"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sexta-feira, agosto 31, 2018

O Eu Místico - 11/12

- Joel S. Goldsmith - 


O Eu Místico

CAPÍTULO 11
UM ATO DE ADORAÇÃO E O DESFRUTE

Vivemos, nos movemos, e temos nosso ser num mar de Consciência, um oceano infinito de Consciência, derramando-Se do Eu como (e através de) nossa consciência individual, e aparecendo externamente como forma. Desde que o sentido de "eu" ou "meu" não entre interferindo no caminho, o ritmo daquela Consciência continuará a se desdobrar harmoniosamente. As aparências, as formas exteriores serão harmoniosas, e nós estaremos vivendo a Vida Espiritual, vivendo na Quarta Dimensão da vida.

Se violarmos uma lei moral ou espiritual, teremos acionado a lei cármica, a lei que diz que "o que for semeado é o que será colhido". Mais cedo ou mais tarde, o nosso erro vai nos encontrar e exigir o pagamento. Isto viremos a considerar como punição, quase como se fosse castigo de Deus. De fato, a maioria das religiões ensina que a punição é de Deus.

Quando o mundo aprende a verdade que é revelada no livro "O Trovejar do Silêncio" (obra do autor), descobre que isso não é verdade. Qualquer punição que recebamos não é castigo de Deus mais do que acreditar que "duas vezes dois é cinco", e depois pensar que quaisquer efeitos desagradáveis dessa crença errônea sejam uma punição de Deus. O castigo não é de Deus: decorre inteiramente da nossa ignorância; e a punição termina no próprio momento de nossa iluminação.

Enquanto continuarmos a viver como seres humanos, não há a revogação da lei cármica, mesmo que tenhamos de esperar dez gerações. A lei cármica, no entanto, é anulada a qualquer momento em que retornamos ao ritmo do universo, sintonizando-nos com ele, e andando em obediência aos dois grandes mandamentos: "Amai ao Senhor Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, e com toda a tua mente", e "Ama ao teu próximo como a ti mesmo".

Esses dois mandamentos não são fáceis de seguir. A maioria de nós descobriu que é impossível amar o Senhor nosso Deus de todo o coração e com toda nossa alma, e é ainda mais impossível amar ao próximo como a nós mesmos. Pessoalmente, eu acho que, se alguém alega que está fazendo isso, ele está mentindo, exceto sob uma condição, a saber, se ele realmente souber o significado de amar a Deus, e se ele realmente souber o significado de amar seu próximo.

"Amar a Deus" e "amar o próximo" não têm nada a ver com qualquer emoção. Nenhum destes comandos tem a ver com amor em qualquer forma que humanamente possamos entender por amor, a menos que possamos traduzir a palavra "amor" em obediência à lei.


Vivendo a Partir da Onisciência, Onipotência e Onipresença

"Amar ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de toda a tua mente" significa reconhecer Deus como Onisciência, o que significa aprender a abster-se de pedir algo a Deus ou de dizer o que Ele deveria fazer, ou exigir algo de Deus. Significa observar o Silêncio na presença de Deus e aceitar Deus como Onipotência. Nunca devemos buscar o Poder de Deus, pois, com a realização da Onipotência e Onipresença, não há tempo nem lugar em toda a História onde um poder foi ou seja necessário.

Há uma exigência de silêncio para se estar na Presença de Deus. No reconhecimento da Onisciência, há uma exigência de silêncio. No reconhecimento da Onipotência, há uma exigência de silêncio. No reconhecimento da Onipresença, também é exigido silêncio de nossa parte. A única forma de oração aceitável para Deus é o silêncio absoluto, um relaxamento e uma convicção de Deus como Onisciência, Onipotência e Onipresença. Para trazer à tona a Graça de Deus – a Glória e a Perfeição de Deus –, é necessário estar quieto, a fim de que o ritmo do universo possa fluir dessa quietude como harmonia.


Unindo Todos os Homens na Casa de Deus

Você logo verá verá o quanto um ato de compromisso é capaz de fazer cessar seu apego aos pensamentos, a fim de que você seja capaz de abster-se de lembrar a Deus das suas necessidades, ou de procurar a ajuda ou a força de Deus. Isso também é um ato de compromisso – um ato difícil, muito difícil. Mas, assim como entrar no Silêncio (ou na Presença de Deus) é um ato de compromisso, "amar ao teu próximo como a ti mesmo" também é, e para que esse ritmo do universo possa surgir como harmonia, esse ato adicional de compromisso deve ser realizado.

O significado de "amar ao teu próximo" não é muito difícil de entender. Em sua essência, acaso não significa quebrar as barreiras das relações familiares, nacionais e religiosas, e a consequente união de todos os homens na casa de Deus? Acaso não implica na ruptura de todos os preconceitos nacionais, raciais e religiosos e convergência para a família única de Deus, o Pai de todos?

Se estamos fornecendo comida para outras nações, mesmo as inimigas, ou contribuindo para a educação de outras crianças que não as nossas, ou fazendo qualquer outra coisa pelos nossos semelhantes com uma natureza desinteressada – esse é o ato que prova a nossa aceitação do mandamento de amar ao próximo como a nós mesmos. Esse é o ato de compromisso que confirma nosso acordo interior. Quando esse ato é concluído, estamos em obediência à lei de Deus, e somos filhos de Deus; e agora, o ritmo de Deus pode fluir através de nós sem interrupção, sem se deter em barreiras, sem ser desviado, e nós podemos nos voltar para a contemplação.


Reconhecendo Nosso Próximo Como Nosso Eu

"O mundo é renovado para cada alma, quando Cristo entra nela". O mistério sempre foi: quando o Cristo entra em nossa alma? Como trazemos o Cristo à tona em nosso interior? E aqui temos a resposta. Cristo entra no momento em que a nossa consciência é purificada da sua crença em dois poderes, expurgada do ódio, inveja e ciúmes que mantêm o homem separado do homem. Tão logo o ritmo do universo esteja funcionando dentro de nós, o Cristo entra em nossa alma e o mundo se torna novo, porque estamos não apenas amando o nosso próximo, mas estamos amando nosso próximo concretamente, e ao fazê-lo, o nosso próximo é impelido a nos amar. Assim, privamos o nosso próximo da capacidade de não nos amar.

Humanamente, parece que não temos o poder de privar os outros do seu poder de nos ferir; mas, sim, nós temos, nós temos. Fazemos com que seja impossível sermos mal compreendidos ou maltratados porque há apenas um Eu, e aquele que aparece como a consciência de meu ser, aparece também como a consciência do seu ser, em razão do nosso reconhecimento de um único Ser. No momento em que eu amo ao meu próximo como a mim mesmo, faço com que a consciência do meu próximo e a minha consciência sejam uma única e mesma Consciência, respondendo, portanto, à mesma influência.

Ao amar ao meu próximo como a mim mesmo, eu privo este mundo da sua capacidade de enviar armas contra mim. Mas isso também é um ato de compromisso  não um ato de compromisso fugaz que, por ter sido honrado hoje, me isentará para sempre de futuras responsabilidades. Não. É um ato de compromisso que acontece não apenas todos os dias de nossa vida, mas geralmente muitas vezes a cada dia. Todas as vezes que encontramos uma pessoa, ela nos obriga a outro ato de compromisso, porque o mesmerismo humano é tal que nós automaticamente estabelecemos um indivíduo como separado daqueles aos quais estávamos previamente comprometidos.


Atos Contínuos de Compromisso Aceleram a "Morte" do Sentido Pessoal

Claro, você vê que em última instância a solução para tudo isso consiste em "morrer diariamente" para aquele senso pessoal de "eu"; mas não acredite, nem por um momento, que você pode "morrer" completamente para essa palavra "eu". Parece que isso é uma impossibilidade neste plano. Pode vir um momento em que o Cristo será erguido tão alto em nossa consciência que o pequeno "eu" desaparecerá, mas se isso alguma vez já aconteceu, nós não temos registro disso.

Sabemos que o sentido pessoal do "eu" estava presente com Jesus quando estava apregoando contra os oficiais da igreja e os cambistas, contra aqueles que ocupavam altas posições, bem como àqueles que exigiam sacrifício de animais. Sabemos que o sentido pessoal de "eu" estava lá quando perguntou a seus discípulos: "Não podereis vigiar comigo uma hora?"

Portanto, enquanto durar a nossa estadia neste mundo, é muito improvável que morreremos inteiramente para o sentido pessoal do "eu"; mas nós podemos minimizar os efeitos do sentido pessoal do "eu" mediante contínuos atos de compromisso de "amar a Deus de todo o nosso coração, alma e mente" e de "amar aos nossos próximos como a nós mesmos".


Uma Razão Para a Nossa Fé

Enquanto continuamos a fazer isso e descansamos no Silêncio da Presença de Deus, o ritmo flui em nossa experiência. No entanto, não cometa o erro que muitos daqueles no caminho espiritual cometeram: não se deixe levar pela fé cega. É certo ter fé em que "duas vezes dois" são "quatro", ou ter fé que "H2O" é água, mas não tenha fé em "algo que você não conheça", pois isso é perigoso.

