"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 2/11

Masaharu Taniguchi


E quando chegou à casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus disse-lhes: Credes vós que eu possa fazer isto? Disseram-lhe: Sim, Senhor. Tocou, então, os olhos deles, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé. E os olhos se lhes abriram. (Mateus 9:28-30)

É lamentável que as pessoas busquem longe, sem saber que está bem perto o que buscam. É como se reclamassem de sede estando dentro da água. Não diferem de um filho de milionário na ilusão de pobreza. (Hakuin, mestre zen-budista)

O caso citado não se trata da cura de um só cego, mas de dois. Pelo poder da palavra e por meio do toque nos olhos, a fé das pessoas foi despertada profundamente, e consequentemente ambos os cegos ficaram curados e passaram a ver. Por que ocorreu a cura? Foi porque o ser humano é originariamente filho de Deus e saudável.

O mestre Hakuin também disse: "A humanidade é originariamente Buda". A Sutra do Nirvana diz: "A libertação constitui Buda". A Imagem Verdadeira da Vida, que é plenamente livre por natureza, está encoberta de "gelo" de ilusão e não está podendo manifestar a sua original liberdade. Desfazendo essa cobertura, a Vida se liberta, e a esse estado de liberdade diz-se Buda. A budificação, isto é, "tornar-se Buda", consiste na eliminação da ilusão e consequente restauração do estado de plena liberdade inerente ao homem-filho-de-Deus. Neste ponto, o budismo e o cristianismo se identificam.

O ser humano é filho de Deus, mas, se ele não se conscientizar disso, as suas qualidades inerentes não irão se manifestar. Foi visando a essa conscientização que Sakyamuni praticou ascese durante seis anos, e Jesus Cristo jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Esse tipo de ascetismo tem sentido como negação do corpo carnal. A Vida chamada "filho de Deus" se manifesta por meio do corpo carnal; este, por si só, não é a Vida que se chama Filho de Deus. Por isso, para manifestar a Vida que é o filho de Deus, é preciso, primeiramente, negar o corpo carnal. A crucificação de Jesus constitui o último degrau de negação do corpo carnal. Na Sutra do Lótus também consta que Issaishujô-kiken-bosatsu, negando o corpo carnal, queimou-o e depois manifestou o corpo de ouro indestrutível. Trata-se de um conto mitológico que expressa a Verdade de que o ser humano obtém a Vida eterna por meio do último degrau de negação do corpo carnal. Esta passagem é descrita na Sutra do Lótus como segue:

Nesse momento, o Buda Nichigatsu-jômyô-toku prega a Sutra do Lótus ao bodisatva Issaishujô-kiken e a vários ouvintes. O referido bodisatva desejou e aprendeu técnicas ascéticas. Seguindo os ensinamentos de Buda Nichigatsu-jômyô-toku, ele buscou a Buda com ardor, dedicando-se ao aprimoramento espiritual por doze mil anos, alcançou o sublime estado de concentração mental e sua mente se encheu de júbilo. (...) Fez chover no firmamento flores de mandala e perfume de candana (...), dedicando-os a Buda como oferenda. Terminada a oferenda, saiu da concentração mental, levantou-se e disse mentalmente a si mesmo: "Fiz essa oferenda a Buda com o meu poder sobrenatural, mas isso é insignificante com o fato de oferendar o meu próprio corpo". (...) Assim, untou o seu corpo com óleo aromético e, diante de Buda Nichigatsu-jômyô-toku, cobriu-se com veste celestial, embebeu-a de diversos óleos aromáticos, ateou fogo em seu corpo com seu poder sobrenatural, e a sua luz iluminou oitocentos milhões de mundos (...). O seu corpo se extinguiu após arder durante mil e duzentos anos. (...) Após terminar essa oferenda e morrer, ele renasceu no mundo de Buda Nichigatsu-jômyô-toku: nasceu (surgiu) subitamente, sentado em posição zen, na casa do rei Jotoku como seu filho, e imediatamente pregou ao pai os ensinamentos de Buda em forma de poesia (...). O Buda Nichigatsu-jômyô-toku dirigiu palavras ao bodisatva e entrou no nirvana tarde da noite (...). Naquele momento, o bodisatva disse a toda a multidão: "Vós todos, orai compenetradamente. Neste momento vou celebrar um ofício pela alma do falecido, dedicando-lhe uma oferenda" (...). Então, diante de oitenta e quatro mil túmulos, queimou seus cotovelos durante setenta e dois mil anos. (...) Nesse momento, inúmeros bodisatvas, seres celestiais, humanos e não-humanos, vendo-o sem cotovelos, ficaram inquietos, aflitos e tristes e disseram: "Esse bodisatva é o nosso mestre que nos doutrina. Mas ele, queimando seus cotovelos, fica com o corpo incompleto!". O bodisatva jura à multidão: "Eu, perdendo dois cotovelos, obterei infalivelmente o corpo dourado de Buda. Se for verdade o que estou dizendo, recuperarei meus dois cotovelos". Assim que acabou de jurar, os cotovelos foram restaurados. (Capítulo "Yakuo-bosatsu-honji)

