"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, outubro 23, 2019

Assim se identificam o Budismo e o Cristianismo - 2/11

- Masaharu Taniguchi -


E quando chegou à casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus disse-lhes: Credes vós que eu possa fazer isto? Disseram-lhe: Sim, Senhor. Tocou, então, os olhos deles, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé. E os olhos se lhes abriram. (Mateus 9:28-30)

É lamentável que as pessoas busquem longe, sem saber que está bem perto o que buscam. É como se reclamassem de sede estando dentro da água. Não diferem de um filho de milionário na ilusão de pobreza. (Hakuin, mestre zen-budista)

O caso citado não se trata da cura de um só cego, mas de dois. Pelo poder da palavra e por meio do toque nos olhos, a fé das pessoas foi despertada profundamente, e consequentemente ambos os cegos ficaram curados e passaram a ver. Por que ocorreu a cura? Foi porque o ser humano é originariamente filho de Deus e saudável.

O mestre Hakuin também disse: "A humanidade é originariamente Buda". A Sutra do Nirvana diz: "A libertação constitui Buda". A Imagem Verdadeira da Vida, que é plenamente livre por natureza, está encoberta de "gelo" de ilusão e não está podendo manifestar a sua original liberdade. Desfazendo essa cobertura, a Vida se liberta, e a esse estado de liberdade diz-se Buda. A budificação, isto é, "tornar-se Buda", consiste na eliminação da ilusão e consequente restauração do estado de plena liberdade inerente ao homem-filho-de-Deus. Neste ponto, o budismo e o cristianismo se identificam.

O ser humano é filho de Deus, mas, se ele não se conscientizar disso, as suas qualidades inerentes não irão se manifestar. Foi visando a essa conscientização que Sakyamuni praticou ascese durante seis anos, e Jesus Cristo jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Esse tipo de ascetismo tem sentido como negação do corpo carnal. A Vida chamada "filho de Deus" se manifesta por meio do corpo carnal; este, por si só, não é a Vida que se chama Filho de Deus. Por isso, para manifestar a Vida que é o filho de Deus, é preciso, primeiramente, negar o corpo carnal. A crucificação de Jesus constitui o último degrau de negação do corpo carnal. Na Sutra do Lótus também consta que Issaishujô-kiken-bosatsu, negando o corpo carnal, queimou-o e depois manifestou o corpo de ouro indestrutível. Trata-se de um conto mitológico que expressa a Verdade de que o ser humano obtém a Vida eterna por meio do último degrau de negação do corpo carnal. Esta passagem é descrita na Sutra do Lótus como segue:

Nesse momento, o Buda Nichigatsu-jômyô-toku prega a Sutra do Lótus ao bodisatva Issaishujô-kiken e a vários ouvintes. O referido bodisatva desejou e aprendeu técnicas ascéticas. Seguindo os ensinamentos de Buda Nichigatsu-jômyô-toku, ele buscou a Buda com ardor, dedicando-se ao aprimoramento espiritual por doze mil anos, alcançou o sublime estado de concentração mental e sua mente se encheu de júbilo. (...) Fez chover no firmamento flores de mandala e perfume de candana (...), dedicando-os a Buda como oferenda. Terminada a oferenda, saiu da concentração mental, levantou-se e disse mentalmente a si mesmo: "Fiz essa oferenda a Buda com o meu poder sobrenatural, mas isso é insignificante com o fato de oferendar o meu próprio corpo". (...) Assim, untou o seu corpo com óleo aromético e, diante de Buda Nichigatsu-jômyô-toku, cobriu-se com veste celestial, embebeu-a de diversos óleos aromáticos, ateou fogo em seu corpo com seu poder sobrenatural, e a sua luz iluminou oitocentos milhões de mundos (...). O seu corpo se extinguiu após arder durante mil e duzentos anos. (...) Após terminar essa oferenda e morrer, ele renasceu no mundo de Buda Nichigatsu-jômyô-toku: nasceu (surgiu) subitamente, sentado em posição zen, na casa do rei Jotoku como seu filho, e imediatamente pregou ao pai os ensinamentos de Buda em forma de poesia (...). O Buda Nichigatsu-jômyô-toku dirigiu palavras ao bodisatva e entrou no nirvana tarde da noite (...). Naquele momento, o bodisatva disse a toda a multidão: "Vós todos, orai compenetradamente. Neste momento vou celebrar um ofício pela alma do falecido, dedicando-lhe uma oferenda" (...). Então, diante de oitenta e quatro mil túmulos, queimou seus cotovelos durante setenta e dois mil anos. (...) Nesse momento, inúmeros bodisatvas, seres celestiais, humanos e não-humanos, vendo-o sem cotovelos, ficaram inquietos, aflitos e tristes e disseram: "Esse bodisatva é o nosso mestre que nos doutrina. Mas ele, queimando seus cotovelos, fica com o corpo incompleto!". O bodisatva jura à multidão: "Eu, perdendo dois cotovelos, obterei infalivelmente o corpo dourado de Buda. Se for verdade o que estou dizendo, recuperarei meus dois cotovelos". Assim que acabou de jurar, os cotovelos foram restaurados. (Capítulo "Yakuo-bosatsu-honji)