Portanto, quando você está no Silêncio da Presença de Deus, e você está esperando este ritmo de vida fluir através de sua consciência como harmonia para o mundo exterior, tenha certeza de que você possui uma razão para a sua fé. Essa razão é que chegamos ao conhecimento de que esse Eu é o Nome de Deus. Chegamos a uma constatação, e é por isso que podemos ficar tranquilos, sabendo que Eu no meio de cada um de nós é Deus.

Então percebemos por que é verdade que "Eu tenho o maná escondido", por que "Eu tenho o alimento que o mundo não conhece": tenho a fonte, o manancial, o armazém que Eu Sou. E, porque a infinitude da vida, a imortalidade da vida é armazenada no Eu que sou, posso me aquietar e deixar esse ritmo fluir, indo à minha frente para aplainar lugares tortuosos, andando ao meu lado e atrás de mim, e aparecendo, conforme necessário, como nuvem durante o dia, ou como uma coluna de fogo à noite; como uma viúva pobre a compartilhar o que possui, como bolos cozidos achados em uma pedra, ou como a multiplicação de pães e peixes.


O Milagre É o Silêncio

Aqui novamente repito uma lição anterior: não acredite que há performadores de milagres sobre a terra  que "qualquer homem" pode multiplicar pães e peixes, fazer o maná cair do céu, ou extrair água da rocha. Não há provisão em todo o reino de Deus para tais coisas. Aquiete-se e saiba que Eu posso te dar água. Esse Eu, lembre-se, é a Presença de Deus diante da qual ficamos em silêncio. Apenas saiba que Eu posso multiplicar pães e peixes, e que este Eu é a Presença diante da qual ficamos em completo silêncio. Então nós podemos testemunhar como os pães e os peixes são multiplicados. Podemos contemplar águas vivas fluindo, águas curativas. Nós podemos contemplar a Palavra de Deus revelando-se como pão, alimento sólido e vinho. Podemos ver a Palavra de Deus aparecendo externamente, como uma atividade da Graça Divina.

Mas apenas lembre-se disso e nunca se esqueça: nenhum homem na face do globo pode realizar um milagre, exceto o milagre do Silêncio. Para a maioria de nós, isso em si é um milagre  se nós formos capazes de fazê-lo. Fique quieto pelo intervalo de um segundo, e então você verá o Eu, que não usamos ou manipulamos, mas que contemplamos na quietude, em silêncio. Este Eu aparece externamente como harmonia em nossa experiência. Ele também aparece como um Poder que fecha a boca do leão e detém os Pilatos deste mundo.

Quando a Escritura diz: "maior é Aquele que está em vós do que aquele que está no mundo", você consegue ver exatamente o quão maior, quão mais poderoso? O poder de Deus está dentro de nós, e Sua fortaleza pode ser trazida para o reino exterior pela nossa tomada de atitude como contempladores, ficando completamente quietos na Presença do Eu que somos.


A Lei Cármica é Rompida Quando o Sentido Pessoal é Retirado

É contra esse Eu que os nossos pensamentos colidem, quando a nossa parte humana se entrega aos ódios humanos, amores e medos humanos, às dúvidas e à ignorância humana. Quando eles colidem contra esse Eu, ricocheteiam de volta como aquilo que nós chamamos de punição. É isso punição, ou é apenas o erro natural nascido de outro erro?

A lei cármica, a lei do "colher o que plantou", é posta em movimento, sempre que os sentimentos humanos colidem contra a realidade espiritual do Eu que eu sou. No momento em que mantemos um pensamento errado ou performamos uma ação errada, isso atinge a nossa própria integridade espiritual interior e volta refletido para nós. Como os resultados nem sempre são visíveis no momento, às vezes pensamos que podemos escapar deles, mas inevitavelmente eles nos alcançam, e então depois nos perguntamos: "Por que sofro com isso? Por que isso tem que acontecer comigo?". Nós esquecemos a lei que pusemos em movimento, violando a nossa própria integridade espiritual. Felizmente, podemos corrigir isso a qualquer momento, retirando o sentido pessoal do "eu" que se entrega a amores, ódios ou medos, e tornando-nos contempladores ao estar na Presença do Espírito, o Eu que está dentro de nós. Isso nos absolve de todos os nossos erros e castigos.


O Perdão Vem Quando o Eu Dissolve o Sentido Pessoal

Não há necessidade de pedir perdão por nossos erros, porque há essa integridade do Eu que tudo sabe, e Ele já sabe se o outro "eu" foi dissolvido. Quando uma nuvem obscurece o sol, o sol não alcança a terra, mas quando a nuvem se dispersa, o sol volta a brilhar na terra. Acaso o sol sabia que a nuvem estava lá para impedir que ele alcançasse à Terra? Alguma vez o sol parou de brilhar?

O mesmo ocorre com o Eu no centro do teu ser e do meu ser: Ele é a nossa integridade espiritual individual, sempre brilhando. Eis que, então, uma nuvem fica no caminho. E qual é a natureza dessa nuvem? É o sentido pessoal, o sentido humano do "eu". Mas essa integridade infinita que é minha, que Eu Sou, permanece brilhando, e, no curso do tempo, conforme a Escritura diz: "todo joelho se dobrará", e isso significa que toda nuvem eventualmente deve ser dissipada.

A Luz que Eu Sou dissipa todo o sentido pessoal, e então "a glória que eu tive contigo antes que o mundo existisse" está em plena evidência para o mundo, e o mundo diz: "esta é a Glória do Senhor!". Mas o Eu que nós somos não toma conhecimento de que está queimando a negatividade do sentido pessoal – a minha e a sua – que nos entretém. Ele nem sabe. Nossa integridade espiritual está apenas brilhando, e mais cedo ou mais tarde essa negatividade se evaporará, e o Eu que nós somos nem sequer saberá que houve um sentido pessoal do "eu" para ser perdoado. Não adianta dizer: "Por favor, me perdoe", porque enquanto houver um "eu" para pedir perdão, não há verdadeiramente perdão, mas quando um coração desejoso se prostra ardentemente para receber o perdão, então há o motivo certo para que ocorra o processo de purificação.

Honramos a Deus e honramos a nossa integridade espiritual quando, em vez de pedir perdão ou favores, nos aproximamos de Deus com um dedo de silêncio nos lábios e na mente: indo a Deus sem pensamentos, sem desejos, indo para este centro dentro de nós mesmos, no Silêncio, no qual podemos ouvir "a voz pequena e silenciosa", mesmo quando ela estiver sussurrando bem baixinho, quase silenciosamente.


O Amor de Deus Não Pode Ser Canalizado

O ouvido atento é a nossa atitude na oração e na meditação: é necessário que possamos ouvir, não que sejamos ouvidos  apenas que possamos ouvir, a fim de podermos receber as impartições do Espírito a partir de dentro. Fazemos isso com o pleno conhecimento de que não vamos receber a Graça de Deus para qualquer propósito ou uso pessoal, mas apenas para o que for para o benefício de todos. Quando orarmos pela Graça de Deus, rezemos por ela como sendo uma benção universal, para que o Reino de Deus seja estabelecido na terra assim como já o é no Céu; pois, independente do que pensemos, dissermos ou fizermos, será assim. Não será de outra maneira. Ninguém pode canalizar o Amor de Deus para 'esta' ou 'aquela' nação, para 'esta' ou 'aquela' família, para 'esta' ou 'aquela' pessoa. O Amor de Deus não pode ser canalizado: o Amor de Deus é tanto para os justo quanto para os injustos.

Jesus não podia condenar ninguém por seus pecados, pois sabia que eles eram resquícios do sentido pessoal de "eu". Por outro lado, ele não podia tolerar ninguém chamando-o de bom, exatamente conhecer a Fonte de onde procedia aquele bem, e certamente Jesus teria desaprovado alguém que exaltasse as suas grandiosas performações milagrosas, como a multiplicação de peixes, pois Ele sabia que nenhum homem é um milagreiro.


O Perdão Vem em um momento de Compromisso

Deus não concedeu a ninguém a capacidade de operar milagres, mas o homem, em seu Silêncio, torna-se uma transparência para o próprio Espírito Milagroso, o Autor dos milagres. Sem isso, afloraria no homem um egoísmo ao ponto de negar o Espírito interior, obstruindo (às vezes para sempre) a Sua manifestação. 

Se alguma vez fôssemos convencidos a acreditar que o homem mortal é ou pode ser espiritual  ou que o homem mortal é ou pode ser o Filho de Deus , então seguiria toda a variedade de estupidez que faz as pessoas acreditarem que podem ir para a igreja nos domingos, e serem perdoadas através de algum "hocus-pocus", e em seguida reiniciarem os seus malfeitos no dia seguinte, ainda carregando consigo as suas faltas de caridade, a falta de benevolência, de perdão e de fraternidade. Como elas poderiam então serem purificadas?