E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido a vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós. (Lucas 22:19-20)

A crucificação de Jesus significa "x" (xis - anulação) e ao mesmo tempo "+" (positivo, afirmativo), isto é, ressurreição. Caro leitor, enquanto você considerar como seu Eu verdadeiro o seu corpo carnal que está vendo com os olhos carnais, não poderá descobrir a Vida eterna do homem. A vida eterna poderá ser conscientizada unicamente pela negação do corpo carnal e pela afirmação de uma dimensão mais elevada. A inteligência que faz ver o corpo carnal como sendo o homem em si, não passa de "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente. Por terem comido desse fruto, adão e Eva (representantes da humanidade) foram expulsos do jardim do Éden (mundo da Vida eterna). O "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente é o conhecimento baseado nos cinco sentidos, pois a serpente é um animal que rasteja na terra, isto é, na superfície da matéria. Vendo o homem com o conhecimento baseado nos cinco sentidos, ele não passa de aglomerado de "pó da terra" e não é Vida eterna. O homem enganado pela serpente foi declarado por Deus como vida limitada (sujeita à morte) com as seguintes palavras: "Porque tu és pó e ao pó voltarás".

O pecado original de Adão consistiu em ver o ser humano apenas com a inteligência dos cinco sentidos, considerando-o equivocadamente como existência carnal. Como tal, o homem é eterno pecador. Ele terá de se alimentar matando seres vivos, viver envolvido em conflitos e matanças. Enfim, será possível apenas uma vida de pecados. Mas o ser humano não consegue suportar tanto sentimento de culpa. Ele precisa absolutamente se livrar do homem carnal, que é um acúmulo de pecados, transcendê-lo, lançar-se no mundo sem pecado e conscientizar-se de que ele próprio é homem sem pecado. Do contrário, terá de sofrer de eterna autocontradição, a incoerência entre o desejo de ser puro e a vida maculada de lama. Para o homem se libertar dessa autocontradição e conscientizar-se de sua natureza perfeita e sem contradição como santo Filho de Deus, precisa, a todo custo, negar o corpo carnal. Somente por meio dessa negação, o ser humano pode atingir a conscientização de sua natureza espiritual sagrada e imaculada. Até consegui-lo por completo, ele continuará sendo descendente de Adão e não deixará de ser um mortal que "veio do pó e ao pó voltará".

Mas, como será possível a aniquilação do corpo carnal? Será por meio do suicídio? Matar a si próprio viola o mandamento "Não matarás". Então, o único meio que nos resta é a comunhão com Cristo. Comendo da carne de Cristo, bebendo do seu sangue, identificando-nos com a carne e o sangue de Cristo e ligando-nos à anulação do corpo (crucificação) de Cristo, teremos concluído a anulação do nosso corpo juntamente com a crucificação de Cristo, mesmo possuindo na realidade o corpo carnal. A redenção de Cristo tem duplo significado. O primeiro significado da redenção (atonement, em inglês) é a aniquilação comutativa da ideia de que o corpo carnal existe, e o segundo é a consequente união (at-one-ment) com Deus. A conscientização da união com Deus só é possível com a negação do corpo carnal. Entre as pessoas que, como nós, explicam a redenção de Cristo como "at-one-ment", temos a fundadora da Ciência Cristã, a sra. Mary Baker Eddy. Ela diz:

A ressurreição é a prática concreta por meio da qual o homem se une a Deus e, com isso, o homem passa a refletir a Verdade, Vida e o amor como filho de Deus. Jesus de Nazaré pregou a Verdade de que pai e filho (Deus e o homem) são um, e comprovou isso. Jesus negou corajosamente as provas sensoriais mostradas pelos cinco sentidos, fez oposição a mandamentos materialistas e dogmas farisaicos e, pelo seu poder de cura, refutou concretamente todos os seus opositores.

A redenção de Cristo foi para que o homem se reconciliasse com Deus, e não para que Deus Se reconciliasse com o homem. O "princípio de salvação por Deus", que é o Cristo, é o próprio Deus; assim sendo, que necessidade haveria de Deus Se crucificar para consolar a Si mesmo? O Cristo é a Verdade (...)

Cristo é a Verdade proveniente do amor eterno, e por isso não tem necessidade de se reconciliar com a sua própria origem. Por essa razão, o objetivo de Cristo era fazer o homem se reconciliar com Deus, e não Este Se reconciliar com o homem. O Amor e a Verdade não podem alimentar maldade contra o homem, que é realizador da vontade de Deus e imagem concretizada de Deus. (...) Jesus possibilitou ao homem ver a Imagem Verdadeira por meio do amor (o princípio básico de seu ensinamento) e lhe ensinou a reconciliar com Deus. Quando contemplar a Imagem Verdadeira com amor e intuição, que é superior aos cinco sentidos, o homem será salvo das leis materiais do pecado e da morte, graças à lei da Imagem Verdadeira, isto é, lei do amor de Deus. (Ciência e Saúde, pp. 18-19, de autoria da Sra. Eddy)

Se o homem está doente, é porque ele próprio não está reconciliado com Deus. Mesmo que ele seja aparentemente ateu, ele pensa na parte profunda da mente: "Sendo como sou, será que mereço ser perdoado por Deus?". Por isso, podemos dizer que a sua infelicidade ou a doença constitui uma espécie de autopunição. No subconsciente coletivo da humanidade, existe a ideia de que o pecado se extingue quando se impõe sofrimento ao corpo carnal. Essa ideia é difícil de ser erradicada por esforços individuais de aprimoramento espiritual. É aí que se torna necessário um redentor como Jesus. As doenças congênitas podem ser consideradas formas de autopunição para expiar os erros de encarnações passadas. Jesus curou doenças congênitas (tais como cegueira), eliminando o sentimento de culpa (pecado).

Na Seicho-No-Ie também, existem alguns casos verídicos de cura de mudos de nascença. Segundo contou um membro do setor de censura telefônica do Exército de ocupação americano sediado em Tóquio, uma criança de seis anos de idade que nascera surda-muda foi curada por um adepto da Seicho-No-Ie do Havaí. De que forma Jesus curou doentes? Ele usou palavras tais como "tem ânimo", "teu pecado foi perdoado", "é a vontade de Deus: sê puro", "a tua fé te salvou", etc. Com isso, o doente sente que foi perdoado dos pecados, que foi salvo, que foi purificado, e sua mente se tranquiliza. Além disso, às vezes, Jesus tocava com sua mão a parte afetada do doente, para lhe dar mais tranquilidade. Dessa forma, até as doenças incuráveis acabam curando-se quando a pessoa adquire paz de espírito após a eliminação do temor e do sentimento de autopunição do subconsciente.