E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido a vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós. (Lucas 22:19-20)

A crucificação de Jesus significa "x" (xis - anulação) e ao mesmo tempo "+" (positivo, afirmativo), isto é, ressurreição. Caro leitor, enquanto você considerar como seu Eu verdadeiro o seu corpo carnal que está vendo com os olhos carnais, não poderá descobrir a Vida eterna do homem. A vida eterna poderá ser conscientizada unicamente pela negação do corpo carnal e pela afirmação de uma dimensão mais elevada. A inteligência que faz ver o corpo carnal como sendo o homem em si, não passa de "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente. Por terem comido desse fruto, adão e Eva (representantes da humanidade) foram expulsos do jardim do Éden (mundo da Vida eterna). O "fruto da árvore do conhecimento" sugerido pela serpente é o conhecimento baseado nos cinco sentidos, pois a serpente é um animal que rasteja na terra, isto é, na superfície da matéria. Vendo o homem com o conhecimento baseado nos cinco sentidos, ele não passa de aglomerado de "pó da terra" e não é Vida eterna. O homem enganado pela serpente foi declarado por Deus como vida limitada (sujeita à morte) com as seguintes palavras: "Porque tu és pó e ao pó voltarás".

O pecado original de Adão consistiu em ver o ser humano apenas com a inteligência dos cinco sentidos, considerando-o equivocadamente como existência carnal. Como tal, o homem é eterno pecador. Ele terá de se alimentar matando seres vivos, viver envolvido em conflitos e matanças. Enfim, será possível apenas uma vida de pecados. Mas o ser humano não consegue suportar tanto sentimento de culpa. Ele precisa absolutamente se livrar do homem carnal, que é um acúmulo de pecados, transcendê-lo, lançar-se no mundo sem pecado e conscientizar-se de que ele próprio é homem sem pecado. Do contrário, terá de sofrer de eterna autocontradição, a incoerência entre o desejo de ser puro e a vida maculada de lama. Para o homem se libertar dessa autocontradição e conscientizar-se de sua natureza perfeita e sem contradição como santo Filho de Deus, precisa, a todo custo, negar o corpo carnal. Somente por meio dessa negação, o ser humano pode atingir a conscientização de sua natureza espiritual sagrada e imaculada. Até consegui-lo por completo, ele continuará sendo descendente de Adão e não deixará de ser um mortal que "veio do pó e ao pó voltará".

Mas, como será possível a aniquilação do corpo carnal? Será por meio do suicídio? Matar a si próprio viola o mandamento "Não matarás". Então, o único meio que nos resta é a comunhão com Cristo. Comendo da carne de Cristo, bebendo do seu sangue, identificando-nos com a carne e o sangue de Cristo e ligando-nos à anulação do corpo (crucificação) de Cristo, teremos concluído a anulação do nosso corpo juntamente com a crucificação de Cristo, mesmo possuindo na realidade o corpo carnal. A redenção de Cristo tem duplo significado. O primeiro significado da redenção (atonement, em inglês) é a aniquilação comutativa da ideia de que o corpo carnal existe, e o segundo é a consequente união (at-one-ment) com Deus. A conscientização da união com Deus só é possível com a negação do corpo carnal. Entre as pessoas que, como nós, explicam a redenção de Cristo como "at-one-ment", temos a fundadora da Ciência Cristã, a sra. Mary Baker Eddy. Ela diz:

A ressurreição é a prática concreta por meio da qual o homem se une a Deus e, com isso, o homem passa a refletir a Verdade, Vida e o amor como filho de Deus. Jesus de Nazaré pregou a Verdade de que pai e filho (Deus e o homem) são um, e comprovou isso. Jesus negou corajosamente as provas sensoriais mostradas pelos cinco sentidos, fez oposição a mandamentos materialistas e dogmas farisaicos e, pelo seu poder de cura, refutou concretamente todos os seus opositores.

A redenção de Cristo foi para que o homem se reconciliasse com Deus, e não para que Deus Se reconciliasse com o homem. O "princípio de salvação por Deus", que é o Cristo, é o próprio Deus; assim sendo, que necessidade haveria de Deus Se crucificar para consolar a Si mesmo? O Cristo é a Verdade (...)

