"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

segunda-feira, outubro 31, 2011

Você agora já é o Ser

Ramana Maharshi


Pergunta: Nós temos ouvido falar de você, Maharshi, como a mais gentil e nobre das almas. Há muito tempo desejávamos ter seu Darshan. Eu vim aqui uma vez antes, no dia 14 do mês passado, mas não pude permanecer em sua santa presença tanto quanto eu desejava. Sendo uma mulher e também jovem, eu não pude aguentar apressão das pessoas ao meu redor, e assim parti às pressas depois de fazer uma ou duas perguntas simples. Não há homens santos como você em nossa parte do país. Sou feliz no que diz respeito a ter tudo o que quero. Mas não tenho aquela a paz de espírito que traz felicidade. Venho agora aqui em busca de sua bênção para que eu possa obter essa Paz.

Bhagavan: O Bhakti (a devoção) atenderia o seu desejo.

P: Quero saber como posso ganhar essa paz de espírito, essa paz mental. Por favor, faça a gentileza de aconselhar-me.

B: Sim - é necessário devoção e entrega.

P: Sou digna de ser uma devota?

B: Qualquer um pode ser um devoto. O caminho espiritual é comum a todos e nunca é negado a ninguém - seja a pessoa jovem ou velha, homem ou mulher.

P: É exatamente isso que estou ansiosa para saber. Sou jovem e dona de casa. Há deveres doméstico que devo desempenhar. A devoção está de acordo com tal posição como a minha?

B: Certamente. O que você é? Você não é o corpo. Você é a Pura Consciência. Os deveres domésticos e o mundo são apenas fenômenos aparecendo sobre essa Consciência Pura. Ela permanece inalterada. O que impede você de ser seu próprio Ser?

P: Sim, já estou familiarizada com a linha de ensinamentos do Maharshi. Trata da busca pelo Ser. Mas a minha dúvida persiste, tal busca é compatível com a vida de uma dona de casa?

B: O Ser está sempre aí. Ele é você. Não há nada além de você. Nada pode estar separado de você. A questão da compatibilidade ou coisas desse tipo não surge.

P: Vou ser mais definida. Apesar de ser uma estranha, sou obrigada a confessar a causa de minha ansiedade. Fui abençoada com filhos. Um menino - um bom brahmachari - faleceu em fevereiro. Fui assolada por uma grande agonia. Fiquei desgostosa com esta vida. Quero me dedicar à vida espiritual. Mas meus deveres como dona de casa não me permitem levar uma vida retirada. Daí vem a minha dúvida.

B: Retirar-se significa a permanência no Ser. Nada mais. Não significa deixar um conjunto de condições circundantes e se emaranhar em outro conjunto, nem mesmo deixar o mundo concreto e se envolver em um mundo mental. O nascimento do filho, a sua morte, etc., são vistos no Ser somente. Lembre-se do estado de sono. Você estava ciente de algo acontecendo? Se o filho ou o mundo fossem reais, eles deveriam estar presentes com você no sono. E você não pode negar a sua existência no sono. Também não pode negar que você estava feliz naquele estado. Você é a mesma pessoa falando agora e levantando questões. Você não está feliz, de acordo com você. Mas você estava feliz no sono. O que aconteceu nesse meio tempo que fez a felicidade do sono ser quebrada? Foi o aparecimento do ego. Essa é a nova chegada no estado Jagrat. Não havia ego no sono. O nascimento do ego é chamado de o nascimento da pessoa. Não há outro tipo de nascimento. Qualquer coisa que nasça está fadada a morrer. Mate o ego: não há medo recorrente da morte para o que foi uma vez morto. O Ser permanece mesmo após a morte do ego. Isso é a Bem-aventurança - isso é a Imortalidade.

P: Como isso deve ser feito?

B: Veja para quem estas dúvidas existem. Quem é o sujeito da duvida? Quem é o pensador? É o ego. Mantenha-se com ele. Os outros pensamentos vão morrer. O ego é deixado puro, ver de onde surge o ego. Essa é consciência pura.

P: Isso parece difícil. Podemos proceder pelo caminho do Bhakti?

B: Isso é de acordo com o temperamento individual e com o histórico da pessoa. O Bhakti é o mesmo que o Vichara (a auto investigação).

P: Eu quero dizer a meditação, etc.

B: Sim. A meditação é em uma forma. Isso irá afastar os outros pensamentos. O pensamento único de Deus vai dominar os outros. Isso é a concentração. O objeto da meditação é, portanto, o mesmo que o do Vichara.

P: Nós vemos Deus em uma forma concreta?

B: Sim. Deus é visto na mente. A forma concreta pode ser vista. Ainda assim, é apenas na mente do devoto. A forma e a aparência da manifestação de Deus são determinadas pela mente do devoto. Mas essa não é a finalidade. Nesse caso há a sensação de dualidade. É como uma visão em um sonho. Depois que Deus é percebido, o vichara começa. E ele termina na Realização do Ser. Vichara é a rota final. Mas claro, poucas pessoas acham o vichara praticável. Outros acham o Bhakti mais fácil.

P: O Sr. Brunton não encontrou você em Londres? Isso foi apenas um sonho?

B: Sim. Ele teve a visão. Ele me viu em sua mente.

P: Ele não viu esta forma concreta?

B: Sim, mas, ainda assim, em sua mente.

P: Como hei de alcançar o Ser?

B: Não existe alcançar o Ser. Se o Ser fosse para ser atingido, significaria que o Ser não está aqui e agora, que deveria ser obtido de nova maneira. O que é obtido também será perdido. Por isso será impermanente. Não vale a pena lutar por aquilo que não é permanente. Portanto eu digo: o Ser não é atingido. Você é o Ser. Você já é Aquilo. O fato é que você é ignorante de seu estado bem-aventurado. A ignorância sobrepõe-se e coloca um véu sobre a pura Bem-Aventurança. As tentativas são direcionadas somente para remover essa ignorância. Essa ignorância consiste no conhecimento errado. O conhecimento errado consiste na falsa identificação do Ser com o corpo, com a mente, etc. Essa identidade falsa deve sair de cena e ali remanecerá o Ser.

P: Como é que isso acontece?

B: Isso acontece ao se inquirir sobre o Ser.

P: É difícil. É possível para mim Realizar o Ser, Bhagavan? Gentilmente me diga. Parece tão difícil.

B: Você já é o Ser. Portanto, a Realização é comum a todos. A Realização não conhece diferença nos aspirantes. Esta própria dúvida: "posso Realizar?" Ou o sentimento: "eu não Realizei" são os obstáculos. Livre-se deles também.

P: Mas deve haver a experiência. A menos que eu tenha a experiência como eu poderei livrar-me desses pensamentos que me afligem?

B: Eles também estão na mente. Estão lá porque você identificou a si mesma com o corpo. Se essa falsa identidade desaparecer, a ignorância desaparecerá e a Verdade será revelada.

P: Posso engajar-me na prática espiritual mesmo permanecendo em Samsara?

B: Sim, certamente. Devemos fazê-lo.

P: Samsara não é um obstáculo? Todos os livros sagrados não defendem a renúncia?

B: Samsara está apenas em sua mente. O mundo não diz: 'eu sou o mundo ". Caso contrário, ele deveria estar sempre aí - sem excluir o seu sono. Uma vez que ele não existe no sono, ele é impermanente. Sendo impermanente ele não tem resistência. Não tendo resistência, ele é facilmente subjugado pelo Ser. Somente o Ser é permanente. A renúncia é a não-identificação do Ser com o não-Ser. Com o desaparecimento da ignorância o não-Ser deixa de existir. Essa é a verdadeira renúncia.

P: Por que, então, em sua juventude você deixou sua casa?

B: Esse é o meu destino (prarabdha). Nossa linha de conduta nesta vida é determinada por nosso destino. Meu destino era assim. Seu destino é dessa forma.

P: Eu não deveria também renunciar?

B: Se esse tivesse sido o seu destino a questão não teria surgido.

P: Eu deveria, portanto, permanecer no mundo e engajar-me na prática espiritual . Bem, posso conseguir a Realização nesta vida?

B: Isso já foi respondido. Você é sempre o Ser. Os esforços sinceros nunca falham. O sucesso está fadado a resultar.


domingo, outubro 30, 2011

Eu real x eu irreal

Ramana Maharshi

Bhagavan: O jnani (sábio) diz: "eu sou o corpo" e o ajnani (ignorante) também diz: "eu sou o corpo", mas em que está a diferença? O "Eu Sou" é a verdade. O corpo é a limitação. O ajnani limita o "eu" ao corpo. Durante o sono profundo, o 'Eu' permanece independente do corpo . O mesmo "Eu" está agora no estado de vigília. Embora seja comum pensar que ele está dentro do corpo, o "Eu" existe sem o corpo. A noção errada não é o 'eu sou o corpo', é o 'Eu' que diz isso. O corpo por si mesmo é inerte (inanimado) e não pode dizer isso. O erro está em pensar que o 'Eu' é o que ele não é. O 'Eu' não é inerte. O 'Eu' não pode ser o corpo inconsciente. Os movimentos do corpo são confundidos com o 'Eu' e o resultado disso é a miséria . Esteja o corpo funcionando ou não, o "Eu" permanece livre e feliz. O 'eu' do ajnani é apenas o corpo. Esse é todo o erro. O "Eu" do jnani inclui o corpo e tudo mais. Claramente alguma entidade intermediária surge e dá origem à confusão.

Pergunta: Se o jnani diz "eu sou o corpo", o que lhe acontece na hora da morte?

B: Mesmo agora ele não se identifica com o corpo.

P: Mas você disse há pouco que o jnani diz: "eu sou o corpo."

B: Sim. Seu "eu" inclui o corpo. Pois não pode haver nada separado do 'Eu' para ele. Se o corpo se vai, não há perda para o 'Eu'. O 'eu' permanece o mesmo. Se o corpo sentir-se morto deixe-o levantar a questão. Sendo inerte ele não pode fazê-lo. O "Eu" nunca morre e não faz a pergunta. Quem então morre? Quem faz perguntas?

P: Para quem são todas escrituras (sastras) então? Elas não podem ser para o Eu real. Elas devem ser para o 'eu' irreal. O Eu real não as requer. É estranho que o 'eu' irreal tenha tantas sastras direcionadas para si.