Mas, então, como eliminar do subconsciente o sentimento de autopunição e o temor? Uma das formas consiste em realizar o at-one-ment (tornar-se um) com Deus por meio de expiação. Mas expiar totalmente vários pecados e carmas negativos por meio de esforços individuais é muito difícil. Torna-se, então, necessária uma expiação mais forte, isto é, uma expiação poderosa, feita por uma pessoa de grande caráter, tal como a redenção de Jesus. Nas igrejas cristãs, de modo geral, as pessoas, comungando com essa redenção, acreditam que ficam unidas à carne e ao sangue de Jesus e que, por meio dessa fé, vinculam-se ao amoroso ato de anulação da carne (crucificação) de Jesus; dessa forma, mesmo tendo o corpo carnal, conscientizam que são libertadas de todos os pecados relacionados com o corpo carnal, e essa conscientização elimina a ideia de autopunição do subconsciente. Este é o mecanismo de cura pela eliminação do sentimento de culpa.

Porém, na atualidade, as doenças não se curam só pelo fato de as pessoas se tornarem adeptas de igrejas cristãs comuns, porque a Verdade sobre a anulação do corpo, a Verdade sobre a redenção e a consequente Verdade da inexistência do pecado e da desnecessidade de autopunição não são compreendidas a fundo, verdadeiramente. Mas na Ciência Critã estão ocorrendo muitas curas somente pela leitura de livros sobre a Verdade, porque ela ensina a fundo a Verdade sobre a redenção. Na Seicho-No-Ie também ocorrem curas somente com a leitura de livros, o que foi alvo de polêmica durante algum tempo. Tais curas são possíveis devido à Verdade de que o homem é, por natureza, isento de doença, e, como diz a bíblia, "a Verdade vos torna livres". O ritual de comer pão e beber vinho não passa de ato simbólico para se chegar à compreensão dessa Verdade. Quando se conscientiza realmente a Verdade da inexistência do corpo carnal, são resolvidos os problemas de nascimento, envelhecimento, doença e morte, relacionados ao corpo carnal, e todos os sofrimentos cármicos. A cura de doenças é apenas uma parte dessas soluções.

Cont...
Do livro "A Verdade da Vida vol. 39", pp. 94-104

10 comentários:

Silvano disse...

Caros leitores,
Nesta exposição do tema "Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo" Masaharu Taniguchi está indo à essência da mensagem divina e então faz uma pausa, e escreve: "Caro leitor, enquanto você considerar como seu Eu verdadeiro o seu corpo carnal que está vendo com os olhos carnais, não poderá descobrir a Vida eterna do homem. A vida eterna poderá ser conscientizada unicamente pela negação do corpo carnal e pela afirmação de uma dimensão mais elevada."
Atentem bem porque esse é um ponto crucial no tema; é um divisor de águas no que se refere à conscientização da real identidade. É nesse ponto que muitos se perdem... porque perdem o foco e não assimilam a mensagem por inteiro!
Por isso Masaharu Taniguchi fez uma pausa no texto e decidiu conversar com o leitor!
O que não pode deixar de ser notado é que são duas coisas que Masaharu Taniguchi está dizendo; são duas coisas que devem ser feitas ao mesmo tempo, e da forma correta!
São elas:
1 - negação do corpo carnal;
2 - afirmação de uma dimensão mais elevada.

Como a base da revelação tida por Masaharu Taniguchi é de que “a matéria não existe” muitos pensam que se acreditarem convictamente que “a matéria não existe” estarão com isso negando o corpo carnal.
Contudo, o ensinamento de Masaharu Taniguchi não pode ser assimilado de forma fragmentada! A negação do corpo carnal advém da percepção de que “a matéria não existe”; E a percepção de que “a matéria não existe” é a percepção do “Eu” da Imagem Verdadeira; ela não é a percepção do “eu” fenomênico! A diferença entre essas duas percepções é que o “eu fenomênico” “pensa” e pode no máximo “acreditar convictamente” que “a matéria não existe”, porém somente o “Eu da Imagem Verdadeira” é quem realmente “percebe” que “a matéria não existe”! Notem bem que o “Eu da Imagem Verdadeira” não “pensa” que “a matéria não existe”, ele simplesmente “percebe”!
Por isso é essencial no ensinamento de Masaharu Taniguchi a prática da Meditação Shinsokan para a conscientização ou “percepção” de que “a matéria não existe”! Por isso foi dito que o ensinamento de Masaharu Taniguchi não pode ser assimilado de forma fragmentada!
Assim, “a negação do corpo carnal” pode ser feita com a mente, a partir do pensamento ou pode advir da Meditação, com a percepção de que “a matéria não existe” e que o próprio corpo carnal e também o “eu fenomênico” não são existências reais.
E aqui entra aquele segundo ponto essencial: A afirmação de uma dimensão mais elevada!

