"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, dezembro 29, 2014

Onde está Jesus?



Onde está Jesus ?

Para a percepção mental, para a qual existe tempo e espaço, Jesus viveu há dois mil anos e foi condenado a morte por crucificação. Mas, o Cristo que ele personificou é imortal; Ele é a Consciência de Deus em nós. Cristo está vivo em nós! A percepção de Deus em nós nos torna conscientes da condição de "Filhos de Deus", como Jesus Cristo referia a si mesmo. 

Ele expressou de várias formas e muitas vezes essa percepção de que Deus está em nós.
Para ativarmos essa percepção é preciso desejarmos estar com a atenção voltada para a realidade divina em nós. Na Bíblia está escrito: "Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, cogitam das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, dá para a vida e paz." (Rm 8.6). Assim, nossa atenção pela realidade humana, as preocupações do mundo, a realidade percebida pela mente, nos induz a estarmos inconscientes da realidade divina da qual somos expressão. Isso é o que dá para a morte. Em realidade estamos em Deus, somos a evidência da presença de Deus. Essa é a percepção que "dá para a vida e paz".

A percepção da mente do personagem, que estamos representando, nos faz acreditar na verdade de que "somos do mundo"...  Contudo, a percepção da Consciência do Ser, que realmente somos, nos faz conscientes da verdade de que nós deste mundo não somos.

Então, onde está Jesus?

Alguns dizem que Jesus foi o homem que morreu há dois mil anos e que tinha esse nome, e que Cristo foi o espírito de Deus que Se expressou através de Jesus. Essa é uma explicação mental. Contudo, nenhum homem tem vida em si mesmo. A vida é de Deus. O homem consciente desta realidade sabe que não tem vida separada de Deus.

Aquele que não está consciente desta realidade está condenado a viver a vida que imagina. A Bíblia chama a condição em que se encontram estas pessoas de "escravos do pecado"... Pecado é ignorar que o Espírito Santo existe e que está em nós, em nossa realidade divina. Estes que não ignoram esta realidade da verdade divina, são os chamados filhos de Deus. 

Na Bíblia está assim escrito: "Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis. Pois, todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." (Rm 8.13-14).

Aqueles que interagem com o Espírito de Deus, que ouvem a voz da Consciência divina, e que a seguem, são os chamados filhos de Deus. É esse Espírito de Deus em nós quem nos conscientiza de que somos filhos de Deus. Na Bíblia revela que: "O próprio Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16). No Núcleo nós dizemos que: é a Consciência do Ser (Espírito) quem revela à mente do personagem (nosso espírito) o que realmente somos.

Então, voltando à questão inicial, onde está Jesus?

Jesus é o revelador da verdade de que o Espírito Santo, o Espírito de Deus, existe em nós! O que faz essa "mediação", essa "ponte" de percepção entre a realidade que vivemos, a realidade humana, que percebemos mentalmente, e a realidade divina, que podemos perceber consciencialmente, esse é Jesus, o Cristo, chamado "mediador entre Deus e os homens". Sem essa mediação, sem essa ponte de percepção entre as realidades, não acendemos à percepção de que Deus é a nossa verdade. É na dimensão consciencial que encontramos o Cristo vivo!

Para os homens, Jesus morreu há dois mil anos na dimensão humana percebida pela mente (mundo da representação). Mas, ele pessoalmente respondeu com ênfase que: "Antes que Abraão existisse Eu Sou". Jesus deixou claro que existia antes de Abraão, ou seja, ele existia antes de haver nascido como Jesus. Isto é real. Ele está em nós, na realidade da Consciência do Ser, que somos.

Para despertar a percepção consciencial precisamos ativar essa interação com o Cristo que vive em nós. Se não Ele continuará sendo um ponto inacessado em nossa consciência.

Essa interação se faz em três etapas: pelo silêncio, pela oração e pela meditação. Pela oração nós falaremos com Deus e pela meditação nós O ouviremos. Contudo, não devemos começar pelo fim, mas pelo início...

A primeira etapa fundamental é o silêncio. Trata-se de um tipo especial de silêncio, um silêncio contemplativo. Antes de falar com Deus, fique em silêncio, e conscientize-se do ato que está por fazer: Falar com Deus. Depois, ore. Das orações possíveis, escolha se possível a oração de agradecimento. Faça novamente silêncio. Ouça! Dê uma chance para que Deus fale com você. Medite. Meditar é perceber consciencialmente. Enquanto houver "vozes" falando com você, isso ainda não será a voz de Deus, mas apenas vozes mentais.

A voz de Deus tem a característica de ser inconfundível. Enquanto houver dúvidas tenha a certeza de que essa não é a voz de Deus. A "voz de Deus" nem sempre são "palavras". Ela se manifesta como uma percepção clara. Por exemplo, nesse exato momento Deus, a voz do Ser em Mim, me revela que este texto aqui é muito importante para alguém e que ele deve ser publicado.

Eu, o personagem, não teria necessidade alguma de estar enviando isso. Muitas vezes escrevo e não envio, apenas interajo com Deus, e me realizo simplesmente assim. Mas agora estou "consciente de que" (poderia escrever "estou ouvindo que", mas eu não ouvi nada, apenas "percebi" ) devo fazer isso, que devo compartilhar isso com alguém.  É assim que sigo, sem questionar, a "palavra de Deus", voz interna às vezes sem palavras.

Esse texto pergunta: onde está Jesus?  E cada um deve obter a resposta interna.


sábado, dezembro 27, 2014

Vá para o Núcleo!

- Núcleo -


Vá para o Núcleo e perceba Quem você É; atente bem: perceba Quem você É!

O Núcleo não é um local físico mas sim a essência do Ser. Há uma "voz" interna que provém de uma Fonte, que é a Consciência do Ser, que é seu Eu Real, sua identidade verdadeira. O Ser é consciente e desperto, por isso não há necessidade de despertar sua Consciência. A Consciência do Ser que você é já está plenamente desperta. Tudo o que você tem a fazer é despertar a percepção que te possibilita se sintonizar com esta Fonte Interna, que no livro de Apocalipse é chamada de "Fonte da água da vida"

Enquanto ser humano, você está apenas mentalmente desperto, ou seja, consciente de sua identidade humana, mas sua identidade verdadeira é a de Cristo, o filho de Deus. A mente humana, por sua natureza dual, não percebe esta suprema Identidade Universal, nem mesmo sequer a concebe e jamais a perceberá. Mas há um sentido em você que te capacita “perceber” sua real identidade: é a "Percepção Consciencial". É a capacidade de perceber que "Eu Sou", de perceber a real identidade de Quem realmente faz! É a capacidade de atribuir, imediatamente, diante de tudo, "glória" ao Criador. 

Por isto a tudo dê glória a Deus, pois é Ele Quem faz! E então você ouvirá: “Este é o meu filho amado em quem me comprazo”. Quando "ouvir" esta "voz", saberá que a sua percepção está desperta e que você é Uno com Cristo, que está em Unidade com o filho de Deus. Então você agradecerá e agradecerá. [Agradeça por estar sendo orientado pelo Ser se já puder perceber a Fonte.]

Esteja consciente de que o "passo" na direção de despertar esta percepção não depende de Deus mas de você; ou seja, não depende do Ser enquanto Ser, mas do ser humano enquanto ser humano. O Ser enquanto Ser já é "atemporalmente desperto". A mente do ser humano é quem cria a imagem de separação e é também ela quem pode criar a imagem de unidade. Mas atente bem: tanto a imagem de separação quanto a imagem de unidade se sobrepõem ao Ser e impedem que Ele seja percebido. Porém, a imagem de unidade gera a estabilidade necessária à percepção do Divino. Perceba tudo como sendo motivado por uma Fonte Única. Assim perceberá que esta é a mesma Fonte do Ser que está manifesta em você desde a eternidade. Esta é a glória que já estava em você “antes que houvesse mundo”

Foi isto o que Jesus soube sobre si mesmo. Ele percebeu “Quem Ele era” e “Quem faz”. Você é capaz de perceber que não fez nenhum dos órgãos do seu corpo e que mesmo assim eles existem e funcionam? Você é capaz de perceber que o ser humano não fez a natureza e que mesmo assim ela existe e funciona harmoniosamente? Perceba - simplesmente perceba! - que em tudo há uma inteligência sobre-humana, uma Consciência fantasticamente Divina e atuante, porque tudo o que existe está em Deus de eternidade a eternidade. Portanto você também está em Deus. Por que então se preocupar, sabendo ser parte de Mim e do Ser que Eu Sou? 

Jesus declarou: "Aquele que não crê em Mim, não é digno de mim". Renovo estas palavras: Creia em Mim e seja digno de Mim. Para crer em Mim você deve apenas Me perceber como sendo a verdadeira Fonte; em outras palavras, você deve “perceber Quem faz”. E para ser digno de Mim você deve Me perceber em tudo e agir com a consciência de que todos são filhos de Deus e não julgar. Ou seja, você deve interagir com o Ser e não deve reagir aos personagens. É habituando-se a perceber Minha Presença em tudo e em todos que você dará a si mesmo a chance de Se reconhecer, de saber sua Real Identidade natureza sua origem e filiação Divinas. 

Por isto aceite este convite: Vá para o Núcleo e perceba que embora Eu apareça como muitos só há UM de nós. Para despertar-se, perceba que por trás da aparente multiplicidade há apenas uma Única Fonte motivadora que É Deus. Há uma Única Vida: A Vida de Deus. Uma única verdade e um único caminho que são o próprio Deus manifesto como personagens e cenários. Saiba que estou Me dirigindo a você exatamente agora e que estou consciente de você; esteja também consciente de Mim. 

Desperte! Perceba a realidade de Quem você já É, e seja a Verdade; seja livre, seja feliz.


quarta-feira, dezembro 24, 2014

Uma reflexão sobre o Natal


- Núcleo -


Em 25 de dezembro se comemora em todo o mundo o nascimento de Jesus.

Mas, então, surge uma questão... Qual Jesus?

- Aquele de quem disseram: "Ainda não tens cinquenta anos e dizes que viu nosso pai Abraão?", ou aquele que disse: "Antes que Abraão existisse Eu Sou"? [Jo 8:58]

- Aquele que disse: "Eu Sou o pão que desceu do céu"? Ou aquele de quem disseram: "Este não é Jesus, o filho de José? Nós conhecemos o pai e a mãe dele. Então, como é que ele diz que desceu do céu?" [Jo 6:41]

Não há dúvida de que no natal se comemora o nascimento de Jesus, por sua condição de Filho de Deus, que fez muitas declarações que estavam acima da compreensão da maioria daqueles de seu tempo.