Os hebreus ensinaram, e ainda ensinam, que há um dia do ano em que, ao realizarem as práticas/rituais designados para aquele dia, eles são perdoados. Mas isso é impossível. Ninguém é perdoado enquanto mantém sua consciência em dessemelhança com Deus. Tal consciência não pode ser perdoada: tem que ser abandonada... Quando ela  a consciência separada de Deus  é abandonada, ela não mais existe; e porque não existe, não precisa ser perdoada. Portanto, o único perdão é quando o Espírito transcendente entra e nos purifica, e isso não precisa ocorrer em um determinado dia do ano. Acontece em um determinado momento, e geralmente num momento de compromisso.


O Poder Não Está nas Palavras, mas na Consciência

Não dependa de palavras, mantras ou orações. Se as palavras e os pensamentos vêm, eles nada mais são que ferramentas  ferramentas de trabalho. Mas o poder está na Consciência, através da qual as palavras vêm. Deus é a Consciência individual. É por isso que nos sentamos em Silêncio, com a disposição de "ouvir", sem palavras e sem pensamentos, na presença do Eu que Eu Sou. De dentro dessa Consciência serena vem a Palavra que é Poder. Ela pode Se expressar como um grande número de palavras e de pensamentos, mas não se apegue às palavras e aos pensamentos, porque então você perde o poder.

Aprenda a sentar-se em uma atitude de respeito, amor e gratidão, diante da porta de sua própria Consciência. Ah sim, lembre-se disso: "Eu estou à porta de sua consciência. Estou de pé à porta, e bato." Você não percebe que Eu somente posso entrar quando você se acomoda em uma escuta pacífica e silenciosa, diante da porta de sua própria consciência? Não cometa o erro de adorar a consciência de alguém, alguém do passado, presente, ou esperado para o futuro. Aprenda a compreender que "Eu estou à porta de cada consciência", santo ou pecador, e com você aprendendo a sentar-se em silêncio respeitoso, vou abrir-Me a você, vou revelar-Me como Poder, Presença, como alimento, vinho e água.

As palavras que você pensa nunca multiplicarão pães e peixes. Os pensamentos que você pensa nunca curarão ninguém de seus males. O poder está na Consciência, e quando Ela anuncia a Si mesma, a terra derrete. Deve haver um "você" e um "eu" sentados aos pés do Mestre. Mas sentado "onde" aos pés do Mestre? Sentados dentro de nossa própria Consciência, em silêncio, em segredo, não dizendo a ninguém o que estamos fazendo, e ali recebendo o pão, o vinho, o alimento, a água e a Palavra.


Ouvir É a Atitude Correta Para a Oração

Não há Deus e o homem. Não há Deus lá "no alto" ou lá "fora" respondendo a qualquer oração, e tenha a certeza de que não há Graça de Deus para o erro. Orar pela graça de Deus, enquanto ainda se é indulgente e conivente com o sentido pessoal do "eu" e do mundo, é como pedir aos analfabetos que trabalhem na resolução de um problema de matemática avançada. 

É inútil tentar reivindicar a espiritualidade para si mesmo; é inútil tentar reivindicar a Natureza Crística ou a Natureza Divina para si mesmo. A melhor abordagem para a vida espiritual é sentar-se no Silêncio, diante de sua própria Consciência, e deixar a Voz dizer quem você é, o que você é, quando, onde, como, quão muito, quão pouco, e por quê.

Não faça reivindicações para si mesmo, já que essas reivindicações não poderão ser mantidas perante a sua Integridade interior; elas farão de você um mentiroso. Mantenha o dedo nos lábios: "Se eu sou um santo, tudo bem, Deus assim o fez; se eu sou um pecador, é muito ruim, não posso evitar; mas em qualquer caso, santo ou pecador, deixe-me apenas sentar-me aqui aos pés do Mestre, no interior de mim, e deixe que o Pai revele a mim a minha identidade, a natureza do meu ser. E, como a Luz do mundo, deixe o Pai penetrar por entre as nuvens que se interpõem entre mim e a demonstração espiritual".

Silenciosa, sagrada e secretamente, sem se fazer notado pelos homens, sem agir externamente como se fôssemos diferentes das demais pessoas, mas interiormente sempre sentados aos pés do Mestre, deixamos que a nossa oração seja: "Fala, Senhor, pois o teu servo ouve". O efeito dessa oração é que o Senhor não expõe a nós as nossas faltas, mas o Senhor as dissolve. Em todos os anos de meu ministério de ensino e cura, Deus nunca me apontou um erro sequer de alguma pessoa. Eu testemunhei um grande número de erros serem dissolvidos em outras pessoas, assim como em mim mesmo, mas nunca ouvi Deus me dizer que alguém estava errado.

Falar a Deus e enviar pensamentos a Deus é uma pura perda de tempo. Qualquer coisa que possamos dizer ou pensar estaria destinada a colidir contra a nossa integridade espiritual interior, porque a Verdade não está em nós como seres humanos. Mas para mantermos uma completa atitude de receptividade à Palavra que é impartida sobre nós, a atitude deve ser outra, isto é, a atitude de escutar; essa é a atitude da oração, da meditação, da cura, a atitude de ser um observador ou testemunha dos milagres de Deus. Sei que, mais e mais, a literatura oriental será lida com o passar do tempo, e que mais e mais auto-ilusão ocorrerá devido a interpretações errôneas, por se acreditar que no mundo existem operadores de milagres, mas operadores de milagres não existem. Qualquer pessoa através de quem ocorram milagres nada mais é do que uma transparência para o Espírito que opera o milagre. Isso é tudo.


segunda-feira, agosto 27, 2018

O Eu Místico - 10/12

- Joel S. Goldsmith - 


O Eu Místico

CAPÍTULO 10
UM ATO DE COMPROMISSO

Enquanto eu estava sentado em meditação, estas palavras vieram a mim: "o Ventre do Silêncio"; e nessa experiência era como se houvesse um tremendo silêncio, grande e completo  era o Ventre do qual emergiu toda a criação. Toda a criação foi formada neste Ventre do Silêncio. Criou-se não um homem, mas um universo: a terra, as rochas, as árvores, riachos, mares, céus, sóis, luas e planetas; tudo isso fluindo como um desdobramento deste enorme Ventre de quietude, de silêncio penetrante, completo, absoluto.

Esse Silêncio move-se em um certo ritmo. E este ritmo não apenas forma, mas sustenta toda a criação, mantendo todas as coisas no seu devido lugar. Olhando para este universo, você pode ver que existe frio, neve e gelo no norte, e calor no sul; flores e árvores de uma natureza no norte, e de outra natureza no sul. Este ritmo  o ritmo que está fluindo daquele Silêncio  sustenta lindamente a criação, em toda a sua ordem.

Então, eis que o homem aparece aqui e ali na face do globo, também mantido por este ritmo que flui dentro de sua Consciência. É o fluir desse ritmo que mantém a atividade do corpo, dos órgãos e de suas funções. Tudo parece responder a este ritmo; e todo este ritmo flui para fora a partir desse "Ventre", em forma de Graça, Beleza, Ordem, Paz. A relação entre todas essas formas é harmoniosa. Poderíamos usar a palavra "amor", mas não há amor (em sentido humano): há apenas uma naturalidade de Paz e Contentamento  este é o ritmo em expressão, o ritmo do universo.


Estar Fora do Ritmo Resulta em Desarmonia

Quando algo dá errado em nossa experiência, é porque estamos fora de sintonia com este ritmo. Podemos observar como o salgueiro se move com a brisa, como ele flui quando a brisa sopra, e então imaginemos o que aconteceria se ele tentasse resistir ou ficar ereto naquela brisa: ele se quebraria. E assim também o homem é quebrado no momento que ele se move fora do ritmo, fora do fluxo que o trouxe à manifestação e expressão.

O ritmo da Fonte mantém toda a criação em harmonia, na lei e na ordem. Seja lá o que for que nos permita mover-nos por nós mesmos (senso de separação), ou por vontade própria, indo em uma direção de nossa autoria, nos tira do fluxo do ritmo; e então estaremos em oposição ao ritmo, tentando permanecer ereto ou resistindo a ele, tal como o salgueiro em face da brisa. Cada senso de discórdia e desarmonia que toca nossa experiência é uma evidência de que estamos desalinhados ou fora de sintonia com o ritmo do universo; e a discórdia e desarmonia vão persistir em nossa experiência até que tornemos a sintonizar espiritualmente e ritmicamente.


Como Retornar ao Ritmo

Pode não haver uma possibilidade de explicar neste momento por quê ou como saímos da sintonia; mas devemos reconhecer que, como raça humana, não estamos sengo governados pelo ritmo do Espírito, o ritmo do Silêncio. Pode muito bem ser porque insistimos em nosso pensamento: insistimos em seguir um caminho próprio, à nossa própria maneira, por nossa própria vontade, ou em ter uma família estritamente nossa, em vez de reconhecermos a Unicidade de toda a Vida. Pode ser que voltemos ao menos parcialmente ao ritmo, se reconhecermos que há apenas uma família, e que somos descendentes da Casa de Deus, unindo-nos assim com os povos de todas as raças, de todas as religiões, e de todas as nacionalidades, reconhecendo a paternidade universal de Deus; e isso, num certo sentido, restauraria a harmonia.

