"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

quarta-feira, fevereiro 07, 2018

Descortinando a nossa Natureza Divina - 2/11

- Masaharu Taniguchi - 


COMO CONHECER A IMAGEM VERDADEIRA (JISSÔ)

Imagem Verdadeira é "nada" e ao mesmo tempo "infinita"

Certa ocasião, o sr. Tanaka veio de Kyoto e solicitou-me que lhe explicasse melhor sobre a Imagem Verdadeira. Eu já havia falado muito sobre a Imagem Verdadeira em diversos locais, mas ele me pediu que lhe explicasse mais detalhadamente. Contudo, não sendo possível ver a Imagem Verdadeira através dos olhos físicos, é muito difícil explicá-la por meio de palavras que foram feitas para falar de coisas visíveis, como é o caso da atual linguagem corrente. Por isso, é inevitável que a explicação se torne alegórica, metafórica e simbólica.

"Conhecer a Imagem Verdadeira" em termo zen-budista é kenshô. A sílaba shô significa natureza verdadeira. Kenshô, significa ver a natureza verdadeira da nossa Vida. Ken tem o sentido de ver e, ao mesmo tempo, de manifestar. A Imagem Verdadeira da Vida do homem se manifesta quando a visualizamos. Ver, visualizar e manifestar têm o mesmo sentido. Portanto, kenshô significa ver e manifestar a natureza verdadeira do homem.

Entretanto, a definição da Imagem Verdadeira da Vida do homem é impossível de ser feita através de palavras, por mais que se tente, e o zen-budismo diz gonsen fugyu, ou seja, não se chega à conclusão alguma, por mais que alguém discorra sobre isso. Dizem também que, sendo difícil transmitir através das palavras, transmite-se de mente para mente. Desse modo, a Imagem Verdadeira é algo que acreditamos ter compreendido para, no instante seguinte, acharmos que nada entendemos a seu respeito, sendo muito difícil compreendê-la e transmiti-la a outrem. É difícil transmitir, mas isso não significa que devemos ficar quietos, sem nada falar sobre ela. Se num Grande Seminário o palestrante ficasse calado, ninguém iria ouvi-lo. Isso deixa o preletor que tenta explicar sobre a Imagem Verdadeira numa situação desesperadora.

Diz-se que houve certa ocasião em que Sakyamuni subiu ao púlpito  e permaneceu imóvel sem nada dizer. Olhando bem, ele estava dormindo, soltando até baba pela boca. Então, Manjusri bateu um pedaço de madeira contra outro, avisando o termo do sermão, deixando perplexas as pessoas presentes. Isso consta numa escritura de certa seita zen-budista.

Sendo impossível explicar sobre a Imagem Verdadeira através de palavras, é preferível tirar uma soneca no púlpito, como fez Sakyamuni, a proferir uma palestra malfeita. Tal é a dificuldade de expressar em palavras a Imagem Verdadeira. Portanto, não adianta o leitor interpretar mecanicamente as palavras que escreverei a seguir, porque não conseguirá entender realmente. É preciso compreender telepaticamente, captando a atmosfera das palavras.

Deus é nada e ao mesmo tempo infinito. Sendo assim, a Imagem Verdadeira da Vida do homem, que emana de Deus, é também nada e infinita. Então, o corpo carnal que existe e é finito, não pode ser o Eu verdadeiro. Ele é um agrupamento de cinco agregados, constituídos de matéria, dos cinco sentidos, do pensamento, da ação, da consciência.O corpo carnal, portanto, não é o eu. Ele é uma projeção na tela do mundo fenomênico do filme composto pelo agrupamento das diversas ondas mentais. Este corpo é simples sombra, conforme a letra do Canto da Vida Eterna: "Este corpo é como a miragem, é como o eco...". A fonte dos versos desse canto está na Sutra Vimalakirti. O corpo carnal, portanto, é igual a uma miragem, um eco: parece ser real, mas é irreal e efêmero. Não existe corpo carnal. Não existe matéria. Se me perguntarem por que não existe, só posso responder: "Não existe, porque é inexistente". Mas essa resposta não satisfaz a quem ouve, nem a quem fala, e por isso preciso explicar o que é a nossa natureza verdadeira de uma forma compreensível.