Ainda hoje é assim!

Muitos ainda seguem o Jesus, Filho de José... embora ele mesmo tenha declarado que, em verdade, Ele é aquele que desceu do céu!  

Muitos ainda seguem o Jesus, que não chegou a ter cinquenta anos... embora ele mesmo tenha revelado ser aquele a quem Deus amou antes que houvesse mundo. [Jo 17:24].

Vejamos o testemunho de João Batista, um profeta que sabia interpretar os sinais do céu, e que conheceu pessoalmente a Jesus: "Vi o Espírito descer do céu como uma pomba e parar sobre ele. Eu não sabia quem ele era, mas Deus, que me mandou batizar com água, me disse: 'Você vai ver o Espírito descer e parar sobre um homem. Esse é quem batiza com o Espírito Santo.' E eu de fato vi isso e por esta razão tenho declarado que ele é o Filho de Deus." [Jo 1:32]

Agora que identificamos a qual Jesus estamos nos referindo – o Filho de Deus, em quem Deus Se compraz –, vejamos o que o próprio Jesus disse sobre o "nascimento", já que no natal é comemorado o Seu nascimento...   

Jesus disse a Nicodemos: "A pessoa nasce fisicamente de pais humanos, mas nasce espiritualmente do Espírito de Deus." E completou: "Por isso não se admirem de Eu dizer que todos vocês precisam nascer de novo."  [Jo 3:6-7]

Eis aqui o núcleo dessa reflexão sobre o natal: Identificamos o "Jesus" e também o "nascimento" ao qual estamos nos referindo!

Estamos nos referindo ao Jesus eterno, atemporal, o Filho de Deus que nos advertiu que todos nós temos que "nascer espiritualmente"!

Esse nascimento espiritual nos fará cogitar das coisas de Deus, porque, como está escrito na Bíblia, em Romanos 8:5, "os que vivem como a natureza humana têm as suas mentes controladas por ela. Mas os que vivem como o Espírito de Deus têm suas mentes controladas pelo Espírito. Ter a mente controlada pela natureza humana produz morte; mas ter a mente controlada pelo Espírito produz vida e paz".

Então esse é o verdadeiro "natal" que devemos comemorar: O do "nascimento" do Espírito de Deus em nós, que nos faz pender para as coisas de Deus, que nos dá Vida e Paz! O "nascimento" que nos leva a viver em Unidade com o Filho de Deus, que assim orou a Deus: "Eu estou neles, e tu estás em mim, para que eles sejam completamente unidos, a fim de que o mundo creia que me enviaste e que os amas como também me ama." [Jo 17:23]     

Notem que revelação: "... e que os amas como também me ama."

Assim, por essa oração percebemos que "viver em Unidade com o Filho de Deus" nos torna conscientes do Amor de Deus por nós!  

Enfim, a "reflexão sobre o natal" nos levou a essa mensagem do eterno Amor de Deus por nós, através da oração de Seu Filho amado, que é Aquele que verdadeiramente "desceu do céu e fez nascer em nós o Espírito de Deus", e por isso comemoramos!

Com essa mensagem de Amor universal, desejo a todos um Feliz Natal!


segunda-feira, dezembro 22, 2014

O renascimento do Eterno

 - Núcleo -


Divinos personagens,

Está escrito: “Eu Sou o que Vive; estive morto, mas eis que estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno.” (Apocalipse 1:18)

Poderia se indagar: Como é possível ao que é Eterno ter estado morto? Ou como é possível ao Eterno nascer novamente?

Do ponto de vista da percepção mental, que é dual, parecem fazer sentido estas indagações. Mas o ponto a ser notado aqui é precisamente este: a mente é quem faz estas indagações e é também quem vê sentido nestas indagações!

Do ponto de vista da percepção consciencial, que é unitária, estas indagações não fazem sentido.

Assim, a interpretação que se deve dar a esta revelação divina é esta: "Eu Sou o que Vive (conforme a percepção mental); estive morto, mas eis que (conforme a percepção consciencial) estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno."

Outro ponto a ser notado aqui é que “morte e inferno” pertencem à Representação (mundo dos personagens) e não à Realidade Divina (universo do Ser Real). Aqui a Consciência do Ser está revelando que tem as chaves da representação! O Ser Real está plenamente consciente de que a representação é uma representação. Já a mente do personagem toma como real o que é uma representação. E é isso que torna possível a representação divina ser encenada com tamanho realismo!

Assim, o Ser que é Real, que É Quem É, e que se revela como Eu Sou, está revelando que É o que Vive! E que está Vivo por toda a eternidade!

Ao dizer que “estive morto”, o Ser revela que assumiu um personagem na representação que “morreu”, mas que Ele está Vivo por toda a eternidade! E revela ainda que aquele que morreu na representação tem as chaves da morte e do inferno. Aquele que morreu na representação é chamado em algumas passagens bíblicas de Cordeiro de Deus, por ser o personagem no qual Deus se ofereceu em sacrifício para revelar que a vida verdadeira é a Vida de Deus, que é Eterna. E o divino personagem Jesus Cristo que foi enviado pelo Pai disse: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; mas Eu vos tenho chamado amigos, pois tudo o que ouvi de meu Pai Eu compartilhei convosco.”

E tendo compartilhado tudo o que ouviu, de Jesus foi revelado ainda que “a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”

E conhecer Jesus é perceber que é ele Quem revela: Eu Sou o que Vive; estive morto, mas eis que estou vivo por toda a eternidade! E possuo as chaves da morte e do inferno.

E conhecer Jesus é renascer por saber que Ele é o Eterno que Vive EM nós e que sendo a Verdade tem as chaves da libertação tanto da morte quanto do inferno em que vivem os que estão imersos na representação!

Seja amigo de Cristo, ouça Suas palavras e compartilhe o que dele ouviu, tal como Ele divinamente o fez!

Transcenda os limites das ilusórias indagações mentais; e eleve-se do simples acreditar em um Cristo distante e separado de você à verdadeira fé que te faz perceber que o real Cristo está vivo Em você pela eternidade! Enfim, perceba e promova o “renascimento do Eterno” que Vive em você!

Pelo natal, meus votos de um feliz “renascimento do Eterno” em você!


sexta-feira, dezembro 19, 2014

Desperte! Perceba!

- Gustavo -

“O único saber necessário é que nenhum saber é necessário.

O único aprendizado necessário é aprender que nenhum aprendizado é necessário.

Ser quem você é em sua totalidade não requer nenhum saber, nenhum aprendizado, requer apenas que você seja – Aquilo que você já é”.


O estado de iluminação é o estado de consciência tido como meta por muitos de nós. Em geral nós, os personagens, pensamos que devemos fazer ou deixar de fazer algo a fim de podermos alcançar esse estado transcendente e beatífico de consciência. Julgamos existir uma consciência adormecida que deve ser desenvolvida, despertada ou mesmo iluminada. Acreditamos não termos a “percepção mística” tão amplamente falada e comentada pelos mestres iluminados e pelas escrituras. E a partir de todos esses julgamentos, pensamos ser necessário fazer ou deixar de fazer alguma coisa a fim de podermos obter, acionar ou ativar a percepção consciencial. Muitos de nós, personagens, utilizamos os mais variados métodos e artifícios a fim de conseguir atingir ou ativar essa percepção. Todavia esse é um procedimento equivocado. E aqui será esclarecido por quê.

Em se tratando da Consciência do Ser (e de todas as coisas relacionadas à Consciência do Ser), o personagem é impotente. É impotente por ser ilusório, irreal. Ele (o personagem) não vive, mas pensa que vive. Ele não está no controle, mas pensa que está. O personagem pensa que tem o poder de fazer suas ações contarem, mas elas não contam.

Considere o seguinte exemplo: Todos conhecemos as historinhas da "Turma da Mônica". Nessas histórias acompanhamos a vida de vários personagens como a Mônica, o Cebolinha, o Cascão e a Magali. Podemos notar claramente o que todos esses personagens são: apenas personagens. Os personagens são irreais, e existem apenas na dimensão de realidade dos quadrinhos. Um personagem fictício, como a Mônica ou o Cebolinha, não vive e não percebe a realidade onde vive o Maurício de Sousa, o autor das historinhas. Podemos compreender, também, que se o Maurício de Sousa não existisse (por detrás da realidade dos quadrinhos), os personagens jamais poderiam existir.

No universo da "Turma da Mônica", cada personagem poderia estar adormecido ou desperto. O que seria um personagem adormecido? Seria aquele cuja percepção estivesse confinada/limitada somente ao âmbito da história em quadrinho. E o que seria um personagem iluminado ou desperto? O desperto seria aquele que, além de estar consciente da realidade dos quadrinhos (realidade a qual pertence os personagens), está também consciente da existência do Maurício de Sousa. O personagem iluminado tem a plena consciência de que, perante o Maurício de Sousa, ele é uma existência impotente, irreal, nada. Ao mesmo tempo, o personagem iluminado percebe haver uma unidade essencial entre o "Maurício de Sousa" e "cada personagem" dos quadrinhos, inclusive ele próprio. A percepção da mente da personagem "Mônica" somente capta o que existe dentro da história dos quadrinhos. Para que a Mônica tomasse consciência do Maurício de Sousa e Sua realidade, o próprio Maurício de Sousa deveria desenhar a Mônica "percebendo" a existência/presença do Maurício de Sousa por trás dos quadrinhos. O ponto importante que vale notar é que: a personagem Mônica jamais conseguiria perceber a existência ou presença do Maurício de Sousa por si mesma (com a mente da personagem), a menos que o próprio Maurício de Sousa decidisse desenhar a história com a Mônica tendo esse "despertar". O personagem é um ser completamente impotente, irreal, que não apresenta condições nem mesmo para despertar.