B: Sim. É isso mesmo. A morte é apenas um pensamento e nada mais. Aquele que pensa é que traz problemas. Deixe o pensador nos dizer o que acontece com ele na morte. O verdadeiro "Eu" é silencioso. Não se deve pensar "eu sou isto - eu não sou aquilo". Dizer 'isto ou aquilo" é errado. Essas também são limitações. Apenas o "Eu Sou" é a verdade. O silêncio é o 'Eu'. Se uma pessoa pensa "eu sou isso ", outra pensa "eu sou isso" e assim por diante, há um choque de pensamentos e as tantas religiões são o resultado. A verdade permanece como é, ela não é afetada por quaisquer declarações, conflitantes ou não.

P: O que é a morte? Não é o desaparecimento do corpo?

B: Você deseja saber isso durante o sono? O que está errado então?

P: Mas eu sei que vou acordar.

B: Sim - novamente o pensamento. Há o pensamento precedente "eu irei acordar". Os pensamentos governam a vida. A liberdade de pensamentos é a nossa verdadeira natureza - a Graça.

B: A ignorância (ajnana) é de dois tipos:

(1) O esquecimento do Ser.
(2) A obstrução ao conhecimento do Ser.

As ajudas e apoios são destinados a erradicar os pensamentos; estes pensamentos são as manifestações de predisposições remanescentes na forma embrionária, eles dão origem à diversidade da qual todos os problemas surgem. Essas ajudas são: ouvir a Verdade transmitida pelo mestre (sravana), etc. Os efeitos de sravana podem ser imediatos e o discípulo percebe a Verdade de imediato. Isso só pode acontecer para o discípulo bem avançado. Caso contrário, o discípulo sente que é incapaz de perceber a Verdade, mesmo depois de ouvi-la repetidamente. Isso se deve a quê? Às impurezas em sua mente, à dúvida, à ignorância e à identidade errônea; esses são os obstáculos a serem removidos.

(a) Para remover a ignorância completamente, ele tem de ouvir a Verdade repetidamente, até que seu conhecimento sobre o assunto em questão torne-se perfeito. (b) Para remover as dúvidas, ele deve refletir sobre o que ouviu até que seu conhecimento fique livre de dúvidas de qualquer espécie. (c) Para remover a identidade errada do Ser com o não-Ser (com o corpo, os sentidos, a mente ou o intelecto) sua mente deve tornar-se unidirecionada.

Uma vez que todas essas coisas forem realizadas, os obstáculos são exterminados, e com isso resulta o estado de Samadhi, isto é, a Paz reina. Alguns dizem que nunca devemos deixar de nos envolvermos no processo de ouvir a Verdade, de refletir sobre o conhecimento e de manter a unidirecionalidade. Isso não é realizado ao lermos livros, mas apenas pela prática continuada de manter a mente afastada (separada).

O aspirante pode ser kritopasaka ou akritopasaka. O primeiro está apto a realizar o Ser, mesmo que com o menor estímulo: apenas algumas pequenas dúvidas impedem seu caminho e são facilmente removidas se ele ouve uma vez do Mestre a Verdade. Imediatamente ele ganha o estado de Samadhi. Presume-se que ele já havia concluído o sravana, a reflexão, etc em nascimentos anteriores, eles não são mais necessários para ele. Para o outro todas essas ajudas são necessárias; para ele as dúvidas surgem mesmo depois de ouvir repetidas vezes, por isso ele não deve desistir dessas ajudas até que ganhe o estado de Samadhi. O Sravana remove a ilusão do Ser como sendo o mesmo que o corpo, etc. A reflexão deixa claro que o Conhecimento é o Ser. A unidirecionalidade revela o Ser como sendo Infinito e Bem-aventurado.


domingo, outubro 23, 2011

Eckhart Tolle conversa com Neale Donald Walsch



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quinta-feira, outubro 20, 2011

Manifestando a capacidade infinita


Masaharu Taniguchi


Noda – Outro dia comentei a respeito da Seicho-No-Ie com o sr. Ishikawa, presidente da editora que publica a revista feminina Shufu no Tomo. Ele acha que cada homem deve dedicar-se apenas a uma única ocupação e disse-me o seguinte:

“O sr. Taniguchi, que prega o modus vivendi da Seicho-No-Ie, edita sua revista e tem outra atividade paralela. Então não se pode dizer que ele dedica sua vida totalmente à Seicho-no-Ie. Enquanto não se entregar apenas à Seicho-No-Ie, não poderá afirmar: ‘eu vivo da Seicho-No-Ie para a Seicho-No-Ie’. Quando observo o sr. Taniguchi, ele parece dizer: ‘Não vivo da revista; tenho outros meios de sustento’, e aí está a falha. Se ele dedicar sua vida apenas à Seicho-No-Ie, com a determinação de viver somente da revista, o número de leitores aumentará e a salvação se estenderá a maior número de pessoas. Ele precisa dar o exemplo de dedicação total ao empreendimento, eliminando todos os outros meios de sobrevivência. Se a manutenção da Seicho-No-Ie depender de recursos que ele obtém por meio de outras atividades, a revista deixará de ser editada caso ele perca o emprego. Se ele não se preocupa com a venda da revista por possuir outro meio de sustento, não se pode dizer que está se dedicando de corpo e alma ao empreendimento. Por conseguinte, não consegue atrair grande número de leitores, embora os artigos contidos na publicação sejam da melhor qualidade. A sua atitude de completo desinteresse pelos lucros comerciais merece elogios, mas carece de força para aumentar o número de leitores. Se o sr. Taniguchi deseja realmente aumentar o número de leitores, terá de deixar a outra ocupação. Resumindo, o conteúdo da Seicho-No-Ie possui Vida, mas infelizmente não se pode dizer o mesmo da editoração, porque esta não conta com a dedicação total do sr. Taniguchi."

Taniguchi – É uma opinião que merece respeito, uma vez que parte de um profissinal do ramo. Ele está certo quando diz que é necessária dedicação total de nossa vida a uma coisa só. A Seicho-No-Ie sempre tem defendido esse ponto de vista. Porém, a questão está em a que devo dedicar minha vida. Os objetivos da Shufu no Tomo e da Seicho-No-Ie são diferentes. Não é minha intenção dedicar a minha vida na atividade comercial de aumentar o número de leitores. Se eu almejar recursos para o meu sustento através da revista Seicho-No-Ie, poderei, como diz o sr. Ishikawa, “viver da Seicho-No-Ie para a Seicho-No-Ie”, mas ficarei totalmente dependente dessa publicação. A revista criada para salvar a humanidade desvirtuar-se-á de sua função e se transformará em instrumento de progresso e ambição pessoais. Então a revista Seicho-no-Ie, por mais que aumente o número de leitores, tornar-se-á uma revista espiritualmente morta.

Naturalmente, gostaria de ver aumentado o número de leitores da Seicho-No-Ie, mas não para melhorar a situação econômica da revista. Meu desejo é estender a salvação ao maior número possível de pessoas. Se pensam que tenho uma atividade paralela por não conseguir viver só com a publicação da revista, estão completamente enganados. Não sou eu quem irá ter dificuldades se a revista não se expandir, e sim um grande número de pessoas que habitam a humanidade. O ser humano que conscientizou ser filho de Deus não passa por dificuldades em hipótese alguma. Não há como um filho de Deus passar dificuldades. Descobri o meio de não passar dificuldades em circunstância alguma.

O sr. Ishikawa, quando tece críticas dizendo que a revista Seicho-No-Ie não conta com minha dedicação total, aparentemente está correto, mas está longe de compreender o objetivo da Seicho-No-Ie. Esta não nasceu para desenvolver uma atividade comercial. Minha vida, que é de um trabalhador comum, é exatamente igual à da maioria da humanidade. Mesmo assim, com a maior parte do meu tempo comprometida com meu emprego, consigo cumprir a missão de levar a luz à humanidade. Este é o caminho que desbravei. Descobri o meio de desenvolver a capacidade infinita que o homem possui como filho de Deus que é. O “modo de viver” da Seicho-No-Ie é valioso justamente porque pode ser praticado por quaisquer pessoas de qualquer profissão ou condição social. Se fosse para dar o exemplo de que não tenho outro meio de vida senão o da publicação de revistas, não teria sentido divulgar a Seicho-no-Ie.

Por mais que se amarre o homem com a corda chamada “profissão”, ele sempre poderá estender a mão para salvar o próximo. O importante é ter liberdade para realizar o que se pretende, mesmo estando amarrado. A maioria das pessoas pensa que não tem condição para ajudar os outros por estar totalmente presas a seus afazeres como um escravo de sua profissão. Mas o homem pode ajudar o próximo, qualquer que seja a sua ocupação. Eu, apesar de estar amarrado a meu emprego, consigo iluminar a vida de meus semelhantes, dando-lhes conselhos e curando seus males, além de redigir os artigos da revista Seicho-No-Ie. Isto é possível porque a Vida é infinita, porque o homem é filho de Deus. Quanto mais ele usa a Vida, mais ela se desenvolve. Demonstrar essa Verdade através da minha própria experiência é a finalidade atual da minha vida. Sei que a dedicação exclusiva a um empreendimento é a lei áurea do progresso. Entretanto, se tiver de me recusar a prestar qualquer serviço benéfico ao próximo sob o pretexto de estar me dedicando única e exclusivamente a uma determinada atividade, estarei admitindo que o homem é um ser limitado que não possui liberdade nem flexibilidade.

Recentemente, recebi uma carta de certa senhora cujo marido é sericultor (criador de bicho-da-seda). Diz ela que sericultura é uma atividade que requer quase 24 horas de dedicação por dia, não permitindo descanso suficiente a ninguém. O trabalho é tão estafante que ela ficou neurastênica. Ela sente a cabeça zonza e encontra-se num estado de total depressão. Devido a esse estado, pediu à sogra para substituí-la nas tarefas noturnas, mas fica tão constrangida por incomodá-la, que prejudica mais a saúde. Se trabalha à noite, prejudica a saúde; mas se pede ajuda à sogra, o peso na consciência a deixa doente da mesma forma. Então deseja trocar a sericultura por um trabalho que lhe seja mais adequado como o de costureira, por exemplo, e termina a carta pedindo o meu conselho.