O "vazio" se movimenta e dá origem a tudo

Pensem bem. Nada existia num passado muito remoto. Não havia planeta Terra, o Sol, as estrelas, nenhum corpo celeste, nada. Não foi a matéria que começou a entrar em ação onde nada existia. Se a matéria ainda não existia, tudo era imaterial. Foi algo imaterial que começou a se movimentar. Uma substância imaterial manifestou-se em forma de matéria e começou a se movimentar. A força motriz inicial que deu impulso a esse movimento não era uma energia material, pois não existia a matéria. Era uma energia imaterial, invisível aos sentidos, portanto, o "vazio". Esse "vazio" começou a se movimentar e deu origem a tudo. Tudo veio do vazio.

Não se movimentou de modo desordenado. Movimentou-se de forma absolutamente ordenada, respeitando uma ordem matemática e criou o átomo, a molécula, os corpos celestiais. Criou de forma extremamente elaborada um sistema articulado, tão exato a ponto de a Terra circular ao redor do Sol durante um milhão de anos sem atrasar um só segundo. É impossível criar algo tão elaborado ao acaso e sem obedecer às leis. Lei é manifestação da sabedoria. A energia imaterial que deu origem ao Universo possui uma Sabedoria misteriosa. Essa Sabedoria misteriosa não é a inteligência que está no cérebro de fulano ou sicrano. É a Sabedoria que preenche todo o Universo. O fato de a lei da Natureza estar relacionada com o todo comprova que essa Sabedoria misteriosa está presente em tudo.

Explicarei com exemplo o fato de a Sabedoria onipresente no Universo estar atuando em todo o Universo. Uma planta floresce aqui neste local. Por que desabrocha uma linda flor? Porque a flor deseja que uma abelha ou uma borboleta pouse nela e, ao sugar o seu néctar, leve o seu  pólen para outras flores. As flores têm aquele colorido vivo para chamar a atenção dos insetos. Nessas plantas, porém, não existe um "Centro de pesquisa das abelhas", nem um "Centro de pesquisa das borboletas". Por isso, se a Sabedoria inerente nelas precisasse de pesquisas, não saberia o que as abelhas desejam delas.

Logicamente, os vegetais não possuem cérebro. Mesmo que tivessem cérebro, na mente cerebral não existe centro de pesquisas, e não saberiam que tipo de vegetal agrada as abelhas. Por outro lado, as abelhas não encomendaram o néctar aos vegetais dizendo: "Gostamos de néctar e desejamos que o produzam para nós. Em troca, faremos a polinização". A planta não recebeu encomenda alguma, nem realizou pesquisas, mas sabe desde o início quais cores agradam as borboletas e as abelhas, como também de qual elemento elas gostam.

Desse modo, o mundo animal e o mundo vegetal são totalmente diferentes, mas os vegetais e os animais, embora pertençam a mundos diferentes, conhecem um ao outro e se relacionam mutuamente. Percebe-se que mantêm reciprocamente uma relação de interesses. Está evidente que a Vida que criou os vegetais e a que criou os animais são uma só. Mas não adianta pedirem para mostrar-lhes essa Vida, porque isso é impossível. Essa Vida impossível de ser mostrada é a Imagem Verdadeira. A Imagem Verdadeira em si não pode ser mostrada, mas, explicando sobre as coisas que surgiram dela, pode-se compreendê-la de modo considerável.


Ver as coisas através da mente

Quando estive em Shimonoseki em viagem de conferência, falei num amplo auditório de uma escola primária. Era um dia quente de verão e, lá pelas 16 horas, quando os raios solares começaram a penetrar transversalmente através dos vidros das janelas, o auditório esquentou ainda mais. Terminada a conferência, fui para a casa do sr. Jiichi Furutani, que antes morava em Shingai, e descansava após o jantar, quando apareceu a sra. Hiroko Inoue, professora primária.