Agora suponha que, na realidade dos quadrinhos (representação), todos os personagens estivessem inconscientes da existência do Maurício de Sousa. Então o Maurício de Sousa, desejando que os personagens se tornem cientes da Sua existência por detrás dos quadrinhos, decide iluminar um dos personagens – o Cebolinha – para que ele vá até aos outros personagens e conte a eles sobre a existência do Maurício de Sousa. Então Ele desenha o Cebolinha desperto, que comparece diante dos outros personagens e diz: "Quem me vê a mim, vê Aquele que me enviou." (João, 12:45), "as palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Maurício de Sousa, que está em mim, é quem as diz." (João 14:10), "Eu e o Maurício de Sousa somos um" (João 10:30), "Eu de mim mesmo nada posso fazer, o Maurício de Sousa em mim é quem faz as obras". Ao ouvir essas palavras, cada personagem poderia concordar ou discordar, acreditar ou não acreditar; mas perceba que a concordância/discordância e o acreditar/não acreditar são percepções que pertencem à mente dos personagens. As palavras do Cebolinha estão vindo do Maurício de Sousa (e não do personagem), mas a mente dos personagens só é capaz de perceber as palavras vindo através da boca do Cebolinha. Somente uma percepção que não provém da "mente dos personagens" é que estaria em real condição de avaliar e constatar a veracidade das palavras ditas pelo Cebolinha.

O mais importante a ser percebido nesse exemplo é que: a iluminação do Cebolinha não está no personagem "Cebolinha". O "Cebolinha iluminado" só aconteceu porque foi da vontade do Maurício de Sousa desenhar ele se iluminando. Da mesma forma que o Cebolinha iluminado, um personagem não iluminado jamais poderia existir nos quadrinhos se não fosse pelo desejo do Maurício de Sousa de desenhá-lo. O Cebolinha iluminado é tão irreal quanto qualquer outro personagem não iluminado. Assim, personagem iluminado ou não iluminado – ambos são irreais.

A mente dos personagens percebe apenas a realidade dos personagens. Para perceber o Ser e Sua realidade é necessário utilizarmos a percepção que está no próprio Ser. Essa percepção que provém da Consciência do Ser é chamada de "percepção consciencial". Nós existimos no mundo da representação como se fôssemos os personagens, mas podemos transcender a percepção da mente do personagem (percepção mental) e perceber a existência através da percepção que está no próprio Ser (percepção consciencial). Essa percepção já existe, já está ocorrendo, já está em atividade. Não é necessário desenvolvê-la ou despertá-la. Só o que devemos fazer é ativa-la. Mas como acionar ou ativar a percepção consciencial, que já existe? Para isso, uma compreensão sutil (muito importante!)  deve o tempo todo acompanhar o nosso intuito ou tentativa de “acionar” ou “ativar" essa percepção.

Primeiro devemos compreender que a “Consciência desperta” já está desperta, a "Consciência iluminada" já está iluminada. Essa percepção não se ativa por meio de alguma ação ou esforço de nossa parte. Ela é “ativada” quando compreendemos que ELA JÁ ESTÁ ATIVA. Como assim? Continue acompanhando. A percepção consciencial é ativada quando nos estabelecemos firmemente na compreensão de que ELA JÁ ESTÁ ATIVA. Por que é assim? Por existir uma unidade essencial entre o Ser e o personagem. O personagem, para poder existir no universo da representação, deve existir primeiro na Consciência do Ser. A totalidade do personagem (e tudo o que pertence à realidade do personagem) existe primeiramente no universo da Consciência do Ser.  

É exatamente como ocorre com um robô-mecânico-humano projetado por um engenheiro cientista: se o robô consegue piscar os olhos, sorrir com a boca, pronunciar palavras ou mover a cabeça, é porque essas ações foram primeiro idealizadas pelo engenheiro. Antes de tais ações existirem no robô, elas existiram primeiro no cientista. Um robô conseguiria ignorar seu cientista (criador) e realizar alguma ação que não foi programada? Não. Pois, até para poder “ignorar o cientista”, o robô deveria estar programado para fazê-lo. O robô não consegue realizar um único ato sem que o engenheiro tenha colocado-o “lá”. Perceba, então, essa relação de “unidade” que existe entre robô e o engenheiro.

A mesma relação existe entre o personagem e o Ser. O personagem não dá um passo sequer, sem que esse passo tenha sido dado primeiro na Consciência do Ser. O personagem não move um dedo, sem que o “movimento do dedo” exista antes em alguma espécie de "lugar". Procure enxergar intuitivamente onde fica esse "lugar" e você compreenderá que, embora não possa vê-lo, consegue constatar que ele existe. Esse "lugar" é a Consciência. O personagem não consegue pensar, raciocinar, sentir, intuir, sem que todas essas coisas estejam primeiro na Consciência do Ser. E, da mesma forma, o personagem não consegue se iluminar (despertar a consciência – perceber) sem que isso exista primeiramente na Consciência do Ser. Não há nada que possa estar no universo da representação sem existir primeiro no universo da Consciência do Ser. "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam." (Salmos 127:1)

Quando empreendemos esforços (ou não-esforços) a fim de atingir um estado desperto de consciência, estamos sendo como “robôs tentando realizar ações independentes (separadas) que não foram colocadas lá pelo engenheiro”. Mas, e se o robô ficasse “louco” e passasse a tentar ações ou atos que não foram designados pelo engenheiro? O que dizer desse robô? Apenas que ele está “louco”, que algo “deu errado”, que “ele está com defeito”, ou que “ele está agindo em miragens, sonhos”. Contudo nenhum robô age assim, mas o ser humano sim. Em se tratando da iluminação, o ser humano age como se fosse possível haver separação total entre “personagem” e “Consciência do Ser”. É quando ele passa a buscar, estudar, orar, meditar, despertar, transcender – como se ele tivesse de realizar tais coisas por conta própria (agindo como se estivesse separado do Ser). E a iluminação ou despertar espiritual jamais tem a ver com “separação”, e sim com unicidade, unidade.

Qualquer coisa que nós, personagens, possamos fazer (ou deixar de fazer) – seja de ordem física, emocional, mental, psíquica, espiritual – só é possível por existir primeiramente no âmbito de uma Consciência Maior. Tudo o que fazemos está sob a égide dessa Consciência Maior. Nada escapa a essa Égide. Essa Égide é que deve ser considerada, compreendida, contemplada. Tudo o que é real está “lá”, nEla. Procure intuitivamente enxergar esse lugar. Estar consciente dessa Égide Maior é o modo de estarmos sempre no estado de unidade, ao invés de na separação. A fim de perceber essa Consciência-Égide-Maior, nós (personagens) não devemos sequer tentar percebê-la porque... a própria intenção ou ato de “tentar perceber” só nos é possível por existir primeiro na Égide dessa Consciência Suprema. Não há nada que possamos fazer para percebê-la, isto é compreensível? Basta perceber (diretamente, ou seja, de uma vez por todas, num só lance) que essa Consciência existe por Si mesma, e está acima de todas as coisas. Isso é o que é a percepção. E isso é tudo o que necessita ser “feito”.

Assim, o que devemos fazer para despertar? O que devemos fazer para ativar a percepção? Basta perceber essa Consciência-Égide-Suprema. Note que não é possível percebê-la com a percepção que se origina do personagem (pois a “percepção que funciona a partir da capacidade personagem” existe primeiramente na Consciência do Ser – não é a percepção do Ser). É apenas com a percepção que está na própria Consciência que é possível perceber a Consciência. A Consciência já está desperta. Quando nos volvemos para ela, em pura compreensão (atravessando toda a realidade, elementos e aspectos do personagem), isso é meditação, é percepção consciencial.

Estamos cercados totalmente – por todos os lados. Há algo que possamos fazer (ou deixar de fazer) sem que isso esteja nos domínios desta Consciência Suprema? A resposta é “não”. O próprio Salmista disse:

"SENHOR, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar. Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá." (Salmos 139: 1-10)

Essa Consciência é tão alta, que nós (personagens) não podemos atingi-la. Mas podemos compreender que ela existe e está por detrás de tudo, porque nada existe que não esteja primeiramente nos domínios dessa Consciência.

Quando um personagem aqui na terra se ilumina, a iluminação verdadeira não consiste na situação de que ele, o personagem “x”, deixou de ser um personagem não-iluminado para se tornar um iluminado. Se ele se iluminou aqui na representação, é porque essa iluminação existia primeiro na Consciência Universal (em Deus). Quando ele se ilumina, a atenção dele volta-se para aquela iluminação que existe na Consciência (e não para a iluminação fenomênica que aconteceu ao personagem efêmero). Ele não se vê como um ser que antes estava adormecido e que posteriormente despertou. A percepção dele é a de que ele é desperto, iluminado, desde sempre. Ele sempre fora um iluminado! Mas ele percebe isso porque a atenção dele volta-se para aquela Consciência-Égide-Maior. É lá que a verdadeira iluminação (percepção) está. A iluminação do personagem é apenas um fenômeno secundário.

Assim, como fazer para ativar a percepção? Primeiro você compreende que ela já está ativada, então você busca enxergar (intuitivamente) o lugar onde essa percepção está. Esse "lugar" é a Consciência, é Deus. Você apenas volta a sua atenção para Ele, e Ele cuida de fazer o resto. Você não tem de "ativar" a sua percepção. Deixe que Deus faça isso. Apenas volte-se para Ele. Mas esse "voltar-se para Ele" requer a compreensão sutil que acima foi explicada. Compreenda isso, e esteja em paz quanto ao resto! Isso é meditação.

Se você gostou da abordagem do texto, e deseja saber mais sobre a percepção mental e a percepção consciencial, acesse a série: "Preleções Nucleares: A Unidade Essencial", clicando aqui.


segunda-feira, dezembro 15, 2014

Preleções Nucleares: A Unidade Essencial - 4/4

- Gustavo -


Continuando a explanação do esquema de duas colunas:



14 – A realidade consciencial não pode ser percebida pela mente do personagem. As verdades conscienciais não estão ao alcance da mente. O máximo que a mente consegue fazer é "acreditar" ou "não acreditar" nas revelações da Consciência. Por exemplo, Jesus pode vir até cada um e dizer que o reino de Deus está dentro de nós. Essa é uma revelação consciencial que não pode ser percebida pela mente. A mente, então, só conseguirá acreditar ou não acreditar na revelação de Jesus. Jesus não depende de “acreditar” ou “não acreditar” que o reino de Deus está em nós – ele sabe! O saber está além do mero “acreditar” ou “não acreditar”. O saber é consciencial.