Silvano disse...

Enquanto a “negação do corpo carnal” corresponde no cristianismo ao conceito de “crucificação” [alguns ensinamentos espirituais associam este conceito cristão ao conceito de “anulação do ego”] a “afirmação de uma dimensão mais elevada” corresponde ao conceito da “ressurreição”.
Masaharu Taniguchi esclarece que: “A crucificação de Jesus significa "x" (xis - anulação) e ao mesmo tempo "+" (positivo, afirmativo), isto é, ressurreição.”
Masaharu Taniguchi esclarece também que: “para manifestar a Vida que é o filho de Deus, é preciso, primeiramente, negar o corpo carnal. A crucificação de Jesus constitui o último degrau de negação do corpo carnal.
O que se segue é um conceito aprofundado e essencial neste tema. A assimilação desse conceito facilitará a compreensão do conto mitológico narrado por Masaharu Taniguchi sobre a interação entre o Buda Nichigatsu-jômyô-toku e o bodisatva Issaishujô-kiken. [e cada um de nós!]
Acompanhem com atenção:
Para facilitar a assimilação concebam a imagem o Oceano...
O foco da nossa atenção sobre o Oceano irá transitar da superfície às profundidades...
Iniciamos nos focando na superfície, observando as ondas do Oceano: Chamamos este primeiro foco de atenção, direcionado às ondas, de “concentração”. Aqui estamos apenas direcionando a atenção à superfície onde podemos observar as ondas e não a qualquer outro ponto do Oceano!
Um segundo foco de atenção, ainda está relacionado às ondas, mas agora com outro enfoque, sobre os movimentos e as formas infinitas que estas ondas assumem. O que era no início uma simples atenção direcionada às ondas e não a qualquer outro ponto do Oceano passa a ser um desfrute do que está sendo percebido. A isso chamamos de “contemplação”.
Estes focos de atenção, “concentração” e “contemplação”, correspondem respectivamente ao período do ascetismo no qual o buscador procura desfocar sua atenção do mundo fenomênico e direcioná-la na busca por Deus, através da concentração mental, e o período do desfrute que se segue ao perceber que Deus subjaz a toda Sua criação divina! Que é o período da contemplação.
Ao final destes dois períodos desperta-se no paraíso, no “solo da Imagem Verdadeira”, no Nirvana. É a percepção de Unidade ou “meditação”! É a percepção de que Quem percebe é o próprio Deus.
Vejamos como isso está retratado no conto mitológico narrado por Masaharu Taniguchi, que diz:
“Na Sutra do Lótus também consta que Issaishujô-kiken-bosatsu, negando o corpo carnal, queimou-o e depois manifestou o corpo de ouro indestrutível. Trata-se de um conto mitológico que expressa a Verdade de que o ser humano obtém a Vida eterna por meio do último degrau de negação do corpo carnal. Esta passagem é descrita na Sutra do Lótus como segue:

Silvano disse...

