientização da Verdade dessa natureza nos libertará. Seremos impedidos de receber as impressões imperfeitas, contrárias à real Imagem Verdadeira das coisas. O espelho de nossa mente permanecerá límpido e assim deixaremos de ser alvo de doenças ou infelicidades.

Para realizarmos completamente a Imagem Verdadeira, precisamos nos aprofundar na Meditação Shinsokan até alcançarmos a conscientização: "Eu sou a Verdade - Eu e a Verdade somos um!" Neste profundo estado de meditação, o nosso Eu não é mente, carne, corpo astral nem algum outro corpo espiritual. Ele é transcendente a tudo isso, e existe numa condição extremamente maravilhosa como um Homem Real eternamente indestrutível. Para alcançarmos esta percepção consciente, será aconselhável repetirmos, neste profundo estado meditativo: "A Verdade sou eu! Eu sou a Verdade!". Quando persistimos nesta meditação, gradativamente nossa conscientização vai se aprofundando. Atingiremos o estado mental em que temos a consciência de que o "Eu" é algo que preenche o Universo, e que é uma grandiosa realidade coexistente com o Universo. Finalmente, alcançamos a convicção de que "a Verdade sou eu, eu sou a Verdade". A ilusão, que até aquele ponto fazia com que nos víssemos como matéria, desaparece. Começamos a nos ver como somos, em nossa Imagem Verdadeira, e descobrimos que somos dotados de ilimitado suprimento de saúde, poder, sabedoria e outras bênçãos do Mundo da Verdade. Neste ponto, descobriremos que a diferença existente entre Deus e o ser que somos, é que somos testemunhas individualizadas da Presença divina, onde Deus é o próprio Infinito.

Quando aprendemos a experimentar a "vida" do Infinito dentro de nossas próprias "vidas", nunca mais veremos doenças, não ouviremos sobre doenças e nem pensaremos em doenças. Até a palavra doença começa a desaparecer do nosso mundo. Mesmo que alguma desarmonia ou dor ainda apareçam em nosso corpo físico, saberemos que eles são irreais; teremos já atingido o estágio de não mais pensar em doenças; e assim, não mais nos referiremos a tais experiências como se fossem doenças. O nome da doença não deverá mais ser pronunciado; deverá ser banido do reino da existência. Como Deus é o Todo, a perfeição de Deus aparece na atualidade, e nós desfrutamos de paz e boa saúde. Quando nos acostumarmos com este estado mental alcançado, seremos capazes de entrar profundamente na Meditação Shinsokan simplesmente com a repetição de "Deus é o todo de tudo", ou, "Somente Deus existe".

Praticar a Meditação Shinsokan significa focalizar nossa consciência na Imagem Verdadeira do nosso ser. Quando a consciência fica totalmente concentrada no reino de Deus, nossas mentes são absorvidas pela aparência original da realidade. Unicamente a perfeição da Imagem Verdadeira fica retida em nossa consciência e passamos a não mais tomar conhecimento de algo além daquela Imagem Verdadeira. Quando nossas mentes permanecem continuamente no Mundo da Realidade, logicamente não deixamos de tomar consciência de toda condição imperfeita pertencente ao mundo fenomênico. Nossas mentes não conseguirão mais experimentar qualquer doença, dor ou fracasso. Todo o mal seria expulso da mente. Pode ser que isto soe estranho, mas quando nossas mentes entram no Reino de Deus, os nossos corpos físicos entram juntamente com elas. A explicação é a seguinte: o corpo é apenas uma sombra da mente. Não podemos viver em mundos diferentes e opostos ao mesmo tempo, e se entrarmos no Reino de Deus, o corpo também entrará simultaneamente. As falsas condições imperfeitas são expulsas do reino da consciência, e nós atingimos uma consciência da mais elevada e absoluta boa saúde.

A Meditação Shinsokan é uma forma de prece, mas não do tipo em que pedimos algo que ainda não possuamos. É uma prece em que afirmamos já sermos possuidores da coisa em questão. Sendo assim, não deveremos pedir por boa saúde, quando quisermos possuí-la. Se ficarmos pedindo por boa saúde, seremos levados a acreditar que alguém não esteja bem. O homem é filho de Deus; portanto, ele já está desfrutando da saúde perfeita; não há necessidade de ele ficar buscando pela boa saúde. Basta apenas que acredite já estar agora em plena saúde como filho de Deus, e penetrar na consciência da Imagem Verdadeira. Ele deverá saber que a perfeição da Imagem Verdadeira é a "Verdade", que Deus é o Todo de Tudo, e saber, com a totalidade de seu ser, que ele é "um com Deus". Precisará afirmar profundamente, do fundo de sua alma, que todos os seus desejos já foram atendidos.