Para elucidar ainda mais, vamos utilizar um exemplo bastante simples aqui mesmo da representação: se perguntarmos às pessoas se é possível um ovo de galinha ser colocado em pé sem tombar para um dos lados, algumas pessoas acreditarão ser possível, enquanto outras acreditarão ser impossível. Conta-se que Cristóvão Colombo provou ser possível um ovo ficar perfeitamente imóvel, equilibrado e em pé. Alguns personagens acreditam, outros desacreditam. Mas o fato é: um ovo pode ficar em pé. Quem já conseguiu ou viu um ovo ser colocado em pé, deixou o campo do “acreditar” ou “não acreditar” e passou a saber que um ovo pode ficar em pé. A questão do "acreditar" ou "não acreditar" para ele não mais existe. No caso deste exemplo, os personagens que responderam “eu acredito” estão mais próximos da realidade do que aqueles que responderam “eu não acredito”;  porém, mesmo que tenham escolhido a resposta mais aproximada, isso não os leva para dentro da realidade. Assim, podemos perceber que até mesmo o acreditar não é suficiente; o saber está além inclusive do acreditar.

A mente também tem o hábito de querer concordar ou discordar. Da mesma forma que o "acreditar" e o "não acreditar", a concordância ou discordância da mente não irá ajudar. Sempre que a mente concorda ou discorda, a verdade (realidade consciencial) fica encoberta pela realidade mental. Esta é uma outra verdade consciencial: tudo o que está acontecendo na representação é divino. A representação não é apenas representação – ela é uma representação divina! A Consciência do Ser pode ser percebida/sentida em tudo e em todos. Você concorda? Você discorda? Então você teceu juízo de valor e isso é o suficiente para acionar a percepção mental e mantê-lo fora da percepção consciencial. Se pudermos lançar um olhar desprovido de qualquer julgamento, a Consciência do Ser passa a Se evidenciar nas coisas grandes e pequenas. Apenas olhe, contemple! Quando algo estiver acontecendo, apenas permita que isso esteja ali, sem julgamentos, sem interferir, sem querer concordar ou discordar disso. A mente sentirá vontade de entrar e dizer: "sim, isso está acontecendo, é assim mesmo! Concordo com o que estou presenciando", ou poderá dizer: "isso não está certo, não pode ser assim, pois jamais vi isso antes". A mente sempre mede, analisa, julga. O julgamento é o que lhe dá energia. Com a concordância ou discordância, nada se resolve, apenas uma crença é criada. E a realidade consciencial fica ocultada, encoberta pela realidade mental.

Para percebermos a verdade basta não deixarmos que a mente interfira, ocupando o foco de nossa percepção. Muitos sinceros buscadores espirituais pensam que devem se esforçar para tentar neutralizar ou eliminar a mente (a visão dual, a percepção mental) para ter a percepção unitária (percepção consciencial). Contudo, este esforço do personagem é em vão porque atua sobre a própria “mente do personagem” na tentativa de neutralizá-la ou eliminá-la; enquanto somente o próprio Ser pela “Consciência do Ser” pode transcender a percepção da mente e perceber-Se! Não é necessário eliminar a mente para perceber a verdade; a mente pode estar presente, mas deve estar quieta, silenciosa. É necessário saber presenciar silenciosamente um acontecimento, colocando a mente de lado.

Quando você vai para a natureza e escuta o som de uma cachoeira, você concorda ou discorda disso? Nesses momentos, você tenta entender ou decifrar o som que está escutando? Ao invés disso, você está relaxado, entregue, em harmonia, integrado ao que está presenciando. Você apenas escuta, observa, presencia, contempla – sem julgamentos. O som da cachoeira nos soa tranquilo, leve e revigorante. A tranquilidade, paz e beleza que encontramos no som de uma cachoeira na verdade não advém da cachoeira (fenômeno externo) em si. A beleza que sentimos é espiritual, consciencial. A natureza é selvagem, devido a isso ela tem o poder de diminuir a interferência da mente e aumentar o silêncio. Por isso, os ensinamentos são unânimes em dizer que quando estamos na natureza estamos mais próximos de Deus. A natureza aumenta o silêncio e facilita nosso contato com a dimensão consciencial, por isso sentimos ela ser tão bonita. Mas o que sentimos na natureza podemos sentir com qualquer pessoa e em qualquer lugar. Basta acessar a dimensão do silêncio.  Escute tudo a sua volta como você escutaria o som de uma cachoeira.

Na concordância ou discordância é necessário haver "dois", você e a cachoeira, separados. Você está na dimensão da separação, das partes: uma parte (você) está escutando a outra parte (cachoeira). Ao presenciar silenciosamente o som da cachoeira, subitamente não há mais "você" e a "cachoeira", ambos foram integrados/unidos e agora há apenas o todo. A dimensão do todo apareceu, o todo entrou na frente. Agora é o todo que está acontecendo – agora, antes de haver um personagem escutando a cachoeira ou uma cachoeira sendo escutada por um personagem, há o todo aparecendo simultaneamente como o personagem e como a cachoeira. Tudo passa a ocorrer ao mesmo tempo. A presença do personagem, a presença da cachoeira, o sentido de escutar, o som escutado, o processo de escuta... Os elementos que antes estavam separados são juntados em uma só leva, e toda uma sincronicidade surge, uma música começa a ser formada. Essa música repleta de sincronia ocorre no todo e só é percebida pelo todo, mediante a percepção que está no próprio todo. O todo é a Consciência do Ser. Silêncio é música, é a melodia divina.


15 – A intuição está relacionada à percepção consciencial. E os cinco sentidos estão relacionados à percepção da mente do personagem. Os cinco sentidos a que se refere o Núcleo são: visão, audição, olfato, paladar e tato. Também o sexto sentido faz parte da mente do personagem. O sexto sentido da mente significa: visão mediúnica, audição mediúnica, olfato mediúnico e demais percepções mediúnicas. Ou seja, o sexto sentido corresponde aos cinco sentidos do corpo, só que utilizados para perceber fenômenos espirituais de cunho mediúnico, tais como ver, ouvir e falar com espíritos desencarnados. Os sentidos mentais do personagem incluem também o intelecto, a razão e a lógica. Tudo isso é percepção mental.

A intuição é um fenômeno não mental, ela não tem a sua fonte na mente (intelecto, razão ou lógica) do personagem. A mente do personagem não pode compreender a intuição por ser ela própria um fenômeno irracional, ilógico. Alguém talvez pergunte: “A intuição pode ser explicada?”, mas essa pergunta na verdade significa: “A intuição pode ser reduzida ao intelecto?”. E a intuição é algo acima do intelecto, ela provém da Consciência do Ser. O intelecto é sempre contínuo, linear: “A” está ligado a “B”, que está ligado a “C”, que se liga a “D” e assim por diante. O intelecto é constituído por: causalidade, linearidade, conexões lógicas. A intuição é não-linear: quando atua a intuição, as ligações da mente são quebradas, o que torna possível à percepção passar diretamente de “A” para “D”, ou para qualquer outro ponto. A intuição cria uma lacuna – uma desconexão e descontinuidade completas – o que permite à percepção dar um salto. Esse salto é inconcebível para a mente. Assim, a intuição é um pulo, um salto direto e imediato de um ponto a outro ponto, sem nenhuma interligação entre os dois. A percepção consciencial é imediata; com ela a coisa é captada de súbito, diretamente do interior, sem a interferência linear ou lógica da mente. E o interior é vasto, infinito, tudo já está contido nele. No interior está o reino de Deus inteiro.

A mente pode sentir a intuição, mas não pode explica-la. A intuição pode penetrar a mente e a mente pode notar que algo aconteceu, mas não pode explicar. Deve-se entender que uma realidade superior pode penetrar uma realidade inferior, mas a realidade inferior não consegue penetrar a realidade superior. A intuição pode penetrar o intelecto porque ela é superior, mas o intelecto não pode penetrar a intuição e tampouco explica-la. Não existe uma explicação do superior no inferior, porque o superior é muito vasto e os próprios termos da explicação tornam-se inadequados demais para fazerem sentido ali. Mas a mente pode sentir a lacuna, ela sente que: “aconteceu algo que está além de mim”. Assim, é possível utilizar a mente, o intelecto, sem estar fechado à intuição. Podemos utilizar a razão como um instrumento, permanecendo abertos, estando receptivos ao superior. O intelecto pode ser usado como um auxiliar a serviço de algo maior.


16 – O Amor é simplesmente Unidade, Totalidade, UM. A percepção consciencial pode revelar a Divindade manifestada no mundo da representação (1), como também pode revelar o Universo Consciencial no qual a representação está ausente (2). Conforme já dito, o espaço (silêncio, vazio) divide-se em duas partes ou aspectos. De um lado do espaço está Deus e o universo da representação; ali Ele está consciente de tudo – da criação inteira – em Si mesmo. Do outro lado do espaço, Deus está sozinho, habitando a ilimitada faixa da eternidade, existindo como Consciência inqualificada, Bem-aventurada, sempre existente, sempre nova. Nenhum mundo, nenhuma outra coisa existe em Sua Consciência, naquela região da infinitude onde Ele reina como o Absoluto.

Percebendo consciencialmente, podemos penetrar o Silêncio e contemplar a Luz da qual toda a representação emerge. Podemos contemplar a Divindade aparecendo como todo o universo da representação, ou seja, podemos perceber o oceano do Espírito com as ondas de Sua criação. O Divino revela-Se como Amor em todo o universo da representação. Nesse aspecto, o Oceano está completamente mesclado às ondas, ambos são UM. Deus se faz presente na representação da mesma forma que o oceano se faz presente em suas ondas. Nosso aparente universo físico quando percebido consciencialmente é um esplêndido oceano de luz, algo inconcebível pela percepção mental. Aumentando ainda mais o Silêncio, a nossa experiência transcende até a Luz manifestada e adentra o puro Universo Consciencial, que existe sozinho em um espaço onde o universo da representação está ausente. Isto é, podemos perceber o mesmo Oceano espiritual existindo transcendentalmente de forma serena, sem as ondas da criação. Isso significa que "Quem somos" pode perceber-Se manifestado em toda a criação, como também pode perceber-Se como o Universo Consciencial que existe desde antes do surgimento da representação. Em ambos os casos, a percepção é de UNIDADE.  

Este assunto do Universo Consciencial merece ser mais aprofundado. O Universo consciencial existe fora do universo da representação – é onde habita Deus Universal (Paramatman) e o filho de Deus (Atman). É uma realidade de pura Unidade, Bem-Aventurança, Alegria, Amor perfeito.

