"MAIOR É O QUE ESTÁ EM VÓS DO QUE O QUE ESTÁ NO MUNDO." (I JOÃO 4:4)

terça-feira, abril 15, 2014

Sobre o fenômeno da Iluminação

Ramesh Balsekar


Participante: O corpo-mente é desintegrado com a morte e é também desintegrado antes da morte, com a iluminação?

Ramesh Balsekar - Não, iluminação não leva a desintegração do corpo. Deixe te esclarecer isso. O que a iluminação faz é desassociar a entidade do dualismo. A entidade não pode remover a si mesma do dualismo. Logo, enquanto o corpo-mente continuar a dualidade ainda estará presente. Entretanto, a duração do corpo-mente, no espaço-tempo é dualidade. O que não está mais presente na iluminação é o dualismo, "eu" como separado da entidade "você". Não existem mais entidades separadas.

Participante: Era isso que estava pensando, que essa parte seria desintegrada, ou destacada.

Ramesh: Correto.

Participante: Quando a iluminação aconteceu a você, você perdeu o interesse no trabalho?

Ramesh - Pelo contrário! Não perdi o interesse. Mas, deixe-me esclarecer, isso foi no meu caso. Em outros casos isso pode ter acontecido, pois todo o interesse cessou. O que resulta da iluminação é impossível de se dizer. Eu não era um escritor anteriormente, mas os livros começaram a surgir. (...) Escrever não era minha profissão, nem um hobby, ela simplesmente aconteceu. (...) As páginas surgiam espontaneamente, e foram seis, sete, oito livros nos próximos oito anos, junto com todos os outros trabalhos. Por isso que nunca disse, serem "meus" livros, isso me deixa um pouco inibido. No fundo eu sei que nunca foram "meus" livros.

Também nunca fui um orador. Pelo contrário, minha esposa sempre me disse que eu em reuniões sociais nunca conversava, quando todos conversavam. Eu lhe dizia, que não tinha nada para conversar. E agora, aqui estou. (...)

Quando o evento impessoal da iluminação acontece, o evento acontecerá de acordo com o que o aquele organismo corpo-mente, e através do corpo-mente. E cada evento será diferente, uma imensa variedade. Logo, aquele que era escritor pode parar de escrever; outros que nunca escreveram passam a escrever; e muitos não fazem nada simplesmente; muitos largam tudo que faziam e se recolhem em lugares isolados.

Participante - O que estou falando é exatamente sobre isso. Eles parecem estar em um estado de ruptura.

Ramesh - Vejo que este estado de ruptura é de curta duração. Mas novamente posso estar cometendo um equívoco. Pode haver uma sensação de ruptura mas ela não perdura. Benção é uma palavra que particularmente não gosto, que cria equívocos de compreensão. A benção verdadeira é a ausência do desejo de bençãos. Essa é a verdadeira benção. Paz, tranquilidade são palavras que eu prefiro. De fato, no estado de iluminação, não se deseja mais bençãos nem nada mais. É a total aceitação. Este é o ponto.

Participante - Então, se pudesse traduzir o estado de iluminação em um só mantra, seria confiança?

Ramesh - Poderia ser. Mas minhas duas palavras seriam aceitação e entrega, que significam a mesma coisa. Mas você poderia usar confiança. 

Participante - Estou aqui para compreender a diferença entre iluminação e consciência em repouso.

Ramesh - O estado de consciência em repouso é um estado subjetivo.

Participante - Isso significa que não existe nada?

Ramesh - Isso significa que tudo existe em potencial. Iluminação é apenas uma condição na fenomenalidade. Não se afaste muito disso. Iluminação é a compreensão na fenomenalidade, do que é o quê. Não existe ninguém se tornando iluminado. A questão da iluminação é apenas um conceito na fenomenalidade.

Participante - Então, o impulso para se iluminar é apenas ser permanentemente inconsciente?

Ramesh - Um impulso de quem? Este é o engano que acontece o tempo todo. Nós pensamos em termos individuais. Você está pensando como um pensador individual. Impulso apenas pode vir do ponto de vista do indivíduo, mas iluminação é apenas a compreensão que não existe indivíduo tentando compreender nada. É uma entrega, onde não existe entrega de ninguém. Logo a compreensão é impessoal, um flash de entendimento mas que não perdura horizontalmente. Não está relacionado ao triângulo sujeito, objeto, acontecimento. É apenas um entendimento puro e simples, onde não há mais ninguém compreendendo.

Participante - Sim, mas existe alguém consciente...

Ramesh - Não! Este é o ponto. Este é precisamente o ponto.

