"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quinta-feira, junho 06, 2013

Preleções Nucleares: A Unidade Essencial - 2/4

Gugu


Na postagem anterior foi explanada a base de todo o ensinamento do Núcleo. Apresentando um resumo do texto anterior, destacamos os seguintes pontos: a) somos Consciência, Atenção ou Percepção; b) valemo-nos da metáfora do Ator e da representação divina para entender a Verdade espiritual profunda; b) Deus – a Consciência do Ser – é tudo o que existe. Ele é a Verdade Suprema; c) a nossa identidade real é a Consciência do Ser, é Quem somos; d) o universo da dualidade é uma representação divina; e) podemos perceber nossa identidade como sendo a Consciência do Ser (Quem somos) ou como sendo um personagem (quem estamos sendo); f) há em cada um de nós duas percepções: a percepção consciencial e a percepção mental; g) identificados com o Ser, percebemos com a Consciência do Ser; ao passo que quando estamos identificados com o personagem, percebemos com a mente do personagem; h) a percepção consciencial revela a percepção que o Ser tem da realidade; e a percepção mental revela a percepção limitada concebida pela mente do personagem.

Com essas lembranças em mente, consideremos a seguinte tabela sinótica apresentada num esquema de duas colunas:



 
Esse quadro comparativo permite ver num só lance as diversas facetas, características e atributos que inerem ao "Eu" e ao "eu".

No Núcleo, a percepção consciencial é a percepção que provém da Consciência do Ser, ou seja, do Ser Real, que é Deus. Aqui, a Consciência do Ser é representada pela palavra "Eu", com "E" maiúsculo. O Eu divino é escrito com "E" maiúsculo. Por sua vez, a percepção mental é a percepção que provém da mente do personagem, e o eu-personagem está representado pela palavra "eu" com "E" minúsculo. Há, portanto, duas identidades que podem ser percebidas por nós: o Eu Real (O Ser Divino, o Cristo, o Buda em todos nós) e o eu fenomênico (o personagem, irreal).

A fim de poder entender ainda melhor o que são essas duas percepções, vamos agora adentrar e explorar cada um dos 18 pontos comparativos da tabela:

1 – Na primeira coluna está revelado Quem somos (Eu). Somos a Consciência do Ser, o Eu todo-abrangente, impessoal, universal, infinito, eterno, imutável, pleno, único. A percepção consciencial nos revela que somos Aquilo que Deus é. Deus é Quem somos.

Na segunda coluna está revelado quem estamos sendo (eu), ou seja, estamos sendo um personagem que tem a característica de ser: específico, pessoal, mutável, efêmero e finito. Um personagem surge, dura pouco tempo e morre. Por isso, não se pode dizer que o personagem "é". Quem é, é sempre – eternamente. Uma vez que o personagem surge e desaparece, ele não é – está temporariamente sendo. Os personagens não são existências reais.

Assim, há uma grande diferença entre "Quem somos" e "quem estamos sendo". Nós somos o Eu Real. E, na representação divina, estamos sendo os nossos personagens.


2 – O Eu "é", ao passo que o eu está apenas sendo. "Quem somos" existia antes do surgimento da representação e continuará a existir após o desaparecimento da representação. O nosso Eu real existe desde "antes que Abraão existisse". "Quem somos" Se revela também na representação. Mas jamais Ele desaparecerá, mesmo que na representação passe completamente a eternidade dos tempos. Ele está situado acima e fora de todo o tempo. A eternidade do Eu não se compõe da eternidade dos tempos que na representação podem passar infinitamente. Eternidade não significa "tempo infinito"; eternidade significa "fora da dimensão do tempo". Eu é eterno em Sua própria dimensão de existência – a dimensão absoluta e real da existência, constante, perene, que sempre É. Somente assim é possível afirmar "Eu sou".

Ao contrário do Eu, o personagem "não é". Um personagem não pode dizer "eu sou", mas ele pode dizer que: "eu estou sendo". Isso é mais exato. Dizer que o personagem "é" é incorrer em erro – pois o personagem é transitório, efêmero. Portanto, palavra que melhor se aplica ao Eu é sou, enquanto que a palavra que melhor se aplica ao personagem é o termo estou.

Não somos quem estamos sendo, somos Quem somos.