O ensinamento Um Curso em Milagres apresenta uma cosmologia com uma ilustração bastante plausível do que vem a ser essa Realidade Divina suprema e absoluta. Nele, é contada a seguinte história: no Princípio (antes do surgimento da representação) existiam unicamente Pai e Filho vivendo na realidade perfeita denominada "Céu". Antes do início, não havia inícios nem fins; havia apenas o Eterno Sempre, que ainda está "lá" – e sempre estará. Havia apenas uma Consciência de uma unicidade imaculada, e essa unicidade era tão completa, tão espantosa e ilimitada em sua alegre extensão, que seria impossível que qualquer coisa (extensão) estivesse consciente de algo que não fosse Si Mesmo. Havia e há apenas Deus nessa realidade, chamada pelo Curso de “Céu”. O que Deus cria em Sua extensão de Si Mesmo é chamado de Cristo (o Filho, o Atman). Mas Cristo de maneira alguma é separado ou diferente de Deus (Paramatman). Eles são exatamente a mesma coisa. Cristo não é uma parte de Deus, Ele é uma extensão do todo. A única diferença possível entre Cristo e Deus – se uma distinção fosse possível – seria que Deus criou Cristo; Ele é o Autor. Cristo não criou Deus ou a Si Mesmo. Contudo, por causa da perfeita unicidade inerente ao próprio Deus, isso realmente não importa no Céu. Deus criou Cristo para ser exatamente como Ele, e para compartilhar Seu eterno Amor e alegria, em um estado de êxtase livre, ilimitado e inimaginável. Tal estado constante e bem-aventurado de consciência é completamente abstrato, eterno, imutável e unido. Cristo, então, estende a Si Mesmo, criando novas Criações, ou extensões simultâneas do todo, que também são exatamente as mesmas em sua perfeita unicidade com Deus e com Cristo. Portanto, Cristo, como Deus, também cria – porque Ele é exatamente o mesmo que Deus.

Essas extensões não vão para "dentro" ou para "fora", porque no Céu não existe conceito de espaço; existe apenas em todo o lugar. O resultado de tudo isso é o compartilhar sem fim do Amor perfeito, que está além da compreensão. Pai e Filho em um alegre e eterno compartilhar. A condição da realidade consciencial é puro Amor e tudo funciona de acordo com  esse Amor Eterno, que é o próprio Deus (Eu) sendo. Deus compartilha a integralidade de Seu Ser com seus Filhos. E os Filhos de Deus também compartilham tudo o que têm e são com outros Filhos de Deus, sendo que todos estão sempre conscientes de Quem são. O resultado disso é o enriquecimento e engrandecimento do Céu. O Infinito se ultrapassa e se expande ainda mais, contrariando tudo o que qualquer lógica possa conceber. Assim é (funciona) a realidade divina.

Podemos, então, compreender que Deus Universal (o Pai Eterno, Paramatman) não criou a representação. Ele criou o Universo Consciencial para desfrutar a Vida una, eterna e perfeita, a qual foi descrita de modo bastante plausível na história narrada. O Universo Consciencial é constituído somente por Deus (Paramatman) e filho de Deus (Atman). Quando surge o universo da representação, isso ocorre devido a vontade do filho de Deus. Por meio de Seu sonho/imaginação/representação, o filho de Deus concebe a existência irreal mas aparente de um universo de separação. É Ele quem possibilita o jogo da dualidade. E no universo da representação o filho de Deus aparece como sendo tudo o que existe... “Eu apareço como”.

Quando a representação é percebida consciencialmente (com a visão do filho de Deus) o senso de separação é impossível – mesmo na representação. A representação inteira assume uma qualidade divina de unidade, amor, plenitude, bem-aventurança. É como se Deus, o Amor, fosse trazido para dentro do universo da representação, e a representação ficasse totalmente impregnada, afetada pelo Divino. A representação torna-se uma representação divina, ela passa a expressar Deus em todos os seus aspectos.

Porém, quando a representação é percebida mentalmente, o senso de separação torna-se possível. E quando entra a separação, o Amor dá lugar ao medo ou temor. A separação provoca a divisão do um. Concomitantemente com a divisão do um, surge a noção falsa/irreal do "outro", do "desconhecido", do “estranho”. O "outro", o "desconhecido", o "estranho" é tudo aquilo que está separado de "mim", é tudo aquilo que não sou "eu". Esse fator gera insegurança, vulnerabilidade e medo e, com isso, o "eu" sente a necessidade de proteger-se e defender-se a si mesmo. O medo ou temor está ligado ao "eu" do personagem, que se vê separado do todo.


17 – Ação dhármica é a ação praticada com renúncia aos frutos. Significa agir desinteressadamente de modo a não se apegar ao resultado da ação. A ação dhármica implica em transcender o sentimento de querer satisfazer os desejos pessoais (eu-personagem). Na ação dhármica, o personagem age para o Todo e não para si mesmo. Ele é um canal, um veículo, um instrumento através do qual a Consciência (impessoal) do Ser se expressa.

Aqueles que praticam a ação dhármica agem com amor incondicional, desinteressado. Eles cumprem o dever de desempenhar fielmente o papel que lhes compete na representação. No universo da representação, tudo tem em si a Consciência divina. O Ser Real também se percebe, se vê presente, em personagens que não têm "mente", que não são humanos, como os vegetais e os minerais. Embora não tenham mente, todos tem a Consciência. E esta é a Consciência do próprio Ser. Ela está no Ser, não pertence aos personagens. A maioria dos personagens no cenário não pensam, mas desempenham perfeitamente seus papéis de personagens do Ser. Eles cumprem o seu papel específico ou o "dharma" que lhes foi designado.

Por exemplo, a flor cumpre incondicionalmente o papel de desabrochar e espalhar a sua fragrância. Ela não se importa se haverá alguém lá para presenciar ou apreciá-la, ela apenas continua exalando o seu perfume, quer alguém aprecie ou não. A flor não diz: "ali vem se aproximando um grande ser que poderá me apreciar, vou exalar a minha fragrância". Mesmo se ninguém estiver passando, a flor irá espalhar a sua fragrância. Da mesma forma, o sol cumpre o papel que lhe foi designado, enviando sua luz e calor a fim de aquecer e beneficiar todos os seres, indistintamente. Ele não diz que: "esta é uma boa pessoa que merece se beneficiar do meu calor; aquela outra é uma má pessoa, ela não merece ser aquecida com a minha luz". E assim também é com a água, as estrelas, os insetos, os animais, todos! Eles só cumprem os seus papéis – só existem – porque neles há uma presença, uma força que os mantém como tal. Essa força é a “Consciência” presente em cada personagem. De fato, a Consciência já está presente em cada personagem do cenário, e no próprio cenário! De forma que não existe cenário nem personagem sem esta “presença divina”, onipresente. É ela quem sustenta todas as formas e quem governa e mantém todas as leis naturais.

Todos os personagens possuem o seu dharma (missão) para cumprir perante o Todo aqui na representação. O Bhagavad Gita conta a história do príncipe Arjuna que, para reconquistar o seu reino, se vê obrigado a guerrear contra a sua própria família. Ele deseja recuperar o trono mas, para fazer isso, deverá matar um grande número de parentes que estão do outro lado da linha de combate. A situação é difícil, o príncipe Arjuna está num impasse,  ele não sabe o que fazer. Então Krishna aparece e lhe dá a ordem para lutar, derrotar todos os adversário e vencer a guerra. Krishna está lá para revelar o dharma de Arjuna, ou seja, o papel que ele está destinado a cumprir no mundo da representação. Ele diz: "Não cedas à fraqueza, que de nada te serve. Enche-te de coragem contra teus inimigos e sê o que realmente és. Apenas vá e lute; e deixe que Eu me encarregue dos resultados". Durante todo o Gita, Krishna irá revelar a Arjuna a verdade suprema – verdades universais, divinas, conscienciais; somente desse modo Arjuna poderá compreender a razão pela qual deverá cumprir na representação o seu papel de guerreiro. Mas Arjuna resiste às palavras de Krishna – e resiste enormemente. É somente no final do Gita que Arjuna compreende a necessidade de cumprir o seu dharma. Estas são algumas palavras de Krishna a Arjuna sobre o dharma:

"Agir é tua missão; mas não deves visar aos frutos da tua atividade. Não permitas que a tua atividade seja inspirada pelo desejo dos teus frutos. Quem tudo faz sem apego ao resultado dos seus atos faz tudo no espírito de Deus. Eu, que ajo, não sou afetado por minhas ações, nem viso ao fruto da minha atividade. Quem isso compreende pode agir sem estar apegado ao que faz; não deseja lucro; quem está unido a Mim é livre e imaculado em suas obras. Tu, porém, ó Arjuna, refere a Mim, a fonte do Ser, todos os teus atos! Supera todos os desejos pessoais e o egoísmo! Liberta-te do apego! O que quer que fizeres, faze-o no espírito da renúncia, tendo em mente a Mim, o Senhor do mundo. Deixa a Mim o cuidado pelo sucesso; pensa em Mim e oferece-Me o teu coração e a tua alma. Confia em Mim e vive na fé em Mim. Pelo poder da Minha graça alcançarás a vitória sobre todos os obstáculos; mas se confiares somente em tua força pessoal, e não em Mim, serás derrotado.

Isento de egoísmo, violência, ganância e cobiça, desapegado do "eu" e do "meu", sereno e calmo dentro de si mesmo  este homem se torna um com Brahman. E integrado no espírito de Brahman, alcança o seu Eu divino; já não chora por nada, não tem desejo de nada, não luta por nada, não tem cobiça de coisa alguma. Porque dentro de si mesmo possui tudo. Quando o homem se integra a Mim é um Comigo. Dele é a Minha Grandeza, Meu Poder, Meu Ser, Minha Vida, Minha Sabedoria, Minha Beatitude. E agora escuta a mais sagrada das minhas revelações: Amo-te, e por isto te revelo o que é pelo teu bem."

A história do Bhagavad Gita é muito, muito simbólica. O diálogo ali contido ocorre na verdade entre a Consciência do Ser (representada por Krishna) e a mente do personagem (representada por Arjuna). O Gita é Deus conversando com o homem. Durante todo o diálogo, Arjuna tenta compreender os mistérios divinos que são exaustivamente revelados por Krishna. Mas, por mais que Krishna fale, Arjuna não entende. Isso carrega um significado: a mente do personagem é incapaz de compreender os mistérios revelados pela Consciência Divina. O Bhagavad Gita é, na verdade, uma escritura sagrada universal, que diz respeito a todo os seres. Ele descreve a história de cada ser humano: a de Arjuna, a minha, a sua... a história que vale para Arjuna vale para todos. Para que Arjuna pudesse compreender Krishna, ele teve de aprender a superar a mente de seu personagem. Ocorre o mesmo conosco.