Minha resposta à carta dela foi: “Morra e viverá”. Surgiram-me estas palavras porque eu próprio estou vivendo uma vida que emergiu da morte. Dando prosseguimento, disse-lhe: “Eu também não acho que o trabalho que executo atualmente na empresa seja adequado para mim, mas consigo trabalhar tranquilamente. A senhora fala em “trabalho mais adequado”, mas poucos são os que possuem condições adequadas. A grande maioria da humanidade vive presa a uma ocupação que não é do seu agrado. Se eu vivesse comodamente, desempenhando uma profissão adequada, não teria condições morais para mostrar à humanidade que o homem pode ter uma vida satisfatória, mesmo estando preso a uma ocupação inadequada. Eu conclamo a humanidade: 'Se você está preso a um trabalho inadequado por necessidade de subsistência, não lamente! Embora uma parcela significativa de sua vida seja tomada por atividades necessárias à sua subsistência, isso não é motivo para lamentações. Cristo indicou o caminho quando nos exortou a caminhar duas milhas se alguém nos obrigasse a caminhar uma milha. Você possui algo que ninguém pode tomar-lhe e nem a morte poderá levar: é o seu Eu verdadeiro, a sua Vida. De resto, nada há que mereça consideração.'

Sinto-me à vontade para pregar isso porque eu próprio ando duas milhas quando sou obrigado a andar uma. Se sua família vive da sericultura e a senhora é obrigada a cultivar bichos-da-seda, essa ocupação corresponde a andar “uma milha” a que se refere Jesus Cristo. Então a senhora deve andar “duas milhas”. A primeira milha é a parte que se oferece a quem a exige; a segunda milha é a parte que se conquista voluntariamente e é esta que traz satisfação. Não diga que a senhora não tem força para caminhar duas milhas. Estou lhe dando o meu exemplo.

A força do ser humano, o qual é filho de Deus, não é limitada. Nossa força é como a água de um poço ligado a um lençol subterrâneo sem limites, que brota infinitamente à medida que retiramos. O volume de água acumulado no fundo do poço é limitado, pois o poço tem profundidade e área limitadas; com base nessas duas medidas, pode-se calcular o volume de água. E se alguém deixar de tirar essa água, pensando que com isso poderá secar o poço, o volume dessa água será realmente pequeno e limitado, exatamente como ele pensa. Mas, se ele acreditar que essa água está ligada ao lençol subterrâneo inesgotável e a retirar tranquilamente todos os dias, brotará o tanto que for retirado. A força vital que nos sustenta é semelhante à água do poço: torna-se limitada para quem a mede, mas é inesgotável para quem a usa sem medir.

Se a senhora sofre de neurastenia, é porque pensa que não está sendo benquista pelos outros e receia que eles a estejam criticando. Se tem esse receio, é porque não tem convicção de estar manifestando força total; fazendo uma autoavaliação, não consegue atribuir nota dez a si mesma. Por não estar manifestando plenamente a sua força, sente-se constrangida perante os outros, e esse constrangimento desgasta sua mente e provoca a neurastenia. A senhora raciona seu esforço porque mede sua força vital, considerando-a limitada. Não a meça e manifeste-a o quanto for necessário. Se lhe exigirem que a manifeste dez vezes, manifeste-a vinte vezes. Assim, tanto sua sogra como os outros ficarão contentes, a senhora não precisará viver constrangida o dia todo, sentir-se-á descontraída, e a neurastenia desaparecerá por si mesma.


Foi este o teor da resposta que lhe escrevi. Se ela continua medindo o volume da Vida com uma “balança” ou uma “régua”, deve continuar neurastênica ainda. Se, porém, aprendeu a usar a Vida sem medi-la, já deve estar curada.

O sr. Ishikawa pensa que a revista Seicho-No-Ie deixará de ser editada caso eu perca o emprego porque ela é mantida com o meu ordenado, mas devo dizer que ele está equivocado. A Seicho-No-Ie surgiu para provar que o homem pode levar luz aos semelhantes, mesmo estando com seu tempo integralmente tomado pelo trabalho profissional. A maioria das pessoas pensa que não pode ajudar o próximo porque trabalha como empregado ou porque sua profissão não lhe permite esse luxo. Eu também pensava assim e várias e várias vezes cogitei deixar o emprego. Mas um acontecimento desfez essa “superstição” e compreendi que posso ajudar o próximo mesmo tendo uma ocupação das mais árduas. Foi então que surgiu a Seicho-No-Ie. Por isso, atualmente não penso mais em fugir do emprego. Posso ajudar as pessoas, sem mudar as condições da minha vida.

Esse modo de viver pode ser praticado por toda e qualquer pessoa. Uma das grandes Verdades descobertas pela Seicho-No-Ie é que a Vida (essência) do homem é totalmente livre, desembaraçada, desimpedida. A Vida (o homem verdadeiro) tem liberdade e flexibilidade ilimitadas: se lhe fecharmos uma saída, ela sai por outra; se fecharmos todas as saídas, ela se infiltra no solo ou sobe para o céu tal como a água. Quaisquer que sejam as restrições impostas ou a situação em que se encontre, o homem sempre tem saída e possibilidade de ajudar o próximo.

Noda – Então o senhor pretende continuar eternamente nessa vida dupla, trabalhando como empregado e ditando a revista ao mesmo tempo?

Taniguchi – O único fato que está determinado é o de que a Vida (o homem) sempre vive. A forma de viver não está determinada. Quando se delimita a forma de viver, a Vida perde a liberdade. A Vida é admirável justamente porque pode ajudar os semelhantes, mesmo mudando sua forma de agir conforme mudem as circunstâncias e as pessoas. Se minha vida, dedicada à Seicho-No-Ie, fosse vida particular para satisfazer meu ego, seguiria o rumo que eu traçasse; porém, como se trata de vida que surgiu para realizar a vontade do Pai, terá de mudar conforme a vontade d’Ele. Existe a convicção de fazer a vontade do ego e a convicção de agir conforme o fluir da Vida do Universo, sob o apoio da Vida do Universo. Esta segunda é a convicção da Seicho-No-Ie. Chegando ao momento oportuno, pode ser que eu deixe a vida de empregado, mas de modo natural. Se a deixar com a ambição de ampliar a divulgação da revista, serei um simples editor profissional. Se atualmente sou empregado, é porque a humanidade precisa de um exemplo de que o homem, mesmo vivendo como simples empregado, pode ajudar o próximo e levar luz a milhões de pessoas. Quando a humanidade presenciar suficientemente tal exemplo e precisar de um outro exemplo de vida, meu modo de viver mudará naturalmente, segundo a vontade divina, e não segundo a vontade do meu ego.

A Vida não precisa viver conforme uma forma preestabelecida; o melhor é viver segundo o fluir da Grande Vida universal, e então tem-se maior liberdade. Nós respeitamos a forma, mas sem nos prendermos a ela. Não precisamos nos prender à forma porque ela é “sombra” projetada. O principal é a Vida. Estando a Vida firme em seus propósitos, a forma pode variar milhares de vezes. Se, ao contrário, a Vida se sujeitar a uma determinada forma para mantê-la, é como se ela estivesse morta. Mas isso não quer dizer que se possa mudar a forma a todo momento, a torto e a direito. Quando a pessoa conscientiza no fundo da alma a Vida sempiterna, que não morre nem quando morre o corpo, consegue naturalmente viver do modo mais adequado ao momento e às circunstâncias.

Uma vida forçada, dirigida pela força do ego ou conduzida obstinadamente dentro de uma forma determinada pode ter grandes avanços durante certo tempo, mas um dia fracassa. Ainda que a pessoa não fracasse até o último momento de sua vida, fracassa com a morte. Napoleão fracassou, Alexandre Magno idem. Na hora da morte, é preciso abandonar todas as ambições, inclusive a de unificar o mundo. Então, obviamente se deve abandonar a ambição de querer incrementar a publicação de uma revista.A todo instante, devemos viver de tal forma que não fracassemos nem mesmo na hora da morte. Se vivermos sem nos apegarmos à forma, embora respeitando-a, de tal modo que a Vida (que habita em nosso interior) projete corretamente sua “sombra” em nosso dia-a-dia, não fracassaremos após a morte. A Vida prossegue fazendo sua imagem refletir-se de diferentes formas, segundo os “espelhos” pelos quais passa. Conforme o tipo e o formato do espelho – grande, pequeno, redondo, quadrado, plano, convexo, côncavo, etc. –, varia a imagem nele refletida, e isso é o natural. Se alguém insiste em fazer com que se reflita uma mesma forma ou imagem em todos os espelhos, é porque está sendo dirigido por seu ego. Não é preciso preestabelecer uma imagem, pois a Vida projeta infalivelmente uma bela imagem, sempre adequada ao ambiente (espelho) por onde passa.

Todas as imagens refletidas são boas e belas. Esse processo é comparável à formação dos belos cristais de neve, de diversas configurações, porém todas hexagonais, quando uma massa de ar frio, sem usar de artifício algum, passa pelas gotículas suspensas no ar. A vida é uma jornada em que cada qual avança projetando a “sombra” de sua Vida-essência em seus respectivos espelhos ambientais e circunstanciais. Por isso, basta que caminhemos projetando a “sombra autêntica” de nossa Vida-essência, e então veremos cristalizada naturalmente uma vida bela. Para que isso aconteça, é fundamental conscientizarmos a natureza perfeita de nossa Vida-essência. Não devemos cometer o equívoco de tomar a forma por Vida. Quando cometemos esse equívoco, já estamos em ilusão. A forma desaparece infalivelmente porque é “sombra” projetada. Aquele que se apega à forma, tomando-a por Vida, ficará frustrado quando ela desaparecer. Embora os cristais hexagonais de neve derretam, o princípio que os forma jamais derrete. Do mesmo modo, embora as formas desapareçam, a Vida é indestrutível. Compreender isto é fundamental.

(Do livro " A Verdade da Vida, vol. 15", p.118-131)

quarta-feira, outubro 19, 2011

O sentimento de gratidão atrai todas as coisas boas

MASAHARU TANIGUCHI


Tenha sempre o sentimento de gratidão, preencha-se de sentimento de gratidão. Onde se manifesta o sentimento de gratidão, apaga-se a desarmonia, desaparece o conflito, o fracasso se transforma em primeiro passo para o êxito, novas ideias surgem, as doenças se curam e a tristeza cede lugar à alegria. As inundações e terremotos são calamidades naturais que não escolhem lugar, mas onde há sentimento de gratidão será menor o dano causado e maior a oportunidade para a recuperação.