Nesse momento, o Buda Nichigatsu-jômyô-toku prega a Sutra do Lótus ao bodisatva Issaishujô-kiken e a vários ouvintes. o referido bodisatva desejou e aprendeu técnicas ascéticas [a fim de “concentrar” a mente na busca por Deus]. Seguindo os ensinamentos de Buda Nichigatsu-jômyô-toku, ele buscou a Buda com ardor, dedicando-se ao aprimoramento espiritual por doze mil anos, alcançou o sublime estado de concentração mental e sua mente se encheu de júbilo. (...) Fez chover no firmamento flores de mandala e perfume de candana (...), dedicando-os a Buda como oferenda. Terminada a oferenda, saiu da concentração mental [este é o marco do final “concentração”], levantou-se e disse mentalmente a si mesmo [Atentem bem que ele “diz a si mesmo”, ou seja, ele não volta sua atenção para nada fora de si mesmo!]: "Fiz essa oferenda a Buda [após o “esforço ascético”; após a “concentração mental”] com o meu poder sobrenatural, mas isso é insignificante com o fato de oferendar o meu próprio corpo". (...) Assim, untou o seu corpo com óleo aromático e, diante de Buda Nichigatsu-jômyô-toku, cobriu-se com veste celestial, embebeu-a de diversos óleos aromáticos [fez algo a ser desfrutado a fim de contemplar: cobrir-se com veste celestial, embebe-la de diversos óleos aromáticos], ateou fogo em seu corpo com seu poder sobrenatural [e contemplou a tudo percebendo tratar-se de uma representação plena de luz divina], e a sua luz iluminou oitocentos milhões de mundos (...) [Disse Jesus: Quando Eu for levantado – do chão da visão materialista deste mundo – a muitos atrairei a Mim]. O seu corpo se extinguiu após arder durante mil e duzentos anos [Aqui há uma implícita comparação de que a “contemplação” requer apenas um décimo do tempo empreendido na fase de ascetismo da “concentração mental”]. (...)
O que se seque é uma descrição da “meditação”... a percepção da Realidade!
Após terminar essa oferenda e morrer [após o período de ascetismo e de negação completa do corpo carnal pela percepção de que a matéria, a mente e o mundo são apenas “representação”], ele renasceu no mundo de Buda Nichigatsu-jômyô-toku: nasceu (surgiu) subitamente, sentado em posição zen, na casa do rei Jotoku como seu filho, e imediatamente pregou ao pai os ensinamentos de Buda em forma de poesia (...) [Após a concentração e a contemplação ele “surgiu, nasceu subitamente, ou seja, percebeu imediatamente, despertou para a Realidade de que está na “casa do Rei” e que “é seu Filho”] [E com essa percepção, esse despertar, imediatamente compartilhou a Verdade dos ensinamentos divinos]. O Buda Nichigatsu-jômyô-toku dirigiu palavras ao bodisatva e entrou no nirvana tarde da noite (...) [A Consciência do Ser continua a dirigir palavras ao “ser consciencial” e este se rege por elas. Revelou Jesus que “nem só de pão material vive o homem mas de toda palavra que procede de Deus]. Naquele momento, o bodisatva disse a toda a multidão: "Vós todos, orai compenetradamente. Neste momento vou celebrar um ofício pela alma do falecido [por todos os que se encontram na representação chamada “mundo espiritual”, que não é o mesmo que o paraíso, o Mundo da Imagem Verdadeira, a Realidade divina] dedicando-lhe uma oferenda" (...). Então, diante de oitenta e quatro mil túmulos, queimou seus cotovelos durante setenta e dois mil anos. (...)

Silvano disse...