Um outro significado muito importante que o Gita comporta é o seguinte: Arjuna está indo para o campo de batalha e sendo carregado por uma carruagem – e Krishna é o cocheiro, o condutor da carruagem! Com essa simbologia, o Gita quer dizer que Krishna (a Consciência do Ser) deve sempre ocupar o papel de "condutor da carruagem". Mas os personagens estão sempre tentando conduzir eles mesmos a carruagem. Enquanto Arjuna (a mente do personagem) estava querendo conduzir a carruagem, ele não compreendeu. E foi por esse motivo que ele demorou tanto a entender. O assento da frente da carruagem já tem dono – um dono oficial! –, somente a Ele compete o papel de ser o condutor de nossa carruagem. A história do Gita foi montada perfeita até mesmo nesse pequeno detalhe.

Se quisermos compreender o ensinamento de seres tais como Krishna, Buda e Jesus, precisamos desenvolver a habilidade de perceber consciencialmente. E como fazer isso? Uma das maneiras ensinadas no Núcleo é estar alerta para esta pergunta: “O que você prefere: reagir aos personagens/representação ou interagir Comigo?”. Essa pergunta (princípio nuclear) nos fornece todos os elementos necessários que nos ajudarão a perceber e interagir com a Consciência do Ser. Devemos estar cientes de que no mundo da representação Eu está aparecendo como tudo: como palco, roteiro, cenário e todos os personagens. Sabendo disso, deixamos de ser meros personagens (que apenas interagem com outros personagens), e passamos a ser como atores cientes de que aquele que está diante de nós na representação não é somente um personagem, ele é também um ator. Assim, podemos escolher continuar representando o papel de nossos personagens (1), ou podemos escolher romper com a representação e passar a interagir com o ator (2).

Por exemplo: imagine a situação em que dois personagens de teatro estão conversando; um deles desiste de seguir a conversa traçada no roteiro e de súbito inicia um diálogo diretamente com o ator. A atitude dele seria: “cansei de interagir com o personagem, agora eu quero conversar diretamente com o real, e não mais com o personagem que ele está representando”. Essa atitude rompe de imediato com a encenação. Um personagem nunca toma a decisão de romper com a representação, é sempre o ator. No momento em que se manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a representação, isso já é o ator agindo. Agora veja: o ator está sempre lá onde o outro personagem também está. Tudo o que for dito ao outro personagem, o ator irá ouvir – com os mesmos ouvidos. As palavras ou ações (fora do roteiro) que forem dirigidas ao outro personagem serão ouvidas pelo ator. E quando um dos atores rompe a representação (com palavras ou ações diferentes das contidas no script), como poderá o outro personagem seguir em frente com a sua representação? Ela começa a deixar de fazer sentido. Sempre que um ator manifesta (em forma de atos ou palavras) a atitude de romper com a encenação, a representação inteira é afetada. Seus atos criam uma perturbação, um desequilíbrio ou uma descontinuidade na própria estrutura da representação. E, naquele ponto, a representação vai perdendo a força, o sentido. A representação se enfraquece. Esse procedimento traz à tona o ator que está por detrás do outro personagem. Ao romper assim com a representação, o ator criou uma descontinuidade na linha de representação do outro personagem – o outro não poderá mais seguir na linearidade de sua representação conforme prevista no roteiro. Uma lacuna foi criada. A resposta (palavra ou ato do outro personagem) que surgir a partir dessa lacuna virá, não do personagem, mas do ator. Assim, a interação ator-e-ator foi totalmente estabelecida.

É muito importante notar que, se o ator apenas mantivesse a intenção de romper com a representação, mas não manifestasse o seu intuito por meio de atos ou palavras (ou seja, ação), a representação simplesmente continuaria seguindo em frente, feliz. Não basta a mera intenção de romper com a representação, é necessário agir! No Núcleo é ensinado que não há percepção sem ação. A verdadeira percepção deverá sempre vir acompanhada de uma ação consciente. Estando na representação, para transcendermos a percepção da mente é imprescindível "perceber e agir"!

Retomando: Saiba que na representação Eu está aparecendo como tudo: a história, o cenário, os personagens. Tome a atitude de romper com a representação (aja!) e fique atento às respostas que virão da Consciência do Ser (através dos acontecimentos, dos outros personagens, o que for). Você pode aplicar esse princípio a tudo o que acontecer na sua vida. Por exemplo: você está dirigindo o seu automóvel; um outro carro passa e lhe dá uma fechada. Nesse instante, a mente condicionada do personagem sentirá vontade de fazer aquilo a que sempre esteve habituada: reagir. Se você reagir, vai ficar bravo, reclamar, xingar, etc. Ou você pode romper com a representação, sair da mente do personagem, e começar a ter uma interação com o Ser. Faça silêncio, tente entender porque na representação o Ser lhe deu uma fechada, e fique atento. Se você romper com a representação, a resposta virá pela lacuna. Então, você poderá constatar que, graças à fechada que você levou, você acabou chegando segundos ou minutos mais tarde ao local onde você estava indo, e naquele exato momento lá estava alguém que você desejava rever. Você passa a notar pequenos milagres acontecerem.

Outro exemplo: você está dirigindo o seu carro, quando um outro vem e acerta a sua traseira. Esse é o instante em que você deverá escolher entre "reagir aos personagens/representação" ou "interagir Comigo". Se preferir reagir à colisão, ficará triste, bravo, aborrecido e poderá até entrar numa briga com o outro personagem. Todavia, se escolher romper com a representação e interagir Comigo, ficando atento aos acontecimentos (respostas), logo você entenderá por que na representação o Ser acertou a traseira do seu carro. Algo bom deverá advir disso. Se nós apenas escolhermos romper a representação e permitirmos  nossas carruagens (vidas) serem conduzidas pela Consciência do Ser, a realidade da nossa representação é encaminhada para um rumo diferente daquele que estaria destinado a ocorrer caso escolhêssemos acionar a mente de nossos personagens e reagir à representação.

Para que você possa interagir com a Consciência do Ser, não é necessário que o outro personagem esteja consciente da sua realidade como ator. Basta que você esteja ciente de que Eu está aparecendo como. Um dos princípios do Núcleo diz que: "Eu apareço como. Às vezes nem eu mesmo percebo; mas se você perceber, já é o suficiente.". Deus está Se manifestando como os personagens. A cada momento, de inúmeras formas, a divindade está "aparecendo como" diante de nós. Às vezes o próprio personagem não percebe que está sendo instrumento de manifestação de Deus. Mas se apenas um de nós estiver consciente de que o Ser está "aparecendo como", e escolher romper com a representação e interagir com o Ser, isso será o suficiente para criar a brecha, através da qual ocorrerá a interação entre o personagem e o Ser.

Tudo o que foi aqui explanado abrange o significado do que vem a ser a ação dhármica. Ela é a ação que advém da percepção consciencial, na qual, despertos, os nossos personagens interagem com a Consciência do Ser.


18 – A oração de agradecimento é a verdadeira oração. O agradecimento não provém da mente do personagem, ele tem origem em Deus, na Consciência do Ser.  O Ser é sempre pleno de tudo, preenchido, completo. Em Deus, tudo está consumado, nada mais há para acontecer. Tudo o que poderia acontecer já aconteceu – daí porque o Ser desfruta de um eterno estado de plenitude. O Ser está derramando, transbordando, compartilhando toda a Sua plenitude com o infinito inteiro, com o qual é uno. E a gratidão absoluta nasce desse derramamento, desse transbordamento de todas as Suas qualidades divinas. Devido a isso, o estado de gratidão é o que mais nos sintoniza com Deus. Deus, a Consciência do Ser, está em unidade com todas as coisas, Ele não se percebe separado de nenhum objeto. Ele é o próprio objeto percebido. Se Ele deseja ser feliz, a felicidade está imediatamente lá, como Ele próprio. Se Ele deseja amar, a experiência do amor está imediatamente lá, como Ele próprio. O Ser transborda dessa plenitude de "tudo está feito". Nada há que reste a não ser um estado de gratidão absoluta. Quando o agradecimento é verdadeiro, absoluto, não é o personagem quem agradece, mas a própria Consciência do Ser agradecendo através do personagem. A gratidão é um estado consciencial.

A mente do personagem não é capaz de agradecer de forma absoluta, pois enxerga a separação, a carência, a ausência, a falta. A percepção da mente do personagem enxerga o "eu" separado do "objeto visado". Para ela, a felicidade existe separada do "eu", o amor existe separado do "eu", a sabedoria existe separada do "eu". O "eu" está presente, mas as outras coisas estão ausentes. É então que, em sua oração, o personagem pedirá/suplicará para que lhe seja concedido aquilo que lhe falta. A oração de súplica é própria da mente do personagem.

A gratidão verdadeira  é um estado consciencial. Mas até mesmo no mundo da representação (dimensão mental da realidade) a oração de agradecimento é mais eficaz que a oração de súplica. Por uma razão muito simples: se estamos em estado de agradecimento, criamos em torno de nós a atmosfera de que estamos satisfeitos, felizes, supridos, plenos. Essa atmosfera nada mais é que vibração, palavra, energia que juntamos em torno de nós e enviamos para o todo, o universo. Consequentemente, nosso estado positivo de gratidão atrai  pessoas, coisas e situações condizentes com nosso estado de felicidade, satisfação, plenitude. O universo da representação é regido pela lei mental de afinidade: semelhante atrai semelhante. O amor atrai mais amor, a alegria atrai mais alegria e, inversamente, tristeza atrai mais tristeza e o medo atrai ainda mais medo. O semelhante atrai ainda mais o seu semelhante. Agradecer é a melhor forma de fortalecer nossa conexão com o Divino, pois quanto maior for nossa gratidão, mais bênçãos de amor, alegria, paz, virtudes positivas e prosperidade ele nos enviará. A gratidão gerada a partir de nosso interior se manifesta-se e atrai no mundo exterior situações que nos farão sentir ainda mais gratos.

A gratidão é um estado da alma. Sentir-se grato é sentir-se feliz, pleno, alegre. Não há ser humano na vida que não tenha nada a agradecer. Só o fato de existir já é um grande motivo para ser grato à Vida, ao Universo, a Deus. São tantas as coisas que podemos agradecer: saúde, alimento, família, amigos, casa, trabalho, educação, inteligência, posses materiais e as imateriais. Reconhecer que tudo que temos nos foi dado por Deus é um excelente ponto de partida para exercitamos a nossa gratidão. E ela nos trará todos os seus frutos. Sempre que lembrar, sinta-se grato, mesmo que seja por algo aparentemente banal e simples. Sempre que puder, silencie sua mente e sinta a gratidão. Não deixe que o pessimismo, a reclamação, a amargura ou o desgosto poluam sua mente e seu espírito. Vigie sempre. Através da gratidão silenciosa você sintonizará com as forças milagrosas da vida que lhe trarão os mais diversos benefícios.