Agradeçam mutuamente marido e mulher. Agradeçam mutuamente pais e filhos. Agradeçam mutuamente empregadores e empregados. As graças do Mundo Absoluto da Realidade se materializam e aparecem onde está repleto de sentimento de gratidão. Esta Verdade é expressa com as seguintes palavras na Revelação Divina: "Somente através deste coração de gratidão é que poderás ver-Me e receber a Minha salvação". Reflita mais uma vez se o seu coração está repleto de sentimento de gratidão. Se não estiver, renove esse sentimento e procure dizer repetidas vezes as palavras de gratidão. É nisso que está a fonte da felicidade.

domingo, outubro 16, 2011

Quem é você?


Dárcio Dezolt


Não há nada que seja de maior importância do que sabermos quem somos. Não somente intelectualmente, mas, principalmente, com discernimento espiritual. A suposta forma humana, nascida de pais humanos, precisa ser descartada por completo, se quisermos intuir espiritualmente nossa real identidade. “Não chameis de pai a ninguém sobre a face da terra”, disse Jesus Cristo, “porque um só é vosso Pai, o qual está nos céus”.

O Apocalipse revela que “tudo está feito”, confirmando a revelação de que “as obras de Deus são permanentes”. A maioria, entretanto, se prende a este mutável mundinho visível, mera sugestão hipnótica de mundo tridimensional, que ilusoriamente confunde a todos, ocultando o infinito-dimensional reino do Espírito já manifestado aqui e agora! “É chegado o reino de Deus”, disse Jesus, no intuito de acordar a todos do sono hipnótico!

Quem é VOCÊ? A Bíblia diz claramente: “Pela fé, todos sois filhos de Deus” (Gálatas 3; 26). Portanto, precisamos saber o que é a “fé”. Difícil? Não! A Bíblia nos dá também a explicação: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem”. (Hebreus 11; 1). Portanto, se pela fé, todos somos filhos de Deus, precisamos nos firmar nesta Verdade e dar provas concretas de sermos esta identidade divina e perfeita “não vista” pela cega mente humana!

Em outras palavras, o suposto “ser visto” não é nem filho de Deus nem é o nosso ser! Em contrapartida, o “filho de Deus” que somos, encarado e aceito incondicionalmente pela fé, ou pela certeza do “não-visto”, dá prova de Si mesmo e Se manifesta aqui e agora como a Emanação divina e perfeita que somos! As “coisas necessárias” nos são divinamente acrescentadas, por termos cumprido os passos segundo a fé, de “buscarmos, primeiro, o Reino da Verdade dentro de nós!"

Se as religiões cuidassem de explicar a todos estas Verdades, e parassem de disputar a posição de “ser a única verdadeira” Igreja de Cristo, muito mais pessoas estariam recebendo a revelação de “quem elas são”, e muito mais Luz estaria Se derramando por todo o planeta!

quinta-feira, outubro 13, 2011

A Natureza Livre da Vida


Masaharu Taniguchi


Outro dia, um leitor perguntou-me o seguinte: “Se a doença não é existência real, não passando de mera sombra da mente, não poderíamos dizer que também a saúde é mera sombra da mente e não é existência verdadeira?”

Sem dúvida alguma, a saúde física também não passa de projeção da mente, não é existência real. Por isso mesmo, por mais saudável que seja o corpo carnal, não dura mais do que cento e poucos anos e acaba desaparecendo. Tudo que não é existência verdadeira se destrói. Não devemos pensar que o corpo carnal seja existência real. Considerando-o existência real, nossa mente se prende a ele. Prendendo-se, a mente perde a liberdade; perdendo a liberdade, torna-se distorcida e imperfeita, isto é, doente. A origem de toda doença está na mente que considera este limitado e incômodo corpo carnal como existência verdadeira e se prende a ele.

É um tanto constrangedor pregar um sermão como este ao senhor, que é médico. Mas os médicos, em vez de corrigir o filme mental, concentram suas atenções à imagem da doença projetada na tela carnal e tentam corrigir essa imagem, cortando-a com bisturi, colocando-lhe remendos ou retocando-a externamente. Entretanto, por mais que corrijam a tela, ela voltará a refletir a imagem de doença enquanto não for corrigida a gravação do filme (imagem mental). E a melhor maneira de corrigir essa imagem do filme mental é deixar de gravar na mente o corpo afetado pela doença. E, para não gravar na mente o corpo doente, o melhor é esquecê-lo completamente.

Quando esquecemos da existência do corpo, seus órgãos passam a desempenhar plenamente suas funções. O coração trabalha de maneira perfeita quando não nos lembramos de sua existência. O estômago funciona perfeitamente quando não nos lembramos de sua existência. Quando pensamos preocupadamente “aqui está o coração” ou “aqui está o estômago”, eles passam a apresentar problemas. Na essência somos Vida, somos Espírito vívido que vibra dinamicamente. Entretanto, julgamos que somos corpo carnal, que somos matéria, que somos um ser imperfeito e cheio de limitações. Só pelo fato de pensarmos assim já estaremos degenerando, afastando-nos da verdadeira natureza da Vida, que é dinâmica e livre. O fato de a Vida, que é dona da mais absoluta liberdade, considerar-se uma existência material cheia de limitações é o cúmulo da degeneração. Essa degeneração do juízo é que se projeta no corpo em forma de doença.

Há quem argumente que adoeceu sem nunca ter pensado em doença. Mas o fato de o homem, que é Vida infinitamente livre, considerar-se um ser material cheio de restrições, equivale a considerar-se doente. A medicina e a fisiologia modernas ensinam que o homem não passa de matéria. Isso equivale a impedir que o homem conscientize sua Vida, livre por natureza, e sugestioná-lo negativamente com a ideia de que ele é escravo da matéria, adoecível e perecível. Eis por que as doenças proliferam quanto mais evolui a medicina. Mas a Seicho-No-Ie, ao contrário da medicina, refuta o conceito de que o homem seja matéria e proclama que o ser humano é a própria Vida livre e independente. Existem diversos casos de enfermos que conseguiram se livrar de doenças consideradas incuráveis pela medicina, simplesmente porque, lendo A Verdade da Vida ou a Sutra Sagrada Kanro no Hoou, conscientizaram que são Vida livre de imperfeições e não mera matéria. Tenho comigo um depoimento de cura de câncer estomacal (o prof. Taniguchi faz circular entre os presentes a carta de um adepto).

Não se deve considerar existência verdadeira o que é visível aos olhos carnais. Não se deve considerar real aquilo que se percebe através dos cinco sentidos. Então, poder-se-ia considerar existência verdadeira aquilo que é percebido pela vidência? Não. Aquilo que é existência verdadeira não pode ser visto nem mesmo pela vidência. Por isso a sutra sagrada Kanro no Hoou diz: “a Realidade transcende os cinco sentidos, transcende inclusive o sexto sentido e não se projeta à percepção do homem”. Quem considera existência real aquilo que capta através dos cinco sentidos torna-se prisioneiro dos cinco sentidos e não pode manifestar a liberdade própria da Vida. Do mesmo modo, quem considera existência real aquilo que percebe através do sexto sentido ou da vidência torna-se prisioneiro do mundo do sexto sentido e perde a liberdade própria da Vida. Conheço pessoas que dizem enxergar espíritos através da vidência. Afirmam que vêem espíritos maléficos, espíritos errantes, espíritos de animais, espíritos vingativos, etc. Será que todos esses espíritos existem mesmo? Eles existem, mas em outro sentido da palavra “existir”, porque na concepção verdadeira eles não existem, ou seja, eles não são existências verdadeiras.

Os micróbios também existem, mas naquele outro sentido da palavra. Os micro-organismos são visíveis ao microscópio, sendo possível cultivá-los a multiplicá-los, mas eles não existem como causadores de doenças. Isto porque Deus jamais cria algo desarmônico que possa causar mal. O que Deus não criou não existe. Considerar existente algo que não foi criado por Deus – isto é ilusão. Dizemos que os micróbios patogênicos existem num outro sentido da palavra “existir”, porque são seres inexistentes que se concretizaram através da ilusão. Também os espíritos maléficos não existem, pois Deus não criou seres que causam malefícios. O “modo de viver da Seicho-No-Ie” consiste em viver olhando somente o que existe no mundo harmonioso criado por Deus.

Aqueles que possuem o dom da vidência podem temer os espíritos maléficos que enxergam e adoecer por causa desse temor, da mesma forma que alguns médicos podem se sentir atemorizados vendo os vírus patogênicos através do microscópio. Nesse sentido, os videntes que enxergam espíritos maléficos são mais infelizes do que quem não possui o dom da vidência. Analogamente, os civilizados que veem micro-organismos patogênicos têm menos resistência às doenças do que homens primitivos que nem desconfiam da existência de micróbios.

As pessoas comuns dizem “isto existe porque é percebido pelos cinco sentidos”, mas a Seicho-No-Ie afirma que aquilo que é perceptível aos cinco sentidos não é existência real. Os cinco sentidos nada mais são que instrumentos para perceber a sombra projetada pela mente. O que aparenta ser uma existência concreta não passa de pensamento materializado. Analogamente, os espíritos vistos nitidamente através da vidência não são existências reais, mas apenas manifestações da mente.

Há aqui uma mesa. Todos os senhores veem-na sólida e firme. Entretanto, experiências feitas por um médium demonstram que a mesa não é tão sólida quanto aparenta ser, permitindo que um copo colocado sobre ela atravesse-a e passe para o lado debaixo. Para o espírito que age por intermédio desse médium, a mesa é um material transpassável, sem nenhuma solidez. Aí está o segredo do fenômeno de aporte, que consiste em transportar objetos através da parede para dentro de uma sala fechada. É claro que esse segredo não é nenhum truque de natureza material; o segredo está na diferença de vibrações do nosso pensamento e as dos seres pertencentes ao mundo espiritual. Convém frisar que estou me referindo apenas ao fenômeno de aporte através de um corpo sólido, e não a outras modalidades de fenômenos paranormais.

Esta mesa (apontando-a com o dedo) se nos afigura sólida porque nossos cinco sentidos acreditam que ela é sólida, projetam essa ideia (de que é sólida) na mesa e sentem-na sólida. Por conseguinte, para espíritos de determinado nível que não creem na solidez da matéria, nada mais fácil do que fazer um copo atravessar a mesa ou transportar um objeto qualquer através de paredes. Mas isto não quer dizer que a mesa seja uma miragem e não exista de forma alguma. O que existe como mesa são ondas mentais que se fazem sentir como “mesa”. Não é a “mesa” em si que existe, mas ondas mentais com aspecto de mesa. Como não se trata de matéria e sim de ondas de vibração mental, os espíritos que vivem em dimensão diferente da nossa podem perfeitamente fazer o aporte. Pode-se dizer o mesmo em relação à doença.