3 –  É correto afirmar que Deus é o Ser. E é também correto afirmar que Deus está sendo o personagem. Há uma unidade essencial entre o Ser que somos e o personagem que estamos sendo. Essa unidade essencial existe, e só pode ser percebida pela Consciência do Ser em nós – a mente do personagem jamais percebe essa unidade. É necessário, portanto, despertar para o fato de que a percepção consciencial é uma percepção real e efetiva, que pode ser desfrutada por todos. Jesus, por exemplo, detinha essa percepção consciencial. Quando falava pela percepção mental, chamava a si mesmo de "filho do homem". Porém, quando falava a partir da percepção consciencial, chamava a si mesmo de "filho de Deus". Assim como o personagem Jesus, os nossos personagens também participam de uma Unidade essencial que há entre eles e Deus. Todos nós podemos representar o papel de nossos personagens e ao mesmo tempo permanecer conscientes de Quem somos. Quando estamos de posse dessas duas percepções, estabelece-se uma conexão entre personagem e Ser, então o personagem pode interagir consciencialmente com o Ser que em realidade somos.


4 – O Ser percebe com a Consciência, ao passo que o personagem percebe com a mente. O Ser só pode ser percebido pela própria Consciência do Ser. É a própria Consciência que percebe a Consciência. Tentar perceber Deus ou a Consciência com as faculdades da mente revelará ser um esforço vão e infrutífero. A mente somente pode perceber coisas mentais. Ninguém, com a visão dos cinco sentidos, com a visão mental, jamais viu a Deus. E Deus nunca será visto por essa forma. Somente o próprio Ser, pela “Consciência do Ser”, pode transcender a percepção da mente e perceber-Se! Devemos perceber Deus com a própria visão de Deus – com a visão de Deus em nós. As escrituras sagradas dizem que o que é espiritual só pode ser discernido espiritualmente, de Espírito para Espírito. Do mesmo modo, a nossa visão de Deus e o nosso encontro e interação com Deus dar-se-ão somente pela via da Consciência para a Consciência.


5 – O Ser está sempre em seu estado constante e permanente de Bem-Aventurança. A mente do personagem, por sua vez, ora está feliz, ora está infeliz. A mente existe no âmbito na dualidade, e na dualidade tudo o que existe é relativo, instável e passível de oscilação. A felicidade somente pode existir se houver o contraste com a infelicidade, ou seja, o seu oposto polar. Na dualidade as polaridades existem sempre juntas e ao mesmo tempo. Elas são como os dois lados de uma moeda – se um lado for retirado o outro não pode ser mantido. Felicidade e infelicidade, vida e morte, bem e mal, amor e medo, luz e sombra, são todos relativos e caminham juntos. Assim, devido à dualidade o estado mental deverá oscilar e flutuar constantemente entre essas duas polaridades.

O mesmo não ocorre no âmbito da Consciência do Ser. A dimensão de existência do Ser está situada fora da dualidade; o Ser existe na dimensão da Unicidade. Nessa dimensão existe o Bem absoluto, que não deve ser confundido com o bem relativo da dualidade que somente pode existir em contraposição ao mal. Da mesma forma, o estado de Bem-Aventurança do Ser é um estado absoluto que existe sem a necessidade de contraposição a um estado oposto. O Ser vive em estado imutável e constante de Bem-aventurança.


6 – O Atman está relacionado à Consciência do Ser. O que é o Atman? É o Ser Divino universal que Se manifestou como o Ser Divino individual. A Consciência do Ser é uma existência absoluta, suprema, universal, infinita e toda abrangente, é a Totalidade de todas as coisas. Quando essa Consciência Universal resolve Se manifestar como o Ser individual, nesse momento surge o Atman. Ao Ser Universal todo abrangente os ensinamentos védicos utilizam o termo Paramatman. E, quando Paramatman Se manifesta na forma individual, Ele passa a ser denominado Atman. Paramatman e Atman são Um em todos os seus aspectos! Eles são o mesmo Ser supremo e absoluto.

No ensinamento cristão, Deus enquanto Ser Universal (Paramatman) é designado como "Pai". Ao passo que, enquanto Ser Individual (Atman), Deus é chamado de "Filho". Deus é tudo! E Deus é o único Criador. Tudo o que foi criado por Deus é Deus! Porque não há, em absoluto, separação alguma entre Deus e Sua criação ou entre Deus e o homem. A única diferença que há entre Deus e o homem é a seguinte: o homem é a manifestação de Deus individualizada, enquanto Deus – a Consciência – é a imagem do próprio Ser infinito. Cada ser individual é uma expressão distinta, genuína e autêntica do Ser Divino. Cada ser individualizado é um "filho de Deus", é o próprio Todo manifestado como o indivíduo (parte). E a parte é tão infinita e vasta como o é o próprio Todo. Em qualquer situação, o Infinito continua sendo o Infinito.
 