Por todos esses motivos, a gratidão é preferível à suplica. Na oração de súplica, ocorre o seguinte: quando estamos pedindo por "x", lá no fundo de nossas mentes (por detrás das cortinas) estamos reconhecendo simultaneamente que: "eu não tenho x". Esse reconhecimento (feito por nossa mente subconsciente) constitui afirmação, declaração, palavra para o universo. Por sua vez, o universo (que sempre responde "sim" às nossas palavras) confirmará a nossa oração dizendo: "Sim, você não tem. Assim seja.". Na superfície de nossas mentes podemos não estar afirmando nada, mas lá no fundo de nossas mentes (na região subconsciente, inconsciente) estamos declarando expressamente para o todo que não temos "x". Se, ao invés de suplicarmos, simplesmente agradecermos a Deus reconhecendo que Ele já atendeu nossa oração (ou seja, já temos "x"), as profundezas de nossa mente ficarão impregnadas de afirmações/declarações/palavra de que: "eu já tenho", e o universo nos confirmará dizendo: "Sim, você já tem. Assim seja.". Portanto, o agradecer está relacionado à unidade (Consciência do Ser), enquanto que a súplica importa em dualidade, separação.

Importante ressaltar que o agradecimento ao qual estamos nos referindo é o agradecimento relativo (mental), e não a verdadeira gratidão. A verdadeira gratidão é consciencial (absoluta), uma expressão da Consciência do Ser. Por fim, fiquemos com esta sabedoria expressada no livro sagrado da Bíblia: "Em tudo dai graças porque esta é a vontade de Deus!" (1 Ts 5:18).




Esta série "Preleções Nucleares: a Unidade Essencial" foi apresentada a fim de que o leitor possa ter condições de compreender claramente (cristalinamente!) os textos do Núcleo que são postados neste blog. A fim de transmitir sua mensagem, o Núcleo utiliza termos (metodologia) bastante específicos, que poderiam soar talvez um pouco "estranho" ou "nebuloso" para aqueles que desde o início entram em contato com os textos/mensagens que só fazem sentido levando em consideração o seu contexto. É impossível transmitir a totalidade do que é ensinado no Núcleo em uma única série de textos. Mas nesta série muitas coisas (bastantes mesmo!) foram explicitadas, toda a essência do ensinamento está contida aqui. Atentem-se sempre para Aquele que está aparecendo como tudo, rompa com a representação (aja!) e passe a interagir com Ele (Comigo). Agradeço a Quem aparece como Núcleo. Agradeço a quem aparece como esta divina mensagem. Agradeço a Quem está aparecendo como você que está lendo. Agradeço a Quem aparece como aqueles que ainda virão. Percebo Eu se manifestando como todos. E a todos agradeço. Namastê!




sexta-feira, dezembro 12, 2014

Preleções Nucleares: A Unidade Essencial - 3/4

- Gustavo -


Continuando a explanação da tabela sinótica:




10 – A Consciência é dotada de percepção, a mente é dotada de sentimento. Isso significa que "Quem percebe" é o Eu Real, e não o eu fictício, o eu do personagem. O personagem tem apenas sentimentos, mas não tem a verdadeira percepção. O senso de "eu sou"  do personagem não é verdadeiro, mas o personagem sente que é. Trata-se de um sentido falso de "eu sou", pois o eu sou do personagem apresenta o sentido de "eu existo como entidade específica, separada e isolada". No personagem, a percepção está dividida, fragmentada; consequentemente  "eu sou" aparentará  estar isolado, dividido, fragmentado. A natureza da percepção é ser inteira, total. Uma percepção fragmentada é uma percepção distorcida, ilusória, irreal. Portanto, a mente do personagem não é a detentora da percepção.

A percepção é dividida ou fragmentada quando nossa atenção está voltada para o exterior, mas não está em si mesma. Com percepção fragmentada, a pessoa percebe o mundo a sua volta, percebe as pessoas que estão em volta, mas não percebe a si mesma. A pessoa percebe até o próprio corpo, mas não olha para a si mesma. Parece que somente o mundo, as pessoas e o corpo são fenômenos dignos de atenção. Mas a percepção – a própria percepção em si – também é um fenômeno que está acontecendo. E esse fenômeno é a fonte, a origem de tudo. Mas ninguém está alerta para ele. Ao invés de dirigirmos a atenção para a própria atenção e o mundo ao mesmo tempo (considerando a dignidade de ambos, ao invés de apenas um), nossa atenção observa apenas o mundo. Esse é o mecanismo da mente do personagem: encaminhar o fluxo de atenção para o mundo exterior e evitar que o mesmo fluxo dirija-se para a atenção em si.  É então que a atenção/percepção torna-se dividida, fragmentada, não integrada.

No Ser a percepção está inteira, não fragmentada, total, una, integrada. A percepção está imersa em si mesma, em contato consigo mesma. Como uma gota que caiu no mar, a percepção caiu e dissolveu-se e perdeu-se completamente em si mesma. A percepção se integrou à percepção, tornou-se absoluta. Ela não está mais voltada somente para os fenômenos externos. O fenômeno interno, central, nuclear, foi encontrado. Quando a atenção está assim inteira, o senso "Eu sou" da Consciência do Ser emerge e o indivíduo percebe que ele – a parte, a gota – é na verdade a Totalidade, o Oceano inteiro.


11 – A percepção consciencial revela a unidade, o Eu que somos. “Eu” vive no universo consciencial infinito. “Eu”, que é infinito, é UM com seu o próprio universo consciencial infinito. O Infinito só pode ser o UM em Si mesmo. Portanto, a Unidade é a realidade da Consciência do Ser. 

Na unidade tudo já é. Tudo está imediatamente ao alcance, disponível, manifestado. Na Unidade não existe separação em absoluto. Todavia isso é constatado somente mediante a percepção consciencial. A percepção mental concebe a dualidade, ou seja, o senso de divisão, separação, isolamento. A mente divide todas as coisas. Para a mente, não é apenas o senso de “eu” que existe separado de tudo o mais – todas as coisas parecem estar separadas de todas as coisas. Ela cinde a realidade em “passado”, “presente” e “futuro”. A mente concebe uma divisão/separação absoluta.

Na dimensão da Consciência do Ser, “Eu” está em unidade com todas as coisas, com todos os seres, com o universo inteiro. Isso é assim porque Deus é tudo o que existe, e tudo o que existe existe em Deus. É como um mecanismo perfeito, completo, fechado em si mesmo. Deus é o Ser individual que somos. O Ser individual (a Parte) contém o Todo dentro de si; em decorrência disso, a Parte também encerra todas as outras Partes dentro de si. Deus é uma Unidade perfeita sendo –  o Universo Infinito funciona assim. Somos a plenitude, o próprio Universo Infinito. O Reino de Deus inteiro está dentro de nós. Tudo o que é do Pai, é também nosso, e nisso somos glorificados.

Tendo compreendido isso, podemos dar um passo adiante e compreender que se estamos em Unidade com Deus consequentemente somos unos com a paz, a sabedoria, a bem-aventurança, tudo já existe dentro de nós. Esse é um outro segredo: A nossa unidade com Deus garante a nossa unicidade com todas as coisas. 

Jesus, em uma de suas parábolas, enfatiza essa verdade valendo-se da imagem da Videira e dos ramos. Ele diz:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo o ramo que em Mim não der fruto, Ele o cortará; e todo o que der fruto, Ele o limpará para que dê ainda mais. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. Estai em Mim como Eu em vós; como o ramo de si mesmo não pode dar fruto se não estiver na videira, assim também vós não podereis se não estiverdes em Mim. Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Se vós estiverdes em Mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai: para que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15:1-8)

Jesus está revelando a Unidade ao dizer que Ele é a videira e todos os personagens são ramos ou galhos da videira. Ao afirmar “eu sou a videira”, Ele não está fazendo menção ao seu personagem, mas está se referindo ao Cristo para o qual ele despertou. O personagem Jesus também é um ramo da videira.

A fim de compreender melhor as implicações desta analogia, visualize em sua mente um tronco de árvore do qual crescem muitos ramos. Remova, agora, o tronco. Tudo o que sobrou são muitos ramos soltos e pendentes no espaço, desligados uns dos outros e de qualquer coisa. Estando soltos no ar, desligados da videira, como os galhos manter-se-ão suspensos no ar? De onde eles retirarão os nutrientes ou substâncias necessárias para o seu sustento? Em pouco tempo cada um destes galhos terá consumido a pouca vida que estava em si e caído. Um galho sozinho não consegue suprir a própria vida. Agora restaure em sua mente o tronco da árvore e note o que aconteceu aos ramos. Todos eles estão ligados à Árvore, que está enraizada e fundada na Terra, retirando para si todos os nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento e fluí-las aos ramos. Os ramos não precisam se preocupar e lutar por seu sustento. A Árvore, o tronco principal (o Ser individual, o Cristo, o Filho de Deus, o Atman) retira da Terra (O Ser universal, o Pai Eterno, Paramatman) todo o bem necessário a fim de abastecer a vida dos ramos.

E Jesus afirma claramente que nós somos ramos ligados à videira. Podemos então compreender que a nossa vida não depende de nosso próprio poder, força ou sabedoria pessoais. O Cristo em nós é "Quem faz", é Ele quem providencia para todas as nossas necessidades. Por causa desta videira (Cristo), não há necessidade de lutarmos por nossas vidas, de vivermos afastados uns dos outros, ou de lutarmos uns contra os outros. Este Cristo invisível, o tronco invisível da árvore enraizada em Deus, recebe todo o bem para Si e o lança para nós. O nosso suprimento não depende de nós, assim como o suprimento do ramo não depende de si mesmo. Estamos unidos na videira, somos um em Cristo! A plenitude do ramo depende unicamente do seu CONTATO (a percepção consciente de sua unidade) com a Videira. A menos que reconheçamos a nossa unicidade consciente com Deus, seremos como galhos desligados da Videira, cairemos e secaremos.
A chave para fazer manifestar no mundo da representação as riquezas existentes no Universo Infinito da Consciência é a oração ou meditação na qual conscientizamos o nosso bem como já manifestado. Orações ou meditações que utilizam a mentalização também são meios eficientes de trazer ao mundo visível tudo o que já existe no Universo da Consciência do Ser. Todos esses ensinamentos possuem como base o princípio de que tudo o que existe é UM.