A doença propriamente dita não existe. O que existe são vibrações mentais que assumem aspecto de doença. Por isso, o segredo da cura está em eliminar as vibrações da ideia de doença. Assim, é perfeitamente explicável por que até doenças graves como o câncer podem ser curadas ao se compreender a Verdade de que o homem é filho de Deus e a doença não existe, através da leitura de A Verdade da Vida ou da sutra sagrada Kanro no Hoou. A razão é mais do que evidente: ao se perceber que a doença não existe, desaparece a ideia de doença; consequentemente, a doença, que nada mais é que materialização dessa ideia, também desaparece. Mas se a pessoa ler superficialmente os livros da Seicho-No-Ie e não assimilar a Verdade de que a doença não existe (isto é, mantiver a ideia corrente de que “a doença existe”), não será curada, pois a ideia de doença mantida em sua mente continuará a se manifestar no mundo das formas. Na verdade, tudo que concebemos na mente concretiza-se em nosso corpo ou no ambiente onde vivemos. Por isso digo sempre que as obras sagradas como A Verdade da Vida ou Kanro no Hoou devem ser lidas e relidas várias vezes; não basta que o leitor entenda intelectualmente o que nelas está escrito. É preciso que a ideia de doença vá sendo destruída a cada leitura, até ser exterminada, quando então a doença desaparecerá subitamente, e a possibilidade de adoecer também deixará de existir. É o mesmo que acontece no cinema: no instante em que a imagem da doença for retirada do filme, ela desaparecerá também da tela. Por isso, os livros sagrados da Seicho-No-Ie devem ser lidos repetidas vezes até o desaparecimento total da ideia de doença gravada no filme da mente subconsciente.

(Do livro “A Verdade da Vida”, vol. 15, p. 107-113)


segunda-feira, outubro 10, 2011

O santo ensinamento de Buda


Masaharu Taniguchi


"Em verdade, através da mente que guarda ódio não se pode extinguir esse ódio. Somente com a mente que não guarda ódio pode-se extinguir o ódio. Esta é a Verdade que jamais mudará."

Essas são as santas palavras de Buda, citadas no Capítulo 5 de Hokku-Kyô. Dizer que "o ódio não pode ser eliminado com a mente que guarda ódio; só a mente que não guarda ódio pode eliminar o ódio", é fazer afirmações tão evidentes como, por exemplo, "a mente irada é cheia de ira" ou "a mente alegre é cheia de alegria". Por que terá Buda afirmado uma coisa tão óbvia?

Com aquelas palavras, Buda visou explicar a seguinte Verdade: "Não se pode eliminar a ilusão da mente com a mente em ilusão". É inútil tentar aniquilar o ódio com a mente em ilusão, dominada pelo ódio. Porém, quando se manifesta a mente sem ilusão - a mente do Jisso, que jamais abriga pensamentos e sentimentos negativos - o ódio desaparece por si mesmo.

É inútil tentar extinguir as trevas da mente com a mente em trevas. Mas basta manifestar a mente repleta de luz para que as trevas da mente desapareçam por si mesmas. Nenhum pensamento além do pensamento de luz (pensamento positivo) tem o poder de eliminar as trevas da mente (pensamentos negativos). Alcançando-se a compreensão de que "as trevas da mente" não existem, elas se extinguem por si mesmas. Alcançando-se a compreensão de que "o ódio não existe", ele se extingue por si mesmo.

Em outras palavras, ele quis dizer que não se pode corrigir a mente em ilusão com a própria mente em ilusão. Por mais que se tente, isso é impossível mesmo. Só a "mente que despertou para a Verdade" é capaz de eliminar a "mente em ilusão".

É óbvio que a "mente em ilusão" não consegue eliminar a própria "ilusão da mente". Apenas a Verdade pode remover a ilusão. Somente a luz pode extinguir a treva e iluminar o mundo. A treva não pode eliminar a treva e iluminar o mundo. Não adianta a mente enferma querer evitar a doença. A mente que deseja evitar a doença é a "mente em ilusão", pois esse desejo surge da ideia preconcebida de que "a doença existe". A maioria das pessoas acabam doentes, mesmo desejando evitar a doença. A "mente em ilusão" deseja evitar a doença, enquanto que a "mente que despertou para a Verdade" afirma que a doença não existe. Já que a doença inexiste, não é necessário evitá-la. É impossível o homem verdadeiro adoecer, mesmo que o deseje, pois ele é de natureza divina. Só adoece aquele que não é homem verdadeiro. A doença representa a não-conscientização do homem verdadeiro; é o estado em que está ausente a conscientização correta do homem verdadeiro.

A doença começa a desaparecer a partir do instante em que se compreende claramente que ela não existe. Compreender que a doença pode melhorar ou piorar conforme a atitude mental é valido, porém esse é um ensinamento relativo e dual, e nós não devemos nos deter aí. Contudo, compreender que "a doença não existe" é uma Verdade absoluta e eterna, e essa conscientização é que constitui a nossa verdadeira meta. Uma vez que consigamos isso, viveremos totalmente livres como peixes na água.

(Dos livros "A Verdade da Vida", volumes 14 e 15)


sexta-feira, outubro 07, 2011

Verdade e teoria sobre a inexistência da matéria


Masaharu Taniguchi


Suguino - Nestes últimos dias eu vinha me sentindo muito deprimido. Não conseguia ficar alegre nem saber a razão disso; não encontrava nenhum motivo para essa depressão. O problema foi que esse estado se refletiu negativamente em meus negócios, que estavam indo muito bem, e o funcionário responsável pela minha loja comprou produtos de má qualidade. Se eu estivesse com a mente alegre e positiva, isso não teria acontecido. Realmente, tudo o que ocorre é reflexo da nossa mente, não é mesmo? Como disse, não conseguia entender o que é que tinha causado tal estado mental em mim. Porém, refletindo melhor, lembrei-me de que há dias recebera uma publicação chamada Boletim da Associação Mikka e lera dentro do trem. Eu tenho o hábito de ler A Verdade da Vida enquanto viajo diariamente de trem, mas, como me chegara esse boletim, comecei a lê-lo, pensando que essa publicação fosse similar às da Seicho-No-Ie e que também me ajudaria a conhecer a Verdade. Porém, à medida que ia lendo, fui notando certas divergências com a filosofia da Seicho-No-Ie e comecei a sentir uma estranha angústia e depressão. A referida publicação defendia uma teoria que em muitos pontos parecia admitir a existência da matéria, bem como a existência do “falso eu”; e à medida que ia lendo, comecei a me deixar levar pela ideia de que tanto a matéria como os fenômenos são existências reais.

Taniguchi – Não se deixe iludir pela teoria de que não há distinção entre o “falso eu” e o “Eu verdadeiro”. A afirmação da Seicho-No-Ie de que “a matéria não é existência real e que o mundo dos fenômenos não passa de uma projeção de nossa mente” não é uma simples teoria. A Seicho-No-Ie afirma que “a matéria não existe” porque esta é a Verdade; realmente “a matéria não existe”. Diz-se que os fenômenos são imagens projetadas pela mente porque assim são quando visto do Mundo da Existência Verdadeira (Mundo do Jisso), que é perfeito. Esta é a única razão de afirmarmos que “a matéria não existe”. Sem dúvida, no livro A Verdade da Vida apresentamos enfática e detalhadamente a teoria da inexistência da matéria. Mas isso é apenas um recurso para conduzir as pessoas à percepção do Mundo da Existência Verdadeira. Não se trata de conclusão teórica de que “a matéria não existe”; a teoria foi estabelecida posteriormente, como um meio de facilitar e conduzir as pessoas à percepção da Verdade. Anteriormente à teoria, existe a Verdade de que “a matéria não existe”; o enunciado teórico foi estabelecido e explicado depois, para que a Verdade pudesse ser assimilada e compreendida de modo fácil. Por isso, os livros da Seicho-No-Ie têm o poder de despertar para a “Perfeição da Vida” a mente daqueles que os lêem e neles acreditam. Despertando para a Perfeição da Vida, as pessoas alcançam um estado mental totalmente livre e, em muitos casos, a consequência é o retorno ao estado verdadeiro, como a recuperação da saúde, curando-se até doenças que a medicina não consegue debelar.

Sem dúvida, as pessoas podem estabelecer as teorias que quiserem, de que “a matéria existe” ou de que “o eu fenomênico é o Eu verdadeiro”. E quem quiser acreditar em tais teorias poderá fazê-lo; é livre para isso. Contudo, se a pessoa acreditar em tais teorias ou se deixar abalar com o que elas defendem, acabará sendo arrastada pela crença de que “a matéria existe”, tornar-se-á dependente da matéria, perderá a total liberdade que vinha desfrutando e, como resultado de ter aceito o “eu imperfeito” como uma das manifestações do Eu verdadeiro, começarão a surgir aspectos imperfeitos em sua vida, tal como no caso do Sr. Suguino: o que corria tranquilamente passou a esbarrar em dificuldades.

É muito fácil criar teorias com base nos aspectos materiais e fenomênicos dos seres e coisas catados através dos cinco sentidos, e afirmar que tanto a matéria como os fenômenos existem realmente. Os cientistas fazem isso. Mas constatar através dos olhos da mente a “inexistência da matéria” não é teorizar. As pessoas tendem a confiar no seu raciocínio cerebral e tentam chegar à Verdade através do intelecto, criando teorias cada vez mais complexas. Em vez de reconhecerem simplesmente que “a matéria não existe”, fazem afirmações complicadas tais como: “a existência da matéria transcende a questão do existir ou não existir”; ou então, em vez de simplesmente negarem a existência do “eu fenomênico”, complicam o assunto, afirmando que “o eu fenomênico também é uma das manifestações do Eu verdadeiro”. Todos aqueles que teorizam dessa forma acabam chegando a um ponto em que não sabem mais se a matéria existe ou não, não obstante suas próprias teorias. A teorização tende a desorientar as pessoas.