Não costumo receber as pessoas que me procuram na minha casa de Tóquio, mas às vezes atendo as pessoas quando estou em viagem. Não atendo a ninguém em minha residência, porque estou sempre escrevendo. Se eu receber alguém interrompendo o meu trabalho, a minha mente capta as vibrações da atmosfera dessa pessoa e, até conseguir retomar a concentração, não consigo realizar um bom trabalho. E se eu receber uma pessoa e não outra, a que foi rejeitada virá se queixar revoltada "Por que me discriminou?". Como não tenho tempo para receber todas as pessoas que me procuram, não há outra alternativa senão estabelecer a regra de não receber ninguém, em absoluto.

Nessa ocasião, porém, a sra. Hiroko Inoue me procurou bem na hora do jantar e, então, pedi-lhe que entrasse. Começamos a conversar e ela me disse:

– Professor, graças ao senhor, vi o Sol pela primeira vez.
– Como? Nós vemos o Sol todos os dias – disse admirado.
– Acontece que, até hoje, jamais havia visto diretamente o Sol. Eu leciono numa escola primária, onde toda manhã dou aula de ginástica no pátio da escola. Fico de pé na parte oeste do pátio, voltada para o leste. Nessa hora, o Sol sobe do leste e eu fecho os olhos, sentindo-me ofuscada pelo seu brilho. Queria ver como era a forma do Sol, mas não o conseguia. Hoje, durante a palestra, o senhor disse que o mexilhão não possui olhos, mas consegue enxergar. Ouvia isso, quando comecei a sentir muito calor por causa dos raios solares que penetravam pela janela e olhei, sem querer, para o lado. Vi, então, nitidamente o enorme Sol que se punha no horizonte, Professor, entendi que realmente nós vemos com a mente, e não com os olhos.


O mexilhão possui olhos?

Havia, citado nessa palestra um professor de biologia de certo Colégio Feminino que perguntou às alunas:

– Vocês sabem a razão pela qual a concha do mexilhão é preta? Quem souber, levante a mão.
Muitas alunas levantaram a mão.
– Você, pode falar – o professor indicou uma delas que se levantou e respondeu:
– O mexilhão é preto para se proteger dos predadores. Ele muda a cor da sua concha de acordo com a cor do ambiente em que se encontra.
O professor disse:
– Muito bem, você respondeu corretamente.
Nisso, uma aluna ao lado levantou a mão e disse:
– Professor, tenho uma pergunta. O mexilhão não possui olhos, então como ele sabe a cor da terra ao seu redor?

O professor não soube responder a esta pergunta.

Se o mexilhão não possui olhos, como consegue saber que está num lugar escuro e escurece a cor da sua concha? Não é possível dar resposta à essa questão através do pensamento materialista. Esse professor não soube responder à pergunta da aluna, porque pensa erroneamente que só se enxerga através dos olhos físicos. Consta na Sutra Sagrada Palavras do Anjo que, segundo relatório do grande médico italiano Lombroso, um paciente sofreu deslocamento do sentido da visão e passou a ver com a ponta dos dedos; ocorreu nele uma transferência dos sentidos. Nas extremidades digitais não existem globo ocular nem nervo óptico, mas ele enxergou. Aliás, isso é muito conveniente, pois, se quiséssemos espiar por uma fresta, bastaria colocar o dedo. Esse fato comprova que o elemento que capta os sentidos não se encontra no corpo nem nas células nervosas, mas na mente. Por isso, ocorre o que consta na Sutra Sagrada Palavras do Anjo: "Quando a mente decide ver, até as extremidades digitais são capazes de ver. E, mesmo na ausência de extremidades digitais, consegue-se ver e também ouvir".

Todos sabem que a terra é um mineral e que o mexilhão é um molusco pertencente ao reino animal. O mineral e o animal pertencem a reinos diferentes, mas nota-se que o mexilhão possui uma mente que vê o mundo mineral, sem ter olhos. A inteligência do mexilhão e a inteligência que fez a terra preta são originalmente uma só. Por isso, o mexilhão sente a cor da terra, mesmo sem ter olhos, e faz com que sua concha tenha a mesma cor. Um mexilhão colhido na areia tem uma cor levemente marrom, porque ele percebeu, mesmo sem ter olhos, que a areia ao seu redor é marrom.