A sabedoria do dízimo nos mostra algo diferente. Mas esta prática não deve ser mal compreendida. Esse antigo ensinamento do dízimo não significava que, ao fazer uma doação, pudéssemos esperar alguma bênção. Não podemos entrar em qualquer merchandising, negociação ou acordo com Deus, dando a Ele dez por cento e esperar que Ele nos retorne em noventa por cento. Mas ao realizar o dízimo  conhecendo o relacionamento que temos, não apenas com os nossos parentes de carne e sangue, mas reconhecendo a relação ou parentesco que temos com toda a humanidade – entramos novamente no ritmo desse relacionamento. Ao providenciar para outras pessoas além das nossas, não estaremos apenas conhecendo intelectualmente um relacionamento, mas estaremos vivenciando o seu ritmo. Entramos no ritmo de nosso relacionamento com a humanidade quando, em primeiro lugar, reconhecermos a existência dessa relação e, em seguida, tomamos a ação em relação a ela, providenciando alguma medida de provisão para os outros, aqueles que não fazem parte da nossa família de carne e sangue, da nossa família religiosa, ou família nacional. 


A Relação Universal da Humanidade Deve Ser Confirmada por um Ato

Está claro agora que, para nos restabelecermos neste ritmo original, necessitamos fazê-lo mediante um ato? O conhecimento intelectual não é o suficiente: deve ser seguido por uma ação. É um ato de compromisso. Se declararmos que todos somos a Família de Deus, e em seguida continuarmos vivendo apenas para a nossa própria família, para os que comungam da nossa própria religião, ou para a nossa própria nação, estaremos virtualmente nos contradizendo e gerando atrito; e nossa condição, então, é pior do que a da pessoa que é ignorante dessa relação universal.

Uma vez que tomamos o conhecimento de que essa relação universal é estabelecida por um ato de compromisso, devemos entrar no ritmo e começar a agir de alguma forma que nos vincule ao bem-estar daqueles que estão fora da relação de nossa casa, comunidade, nação ou igreja. Se nos limitarmos a meramente reconhecer a nossa Cristandade, ao invés de vivê-la a partir de atos concretos, imediatamente nós estabeleceremos um conflito dentro de nosso próprio ser, o que é muito pior do que se nós nunca tivéssemos ouvido falar dessa Cristandade; porque, tendo ouvido falar dela, devemos agora vivê-la.

É necessário haver um ato de compromisso a fim de vivermos como o Cristo, e para compreender isso, podemos tomar exemplos tais como Gautama, o Buda, e Jesus, o Cristo, e testemunhar a natureza da vida que eles viveram. Não é que tentaremos igualar a nossa vida à vida deles. Isso, é claro, nunca seria possível. Cada um de nós é um indivíduo, cujo ser se expressa individualmente. Mas ao olhar para eles, ao menos podemos perceber o que significa aceitar e viver a própria Cristandade, e então dar o primeiro passo agindo a respeito, mesmo que seja muito pouco, "até... ao menor destes meus irmãos", a fim de que este pouco que fizemos possa continuar a aumentar em alcance, profundidade, amplitude e visão.


Reconhecimento da Cristandade de Nosso Companheiro Deve Ser Expressado em Ação

Reconhecer a Natureza Crística de nosso próximo nos vincula a um ato de compromisso. Não só devo agir a partir da percepção de minha Natureza Crística na medida em que a Luz me é dada, mas no momento em que eu reconheço o Cristo em você, sou chamado a tomar uma ação coerente com a verdade que percebo  de que você é o Cristo. Se eu curvo a minha cabeça diante da Presença do Mestre, então também devo me inclinar e reverenciar a todos aqueles que eu encontrar.

Muitas vezes os alunos ficam a imaginar se o seu professor espiritual está ciente da natureza ou do grau do desenvolvimento espiritual em que se encontram, ou da ausência dele. Podem ter certeza de que é tão impossível esconder de um professor o seu grau de progresso espiritual quanto seria esconder de Deus, porque há um sinal, e esse sinal é um ato de compromisso. Até que o professor veja esse sinal vindo à tona, ele sabe exatamente como está o desenvolvimento espiritual do aluno. No momento em que testemunha o sinal de compromisso, ele sabe que o aluno venceu as tribulações e alcançou um lugar além da humanidade. Isso, todavia, ocorre apenas quando o ato de comprometimento é observado, de uma forma ou de outra. Não é necessário que essa observação ocorra fisicamente. Não é preciso estar a milhares de quilômetros do aluno para saber quando o compromisso aconteceu.


Nossa Consciência Individual é o Juiz

Isso nos leva a uma parte importante da revelação do Caminho Infinito. Não é difícil convencer uma pessoa de que ela pode fazer o mal conforme bem entender, e não ser detectada por Deus. Mas nós poderíamos acabar com todas as prisões do planeta, se ensinássemos corretamente que ninguém pode fazer o que bem entender, porque o juiz está mais perto do que a própria respiração: ele é a verdadeira consciência de cada um.

O juiz não age da maneira como muitas pessoas acreditam que Deus age, sentado e anotando em um caderno as boas ações e as más ações, e pesando-as umas contra as outras. Ele age mais como a lei da matemática: contanto que continuemos a multiplicar duas vezes dois, e obtendo quatro, ou três vezes três, e obtendo o nove, tudo está indo bem dentro do nosso reino matemático. Ninguém está sendo recompensado, a matemática não está sendo recompensada, e os números não estão sendo recompensados. Apenas ocorre que tudo está se desdobrando normal e naturalmente dentro das leis da matemática e da ciência. Por outro lado, se anotarmos que duas vezes dois é igual a cinco, não receberemos nenhuma punição: simplesmente quebraremos o ritmo da harmonia. Ninguém está sendo punido; os números não estão sendo punidos; a aritmética não está sendo punida. Há apenas o fruto errôneo de se ter rompido o ritmo da matemática. 

A fórmula "H2O" é água, e enquanto continuarmos unindo duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, nós obteremos a água, mas não como uma recompensa de Deus: será o ritmo natural e normal da ordem divina da ciência. Tente coligar uma molécula de hidrogênio e duas de oxigênio, e a água não será obtida. Mas ninguém estará sendo punido  nem mesmo o cientista que errou. O ritmo foi simplesmente quebrado.


Violar a Lei Espiritual Rompe o Ritmo

Todas as vezes que violamos a lei espiritual, o ritmo é quebrado; e nós violamos a lei espiritual a cada vez que não reconhecemos a Deus como Onipotência, Onisciência e Onipresença, e toda vez que não amamos ao nosso próximo como a nós mesmos. Esses são os dois únicos mandamentos espirituais que existem. Esse é o ritmo de toda a criação e expressão do Universo, incluindo o homem.

Não há meio de violar o ritmo, exceto aceitar dois poderes: o bem e o mal no lugar da Onipotência do Espírito; aceitar outra mente além da Mente de Deus; aceitar outra presença que não a Presença de Deus. Fazer isso rompe o ritmo. Ninguém o quebra para nós. Enquanto andarmos obedientemente no reconhecimento da Presença de Deus em todos os nossos caminhos, conhecendo-O verdadeiramente como o único Poder, a única Presença e a única Inteligência, e amar ao próximo como a nós mesmos – reconhecendo a Natureza Crística de nós próprios, bem como de nosso próximo –, e agirmos a partir desse Amor, "nenhuma arma que se levante contra nós prosperará". E se alguém tentar enviar algum malefício contra nós, ele acabará por destruir a si mesmo, desde que conheçamos essa verdade.

Por outro lado, no momento em que violamos esses mandamentos, a lei é quebrada; e, então, qualquer discórdia ou desarmonia que possam se apresentar, nós próprios é que as pusemos em movimento. Nós mesmos fizemos isso ao violar os dois únicos mandamentos que existem no Reino espiritual. Mas, e quanto ao roubo? E quanto a cometer adultério? Não está claro que, se estivermos honrando ao nosso próximo como o Cristo, dificilmente adulteraríamos ou cometeríamos um roubo contra ele? Tais atos não estariam de acordo com a lei espiritual de amar ao nosso próximo como a nós mesmos.


O Ritmo do Universo Providencia Todas as Coisas Necessárias

Há um ritmo, e este ritmo do universo faz de cada um de nós um ser individual, um indivíduo completamente governado e suprido pelo Espírito de Deus, com todas as coisas supridas para nós de acordo com a necessidade de cada momento, a fim de que nunca precisemos invejar o nosso próximo, sentir ciúmes ou luxúria, porque, estando sintonizados com este ritmo, nossas próprias Vontade são satisfeitas para nós.