É importante ter em mente que o homem ao qual nos referimos não é aquele que existe no âmbito da representação. O homem que existe na representação não é o homem verdadeiro (Atman), é apenas um personagem do Ser (Jiva). Quando falamos sobre o Atman, o Filho de Deus, estamos nos referindo ao homem verdadeiro que existe fora da representação. O homem verdadeiro que existe fora da representação não é um ser da representação. Ele vive na Realidade Divina sendo, portanto, um ser consciencial. Todos os seres conscienciais vivem na Realidade Divina e sabem Quem são, porque se percebem consciencialmente, e por isso se percebem como o Ser único. A realidade divina se expressa na representação, mas está fora da representação. O Atman existe em Paramatman. O Filho de Deus tem a sua vida e  existência em Deus. Pai e Filho são um.

A percepção consciencial é a percepção da Consciência do Ser, Deus. Quando acessamos a percepção consciencial e vemos com a visão de Deus, percebemos que a parte é o Todo e o Todo é a parte. Conhecer a "parte" significa conhecer a Totalidade, porque em se tratando de Deus, a parte não é "parte" em absoluto, mas é a própria Totalidade. Conheça a "parte", e você terá conhecido a Totalidade. Conheça o seu Ser Individual, e você terá conhecido o Ser Universal. Conheça o Filho, e você também terá conhecido o Pai. Jesus, que sabia ser o Filho de Deus, nos confirmou isso, dizendo: "Ninguém vai ao Pai senão por Mim.". Este "Mim" é o Filho de Deus.


7 – O Ser é atemporal. Ele habita a dimensão da Eternidade. Ele está fora do tempo, e está fora da representação. Nascimento e morte não O envolvem, são fenômenos que pertencem ao universo da representação. O personagem existe na representação, é temporal e está sujeito a nascimentos e mortes.

A Eternidade é o Presente atemporal. A partir de sua posição atemporal, que está acima da representação, o Ser contém em Si todos os tempos. Passado, presente e futuro existem todos ao mesmo tempo, de uma única vez, num só lance. Do ponto de vista do Ser, o passado não vem antes do presente, e o presente não vem antes do futuro. Na representação, o passado necessariamente ocorre antes do presente, e o presente ocorre antes do futuro. Para o Ser, passado, presente e futuro são imediatos, existem todos ao mesmo tempo. Em decorrência deste princípio, podemos afirmar que o Ser transcende o tempo, fazendo-Se presente (e acessível) em todas as épocas. Passado, presente e futuro da representação estão todos no Presente eterno atemporal que existe na dimensão da Consciência do Ser.

A Consciência do Ser é onipresente. Tudo o que o Ser foi no passado, Ele é no presente e será no futuro. Tudo o que foi válido para o Ser no passado, é também válido hoje e será válido em qualquer época no futuro – porque Deus não muda, Ele é sempre o mesmo. E nesse fato encontramos um outro segredo: toda a verdade afirmada pelos iluminados, avatares e santos do passado é também a verdade sobre nós próprios. Tudo o que eles declararam ser válido para eles, é também válido para nós (que estamos no presente) e para todos aqueles que estão vivos no futuro.

Na Bíblia (Lucas 4: 16-21), encontramos um exemplo perfeito dessa verdade. Num dia de sábado, Jesus compareceu à frente de toda a sinagoga para que lesse, diante de todos, a sagrada escritura. Jesus recebeu em mãos o livro do antigo profeta Isaías e, quando abriu o livro, encontrou o lugar em que estava escrito: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a apregoar a liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor". Após ler tais palavras proferidas por Isaías, Jesus, cerrando o livro, disse a todos os que estavam ouvindo: "Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos".

Este acontecimento comporta um fundamento ou princípio espiritual de grande importância. Em geral, as pessoas pensam que essa passagem bíblica foi escrita meramente para informar ou narrar um fato a mais do dia-a-dia de Jesus, e por isso aproveitam muito pouco do que está ali contido. O significado espiritual dessa passagem está oculto em cada ação e atitude tomadas por Jesus, que não por acaso foram ali registradas. Se pudermos compreender cada uma de suas atitudes, teremos condição de nos colocar na posição de fazer o mesmo que ele, ou seja: acessar a mesma Presença ou Consciência com a Qual ele se identificava.