quarta-feira, março 18, 2015

Manifestando a Vida Infinita - 5/6

- Masaharu Taniguchi - 


O homem é Deus e a vida do homem é a vida de Deus - esta é a filosofia básica dos ensinamentos da Seicho-No-Ie. Deus é saúde absoluta, e assim, dizemos que o homem deveria ser absolutamente saudável. Esta saúde absoluta fica impressa em nossa mente quando conscientizamos que o homem, em sua Imagem Verdadeira é sempre saudável, e que unicamente a Imagem Verdadeira constitui a totalidade da existência do homem. O que fica impresso na mente, inevitavelmente será impresso em todas as células do corpo. Isto porque as células do corpo são entidades com consciência. Por essa razão, imprimir a ideia de saúde absoluta na mente levará à manifestação da saúde absoluta no corpo inteiro. Como podemos atingir a conscientização da saúde absoluta e permitir que esta consciência de saúde se desenvolva? Da seguinte forma: (1) pensar na Imagem Verdadeira da Vida, que é Deus; (2) pensar unicamente na Imagem Verdadeira original, e (3) saber que a Imagem Verdadeira original é a totalidade de tudo que existe. Quando seguimos estas três condições, nossos pensamentos retratam a Imagem Verdadeira sem distorção, ficando preenchidos com a Verdade a ponto de refletirem somente a Verdade. Como os pensamentos possuem uma certa inércia, eles irão se aprofundar cada vez mais pela repetição. Se persistirmos em pensar em termos de Imagem Verdadeira, cada vez mais iremos nos aproximar da Verdade, e cada vez mais iremos conscientizar com maior clareza e profundidade as coisas como elas realmente são no Mundo da Verdade.

Ao nos conscientizarmos mais profundamente das condições perfeitas da Imagem Verdadeira da Existência, começaremos a manifestar condições mais perfeitas em nossa vida fenomênica. Nossa saúde física irá melhorar. Tanto o corpo como a mente aumentam de poder. Para sermos saudáveis, precisamos cultivar pensamentos de saúde, pois a mente não pode ficar estacionária: se não avançar, ela irá se retrair. Se a mente não se ocupar com pensamentos elevados, terá pensamentos de natureza inferior, e gradativamente iremos perdendo o terreno já ganho. Quando a mente se eleva e adquire mais maturidade, não apenas conservamos as boas coisas conquistadas, como ainda passamos a adquirir novas coisas ainda melhores do que as do passado. Portanto, se desejarmos o crescimento abundante de nossas vidas, precisamos nos aprofundar diariamente em nossa compreensão da Verdade. Quando nos conscientizarmos da Verdade de nossa vida, ou seja, quando fortalecermos a convicção da perfeita saúde pertencente à nossa Imagem Verdadeira, teremos a melhoria de nossa saúde física proporcionalmente a esse crescimento de conscientização da Verdade. Precisamos conscientizar que unicamente nossa Imagem Verdadeira é real. A melhor maneira de abrirmos o portal de nossa própria imagem do “Eu”, é nos sentarmos quietamente e meditarmos sobre a Verdade.

Dedique trinta minutos de cada manhã e noite para sentar-se quietamente e praticar a meditação Shinsokan. Recite inicialmente as quatro estrofes do Canto Evocativo de Deus, que se encontra na Sutra Kanro-no-Hoou (Chuva de Néctar da Verdade). A seguir, repita para si mesmo os seguintes pensamentos: “Neste momento eu deixo o mundo dos cinco sentidos e entro no mundo da Imagem Verdadeira.” E então, passe a meditar: “Aqui, onde estou é o mundo da Imagem Verdadeira: é o oceano da infinita sabedoria de Deus, oceano do infinito Amor de Deus, o oceano da infinita Vida de Deus, oceano da infinita Dádiva de Deus, oceano da infinita Harmonia de Deus.” Faça esta visualização da forma mais real possível. Ao inspirar lentamente, visualize: “A Vida da Grande Harmonia flui para o meu interior.” Assim, atinja o estado em que se torna inseparável de Deus, e contemple intensamente sua Imagem Verdadeira, que é saúde perfeita exatamente aqui e agora: vá ainda além, despertando para a sua Imagem Verdadeira da Vida, que é sempre e eternamente perfeita!

A Imagem Verdadeira do homem, assim como Deus, está sempre em perfeita saúde! Qualquer coisa outra, além da Imagem Verdadeira, não existe. Fortaleça esta conscientização da Verdade e veja claramente sua própria Imagem! Ao fazermos isto, a ilimitada Vida interior, sempre possuidora de boa saúde, é manifestada, e a boa saúde que sempre possuímos é exteriorizada em nossa vida atual. Quando residimos internamente numa convicção de boa saúde, infundimos pensamentos de boa saúde nas mentes de todas as células do corpo, que vibram de vitalidade. Como resultado, o corpo inteiro se torna saudável; e nem poderia deixar de ser saudável. Nossas células mantêm suas aparências graças à consciência – ou mente – que elas possuem. Infundimos nessa mente, profunda e nitidamente, o pensamento: “Minha Imagem Verdadeira é Deus; portanto, está com saúde perfeita e absoluta, aqui e agora.” Com isso, o corpo é forçado pelo poder do pensamento a modificar sua aparência para a boa saúde absoluta. Não podemos separar a Imagem Verdadeira da saúde: os dois são unos para sempre. Você existe como realidade. O que existe verdadeiramente só pode ser a Imagem Verdadeira em Si. Portanto, você está em perfeita saúde exatamente agora. Você está vivendo, e esta Verdade certifica que você está saudável. No mundo da Verdade, não há outra possibilidade senão você estar saudável, se você está vivo. A boa saúde e a vida não podem estar separados no mundo da Verdade. A totalidade de seu ser está existindo no mundo da Verdade. Sua totalidade é constituída pela Verdade. Não há outro você.