Isto é o que John Burroughs realmente quis dizer em seu poema, "A Espera". Esse poema é muito mal compreendido, e há muitas pessoas acreditando que tudo o que precisam fazer é sentar e esperar, e tudo o que desejam acontecerá para elas. Há pessoas que esperaram por toda a vida, sem que nada jamais acontecesse, porque elas ainda estavam nesse estado humano de consciência, fora do ritmo do universo. Mas, em seu poema, John Burroughs falou a partir do estado do Espírito; e já que ele estava no ritmo do Espírito, sua experiência era a de que a nossa vontade vem a nós, nós não necessitamos procurar por ela. Nós fechamos os olhos e ficamos conscientemente imersos no fluxo; e tudo o que é nosso vem.

Enquanto estivermos no fluxo de andar em obediência à Deus  amando-O supremamente, reconhecendo-O como o Eu Infinito, a Consciência Infinita, como o único Poder, a única Presença, a única Sabedoria, e amando ao próximo como a nós mesmos, fazendo ao próximo como gostaríamos que fizessem a nós –, estaremos vivendo no ritmo.

Sentar em Silêncio, e reconhecer o Eu do meu Ser, reconhecer Aquele que é Onisciente, Onipotente e Onipresente  esse é o Caminho. Esse é o modo de restaurar a harmonia, mas que deve sempre ser acompanhado de um ato de compromisso.


O Silêncio é o "Ventre" da Criação

Devemos encontrar a nossa realização e prover o nosso ato de confiança. Mas então não poderemos separar o ensinamento de "amar a Deus acima de todas as coisas" do ensinamento de "amar ao teu próximo como a ti mesmo", como se eles fossem dois mandamentos distintos. Virtualmente eles são duas partes de um mesmo mandamento. Se reconhecêssemos a Deus, o Eu infinito, sem contudo amar ao próximo como a nós mesmos, a nossa fórmula não funcionaria. Devemos perceber o fluir desse ritmo a partir do Silêncio, que é o Ventre de onde surge toda a criação. O Silêncio que atingimos interiormente é o Ventre, e a partir desse Silêncio interior flui toda a criação na medida do necessário para nossa experiência individual. 

Também é a partir do Silêncio que flui o amor ao próximo como a nós mesmos. Isso vem claramente, mas deve rapidamente ser posto em prática. Deve haver um ato de compromisso, algo como "na medida em fizestes isso a um destes pequeninos irmãos, o fizestes a vós mesmos", ou então, "quando a um destes pequeninos não o fizestes, não o fizestes a vós mesmos".

Enganamos a nós mesmos por não fazer nada ao próximo, pois o nosso "próximo" é o nosso próprio Ser. Se limitarmos o nosso "próximo" aos nossos parentes, compatriotas, e colegas religiosos, estaremos enganando o nosso Ser, porque somente quando fizermos algo pelo outro estaremos fazendo-o ao Eu que somos.

O ritmo do universo é produzido pelo reconhecimento do Eu como Deus, Onisciência, Onipotência, Onipresença, e por um ato de compromisso. O amor ao nosso próximo como a nós mesmos é um ato de compromisso. Deve haver dedicação e devoção a este princípio  não à pessoas , mas a este princípio. Não deveria fazer nenhuma diferença para nós se os russos colhem os benefícios de nossas benfeitorias, se os chineses, ou os cubanos. O que nos deve importar é o nosso ato de compromisso com todos aqueles que estão fora de nosso círculo familiar, nacional, religioso, de aliados ou de amigos.


A Consciência Projetando a Si Mesma

O homem deve viver pela Palavra, e não apenas pelo pão. À medida que recebemos a Palavra fluindo de nossa Consciência, através do Silêncio, e realizamos um ato de compromisso que nos vincule e nos relacione a Ela, que nos identifique com Ela, então nos tornamos separados do resto do mundo. Nosso mundo é uma emanação do nosso estado de consciência. Quanto mais o nosso estado de consciência se eleva em obediência aos dois mandamentos, mais alegre, pacífico e harmonioso se torna o mundo criado, porque o mundo criado é uma expressão da nossa consciência.

Se pudéssemos ver ou sentir que por detrás da nossa cabeça há esta grande Consciência projetando a Si Mesma, e não ficássemos no caminho da manifestação dessa Consciência por fazer uso do pensamento, então essa Consciência fluiria em Suas infinitas formas e variações, e nenhuma limitação haveria na manifestação de nosso universo e de sua harmonia. É apenas quando nós, em alguma medida, ficamos no caminho desse fluxo com o sentido pessoal de "eu" – eu e meu –, que o nosso universo se torna um pouco menos infinito do que ele deveria ser.

Você pode acreditar que está seguindo este Caminho Infinito de vida, por estar lendo os livros ou ouvindo as mensagens, mas eu digo que você o não está seguindo, até que você chegue ao ponto de firmar um ato de compromisso. Você pode acreditar que está sob a lei de Deus, mas eu digo que você não está, até que você se ponha debaixo dela mediante um ato de compromisso. Você pode acreditar que a Graça de Deus vai cuidar de você, mas eu digo que isso não será assim, até que você realize um ato de compromisso.


A Razão da Meditação

A partir daí, você pode perceber a importância da meditação  uma meditação que não é parar o pensamento, não é um amortecimento da consciência, nem uma fuga do mundo , mas uma meditação na qual a escuridão ou o silêncio são tão grandes que você pode olhar através deles e ver toda a Consciência infinita por detrás de você, pronta para em seguida derramar-Se em seu ouvido interno e expectante, sempre que você A convidar, dizendo: "fala, Senhor, pois o teu servo escuta".

Você quase pode sentir aquela grande, grande área de Consciência atrás de você,  pressionando, empurrando, e enviando a Si mesma para expressar-Se através de sua consciência, como a sua Consciência, como a Palavra, como a "Voz pequena e silenciosa", repetindo sempre e sempre: "Eu vim para que todos tenham vida... Eu vim para que você tenha vida em abundância... Não vos preocupeis com vossa vida, Eu estou aqui." 

E então você diz, "Ah, entendi! É por isso que eu tenho o maná oculto, é por isso que eu tenho o alimento que o mundo não conhece. Eu tenho esse Eu nas profundezas desta escuridão e quietude interior, na profundidade deste Ventre interior do Silêncio. Eu estou aqui. 'Aquietai-vos, e sabei que Eu Sou Deus'... Isto é o maná escondido. Este é o alimento que o mundo não conhece. Este é o maná que eu devo guardar como sagrado e secreto, compartilhando apenas com aqueles que vêm a mim e estão prontos".

Não pense, sequer por um momento, que você poderá valer-se desse ritmo do Espírito para fazer com que sua vida seja mais saudável, mais rica, ou mais sábia. Não há nenhuma provisão para isso no reino espiritual. Você se volta para dentro a fim de que a palavra de Deus flua através de você para o mundo. Você será bem cuidado, certamente. "O caminho que não supre o viajante não é um caminho para se seguir". Esse caminho do Eu nos concede toda a provisão. Mas essa não é a razão pela qual nós meditamos.

A razão porque meditamos é para que o Reino de Deus possa ser estabelecido na terra, assim como já o é no Céu. Deus não nos permite desejar que o Reino de Deus seja estabelecido na terra apenas para nós mesmos.

Isso se assemelharia muito àquelas pessoas que compram abrigos à prova de bombas para a própria proteção e, depois, quando o mundo inteiro explodir, saíssem e constatassem que elas são as únicas pessoas deixadas na terra. Imagine que tipo de mundo solitário no qual elas viveriam – um inferno na terra. Ou isso se assemelharia com aquelas que estocam alimentos em seus esconderijos à prova de bombas e, depois de o mundo ter sido destruído, saíssem para constatar que ninguém mais teria comida, exceto elas próprias. Você consegue imaginá-las capazes de comer um pedaço sequer?


Os Iluminados: Mestres ou Servos?

Nós não meditamos a fim de encontrarmos a nossa paz, mas para que através de nós a paz possa fluir para o mundo. Moisés não recebeu sua iluminação para tornar-se um rei glorioso, mas para que pudesse descer ao vale com o povo hebreu, e sofrer com eles, trazendo-os para a liberdade. Gautama, o Buda, não recebeu sua iluminação para ficar sentado aparte, no topo de uma montanha, e ser reverenciado ou adorado, mas sim para que ele andasse por toda a extensão da Índia, ensinando os discípulos e estabelecendo ashrams de cura. Jesus Cristo não recebeu sua iluminação para ser colocado separado, acima do resto do mundo, para cantar hinos e tocar harpas, enquanto o resto do mundo estaria em escravidão. A ninguém é dado ser iluminado por sua própria causa. Jamais isso aconteceu na história do mundo.

E ainda hoje há milhares e milhares de pessoas que estão buscando a iluminação espiritual acreditando que, quando a receberem, serão saudáveis, ricas e sábias para todo o sempre, totalmente por si mesmas. Não, não alimentemos tais ilusões. E se você está buscando a iluminação, você irá recebê-la, desde que você não sonhe com ela posicionando você separado do mundo, ou fazendo de você um "mestre" na terra. 

