"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, novembro 09, 2011

A Consciência de Si Mesmo



“Este sutra diz respeito à consciência: ‘Incenso é criar o fogo da consciência em si mesmo’ – criar o fogo da consciência em si mesmo!

Primeiro é preciso entender o que se quer dizer por consciência. Você está caminhando; você está consciente de muitas coisas: das lojas, das pessoas passando por você, do tráfego, de tudo. Você está consciente de muitas coisas, apenas de uma coisa você está inconsciente: de você mesmo. Você está caminhando na rua: você está consciente de muitas coisas; você só não está consciente de si mesmo! Essa consciência de si Gurdjeff chamava ‘lembrança de si’. Gurdjeff dizia, ‘Constantemente, onde você estiver, lembre-se de si mesmo.’

Por exemplo, você está aqui. Você está me ouvindo, mas você não está consciente de quem está ouvindo, você não está consciente de si mesmo. Você pode estar consciente de quem está falando, mas você não está consciente daquele que está ouvindo. Esteja consciente de quem está ouvindo. Sinta a si mesmo aqui; você está aqui. Por um momento um vislumbre surge, e novamente você se esquece. Tente!

O que quer que você esteja fazendo, continue internamente fazendo uma coisa sem interromper: esteja consciente de si mesmo ao fazer aquilo. Você está comendo: esteja consciente de si mesmo. Você está caminhando: esteja consciente de si mesmo. Você está ouvindo, ou está falando: esteja consciente de si mesmo. Quando você estiver com raiva, esteja consciente de que você está com raiva. No exato momento em que a raiva estiver ali, esteja consciente de que você está com raiva. Essa constante lembrança de si cria uma energia sutil – uma verdadeira energia sutil dentro de você. Você começa a ser um ser cristalizado.

Normalmente, você é apenas um saco frouxo. Nenhuma cristalização, nenhum centro realmente – apenas uma liquidez, apenas uma frouxa combinação de muitas coisas sem qualquer centro – uma multidão, constantemente se modificando e se mudando, sem qualquer mestre interior. Por consciência se quer dizer: seja um mestre! E quando eu digo ‘Seja um mestre’, eu não quero dizer seja um controlador. Quando eu digo ‘Seja um mestre’, eu quero dizer, seja uma presença – uma presença contínua. O que quer que você esteja fazendo ou não fazendo, uma coisa precisa estar constantemente em sua consciência: que você é.

Este simples sentir a si mesmo, sentir que se é, cria um centro – um centro de quietude, um centro de silêncio, um centro de mestria interior – um poder interno. E quando eu digo ‘um poder interno’ eu quero dizer isso literalmente. É por isso que esse sutra diz ‘o fogo da consciência’. Ela é um fogo. Ela é um fogo! Se você começar a estar consciente, você começará a sentir uma nova energia em você – um novo fogo, uma nova vida. E por causa dessa nova vida, desse novo poder, dessa nova energia, muitas coisas que estavam dominando você simplesmente se dissolvem. Você não tem que brigar com elas.

Você só tem que brigar com sua raiva, sua cobiça, seu sexo, porque você é fraco. Assim, na verdade, a cobiça, a raiva e o sexo não são os problemas. A fraqueza é o problema. Uma vez que você comece a ficar forte internamente, com a percepção da presença interna que você é, as suas energias se tornam concentradas, cristalizadas num único ponto e um Eu nasce. Lembre-se, não um ego, mas um Eu nasce. O ego é um falso entendimento do Eu. Sem ter algum Eu, você continua acreditando que você tem um Eu. Isso é o ego. Ego significa um falso eu. Você não é um Eu, e ainda assim você acredita que você é um Eu.

Maulungputra, um buscador da verdade, foi até Buda. Buda lhe perguntou, ‘O que você está procurando?’

Maulungputra disse, ‘Eu estou procurando o meu Eu. Ajude-me!’