Cristalina, transparente, pura e inviolável, em saúde absoluta - eis sua Imagem Verdadeira! Conheça-a! Neste conhecimento está o segredo da saúde perfeita. Peço-lhe que visualize todo o seu ser irradiando boa saúde. Você pode parecer estar doente; mas, o fato de você estar desfrutando boa saúde não é uma farsa. Sua Imagem Verdadeira está saudável. A condição que aparece diante dos cinco sentidos físicos não passa de uma mentira. Veja a Imagem Verdadeira! Feito isto, sua mente irá conhecer somente a saúde perfeita. Precisamos fortalecer e purificar mais e mais esta consciência, para que a saúde perfeita se materialize no mundo da atualidade. Se praticarmos a Meditação Shinsokan diariamente, sem falta, dirigindo passo a passo nossa mente rumo à Imagem Verdadeira, nossa consciência se fortalecerá e acabará por atingir o âmago da Imagem Verdadeira. Uma forma de alcançarmos este objetivo é a repetição do Canto Contemplante da Realidade, após a recitação do Canto Evocativo de Deus.

Durante a repetição daquele canto contemplante, a mente deve estar inteiramente dirigida ao Mundo da Verdade, o Mundo da Grande Harmonia, que foi criado por Deus. Concentre seus pensamentos exclusivamente na grande harmonia que existe no mundo da Verdade, que está repleto de sabedoria, amor e vida. Em seguida, medite empregando sua mente plenamente, com o pensamento e emoção focalizados na ideia de que você é um filho de Deus, sentado neste mundo de grande harmonia, o Mundo da Verdade. Diga a si mesmo que todas as coisas boas que Deus possui fluem para você; que o Grande Princípio Vital vive em você; e que não existe a mínima divisão entre você e o Grande Princípio Vital. Quando assim fizer, tudo aquilo pertinente à sua vida atual se elevará ao estado de perfeição pertencente ao Mundo da Verdade. A partir daí, a Imagem Verdadeira passará a fazer parte do mundo da atualidade, o "verbo se fará carne", e todas as coisas boas existentes no mundo da Verdade passarão a lhe pertencer no mundo fenomênico. A força vital abundante preencherá sua vida cotidiana. Irá cultivar a força infinita dentro do contexto de infinita paz, e descobrirá que o poder de Deus é o seu próprio poder.

A Meditação Shinsokan é voltada para a Imagem Verdadeira. Assim que a nossa consciência da Imagem Verdadeira da existência e do nosso próprio ser se torna cada vez mais pura, a compreensão se eleva ao nível de convicção, e nos tornamos a própria Imagem Verdadeira. Tornamo-nos perfeitos, assim como Deus é perfeito. Atingimos uma liberdade em que não mais seremos limitados por coisa alguma.

Eu disse, há pouco, que nossa compreensão cresce ao ponto de convicção. Este é um fator muito importante. A convicção é absolutamente necessária para trazermos a Imagem Verdadeira para o mundo fenomênico. Apenas afirmar a perfeição da Imagem Verdadeira e pensar em sua perfeição não são o bastante. Precisamos atingir o ponto em que nossos pensamentos são "um" com a Imagem Verdadeira ou "coisa em si", onde a Imagem Verdadeira e nossos pensamentos formem uma unidade indivisível. Para conseguirmos isto, precisamos ler as obras sagradas, praticar a Meditação Shinsokan e praticar atos de amor. Se não purificarmos nossa compreensão através da Meditação Shinsokan, o entendimento são sairá do nível da intelectualidade. Apenas com uma compreensão intelectual não podemos dizer que conhecemos perfeitamente a Verdade. Somente após adquirirmos um nível de convicção inabalável da Verdade é que poderemos dizer que despertamos espiritualmente.

Para assimilarmos perfeitamente a verdadeira imagem da "coisa em si", precisamos, primeiramente, obter uma correta compreensão da Verdade, sem falsos conceitos, e isto pode ser obtido através da leitura de obras sagradas, tais como as publicações da Seicho-No-Ie. Ao mesmo tempo, praticamos o Shinsokan para apurar nossa compreensão da Verdade até que ela atinja o ponto de convicção. E também aplicamos a Verdade na vida prática através de atos de amor. Esta é a única maneira. A Verdade se torna viva, vibrante, quando seu conhecimento é trazido à vida com fé, e posteriormente é posta em prática através de atos de amor. Quando isso ocorre, nossas mentes deixam de ter apenas uma visão superficial da Verdade; nos tornamos um com a Imagem Verdadeira original da vida. Deixamos de ficar rodeando a Verdade. Nós e a Imagem Verdadeira ficamos superpostos, um ao outro. Somente então é que teremos atingido uma compreensão perfeita da Verdade.

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