Cristo é a Verdade proveniente do amor eterno, e por isso não tem necessidade de se reconciliar com a sua própria origem. Por essa razão, o objetivo de Cristo era fazer o homem se reconciliar com Deus, e não Este Se reconciliar com o homem. O Amor e a Verdade não podem alimentar maldade contra o homem, que é realizador da vontade de Deus e imagem concretizada de Deus. (...) Jesus possibilitou ao homem ver a Imagem Verdadeira por meio do amor (o princípio básico de seu ensinamento) e lhe ensinou a reconciliar com Deus. Quando contemplar a Imagem Verdadeira com amor e intuição, que é superior aos cinco sentidos, o homem será salvo das leis materiais do pecado e da morte, graças à lei da Imagem Verdadeira, isto é, lei do amor de Deus. (Ciência e Saúde, pp. 18-19, de autoria da Sra. Eddy)

Se o homem está doente, é porque ele próprio não está reconciliado com Deus. Mesmo que ele seja aparentemente ateu, ele pensa na parte profunda da mente: "Sendo como sou, será que mereço ser perdoado por Deus?". Por isso, podemos dizer que a sua infelicidade ou a doença constitui uma espécie de autopunição. No subconsciente coletivo da humanidade, existe a ideia de que o pecado se extingue quando se impõe sofrimento ao corpo carnal. Essa ideia é difícil de ser erradicada por esforços individuais de aprimoramento espiritual. É aí que se torna necessário um redentor como Jesus. As doenças congênitas podem ser consideradas formas de autopunição para expiar os erros de encarnações passadas. Jesus curou doenças congênitas (tais como cegueira), eliminando o sentimento de culpa (pecado).

Na Seicho-No-Ie também, existem alguns casos verídicos de cura de mudos de nascença. Segundo contou um membro do setor de censura telefônica do Exército de ocupação americano sediado em Tóquio, uma criança de seis anos de idade que nascera surda-muda foi curada por um adepto da Seicho-No-Ie do Havaí. De que forma Jesus curou doentes? Ele usou palavras tais como "tem ânimo", "teu pecado foi perdoado", "é a vontade de Deus: sê puro", "a tua fé te salvou", etc. Com isso, o doente sente que foi perdoado dos pecados, que foi salvo, que foi purificado, e sua mente se tranquiliza. Além disso, às vezes, Jesus tocava com sua mão a parte afetada do doente, para lhe dar mais tranquilidade. Dessa forma, até as doenças incuráveis acabam curando-se quando a pessoa adquire paz de espírito após a eliminação do temor e do sentimento de autopunição do subconsciente.

Mas, então, como eliminar do subconsciente o sentimento de autopunição e o temor? Uma das formas consiste em realizar o at-one-ment (tornar-se um) com Deus por meio de expiação. Mas expiar totalmente vários pecados e carmas negativos por meio de esforços individuais é muito difícil. Torna-se, então, necessária uma expiação mais forte, isto é, uma expiação poderosa, feita por uma pessoa de grande caráter, tal como a redenção de Jesus. Nas igrejas cristãs, de modo geral, as pessoas, comungando com essa redenção, acreditam que ficam unidas à carne e ao sangue de Jesus e que, por meio dessa fé, vinculam-se ao amoroso ato de anulação da carne (crucificação) de Jesus; dessa forma, mesmo tendo o corpo carnal, conscientizam que são libertadas de todos os pecados relacionados com o corpo carnal, e essa conscientização elimina a ideia de autopunição do subconsciente. Este é o mecanismo de cura pela eliminação do sentimento de culpa.

Porém, na atualidade, as doenças não se curam só pelo fato de as pessoas se tornarem adeptas de igrejas cristãs comuns, porque a Verdade sobre a anulação do corpo, a Verdade sobre a redenção e a consequente Verdade da inexistência do pecado e da desnecessidade de autopunição não são compreendidas a fundo, verdadeiramente. Mas na Ciência Critã estão ocorrendo muitas curas somente pela leitura de livros sobre a Verdade, porque ela ensina a fundo a Verdade sobre a redenção. Na Seicho-No-Ie também ocorrem curas somente com a leitura de livros, o que foi alvo de polêmica durante algum tempo. Tais curas são possíveis devido à Verdade de que o homem é, por natureza, isento de doença, e, como diz a bíblia, "a Verdade vos torna livres". O ritual de comer pão e beber vinho não passa de ato simbólico para se chegar à compreensão dessa Verdade. Quando se conscientiza realmente a Verdade da inexistência do corpo carnal, são resolvidos os problemas de nascimento, envelhecimento, doença e morte, relacionados ao corpo carnal, e todos os sofrimentos cármicos. A cura de doenças é apenas uma parte dessas soluções.

Cont...
Do livro "A Verdade da Vida vol. 39", pp. 94-104

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