"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

sábado, março 19, 2016

Nossa Real Identidade e o Caminho do Meio

- Gustavo - 


Há alguns dias atrás, um leitor deixou o seguinte comentário:

Gostaria de um post sobre o que BUDA disse:

"O Eu é o mestre do eu. Que outro mestre poderia existir? Tudo existe, é um dos extremos. Nada existe, é o outro extremo. Devemos sempre nos manter afastados desses dois extremos, e seguir o Caminho do Meio." (Buda)

Muito obrigado.
Adolfo.


Atendendo ao pedido de nosso visitante, segue um comentário sobre a fala do Buda.

Buda é aquele que despertou para a sua real identidade. Ele está consciente de que seu ser não é o corpo físico que surge através do nascimento, vive uma curta duração de tempo, e que desaparece na morte. Ele identificou-se com Algo que está além do corpo físico. O corpo físico impele o ser humano a perceber o seu ser como algo separado de Deus e de toda a existência. O mundo ensina-nos a identificar nosso ser como sendo o corpo físico e, assim, experimentamos a nós mesmos como se existíssemos separados do Todo. Esse é o ego, o pequeno "eu", o qual existe a serviço da dualidade e da separação. Mas Buda (assim como outros grandes mensageiros iluminados) nos aponta a verdade de que nosso verdadeiro Ser não é o pequeno "eu" que se vê separado de Deus, mas sim o Eu transcendental que revela a Unidade do ser humano com tudo o que é.

Identificados com a separação (com o ego, o pequeno "eu") vivemos uma vida de dor, medo, angústia, sofrimento, carência, limitação. Essas serão a nossa experiência neste mundo sempre que o nosso ser estiver identificado com o pequeno "eu". Todavia, se ao invés de nos associarmos com a separação, nos identificarmos com a Unidade, nossa experiência neste mundo será de paz, alegria, amor, realização, integridade. Isso é o que está revelado por todos os mestres, escrituras e ensinamentos: a Unidade é realidade, a separação/dualidade é ilusão. É por isso que Buda diz: "O Eu é o mestre do eu. Que outro mestre poderia existir?". Nosso Eu Real, o qual existe sempre na luz da Unidade, é existência verdadeira. Ele é o Senhor a quem o pequeno eu deve se curvar e desaparecer. Quando o Eu verdadeiro brilha, o eu irreal tem de desaparecer, assim como a escuridão desaparece quando vem a luz.

"Tudo existe, é um dos extremos. Nada existe, é o outro extremo. Devemos sempre nos manter afastados desses dois extremos, e seguir o Caminho do Meio." 

Neste trecho, Buda traz o ensinamento sobre a importância do não-julgamento. Para conhecer a Verdade sobre o mundo como ele é, não se deve julgar como ele se nos apresenta. Ao longo da história sempre existiram discussões religiosas/filosóficas sobre a natureza do mundo. Alguns diziam que o mundo existia como parte integrante da realidade; outros diziam que o mundo não constituía parte da realidade, mas era uma ilusão/irrealidade.

O mundo é real ou irreal? Sobre isso a doutrina budista afirma: "É difícil conhecer o mundo como ele é verdadeiramente, pois, embora pareça real, ele não o é, e embora pareça falso, ele não o é. Os néscios não podem conhecer a verdade a respeito do mundo. Somente o Buda conhece verdadeira e completamente todas as coisas do mundo como elas são, e as ensina a todos os homens."

E Buda diz: se você quiser descobrir a verdade sobre o mundo, não o julgue, apenas o perceba. Apenas lance para ele uma percepção/olhar descomprometido, exatamente como o faz o espelho ao refletir qualquer coisa que se coloque diante dele. Ao proceder assim, você está se afastando de dois extremos. Um dos extremos diz que o mundo é real, o outro extremo diz que ele é irreal. Afastando-se dos extremos, e permanecendo no Caminho do Meio, você chega a conhecer Aquilo que é real. Uma Unidade é revelada sobre esses dois extremos. Mas isso não é algo para se ficar teorizando, é necessário colocar-se na posição de não-julgamento e buscar observar/perceber exatamente conforme Buda ensinou. Somente então você poderá ter a experiência de conhecer a Verdade.

Namastê!

2 comentários:

SERgio disse...

O mundo existe e não existe "ao mesmo tempo"...

Maya pode esconder ou revelar Brahmam. Depende do referencial...

Templo disse...

Caro SERgio,

É exatamente isso!

Suas palavras me lembraram uma observação de Humberto Rohden, em um livro onde ele comenta sobre o Bhagavad Gita. Ele diz:

Maya é a Natureza visível, que é maha-ya – grande afirmação, uma grande revelação de Brahman, mas que para os profanos se converte em “ilusão”. Se Maya é ilusão ou revelação, isso não depende de Maya, mas sim do homem que a contempla, com ignorância ou com sapiência. Nesse sentido, diz a filosofia oriental que a Natureza visível é como a teia da aranha, que tanto revela como vela (encobre) a aranha – Assim como Maya revela Brahman (o Ser), mas ao mesmo tempo o vela; a Natureza manifesta e oculta de Deus.


Com isso, ele revelou a mesma verdade indicada nas citações de Buda contidas neste post. Muito obrigado pelo comentário.

Grande Abraço!