Buda pediu-lhe para fazer uma promessa: tudo o que lhe fosse dito, ele teria que fazer. Maulungputra começou a chorar e disse, ‘Como eu posso prometer? ‘Eu’ não sou. ‘Eu’ ainda não sou. Como posso prometer? Eu não sei o que serei amanhã. Eu não tenho qualquer Eu que possa prometer, por isso, não me peça o impossível. Eu tentarei. Eu posso dizer no máximo isso: eu tentarei. Mas eu não posso dizer que tudo o que você diga eu farei, porque quem fará isso? Eu estou à procura daquele que pode prometer e que possa cumprir uma promessa. ‘Eu’ ainda não sou.’

Buda disse, ‘Maulungputra, foi para ouvir isso que eu formulei aquela questão. Se você tivesse prometido, eu o teria mandado ir embora. Tivesse você dito, ‘Eu prometo que farei isso.’ Eu teria sabido que você não está realmente à procura do Eu, porque um buscador precisa saber que ‘ele’ ainda não é. Senão, qual o propósito da procura? Se você já é, não há necessidade. Você não é! E se isso pode ser percebido, então o ego evapora.’

O ego é uma falsa noção de algo que não existe em absoluto. ‘Eu” significa um centro que pode prometer. Esse centro é criado por estar continuamente consciente, constantemente consciente. Esteja consciente de que você está fazendo alguma coisa – de que você está sentado, que agora você está indo dormir, que agora o sono está chegando, que você está caindo no sono. Tente estar consciente em todo momento, e então você começará a sentir que um centro nasceu dentro de você, as coisas começaram a cristalizar, um centramento está ali. Tudo agora se relaciona a um centro.

Nós estamos sem centros. Algumas vezes nós nos sentimos centrados, mas aqueles são momentos em que a situação torna você consciente. Se de repente existe uma situação, uma situação muito perigosa, você começa a sentir um centro em você porque no perigo você se torna consciente. Se alguém vai matá-lo, naquele momento você não pode pensar, naquele momento você não pode estar inconsciente. Toda a sua energia está centrada, e aquele momento se torna sólido. Você não pode se voltar para o passado, nem pode se voltar para o futuro. Este exato momento se torna tudo. E então você está consciente não apenas do matador: você se torna consciente de si mesmo – daquele que está sendo morto.

Naquele momento penetrante você começa a sentir um centro dentro de si mesmo. É por isso que os jogos perigosos exercem atração. Pergunte a alguém que está indo escalar o topo do Gourishankar, do Monte Everest. Quando pela primeira Hillary foi até lá, ele deve ter sentido um centro subitamente. E quando pela primeira vez alguém chegou à Lua, uma súbita sensação de um centro deve ter ocorrido. É por isso que o perigo atrai. Você está dirigindo um carro e vai aumentando mais e mais a velocidade, até que a velocidade se torna perigosa. Então você não consegue pensar; os pensamentos param. Então você não pode sonhar, não pode imaginar. Então o presente se torna sólido. Em tal momento perigoso, quando a qualquer momento a morte é possível, de repente você fica consciente de um centro em si mesmo. O perigo somente atrai porque em perigo você algumas vezes se sente centrado.

Nietzsche disse em algum lugar que a guerra deveria continuar porque somente na guerra um Eu às vezes é sentido – um centro é sentido – porque guerra é perigo. E quando a morte se torna uma realidade, a vida se torna intensa. Quando a morte está bem próxima, a vida se torna intensa e você fica centrado. Em qualquer momento em que você se torna consciente de si mesmo, existe um centramento. Mas se isso é situacional, então quando a situação se desfaz aquilo desaparece.

Isso não deve ser apenas situacional. Isso deve ser mais interno. Assim, tente estar consciente em toda atividade comum. Quando sentar em sua cadeira, tente isso: esteja consciente de quem está sentado. Não apenas da cadeira, não apenas do quarto, da atmosfera ao redor, esteja consciente daquele que está sentado. Feche seus olhos e sinta você mesmo; pesquise profundamente e sinta você mesmo.