Essas palavras não são apenas para serem lidas mentalmente. Neste momento, aproveite a própria leitura para exercitar a percepção consciencial – agora! Tudo o que está sendo aqui exposto não é conhecimento para ficar na teoria, é para ser treinado, praticado. Portanto, comece a treinar a sua percepção durante a própria leitura deste texto. E não é apenas com o texto – isso vale para tudo, esteja sempre alerta. Neste instante, volte-se inteiramente para o momento presente e perceba Quem está fazendo aparecer este texto diante de você. Perceba Quem está aparecendo como aquele que escreve; perceba Quem está aparecendo como a mensagem que está sendo lida; e perceba Quem está aparecendo como aquele que está lendo. Mais do que isso, perceba Quem está movendo a sua mão, perceba Quem está aparecendo como a sua visão, perceba Quem está enxergando com os seus olhos; perceba Quem está sendo por inteiro o seu personagem. Por fim, perceba Quem está percebendo em você. Tudo está acontecendo simultaneamente na Consciência do Ser e ninguém da representação está fazendo coisa alguma. Se estiver percebendo consciencialmente, verá que estas palavras emergem de Mim, emergem de Quem Sou e se destinam a Você, que é Quem Sou, pois, em realidade, só há UM de nós. Se tudo isso for apenas lido e não praticado, essa teoria servirá só de conhecimento para a mente e não será de nenhum valor real.


12 – O Silêncio pode ser compreendido como o estado de máxima atenção e receptividade ao Ser. Ele pertence à sublime dimensão espiritual. Ele é o solo, o ambiente no qual a Realidade Divina floresce. No Silêncio tudo está acontecendo. Significa que o Infinito inteiro está acontecendo de uma única vez, num só lance – tudo está dentro! Na representação as coisas não ocorrem assim, tudo o que existe nela não pode ocorrer ao mesmo tempo. Não há "espaço" para todas – enquanto algumas delas acontecem outras devem esperar lá fora. O Silêncio é o meio para percebermos o universo consciencial.

Para compreendermos o que é o Silêncio, vamos, por um momento, entende-lo como vazio. Silêncio é o vazio. E vazio é sinônimo de espaço. Existem diferentes categorias de vazio ou espaço. Algumas delas são mais utilitárias que outras. Por exemplo: o vazio (espaço) que existe entre os planetas do sistema solar é diferente do espaço vazio que existe aqui dentro do nosso planeta Terra. O vazio do espaço cósmico é mais aéreo, abstraído, aberto, espaçoso. Graças a isso, a sua utilidade é maior, ele é capaz de comportar maiores conteúdos. Por sua vez, o vazio que existe aqui em nosso planeta (por exemplo, o espaço vazio de nosso quarto) não é tão vazio, aéreo ou abstraído como é o vácuo espacial. O vazio aqui da Terra está cheio de ar. Porém, mesmo estando cheio de ar e não sendo tão vazio (útil) quanto o espaço cósmico, é possível utilizá-lo para colocarmos os nossos móveis lá dentro. Assim, podemos perceber que o "vazio do universo" é mais vazio (útil) do que o "vazio terrestre". Da mesma forma, o Silêncio é mais vazio do que o espaço (vazio) onde existe a representação. Graças a isso, um universo grandioso pode acontecer ali. O Universo consciencial é um fenômeno grande demais para caber dentro de um vazio tão pequeno. Seria muito desconfortável para o Divino se manifestar no espaço (vazio) onde ocorre a representação. O Universo Divino sente-se a vontade para acontecer no Silêncio, porque esse é o ambiente ideal para ele.

Outra forma de conceber o Silêncio poderia ser esta: a Realidade Divina é como um programa de computador de alta tecnologia que, para poder funcionar, necessita utilizar configurações de altíssima resolução e bastante pesadas. Não é qualquer máquina que aguentaria rodar um programa de porte tão alto. Seria necessário ter o equipamento adequado. O Silêncio é esse equipamento de alto nível que permite rodar o superior programa de computador.

Vibração [palavra]. As escrituras védicas revelam que OM (Verbo) é o som ou vibração primordial que colocou em movimento as energias latentes do cosmo e fez surgir o universo da representação. Tudo o que existe no universo do personagem é resultante de vibração ou palavra. A palavra é força criadora. Neste universo  tudo é energia, e as energias variam segundo a frequência (faixas) de vibração ou aceleração. A luz é energia acelerada (faixa de alta frequência vibratória); e a matéria em seu estado bruto é energia condensada (faixa de baixa frequência vibratória).  O corpo é energia e a mente também é energia. São a mesma energia – corpo e mente são um. O corpo é o aspecto "denso" e "grosseiro" da mente; enquanto que a mente é o aspecto "sutil" e "refinado" do corpo. Em razão dessa unidade, tudo o que existe na mente manifesta-se também no corpo e na matéria. Esse é o princípio ensinado pela ciência mental.

A ciência mental diz que tudo o que for pensado na mente tende a se manifestar no corpo concreto e também no mundo físico. O pensamento é energia, vibração, palavra.  E palavra é emissão de comando para o universo. O universo está sempre respondendo "sim" aos nossos comandos. O termo "palavra", aqui, deve ser compreendido em seu sentido amplo. As palavras que saem de nossa boca são todas vibração/palavra/comando. Nossos comportamentos e ações são "palavra". Nossos sentimentos também são palavra, energia. Até mesmo a postura corporal ou expressão fisionômica que assumimos constitui força ou palavra. Cara feia e fechada é palavra negativa; e uma cara descontraída, sorridente, feliz e alegre é palavra positiva. Tudo isso é energia (força, vibração, palavra!) que emitimos para o universo. E em nossa vida atraímos de volta tudo o que emitimos. Ao emitirmos palavras positivas de saúde, otimismo e alegria, a mente universal capta e recebe essa energia (comando) e os devolve à fonte emissora com intensidade aumentada. O mesmo vale quando emitimos palavras negativas: cedo ou tarde deveremos colher o fruto dessas palavras. Nossas palavras criam a nossa realidade. É importante notar é que o universo não responde ao que queremos, ele responde às forças (palavras) que brotam e existem em nós. O universo responde ao que somos. Se o nosso ser (pensamentos, sentimentos, palavras, condutas e atos) não está alinhado com o que estamos pedindo, dificilmente teremos os nossos desejos atendidos.

Tudo aquilo que desejamos ou pensamos, para nós ou para outrem, retorna para nós. O universo inteiro funciona como um espelho. Aquilo que oferecemos reflete no espelho único do universo e retorna para nós infalivelmente. Uma das leis ou regras que regem o universo da representação é a lei do "dá e receberás". Aquilo que damos, recebemos. Com essa lei, o universo tem uma mensagem para nos dizer. Eles está nos dando a dica de que na realidade (mesmo no universo da representação) existe um único "eu". Foi em razão disso que Jesus recomendou que deveríamos fazer ao nosso próximo somente aquilo que gostaríamos que fosse feito para nós. Deus permitiu que essa lei regesse o universo da representação a fim de que cedo ou tarde, pela lei da evolução, descobríssemos que na realidade o outro não existe. Há unicamente um "eu".


13 – O Universo da Consciência do Ser é pleno, absoluto, completo em si mesmo. Está pronto, consumado; nele, tudo já é. O universo do personagem não é absoluto e não apresenta a mesma plenitude, não está consumado. O Ser não carece de coisa alguma. Devido a isso, a palavra "Conhecimento" que está inserida na coluna do Eu Real refere-se ao conhecimento absoluto. É diferente do conhecimento relativo o qual está relacionado à mente do personagem. Em geral, os personagens acreditam ser necessário adquirirem um prévio conhecimento espiritual para poderem perceber a Consciência; primeiro eles acumulam  muitas informações para somente depois passarem à prática. Esse pode constituir um caminho, mas não é realmente necessário ser assim. Os conhecimentos relativos não atuam como condições obrigatórias para perceber a Consciência do Ser. Não é necessário ler pilhas e pilhas de livros. Há um caminho direto que consiste em compreender que: Deus é um ser completo. O Conhecimento necessário para perceber o Ser já existe no próprio Ser. O Ser que somos contém si tudo o que é necessário. Por isso os conhecimentos relativos podem ser dispensados. Se compreendermos realmente que o Ser não depende de "conhecimentos" para perceber-Se ou conhecer-Se, a própria compreensão provoca a transformação, a alquimia, a mágica: subitamente percebemos que é o Ser quem percebe em nós. A percepção mental dá lugar a percepção consciencial.

Da mesma forma – por ser completa – a Consciência do Ser dispensa a necessidade da experiência. Seria incorreto afirmar que o Universo do Ser "existe" ou que ele "não existe", e entrar em debates acerca de sua existência ou inexistência. Isso porque o Universo Consciencial não carece da experiência da existência ou inexistência. Ele está acima disso. Ele está completo! O Ser simplesmente é. A experiência de "existir" ou "não existir" é para o personagem e seu universo. Nós não devemos tentar compreender o Universo Consciencial com base nas características conhecidas assumidas pelo universo da representação. A Consciência do Ser existe ao seu próprio modo – ela é!

O universo da representação é como uma peça de teatro: as coisas que nele estão sendo encenadas são ficções, irrealidades. Um ator não necessita representar ou encenar a sua vida real – ele a vive. O personagem teatral não surge enquanto não entrar a irrealidade. A realidade nunca é encenada, mas é diretamente vivida. No teatro é encenado somente aquilo que "não é". Com isso em mente, consideremos o seguinte: Amor é o que Deus é, ao passo que o medo é aquilo que Deus não é. Unidade é o que Deus é, ao passo que a dualidade/separação é aquilo que Deus não é. Eternidade/Atemporalidade é o que Deus é, ao passo que  morte/temporalidade é aquilo que Deus não é. Como não é da natureza de Deus ser "separação", "medo", "temporalidade", Ele irá encená-los: é então que surge a experiência do universo da representação. Assim, a luz, o amor, a sabedoria, a vida, a alegria, a bem-aventurança, a harmonia e a paz existem como existências verdadeiras, enquanto que as trevas, o medo, o mal, o sofrimento, as infelicidades e a morte existem como representações. O universo da representação existe com a finalidade de permitir a experiência daquilo que "não é". Apesar disso, em razão de uma unidade essencial que existe entre personagem e Ser (também entre o Universo da Consciência e a representação), Deus se expressa na representação.

Continua...