Participante - Isso não faz sentido para mim!

Ramesh - Exatamente! Exatamente! Nenhum sentido para mim! (...)

O que estou dizendo é que o entendimento é vertical, no qual não existe ninguém compreendendo nada; Existe apenas um flash de entendimento, no qual o sujeito desaparece. E você diz que não entende.(...) Este entendimento acontece no tempo apropriado para cada um, e ninguém pode saber quando será. Tudo que posso dizer é que ele não acontece enquanto existirem expectativas, isto é, enquanto existir um "eu" um "mim" esperando por ele.


6 comentários:

Silvano disse...

A questão é: Pode um "personagem" se iluminar?
Pode o "cebolinha" [personagem criado por Maurício de Souza] se tornar consciente de que ele é uma ficção do próprio Maurício de Souza?
Mesmo que o Maurício de Souza escreva um texto no qual o cebolinha adquira esta consciência, ou seja, se "ilumine" seria esta uma experiência real do cebolinha? O fato é que a "experiência de iluminação", como toda "experiência" está no campo da "representação", na qual estão inseridos os personagens do Ser. Assim, a experiência de iluminação ocorre apenas na "representação". O que todos os que se "iluminaram" descrevem é que eles se tornaram conscientes de que eles não são "personagens", e que sua real identidade é a de Quem sempre foram, que é o Ser Real, porque nenhum personagem é real.

Silvano disse...

Se o "personagem" não é real não há alguém [real] para se iluminar... e Aquele que é o real iluminado, a real identidade de todos os seres, o Real "Autor" dos personagens criados não está na representação, mas sim, em Sua própria Realidade! Assim, a experiência de iluminação é isso: uma experiência que ocorre apenas no âmbito da própria representação e que, então , altera "a fala" do personagem a respeito de Quem ele É e de Quem todos Somos.

Silvano disse...

O algo a ser notado aqui é que a "percepção" de Quem Somos não está na "mente do personagem" que estamos sendo, mas sim, está na "Consciência do Ser" que [já] somos. Ou seja, esta percepção está em Quem sempre fomos e sempre seremos; está além da realidade de "quem estamos sendo", pois, a "realidade de quem estaos sendo" é uma representação divina e não a Realidade.

Silvano disse...

Apenas em certo sentido é possível que um personagem se ilumine... no sentido de que ele perceba que não é quem está sendo, que é Quem sempre foi, "antes que houvesse mundo...", ou seja, antes que houvesse a própria "representação". "Antes", não no sentido temporal, mas no sentido de "a despeito de haver" ou "independentemente de" haver alguma "representação". A percepção é a de que não há um personagem que se ilummina; não há um personagem que percebe Sua real identidade, e que é o próprio Ser Real Quem Se percebe, como sempre se percebeu. Na representação vai parecer que um personarm teve a "experiência de que se iluminou"!

Silvano disse...

Porém, nossa real identidade é que somos o Ator, não os personagens! Já somos Quem Somos, somos o Ser Real antes que houvesse mundo [antes que houvesse a representação divina...].
O que a "mente do personagem" pensa sobre isso não altera a realidade! Se pensa que a iluminação é possível ou que não é possível; se pensa que é algo real ou não, isso não altera a realidade de que a "iluminação" é uma "percepção", não um pensamento. Essa percepção não é do personagem e nem mesmo de um personagem específico... Apenas o Próprio Ser Se percebe e percebe que não há nenhum "outro", não há nada além de Si mesmo e de Sua Realidade! E a bem-aventurança dessa percepção divina também só é percebida por Si mesmo!

Silvano disse...

Mas, enquanto se identificando como sendo um personagem, niguém deve se desesperar pensando que não terá a experiência de iluminação. Não pense assim, pois, ela é inevitável! É o próprio ato de "pensar" que ativa a percepão da mente do seu personagem e cria a "ilusão de separação", a visão dual de que existe o personagem e o Ser; você e Deus... Pois só o Ser é real. Enquanto a mente do personagem pensa em termos de "existência" [que significa "ex-sistere", ou seja, algo que está fora] a Consciência do Ser percebe a "seidade", no sentido de aquilo que É em si mesmo, ou seja, algo que é o próprio "Ser", e que É em "Si mesmo"; aquilo que É o que É! Portanto, não pense! Simplesmente perceba! Perceba Quem percebe em você e perceberá que não há um "você", mas apenas Quem percebe... "Aquieta-te e saiba: Eu Sou Deus!"
Perceba apenas: "Eu Sou Aquilo"
É o que na representação divina... percebo, desfruto e compartilho!
Assim seja!
Assim É...