Herrigel estava aprendendo com um Mestre Zen. Por três anos continuamente, ele esteve aprendendo a arte de manejar o arco. E o Mestre sempre lhe dizia, ‘Está bom. Tudo o que você está fazendo está bom, mas ainda não é o bastante.’ Herringel tornou-se um arqueiro mestre. A sua pontaria tornou-se cem por cento perfeita, e ainda assim o Mestre lhe dizia, ‘Você está indo bem, mas ainda não o bastante.’

‘Com uma pontaria cem por cento perfeita!’ disse Herrigel. ‘Então, o que você espera? Como eu posso agora ir mais adiante? Com cem por cento de precisão, como você pode esperar algo mais?’

Conta-se que o Mestre Zen lhe disse, ‘Eu não estou me referindo à sua arte de manejar o arco, nem à sua pontaria. Eu estou me referindo a você. Tecnicamente você se tornou perfeito. Mas quando a sua flecha deixa o arco, você não está consciente de si mesmo, então tudo isso é fútil. Eu não estou interessado na flecha alcançando o alvo. Eu estou interessado em você! Quando a flecha no arco é lançada, internamente também a sua consciência deve ser lançada. E mesmo se você errar o alvo, isso não faz diferença alguma, mas o alvo interior não deve ser errado, e você o está errando. Você se tornou tecnicamente perfeito, mas você é um imitador.’ Mas para uma mente ocidental ou, na verdade, para uma mente moderna (e a mente ocidental é a mente moderna), é muito difícil se conceber isso. Isso parece tolice. A arte do manejo do arco diz respeito a uma eficiência em se ter uma mira muito particular.

Aos poucos Herringel foi ficando desapontado e um dia ele disse, ‘Agora estou indo embora. Isso parece impossível. Isso é impossível! Quando você está mirando em algo, a sua consciência vai ao seu alvo, ao objeto, e se você quiser ser um arqueiro bem sucedido você terá que se esquecer de si mesmo – para se lembrar apenas da pontaria, do alvo, e esquecer o resto. Somente o alvo deve estar ali.’ Mas o Mestre Zen estava continuamente forçando-o a criar um outro alvo interno. Este arco deve ser usado para atirar em dupla direção: apontando para o alvo externo e continuamente apontando em direção ao interno – o Eu.
Herrigel disse, ‘Agora eu me vou. Isso parece impossível. A sua condição não pode ser satisfeita.’ E no dia em que estava partindo, ele estava sentado. Ele veio para despedir-se do Mestre, e o Mestre estava apontando para um outro alvo. Outra pessoa estava aprendendo e pela primeira vez Herrigel não estava envolvido. Ele estava sentado e só estava ali para se despedir. No momento em que o Mestre terminasse sua aula ele iria se despedir e partir. Pela primeira vez, ele não estava envolvido.

Mas então, de repente, ele tomou consciência do Mestre e da consciência duplamente direcionada do Mestre. O Mestre estava mirando. Por três anos continuamente ele esteve com o mesmo Mestre, mas ele estava mais interessado em seu próprio esforço. Ele nunca viu realmente esse homem – o que ele estava fazendo. Pela primeira vez ele viu e percebeu, e de repente, espontaneamente, sem qualquer esforço, ele veio até o Mestre, pegou o arco de suas mãos, mirou o alvo e lançou a flecha. E o Mestre disse, ‘O.K.! Pela primeira vez você conseguiu. Eu estou feliz.’

O que ele fez? Pela primeira vez ele estava centrado em si mesmo, o alvo estava lá, mas ele também estava lá – presente. Assim, tudo o que você estiver fazendo, tudo – não precisa ser a arte de manejo de arco: tudo o que você estiver fazendo, até mesmo o simples estar sentado – esteja duplamente direcionado. Lembre-se do que está acontecendo do lado de fora e também se lembre de quem está dentro. (....)

Não me pergunte ‘Quem sou eu?’ Feche os olhos, vá para dentro e descubra quem está perguntando, quem é esse questionador. Esqueça de mim. Descubra a fonte da pergunta. Vá profundamente para dentro. (....)