Nesse momento, inúmeros bodisatvas, seres celestiais, humanos e não-humanos, vendo-o sem cotovelos, ficaram inquietos, aflitos e tristes e disseram: "Esse bodisatva é o nosso mestre que nos doutrina. Mas ele, queimando seus cotovelos, fica com o corpo incompleto!". O bodisatva jura à multidão: "Eu, perdendo dois cotovelos, obterei infalivelmente o corpo dourado de Buda. Se for verdade o que estou dizendo, recuperarei meus dois cotovelos". Assim que acabou de jurar, os cotovelos foram restaurados. (Capítulo "Yakuo-bosatsu-honji) [Assim demonstrou o bodisatva Issaishujô-kiken que ele o Buda Nichigatsu-jômyô-toku eram Um e o mesmo Ser!]
Enfim, a “afirmação de uma dimensão mais elevada” é essa percepção de Unidade com o Ser Real.
Essa “afirmação de uma dimensão mais elevada” que corresponde ao conceito da “ressurreição” está perfeitamente retratada neste conto neste trecho: “ele renasceu no mundo de Buda Nichigatsu-jômyô-toku: nasceu (surgiu) subitamente, sentado em posição zen, na casa do rei Jotoku como seu filho”
Negar o corpo carnal corresponde, em termos da linguagem usada no Núcleo, a perceber que o "corpo carnal", a matéria, o mundo fenomênico é uma representação, fruto da percepção da própria mente do personagem que estamos representando! Isso significa dizer que o "eu" que identificamos ao "corpo carnal", ou seja, a identidade do nosso "eu material", do nosso "eu fenomênico", não é a nossa real identidade. A origem desta identidade irreal é a percepção da mente do personagem. Significa que a percepção que nos faz identificar com quem estamos sendo, com quem estamos representando, não é a real percepção, mas apenas uma percepção que estamos mantendo... Quando a matéria é percebida como sendo inexistente, uma simples representação, a mente também o é, e da mesma forma a percepção da mente também o é.
Quanto a esta percepção da mente Masaharu Taniguchi diz que: "A inteligência que faz ver o corpo carnal como sendo o homem em si, não passa de "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente. Por terem comido desse fruto, adão e Eva (representantes da humanidade) foram expulsos do jardim do Éden (mundo da Vida eterna). O "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente é o conhecimento baseado nos cinco sentidos, pois a serpente é um animal que rasteja na terra, isto é, na superfície da matéria. Vendo o homem com o conhecimento baseado nos cinco sentidos [Vendo o homem com a percepção da mente do personagem], ele não passa de aglomerado de "pó da terra" e não é Vida eterna. O homem enganado pela serpente foi declarado por Deus como vida limitada (sujeita à morte) com as seguintes palavras: "Porque tu és pó e ao pó voltarás".
Aqui vai uma revelação que também passa sem ser notada por muitos! Tudo o que se passa após Adão e Eva terem “comido do fruto” da árvore do conhecimento do bem e do mal é fruto dessa árvore... é fruto da percepção que esta árvore produz! Ela produz a percepção dos cinco sentidos!
Isso significa que o episódio da expulsão de Adão e Eva do paraíso e o próprio Deus que os expulsa do paraíso são “frutos dessa árvore, ou seja, da percepção que esta árvore produz”...

Silvano disse...

O Deus real é Aquele do primeiro capítulo da Bíblia, Quem faz e vê que tudo que fez é muito bom! É o Deus que criou o homem a Sua Imagem e Semelhança! E esse fato não se alterou... Adão e Eva continuam no paraíso, mas estão sonhando... estão concebendo a realidade dos cinco sentidos...
Masaharu Taniguchi assim descreve a Realidade divina, consciencial, o mundo criado por Deus: “Esse mundo perfeito deve ser chamado mundo da ideia primeira de Deus. A pessoa não ciente de que ela própria é uma ideia concebida por Deus, portanto, que é um ser espiritual que mora no mundo da ideia primeira criado por Deus, sonha, e no sonho concebe a ideia segunda: “sou matéria, pois possuo forma”. Esse mundo imaginário criado pela ideia segunda é o mundo em que vivemos, o qual não é o mundo da ideia primeira, de Existência Verdadeira. O homem, pensando erroneamente que este é o mundo da Existência Verdadeira, apega-se a ele; e onde há apego nasce o sofrimento e a ilusão gera a ilusão. Foi assim que surgiu o mundo de conflitos, o mundo da luta pela sobrevivência.” [A Verdade da Vida, volume 11, páginas 33 e 34]
Masaharu Taniguchi escreve: O pecado original de Adão consistiu em ver o ser humano apenas com a inteligência dos cinco sentidos, considerando-o equivocadamente como existência carnal. Como tal, o homem é eterno pecador. Ele terá de se alimentar matando seres vivos, viver envolvido em conflitos e matanças. Enfim, será possível apenas uma vida de pecados. Mas o ser humano não consegue suportar tanto sentimento de culpa. Ele precisa absolutamente se livrar do homem carnal, que é um acúmulo de pecados, transcende-lo, lançar-se no mundo sem pecado e conscientizar-se de que ele próprio é homem sem pecado. Do contrário, terá de sofrer de eterna autocontradição, a incoerência entre o desejo de ser puro e a vida maculada de lama. para o homem se libertar dessa autocontradição e conscientizar-se de sua natureza perfeita e sem contradição como santo Filho de Deus, precisa, a todo custo, negar o corpo carnal. Somente por meio dessa negação, o ser humano pode atingir a conscientização de sua natureza espiritual sagrada e imaculada. Até consegui-lo por completo, ele continuará sendo descendente de Adão e não deixará de ser um mortal que "veio do pó e ao pó voltará".
Nesse ponto voltamos à necessidade daquela “afirmação de uma dimensão mais elevada”, aquela percepção de Unidade com o Ser Real.
Aqui Masaharu Taniguchi se vale da percepção compartilhada por Mary Baker Eddy que diz:

A ressurreição é a prática concreta por meio da qual o homem se une a Deus e, com isso, o homem passa a refletir a Verdade, Vida e o amor como filho de Deus. Jesus de Nazaré pregou a Verdade de que pai e filho (Deus e o homem) são um, e comprovou isso. Jesus negou corajosamente as provas sensoriais mostradas pelos cinco sentidos, fez oposição a mandamentos materialistas e dogmas farisaicos e, pelo seu poder de cura, refutou concretamente todos os seus opositores.

Silvano disse...

O Amor e a Verdade não podem alimentar maldade contra o homem, que é realizador da vontade de Deus e imagem concretizada de Deus. (...) Jesus possibilitou ao homem ver a Imagem Verdadeira por meio do amor (o princípio básico de seu ensinamento) e lhe ensinou a reconciliar com Deus.
E Mary Baker Eddy completa, dizendo:
Quando contemplar a Imagem Verdadeira com amor e intuição, que é superior aos cinco sentidos, o homem será salvo das leis materiais do pecado e da morte, graças à lei da Imagem Verdadeira, isto é, lei do amor de Deus. (Ciência e Saúde, pp. 18-19, de autoria de Mary Baker Eddy).

“Contemplar a Imagem Verdadeira com amor e intuição, que é superior aos cinco sentidos” é meditar, é perceber com a percepção do Eu Verdadeiro. Vale lembrar que na Meditação Shinsokan é a própria Imagem Verdadeira, ou seja, é a percepção do “Eu Verdadeiro” em nós Quem imediatamente deixa o mundo dos cinco sentidos.
Enfim, a meditação é a percepção que proporciona as duas coisas ao mesmo tempo:
1- Negação do corpo carnal, pela percepção de que o mundo fenomênico é uma representação;
2 - Afirmação de uma dimensão mais elevada, pela percepção de que o mundo divino é Realidade.
Tendo compartilhado essas percepções findo esse comentário.
Namastê.

Templo disse...

Amigos leitores,

O comentário acima, feito pelo Silvano, detém uma explicação completa de absolutamente tudo o que Masaharu Taniguchi explanou neste post.

Basicamente, tudo se resume a compreender que há no ser humano duas visões/percepções possíveis: uma que percebe a representação (mundo fenomênico) e outra que percebe a Consciência do Ser (o mundo onde habita o próprio Ser).

Um ponto muito importante abordado pelo Silvano é que devemos nos atentar para o fato de que não adianta pensar (com a mente do personagem) que "a matéria não existe". A constatação verdadeira de que a "matéria não existe" ocorre naturalmente quando se está percebendo o próprio Ser. O Ser percebe a si mesmo, não pelo pensamento, mas por meio da própria percepção. A mesma percepção que possibilita perceber a Consciência do Ser é a que, concomitantemente, nos possibilita constatar que a matéria não existe.

Enfim, a "negação da matéria", a "negação do corpo carnal" preconizada pela Seicho-No-Ie não é algo a ser feito pelo pensamento ou por meio de exercícios mentais. Ao invés de agitar sua mente, pensando exaustivamente que "a matéria não existe", o personagem deve silenciar a mente a fim de poder perceber que a matéria não existe. Pois é o Ser quem proporciona a percepção de que somente Ele é real e o mundo da matéria é apenas uma representação.

Namastê!

Unknown disse...

Namastê!

Templo disse...

_/\_

Alex disse...

Muito bom!