A iluminação fará de você um servo. Outras pessoas podem chamá-lo de mestre, mas em seu coração você apenas sorrirá para elas: "vocês me chamam de mestre, mas eu conheço na verdade o quanto eu sou um servo. Eu sei muito bem o quanto sou chamado pela Luz para servir. Todo o resto do mundo é parece ser meu mestre". Sim, a iluminação não lhe concede títulos ou túnicas pomposos, nem uma vida de paz isolada do mundo: ela lhe traz uma vida de dedicação, de devoção, de serviço. Quando o Mestre disse a seus discípulos que deixassem suas redes, ele estava pedindo um sinal de compromisso; e se eles receberam dele a iluminação espiritual, foi para que pudessem se tornar "pescadores de homens".

Leia a história da vida de Paulo e observe os açoites, os aprisionamentos e a fome que sofreu para levar a mensagem do Cristo à humanidade. Examine a vida de todos os místicos e veja os mal-entendidos, e às vezes as prisões, que foram destinados a suportar. Iluminação carrega um preço: deixar o mundo, deixar mãe, irmão, irmã e pai, se necessário, por "Minha causa". Tenha certeza de que, se houver iluminação, haverá um ato de compromisso com o mundo inteiro, não apenas com uma seita, não apenas com uma comunidade. Não é o mesmo que fixar três horas por dias, três vezes por semana, e se dedicar a elas, como fazemos em um escritório. Receber a Iluminação significa um ato de compromisso e dedicação com o mundo, sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia.

Deus não Se revela facilmente para aqueles que possuem finalidades egoístas, nem para aqueles que O usariam como um poder. Os puros de coração são aqueles que entendem a natureza dos dois mandamentos que constituem o ritmo do universo; por obedecer a esses dois mandamentos, eles estão em sintonia com o ritmo do universo que flui do Silêncio que eles encontram dentro de si mesmos. "Na quietude e na confiança é que está sua força". Fique quieto e saiba que Eu, no meio de você, sou Deus. Fique quieto e deixe o ritmo fluir desse Silêncio dentro de seu próprio Ser, e então acompanhe-o realizando um ato de compromisso que alinhe você com as pessoas deste mundo.

Se o nome de alguém tiver de sobreviver na história como um líder espiritual ou professor, ele deve ser um indivíduo que entrou em sintonia com o Espírito de Deus, que é o Espírito de toda a humanidade: de todos os homens, de todas as mulheres e todas as crianças, em todos os lugares. Ninguém é deixado de fora. Há um Espírito no homem; é com Ele que nos sintonizamos, e então recebemos os frutos por alcançar o estado de consciência que nos permite realizar o ato de compromisso. Quer seja "deixar as nossas redes", "vender tudo o que temos para comprarmos a pérola de grande valor", ou deixar pai e mãe, há um ato de compromisso que nos une com Deus e ao homem.


quinta-feira, agosto 23, 2018

O Eu Místico - 9/12

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- Joel S. Goldsmith - 


O Eu Místico

CAPÍTULO 9
O TEMPLO QUE NÃO É FEITO POR MÃOS

Dentro de cada pessoa há a Identidade Crística, o Eu real. O objetivo do caminho espiritual é atingir a união consciente com esse Eu, isto é, atingir a realização do Cristo como a nossa Identidade. Isso requer de nós "morrer diariamente" para a nossa parte humana – que é a parte exterior –, a fim de que possamos renascer como essa Verdadeira Identidade. "Morrer" para o sentido limitado de nós mesmos e renascer como nosso Eu perfeito, o Cristo-Eu

Por outro lado, se pudermos superar o senso humano de "eu", se pudermos "morrer" para ele, se pudermos deixar de lado esse eu humano com a sua crença no bem e no mal, despertaremos para a nossa Verdadeira Identidade. Então para nós não haverá mais a questão de ter que demostrar uma cura ou o bem na vida de um pessoa ou na nossa.

Dentro de cada um de nós habita o Eu perfeito que nunca pecou, que jamais decaiu do céu, e que, portanto, nunca poderá ganhar ou entrar no céu. Este Eu perfeito já é o estado do céu; já está vivendo a vida perfeita, a vida espiritual, a vida do Cristo que nunca pode ser crucificado, que nunca poderá ser ressuscitado, e que nunca poderá ascensionar. Ele já é o Eu Perfeito, o Filho de Deus, ou o Cristo dentro de nós. Este Eu foi chamado de o "maná escondido", a "pérola de grande valor", o manto da imortalidade.

Esse Filho de Deus é você; e também sou eu. Na verdade, Ele é o nosso Eu. Não é necessário consertá-Lo; nós não temos que demonstrar nada para Ele; nós não necessitamos curá-Lo; nós não podemos sequer fazê-Lo progredir ou evoluir. Nós podemos, contudo, trazer à nossa experiência a Luz deste Eu perfeito – o nosso Eu Crístico. Mas, a fim de conseguirmos isso, nós não entramos em meditação com a ideia de lidar com um problema exterior, pois o nosso objetivo espiritual não é desenvolver um "eu" que se tornou livre de problemas, mas sim "morrer" para esse "eu" que os tem ou não os tem, e renascer para o nosso Ser já perfeito.


Para Ajudar Espiritualmente, Rejeite Todos os Conceitos

Quando entramos em meditação, não podemos levar conosco qualquer pensamento sobre o problema. Isso aplica-se a qualquer pessoa ou situação. Por exemplo, se tivermos filhos ou netos, e quisermos ser de alguma ajuda para eles, não faremos isso dando-lhes algum conselho ou ensinamento exterior, mas sim mediante a nossa realização interior; e assim devemos compreender que temos de afastá-los do pensamento. Não consideremos eles em nossos pensamentos como se fôssemos melhorá-los, ou como se fôssemos ajudá-los; ao invés disso, logo ao sentarmos em meditação, perceberemos instantaneamente que: 

"Não há nenhum indivíduo tal como eu vejo com os olhos da minha mente. Não existe um tal 'eu', não há uma tal pessoa, porque aquele conceito que a minha mente está vendo (criando) não é a imagem e semelhança de Deus. Isso não é criado por Deus; é o falso senso do 'eu' com o qual estou me entretendo ao olhar para essa criança.

A verdade real é que Deus criou este filho à Sua própria imagem e semelhança, como puro Ser Espiritual  a própria manifestação do Ser de Deus expressa como esta criança, a própria Imortalidade sendo expressa como esse ser individual –, ela é a Totalidade de Deus revelada como esse indivíduo, não criado, mas revelado; ela é o Eu de Deus a incorporar apenas as qualidades de Deus, e corporificando todas as quantidades de Deus.

"Filho, tudo o que tenho é teu..."  tudo, e não apenas um pouco dEle. Deus não pode ser dividido, de modo a ter uma pequena quantidade de Si colocada nesta criança. Toda a natureza de Deus, toda a natureza espiritual, está sendo expressa como este indivíduo  toda a natureza de Deus, toda a natureza espiritual, toda a natureza incorpórea, toda a natureza eterna e imortal de Deus está agora 'aparecendo como'.

Minha função, então, é familiarizar-me com esta criança do modo como ela realmente é, ao invés de continuar a vê-la como uma identidade humana. Eu permito a mim mesmo esquecer a imagem (conceito) que criei desta criança, e permito-me conhecê-la. Agora apenas comungo com esta descendente de Deus e a conheço como realmente é.

Eu rejeito todos os meus conceitos prévios sobre esta criança. Não tenho interesse na opinião do mundo sobre ela, nem mesmo na opinião dela própria sobre si mesma. O que eu estou procurando agora é que Deus revele a mim o nome e a natureza desta criança, que Ele revele a mim a Verdadeira Identidade desta criança".


Levante o Filho de Deus

Você notará que não nenhum dos problemas da criança foi considerado em nosso pensamento; nenhum pensamento sobre o corpo ou a mente da criança. Tudo que nós estamos celebrando é a imagem e semelhança de Deus que a criança está manifestando: a natureza espiritual de Deus em toda a Sua plenitude. Nós não sabemos o que é essa descendência espiritual, ou o como é essa descendência espiritual, mas em nossa meditação, estamos pedindo a Deus para revelar o seu nome, sua natureza e identidade para nós.

"Não estou lidando com uma criança bondosa ou uma criança maldosa; eu não estou a comungar com uma criança inteligente ou uma criança não tão inteligente: eu estou comungado agora com o Filho de Deus, o Santo de Israel, o  Eu Perfeito, o Cristo de Deus, com a descendência espiritual de Deus.

Seu corpo não é físico. Não sabeis que o vosso corpo é o Templo de Deus, e que Deus está nesse Templo, espiritual, harmonioso, inteiro? Sois o Perfeito de Israel, o Perfeito da Família de Deus. Este é o Ser que estou conhecendo; e é com Ele que estou me comunicando.

A terra que você deve habitar não é um país com uma bandeira. Teu é o Reino de Deus. Teu é o Reino espiritual, que é povoado com o próprio Ser de Deus, infinitamente manifestado, a Vida de Deus infinitamente vivida. Tua família não é de pais, irmãos e irmãs humanos. Tua família está na Casa de Deus, no Templo de Deus".