Isto tem que ser descoberto e consciência significa o método para se descobrir esse centro mais interno. Quanto mais inconsciente você for, mais distante você estará de si mesmo. Quanto mais consciente, mais próximo de alcançar a si mesmo. Se a consciência for total, você estará no centro. Se a consciência for menor, você estará próximo da periferia. Quando você está inconsciente você está na periferia, onde o centro é completamente esquecido. Assim, essas são as duas possibilidades de se mover.

Você pode se mover para a periferia; então você se move para a inconsciência. Sentado diante de um filme, sentado em algum lugar ouvindo uma música, você pode esquecer-se de si mesmo; então você está na periferia. Mesmo me ouvindo, você pode esquecer-se de si mesmo. Então, de novo, você está na periferia. Lendo o Gita ou a Bíblia ou o Corão, você pode esquecer-se de si mesmo. Então você está na periferia.

Tudo o que você fizer, se você puder lembrar-se de si mesmo, então você estará próximo do centro. Até que um dia, de repente, você estará centrado. Então você terá energia. Essa energia, esse sutra diz, é o fogo. Toda a vida, toda a existência, é energia, é fogo. Fogo é um nome velho; agora eles chamam isso de eletricidade. O homem rotulou isso com muito nomes, mas fogo é um bom nome. Eletricidade parece um pouco morto; fogo parece mais vivo. Esse fogo interno, o sutra diz, é o incenso. Quando alguém vai a um culto, leva algum incenso, dhoop, com ela. Aquele dhoop, aquele incenso, é sem utilidade a não ser que você tenha vindo com seu fogo interno como sendo o incenso. (.....)

Aja atentamente. Esta é uma jornada longa e árdua e é difícil estar consciente até mesmo por um simples momento. A mente está constantemente batendo as asas. Mas isso não é impossível. Isso é árduo, isso é difícil, mas não é impossível. É possível! Para todo mundo isso é possível. Somente esforço é necessário – um esforço com todo o coração. Nada pode ser deixado para trás: nada internamente deve ser deixado sem ser tocado. Tudo deve ser sacrificado pela consciência. Somente então a chama interna será descoberta. Ela está ali. Se alguém descobrir a unidade essencial entre todas as religiões que já existiram ou que ainda possam existir, então essa simples palavra ‘consciência’ será a descoberta. (....)
Consciência é a técnica para se centrar, para alcançar o fogo interno. Ele está ali dentro. E uma vez que ele seja descoberto, somente então nós somos capazes de entrar no templo – não antes, nunca antes.

Mas nós podemos enganar a nós mesmos com os símbolos. Os símbolos existem para nos mostrar realidades profundas, mas nós podemos usá-los como fraudes. Nós podemos queimar um incenso externo, nós podemos adorar objetos externos, e então nos sentirmos à vontade, achando que fizemos alguma coisa. Podemos nos sentir religiosos sem que sejamos absolutamente religiosos. Isso é o que está acontecendo; é nisso que a terra se tornou. Todo mundo pensa que é religioso só porque está seguindo símbolos externos, sem qualquer fogo interno.
Continue fazendo esforços mesmo se você fracassar. Você está no começo. Você irá fracassar mais vezes, mas mesmo o seu fracasso irá ajudá-lo. Quando você fracassa ao tentar ser consciente por um simples momento, você sente pela primeira vez o quanto você é inconsciente.

Caminhando ao longo da rua, você não consegue dar alguns poucos passos sem cair na inconsciência. De novo você se esquece de si mesmo. Você começa a ler um letreiro e esquece de si mesmo. Alguém passa, você olha e então esquece de si mesmo.
Os seus fracassos serão úteis. Eles lhe mostrarão o quanto você é inconsciente. E mesmo se puder se tornar consciente de que você é inconsciente, você terá ganho uma certa consciência.

Se um louco se tornar consciente de que ele é louco, já estará no caminho da sanidade.”

OSHO - The Ultimate Alchemy - Vol. 2 - Capítulo #1 -


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