"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, junho 23, 2010

A Vida que flui eternamente


Masaharu Taniguchi


SERÁ INFERIOR A RELIGIÃO QUE CURA DOENTES?

Quando uma religião começa a curar doentes, certas pessoas passam a desprezá-la, chamando-a de "religião dada às curas". Tais pessoas alegam que a função da religião é salvar a alma e que a cura do corpo carnal nada tem a ver com a salvação da alma. Entretanto, quem merece desprezo é justamente esse espírito de desprezo, pois a verdadeira salvação da alma deve resultar na salvação do corpo. Salvar a alma significa libertá-la dos sofrimentos cármicos, sendo que a doença é uma das manifestações do carma negativo e não é existência verdadeira. Por isso, quando se elimina o carma, as doenças e os sofrimentos desaparecem imediatamente ou em breve, da mesma forma como as imagens da tela de cinema desaparecem quando se interrompe a projeção do filme. Se não fosse assim, o ensinamento budista de que "este corpo é como uma miragem: ele surge da ilusão" seria uma teoria vazia.

Emerson pregou em sua obra The Law of Spirit que "o homem possui natureza divina e, pela sua utilização, pode transformar o mundo", mas essa afirmação não passava de simples teoria enquanto ele permanecia ocioso e recolhido no interior como "santo de Concord". Se o dr. Quimby não tivesse popularizado o New Thought, curando inúmeros doentes, ou se Henry Ford não tivesse aplicado, com sucesso, o New Thought na administração de empresa, provando que é possível modificar o mundo concreto pelo poder da mente, o espiritualismo panteísta de Emerson seria uma teoria vazia, uma mentira.

Também o "mundo paradisíaco" - para onde o homem vai após a morte carnal, segundo o budismo - já que é o mundo onde se manifesta a vontade de Buda (em outras palavras, o mundo onde se projeta a mente), seria uma mentira se não fosse possível demonstrar que o mundo concreto se transforma segundo a mente, e por conseguinte a seita Jôdo (incluindo a seita Shin) estaria em risco de desmoronar.

Os sacerdotes da seita Shin hostilizaram a Seicho-No-Ie, temendo perder adeptos para nós. Entretanto, a Seicho-No-Ie, demonstrando que o mundo concreto pode ser transformado pela mente, está provocando indiretamente a existência do "paraíso" pregado por budistas, o "paraíso do oeste". Portanto, a Seicho-No-Ie está desempenhando o papel de advogado de defesa das seitas Jôdo e Shin. Mais que isso, completou-as e provou que elas são corretas.


TODAS AS RELIGIÕES CONSTITUEM UMA SÓ CORRENTE DE VIDA

A Seicho-No-Ie é exatamente igual ao New Thought. Ela abarca a essência de tantas religiões que certas pessoas a chamam maldosamente de "supermercado de religiões". Abarca inclusive a essência extraída do New Thought e está divulgando-o como movimento de iluminação da vida humana. Exceto os que são contra o nosso movimento, todos são nossos aliados. Todo aquele que prega a Verdade é Seicho-No-Ie. Embora todos os pensadores do New Thought preguem que "o mundo concreto pode ser dominado pela mente", o conteúdo dessa pregação difere de um para o outro. O dr. Quimby, por exemplo, diz: "O que domina o mundo concreto (inclusive a doença) não é a nossa mente, mas a mente de Deus, da qual a nossa mente é simples canal condutor". Esta colocação é semelhante à doutrina da Seita Shin, segundo a qual "o homem é salvo não pela própria força, mas pela força de Buda". Já Henry Wood diz o seguinte: "A mente do homem e a mente do Ser Absoluto são da mesma natureza; logo, se o homem desenvolver o poder de sua mente, poderá dominar o mundo concreto. A mente é o maior criador". E esta afirmação se identifica com outra facção do budismo, que prega a salvação pelo esforço do próprio homem.