Podemos meditar por nossa esposa ou marido, mãe ou pai, irmã ou irmão, ou para nosso vizinho: o vizinho que habita ao nosso lado, ou o vizinho que mora do outro lado do oceano. Inicialmente, nossa meditação pode ser para todos os nossos vizinhos amigáveis, e então podemos passar a orar pelos nossos vizinhos hostis. Mas em qualquer caso não estaremos meditando para mudar a humanidade do mal para o bem, nem para convertê-la de doente em sadia, ou da pobreza à riqueza. Em cada caso, estaremos meditando para conhecer verdadeiramente o nosso próximo: o próximo que devemos amar e que, no cenário humano, achamos, às vezes, que é impossível amar.

Em minha verdadeira identidade, Eu sou aquele Cristo, aquele Perfeito que você é. Mas se eu olhar para mim mesmo da forma como eu pareço ser, eu sei quão rápido eu falharei. Independentemente de onde eu humanamente possa estar no Caminho Espiritual, "eu" estou muito, muito distante do meu Estado Crístico, e isso eu sei melhor do que ninguém. Se você não sabe isso sobre si mesmo, é hora de acordar e perceber que sua humanidade não é a manifestação e a plenitude do que espiritualmente você realmente é, assim como a noite não é como o dia. Você, de fato, nem conhece a natureza do seu Verdadeiro Ser. O único guia/parâmetro espiritual que você possui é um estado de boa humanidade, mas isso não é o suficiente, porque nem mesmo a melhor humanidade possível tem sequer um traço espiritual nela.


Vá Além da Demonstração de uma Boa Humanidade

Você deve ir além da humanidade. Você deve ir além da melhor humanidade jamais conhecida para poder encontrar a Identidade Espiritual. Você tem que ser capaz de apagar do seu pensamento as suas qualidades mais amorosas, mais generosas, mais amigáveis. Tudo isso precisa sair a fim de que você possa dizer: "Ah, sim, mas como é a Identidade Espiritual? Como é o Ser Espiritual? Estou tentando descobrir o que o Mestre quis dizer, quando declarou: 'Eu vos dou a minha Paz'. Que tipo de Paz nossa Identidade Espiritual pode dar? Que tipo de Paz é essa?"

Você deve pensar além da demonstração de uma humanidade saudável, uma humanidade rica, ou uma humanidade feliz. Você deve perfurar o véu da ilusão que o separa da realização de seu Eu imortal, o seu Eu Crístico, sua Identidade Real, o Eu perfeito que você é  que não tem qualidades de boa humanidade ou má humanidade.

Novamente chegamos à palavra "eu" e aos dois modos possíveis de usá-la. Existe o "eu" que diz respeito à nossa humanidade. Esse é o "eu" que tem problemas e que está sempre buscando superar alguma coisa. Mas há aquele outro Eu que nunca teve um problema, que nunca nasceu e que nunca morrerá. É o Eu que Eu Sou, o Eu que constitui a nossa identidade espiritual, que está sob a Lei de Deus. É o Eu que espiritualmente somos, e que vive pela Graça; e sempre que em meditação pensarmos em nossos filhos, em um paciente, em um estudante ou em um membro de nossa família, é com esse Eu que estaremos comungando e celebrando. Não é nosso objetivo comungar com a humanidade dessas pessoas. Nós não temos interesse nisso, seja ela boa ou ruim. Estamos buscando entrar em comunhão espiritual com o Cristo deles, com cada Ser Perfeito que está escondido atrás de suas aparências externas.


Deixe "eu" "Morrer" para que Eu Possa Ser Revelado

Se, ao meditar, eu pensar em mim mesmo ou em um ser humano que eu gostaria de curar, enriquecer ou fazer feliz, então estou de volta ao mundo metafísico, e provavelmente até mesmo ao estado psicológico ou psiquiátrico do mundo, que tem como objetivo melhorar um ser humano, mas geralmente o seu benefício não é permanente. Mas se eu estou no Caminho Espiritual, eu vou para dentro e deixo ir esse eu humano  esse sentido humano de "eu" , e me recuso a fazer qualquer tentativa de melhorá-lo, curá-lo, corrigi-lo, purificá-lo ou enriquecê-lo. Eu ignoro as aparências e permaneço neste Eu

"O Eu que Eu Sou tem domínio espiritual. Eu que Eu Sou vive pela Graça e é Um com a Graça de Deus. Eu já tenho o pão; Eu já tenho a totalidade da harmonia espiritual, da Graça espiritual, da Vida espiritual e do Amor espiritual. Eu já sou o alimento, o vinho e a água. 

Eu já sou a Ressurreição: Eu sou o Ascensionado; Eu sou o Perfeito. Por virtude da minha União com o Pai, já estou revestido de imortalidade; Eu já Sou um Ser Eterno. Minha Unicidade  aquele relacionamento original que me foi dado no início , estabelece-me no Céu.

Esse Eu nunca nasceu e não tem necessidade de contar datas de nascimento. Esse Eu nunca morrerá, e não precisa se preocupar com o futuro. Ele já tem uma existência imortal e eterna, e não faz nenhuma diferença se vive na Inglaterra, nos Estados Unidos, na África, ou como Ele é chamado neste lado ou no outro lado do mundo: esse Eu que Sou é ainda o Eu. Ele olhou para o mundo através de meus olhos quando eu tinha um ano de idade; olhou para o mundo o mundo através de meus olhos quando eu tinha trinta anos; e está testemunhando o mundo através de meus olhos agora, neste instante. E posso assegurar-lhe que o Eu que Eu Sou estará vivendo e testemunhando o mundo daqui a mil anos, ou a um milhão de anos a partir de agora, porque Eu e o Pai somos Um, e não dois.

Toda a imortalidade que o Pai é, Eu Sou; toda a eternidade que o Pai é, Eu Sou; toda a espiritualidade que o Pai é, toda a invisibilidade que o Pai é, Eu Sou. Eu já Sou o Ressuscitado".

Através dessa meditação eu deixei que aquele "eu" com todos os seus problemas morresse, até que se ausentasse completamente de minha consciência. E se você fizer o mesmo e persistir nisso, um dia ele não tornará a aparecer, não invadirá o interior de sua mente. Isso pode ajudá-lo a entender o Mestre, quando ele fala a partir do estado de consciência do Eu. Provavelmente foi na primeira parte de seu ministério que ele disse: "Eu, de mim mesmo, nada posso fazer... Se eu der testemunho de mim mesmo, então meu testemunho não é verdadeiro". Mas agora você pode entender melhor como é que mais tarde ele pôde dizer: "Aquele que me vê, vê o Pai... Eu e meu Pai somos Um".

Agora você O verá ascenso/ressuscitado antes da Crucificação, ascenso na Realização ou Consciência de sua Verdadeira Identidade. Agora, Ele está olhando de lá de cima: não para um homem com problemas, ou para um homem com um futuro, ou para um homem com uma missão. Agora, Ele é apenas a imagem e semelhança de Deus, dizendo: "Aquele que me vê, vê o Pai... Eu e meu Pai somos Um". Porque aquele outro "eu" caiu, e agora o seu Eu espiritual está brilhando.


"Eu" Tem Inteligência Infinita e Capacidade Ilimitada

Não há dúvida de que os pais têm alguma preocupação quanto ao grau de inteligência de seus filhos. Cada criança é classificada na mente de seus pais, rotulada com um A, B, C, D, E, F, ou qualquer outra coisa, no que diz respeito à conduta e às realizações intelectuais. Eles classificam a criança como brilhante, medíocre, ou abaixo da média. Eles não podem ser de alguma ajuda para ela, uma vez que estão sempre observando a criança a partir do nascimento, comparando-a com seus ideais de perfeição. Claro que ela não é isso, e muitas vezes eles a degradam desde o início. Então a criança vai para a escola e começa a refletir a imagem na qual seus pais a prenderam.

Ninguém pode mudar a inteligência de uma criança por querer que ela seja brilhante, nem pode uma criança má tornar-se uma boa criança apenas por se desejar que ela seja boa. A experiência já provou que há apenas uma maneira, que é deixarmos a criança de fora dos pensamentos por tempo suficiente para meditar, a fim de que comecemos a ver o Eu, e perceber que essa criança é o mesmo Eu que Eu Sou. Essa criança é descendente do mesmo Pai que somos. Há apenas um Princípio Criativo, um Ser Infinito, Divino, e todos nós somos esse Ser Divino e Inteligência Divina, em essência e em expressão.

Quando passamos a celebrar e comungar com a identidade espiritual dessa criança, podemos observar a mudança que ocorre em suas atividades acadêmicas. Por quê? Não por termos melhorado a sua capacidade intelectual, mas por termos posto de lado sua (suposta) falta de capacidade intelectual, e por termos unicamente contemplado sua Identidade Crística. Foi quando, então, este Eu passou a brilhar agora no desempenho escolar, nas atitudes e no comportamento.