(Do livro “A Verdade da Vida, vol. 15”, p. 45-47)

terça-feira, outubro 04, 2011

Ética para a libertação do ser humano


Masaharu Taniguchi

"A moralidade e o direito nasceram
Quando o homem deixou de viver
Pela alma do Universo.
Com a tirania do intelecto
Começou a grande insinceridade.
Quando se perdeu a noção da alma,
Foi decretada a autoridade paterna
E a obediência dos filhos.
Quando morreu a consciência do povo,
Falou-se em autoridade do governo
E lealdade dos cidadãos."
(Lao-Tsé, Tao-Te-Ching)



A MORAL RÍGIDA NÃO É A MORAL VERDADEIRA

A humanidade não tem conseguido alcançar a verdadeira felicidade, nem praticar espontaneamente o bem, porque há excessivos regulamentos e leis a tolher sua liberdade. Mesmo em se tratando de prática do bem, o ser humano sente-se relutante quando é coagido a isso, porque sua natureza é originariamente livre. A linha traçada com uma régua pode primar pela sua característica perfeitamente reta, mas a linha ligeiramente torta traçada à mão livre é mais interessante, e os artistas preferem esta àquela; isto porque ela exprime a liberdade, que é inerente à Vida. A linha traçada à mão livre pode parecer imperfeita se comparada com a linha traçada com uma régua, mas, em última análise, é mais bela justamente por sua peculiaridade. Tudo aquilo que representa a livre expressão da Vida é belo. Quando se tenta dirigir o comportamento do ser humano com regulamentos e restrições excessivamente rígidos, ele tente a reagir praticando infrações, ao invés de obedecer.

Portanto, não devemos tentar impor ao ser humano padrões de conduta excessivamente rígidos. Quando se impõem ao ser humano padrões de conduta demasiadamente rígidos, sua Vida reage contra isso, fazendo com que ele se torne rebelde ou, pelo contrário, acovarde-se e perca a capacidade de exteriorizar seu verdadeiro valor. Em outras palavras, ele se desencaminhará ou se apequenará, perdendo toda a sua vitalidade.

A Vida provém de Deus. Portanto, ela constitui a Natureza Divina, a autonomia e o auto-respeito do ser humano. É sacrilégio tentar moldar a Vida, que é sagrada e autônoma, a uma regra-padrão. A Vida não é uma energia mecânica, mas sim uma força evolutiva e criadora que brota do interior do ser. Ela se caracteriza pela capacidade de criar incessantemente novas formas, novos elementos. Não sendo tolhida, ela se expressa com toda a sua autenticidade.

Por isso, devemos reduzir o quanto possível as regras rígidas que tolhem a Vida, e procurar cultivar a força criativa, a força autopurificadora, o viço e a beleza que provêm do âmago da própria Vida. Se assim procedermos, nossa vida se ordenará por si mesma, sem as restrições das regras impostas, e passará a se desenvolver num ritmo verdadeiramente harmonioso. A Vida em si é uma energia dotada de sabedoria infinita, que age segundo o seu próprio ritmo; assim sendo, quando a deixamos manifestar-se livremente, por si mesmo se estabelece um ritmo harmonioso. É como acontece com a música. Cada tipo de música, com seu próprio ritmo, é belo e harmonioso.

Nossa Vida é a Vida do próprio Deus. Portanto, se não a tolhermos e procurarmos sempre expressá-la o máximo possível, podemos melhorar infinitamente, e criar infinitas coisas boas e belas. Se a maioria das pessoas não consegue isso, é porque não estão expressando plenamente a Vida. É porque considera a Vida um simples “elemento material fixo”, sem a capacidade de evoluir incessantemente. Aqueles que, com base nessa concepção, tentam acrescentar à Vida algo de bom ou belo, fatalmente se verão obrigados a imitar, na forma, o belo ou o bem que a própria Vida já revelou espontaneamente no passado. Resultam disso a arte convencional e a moral convencional. A mera imitação da forma é destituída de Vida, não passa de uma forma sem conteúdo, uma imagem sem alma. No momento em que passamos a imitar apenas a forma, distanciamo-nos do bem e do belo verdadeiros; então, passamos simplesmente a seguir as pegadas daquilo que, no passado, era realmente expressão do bem ou do belo. Se determinadas obras e condutas eram, no passado, expressão do belo e do bem, é porque elas resultavam da expressão e ação espontaneamente livres da Vida.

Recentemente, tive que repreender uma senhora para possibilitar a cura de seu filho, que sofria de tuberculose. Essa senhora estava obstruindo a livre manifestação da Vida de seu filho, impondo-lhe repouso absoluto. Ela amava muito o filho e, por desejar vê-lo curado, obrigava-o a seguir rigidamente o “método de cura pelo repouso absoluto”, que tinha surtido efeito satisfatório em alguém, no passado. Devido a isso, a energia vital desse jovem estava sendo restringida e sufocada, e ele ia ficando cada vez mais debilitado. Ele passou a nutrir profundo ressentimento contra a mãe; e ela, por sua vez, redobrou as preocupações com o filho, instalando-se, assim, uma vida amarga e sofrida, resultante do apego. Quando a mãe veio pedir-me orientação, eu lhe disse: “quem está impedindo a cura de seu filho é a senhora mesma”, e repreendi o seu comportamento em relação ao filho enfermo. Ela ficou magoada com a minha repreensão, dizendo-me o quanto ela amava seu filho. Porém, o fato é que, quando ela resolveu seguir meu conselho e deixou de tolher a Vida de seu filho com aquele rigoroso método de cura criado por alguém no passado, ele ficou completamente curado.

Há também o caso de uma certa menina que passou a detestar os estudos porque seus pais influenciavam-na negativamente com a ideia fixa de inculcar-lhe o dever e a obrigação de estudar. Sempre que se sentava diante de sua mesa de estudos, a menina sentia as vibrações mentais de seus pais que a tolhiam com a obsessão do dever e obrigação, experimentava uma sensação de desconforto e, mas começava a estudar, perdia o interesse e ia para fora brincar. Aconselhei a mãe dessa menina a crer firmemente que sua filha é uma criança estudiosa, e deixar de pensar em obrigá-la a estudar mais a todo custo. Quando a mãe passou a proceder conforme o meu conselho, a menina começou a se interessar pelos estudos espontaneamente, e tornou-se uma criança estudiosa.

Também nas relações conjugais, o cerceamento da liberdade traz resultados negativos. Se o marido tentar tolher a liberdade da esposa (ou vice-versa) com regras ou normas excessivamente rígidas, não será possível a verdadeira felicidade conjugal. Um casal que vive assim, por mais que aparente ser feliz, não o é realmente. Para se conseguir a verdadeira felicidade conjugal, é preciso que cada um dos cônjuges procure doar-se inteiramente ao outro, em vez de tentar cercear-lhe a liberdade com sentimento de posse.

Somente o amor verdadeiro, destituído de apego, é que traz a felicidade. Há algum tempo, contaram-me o caso de uma senhora casada com um pastor há 15 anos, a qual se apaixonou por um membro da congregação e foi viver com ele, abandonando o marido. Os amigos e conhecidos do pastor, muito indignados, queriam separar o casal de amantes e vieram consultar-me sobre o caso. Eu lhes disse: “Antes de mais nada, é preciso questionar por que essa senhora deixou o marido, com quem vivia há 15 anos. É provável que esse pastor tivesse um senso de moral bastante distorcido, e procurasse sempre tolher a liberdade da esposa. Os moralista de fachada acabam levando os outros a atos imorais. A liberdade é inerente à Vida. Por essa razão, quanto mais se procura tolher o ser humano, mais ele procura reagir contra a restrição. Isso se aplica também ao caso desses amantes. Não tentem obrigá-los a se separar. Se fizerem isso, eles reagirão e procurarão unir-se mais ainda. Não devemos tolher a Vida, mas sim deixá-la agir livremente, confiando em seus corretos impulsos. Assim, a Vida só poderá tomar o rumo certo. Portanto, vocês devem deixar que aqueles amantes sigam o correto impulso da Vida. Se o certo é separarem-se, eles acabarão se separando, por si mesmos; se o certo é ficarem juntos, eles permanecerão juntos e, nesse caso, a vocês cabe abençoá-los e desejar-lhes uma vida feliz”. Este foi o meu conselho. Não me cabe julgar ninguém. Se eu dissesse que é preciso forçar aqueles amantes a se separarem, eu estaria julgando-os. “Não julgueis” – assim ensinou Jesus Cristo. Como já disse, a Vida é a expressão do próprio Deus. Portanto, confiar na manifestação natural da Vida é confiar no julgamento do próprio Deus, que é infalível.

Quando confiamos na vida e deixamos que ela aja com a liberdade que lhe é inerente, ela se manifesta plenamente e, sendo essa a manifestação autêntica da Vida, revela-se o bem, e revela-se também o belo. Então, a trilogia “autenticidade-bem-belo” manifesta-se em nossas vidas, fazendo com que as nossas condutas sejam autênticas, boas e belas ao mesmo tempo. Os semelhantes se atraem. Se uma pessoa vê no outro a autenticidade, o bem e o belo e lhe deposita inteira confiança, o outro também vê nela a autenticidade, o bem e o belo, confia inteiramente nela, e então passa a haver um convívio feliz, repleto de beleza e harmonia (no caso de marido e mulher, o lar deles se torna um paraíso terrestre).


NÃO DEVEMOS FORÇAR OS OUTROS

Não devemos forçar os outros a se enquadrarem ao nosso padrão moral. Se agirmos dessa forma, não só eles se afastarão mais do bem, reagindo contra a imposição, como também estaremos prejudicando a nós mesmos. Quando tentarmos impor normas de conduta aos outros, somos obrigados a julgá-los constantemente, segundo o nosso próprio padrão de moral; e enquanto nos empenhamos nisso, a nossa preciosa energia vai sendo consumida em vão. Isso será desperdício de energia. Melhor dizendo, será o mesmo que usar a energia para prejudicar os outros e também a nós próprios. A sensibilidade da mente humana é tal, que quando reparamos constantemente nos pontos negativos dos outros e os mantemos gravados em nossa mente, passamos a ter vibrações mentais negativas que causam até danos físicos não só aos outros como também a nós próprios. No caso da sra. Fumiko Tanaka, citada anteriormente, a sua suscetibilidade fez com que ela ficasse com manchas na pele só por ter ouvido a transmissão radiofônica de uma história cuja personagem sofria de uma terrível doença que fazia surgir manchas na pele. A maioria das pessoas não é tão suscetível como essa senhora. Mas o fato é que, quando reconhecemos o mal e o mantemos gravado em nossa mente, ele influi negativamente em nossos pensamentos, mina-nos por dentro, faz-nos emitir vibrações mentais negativas, e as pessoas que receberem essas vibrações serão feridas, como se fossem atingidas por um projétil.