Quanto a Trine, ele é excelente no tocante à explicação de sua filosofia espiritualista, razão pela qual citei alguns trechos dele em meus livros. Entretanto, infelizmente, às vezes ele cai no dualismo. Por isso corrigi seus textos quando os citei na coleção A Verdade da Vida. Esse dualismo transparece até em seu livro The power that wins (A força que vence) , no qual ele recomenda auxílios materiais, dizendo que um pouco de suco de laranja antes de dormir é bom para a saúde. No prefácio de outro livro, ele deixa patente seu dualismo: "Nós vivemos em dois reinos: um é o reino da mente e do espírito, e outro é o universo do corpo carnal e da matéria". Num outro trecho, cai em "trinismo", dizendo: "já que o homem é um ser constituído de três partes, que são o corpo, a mente e o espírito, respeitamos cada uma dessas partes, mas devemos espiritualizar o corpo e a mente, infundindo neles o espírito". Para ele, "a matéria não é inexistente, a mente também não é inexistente, elas existem, mas basta espiritualizá-las, extraindo a espiritualidade interior do ser". Existe uma pequena diferença entre este pensamento e o da Seicho-No-Ie, segundo a qual "a matéria não existe, a mente não existe; o que existe é unicamente a Imagem Verdadeira". Parece uma diferença insignificante, mas, devido à idéia de que "a matéria também existe", os livros de Trine, embora consigam empolgar o leitor, não têm força para causar transformação na mente de quem o lê, a ponto de se curar de doença. Não há registro de que alguém tenha se curado pela leitura dos livros dele. Para chegar a curar doenças, é preciso fazer com que o leitor compreenda a inexistência da matéria e da mente, como fazem a Christian Science (Ciência Cristã) e a Seicho-No-Ie.

Já em Fenwicke Holmes, não se nota a idéia de existência da matéria. O único defeito são alguns vestígios de dualismo tais como "treva sagrada" ou "luz pálida". Em minha autobiografia, inserida no volume 20 desta coleção, resumi o pensamento de Holmes como segue:

"Segundo a filosofia de Holmes, Deus é o Criador de todas as coisas, mas Ele não cria infortúnios para nós, arbitráriamente. Ele cria e dá a todos nós, sem discriminação, tudo o que nossas próprias mentes concebem - seja doença ou saúde, seja pobreza ou riqueza, seja adversidade ou facilidade, seja infortúnio ou felicidade. Ele cria tudo isso, usando como molde os nossos próprios pensamentos. Com isso, Ele assegura a liberdade do homem e prova que, sendo amorfo, é capaz de assumir ou criar infinitas formas seundo a mente das pessoas (...)". Holmes não considera a ilusão como criadora do mundo fenomênico, mas sim como molde de criação apresentado pelo homem ao Criador, para que Este, com sua capacidade de assumir livremente infinitas formas, crie o mundo fenomênico, tendo essa ilusão como molde.

Para quem deseja saber mais detalhes sobre o assunto, sugiro a leitura do 20º volume. Gostaria que o leitor prestasse atenção na parte final da citação que grafei em negrito. Para Holmes, foi Deus quem criou o mundo fenomênico. Foi o homem quem apresentou o "molde" de criação a Deus, mas foi Este Quem criou o mundo fenomênico conforme esse molde. Logo, Deus seria o criador do mal, das doenças e das infelicidades. Segundo o pensamento de Holmes, é Deus quem crua as doenças conforme o "molde mental" apresentado pelo homem, mas também é Ele Quem cria as doenças.

Como podemos ver, o New Thought parece uma corrente homogênea formada de vários pensadores que seguem a mesma linha, mas eles divergem em pontos fundamentais. Para apreendemos a essência do New Thought, precisamos peneirar os pensamentos de seus líderes e eliminar as impurezas. E, como eles se baseiam na bíblia, precisamos peneirar todas as outras religiões não-cristãs, se quisermos extrair a essência comum de todas as religiões. Assim procedendo, estaremos extraindo o "ouro puro" que se chama Vida que flui eternamente.

Entre aqueles que se curaram pela leitura desta obra A Verdade da Vida, pode ser que ainda exista quem pense que "foi Deus Quem curou", mas está enganado. A Verdade é que a pessoa, lendo este livro, abre os olhos da mente e descobre sua Imagem Verdadeira (Jisso), que era saudável desde o princípio. O que parecia doente era apenas uma falsa imagem do homem. Se a doença existisse verdadeiramente e a cura dependesse de Deus, então a eventual persistência da doença seria a vontade de Deus, pois Este, sendo onipotente, poderia curá-la se quisesse. Nesse caso, deveríamos considerar a doença como uma "advertência de Deus", como dizia outrora a seita Hitonomiti.