O que Jesus fez foi tomar como válidas para si mesmo as palavras ditas pelo profeta Isaías. Isaías foi um profeta que viveu no tempo do Antigo Testamento, em época muito anterior à de Jesus. Quando Isaías proferiu as palavras "O Espírito do Senhor está sobre mim, e me ungiu...", ele não estava profetizando, não estava se referindo a um Messias que viria no futuro, ele estava falando a respeito de si mesmo. Mas Jesus tomou as palavras de Isaías como válidas para si mesmo. Jesus compreendeu/reconheceu que a Verdade a respeito de Isaías era também a Verdade sobre de si mesmo, o que permitiu a ele dizer diante de todos: "hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvidos."

Ao reconhecer que a Verdade válida para Isaías era também a verdade para si próprio, Jesus acessou a percepção adimensional e atemporal (sem tempo ou espaço) da Unidade, onde ele e Isaías estavam integrados, não-separados. Em tal dimensão, o Universo não faz distinção de lugares ou seres; Ele é ao mesmo tempo todos os lugares e todos os seres, impessoalmente. Todos os "seres" e "lugares" são o Universo.
 
É muito importante notar que em sua vida Jesus jamais se encontrou com Isaías, não o conheceu, e nunca teve algum contato com ele. Muito pelo contrário: Isaías viveu na terra centenas de anos antes de Jesus. Apesar da atuação da poderosa força separativa de Maya (tempo e  espaço), Jesus identificou a verdade proferida por Isaías (centenas de anos atrás) como válida para si mesmo (hoje).

E a condição de separação que existia entre Jesus e Isaías é a mesma que há entre Jesus e cada um de nós. Olhando a partir de onde Jesus se encontrava, Isaías estava longe, no passado; olhando a partir daqui onde estamos, Jesus aparenta estar distante há 2000 anos. E hoje nós podemos abrir o livro da Bíblia e ali encontrar palavras/afirmações tremendas da verdade ditas por Jesus: "Eu e o Pai somos um", "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida", "Quem me vê a mim, vê Aquele que me enviou". Através do exemplo e atitude que demonstrou diante de todos os que estavam na sinagoga, Jesus ofereceu-nos a oportunidade de "segui-lo", mostrando que também podemos nos identificar com as palavras e as revelações divinas e sagradas, exatamente como ele fez. A unção que estava com Isaías e Jesus está também com cada um de nós que hoje tomamos o conhecimento dessas palavras.
  
O que Jesus disse de si mesmo é válido para a humanidade inteira, hoje. O que Buda disse de si mesmo também é válido para a humanidade toda, hoje. O que Krishna afirmou sobre si mesmo também é a verdade sobre todos, hoje. É a Unidade do Todo que nos outorga autoridade para afirmar tais verdades sobre nós mesmos.
 
Essa verdade existe devido ao fato (ou princípio)  de o Ser ocupar a posição de viver no Presente atemporal e, consequentemente, fazer-Se presente em todos os tempos e eras.
 

8 – Em contraposição ao Presente atemporal (que existe fora da representação, portanto, fora do tempo), tem-se o presente temporal. O presente temporal existe na representação juntamente com o passado e o futuro. Contudo, mesmo na representação, passado e futuro são irreais – apenas o presente temporal é real.  No universo da representação, o presente temporal espelha o Presente atemporal que existe na dimensão da Consciência do Ser. Assim, o presente temporal é a porta de entrada para o Presente atemporal. A mente do personagem tem à sua disposição o passado, o presente e o futuro. Porém ela evita a todo custo permanecer no momento presente, porque ele é a porta escapatória para a Consciência. Se a mente vier para o momento presente, ela começa a desaparecer e a Consciência passa a se evidenciar. Então, a fim de não perder o seu território para a Consciência, a mente tende a se agarrar ao passado (lembranças) e ao futuro (imaginação).

Estar alerta para o aqui-agora é a maneira de começar a acessar o Silêncio. Desfrutar inteiramente o momento presente é a chave para colocar a mente em estado contemplativo e, assim, desfocar a atenção/percepção da mente para o campo da Consciência. Quando a mente está com demasiada atenção no passado ou no futuro, o Silêncio fica obscurecido pelo ruído mental. E o Silêncio é o lugar onde que tudo acontece.