Cristandade, o Único Relacionamento Permanente 

O mesmo deve ocorrer ao meditarmos por nossos vizinhos. Não estamos a tentar aperfeiçoá-los; nem estamos tentando torná-los melhores pessoas. É por isso que não fazemos proselitismo, nem tentamos convertê-los para aquela que pensamos ser a melhor religião. Não há maior ou melhor religião. Só há uma coisa que faz surgir a harmonia divina, e isso é a Cristandade (natureza crística). Essa é a única base sobre a qual podemos formar uma relação permanente de fraternidade. O único relacionamento permanente está na nossa Cristandade, porque não importa quão humanamente bons possamos ser, algum dia algo vai surgir e atingirá o "eu" pessoal, e então surgirão discordâncias e conflitos.

Este "eu" humano que responde a uma situação ficando zangado ou ressentido com alguém é a natureza humana que precisa ser abandonada. A razão pela qual é difícil fazer isso é que às vezes gostamos de estar com raiva, e muitas vezes encontramos satisfação no ressentimento. Quando lemos a história de pessoas ditadoras e tiranas, sentimos prazer em pensar num poder ou torcer por um acontecimento que os derrubasse e os pusesse em seu devido lugar. Todos nós temos momentos nos quais visualizamos algum tirano sendo colocado de joelhos e recebendo a nossa vingança. Mas quem está a fazer isso é o "eu" humano em nós reagindo ao cenário, o "eu" que não tem o menor direito de estar em cena.

A verdade é que o "Eu" é a encarnação de todas as qualidades de Deus. Mas como eu me atreveria a fazer uma declaração dessas sobre mim mesmo, conhecendo-me humanamente como sou? De que modo eu ousaria fazer essa declaração para mim mesmo, a menos que eu também faça isso em relação a você? Como eu poderia dizer que "eu" incorporo todas as qualidades de Deus, que "eu" sou tão eterno como Deus, tão imortal como Deus, que "eu" sou o Cristo, Filho de Deus? Como eu ousaria dizer isso e deixar de fora qualquer indivíduo em qualquer lugar da terra  passado, presente ou futuro –, qualquer indivíduo no inferno ou no céu? Não, eu não me atrevo! Eu não ouso! Seria perversidade espiritual de minha parte anunciar a minha Cristandade e me recusar a aceitar este fato como Verdade Universal. Deus está oferecendo a cada indivíduo na face da Terra a possibilidade de despertar para sua Verdadeira Identidade. "Desperta, tu que dormes!" A Cristandade é nossa Verdadeira Identidade  não é humanidade boa, nem humanidade ruim.

Mais cedo ou mais tarde, você deverá estar disposto a afastar esse "eu" que está cheio de erros mundanos  ressentimentos, injustiças, desigualdades , e declarar dentro de si mesmo: "Estou pronto para assumir a minha Verdadeira Identidade. Eu estou pronto para despertar para a Luz do meu próprio Ser. Estou disposto a aceitar a declaração do Mestre de que eu não chamarei a nenhum homem na terra de meu 'pai', mas reconhecerei a Filiação Divina que me foi legada".

Até que você realize essa verdade em si mesmo, como você poderá amar ao teu próximo como a ti mesmo? Você nem sequer começou a amar a si mesmo! Você não ama a si mesmo até que reconheça sua Verdadeira Identidade. Não é exigido que você ame o seu eu humano, porque mesmo que o seu eu humano seja sumamente bom, ele ainda não é bom ou qualificado o suficiente.


O Julgamento Justo

Não é o seu "eu" humano que você deve amar. Você deve amar somente a Deus e Seu universo, Seu mundo, Sua criação. Você deve amar somente a Deus e Sua descendência. Você deve amar somente sua Identidade Espiritual, porque Ela é o seu Eu Perfeito. Então, a menos que você seja um dos poucos fanáticos do mundo que acreditariam que essa verdade se refere a eles exclusivamente, você começará a olhar ao redor e passará perceber: "Eu tenho julgado com base nas aparências. Eu tenho usado a escala do bem e do mal  a própria coisa que nos lançou fora do Jardim do Éden. Eu tenho me agarrado/me apegado à própria barreira que me separa do céu. Agora, sem julgar pelos parâmetros do bem e do mal, Eu julgarei o julgamento justa. E o que é o julgamento justo exceto o conhecimento de minha Verdadeira Identidade?"

Não é julgamento justo pensar sobre si mesmo como quase bom, ou como três quartos bom. Não é julgamento justo ver uma pessoa de trinta anos e dizer: "como você é jovem!", e depois olhar para outra de sessenta e dizer: "nossa, como você está envelhecendo!". Isso não é julgamento justo. O juízo justo é ser capaz de olhar para os jovens e os idosos e ver a Cristandade, Imortalidade, Eternidade, Perfeição Espiritual. Então você descobre que todas essas qualidades não são tuas e nem minhas como pertences pessoais: são nossa pela Graça, elas são o dom de Deus.

É por isso que a humildade é sempre enfatizada em um ensinamento espiritual. Humildade significa reconhecimento de que quaisquer qualidades divinas que você possa ter, isso não é proveniente de você; você não as criou, você não é a fonte.  Elas são dadas a você como um dom de Deus. Se você tem Imortalidade, Eternidade, se você tem algum grau de Pureza ou Integridade, são dons dados por Deus. Mas são dons dados a todos igualmente. O fato de que aqui e ali possa haver os que não estão expressando esses dons, ou que aqui e ali você e eu não os estamos expressando plenamente, isso não está em questão neste momento.


Eu Dentro de Você Veio

Aqui estamos lidando com a Verdade, a única Verdade que existe, que é a Verdade sobre sua Identidade e a minha Identidade. Quando você começa a conhecer a si mesmo como o EU QUE EU SOU, o Eu que é Um com Deus, o Eu que tem alimento que o mundo não conhece, o Eu que é o pão, o vinho e a água, o Eu que é a Vida Eterna  então você começa a viver uma nova vida, baseada na mais grandiosa de todas as revelações: "Eu vim para que todos tenham Vida, e que a tenham em abundância".

A partir do momento em que você reconhece isso, a sua vida muda. Você não está mais a procura de Deus; você não está mais buscando a Verdade. Em verdade, você estará procurando uma realização cada vez maior da Verdade que você já conhece, e almejando uma demonstração cada vez maior dela. Mas você já não estará mais buscando a Deus: agora você conhece Deus, e O conhece muito bem. "Eu vim para que todos tenham Vida". Esse Eu está dentro de você.

É por isso que o Mestre podia dizer: "O reino de Deus está dentro de vós". Agora não anda mais em círculos à procura de Deus; você não está à procura do bem. Você vive na Consciência do Eu que está presente dentro de você, e cuja função é fazer com que você viva espiritualmente e eternamente. Você tão somente comunga com esse Eu.


Descarte a Humanidade do "eu" e Realize o Eu

Quando você se volta para o seu filho, o seu neto, o seu marido, a sua esposa, ou vizinho, você sabe que o Eu que está dentro de cada um deles veio para que eles pudessem ser erguidos acima de todo o bem que a terra possui – elevados ao templo que não foi feito por mãos humanas, até uma Consciência que não feita por mãos humanas, até a Vida que não feita com mãos, um Corpo não feito com as mãos. Tudo isso é a função do Eu que está dentro de você, do Eu que está dentro de mim, do Eu que está em seu filho, em seu neto e nos outros membros de sua família. A menos que você esteja vivendo nesse Eu, você está apenas tentando separá-los humanamente, tornando-os um pouco melhores. Deixe a humanidade deles de lado, e vá para dentro a fim de perceber: "Obrigado, Pai. Eu no meio de mim sou poderoso. Eu no meio dele e dela, Eu no meio deles, Eu, no meio da Consciência humana, sou poderoso".

Esse Eu é o segredo da Vida. Esse Eu veio para que toda a raça humana possa ser elevada até o Templo que não foi feito com as mãos  não apenas para proporcionar ao mundo uma Paz temporária, não para proporcionar à Terra a paz como um intervalo entre as guerras, não apenas para conferir aos países algum período de crescimento neste ano. Não! Devemos ser erguidos em nossa Verdadeira Consciência através desta mensagem, uma Consciência que não tem graus de bem ou mal nela. Ela tem apenas infinita imortalidade, infinita eternidade.

Em todas essas meditações, nós ignoramos o sentido pessoal do "eu" que tem problemas e que deseja se ver livre deles, e nós trazemos à Luz o Eu que realmente somos  o Único que nunca nasceu, que não tem data de nascimento, que nunca vai morrer, e nunca teve um problema. O Mar Vermelho abre-se diante deste Eu. O maná cai do Céu. Por quê? Porque o Eu vive pela Graça  não pelo poder, mas pela Graça. Sem qualquer esforço humano, tudo aparece em sua devida ordem.

Em nossa meditação, devemos sempre lembrar que somos aquele Templo não construído por mãos. Isso nos capacita a ver além do corpo físico e atravessar qualquer aparência, em direção ao Eu no centro de nosso Ser.