Mas esse não é o pensamento da Seicho-No-Ie. A filosofia da "advertência de Deus" contém a idéia de que "o Universo fenomênico é uma existência verdadeira" e de que o próprio Deus encerre dentro de Si alguma espécie de treva que poderíamos chamar de "treva sagrada". O sr. Hyakuzô Kurata, apesar de ter alcançado o estado espiritual de total entrega à Grande Fonte do Universo (Deus), disse que não consegue ir além da idéia de que a Grande Fonte do Universo contém a "treva sagrada". Com isso, ele demonstrou que está no mesmo nível de Holmes e da Hitonomiti (Maiores detalhes no 39º volume, 3º capítulo). Se ele simpatizou com a seita Tenri, deve ser porque compartilha a teoria budista da formação do Universo pela Verdade Absoluta segundo as oportunidades", a qual admite a existência da "treva sagrada" na Grande Fonte do Universo. A conclusão sobre isso fica a critério do leitor.

O que pretendo dizer é que transcendi a "teoria da formação do Universo pela Verdade Absoluta", a "advertência de Deus", a "cura de doença por Deus", a "criação de doença por Deus", a "treva sagrada", a "luz pálida" etc. e alcancei o mundo onde não existe nem doença, nem infelicidade, nem "treva sagrada", nem "luz pálida". Não vou agora comentar em detalhes, porque discorri sobre isso no 20º volume, sob o título de "Negação do corpo carnal e da matéria", do qual transcrevo uma parte: "Finalmente encontrei Deus e também o meu Eu verdadeiro. Compreendi que o meu Eu verdadeiro era a própria Vida Eterna, que transcende não só o mundo fenomênico, que é projeção da mente, como também a mente que o projeta". Dessa forma, finalmente toquei a Vida que flui eternamente. Eu me encontrei no mundo em que não existe doença.

No budismo existe uma polêmica quanto à origem do Universo: se é a Verdade absoluta ou se é a consciência alaya (a mente que originou, sustenta e contém o Universo). E é dito que "num pensamento estão contidos dez mundos, e dentro de uma mente existem três mil mundos". A questão é saber se esse "pensamento" e essa "mente" se referem à mente da Verdade absoluta ou à consciência alaya. E isso está ligado às seguintes questões:

1 - Será que Buda também está sujeito à ilusão?
2 - Será que o mortal em ilusão pode se tornar Buda?
3 - Buda jamais caiu em ilusão?

Quanto ao primeiro item, eu o neguei totalmente. Quanto ao segundo item, admiti a existência aparente do "mortal em ilusão" como buda fenomênico. Quanto ao terceiro item, admiti-o plenamente. Afirmei categoricamente que "a criatura humana é originariamente Buda, e Buda jamais caiu em ilusão!". Compreendi que todo homem é Buda e jamais caiu em ilusão, e que o eu perceptível aos cinco sentidos, que parece sujeito à ilusão, não existe!

Suponho que este foi o estado espiritual de Sakyamuni quando alcançou o despertar, compreendendo que "Os seres animados e inanimados, todos são Budas. Os montes, os rios, as ervas, as árvores, a terra, tudo é Buda". E quando, com essa nova visão, com os olhos espirituais despertos, fui ler o Kojiki (livro básico do xintoísmo), as sutras budistas, a Bíblia e livros das demais religiões, descobri, sob a luz de uma força totalmente nova, a Verdade única que constitui a essência comum de todas as religiões. Todas as religiões, exceto as impurezas nelas contidas , eram manifestações da única "Vida que flui eternamente"! Não deveriam as religiões se darem as mãos por essa Vida que flui eternamente dentro delas? O que salva o homem não são os rituais religiosos, mas essa "Vida que flui eternamente". Oh, Vida, Vida! Impelido pela Vida é que comecei a escrever as obras Seicho-No-Ie e A Verdade da Vida. O seu verdadeiro autor é, portanto, a "Vida que flui eternamente". E foi ela quem iniciou o movimento da Seicho-No-Ie.


(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 27; pgs. 157 à 164)


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