9 – A mente pensa e a Consciência medita. Pensar é atividade da mente do personagem – e o pensar sempre envolve passado e futuro. Meditar é atividade da Consciência do Ser – e diz respeito ao momento presente. O personagem não pode meditar jamais, por mais que ele queira ou tente. Isso é assim porque o personagem existe na representação enquanto que a meditação é um fenômeno pertencente a fora da representação. A meditação, portanto, está além da capacidade ou alcance do personagem. Se uma meditação ocorre em razão da capacidade ou esforços do personagem, não se trata da verdadeira meditação. A meditação verdadeira é uma atividade da Consciência do ser.

Antes de a meditação ter início é necessário estabelecer um estado de contemplação. A mente é incapaz de meditar, contudo ela pode colocar-se em estado contemplativo a fim de propiciar a ambiência necessária para que a meditação se dê. A mente do personagem só é capaz de chegar ao estágio da contemplação, a partir daí  atua a Consciência – a Consciência assume o comando e a meditação acontece.

Assim, a parte que cabe ao personagem é a de colocar sua mente em estado contemplativo, voltando-se para o momento presente e desfrutando-o por inteiro, até ter o vislumbre de que tudo o que existe (ou seja, tudo o que está acontecendo em seu momento presente, incluindo a própria existência do personagem que ele está representando) está simplesmente acontecendo sem esforço algum da parte de ninguém. Ninguém está fazendo nada, as coisas estão simplesmente acontecendo (a impressão é de que acontecem sozinhas, por si mesmas) sem dependerem de qualquer força ou agente da representação – como se houvesse "Alguém mais" encarregado de realizar todo o trabalho. É então que o indivíduo começa a perceber que há uma Inteligência fazendo tudo, dando andamento a tudo. Nesse ponto que a pessoa começa a perceber "Quem faz" todas as coisas. E somente a partir desse ponto é que emerge a verdadeira meditação, porque "Quem faz" realiza tudo – incluindo a atividade de meditar. Meditar significa perceber "Quem faz".

A meditação é sempre atividade da Consciência do ser.
 
Continua...
 

3 comentários:

Anônimo disse...

Por favor exemplifique o ( agir por dever ). Obrigada!

Templo disse...

Por exemplo: alguma vez você já esteve em uma situação em que desistiu (abriu mão) de algo, em favor de outra pessoa, mesmo sabendo que aquilo poderia trazer algum prejuízo ou desvantagem para você? Nesse caso, você sentiu que, mesmo que ficasse (aparentemente)prejudicada, aquilo seria o certo a fazer. A sensação e de que "sei que deve ser assim, e vou fazê-lo".

Lembro de uma colega minha da Seicho-No-Ie que me contou a seguinte história: ela havia ido de ônibus para o templo, e tinha com ela apenas o dinheiro das passagens de ida e volta. Chegando lá, ela viu uma pessoa precisando de ajuda para voltar pra casa e estava sem dinheiro. Essa colega, mesmo tendo em mãos apenas o dinheiro que a levaria de volta pra casa sentiu: "preciso ajuda-la", e entregou todo o dinheiro que havia com ela. Agora ela é que estava precisando do dinheiro para poder voltar pra casa. Normalmente, essa colega costuma pegar dois ônibus para poder chegar em casa. Pouco tempo depois apareceu uma pessoa que estava indo na mesma direção e a deixou praticamente na porta de casa. Esse é um exemplo bastante simples, mas ele ilustra bem o que vem a ser esse "agir por dever".

A pessoa age seguindo uma espécie de "voz" ou "intuição" que vem de dentro; ela sente qual é o ato certo a fazer. É como se você estivesse cumprindo com o seu papel, o seu dever, a sua missão. Se for necessário abrir mão do ego ou até mesmo passar por cima de circunstâncias aparentemente limitadas, o senso do correto dever o impelirá a fazer isso. Agir dharmicamente implica em "renunciar aos frutos da ação". Você age e não espera resultado algum a partir de seus atos, tampouco espera algo em troca. É um agir amoroso e incondicional. A satisfação é encontrada no próprio agir (o que o faz ficar atenta a cada ação, ao momento presente).

Agir dharmicamente é ação iluminada.

Namastê!

Anônimo disse...

Entendi muito bem e identifiquei vários aspectos da minha vida em que agi por dever mas em muitos casos embora tentando agir da melhor maneira possível, náo havia uma ceteza se estava fazendo a coisa certa ou não!!!