Em Palavras de Sabedoria há um trecho que diz: “Quando temos a pretensão de conduzir o outro à virtude, acabamos por prejudicá-lo; mas quando acreditamos na bondade inata do outro, ele passa a revelar essa bondade”. Isto é verdade. Se você deseja manter sempre sadios o seu corpo e a sua mente, e empregar de forma positiva toda a sua energia, não deve forçar os outros a seguirem o caminho traçado por você, ou seja, obrigá-los a conduzir-se de acordo com as normas estabelecidas por você. O caminho natural e verdadeiro existe onde não há obrigação imposta pelas normas rígidas. As aeronaves, que não se locomovem sobre trilhos, não correm o risco de descarrilhamento, mas os trens e os bondes, que correm sobre trilhos, estão sujeitos a tal risco.

Havendo o caminho obrigatório, haverá também o risco de se desviar. Pessoas atadas às normas e padrões rígidos sofrem quando elas próprias se desviam do caminho e também quando não conseguem evitar que os outros se desviem. Os trens e os bondes não podem se locomover se não houver trilhos, mas o ser humano, sendo Filho de Deus, encontra o equilíbrio por si mesmo e movimenta-se com perfeição, justamente quando lhe é permitido agir com a liberdade inerente à sua natureza. Tudo aquilo que é capaz de movimento autônomo funciona com perfeição quando lhe é permitido mover-se livremente, porém, havendo algum elemento externo que procure restringir-lhe o movimento, começa a funcionar desordenadamente. É como o pião que está a girar: se não o tocarmos, continuará girando com perfeição, mas se o tocarmos, sairá do lugar e começará a balançar.

A tendência natural do bambu é crescer reto; a tendência natural das trepadeiras é enroscar-se nos muros, nas árvores, etc.; a tendência natural das gramas-rasteiras é espalhar-se pelo chão. Cada qual tem sua própria beleza e peculiaridade. Na peculiaridade de cada um percebemos a vontade divina, sentimos a presença do próprio Deus. Deixemos que o bambu cresça com as características do bambu; que as trepadeiras cresçam com as características das trepadeiras; que as gramas-rasteiras cresçam com as características das gramas-rasteiras. Se tentarmos fazer com que as trepadeiras cresçam retas como o bambu, ou obrigarmos o bambu a enroscar-se como as trepadeiras, ambos acabarão morrendo. E, o que é pior, nós próprios acabaríamos ficando esgotados no afã de obrigá-los a crescer contra sua própria natureza. O mesmo acontece em relação às pessoas. Se julgarmos os outros com nossa própria medida (isto é, com nossos próprios critérios) e tentarmos forçá-los a seguir o nosso padrão de moral, acabaremos prejudicando não só a eles como também a nós mesmos.


DEVEMOS VALORIZAR AS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS

As pessoas diferem quanto à personalidade e também quanto à forma de observar coisas e fatos, do mesmo modo que diferem quanto à fisionomia. Assim sendo, as tentativas de forçar os outros a terem critérios e opiniões exatamente iguais às nossas fatalmente resultarão em fracasso. Insistindo em tais tentativas, só ganharíamos irritação e cansaço, e além disso acabaríamos sendo detestados pelos outros. Ninguém gosta de ser forçado a aceitar opiniões alheias. Assim, se uma pessoa tentar, arrogantemente, impor sua opinião aos outros, será inevitável que eles passem a detestá-la.

Como devemos agir para melhorar as pessoas? Nunca devemos restringir-lhes a liberdade, impondo rígidas regras de conduta. O que devemos fazer é valermo-nos da Verdade por nós apreendida para fazer algum trabalho concreto no sentido de beneficiar o próximo, e deixar que ele se conduza de acordo com seus próprios pensamentos. Devemos deixá-lo agir livremente, acreditando na bondade que ele traz dentro de si, como Filho de Deus. Quando pode agir com verdadeira liberdade, a pessoa encontra o equilíbrio por si mesma e passa a viver corretamente. Podemos comparar isso ao fato de que, se não tocarmos o pião que está girando, e o deixarmos que continue rodando livremente, ele manter-se-á perfeitamente equilibrado sobre seu próprio eixo.

(Do livro “A Verdade da Vida, vol. 14”, pág. 123-138)


"Pela retidão se governa um país;
Pela prudência se conduz um exército.
Mas é pelo não-agir
Que é regido o Universo.
De onde sei que é assim?
É evidente por si mesmo.
Quanto mais proibições existem,
Tanto mais o povo empobrece.
Destrói-se toda a ordem
Quanto mais os homens procuram
Os seus interesses pessoais.
Prepara-se a revolução
Quando os homens só pensam em si mesmos,
Quando o governo só confia
Em leis e decretos
Para manter a ordem.
O que diz o sábio:
Não intervenho!
Eis que por si mesma prospera a vida.
Na sociedade mantenho-me imparcial
E por si mesmo o povo se endireita.
Não me meto em conhavos!
E por si mesma floresce a ordem.
Não nutro desejos pessoais!
E eis que tudo por si mesmo cai bem."
(Lao Tsé - Tao Te Ching)


"Quando o governo é simples
O povo vive feliz.
Quando o governo tudo determina e interfere,
O povo mostra-se infeliz.
A felicidade repousa na renúncia.
Renúncia é a base da feliciade.
Se o estado é governado sem retidão,
A retidão se converte em erro
E o bem em perversidade.
E iludido, o povo torna-se confuso
Durante longo tempo.
Portanto, o sábio é como um esquadro,
Que não corta ninguém com seus ângulos,
Como uma aresta, que não fere ninguém
Com sua agudeza,
Estende-se, mas não às custas dos outros
Brilha mas a ninguém ofusca."

(Lao Tsé - Tao Te Ching)




sábado, outubro 01, 2011

Comentários sobre o Capítulo "Deus", de Joel Goldsmith




O capítulo "Deus" do livro "As Palavras do Mestre", de Joel Goldsmith, é um dos mais profundos do livro. Em julho do ano passado, eu o transcrevi e publiquei no blog e agora o republico de novo. Você pode lê-lo clicando aqui e aqui. Hoje quero tecer comentários sobre este capítulo importante.

"Nunca se esqueça que é um absurdo tentar espiritualizar um homem mortal ou criar Deus num ser humano". O Espírito do Cristo não está manifestado materialmente ou tridimensionalmente. Deus "aparece como", ou seja, Deus se manifesta, mas não neste plano fenomênico. Quando Goldsmith diz que "Deus aparece como", isto quer dizer que Deus está "aparecendo como" no âmbito do "Meu Reino", que é invisível aos olhos tridimensionais. O "Meu Reino" existe no Infinito Invisível, e este é o âmbito onde "Deus aparece como". Isso deve ser percebido interiormente, e essa visão só pode ser discernida espiritualmente. A comunicação ocorre de Espírito para Espírito, pois somente o Espírito (a Consciência do Ser que somos) percebe o Espírito e as idéias espirituais. Portanto, não é no mundo fenomênico que "Deus aparece como". No âmbito do fenômeno Deus não "aparece como". O fenômeno não é um plano real, por isso Deus não pode estar "aparecendo como", aqui. Mas Ele pode estar refletido e, quando assim ocorre, surge no plano fenomênico uma imagem boa e harmônica.

"Aparecer como" e "estar refletido" são coisas completamente diferentes. "Deus aparece como" não significa dizer que Deus estava ausente e de repente apareceu. A palavra "aparecer" é usada não para indicar um surgimento ou acontecimento, mas para indicar um estado eterno e permanente. "Deus aparece como" significa que Deus está manifestado como uma idéia divina. Ele está eternamente manifestado "como", sem jamais mudar. Se é dito que "Deus aparece com o ser individual", significa que, no âmbito da Consciência do Ser, Deus está eternamente manifestado como o ser individual. A pessoa que corretamente discernir "Deus aparecendo como" poderá constatar que o efeito disso, no mundo visível, será o aparecimento do reflexo harmônico, reflexo esse que estará simbolizando aquele estado de consciência. Portanto, Deus não aparece diretamente no mundo; mas ele aparece indiretamente, como reflexo. É no âmbito da Consciência do Ser que Deus aparece DIRETAMENTE. Esse é o sentido correto que deve ser discernido (interiormente) ao lermos por Goldsmith ao dizer que "Deus aparece como".

Isso é confirmado pelo autor, na pág. 79-80, quando ele diz:

"Esse ensinamento não é fatalista, não é uma aceitação resignada de que: 'O que quer que aconteça, foi Deus quem quis' ou 'Eu aceitarei o que Deus me mandar'. Tal atitude é a dualidade ou duplicidade. Este caminho é a afirmação e a reafirmação das grandes verdades:


"Eu e o Pai somos um." (João 10:30);
"Todos os meus bens são teus." (Lucas 15:31);
"O lugar onde estás é solo sagrado." (Êxodo 3:5).


Deus está sempre Se plenificando como a nossa experiência individual. Então, nessa consciência, podemos dizer: 'Deixe a Verdade se manifestar, como Ela faz, já que a Sua vontade está só na natureza da sabedoria infinita e do amor divino'. Você vê a diferença? Existe um Deus. Deus é. A harmonia é. Não podemos criar essa harmonia com o nosso pensamento; mas, através do pensamento, podemos nos tornar cientes do fato de que Deus é a lei infinita, de que Deus é o princípio infinito e divino, sempre Se expressando como a harmonia, a sabedoria, a inteligência e o amor de nossa experiência."

É no âmbito dessa Consciência que a Verdade se manifesta diretamente como "a harmonia, a sabedoria, a inteligência e o amor em nossa experiência". No mundo, quando muito, ela aparece pela via indireta, como imagem refletida; e, nesse estudo, o mundo não merece tanto a nossa atenção. Portanto, o reconhecimento interno é o essencial. Goldsmith está dizendo para tirarmos a atenção das coisas (imagens) do mundo, quer sejam boas ou más.

