"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, junho 08, 2010

O recebimento da Verdade e o surgimento da Seicho-No-Ie - 01

No texto a seguir, Masaharu Taniguchi narra, em detalhes, a história de como ele teve o despertar para a Verdade - a iluminação espiritual -, e de como recebeu a inspiração para fundar o movimento espiritualista-filosófico da Seicho-No-Ie e transmitir à humanidade a visão correta e o modo de viver para desfrutar da vida com plena e absoluta liberdade, pela compreensão da inexistência do mundo fenomênico e existência única do mundo da Imagem Verdadeira, a Criação perfeita de Deus (Jissô).

Com vocês...


Masaharu Taniguchi



Eu sabia que este mundo é projeção da mente. Portanto, não tinha dúvida de que as doenças na família eram consequências de nossas próprias atitudes mentais. Contudo, ainda não sabia o que fazer para controlar a mente. Tendo-se a mente cheia de preocupações, essas preocupações acabam manifestando-se concretamente sob a forma de doença. Eu sabia disso, mas não conseguia deixar de me preocupar, vendo os familiares doentes. Assim, o círculo vicioso persistia. Sabia que, ficando com raiva, criam-se vibrações mentais negativas que se manifestam no mundo das formas, fazendo surgir doenças em mim mesmo ou nos familiares. Mas, trabalhando como simples funcionário de uma firma e sendo obrigado, frequentemente, a cumprir ordens superiores absurdas, é difícil não se sentir revoltado. Não haveria problema se, conhecendo a Verdade de que a mente é a origem de tudo, conseguíssemos passar a controlar nossa mente segundo nossa própria vontade. Mas nem sempre o conseguimos e, nesse caso, nossa própria mente torna-se motivo de preocupação e temor. Quanto mais procuramos deixar de pensar no mal, mais ele persiste na mente; quanto mais procuramos deixar de nos preocupar, mais preocupado ficamos; e quanto mais procuramos não ficar com raiva, mais somos arrastados pela ira.

Que fazer para controlar a mente? Podemos ser felizes ou infelizes, dependendo de sabermos controlar a mente ou não. Mas alguém já disse que controlar a mente é mais difícil do que controlar um cavalo arisco. Será que somente as pessoas mais hábeis e capazes conseguem controlar a mente e alcançar a felicidade, do mesmo modo que somente os exímios cavaleiros conseguem controlar o cavalo arisco? Se é assim, devem ser raras as pessoas que conseguem vencer a jornada da vida livres das infelicidades e doenças. Naquela época, eu ainda não era um exímio domador do cavalo arisco chamado "mente". Era um homem cheio de temores: quando recebia na firma um telefonema avisando que minha filha estava passando mal, ficava logo empalidecido, e, enquanto me dirigia apressadamente para casa, não conseguia conter o tremor do corpo.

Refleti muito sobre a doutrina budista. Se é que não há distinção entre a mente, Buda e todos os seres vivos, e se tudo é reflexo da mente, teríamos de admitir que Buda não é um ser eterno e imutável, mas sim um fenômeno fugaz. E se tudo fosse regido pela mente mutável, que pode fazer surgir o ser búdico ou o demônio, o paraíso ou o inferno, então eu não saberia em que confiar ou apoiar-me. Se, conforme preconiza Holmes, "Deus não tem forma própria e pode se manifestar sob a forma de santo ou demônio, em conformidade com os nossoa pensamentos", então esse Deus também não me inspiraria muita confiança.

Refleti muito, dia após dia, mas não alcancei a paz interior.

Certo dia, com as mãos postas e os olhos fechados, eu estava fazendo meditação, pedindo a Deus que me revelasse a Verdade, quando, por acaso pela inspiração divina, surgiu-me na mente um trecho da sutra budista que diz: "Matéria é sinônimo de vazio". No mesmo instante, uma voz misteriosa, baixa mas ampla, suave mas energética, ecoou no meu ouvido: "A matéria não existe!". E eu pensei em seguida, em uma outra frase budista: "O vazio é sinônimo de todas as coisas do mundo fenomênico". A voz mosteriosa tornou a soar: "Do nada surge tudo. Todas as coisas fenomênicas, sendo projeções da mente, são originariamente inexistentes. Tudo é originariamente inexistente; portanto, tudo surge do nada. Como o homem se deixa levar pela ilusão de que tudo se cria a partir de algo que existe, ele sofre devido ao apego às coisas que julga existentes. Se não tivesse nenhum apego, ele seria totalmente livre; passaria a desfrutar a provisão ilimitada, que torna possível repartir cinco pães para alimentar cinco mil pessoas ou fazer uma grande fortuna a partir do nada. O mundo fenomênico não passa de um mundo ilusório visto através da lente mental. Parece existir acolá, mas não existe. Parece existir cá, mas não existe. Compreenda que todas as coisas fenomênicas são inexistentes! Seu corpo carnal também não existe!".