Este foi um dos assuntos sobre os quais discorri durante a conferência naquela escola primária. Bem no momento que falei sobre isso, mais ou menos às 16h30, os raios do Sol quente de verão penetraram pelo vidro da janela, e a professora primária, sra. Hiroko Inoue, deu uma olhada para o lado e viu nitidamente o Sol, grande e redondo, que brilhava esplendorosamente no poente, lançando seus raios dourados. Por isso, ela veio me agradecer dizendo: "Graças ao senhor, vi o Sol pela primeira vez".

Existe uma comunicação entre a Vida do molusco (animal) e a da terra (mineral), porque os minerais e os animais são originariamente manifestações de uma única Vida. Também a Vida da borboleta, a da abelha e a da flor, que citei anteriormente, estão interligadas por uma única Vida, apesar de pertencerem a reinos diferentes, o animal e o vegetal. Sendo assim, nem é preciso dizer que, apesar de estarem fisicamente separados uns dos outros, a Sabedoria misteriosa que criou o ser humano é a Vida universal única. Essa Vida universal que nos criou é a Imagem Verdadeira.


Tudo está dentro do nada

A Imagem Verdadeira é, portanto, a Vida universal única, que é originariamente o nada, vazio, mas que está presente em toda parte. Dizendo assim, parece se tratar de algo totalmente vazio, sem nenhuma substância, mas não é isso. Dentro do nada existem todas as formas. A essa forma que existe dentro do nada dá-se o nome de ideia original. Ideia original é, portanto, a forma genuína não materializada que se encontra dentro do nada. Poderia dizer que é uma forma mental, uma forma imaterial.

Pensamos comumente que seja impossível ter forma se não houver matéria, mas não podemos pensar numa forma sem a matéria, uma forma genuína imaterial? Experimente pensar nisso. Perceberá que é possível existir uma forma no mundo mental. Na nossa imaginação podem existir formas genuínas que não necessitam de matéria, nem qualquer outro componente. Essas forma genuínas, de infinitas espécies, já existem de modo latente no vazio. Por isso, diz-se que é um mistério, que é gonsen fugyu, ou seja, impossível de explicar.

No vazio não existe matéria, não existe nada. No entanto, dentro dele existe a forma genuína, a forma infinita. Para explicar isso, costumo citar o exemplo da semente de ipomeia. Dentro dessa semente existe a forma da flor de ipomeia, apesar de ser impossível vê-la, mesmo que alguém a observe com o mais potente microscópio. Enquanto a semente estiver viva, dará origem a um pé de ipomeia, seja qual for o ambiente onde for plantada e seja quais forem os elementos do fertilizante. Isso não significa que elementos materiais estejam dispostos dentro da semente em forma daquela flor. A forma invisível da flor de ipomeia está, digamos, dentro ou por trás da semente. Num ponto que transcende o mundo material, existe a genuína forma da flor, a forma criada pela mente, a forma imaterial. Espero que tenha compreendido.

Essa é a ideia original que existe infinitamente no mundo da Imagem Verdadeira. Por isso se diz que a imagem Verdadeira não tem forma mas, ao mesmo tempo, tem infinitas formas. Dentro do mundo da Imagem verdadeira existem as formas genuínas da flor de ipomeia, do Taniguchi, do Kimura, do Yamaguchi, enfim, de tudo e todos. Existem infinidades de formas genuínas, mas, não sendo formas materiais, permanecerão indestrutíveis por toda a eternidade. Elas se manifestam dando origem às diversas formas materiais. A essas manifestações chamamos de "fenômeno", que pode ser destruído porque é material. Entretanto, a Imagem Verdadeira que é imaterial, que é apenas uma forma mental (ideia original), jamais será destruída. A Imagem Verdadeira do homem jamais se destruirá, porque é o homem da ideia original. Essa forma genuína chamada ideia original foi criada pela palavra (pensamento) de Deus. Essa é a razão por que coloquei a pronúncia "palavra de Deus" no ideograma que representa ideia original em algumas passagens da coleção A Verdade da Vida.


Jisso - Imagem Verdadeira da Vida

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