Ainda, na pg. 78, ele diz: "Nada que aparece no mundo dos efeitos é de nosso interesse", "Há só a percepção de que Deus, como minha consciência, está aparecendo para mim todo o tempo, em toda forma necessária para a minha experiência". Quer lugar é este onde "Deus está aparecendo para mim o tempo todo em toda forma necessária para a minha experiência"? É no mundo externo? Não. No mundo externo só aparecem imagens refletidas, por isso lá Deus não está "aparecendo como". Deus está "aparecendo como" na própria Consciência Divina que Eu Sou e, se isso for percebido, a imagem hamônica será automaticamente refletida/formada no mundo dos efeitos.

Na pág. 79, ele continua: "Já que Deus guia o meu ser de uma forma divina, então minha experiência está sempre expressando o amor, a perfeição, a harmonia ou o bem divinos. Já que Deus é o bem infinito e tudo o que o Pai tem é meu, esta infinitude do bem está se expressando como a minha experiência." Reflitam: em que âmbito Deus está guiando o nosso ser de forma divina? Quando ele diz "esta infinitude está se expressando como a minha experiência", em que plano está ocorrendo isso? Não está falando da nossa experiência no mundo. Tudo o que é real ocorre somente na Consciência do Ser, em Deus; portanto "nossas experiências" só podem estar ocorrendo em Deus. "Em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser" (Atos 17:28). Goldsmith não leva em consideração o mundo fenomênico, a não ser como um efeito, ou seja, um (pálido e fugaz) reflexo da Consciência.

No âmbito da Consciência do Ser, Deus está aparecendo como amor infinito, bem absoluto, sabedoria absoluta, provisão ilimitada, e nos enche de bênçãos. O mal não existe. Aqui, no âmbito de Deus, o Jisso, não existe a crença no bem e no mal, mas existe tão somente o Bem absoluto. Esse discernimento interno (Meu Reino) deve levar em consideração toda essa Infinitude de Deus.

Na pág. 81-82, Goldsmith segue explanando: "Quanto maior a percepção de Deus você atingir, maior o grau de coisas e pessoas agradáveis aparecerão no seu mundo exterior. Essas coisas e pessoas serão a sua própria consciência aparecendo (refletidas) a você.", "Busque essa consciência de Deus e faça dela uma percepção sempre crescente", "A consciência de que Deus é a realidade do nosso ser dissipa toda condição que leva ao pecado, à doença e à morte."

Feitas essas considerações, passemos ao tópico "Deus se manifesta Ensinando, Curando e Salvando" (pág. 82).

Goldsmith diz: "A Consciência é infinita. A consciência se manifesta como um ser individual (o seu ser, o meu ser)". Goldsmith não está falando isso com base em avaliação no mundo fenomênico. Ele não está falando que a Consciência infinita está aparecendo como "personagens fenomênicos", ou seja, o "personagem" não é o ser individual a que Joel Goldsmith se refere. O ser individual é um ser espiritual que está vivo não no mundo físico, mas na própria Consciência do Ser. Os personagens existem no mundo, por isso não são reais, a não ser para a mente. Deus não está aparecendo como "personagens" (mas se os personagens existem, ou parecem existir, é porque antes de tudo isso existe Deus). Se tivermos de levar em consideração o personagem, diremos apenas que "Deus está sendo refletido" ao invés de "Deus está aparecendo como". A Consciência se manifesta como um ser individual no Reino Infinito da própria Consciência, e somente lá.

"Deus está Se revelando a você, dentro de você, de uma forma individual [...]". Isso está ocorrendo no próprio âmbito de nossa Consciência. A Consciência (universal) do Ser é (se manifesta como) a nossa Consciência individual. O Infinito inteiro está se manifestando como a Consciência individual que somos. Significa que o Infinito, o Universal, se manifesta como cada Consciência individual e ao mesmo tempo se aloja/se coloca por inteiro dentro de cada uma dessas Consciências individuais. Cada Consciência individual (a sua e a minha) tem o Infinito inteiro contido em si. É com base nisso que Goldsmith é capaz de afirmar que a Consciência individual é a mesma Consciência Infinita Universal que se manifesta como ela (consciência individual). A nossa Consciência individual e a Consciência do Ser são a mesma e a única Consciência. Quando ele diz que Deus está se revelando "dentro de você", a palavra "dentro" quer dizer a própria Consciência do Ser.

Seguindo (pág. 83): "Você está levando em sua consciência a manifestação de Deus, de Seu próprio ser como quem ensina, cura, supre, protege e salva. Quer Ele apareça dentro de você como a idéia de alguma personalidade do passado, do presente ou do futuro; quer Ele apareça a você como um professor ou um ensinamento exteriorizado; quer Ele apareça a você como uma posição ou um investimento, por favor, lembre-se disso: Deus é onipresente em sua consciência como forma individual, como individualidade individual. Em todas as horas e em todos os lugares, Deus está presente dentro de você como o seu professor, como o seu ensinamento, como o seu companheiro, como todas as suas coisas desta existência."

O "professor" ou o "ensinamento" que aparecem (exteriormente) para você não são aparições em si mesmos, pois nada são em si mesmos (ou seja, são meros reflexos). O "professor" e o "ensinamento" são Deus se manifestando em sua própria consciência como uma idéia divina. Ele sempre está presente em sua consciência esperando o reconhecimento, e Ele sempre estará lá MANIFESTANDO qualquer forma que seja necessária, até o ponto em que você queira reconhecer a manifestação de Deus como uma idéia divina dentro de você e não tenha medo de que a Idéia divina apareça para você de alguma forma que você não tenha vivenciado até agora.

É no âmbito da Consciência do Ser que Deus está manifestado. Deus não está "aparecendo como" no mundo visível. É na Consciência o lugar onde todas as idéias existem e todas coisas estão acontecendo. Ênfase nisso: todas as coisas! O professor, o mestre, o ensinamento, a cura, a proteção, o suprimento... até mesmo as experiências da nossa vida estão se dando no âmbito da Consciência do Ser. Não vivemos no mundo como "personagens", mas vivemos em Deus. Quando nos movemos ou caminhamos, não o fazemos no mundo, mas em Deus. "Em Deus nos vivemos, nos movemos, e temos o nosso ser". Jamais ser algum caminhou no mundo, mesmo que pareça caminhar. Igualmente, todas as nossas experiências estão sendo vividas em Deus. É preciso mudar o foco, trocar o referencial dos acontecimentos . Sempre associei a palavra "manifestação" ou "materialização" ao mundo exterior. Só que, através dos estudos e das meditações, sou levado a perceber que é errado assimilar essas palavras com o mundo visível. Dizer que algo se manifestou ou materializou no mundo visível é o mesmo que dizer que alguém "caminhou, viveu e teve seu ser no mundo visível". No mundo visível não se manifesta nada, nem se materializa nada. Essa visão é errônea. Todos os acontecimentos e atividades ocorrem na Consciência do ser, inclusive as manifestações e materializações. Por tanto, tudo ocorre dentro. "O Reino de Deus está dentro de vós".

"[...] essa consciência, que é conhecida como Jesus Cristo, Krishna ou Buda (essa consciência que é conhecida como alguma grande luz ou personalidade religiosa e espiritual), está onipresente dentro de você e pode aparecer a qualquer momento em que você abra a sua consciência. Pode tomar a forma de palavras ou pensamentos."

Tudo o que ocorre, ocorre na Consciência do ser. Tudo o que existe, somente existe na Consciência do ser. Realizar isso significa ter discernimento espiritual. Mas se associarmos os acontecimentos e as coisas como existentes no mundo visível, então não haveremos de falar em percepção espiritual, porque a percepção será a do personagem, que é mental.

Propositadamente, ao escrever este texto, eu praticamente desprezei a existência fenomênica, e me neguei a estabelecer qualquer forma de "vínculo" entre "pessoas", "acontecimentos", "aparições", "manifestações", "materializações" com o mundo visível. Disse que jamais algo aparece no mundo visível, porque toda aparição se dá somente no reino da Consciência. Essa radicalidade é o que permite o acesso à essa percepção espiritual que foi obtida pelos místicos através de Revelação. A percepção deve ater-se estritamente ao Espírito. A Bíblia diz "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ela. Que estreita é a porta, e que apertado o caminho que leva para a vida, e que poucos são os que acertam com ela"( Mateus, VII: 13 e 14)". Qualquer afastamento do Espírito, o mínimo que seja, atira-nos diretamente para o reino da mente, fazendo-nos cair na percepção da mente do personagem.

A percepção espiritual requer interiorização. Goldsmith diz (pág. 84): "Deus pode aparecer a você individualmente: Deus pode parecer a você dentro de sua própria consciência como aquele que ensina, cura, salva, direção, sabedoria e orientação.", "Quanto maior o grau de desenvolvimento você atingir neste trabalho, maior será a revelação interior de uma natureza individual vinda a você. Você receberá a sua manifestação individual de Deus e Deus aparecerá a você de uma forma individualizada."

Jamais esperemos que isso se dê no reino visível! Mas se reconhecermos que tudo isso está ocorrendo na Consciência do Ser EXATAMENTE AGORA, então surgirá no mundo visível uma imagem condizente com essa percepção. Tal imagem será tão somente um reflexo, uma projeção (como ensina a Seicho-no-Ie).

Página 84: "O propósito desse ensinamento é tornar Deus visível e real para você, individualmente, como uma experiência viva.". Deus não poderá se tornar visível e real para nós enquanto não nos libertarmos da crença (mental) que diz que a vida está acontecendo neste mundo dos personagens. No mundo dos personagens não há vida alguma, porque toda Vida está em Deus. Agora se atente perceber a sutileza disto: Este mundo dos personagens não é o mundo visível. Visível é somente o mundo de Deus. Atribuir visibilidade ao mundo fenomênico é o mesmo que atribuir a ele "manifestações" e "materializações". Compreendendo-se isso, Deus se torna visível e real.

Página 85: "Podemos viver, mover-nos e ter o nosso ser na consciência de Deus vinte e quatro horas por dia", "O propósito e a mensagem do 'Caminho Infinito' é fazer de Deus uma realidade viva, a fim de que você, ao fechar os olhos ou abrí-los, tenha sempre a sensação e o sentimento dessa Presença divina orientando, conduzindo, dirigindo e instruindo você."

Essa meta é do mesmo significado das palavras de Cristo: "buscai primeiramente o reino de Deus e as coisas de Deus, e tudo o mais vos será acrescentado."