Ouvindo isso, pensei: "E a mente, será que existe?". No mesmo instante, a voz respondeu: "A mente também não existe!". Até então, eu pensava que a mente fosse como um cavalo arisco, rebelde e imprevisível, e eu tinha a maior dificuldade em domá-la. Ouvindo a afirmação categórica de que "A mente também não existe!", desmontei do cavalo arisco chamado "mente" e pisei no chão firme do mundo da Imagem Verdadeira.

- Se não existe nem a mente, isso quer dizer que não existe absolutamente nada? - voltei a perguntar.
- Existe a Imagem Verdadeira - respondeu claramente a voz.
- O nada é a Imagem Verdadeira? O vazio é a Imagem Verdadeira?
- O nada não é Imagem Verdadeira. O vazio também não é Imagem Verdadeira. O vazio é o fenômeno. Os cinco elementos são o vazio. O corpo carnal, os sentidos, a imaginação, a vontade e a consciência, tudo é vazio.
- Mas o vazio não é diferente do nada?
- Não pense que o vazio seja diferente do nada. Quando se diz que os cinco elementos são o vazio, significa que eles são o nada. Por pensar que o vazio é diferente do nada, você tropeça. Por pensar que o vazio difere do nada e que ele não é inexistência, conclui que os cinco elementos também são inexistências e se embaraça. Quando se aniquilam os cinco elementos, compreendendo claramente que eles não existem, então se manifesta a Imagem Verdadeira. Quando se considera inexistente o que inexiste, manifesta-se o que existe verdadeiramente.
- E o que é a Imagem Verdadeira?
- Imagem Verdadeira é Deus. Existe unicamente Deus. Sua mente e a manifestação de Sua mente. Isto é a Imagem Verdadeira. (Aqui, o termo "Deus" significa também "Buda".)
- Mas a mente não é inexistente?
- "Mente inexistente" é a mente fenomênica. No sentido de existência verdadeira, também o Buda fenomênico e todos os seres fenomênicos são inexistentes. A pregação de que "não há distinção entre a mente, Buda e todos os seres vivos" significa que eles não existem. Quando se aniquilam o Buda fenomênico, os seres fenomênicos e a mente fenomênica pela compreensão de que todos os fenômenos são inexistentes, manifesta-se o Buda verdadeiro e eterno, isto é, Deus - a Imagem Verdadeira.
- Esse aniquilamento, em termos cristãos, seria a crucificação de Jesus?
- Exato. Quando se aniquila o Jesus carnal, surge o Cristo verdadeiro, o Cristo eterno, que existe desde antes de Abraão. A cruz de Jesus Cristo simboliza a Verdade de que a Imagem Verdadeira se manifesta quando se aniquila o fenômeno. Agora, aqui, ressuscita a Vida eterna. É agora! É agora! O agora eterno! Agora é a ressurreição! Vivifique o agora!

Apesar de continuar com os olhos cerrados, vi diante de mim uma luz ofuscante. Tive a impressão de ver vagamente, no meio da luz, uma imagem branca que devia ser o dono da voz misterisa. Mas logo a luz se apagou e, quando abri os olhos, percebi que continuava sentado com as mãos justapostas.

Naquele momento, compreendi claramente que a mente em ilusão é inexistente e, consequentemente, não existe também a "mente que alcança a iluminação por meio do despertar". Compreendi que é um equívoco pensar que a mente em ilusão evolui, alcança a iluminação e se torna Buda. Compreendi que só existe a Mente (EU) da Imagem Verdadeira, que é Buda, que é Deus desde o princípio. Só existe o Universo da Imagem Verdadeira, que é a extensão da Mente-Imagem Verdadeira. O Buda fenomênico (Sakyamuni), que saiu do palácio do seu pai, Suddhodana, e meditou sob uma figueira durante seis anos para alcançar a iluminação, não era existência verdadeira. Unicamente o Buda eterno a quem ele se referiu na declaração "Eu sou Buda desde o princípio dos tempos" é existência verdadeira, e esse Buda eterno vive aqui e agora. Jesus Cristo na condição de homem fenomênico, que, pregado na cruz, clamou "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?", não era existência verdadeira. Unicamente o Cristo eterno, a quem ele próprio se referiu na declaração "Antes que Abraão existisse, eu sou" é existência verdadeira, e esse Cristo eterno vive aqui e agora. Conscientizei-me de que eu também não sou um homem fenomênico nascido de minha mãe em 22 de novembro de 1893 e que só agora alcançou o despertar. Compreendi que sou um ser divino, um ser búdico, desde o princípio dos tempos.

(Do livro "A Verdade da Vida, vol. 20", pgs. 158 à 164)

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